Origens familiares dos avós e memórias dos irmãos. Lazer e diversão em São José do Rio Preto. “Zappa’s”. Dificuldades e desafios. Funcionários e fabricação de produtos. Pandemia. Perfil dos clientes e inovações. Filhos e futuro dos negócios.
Zappa's, entre lanches e pizzas
História de Taísa Lemos
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 14/07/2021 por Guilherme Dias Foganholo
Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto - 2020-2021
Entrevista de Taísa Terezinha de Pádua Lemos – Zappa’s
Entrevistada por Luis Paulo Domingues e Guilherme Foganholo
São José do Rio Preto, 19 de maio de 2021
Entrevista MC_HV085
Transcrita por Selma Paiva
(00:48) P1 - Taísa, pra começar, eu gostaria que você dissesse seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R1 – Meu nome completo é Taísa Terezinha de Pádua Lemos, tenho cinquenta e três anos e nasci aqui em Rio Preto, rio-pretense, São José do Rio Preto.
(01:13) P1 – Legal. A data do seu aniversário, qual que é? Do seu nascimento?
R1 – Trinta de setembro de 1967.
(01:22) P1 – 1967, legal. E qual que é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Gil Brígido Lemos e a minha mãe Joana Silveira de Pádua Lemos. Ela tem noventa e seis anos hoje.
(01:39) P1 – Tua mãe? É? Que legal. Tá fazendo hoje? Que bom! E você teve contato com os seus avós? Ou conheceu algum deles?
R1 – Eu tive muito pouco contato. Como eu já falei, eu sou a décima filha, então os meus avós já eram bem mais velhos e eles faleceram, meu avô antes de eu nascer e a minha avó materna eu tinha seis anos, meu avô com dois e minha avó com quatorze.
(02:18) P1 – Sim. E você sabe a origem dos seus avós? Eles vieram de fora para morar em Rio Preto por algum motivo? Ou eles têm descendência lá de imigração, alguma coisa assim?
R1 – Eles não moravam aqui. Meu pai que veio pra cá. Minha família é mineira, eu sou de origem de Passos, Minas Gerais e meu pai veio por conta de fazenda e quando a minha irmã mais velha fez sete anos, ele teve de escolher uma cidade, ficou entre Barretos e Rio Preto e, graças a Deus, optou por Rio Preto. (risos).
(02:58) P1 – E ele era... qual profissão a dele?
R1 – Meu pai é fazendeiro.
(03:04) P1 – Fazendeiro. E a sua mãe?
R1 – Minha mãe dona de casa. Mãe de dez filhos!
(03:11) P1 – Dez filhos, olha! E você sabe como é que eles se conheceram? Seu pai e sua mãe?
R1 – Eles eram primos, numa cidade, na época, bem pequena e saíram para ir ao cinema, em turma e já havia uma paquerinha ali, né?
(03:33) P1 – Sim. Legal. E, quando você nasceu, você já nasceu em Rio Preto, né? Em que bairro que era? Como que era a sua rua? Deveria ser muito diferente de hoje, né, Rio Preto.
R1 – Eu sei muito bem a história. Minha família veio e foi pra uma casa bem pequena no bairro Santa Cruz... não... é, Santa Cruz ou Bom Jesus. E aí eles mudaram pra uma outra casa, um pouquinho maior. Na época que eu nasci a gente já estava numa casa que era na esquina do grande colégio de Rio Preto, que é o Colégio Santo André, a gente morava ali na esquina. Meu pai pensou estrategicamente, pra gente ir à pé. Então, ficava na frente uma maternidade e o colégio naquela rua, bem próximo do Centro. E eu morei ali até os meus quatorze anos. Uma rua muito gostosa.
(04:41) P1 – Certo. Muito bom. Ali perto do Centro isso, né?
R1 – É. Bairro Bom Jesus, na verdade, mas é muito próximo. Próximo do clube, próximo do Centro e onde tudo acontecia. Era uma quadra da principal avenida da época, que é a Avenida Alberto Andaló, onde tudo acontecia também.
(05:10) P1 – Sim.
(05:11) P2 - Taísa, e nessa época assim, que você tá descrevendo aí pra gente, como que você lembra que era viver em Rio Preto aí? O que você fazia? Como que você lembra da cidade, assim? Desenvolveu bastante, mudou bastante, imagino, né?
R1 – Nossa, era uma cidade que a gente podia sair. Eu saía, gente, com dez anos de idade, pra tudo que era lugar, a pé. A gente andava em turma. Eu ia, saía do colégio, parava na minha casa, comia, tinha que fazer uma tarefa, eu fazia e já rua. Eu ia jogar vôlei, eu era jogadora de vôlei. Comecei, ficava muito tempo no colégio também e no clube, onde era todo mundo conhecido, a gente tinha livre acesso e na casa dos amigos também. Então, era uma coisa bem, bem dinâmica. Eu não ficava em casa, ou sim, ficava também, porque a minha casa era muito movimentada. A gente tinha aquela coisa do lanche da tarde, a mesa não parava, a mesa não tinha tempo que não tivesse nada em cima. Então, era o café da manhã, já tirava... era o lanchinho da manhã, aí a gente tirava, já vinha o almoço, depois era o lanche da tarde. E os vizinhos se aglomeravam ali, até porque um bando de mulheres, né? Sete mulheres, as minhas irmãs muito bonitas. Então era um lugar, assim, que todo mundo queria ir, mesmo. Os amigos dos irmãos, né? Então, era muito bacana. Tive uma infância muito feliz.
(07:01) P1 – Eu imagino. Além da turma, você tinha uma turma de irmãos, né? Como é que foi viver entre dez irmãos? Vocês andavam meio juntos ou tinha uns que já saíam mais, já eram mais velhos? Como que era?
R1 – A gente sempre foi muito, muito unido. Mas eu fui a caçula e a maior diferença foi da minha irmã pra mim. Minha mãe achou que eu era menopausa. Foram quatro anos de diferença. Ela teve nove filhos em treze anos. Então, isso, se parar pra pensar, é meio louco. O estado normal dela era grávida. E eu, por conta dessa diferença, claro, convivi muito, mas pra sair foi só depois. A gente é muito próximo, todos os irmãos, mas a minha amizade mesmo de convivência veio na fase adulta, de sair junto. Senão eram as coisas que fazia em família, mesmo.
