Marco Aurélio Roberto narra a vinda de seus avós para a cidade de São Paulo, relembra a infância regada a música, brincadeiras, passeios de bonde e de trem. Valoriza o aprendizado no colégio, onde vivenciou a ditadura militar, assim como os frutos culturais que nasceram da repressão. As noites de discoteca, os caminhos que traçou até chegar ao curso de arquitetura e os rumos profissionais que o tornaram consultor de desenvolvimento. Hoje Marco roda o Brasil através do Motorhome em busca de histórias de vida.
Programa Conte sua História (PCSH)
Uma vida que integre você a tudo aquilo que está ao seu redor
História de Marco Aurélio Roberto
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 10/09/2015 por Andréia Regeni
Programa Conte Sua História
Depoimento de Marco Aurélio Roberto
Entrevistada por Lucas Torigoe e Marina Thaler Machado
São Paulo, 27 de agosto de 2015
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Marco, você pode fazer o seu nome inteiro, data e local de nascimento?
R – Marco Aurélio Roberto. Data de nascimento, oito de outubro de 1951. Local de nascimento, cidade de São Paulo, Ipiranga. Pra ser mais preciso, eu quase nasci no elevador (risos), então eu nasci no Hospital Leão XIII, que hoje deve ter mudado de nome, que é em frente ao Museu da Ipiranga. Mais paulistano do que isso, só nascendo no Bixiga.
P/1 – E como é essa história que você quase nasceu no elevador?
R – Segundo a minha mãe, já falecida, dona Jura, dona Jurandir, Jurandir com r porque na época tinha uma diferença de Jurandir homem, Jurandir mulher. Ela diz que o movimento do parto quando eu estava pra mim estava muito forte e ela estava indo pro quarto, por pouco eu não nasci no elevador por causa, justamente, da bolsa que estava para estourar e tudo o mais. Então ela me falava: “Você quase nasceu no elevador”. Eu falei: “Caramba, eu era já um cara privilegiado” (risos). Mas no final foi um parto até difícil, segundo ela diz, na época que não tinha todos os recursos, porque quase precisou de um fórceps. Fórceps é um aparelho que o médico coloca pra poder ajudar a ter o neném. Mas no final deu tudo certo, nasci às nove da manhã.
P/1 – E qual é o nome inteiro do seu pai e onde ele nasceu?
R – Meu pai é Arthur Roberto Filho, também nasceu em São Paulo. A minha mãe, Jurandir Fonseca Roberto. A minha mãe também nasceu em São Paulo embora a família do meu avô seja de Campinas, veio da cidade de São João Del-Rei pra Campinas, então ela acabou nascendo em São Paulo também.
P/1 – Então a família da sua mãe é mineira, isso?
R – O meu avô e a minha avó, sim. Os meus avós paternos são do interior de São Paulo mas aqui pertinho também.
P/1 – E por que o seu pai e a sua mãe vieram pra São Paulo?
R – Não, na realidade eles nasceram aqui. Quem veio para São Paulo foi meu avô. Eles nasceram aqui e viveram aqui também.
P/1 – Mas por que seus avós vieram pra São Paulo, você sabe?
R – O meu avô é uma pessoa muito interessante porque ele saiu de São João Del-Rei, eu acho que eles tinham lá alguma coisa, trabalhavam com coisas da época lá da região, da situação, que na época era bem remota e tal, transporte e coisas de fazenda, comércio local, coisas desse tipo. E eu acho que o que provocou a saída de todo mundo, da onde eles estavam na época era a cidade grande, que na época não era tão grande como hoje, mas ainda provocava isso. Eu acho que foi isso que provocou a saída dele de lá pra cá. Meu avô trabalhou no O Estado de São Paulo, o jornal, Sebastião Fonseca é o nome dele. Ele foi um dos funcionários mais antigos e mais velhos, antigos e velhos no bom sentido porque ele viveu 103 anos, ele completou cem anos sadio, a gente fez uma festa pra ele de cem anos, durou três dias. E ele foi o funcionário, até hoje o que eu tenho na história, é o funcionário mais velho d’O Estado de São Paulo, o jornal. E saiu no Estado, saiu em jornais do bairro e tudo o mais. E a minha avó Maria, também acho que ele conheceu em Campinas. Ele trabalhou no jornal lá, acho que Correio de Campinas, me parece, começou a carreira dele no jornal Correio de Campinas, e conheceu a minha avó lá, casou em Campinas e veio pra São Paulo. Então foi mais ou menos esse o roteiro: São João Del-Rei- Campinas-São Paulo.
P/1 – Em que ano mais ou menos foi isso, em que década?
R – Cara, provavelmente na década de 20 pra 30, né? Porque o meu avô nasceu em 1887, porque o meu outro avô, Arthur Roberto Filho, nasceu em 1886; eu gravei muito isso porque foi o ano da Lei do Ventre Livre, na lei da libertação dos escravos pela princesa Isabel. O meu avô tinha uma diferença de dois anos, provavelmente nasceu dois anos depois do meu outro avô, que é o Arthur Roberto. E a minha outra avó que também chamava Maria, muito interessante isso. Na realidade, quando ele veio de Campinas pra São Paulo já veio nessa época de crescimento das cidades, tanto de Campinas quanto de São Paulo. Eu acho que foi essa busca que ele teve do trabalho que ele fazia, que era no jornal escrito.
P/1 – E os seus avós de pai e de mãe moravam onde aqui em São Paulo?
R – O meu avô e a minha avó Maria moravam na Casa Verde. O meu avô Arthur tinha uma história diferente. Ele trabalhou e se aposentou numa fábrica que tem na cidade de Votorantim, que é a fábrica Votorantim de cimento. E até hoje eu não entendo como uma pessoa que trabalhou numa fábrica de cimento pode viver 106 anos, operário, não entendo. Não sei, acho que era a constituição física deles, provavelmente. Os dois viveram mais, as minhas avós morreram mais cedo. Provavelmente por causa do problema de tantos filhos, as mulheres sofrem muito com isso. A minha avó teve 12 filhos, a minha avó Maria do meu avô Sebastião. E a minha avó Maria do meu avô Arthur teve seis. Então quer dizer, é difícil porque eram partos naturais, então ela sofre muito. Provavelmente foi isso que acabou acontecendo, que acabou dando essa coisa, essa origem. Mas de qualquer forma o meu avô Sebastião e o meu avô Arthur viveram bem, saudáveis, o meu avô morreu porque estava na hora de ir embora. Quando ele foi morrer acabou tendo um problema de, como é que ele disse? “Hoje está na hora. Estou me sentindo mal, não estou bem, chama os meus filhos e a gente vai precisar conversar porque eu acho que eu estou indo embora”. Ele já tinha 103. A outra coisa é que os dois foram muito saudáveis, tiveram uma vida boa. O meu avô Arthur casou de novo, a minha avó faleceu e ele casou com uma mulher de 52 anos na época, ele tinha 82, 55 ela tinha e teve uma outra filha.
P/1 – Com 80 anos.
R – É, mas o homem não tem o problema de ter mais filhos, a mulher sim. Mas ela tinha mais três filhos, então foi uma gravidez de risco mas graças a Deus deu tudo certo. O nome da minha tia mais nova é Fátima. É uma história muito interessante dos dois porque os dois viveram uma vida longa e bem, com saúde. E culturas completamente diferentes, o meu avô Sebastião era um cara culturalmente mais instruído, o meu avô Arthur era uma pessoa mais simples, mais operária. Mas assim, os dois formaram muito bem os filhos. Meu avô que era mais simples deixou todo mundo com sua própria casa, isso é muito legal você ver, naquela época. E meu avô, como tinha 12 filhos, quer dizer, uma das minhas tias acabou morrendo com pouca idade, acho que 14 anos, e todo mundo também se deu muito bem e todo mundo viveu bem. Eu tenho três tios ainda com 98, 96, 97 anos. Então eu acho que tem alguma história legal aí, genética, que a gente precisa descobrir (risos).
P/1 – Mas você sabe como seus pais se conheceram?