(08:25) P1 – Sim. Legal. E seu pai tinha fazenda perto de Rio Preto, que vocês iam?
R1 – Era uma hora, uma hora e meia, duas horas, que a gente levava pra lá. Ele ia durante a semana, ele ia na segunda-feira, voltava quinta-feira ou sexta-feira e a minha mãe ficava com os filhos.
(08:50) P1 – E vocês frequentaram essa fazenda bastante, né? Vocês iam nas férias ou feriado, passear? O que vocês faziam na fazenda, que era gostoso?
R1 – Nossa, tudo. Era maravilhoso. A fazenda tinha... a gente tinha cachoeira. Na fazenda vizinha, há dois quilômetros da sede de uma pra outra era a fazenda do meu tio, que tinha oito filhos. A gente andava a cavalo. Meus irmãos trabalhavam com meu pai e a gente tinha pomar, fazia doce, fazia pamonha, era assim, farra. Muito gostoso sempre. Matava galinha, tinha que trabalhar, a gente aprendeu a cozinhar, aprendeu a fazer doce, tudo, tudo. A gente, desde pequena, aquela coisa, o pé no chão, aquele pé encardido. Fila pra tomar banho.
(09:55) P1 – Sim. E, Taísa, quando o seu pai e sua mãe resolviam levar vocês para algum passeio na cidade, em Rio Preto, como é que ia todo mundo? Porque eram dez irmãos.
R1 – Então, era assim: meu pai tinha perua Kombi, né? (risos). E, na época, não tinha cinto de segurança. (risos).
(10:17) P2 – Aí cabia todo mundo. (risos).
R1 – Tinha que caber todo mundo. (risos) Mas na minha época a gente já tinha irmãos que dirigiam também. Eu já tinha alguns irmãos que dirigiam. E mesmo até acho que eles tinham... sem carta porque tinha, às vezes, que ajudar. Eu não sei fazer as contas aí, mas na minha época já tinha três, quatro carros, porque tinha muitos lugares pra ir e muita gente, então... e a gente sempre carregava mais gente, gente, porque tinha quem ajudava, quem cozinhava, os amigos, os primos. Era uma coisa, uma coisa. Imagina que casa que era a minha!
(11:06) P1 – Muito legal. E onde que vocês costumavam ir em Rio Preto, pra passear? Além do clube que você me falou, onde mais tinha lugar bom?
R1 – Olha, assim, a gente ia muito na casa dos... principalmente do meu tio. Eu lembro pequena, dos amigos próximos do meu pai. Eventualmente a gente fazia, meu pai não tinha esse hábito, porque eu acho até pela condição de pensar no coletivo, de sair pra almoçar, de sair pra jantar. Isso era uma coisa que... e ficava caro pra ele, né? Pensa: sentar numa mesa. A gente fazia eventualmente, mas imagina uma mesa com dez filhos! Não é fácil. E como a gente também tinha todos os recursos que a gente trazia da fazenda, então lá na fazenda a gente matava o boizinho e trazia a carne para o período, eram freezers e mais freezers. O arroz a gente trazia de lá. Todas as frutas, verdura, legumes. Então, a gente usava e por isso essa coisa, essa fartura mesmo, que a gente agregava mais gente, porque a gente tinha essas possibilidades de trazer coisas, a mandioca, tudo isso a gente fazia. Em Rio Preto a nossa diversão era o Automóvel Clube, que a gente frequentou, eu frequentei, que era o passeio, mesmo. Era a piscina, mas eu não lembro de fazer isso com o meu pai e com a minha mãe, eu fazia com os meus irmãos, principalmente a minha irmã mais velha, que casou com dezoito anos e teve um filho que tem uma diferença de um ano pra mim. Então eu, praticamente, cresci na casa dessa minha irmã. Ela me catou, porque essa coisa de filho pequeno a minha mãe já não tinha mais saco, né? Ela já estava cansada e tinha um monte de outras coisas pra resolver. Então, mas eu não me sinto menosprezada por isso não, viu, gente. (risos) Super bem resolvida em relação a isso.
(13:42) P1 – Tá certo. E no Automóvel Clube, não sei se é igual às outras cidades que têm Automóvel Clube, onde eram os bailes legais, não é? Os bailes.
R1 – Era tudo lá. Réveillon, carnaval, almoço do Dia das Mães. Até o fim da vida do meu pai a gente levava a minha mãe no Dia das Mães. Os eventos. E eles frequentaram bastante também. Só na minha época que já não, eles não frequentavam, por conta da diferença de idade aí, teve um “gap” na minha... com meu pai e com a minha mãe. Assim, eles, é difícil falar isso, porque hoje eu vejo a minha mãe, eu pensava na minha mãe com cinquenta anos de idade e eu via uma pessoa velha, não é assim que eu me vejo hoje. (risos) Mas eu acho que é bem diferente mesmo as coisas que eu faço e as coisas que ela fazia.
(14:49) P1 – Sim. Legal. E, Taísa, na escola você gostava de que tipos de matérias, assim? Que lembranças você tem da escola, assim?
R1 – Eu sabia muito bem o que eu gostava. Eu sempre gostei de Português e Inglês. Na verdade eu gosto de línguas, né? Tô estudando agora Francês. Mas isso sempre foi muito definido. Eu tinha facilidade e o que aconteceu comigo? Eu... não tinha essa coisa da mãe acompanhar tudo, eu tinha que me virar. E eu, como eu nasci dia trinta de setembro, eu entrei adiantada no colégio. Então, eu acho que eu tinha assim um... eu achava que eu era burra, mas eu não era burra. Eu estava um pouquinho mais atrasada que as outras crianças, por conta dessa diferença. Então, eu tinha um pouquinho de receio em relação ao estudo, porque eu também não tinha uma metodologia regrada, pra você fazer esse estudo, eu precisava disso. Eu sou uma pessoa que precisa de uma certa orientação. E eu só fui perceber isso anos depois, falando, que eu pensei, falei: “Puxa, eu não sou burra. Eu sou uma menina inteligente”. E eu fui demorar pra perceber, porque eu não tive esse acompanhamento. Nunca tive dificuldade, tá? Eu sempre tirava “C” e “B”. Eu não era uma menina “A”. Lá na época era ótimo, bom, regular, quase regular e insuficiente. Eu era regular e bom, minhas notas. Mas eu também não me dediquei, não me dedicava e não tinha uma metodologia pra estudar. Então, na escola, o que eu me lembro é dessa mentalidade errada que eu tive no início, depois a minha descoberta de que eu não era burra, que eu era inteligente (risos) e a definição já do que eu gostava, que era o Português e o Inglês.