R – Meu pai parece que conheceu minha mãe já aqui em São Paulo em um desses passeios, antigamente se passeava muito em parques. Um desses passeios nesses parques públicos, provavelmente num museu, alguma coisa assim ou na cidade. Eu acho que foi num lugar público, provavelmente, mas na coisa de passear, de fazer aqueles roteiros que fazia na cidade antiga de São Paulo. O meu avô Arthur e a minha avó Maria eu já não tenho essa informação. Mas provavelmente também como moravam em lugares pequenos se conheceram porque o lugar era pequeno, né? Vilas e tudo o mais, era mais fácil.
P/1 – O seu pai e a sua mãe faziam o quê na época em que eles casaram?
R – O meu pai foi uma pessoa muito esforçada. Meu avô Arthur era uma pessoa muito rígida e o meu pai se formou em Contabilidade mas ele foi um cara extremamente esforçado porque ele fez tudo escondido do meu avô. Meu avô não queria que ele estudasse, queria que ele trabalhasse porque é o que ele achava que dava certo. A concepção dele, a ideia dele era essa. O meu pai continuou estudando, fez curso de Contabilidade, depois fez Economia. Trabalhou 35 anos na mesma empresa, ele trabalhou na Fepasa, Ferrovias Paulistas, e foi um cara que eu tenho que me orgulhar muito dele porque ele tudo o que ele conseguiu foi trabalhando, foi um cara extremamente focado, esforçado, dedicou a vida pra família, construiu suas casas. A casa que ele herdou do meu avô ele doou pra minha tia, que era irmã dele, e por consequência, você vê história interessante, a minha tia depois de muitos anos, ela está internada com Alzheimer aqui pertinho, numa dessas clínicas que têm no Alto de Pinheiros, e ela doou essa casa que meu pai deu a ela pro meu filho e pras filhas da minha irmã Maria Angela, que são três, e pra mais uma pessoa. Quer dizer, são quatro netos do meu avô que herdaram a casa do meu pai. É uma coisa doida, mas foi basicamente isso. Mas o que mais você perguntou a respeito?
P/1 – O que seu pai fazia? Você falou que trabalhava na Fepasa.
R – Trabalhou na Fepasa durante 35 anos. É uma pessoa que dedicou toda vida pra família. Nós estudamos em colégios bons, minha irmã estudou no Stanford. Colégio estadual e no Stanford. Stanford era um colégio inglês que tinha.
P/1 – A sua mãe?
R – Minha irmã, Maria Angela Roberto. Ela estudou no Stanford que era um colégio que tinha aqui nos Campos Elíseos. Eu estudei no Liceu Coração de Jesus, estudei 12 anos no mesmo colégio, então fiz primário, ginásio. Primário, quinta série que tinha naquela época, ginásio e científico. No mesmo colégio, o que é uma coisa rara. Naquele tempo era mais difícil você estudar no colégio estadual do que estudar no colégio pago. Eu queria ir pro colégio estudar e não consegui entrar porque era difícil, você vê que coisa interessante.
P/1 – Tinha prova pra entrar?
R – Tinha, tinha o exame de admissão que era muito, muito difícil, só entrava quem estava muito bem. É como se fosse um vestibular pra ginásio. Mas era difícil. O colégio era ótimo, só que eu queria estudar no colégio estadual. Doido, né? Uma coisa que hoje em dia você não consegue entender, mas naquela época o ensino era muito forte. Mas o colégio estadual e o colégio particular eram muito bons. O Coração de Jesus, que foi o colégio que eu estudei, o São Bento, o Arquidiocesano, tinha muitos colégios bons. Campos Sales, que era um colégio famoso também, onde é a Secretaria Estadual de Educação hoje era o Colégio Campos Sales. Enfim, ele deu pra gente o que tem de melhor. A casa que ele construiu, uma casa muito boa, uma casa grande, um terreno grande, a gente viveu muito bem. E uma coisa que eu tenho que agradecer também porque na época que a gente cresceu a gente brincou muito, brincar é extremamente importante na vida de qualquer pessoa, como criança a gente brincou muito. E a brincadeira te faz ser muito criativo. Então meu pai proporcionou isso também, fora outras coisas. E a minha mãe era uma pessoa mais dedicada pra casa. Ela gostava muito de costura, ela fez corte e costura, modista e tudo o mais, trabalhou com uma tia minha chamada Aparecida que levou ela para uma dessas famílias bem tradicionais de São Paulo e elas confeccionavam todas as roupas dessa família, como se fosse uma loja dentro da casa de cada um, o que tinha naquela época. Elas faziam tudo, desde uma calça normal até um vestido de noiva. Imagina, eram pessoas competentes. E ela trabalhou a vida toda dela nisso porque ela gostava muito. As minhas roupas, as roupas da minha irmã, eram feitas pela minha mãe. Então todo mundo: “Pô, onde é que você comprou isso?” “Minha mãe fez”. Muito legal isso (risos).
P/1 – Então quando você nasceu o seu pai trabalhava na Fepasa, é isso?
R – Já trabalhava na Fepasa.
P/1 – E você nasceu e vocês moravam onde? Nessa casa...
R – No Ipiranga. Na realidade a gente morou primeiro na Casa Verde, numa das casas do meu avô. O meu avô já tinha uma casa que é como se fosse uma vila, rua a rua. E a gente morou lá, minha mãe morou lá.
P/1 – Você passou a sua infância mais aonde?
R – Três anos só lá.
P/1 – Na Casa Verde? Você não se lembra muito, né?
R – Me lembro, me lembro sim. A rua Atílio Piffer, bem no centro da Casa Verde. É uma rua bem legal, bem gostosa e tal. Tinha uma loja, inclusive me lembro que meu pai, a gente foi num Natal na casa do meu avô Sebastião e naquela época tinham bondes. A gente ia pra casa do meu avô e andava muito de bonde, era legal andar de bonde, era gostoso. E eu tinha três anos, por aí. Tinha uma loja de armarinhos assim na mesma rua e aquele dia meu pai, não sei por que razão ele me deu um presente que era um carrinho, como se fosse um match box hoje mas era um carrinho de ferro, um carrinho antigo, um automóvel bem legal. E eu fui brincando com o carrinho até a casa do meu avô e tal, nunca me esqueci disso. E a gente estava indo pra passar um domingo na casa do meu avô antes do Natal. Domingo de sol e tal, de bonde, então foi uma época muito gostosa, uma época muito legal. O que eu me lembro mais disso, dessa época foi isso.
P/1 – Foi do bonde.
R – É, do bonde e dessas brincadeiras e tal. E as idas à casa do meu avô porque todo domingo a gente ia pra casa do meu avô.
P/2 – Onde é que ele morava?
R – Meu avô primeiro morou no Ipiranga, na rua dos Patriotas, perto do museu. Depois ele se mudou para o Cambuci, na rua Backer. Mas eu me lembro das duas casas, tanto do Ipiranga como da rua Backer. No Ipiranga tinha uma coisa muito legal, a casa do meu avô era uma casa grande de três andares. E a minha tia morava embaixo, como se fosse uma edícula, mas era uma outra casa embaixo. Tinha a garagem e tinha uma outra casa embaixo, com meu tio, os meus primos. E meu avô morava na casa de cima. E a minha avó ainda viva e tal. O meu avô era uma pessoa muito interessante, muito vaidosa, o meu avô Sebastião. E ele tinha umas coisas peculiares. Ele colocava gotas de perfumes nas rosas que eram plantadas no jardim da casa da minha avó ali na frente. E 12 filhos, seis mulheres e seis homens, imagina as mulheres que eram amigas das minhas tias e tal, ficavam maravilhadas: “Olha que chique”, então a casa dele estava marcada por isso também, porque ele gostava, era uma coisa que ele gostava de fazer. Mas era um cara extremamente vaidoso, bem cuidado, cheiroso, bem apessoado.
P/1 – Como é que ele se vestia?