(17:31) P1 – E lá no colegial, você já pensou num futuro no comércio, numa faculdade, ou pegar a fazenda do seu pai, pra trabalhar também? O que você pensou do futuro quando chegou no colegial, que é quando a gente decide, né? Ou tenta decidir.
R1 – Eu era muito inconsequente, assim, eu era completamente louca. (risos) E como a minha criação também era muito tradicional, da mulher casar e se tornar esposa. Eu vivi nessa época, gente, porque meus pais passavam essa informação. Claro que eu já vi, não, desde o início, desde os meus quatorze anos, eu comecei a trabalhar. Eu nunca deixei de trabalhar. Só que eu não tinha, eu não me dava conta disso também. Eu vendi Avon, eu vendi joia, eu vendi semi-joia, eu vendi... tudo o que caía na minha mão, eu já ia lá e fazia. Eu vendi comida. Eu fazia na minha casa, para os meus amigos. E eu achava que era natural, assim, eu não via isso como um grande potencial ou... eu achava que normal, eu tô aqui, tô sem fazer nada, eu vou fazer alguma coisa pra vender. E depois que eu fui ver: não, eu tinha realmente esse engajamento para o comércio, mesmo. E nunca parei. Nunca deixei de vender alguma coisa, mesmo grávida, mesmo... nunca parei, sempre fiz alguma coisa pra ter o meu dinheirinho. Mas não enxergava em mim um potencial para ter o meu próprio negócio. Nunca enxerguei isso, tá?
(19:30) P1- Mas aí... desculpa, eu te cortei. Pode falar.
R1 – Não, eu que parei, mas vou continuar, então, a história. Eu me casei, eu fui pra São Paulo, fiz tradução, tradutora e intérprete. Dei aula, mas vi que não era isso pra mim, não era o que eu queria. Gosto muito, mas não... é muito parado, salinha, nada disso. E aí eu me casei, em 1991, com um cara que é porreta em empreendimentos. Ele, aos dezenove anos, já tinha uma pizzaria, tinha estourado a pizzaria dele em Catanduva e quando a gente começou a namorar, foi rápido o meu namoro, foram dois anos, eu, por conta da distância, eu tinha que vir para Rio Preto e ir pra Catanduva, pra encontrá-lo, ou ele tinha que vir e era uma coisa que estava difícil. Aí, um dia, eu fui pra Catanduva escondido, porque meu pai e minha mãe não tinham deixado, peguei o carro e fui. Chegando lá, era o auge da pizzaria e eu ia pra ajudar, pra trabalhar. Eu queria estar no meio da bagunça lá. E eu peguei o telefone: “Luna di Napoli, boa noite”. Aí minha mãe: “Taísa, o que você tá fazendo aí?” (risos).
(21:09) P2 – Nossa!
R1 – Aí eu já desliguei e falei assim: “A gente vai ter que ficar noivo”. Então, aí, a partir daí, (risos), pra dar uma justificada, né? Aí a gente ficou noivo logo e, com isso, ele falou: “Olha, vamos montar uma pizzaria em Rio Preto?” E começou com essa ideia e a gente já agarrou. Ele, eu era a pessoa que apoiava e em Rio Preto ele teria o meu apoio com relacionamento, porque eu era daqui, muito bem relacionada, conhecia muita gente, muita gente mesmo. E a pizzaria aqui foi um sucesso, inaugurou antes do meu casamento. A gente casou em outubro de 1991 e a pizzaria inaugurou em abril de 1991. Bom, aí, a partir daí, ele sempre querendo mais. Trabalhou, a pizzaria bombou, foi assim um marco em Rio Preto, essa pizzaria. E aí ele foi numa feira em São Paulo e comprou o equipamento de panificação. Nessa compra, ele falou: “Deixa aí, vou armazenar aí” E, mais pra frente, anos depois, ele chamou o Gelson, que hoje é meu sócio aqui, que é um primo dele, pra vir pra Rio Preto. Ele estava em Campo Grande. “Vamos montar uma padaria aí”. E o Gelson, que estava em um momento também de incerteza, ele trabalhava na Shell lá em Campo Grande, queria voltar pra Rio Preto, falou: “Eu topo. Eu vou”. Vendeu tudo o que ele tinha, pediu as contas, pegou o dinheiro e veio pra cá. E a gente montou a pizzaria, que é onde eu tô aqui, nesse escritório - a padaria, quero dizer - com a cara e a coragem, sem dinheiro. Fizemos um bem bolado lá e começamos a trabalhar, os quatro. O meu ex-marido, que é o Osvaldo, o Gelson e a Aninha, que são meus sócios hoje. Essa padaria também foi um grande sucesso desde o início, com esse trabalho de nós quatro. A gente era... a gente tomava conta do caixa, pessoal, treinamento de pessoal. Vocês estão me ouvindo?
(23:54) P2 - Sim.
(23:55) P1 – Tô, tô.
R1 – Oi, é que parece que estava travando. Treinamento de pessoal. Aí nós contratamos um consultor em panificação, que é nosso consultor até hoje e foi muito bem. Só que aí a Aninha engravidou do segundo filho, eu também já tinha a minha primeira filha, engravidei do segundo, a gente deu uma afastadinha, as mulheres e ficaram o Gelson e o Osvaldinho no comando, aqui. Em (24:40) eu me separei. E, na separação, aí já as coisas, os negócios do Osvaldo não estavam tão, assim, redondinhos, a gente... ele ficou, ele já tinha aberto um outro restaurante também, ele ficou com a pizzaria e com o Bravíssimo e eu entrei na sociedade... (25:15 - travou o áudio).
(25:26) P1 – Taísa, deu uma pequena travada. Tiago? Será que ela caiu?
(25:35) P2 – Não, acho que ela está aí ainda, mas...
R1 - ...é porque até então eu era uma ... (25:50 – travou de novo).
(25:53) P1 – Oi? É que deu uma pequena travada nessa última parte que você falou e congelou a imagem e você parou de falar.
R1 – Então, até onde você ouviu?
(26:05) P1 – É que aí você se separou e o “seu” Osvaldo ficou com o Bravíssimo e a pizzaria. Existe até hoje a pizzaria?
R1 – A pizzaria encerrou. Ele vendeu e a pizzaria encerrou acho que o ano passado, como “Luna”, era “Luna Di Napoli” no início, depois virou “Empório Luna”. E já encerrou.
(26:38) P1 – Certo. Taísa, por que a escolha do nome: “Zappa’s”?
R1 - “Zappa’s” é do sobrenome Zapaterra, que é o sobrenome do Gelson e do Osvaldo. E é um nome italiano e a gente associou como uma coisa curta, ágil. A gente pensou em alguma coisa relacionada a pão e fizemos um “brainstorming” na época e eu acho que foi uma decisão super acertada, porque é um nome muito forte hoje. A gente detém a marca, nós registramos e eu acho que foi muito acertado, é uma marca muito forte.
(27:23) P1 – Certo. E agora tem em outras cidades também, né?
R1 – A nossa “Zappa’s”, não.
(27:31) P1 – Não?
R1 – Não. Nós temos quatro padarias em Rio Preto e duas lanchonetes, mas não fora de Rio Preto.
(27:43) P1 – Ah, sim. Não, é que eu vi os endereços, porque eu pesquisei e eu vi que tinha mais de uma. Mas é tudo em Rio Preto então, né?
R1 – Todas em Rio Preto. É um ramo muito difícil de fazer franquia, porque a gente fala aí de mais de mil itens de produção própria. Então, não é muito fácil essa padronização pra franquia. A ideia é um formato menor, aí a gente pode pensar, mas ainda não tivemos coragem de trabalhar com isso. E a gente, assim, eu acho que eu e o Gelson somos muito bairristas, a gente... (risos) Aqui esse escritório desse tamanho aqui, oh, ele senta ali e eu aqui e a gente vai tomando as decisões por aqui, apesar que a gente tem um escritório maior numa segunda unidade e lá a gente faz a reunião de gerência, mas a gente tem amor nessa unidade aqui, (risos) que foi a primeira.
(28:51) P1 – Certo. E onde que é essa onde você está agora? Que rua que é? Que bairro?
R1 - Essa daqui começou na Avenida Bady Bassit. Como eu falei antes, a avenida principal de Rio Preto era a Avenida Alberto Andaló, que é a de lá, aí passa o Centro e vem pra Bady Bassit. Essa avenida começou muito forte na época da... 1985, por aí, começou a bombar aqui também com empresas, lojas de carros, grandes imobiliárias, lojas importantes estavam, Bancos, né? E a gente sabia que aqui não tinha nada. Então, a escolha desse ponto também foi fundamental. A gente sabia que tinha que ser uma casa de esquina e de frente. Então, essa foi a busca. E numa avenida de alto fluxo. E essa avenida é a avenida de saída pra Mirassol, que é a cidade mais próxima aqui e que a gente tem uma troca muito grande, Mirassol e Rio Preto. E outras cidades também, várias outras cidades. No fim, Rio Preto é um grande centro, tanto médico, como comercial, aqui. Então, é muito difícil quem vem à Rio Preto e não passa por essa avenida. Na época, principalmente.
(30:29) P1 – Sim. Taísa, e como é que foi no início, para vocês escolherem os produtos? Você falou mais de mil produtos de produção própria, né? Como que vocês... tiveram que fazer alguma pesquisa? Vocês tiraram tudo da cabeça, mesmo? O tipo de produto que vocês iam vender, a qualidade.
R1 – A gente sabia o que a gente não queria e o que a gente não tinha. A gente queria uma padaria mais diversificada (31:06 – travou) e a gente prezava muito o pão francês. O nosso maior concorrente hoje é de um amigo nosso, a gente se tornou amigo, na época era uma padaria bem pequenininha, o “Rei do Pão de Queijo”, que eles continuam aqui nessa avenida. Mas a gente sabia que ele tinha um produto específico, então a gente foi buscar algumas coisas diferentes. Então, o sem recheio, a gente trouxe uma coisa que brasileiro gosta muito, que é recheio, né? Croissants recheados, lanches, a gente fazia um lanchinho no roll, que na época era a famosa baguete, baguete de metro e a gente queria mostrar uma outra cara, então fizemos o lanchinho no roll. Muitos salgados. E a questão de qualidade mesmo. Então, a gente sempre primou pela nossa matéria-prima ser de boa qualidade e a gente testava tudo. Então, só ia pra frente se a gente, assim... tinha uma variedade muito grande, muito grande. E, na época, a gente só atendia balcão. Depois, com a minha vinda para a padaria, nós fizemos uma mudança e aí abriu o espaço de mesa, em 2002. A gente começou uma reforma, pra melhorar esse espaço. E aí (32:55 travou) ... a área de café da manhã, almoço, no balcão. Balcão que é bacana pra padaria.
(33:06) P1 – Sei. E, Taísa, e a cara que vocês quiseram dar pra padaria? Assim, era arquitetonicamente uma padaria mais tradicional, mais sofisticada? Como que vocês pensaram esses espaços ao longo do tempo, né?
R1 – Olha, até na inauguração eu lembro da conversa com o arquiteto, ele foi extremamente ousado, porque ele falou: “A gente quer chamar atenção?” E nós pintamos a padaria de verde-limão. Verde-limão mesmo. (risos) Numa esquina, na Avenida Bady Bassit. E foi uma coisa que realmente ficou inusitado. Então, a gente trabalhou muito a marca, a gente sabia a importância da marca e isso foi... hoje a gente tem algumas alterações na nossa logo, a gente foi suavizando um pouco, que era uma coisa muito rígida, mas a gente teve essa assessoria, que foi importante no início, pra já dar essa personalidade pra padaria, que realmente eu acho que foi bem bacana.
(34:38) P2 – Taísa, como é que foi essa escalada para chegar a tantas lojas, tantas padarias, quanto vocês têm hoje assim? Foi tudo pensando, assim? Vocês foram indo, abrindo? O que você pode falar sobre isso?