R – Naquela época se vestia em terno, mas ele era um cara muito exigente com roupa, eu me lembro. Camisa de linho, terno de gabardini, tropical inglês que tinha muito essa época. Então se vestia muito com colete, se usava muito terno, gravata, chapéu. E ele era muito elegante. Os sapatos de couro, aqueles sapatos ingleses que eram muito legais. De vez em quando eu brincava de engraxar. Então tinha algumas coisas bem legais nessa casa que eu me lembro. E tinha um negócio muito bacana que a casa era vizinha de uma fábrica, não sei se era uma metalúrgica, o que era, mas era uma fábrica que tinha no quarteirão ali e a fábrica trabalhava à noite, as máquinas ficavam ligadas. E da parede do quarto da minha tia dava para ouvir um pouquinho do som. Eu dormia que era um encanto dormir naquela parede ali porque o som relaxava. E eu era muito birrento com a minha bota, eu usava uma bota ortopédica e eu não tirava a bota pra dormir e a minha tia ficava brava que eu não tirava a bota pra dormir e eu não tirava a bota, dormia de bota. Mas aquele barulhinho me encantou bastante. Então aquela casa ficou marcada por essas coisas legais que tinham. A reunião da família sempre aos domingos, uma casa super agradável, um bairro gostoso, tranquilo o Ipiranga, então, bem legal.
P/1 – E vocês ouviam muita música?
R – A família toda da minha mãe é muito musical, todo mundo sabe tocar alguma coisa. Eu estudei piano, minha irmã estudou piano, minha mãe também. O meu avô tinha uma banda, na época banda é banda, não era banda que é hoje. Ele tinha uma mini-orquestra, vamos dizer assim. Então os meus tios todos tocam alguma coisa, tocavam, clarinete, piston, saxofone, instrumento de percussão, piano, violino, todo mundo estudou um instrumento, a família muito musical. Muita gente, então todo mundo tocava alguma coisa. Meu avô é como se fosse um arranjador, um maestro nessa época. Acho que só minha avó não tocava um instrumento e a minha tia Iracema, o resto todo mundo estudou alguma coisa.
P/1 – Você falou que o pessoal se reunia nessa casa. Nessas festas se tocava música?
R – Muito.
P/1 – E que festas eram essas? Reuniões? Eram especiais?
R – Como o meu avô era uma pessoa que era muito fácil de fazer amizade, era uma pessoa muito simpática, agradável, não eram só os filhos, os netos, eram pessoas amigas também que vinham nesses sábados, domingos e tudo o mais, mas também como tinha festas, por exemplo, Dia dos Pais, aniversário o meu avô. Aniversário do meu avô era dia seis de janeiro. Seis de janeiro é dia de Reis. Então na semana anterior você tem o Natal, na outra semana você tem o final de ano, na outra semana é aniversário do meu avô. Era um mês só de festas porque era muito legal ter essa condição. Foi uma coisa que eu gostava muito. E quando tinha só almoço na casa dele todo mundo ia pra casa dele porque era um ponto de encontro, os filhos, os filhos dos filhos, amigos, netos, enfim. E o almoço era feito naquela época diferente do que é feito hoje, hoje você paga pra comer comida caseira fora da sua casa, naquela época se fazia comida caseira em casa (risos). Então, por exemplo, ele fazia um frango, matava o frango, depenava o frango, cozinhava o frango e depois ia fazer o frango. Então todo mundo ia pra casa de manhã, cedinho, pra poder ajudar a fazer o almoço. A massa era feita em casa, então tinha máquina pra fazer as massas. Era tudo feito e tudo cozinhado durante esse tempo na manhã. O almoço saía uma hora, uma e meia da tarde. Imagina, então eram todas as irmãs, cunhadas, trabalhando na cozinha. E a cozinha era muito grande, os armários eram enormes, armários antigos de madeira com panelas grandes, fogões industriais, porque tinha que ser. Porque a família era grande. Então a coisa de ter esse tempo pra fazer as coisas era muito gostoso porque você brincava, você conversava. Ninguém ligava a televisão, ninguém ouvia rádio, todo mundo ficava conversando e isso é muito legal, uma coisa muito rica. Então a gente brincava muito. No começo quando era pequeno brincava na casa, na rua, na casa grande, tanto na rua dos Patriotas como na rua Backer. Mas depois começou a crescer, os primos também, a gente jogava bola na rua, que era uma coisa natural naquela época, rua de paralelepípedo era ruim de jogar bola, mas jogava porque era o único lugar que tinha, ninguém podia sair de lá de perto, tal. Com os carros passando, eram poucos carros que passavam. Então era muito bom, era muito legal.
P/1 – Você lembra de alguma canção, alguma música dessa época que vocês tocavam na família?
R – A gente tocava as músicas que eram sucesso naquela época. Chorinho, músicas populares brasileiras. Mas a minha família é muito eclética, eles gostavam de tudo. Tinha um tio meu chamado Itamar, aquele adorava o que hoje tem um outro nome, que hoje tem até uma trupe que está dançando assim, eles já dançavam naquela época, que era o hip hop daquela época, não é esse hip hop de hoje, o boogie woogie que tinha naquela época também, umas danças que vieram antes do rock n’roll, que era uma dança que se dançava e queimava muita energia porque era muito doido. Quando os meus tios dançavam eu ficava louquinho de ver eles dançando assim, que era muito legal. E a outra coisa é que tinha um pouco de tudo, o que vinha na cabeça a gente tocava, era muito legal. Isso era em épocas diferentes, mas mais no Natal, porque no Natal nós íamos na casa da minha tia, que era na Mooca, era ali perto da Avenida do Estado, perto do gasômetro ali, entre a Radial Leste, no comecinho da Radial Leste e a Avenida do Estado. E era uma vila. E era muito legal porque na vila você pode brincar, pode fazer tudo porque é uma vila. A casa dela não cabia todo mundo mas dava pra caber todo mundo porque todo mundo ficava dentro de casa e fora de casa, então não tinha jeito. E lá se tocava muito, tinha o piano, tinha bateria, então era uma festa. O pessoal gostava de ir nas festas da gente por causa disso.
P/1 – E depois quando você tinha três anos você se mudou, né?
R – O meu pai comprou um terreno e começou a construir. Quando a casa ficou semipronta a gente mudou pra lá. O lugar que a gente morou hoje é muito feio, mas na época era muito legal porque parecia uma cidade do interior, como todas as vilinhas que tinham fora de São Paulo. Se você saía do centro da cidade e ia, por exemplo, pra Osasco, era uma viagem, você tinha muito mato até chegar em Osasco. Depois você saía de Osasco e ia pra Carapicuíba, mais uma viagem. A gente morou em Carapicuíba, uma rua que chamava Antonio Roberto, mesmo sobrenome da gente, por coincidência, número 180. E é uma casa grande, tinha quase 15 cômodos, meu pai fez uma casa muito confortável. E fez no mutirão, apesar de alguns profissionais trabalharam na época, pedreiro e tudo o mais, mas a minha família era muito unida, então arrumava o almoço no final de semana e todo mundo ia ajudar a fazer as coisas: pintar, rebocar, cobrir a casa, fazer telhado, ampliar a casa e tudo o mais. Então era uma festa porque ia a família toda, imagina todo mundo trabalhando e a gente brincando lá com os primos e tal, então era muito legal. E era longe de São Paulo na época, então os primos iam e dormiam, uma farra, era muito legal.
P/1 – Você ficou até que ano nessa casa?
R – Eu vivi lá dos três até os 14, 15 anos.
P/1 – Descreve essa casa pra gente, como é que ela era.