R1 – Eu entrei em 2002 e aí a gente fez a reforma que estava precisando para fazer, aqui nessa unidade. Com essa reforma, a padaria ficou novamente em evidência. Ela, assim, tinha dado uma leve... tipo: deixamos de prestar atenção na loja porque estava feia, estava desgastada e, com essa revitalização, ela entrou em evidência novamente. E aí, em 2005, nós fomos procurados por um grande empresário, não era do ramo de padaria, nem de alimentação, mas que tinha um comércio aqui, que era uma loja de conveniência. E ele estava se desfazendo, que era o J. Hawilla. O J. Hawilla nos procurou, foi uma honra até ter sido procurada por ele e ele falou: “Olha, eu queria que esse comércio fosse de vocês”. E nos ofereceu de uma forma que a gente não tinha como recusar. Nós não pagamos um centavo. A gente assumiu uma dívida dele. Nós não teríamos dinheiro para falar: “Tó aqui”, ou teria que entrar num financiamento. E nós pegamos uma segunda unidade que foi também, assim, muito bacana, em frente, numa localização também estratégica, porque essa unidade fica em frente ao Rio Preto Shopping, que foi o primeiro grande shopping de Rio Preto. Uma loja muito grande, assim, ela tem uma... ela é imponente, ela é estreita, mas é uma loja bem imponente e a gente, acertadamente também, foi muito bacana ter feito essa aquisição. Nós começamos uma reforma e sempre o nosso cliente muito atencioso, muito tranquilo com a gente, permitindo que a gente fizesse reforma sem fechar, né, gente? E aí a gente fez essa reforma e ela realmente deu um fruto que a gente sempre quis. É uma loja muito boa, muito boa mesmo. E, logo em seguida, em 2009, a mesma proposta num outro ponto estratégico, que é a terceira grande padaria, que foi a do Damha. Lá, essa região, é onde tem vários novos condomínios de casas. E é um poder aquisito alto, né? Assim como a da zona sul, que é a da Anísio Haddad. Então, aí a gente ficou com essas três lojas, bem montadas. Também tínhamos, já tivemos, lanchonete dentro do “HB”, com outro nome, chamava “West Café”. A gente teve três lanchonetes lá dentro, que na época da compra da terceira unidade, nós vendemos. Em 2012 a oportunidade de abrir um novo conceito, um formato menor, dentro da Havan. E também foi uma loja muito bacana. Aí, em 2015, nós fomos procurados também por um empresário da “Encalso”, que nos ofereceu pra gente comprar quatro lotes de um “mol”, quatro... não é lote que fala, enfim.
(38:39) P1 – Unidades? Quatro unidades do mol?
R1 – É. Tem um nome certo, me esqueci. E aí a gente começou a reforma lá, só que essa loja a gente teve, assim, um momento muito ruim, que foi o momento da Dilma. Posso falar? (risos)
(39:26) P1 – Pode. Fique à vontade!
R1 - Foi a grande crise que a gente passou, foi em 2015, começou, a gente começou a reforma em 2014, então a gente passou por um momento muito difícil. Juntamente com a loja da Bady, que o que aconteceu? A gente teve que ficar a loja praticamente fechada, porque houve uma grande reforma durante dois anos nessa unidade e nós sofremos muito, muito, muito, muito. Caiu nosso movimento em cinquenta por cento. Teve época até mais, então foi um período muito difícil. E essa loja demorou, então, pra... a loja Belvedere, demorou pra nascer, mas nasceu, está tudo certo, depois hoje ela abastece a última unidade que nós inauguramos o ano passado. A loja do “Muffato”, que veio no mesmo formato da loja da Havan. Mas nós temos um projeto muito lindo, que vamos inaugurar provavelmente esse ano, que é a unidade Zappa’s Casarão. Que a gente foi também procurado por um grande empresário, o Rogério Melzi, dono de uma casa, uma mansão, ali no Centro da cidade, bem próximo do Mercadão Municipal. E ele queria que fosse feito um comércio ali, com uma marca rio-pretense. E ele falou: “Olha, Taísa, como a gente gosta da marca, minha irmã é cliente...” - ele não fica aqui, mas a mãe é cliente, a irmã é cliente - “... então a gente pensou em vocês”. Deu negócio, a gente está também com esse novo formato, com uma parceria com a família Melzi e a gente vai inaugurar lá uma padaria ainda esse ano, se Deus quiser!
(41:47) P1 – Que legal! Eu acho que eu vi essa casa, quando eu estava fazendo a pesquisa aí, antes da pandemia. É uma casa de esquina, antiga, bonita? É essa?
R1 – Não. Ela não é na esquina, ela é... ela fica na rua do mercado, na Antonio de Godoy, passando a Silva Jardim, a segunda casa. Mas é um casarão. Vai ficar muito bonito, bem interessante mesmo.
(42:17) P1 – Que legal! E, Taísa, qual que é o carro-chefe, assim? Deve ter vários carros-chefes, né? O pessoal vai aí na padaria mais porque tem o pão que só tem lá, ou porque ele pode tomar um refrigerante, tomar outras coisas? Comer o almoço, o jantar? O que é o carro-chefe?
R1 – Eu não posso deixar de falar que o nosso carro-chefe ainda é o pão francês. A gente prima muito pelo pão francês. A gente trabalha com uma farinha de melhor qualidade, mas hoje, claro, a gente, assim, está entrando de cabeça na questão da fermentação natural, entendendo que esse processo é o que deve ser feito, realmente. Principalmente nessa nova unidade, a gente quer focar muito nesse formato de todos os produtos com fermentação natural. Mas acaba que sendo muito diversificado mesmo, né? Então, a gente faz meio sazonal. Então, acabamos de trabalhar Dia das Mães, já estou começando a trabalhar a cesta que vai ter do Dia dos Namorados, mas o mês é junho, então em junho a gente monta o kit junino, que vai assim só delícia de fubá, milho, amendoim. O povo fica doido, gosta muito. O nosso kit, lançamos o ano passado e ficou bem bacana. Aí nós temos a grande estação, que é a estação do morango, a gente chama o nosso Festival do Morango, que começa em julho e vai até, até quando o morango estiver bom ainda, com preço bom, que dê pra trabalhar bem, aproximadamente três meses. Também é bem famoso e todo mundo conhece aqui em Rio Preto. E o Natal, que a gente trabalha também com... a gente que faz nossos panetones, chocotones e são bem reconhecidos. Além de todos os salgados que a gente... almoço, tem almoço, prato do dia. Enfim, a gente diversificou bastante.
(44:50) P1 – Sim. E como é que vocês trabalharam a publicidade? Porque, quando vocês começaram, ainda era muito comum fazer propaganda na rádio, no jornal. Hoje é muito em cima das redes sociais, panfletos. O que vocês pensaram, para chamar o público? Ou você acha que aquela esquina já era tão chamativa, que não precisou? Como foi trabalhada a publicidade?
R1 – No início foi muito boca-a-boca. A gente fazia teste de pão e eu lembro de eu encher um saco de pão e sair na rua abordando as pessoas que estavam caminhando, pedindo para ela falar o que ela achava. Levamos... a gente tem a Unimed aqui na frente, a gente levava lá. Então, nós fizemos uma coisa assim, muito, muito diferente mesmo. O empenho foi bastante grande, nesse sentido. E a mobilização de chamar mesmo as pessoas: “Oh, vem aqui, cara. Acabamos de inaugurar isso aqui. Eu preciso da tua ajuda. Passa aqui”. Mas como, assim, as pessoas gostaram mesmo, então nós realmente fizemos um mix bem diferenciado e diversificado e caprichado também, então as pessoas voltavam. E a gente teve aí uma clientela bem bacana, durante esses anos todos. Sofremos muito na época da... quando a gente começou a pulverizar, se perdeu um pouco com o atendimento, porque eu já não conseguia estar presente em todas as lojas. A gente não consegue. Então, isso eu tinha que ter braços e a gente sentiu isso também e foi justamente a época que todo mundo tinha celular na mão, tirava foto qualquer coisa errada. E as pessoas estavam muito sem, sem... com muita coragem. E pensando: “Olha, eu tô aqui por trás disso e ninguém vai saber que fui eu. Então, eu vou ferrar”. (risos) E nós sentimos isso. Acho que foi uma fase que a maior parte das empresas sentiram. E aí, claro, muito treinamento, mas eu confesso que hoje é a parte mais difícil, porque o fato da gente não conseguir fazer esse treinamento in loco, da forma como a gente sempre fez, olho no olho, né? Nós temos de ir criando esses braços, pra poder passar o conceito, porque o mais importante é que as pessoas entendam o que a gente quer. O que eu e o Gelson queremos. Como que a gente quer que a empresa se mostre. E, às vezes, eu não consigo fazer com que o meu atendente lá na frente receba essa mensagem, né? Até por conta do atropelo. E a gente passou realmente por muitos atropelos. Ainda mais agora, depois da pandemia. Redução de quadro e tal. Mas a gente é guerreiro, estamos aqui. (risos).
(48:25) P1 – Com certeza. Vocês chegaram a ter quantos funcionários, antes da pandemia? Você tem esse número?
R1 – Nós já ultrapassamos duzentos.
(48:35) P1 – Duzentos?
(48:37) P2 – Uau!
(48:39) P1 – Tem algum lugar que é produzido os produtos, para depois ir para a padaria, ou é lá nas padarias mesmo?
R1 – Cada padaria tem a sua produção. Aqui na Abadia a gente tem uma... um maior, por conta de alguns equipamentos e essa produção abastece alguns itens em outras lojas. Aqui a gente abastece, a Abadia abastece a loja da Havan e a loja Belvedere abastece Muffato.
(49:23) P1 – E, Taísa, vocês costumam fazer pesquisas, para inventar novas coisas? Novos produtos, assim? Fica procurando em livros antigos? Na internet? Vamos fazer uma coisa diferente agora? Como que é isso?
R1 – A gente... eu acho que a maior inspiração é viajar. Muito mais do que ficar olhando internet.
(49:50) P2 – Esse é um belo conselho, né? (risos).
R1 – É. Eu, assim... nós fizemos uma viagem para a feira de panificação na França e fomos em 2014. Lá a gente foi na feira, bacana, só que tem muita coisa lá que não é pra gente, uma coisa ou outra, vamos ver padaria. Aí, voltando, a gente resolveu fazer um passeio um pouquinho maior. Na época eu estava com o meu companheiro, né - não estou mais casada, pela segunda vez - e o Gelson e a Aninha. E a gente fez uma rota, de Paris até a Borgonha. Nessa viagem a gente foi pelo trecho sem pedágio, para passar pelo campo mesmo. Uma viagem que seria duas horas, demoramos cinco, mas foi a coisa mais gostosa do mundo. E passamos por uma cidadezinha que eu não me recordo o nome, que é uma cidade típica de estudantes, cheia de faculdades. E a gente chegou e não tinha mais almoço e nós entramos numa taberna. Chegando lá eu falei: “Gente, vamos comer o que tem aqui. O que você tem?” “Ah, um sanduiche, um cachorro-quente”. Eu falei: “Tá bom. É isso que eu quero”. Só que o cachorro-quente veio com uma salsicha tipo Viena, numa baguete francesa, coberta com o queijo... meu Deus... um queijo maravilhoso, tipo... eu esqueci o nome, eu compro direto. E essa baguete gratinada, acompanhando um molhinho. “Pai do céu, que isso, né?” (risos). Bom, a gente voltou e eu já criei, criamos, eu, o Gelson e a Aninha, a temporada francesa: colocamos “croque-monsieur”, “croque-madame”, a baguete, o sanduiche com a salsicha, que ficou maravilhoso, entrou para o nosso cardápio. Então, eu acho o seguinte: __________ (52:24 travou) ... eu vou pra cidadezinha aqui do lado, eu me inspiro. A gente só tem que ter esse olhar. Olhar, como ele está fazendo, que está dando certo, olha que bacana! A história do copinho de água, que eu fui a primeira a trazer pra Rio Preto. Eu fui pra Argentina, cheguei lá, tomei um café e veio aquele copinho de água. Eu falei: “Eu quero. Eu quero. Vamos pôr”. Então, isso há... eu tô falando há... 2006. Então, eu acho que nada é mais inspirador do que viajar. Pra mim, né?
(53:07) P1 – Sim, sim. E, Taísa, como é que foi pra vocês enfrentar essa pandemia?
R1 – Alô?
(53:17) P1 – Cortou um pouquinho? Eu vou repetir: como é que foi pra vocês enfrentarem essa pandemia?
R1 – Desculpa, eu não entendi.
(53:27) P1 – É que deu uma cortadinha. Eu vou falar de novo.
R1 – Enfrentar a pandemia? Tá me ouvindo?
(53:32) P1 – É. Tô. Tô, sim.
R1 – Sim.
(53:47) P2 – Taísa, tá ouvindo a gente?
(53:56) P1 – Travou. Tiago, será que caiu?