R – O terreno era um terreno grande, porque a rua era no centro, tranquilo. Um terreno grande, tinha 50 por 20, um terreno na época grande. E a casa tinha na entrada um acesso pra garagem descoberta, garagem rápida, aí tinha uma varanda bem grande, na época se usava muito isso, depois tinha a casa anexada. Tinha três quartos, um quarto pra cada um, pros meus pais, pra mim e pra minha irmã, uma sala grande, copa e cozinha, se usava muito a copa, onde tem tudo aquilo que você vai usar pra cozinha, que é ferramenta, tudo o mais, os armários, todo o material que se usa na cozinha. Copa e a cozinha é o lugar onde você vai fabricar tudo o que você vai servir como alimento. A copa é o lugar que você almoça, inclusive. E aí tinha uma despensa, que era importante porque se comprava muita coisa pra estocar naquela época, era natural e não tinha supermercado, então comprava no armazém, de sacas, então tinha que ter um estoque. Tinha um quadro de ferramentas, tinha uma lavanderia, os quartos tinham os seus banheiros. Mas essa casa o meu pai fez um banheiro bem grande. E tinha um jardim de inverno, que era uma área dentro da casa. E bem confortável, uma casa bem gostosa. E tinha a parte de fora que era um quartinho mais de guardar ferramentas, essas coisas, se usava muito porque tinha plantação em casa, tinha frutas, legumes. Plantado tinha mandioca, chuchu, maxixe que é uma coisa que eu acho que vocês nem conhecem, maxuxo, uva, limão rosa que é o irmão grande, abacate, tinha um monte de coisa plantado. Todo mundo tinha seu próprio poço, então já desde pequeno já aprendi como é que trocava a gaxeta da bomba do poço. Tinha que descer dentro do poço pra trocar essa gaxeta. Olha só que doido, né cara? Mas era o hábito da época, então eu descia com o meu pai e eu aprendi a fazer tudo o que eu sei fazer com o meu pai, acho que por isso que eu gostei tanto de Arquitetura. Meu pai era um cara que se virava, ele fazia tudo, mexia no telhado, mexia no encanamento, mexia na eletricidade, mexia em tudo, ele sabia fazer de tudo um pouco. E quando não sabia ele chamava alguém que soubesse fazer. E dos três até os 14 anos eu passei nessa época indo pra escola e brincando.
P/1 – E você brincava do quê nessa época?
R – De tudo, cara. Tinha muito filme de caubói, faroeste na época, então a gente fazia as próprias ferramentas. A gente fazia tudo de madeira, isso era uma coisa muito legal. Tudo o que eu brincava eu fazia, eu construía, então eu fazia um revólver, fazia uma espingarda, eu fazia a capa do zorro, então arrumava um lençol da minha mãe lá, dava umas coisas pra gente fazer, chapéu, espada fazia de madeira, cavalo era de cabo de vassoura. Tudo o que você fazia normalmente. Brinquedo não tinha tanto brinquedo como tem hoje, então como tinha sempre material de construção em casa a gente brincava muito na areia, nas pedras, tinha muita areia então brincava muito, fazia cidades, tudo com toco de madeira. Essa imaginação que hoje as crianças não exercitam tanto a gente exercitou muito nessa época porque você imaginava uma coisa que você não tinha, você brincava, era muito lúdico. Isso foi muito bom, porque isso te dá uma segurança na vida depois legal, quer dizer, você não precisa ter um brinquedo caro pra você brincar, você pode brincar com o que tiver na sua frente, então brincava de pega-pega na rua, brincava de outras brincadeiras na rua, mas brincava também em casa, eu chamava os meninos pra brincar em casa, que a casa era grande. Andava de bicicleta em cima do muro, é coisa que só moleque faz. Eu me machuquei muito, nunca quebrei nada, mas caía pra caramba. Rasgava o braço às vezes no arame, na cerca de arame farpado que ia pro muro do vizinho lá. Mas era coisa de moleque. As brincadeiras eram assim, eram brincadeiras extremamente saudáveis.
P/1 – Mais na rua também?
R – Mais em casa quando era pequeno. Na rua foi mais quando comecei a crescer, andava mais de bicicleta, a bicicleta era do meu pai, não tinha bicicleta pra criança, as bicicletas eram todas importadas, né? A bicicleta do meu pai era alemã, de adulto. Pra você andar numa bicicleta de adulto você tem que fazer aqueles movimentos assim, porque ela é alta, o cano, então você tem que aprender a andar na bicicleta de adulto. E eu, nossa, me saí muito bem, andava até de costas na bicicleta, imagina! Fazia loucura, a minha mãe ficava doida. E era uma coisa legal porque aguçou a minha criatividade, aguçou a minha coisa do brincar, de conviver com as crianças, com as diferenças. Os amigos que não tinham eu mandava tudo pra casa, aí a minha mãe ficava brava porque tinha que dar café e lanchinho pra todo mundo, mas no final dava tudo certo. E isso foi legal porque eu vivi legal, vivi bem, feliz, sou uma pessoa bem resolvida em relação a isso.
P/1 – Como é que era a vizinhança, o bairro?
R – Eram pessoas trabalhadoras, como é em qualquer lugar assim, cidades pequenas que estavam se desenvolvendo, bairros afastados. Era um lugar dormitório porque ali não tinha indústria na época, tinha poucas indústrias, então as pessoas trabalhavam em São Paulo e moravam lá. As ruas ainda não eram asfaltadas na época, não tinha asfalto com tanta facilidade, eram calçadas, mas até chegar o calçamento demorou. Quando chovia aquilo era uma loucura pra você andar, meu pai carregava a gente nas costas. Minha mãe com a minha irmã de cavalinho e o meu pai comigo nas costas. Andando no barro. Então a gente saía, levava dois calçados, um pra andar quando voltasse e outro pra ir para o lugar que a gente ia. Doideira, né? Mas tudo isso meu pai fez pensando no futuro. Meu pai era uma cara que tinha muita visão, ele sabia que num futuro aquilo ia ficar legal. Então a gente teve uma vida muito boa nessa época e isso até os 15 anos. E tinha muitos amigos, como tenho até hoje, frutos daquela época.
P/1 – Você se lembra de algum vizinho, de algum amigo assim?
R – Vários, vários. Na frente tinha o seu Antônio que era o tintureiro. Do lado tinha uma família de japoneses, ele eram feirantes, vendiam legumes, essas coisas assim. Do outro lado tinha uma vizinha que o marido era funcionário público, ela também. Do outro lado tinha um pessoal que os dois eram operários, eu não lembro o nome deles. Na frente tinha uma família de portugueses que tinha chegado de Portugal, era uma família grande que morava numa casa só, até namorei com uma das meninas.
P/1 – É?
R – Português gostava muito de pessoas de pele escura assim, tal.
P/1 – Isso mais na adolescência.
R – É, eu tinha... comecei os namoricos de 16 anos. Gabriela, o pessoal todo ali da região que eram portugueses. Quem mais que tinha ali? Tinha uma pessoa que trabalhava com meu pai na mesma empresa, na Fepasa, que era o pai e a mãe desses meus amigos que tenho até hoje, Guiomar e o pessoal todo. Tinha o seu Pedro, que também era amigo do meu pai, enfim, então a gente conhecia a vizinhança toda.
P/1 – E onde é que era a Fepasa?
R – A Fepasa é onde é hoje a Estação Júlio Prestes, onde tem o teatro Sala São Paulo. Pra você ter uma ideia eu brinquei muito onde hoje é a Sala São Paulo. Porque onde é a Sala São Paulo era um jardim, dentro daquele prédio tinha um jardim. Um jardim mesmo, bonito, gostoso, bacana. A parte debaixo do lado direito era a informática onde tinha aqueles grandes computadores, tal, antigos. E ali tudo era um corredor, um círculo e dentro era um jardim dentro do prédio. Ali era a Sala São Paulo. Esse jardim é onde é o palco da Sala São Paulo, tudo aquilo era o jardim, imagina como era grande aquilo. E aquilo são quatro andares pra cima, meu pai trabalhava no segundo andar, como a sala dele era de fundos, a sala dele dava pra ver a José Paulino, a estação da Luz, uma sala grandes, salas enormes, era muita gente que trabalhava ali, o prédio era muito grande. E eu tenho essas recordações porque eu viajei muito de trem na minha vida, passeei muito, nossas férias eram de trem porque naquela época tinha, então a gente ia pro interior de São Paulo. Demorava 18 horas de trem. Sabe, era uma festa porque o trem te proporciona coisas que você não tem hoje, quer dizer, você pode andar no trem, você tem restaurante, biblioteca. Vocês sabiam disso? Que tinha um vagão no trem, o vagão restaurante. Então você tinha distração pra fazer durante a viagem. E às vezes parava numa estação, parava mais um tempo pra você comprar lanche e tudo o mais, em algumas cidades eram estações grandes, maiores, Bauru eu acho. Campinas também tinha uma estação grande de interligação. Enfim, então tinha lugares bem legais pra você passear. Rio-São Paulo também a gente fez muito de trem. Eu viajei de trem até a época que eu trabalhei na Xerox então em vez de ponte aérea você ia de trem pro Rio de Janeiro. Saía daqui às onze e meia, um Ouro Verde acho que era o nome do trem, Expresso Ouro Verde, e você chegava às oito horas da manhã lá na cidade do Rio de Janeiro. Com café tomado, dormido, banho tomado, legal, bacana, gostoso. E tomando café passando pela Serra da Mantiqueira de manhã, uma coisa muito legal. Uma pena que tenham destruído com essa coisa legal que são as ferrovias. E a Fepasa era um lugar muito grande, então o que fazia? O colégio era próximo, era também nos Campos Elíseos. Ali tinha muitas coisas importantes. O Liceu Coração de Jesus é um colégio que tem um quarteirão inteiro, tem três campos de futebol lá dentro. Três. Era areia, não tinha grama, eram todos campos de areia.