Tiago – Parece que travou aqui. Agora caiu.
(54:20) P1 – Ela caiu. Será que, se aplicar lá, ela volta, né?
Tiago – Hum hum.
(54:33) P2 – Voltou.
(54:35) P1 – Voltou? Oi!
R1 – Oi?
(54:41) P1 – Oi. Deu uma caída, mas voltou. Voltou, já. Taísa, como é que foi, então, enfrentar a pandemia? O que vocês acharam que vocês tinham de fazer? Teve que fechar? Aí vocês tiveram que desafios, pra entregar na casa dos outros? Como que foi?
R1 – Foi um... ai, meu Deus, foi um grande desafio aqui, gente. Nós tivemos que aceitar todas as medidas que o governo fez, né? Inclusive agora, da gente reduzir os horários, para poder ter essa ajuda também, que foi oferecida novamente. Nós, de imediato, a gente cancelou os contratos de quem estava na experiência, foi o que a gente fez. Nós não demitimos pessoas que estavam contratadas. A gente só não efetivou quem estava na experiência. E a gente está segurando da... porque hoje, se a gente avaliar, o nosso quadro de funcionários é o que onera muito a padaria. Claro, compra e impostos também. Mas a gente teve que olhar para todos os lados e tentar segurar. Teve um momento, a gente teve momentos muito difíceis, por quê? Eu falo que a nossa responsabilidade é o “x” da questão. Quando você pensa que você tem que pagar e você não tem dinheiro... (choro) Ai, foi muito difícil, gente, eu me emociono, porque não foi fácil, não. Mas, graças a Deus, a gente está vendo assim uma reação, mesmo até por algumas medidas nossas, aqui. A gente teve que reavaliar contratos com Banco, tivemos que pegar dinheiro emprestado de outra forma, melhorar a forma como a gente estava pagando. Vimos também oportunidades até criadas, nesse período de pandemia. E essa questão o meu sócio é muito meticuloso e muito correto e ele é que faz mais essa gestão administrativa, é a parte dele principalmente, mas a gente sempre faz tudo junto. Ele está chegando, aí não sei como que vai ser a entrevista, se vai atrapalhar...
(57:39) P1 – Não. Ele pode participar, se você quiser, mas seria bom a gente continuar falando contigo mesmo.
R1 – Não tem problema, né?
(57:52) - P1 – Não, não tem problema nenhum.
R1 – Bom, eu nem lembro onde eu parei. E aí a gente teve que usar todos os recursos, pra poder superar. E teve um momento muito, muito difícil mesmo. Mas essa gestão foi pontual, assim, olhando pra o funcionário, como que a gente pode fazer aqui, como que a gente pode reduzir compras? Essa gestão também, segurar ao máximo, a gente sempre foi muito... de muita fartura, né? Então, começar a administrar isso também: “Olha, gente. Isso eu posso falar para o meu cliente que eu não tenho”. A gente tem esse direito também. Então, nós tivemos que, até, pensar de uma outra forma que a gente nunca havia pensado antes. Mas, tudo isso, lógico, é aprendizado. E a gente cresceu muito nessa história também de... tivemos que melhorar em alguns pontos, bastante, com a pandemia.
(59:05) P1 – Sim. E vocês, assim, deram uma aumentada nos serviços de entregas? Tiveram que dar essa adaptada, pra entregar na casa das pessoas também?
R1 – É, a gente sempre teve um delivery, baseado nessa unidade aqui. Aí acho... acho não, melhorou o delivery das outras lojas também e nós intensificamos um pouco mais o nosso atendimento aqui. E teve um período que, em Rio Preto, nós ficamos fechados quinze dias. E o atendimento era só pela janela, ou só pelo telefone. E nós fizemos. Foi muito difícil também, porque como padaria é muito impulso, né? Você vem na padaria pra comprar o pão, aí você vê a baguete francesa, você resolve levar, o pãozinho doce, você resolve levar. É assim que é feito. E sem esse campo de visão do nosso cliente, ficou difícil, ficou bem limitado, né?
(01:00:17) P1 – Verdade. Taísa, você diria que o perfil do seu público muda de unidade pra unidade, por causa da região onde está a padaria?
R1 – É impressionante, mas muda bastante. A gente tem... tanto é que eu tentei unificar tudo, né? Tentamos fazer: “Olha, tem que ser desse jeito em todas as lojas”. E aí a gente retrocedeu, porque entende que tem que ter a sua personalidade, cada loja pode atender com horários diferentes... nós temos que estar abertos a isso, porque são públicos diferentes, mesmo.
(01:01:08) P1 – Legal. Taísa, e quanto ao futuro? O que vocês planejam?
R1 – Quanto ao quê?
(01:01:16) P1 – Para o futuro. O que vocês planejam para o futuro, assim? Os sonhos, talvez. No começo da entrevista você falou da possibilidade de uma franquia com um negócio menor, abrir em outros lugares. O que vocês pensam para o futuro?
R1 – Olha, eu falei que a gente já pensou em franquia. Eu não acho que esse seja um sonho, nem muito um caminho. Assim, eu acho que a gente... nós estamos falando de uma casa de vinte e cinco anos, né? A padaria já tem vinte e cinco anos. Assim, meu sonho é estar bem colocada, bem solidificada. Manter. Eu acho que a gente tem que... o nosso trabalho hoje é manter todas as nossas conquistas. Fazer bem feito o que a gente fez e continuar fazendo. Não penso em ampliar muito, não. Porque eu acho até que nós fazemos uma gestão, assim, bem centralizada. Então, é difícil você falar em ampliar muito. Nós já temos bastante coisa aqui, pra comandar.
(01:02:56) P1 – Legal. E você gostaria que seus filhos e os filhos do Gelson pegassem o negócio e levassem pra frente? Você pensa nisso?
R1 – Sim. A minha afilhada, que é a filha do Gelson, a Isabela, hoje é gerente de uma unidade, ela é a mais velha, ela tem vinte e sete anos. E ela gosta, ela está gostando bastante. Ela demorou pra vir pra padaria, assim, ela não vinha muito. O Leonardo, que é o irmão, também está aqui com a gente. Está trabalhado junto com o setor de compras e estoque. O meu filho está na produção. Ele é estudante de Física e ele trancou a matrícula, estava aqui em casa, ele mora em Bauru, né? Aí eu falei: “Oh, ficar dormindo nem pensar”. Ele falou: “Eu vou pra padaria então, mas eu não quero atendimento”. E foi para a produção, já vai fazer um ano que ele está aqui na produção, trabalha bonitinho. Tá uma graça. E a minha filha mais velha faz Administração. Chegou a vir para Rio Preto, trabalhou com a gente como gerente de uma unidade, mas ela quis alçar voo próprio e está trabalhando numa construtora hoje. E a gente não sabe se um dia ela volta, se não volta, mas eu, assim, é uma coisa que a gente, eu não vou impor, se ela quiser que venha, se ela não quiser, não tem problema. Mas é um patrimônio deles, né, gente? É deles. Eu não tenho... e a gente não vai ficar aqui pra sempre, eu e o Gelson (risos). Eu, o Gelson e a Aninha, nós não vamos ficar aqui pra sempre.
(01:05:15) P1 – Certo. Taísa, além... você me falou agora há pouco que o seu filho não quis ficar no atendimento, ele quis ficar na produção. Pra você, quais são as áreas mais legais, assim, de trabalhar? Porque comércio tem tudo, né? Tem desde fazer conta, botar preço nas coisas, que é uma coisa muito difícil você saber o preço que você vai botar pra vender, fazer a compra, o atendimento. O que você gosta mais e não gosta, assim?
R1 – O que eu amo fazer aqui é a parte criativa. Então, eu cuido dos cardápios, eu cuido... eu gosto, eu trabalho junto com a agência. Eu gosto de fazer, montar. Por exemplo: agora a gente está montando um treinamento pra café. Essa parte de reunião, ai, isso tudo eu amo! Eu vou confessar que eu já não quero mais ficar no atendimento, que eu fiquei por anos. Eu fico, eu faço, mas é que, como todo mundo me conhece, parece que todo mundo olha pra mim e fala: “Oh, vem me atender agora”. (risos). Então, eu fico um pouco desgastada pra fazer atendimento. Mas eu sempre fiz. Eu vinha domingo e ficava lavando a louça e olhando o povo. Agora a gente não faz mais. Nós abrimos mão do domingo. Mas essa parte criativa é o que eu gosto de fazer.
(01:07:03) P1 – Certo. Falando em domingo, que você falou agora de domingo, o que você faz, quando você não está trabalhando? O que você gosta de fazer, sem ser o trabalho?
R1 - Eu gosto de cozinhar, gosto de beber vinho. Gosto... agora eu tô na fase do “beach tennis” e gosto de fazer caminhada. Então, eu venho caminhando da minha casa até aqui, dá uns cinco quilômetros, pra fazer a minha caminhada matinal.
(01:07:47) P1 – Gui, você tem alguma outra pergunta pra fazer?
(01:07:52) P2 – Não. Achei bem bacana tudo o que a gente conversou com a Taísa, deu pra entender bastante essa ideia que ela tem do criativo e de puxar, né, lá da feira na França, que você contou. Achei bem legal assim a nossa entrevista. E você, Taísa, tem algo que a gente não citou, assim, que você gostaria de falar aqui na entrevista, de conversar aqui, de trazer pra gente?
(01:08:15) P1 – Que a gente não tenha perguntado, que você gostaria de falar.
R1 – Nossa, gente, eu falei, hein? (risos) Eu acho que eu falei tudo. (risos) Acho que eu falei basicamente o que eu tinha que falar. Eu estava aqui imaginando o que seria, como seria essa entrevista e foi, pra mim foi uma surpresa, que foi muito de mim também, desde a minha infância e eu gostei, gostei demais. Mas eu acho que eu falei bastante. Eu falei bastante do Gelson também, meu sócio, né, que está aqui agora, está ouvindo. E falar justamente da sociedade, que foi uma coisa que foi muito bacana. Que a gente... foi um momento que eu estava numa fase difícil da minha vida, que eu estava me separando. Eu que sempre fui dependente e, de repente, eu tinha de tomar muitas decisões sozinha, mas eu era uma dependente bem independente, eu acho. (risos) Como eu já tinha falado que eu me virava pra tudo, né? E ser a décima filha deve ter ajudado bastante. (risos) Mas a sociedade com o Gelson foi o meu casamento que deu certo. (risos) Com ele e com a Aninha, né?
(01:09:42) P1 – Certo. Muito legal, Taísa. Agora, daqui pra frente, você vai se tornar uma peça de museu, né? Porque ele vai ficar no Museu da Pessoa, essa gravação nossa vai ser tratada, vai ficar no Museu da Pessoa. E, depois, tudo o que você falou vai ser usado pra fazer os produtos do Sesc, que é exposição virtual, exposição presencial no Sesc Rio Preto e sempre, na pandemia não dá pra fazer lançamento de livro, para um monte de gente ir, mas assim que terminar a pandemia, o livro da editora do Sesc, sobre a história do comércio de Rio Preto. Você... o que você acha de ser uma peça de museu agora, assim? Do Museu do Comércio?
R1 – Nossa! Uma honra, gente. Fiquei muito feliz pelo convite. Muito obrigada. Uma honra, mesmo.
(01:10:36) P1 – A gente agradece muito, viu Taísa, a entrevista, em nome do Sesc e em nome do Museu da Pessoa. E o nosso fotógrafo, aí do Sesc de Rio Preto, não agora porque ainda está muito esse negócio da pandemia, mas ele vai te ligar daqui a umas semanas, para marcar um dia que você possa fazer umas fotos. Fazer uma sessão de fotos na padaria, em alguma que você escolher, ou em todas. E, se você tiver fotos antigas pra compor o nosso acervo, ele copia. Se você puder, se der pra ele copiar, ele copia e te devolve. Tá bom?
R1 – Sim, tá bom.
(01:11:15) P1 – Legal. Eu agradeço muito. Um abraço, foi muito boa a entrevista e agradeça ao Gelson também. Tá bom?
R1 – Tá joia. Obrigada, Luís, obrigada, Guilherme. Prazer em conhecê-los, viu?
(01:11:28) P2 – Prazer, Taísa. Tchau, tchau.
(01:11:30) P1 – O prazer é nosso. Um abraço. Tchau, Tiago. Tchau, Gelson.
R2 – Opa!
(01:11:39) P1 – Até logo!
R1 – Tchau, Luís. Até!
(01:11:43) P1 – Tchau, um abração.