P/1 – Primeira escola que você estudou?
R – Foi. A primeira não, o primeiro ano foi uma escolinha assim de bairro, depois que eu fui pra lá.
P/2 – Foi nessa que você estudou 12 anos?
R – É. Não, 13, porque tinha o quinto ano, 12, tinha um ano a mais aí. E o colégio era muito grande, tinha oito mil alunos porque era um colégio que tinha os semi-internos que estudavam de manhã, à tarde e à noite, é o que chamam de semi-interno. Aí tinha o pessoal interno, que estudava o ano inteiro. Somando todo mundo eram oito mil alunos, só homens. Naquela época tinha muito isso, era colégio feminino e colégio masculino. E eram oito mil alunos, só homens. E era um colégio de padres. Mas um colégio muito bem organizado, tinha tudo, tinha cinema, tinha várias lanchonetes lá dentro, não era lanchonete, era barzinho naquela época, merenda e tal. Tinha duas igrejas, uma que é a igreja que todo mundo casa, que é a Igreja Sagrado Coração de Jesus lá fora, dá pra praça, hoje o ambiente lá é outro porque é uma cracolândia ali também, uma pena. E tinha uma capeta lá dentro tão grande como a igreja, pra você ter uma ideia de como o colégio era grande. Muitas salas de aula, anfiteatro, cinema, museu, tinha tudo, o colégio tinha tudo. E a minha irmã estudava num colégio no quarteirão debaixo, que era um colégio menorzinho, inglês, um colégio também bem legal, bem bacana, mas era menor. E a estação Sorocabana era próxima, dava umas três quadras do colégio. Tinha vários colégios naquela época naquela região, Santa Inês, o Liceu, o Stanford. Tinha o COC que era o colégio estadual perto, tinha várias escolas naquela região. O bairro do Campos Elíseos era um bairro bom porque o palácio do governo era nos Campos Elíseos, onde hoje é uma secretaria, acho que a Secretaria da Cultura, é uma secretaria, não sei qual que é. Então tinham coisas muito legais e eu ia pra estação Sorocabana a pé, então eu vinha de trem com o meu pai e depois ia pra escola. Depois ia pro meu pai, fazia uma hora e depois ia pra casa, meu pai ficava lá.
P/1 – Como era essa viagem?
R – Muito legal, muito divertida. Porque tinha muitos alunos que tomavam o mesmo trem e tinha várias escolas no caminho. Então, por exemplo, tinha um colégio só de meninas ali na Lapa, na Água Branca, Associação Cívica Feminina, acho que tem até hoje isso, do lado do Parque Água Branca. E as meninas também vinham no trem, então a gente se cruzava assim, marcava o horário do trem pra todo mundo se encontrar, era muito legal. Era divertido pra caramba, muito gostoso. Conheci pessoas de outros colégios que vinham no mesmo trem, é muito legal, muito bacana.
P/1 – Queria voltar então pra escola. Você se lembra de alguma história que você passou que te marcou?
R – Muitas (risos). História tem muita, 12 anos você imagina o que tem de história. Tem várias. Tem por exemplo um dia, uma noite que a gente ficou preso na sacristia porque atrás da igreja dava de fundos pro colégio onde tinha o campo de futebol. Só que o colégio tinha um corredor que dava a volta em todo o campo de futebol coberto, onde a gente andava de patins e tal. E a sacristia tinha uma saída e na saída da sacristia, que dava pro corredor tinha como se fosse uma catacumba, que não é esse o nome, mas onde tinha lá uma estátua de Dom Bosco. Era uma estátua, mas pra gente era um cadáver que estava ali (risos). Moleque, né? Imagina. E a nossa curiosidade era abrir aquele troço. E a gente um dia entrou ali pra poder abrir e ficamos presos ali. Porque a gente tinha futebol à noite. Eu estudei uma época de manhã e uma época à tarde, então futebol era seis horas, seis e meia. Tinha vários times, tinha vestiário, tinha tudo, cada um tinha sua camisa. Era um colégio muito bom, muito grande. Então num desses dias que a gente tinha intervalo de um jogo pro outro a gente foi pra lá pra fuçar, pra poder abrir e ficamos presos. E aí um dos sacristões lá acabou soltando a gente porque a gente ficou lá gritando e tal pra poder soltar pra gente ia embora porque senão a gente ia ficar preso lá. Essa foi uma história muito legal. Imagina o medo da gente ficando num lugar escuro (risos) com uma pessoa que a gente achava que estava ali, que era uma estátua numa vidrão assim, num caixão de cristal, e a gente preso à noite sem luz, porra era uma farra. Isso foi uma coisa. A outra coisa é que no vestiário, naquela época foi uma época de muitas revoluções, 32, enfim, foram muitas revoluções bravas. E o palácio do governo tinha um túnel de escape, um túnel para escapatória dos políticos lá da época do governador, segurança, que dava no colégio. E dava justamente no vestiário. E era uma porta de aço. Você imagina que todo mundo queria abrir aquela porta de aço. A gente encheu tanto, a gente fez tanto pra poder essa porta que um dia o cara que era o zelador abriu pra gente ver o que tinha, tinha uma outra porta (risos). Era porta de aço com uma outra porta, que depois tinha uma outra porta e assim por diante. Quer dizer, funcionava como um escape mesmo para uma revolução. Ela ia dali até o palácio do governo, era um corredor imenso, como se fosse uma... vocês conhecem o Teatro Municipal? Conhecem o subsolo do Teatro Municipal, já foram lá? A mesma coisa. O subsolo que foi descoberto há pouco tempo, o subsolo do Teatro Municipal eu tive a oportunidade de conhecer porque eu trabalho na Xerox e o Teatro Municipal era cliente da Xerox, então eu conheci muito bem internamente o Teatro Municipal. E quando descobriram essa parte interna, que são os muros de alicerce do teatro, são muitos corredores que têm ali, que eram necessários para os caras trabalharem ali. A própria catedral tem a mesma coisa, tem oito andares pra baixo da catedral, do piso dela até chegar lá embaixo. Então a mesma coisa acontecia no colégio. Essas coisas eram coisas da época. O colégio tinha muita marca de bala da época da Revolução de 32. Porque a grade era de ferro e as balas na época da revolução passavam pela grade e deixavam a marca, bala de fuzil. Então tinham várias marcas no colégio. Na parede não porque eles tiraram tudo, mas na grade não dava pra tirar, eles não iam trocar, deixaram lá. E esse corredor era uma coisa que a gente gostava muito de fuçar. Até que um dia a gente conseguiu entrar três portas pra dentro, só, foi o máximo que a gente conseguiu chegar. E tinha aquelas arandelas assim, de iluminação, que era o lugar que dava direto pro Palácio do Governo e dava pra sala do governador que ficava ali na época. Outra história era o museu, que também era um lugar macabro à noite. Imagina um museu com bichos, com cobras e tudo o que tinha lá à noite, sem luz. Também era um lugar que pra gente que tinha 12 pra 15 anos era mais ou menos isso, uma coisa doida, todo mundo queria entrar no museu à noite. E os retiros espirituais que tinham uma vez por ano, que a gente ficava três dias no colégio. E nesses três dias a gente fazia tudo. Três dias assim, de manhã até à noite, não tinha aula, você tinha só o retiro. Era uma semana e mais três dias interno no colégio. Então tinha filmes que eles passavam, filmes focados naquilo que eles queriam dar como mensagem. Imagina assistir a um filme chamado “Os quatro cavaleiros do apocalipse”. Era um filme, se vocês pegarem esse filme hoje é um filme muito legal porque ele falava sobre uma revolução. Na época a primeira guerra mundial alguns alemães se refugiaram na Argentina, já naquela época. Então estavam montando um complô pra fazer e continuar essa revolução lá na Europa. E o filme fala um pouquinho sobre essa catástrofe de mortes e tudo o mais e aí ficou muito caracterizado porque a guerra significativa exatamente isso, né? O julgamento das pessoas, isso na religião. E tinha os quatro cavaleiros, a morte, a doença, a praga e tal, tal, e vinham nuns cavalos como se fossem uns fantasmas assim, pa pa. A gente nem dormia, né, imagina um filme desse. Outro filme que agente assistiu foi Marcelino Pão e Vinho que é um filme espanhol bastante religioso. Filmes desse tipo. E fazia oração, tinha um teatro, tudo focado para o retiro espiritual, pra purificar o seu espírito, né? E também era uma coisa legal. E nesse colégio, como tinha muitos alunos, tinha alunos de todas as religiões, todas as etnias inclusive, que aqui em São Paulo já tinha muita gente que hoje você vê fora do Estado de São Paulo mas na época tinha muito. Judeu, muçulmano de todo tipo, tinha libanês, sírio, iraniano, você tinha todo tipo, os filhos que estudavam nessa escola. E eles eram dispensados porque eles tinham outras religiões. Então, independente disso estudavam no colégio. E todos eles se davam muito bem. Quer dizer, isso já acontecia nessa época, eu já convivia com isso, com essas diferenças de etnias e de religião, que era uma coisa muito interessante. Meu pai tinha muitos amigos assim e os amigos gostavam muito do meu pai, ele era muito querido por esses amigos que eram judeus, turcos, libaneses e a gente se visitava muito, então era uma convivência muito legal, muito saudável, muito bacana. Muito rica pra mim. Então, você vê, tem muita história. Muitas festas, quando tinha festa no colégio, festas religiosas, o colégio chamava todos os colégios femininos. Cara, é doideira isso, loucura, né? Então era muito namorico, os meninos sumiam no colégio, ninguém achava ninguém, era muito engraçado. Mas era muito legal o colégio ficava cheio, tinha muita festa, tinha muita comida. Era muito legal. O colégio era muito movimentado.
P/1 – Como é que vocês faziam pra namorar na época?
R – Eram namoricos na época. Quer dizer, escapava por um dos corredores das salas de aula que estavam todas fechadas pra dar uns beijinhos, dar uns amassos. Imagina, não tinha, era uma coisas muito inocente. Um beijo era uma coisa assim: “Pô, eu beijei a menina!”. Cara, isso era uma história, ia ficar pro resto do colégio todo mundo saber. Mas era muito legal porque a gente sabia que todo mundo ia pro colégio, então, imagina, nós éramos os reis da cocada branca, né? E o colégio tinha uma coisa muito legal, ele concorria nos concursos de fanfarra. Eu vou ver se eu acho uma foto depois pra dar pra vocês. O uniforme do colégio era muito legal. Conforme você tinha as notas você ia passando pra categorias diferentes. Então tinha o pessoal da fanfarra. O pessoal da fanfarra tinha a mesma veste, o mesmo uniforme de uma banda militar da marina. Já imaginou a molecada vestida de branco, de quepe, os macarrões aqui e tudo o mais, espadinha e tal?. Então chamava muito a atenção, sapato branco, meia branca, calça de linho, túnica de linho, camisa, gravata. Imagina, era uma coisa doida. Quando eu saía pra ir pros desfiles a minha mãe tirava foto e tal porque era uma coisa especial. E eu cheguei até a oficial, que era uma coisa legal por causa das notas e tal. Eu não era um cara muito aplicado mas eu acho que eu era bem relacionado (risos) e acabei chegando até os oficiais, ficava num dos batalhões, na frente dos batalhões com uma espadinha e tal. Tinha uns caras que tinham outros tipos de equipamento, tinha uma série de hierarquias. E o resto do pessoal que ia com uniforme de ginástica, que era tênis, calça de linho ou de malha, uma blusa do colégio. O símbolo do colégio era um L, um J ao contrário assim e um C no meio. Era um triângulo, L, J e um C no meio, então era um símbolo muito conhecido. E era um colégio muito bom no que ele fazia, os professores de fanfarra normalmente eram militares, coroneis e tudo o mais, então eram caras que conheciam muito música. E a nossa banda era muito legal porque era grande, tinha todos os instrumentos e sempre ganhava os grandes concursos, tinha muitos colégios bons naquela época. O concurso de fanfarra era como se fosse um campeonato de futebol, se fazia no Anhangabaú. Eram vários colégios, era dois dias, sábado e domingo. Tinha os concursos e tal, era muito legal, era muito prestigiado, você participar de uma banda ou de um desfile, tal, era muito legal. A gente de vez em quando era pego até pra tocar instrumentos de sopro em bandas de colégio feminino, porque o colégio feminino não tinha ainda meninas que tocavam piston, clarinete e tudo o mais, então eles pegavam alguns caras do colégio de padre pra tocar em colégios de freira pra completar a banda de uma fanfarra que tinha que ter todos os instrumentos. Era um tempo muito legal, cara, muito bacana. Eu fui privilegiado porque meu pai, por isso que eu tenho muito orgulho dele, ele me deu uma coisa que até hoje é a minha herança, fruto do que ele fez. Então o colégio foi muito importante por isso também.
P/1 – E você falou que você jogava muito futebol, né?
R – Eu era muito ruim, cara (risos). Era mais farra, eu ia mais porque era gostoso estar com todo mundo, mas eu não era um dos caras mais assediados não, era mais pra brincar porque fazia parte da cultura do colégio, você tinha que ter esporte. Então tinha vôlei, tinha basquete, o colégio tinha três quadras de vôlei, duas de basquete, os campos de futebol, tinha ginástica. A educação física era obrigatória. Então atividade no colégio era toda no colégio. Você tinha dois idiomas, três, você tinha que falar francês ou inglês e tinha que fazer o latim que era obrigatório. Você já falou latim? Pois é, a gente tinha aula de latim também. Tinha essas peculiaridades que eram muito legais, muito bacanas.
P/1 – Mas você gostava de futebol, de outro...
R – Gostava. Gostava de esportes. Brincar, mas não levava tão a sério como meus amigos, o pessoal brigava pra ganhar. Eu jogava pra me divertir, entendeu? Não era essa coisa, mas não era tão bom como eles não. Mas o colégio também tinha um time de futebol que participava do campeonato dos colégios, então às vezes o campeonato era lá porque tinha dois campos grandes e tal, fazia dois jogos ao mesmo tempo. Mas era mais pra participar mesmo, eu gostava muito de gente.
P/1 – Você torcia pra algum time, torce?
R – Torço pro Corinthians. Mas não sou fanático. Gosto de futebol de boa qualidade. Tive oportunidade de ver o time campeão do mundo, meu filho também, que também é corintiano. E aí foi uma coisa legal porque a minha família a maioria era são paulinos, corintianos, muito pouco palmeirense, mas todo mundo torcia para todos os times, então era muito legal porque não tinha essa coisa que tem hoje, né? A gente ia assistir ao jogo de times adversários misturado no Pacaembu, sem uniforme, só com a camisa que tinha na época. E era muito legal, você brincava, zoneava com todo mundo mas saía todo mundo inteiro, entendeu? Não tinha briga, não tinha essas coisas, era muito gostoso. Mas gosto de esporte.
P/1 – Tinha algum ídolo na época, no esporte?
R – Não. Um ídolo assim não. A minha família conheceu um dos caras importantes que era um corredor, Ademar Ferreira da Silva, que era um corredor do São Paulo Futebol Clube, que foi um brasileiro muito importante. Tinha alguns jogadores de futebol que eram conhecidos da família, o Benê que era jogador do São Paulo. Que eu me lembro os mais próximos eram esses, esportistas.
P/1 – Vocês acompanharam as copas do mundo?
R – Sim, naquela época era mais difícil, tinha por televisão e tudo o mais, mas acompanhei sim. 70 eu curti muito porque já tinha noção. A de 66 não. 70 foi marcante, 66 nem tanto. Depois a de 74, a próxima que também não foi muito expressiva. Mas assim, eu acompanhei depois da 70, foi uma coisa que marcou bastante, então deu para acompanhar as outras. Aí vieram as outras que foram legais também, mas a de 70 foi a mais marcante.
P/1 – Nessa escola tinha algum professor que você gostava muito, uma matéria que você preferia?
R – Professor que eu gostava muito. É melhor você fazer a pergunta contrária (risos). Tem algum que você não gostava? Tinha (risos). Professor Augustinho era um cara engraçado. Professor de Português, ele era um cara interessante. Um cara já bem velhinho na época, usava óculos, baixinho, parecia um cearense porque os cearenses são mais baixinhos, né? Sem pescoço e tal. Professor de Português e ele era um cara engraçado porque na época, como tinha prova ele dava a prova e ia pra sala, a sala normalmente tinha uma sala que era mais alta do que as cadeiras dos alunos. A sala tinha uma base de 30 alunos, 32 alunos no máximo. E ele ficava numa mesa mais em cima, uma lousona enorme dos dois lados, como as que são hoje ainda, e a sala. E ele levava um jornal, ele abria o jornal assim e a gente ficava fazendo prova. Só que o jornal dele era todo furadinho assim. Ele não pegava ninguém colando, mas depois vinham as notas de quem tinha colado e de quem não tinha colado. E o pessoal ficava muito bravo, né? Até a gente descobrir que o jornal era furado demorou um pouquinho. O professor Augustinho era um professor de Matemática. Era um cara muito chato, aqueles caras que têm o guarda pó engomado que nem médico, sabe? De gravata, cabelo com gumex assim. Não sorri, um cara muito chato. Professor de Matemática. Um outro professor, a maioria era padre, padre João. Eu fiz também piano no conservatório do colégio, então tinha o padre João que era um padre que dava aula de Música no conservatório, então tinha aula no conservatório depois. E ele tinha uma mão diferente, todos os dedos dele eram dedos muito grossos. E ele tocava piano como ninguém. Eram dois dedos assim. Normal, só que a mão dele era maior, é um tipo de deficiência que existe mas não lembro o nome dessa deficiência, mas ele era assim, grandão, mão grandona. Careca. Mas um cara muito bacana, muito gente boa. Tinha o Chediak que era um professor... o Chediak era de português, o Augustinho era de Matemática. Padre João de Música. Padre Raul também dava Aritmética, às vezes trocavam. Era um padre, era um cara também meio exigente. Enfim, esses que eu me lembro e que eram mais marcantes, o resto eram normais. Às vezes eles davam duas matérias.
P/1 – E matérias, já tinha alguma que você gostava mais?
R – Você sabe que eu não tinha matéria que eu gostava na escola.
P/1 – Sério?
R – Sabe por quê? Porque eu acho que não tive bons professores nessa época, nem no ginásio. Eu fui começar a gostar das matérias que me chamavam mais a atenção do científico pra frente. Aliás, no cursinho e científico pra frente. Porque aí eu tive o privilégio de ter bons professores, os caras que me fizeram gostar da matéria, que eu queria ter tido isso no ginásio, não tive essa oportunidade. Mas os meus anos de científico e de cursinho foram ótimos, eu me lembro de todos os professores. São muito legais porque tem um professor de Matemática, Giuseppe, descendente de italiano, o cara transforma a Matemática em história, eu consegui entender uma fração, eu consegui entender porque o cara sabia explicar, ele tinha conhecimento e fazia como fazer para você entender aquilo, porque tinha aquela composição de contas pra você chegar num número comum. Ele contava uma história praquilo acontecer. Foi um cara que me fez gostar da Matemática. O professor de Química, Sales. Biologia, em Biologia que era o meu tio, que era o Albino, que era o Caetano. Professor de Literatura que são dois professores, uma mulher e um rapaz que se revezavam, era Ruth o nome dela e ele, um nome bem diferente, um cara alto, do cabelo comprido, era substituto, mas também eram caras legais. O professor de inglês, Arnold, um cara muito bacana também. Todo mundo era bom naquilo que fazia, então os caras eram super animados porque você estudava muito, pra você estudar muito você tem que ter caras que são muito bons pra poder dar a matéria. E os caras brincavam com a matéria, é uma coisa que não tinha, eles conseguiam, por exemplo, numa aula de Biologia, o cara entrava na sala com o espermatozoide amarrado no avental, de isopor, com rabinho assim e ele ficava tchuc tchuc tchuc e ele botava o espermatozoide no púlpito assim porque a sala era grande e dava aula com aquilo. Ele encantava, você nunca mais vai esquecer aquilo que ele está ensinando porque ele sabia como fazer você captar a matéria. Então esses caras apareceram depois, mas no ginásio não tive a oportunidade.
P/1 – Mas onde você estudou depois?
R – Eu fiz cursinho no Objetivo. Naquela época os professores do Objetivo eram muito bons. Ainda são, só que naquela época eram muito bons. Na época do Di Genio, o Di Genio era um cara mais novo, que a gente tinha contato com ele. Hoje é um cara que você não consegue nem ver, né? Mas na época era um cara que a gente tinha um contato muito próximo. O Objetivo era na Avenida Paulista e a gente estudava o dia todo. Quer dizer, eu trabalhava e estudava das sete à meia-noite todo dia, sábado e domingo o dia inteiro e foram 12 meses quase, dez meses, pra fazer cursinho e depois fazer faculdade. Então foi muito legal.
P/1 – Só voltando antes desse período, queria perguntar pra você como era São Paulo em geral nessa época, nos anos 60.
R – Muito legal. Por exemplo, a Avenida Paulista era focada no meio da Avenida Paulista, o resto era calçada, então você tinha seis metros de calçada de cada lado. E o tráfico passava só no meio, pra dividir o trânsito de um lugar pro outro era uma faixa. A Avenida Paulista sempre foi muito parecida, ela tinha muitas bancas de jornais e próximo do Objetivo você conhecia todo mundo porque o cara da banca era o cara que você ia comprar alguma coisa que você precisava, matéria, tinha livros, tinha tudo, mas era um cara conhecido, então todo mundo conhecia todo mundo. Dentro do Objetivo, na escadaria onde tem os cinemas hoje tinha uma grande lanchonete e o cara fazia uma panqueca maravilhosa. Não é panqueca.
P/1 – Crepe?
R – Crepe e panqueca. O crepe tinha uma maquininha, aquelas maquininhas de crepe assim, então a gente chegava com fome porque estava chegando do trabalho pra ir pra aula. Ali a gente encontrava, via os professores, professor estava entrando, enfim, era uma vida extremamente legal, gostosa porque tinha uma convivência muito boa. E tudo fazia parte da sua cultura. O cinema, o teatro que tinha ali na região, a própria Gazeta, onde tinha a Gazeta Esportiva, tudo ali fazia parte do seu aprendizado, então era muito integrado, era muito forte, intenso. Mas era tranquilo, você ia pra casa, tomava o ônibus à noite porque ninguém tinha carro como tem hoje e você chegava em casa quase uma hora da manhã. Mas nunca teve problema nenhum, então era bem diferente, São Paulo era bem legal pra se viver, era muito gostoso, bacana.
P/1 – E você se mudou aos 15 anos, é isso?
R – Mudei para um bairro chamado Parque Continental, que foi o segundo condomínio em São Paulo. O primeiro foi aqui na Lapa, que era City da Lapa. A City da Lapa foi construída por uma companhia chamada São Paulo,, que é uma empresa inglesa, acho que era esse o nome, que veio construir as ferrovias no Brasil. E eles procuraram trazer um pouco da cultura inglesa pra cá e uma das coisas que eles trouxeram foi essa forma de viver, de morar. E se vocês forem na City da Lapa hoje vocês vão perceber isso, que as ruas são circulares, as casas têm muito terreno, muito jardim e atrás tem uma rua de serviços, que é onde passava o caminhão de lixo, onde chegava o leiteiro e tal, era a concepção inglesa daquela época. Hoje já descaracterizou porque o bairro cresceu e tudo o mais. Então, o bairro que eu morei foi o segundo condomínio, essa versão de condomínio com a mesma característica, quer dizer, tinha uma rua que não tinha saída, entre a rua de baixo e a rua de cima tinha um jardim que atravessava todo o parque, que era um jardim pra caminhar mesmo e era uma área que só entrava quem morava ou quem ia fazer alguma coisa. Então era uma concepção de vida diferente, era mais tranquilo. E as outras duas transversais, laterais, eram ruas de circulação mesmo. Então a gente mudou pra lá, a gente vendeu a casa e mudou para uma casa num bairro bem gostoso. Hoje me parece que vivem lá um mil e 800 famílias. Na época tinha acho que 700 famílias, então era bem legal. Era independente porque tinha o seu próprio centro comercial, no centro comercial tinha padaria, mercado, barbearia, sorveteria e tal, já é a concepção do condomínio, mas era uma concepção de condomínio que não era fechado, era aberto. Mas era distante, você morava ali e não tinha muita coisa ali na região. O ponto final do ônibus era ali, quer dizer, era uma referência.
P/1 – E você arranjou emprego nessa época?
R – Eu trabalhei já desde os meus 15 anos. Primeiro eu trabalhei num escritório de um amigo do meu pai, de contabilidade, em Santana. Imagina, olha que distância. Mas enfim, era mais pra aprender. Estudando. Depois eu trabalhei na Folha de São Paulo. Eu fui office-boy do Tavares de Miranda que é um colunista da Folha de São Paulo durante um tempo. Da Folha eu saí, pra onde eu fui? Da Folha eu fui trabalhar, caramba, pra onde eu fui na época? Na Folha eu fiquei acho que três anos, desde os meus 15 até os 17, quase 18 anos.
P/1 – Foi no período do cursinho.
R – Foi. Não, um pouquinho depois, o cursinho eu já tinha 17, aí eu já trabalhava. Ah, Minas Investimentos. Na época tinha muita empresa de corretora de valores e investimento, então eu trabalhava na Minas Investimento que era no centro da cidadea, na rua Libero Badaró. Trabalhei lá também. De lá eu fui pra Urbanizadora Continental que já estava terminando os estudos, faculdade, último ano, eu fui trabalhar numa construtora, então estava no ramo, que construiu o lugar que eu morava, que construiu o Shopping Continental e construiu vários prédios em São Paulo, então pra mim foi muito rico porque eu tive a oportunidade de acompanhar várias obras, né? Fiquei três anos lá. Depois de lá eu fui pra Bamerindus Seguradora, fiquei três meses, não tinha estômago praquela empresinha que é banco, eu não gosto, odeio banco, governo. Eu falei: “Nunca vou ser bancário e nem trabalhar pro Governo”. Aí eu fiquei lá três meses e saí de lá e fui pra Xerox porque aí foi um convite de umas amigas minhas, tanto é que quando eu entrei na Xerox fui apresentado por seis mulheres e os caras ficaram muito bravo, né? “Quero minhas amigas”. Eu almoçava com elas todo dia, mas trabalhava do lado um do outro lá na Paulista. Fui pra Xerox e fiquei quatro anos e depois fui pra Achieve Global que foi uma empresa americana como a Xerox, que é do mesmo grupo, aí foram 23 anos.
P/1 – Vou voltar então um pouco. Antes de perguntar sobre a sua faculdade, eu estava lembrando que nesse período que você era jovem aconteceu o Golpe de 64, não foi?
R – Então, aí tem muitas histórias também. No colégio a gente ia de trem. Nessa época como tinha greve muito forte, as greves eram muito fortes e os militares estavam na rua, tinha o toque de recolher. Então, você tinha que ir de alguma forma pro colégio. Eu tinha muitos amigos que os pais eram militares do Exército. Eu ia até Quitaúna, onde era o quartel e de lá eu ia com eles de ônibus, do exército. Ou de jipe do exército, porque senão não tinha como ir. E eu fiquei conhecendo também esse outro lado, do militar. Pro meu pai foi bom, filho dele, estudava no colégio particular e ia com os filhos dos coronéis, parara, parara, então livrava um pouquinho dessa vigia porque era muito vigiado, todo mundo era muito vigiado. Dava um alívio. Mas meu pai tinha muitos amigos que passaram períodos bravos, sumiram com os caras, tal, os caras desapareceram. Alguns voltaram e outros não nessa época. E uma coisa que acontecia, que era muito interessante é que os caras que levavam a gente e traziam eram soldados, eram os caras que estavam a serviço do coronel pra levar os filhos, mas eram uns caras muito legais, onde eles passavam, eles passavam nas ruas que tinham mais movimento, então pegava a Augusta inteira pra chegar no colégio, pra eles era uma diversão passar na Augusta porque era uma rua de movimento. E os jipes eram antigos, aqueles jipões enormes. Não os pequenos, os grandões. E pra gente, imagina, era muito engraçado isso, curtia tudo isso que acontecia. E quando chegava no colégio, em frente ao colégio tinha um quartel da polícia civil que era uma polícia muito legal porque os caras se vestiam muito bem, é como a polícia americana hoje, de quepe e camisa azul clara, calça azul marinho, uns caras bem vestidos, falavam bem, tinham cultura, né? Tinha bandido lá dentro? Tinha, como qualquer polícia tem, mas eram caras legais. A gente até tinha campeonato, que o colégio era aqui e o quartel da polícia era aqui. Então tinha campeonato de pingue pongue, a gente fazia campeonato de pingue pongue com eles, era muito legal. Então tinha essa convivência que era uma coisa legal. Porque era uma época difícil. Mas tinha coisas divertidas que a gente fazia. Por exemplo, como era greve os militares estavam fazendo um monte de coisa na cidade. Os semáforos eram manuais, sempre tinha um guarda manobrando o semáforo. Então tinha uma caixinha assim com uma manopla que virava verde, vermelho e amarelo. E às vezes era presa com cadeado, outras vezes não, outras vezes era presa com grampo (risos), aí o grampo, um grampo qualquer, a gente quebrava o grampo e a gente amarrava um barbantinho bem fininho, sentava do lado, encostado na calçada do colégio, um com um barbante pra cá, o outro com o barbante pra lá, então a gente ficava puxando, depois de ter tirado. Cara, uma bagunça! O trânsito não era tão forte assim, mas imagine o farol virando toda hora e os caras no meio do cruzamento como você vê hoje. E depois saía pro colégio, corria pro colégio. E os padres recebiam um monte de reclamação, então era muito engraçado. Mas tinha um outro lado, que era o lado da convivência, a hora de sair do colégio, tinha os ônibus que eram do colégio, como qualquer grande escola tem hoje, mas aí o nosso era um de militar (risos), então era tudo diferente. Por quê? Não tinha como ir pra casa, tinha que ir com eles. Mas eu convivia com eles, ia pra casa deles estudar, brincar, ia pro quartel, ia jogar bola no quartel, pra mim foi uma época de transição. Mas essa época do meu pai eu senti que a parte dele era muito ruim, cara, porque os caras invadiam as casas das pessoas de madrugada pra pegar as pessoas, levar e sumia com as pessoas. Eu vi muitas cenas dessas, presenciei algumas, outras soube. Mas era cruel isso, era uma coisa que você tinha medo dos caras porque você não sabia quem era. E eles andavam normalmente em caminhonetes, peruas assim, de cor verde ou escura, como hoje você tem também mas carros disfarçados e os caras tudo de terno. Mas você não sabia quem era quem, você tinha que tomar muito cuidado pra conversar porque você não sabia com quem você estava falando. Então era uma situação muito complicada. Mas isso foi importante porque a gente deu valor pra liberdade que veio depois. A pena é que os caras que assumiram esses governos depois, sucessórios, não souberam valorizar tanto aquilo que tanto a gente lutou pra poder ter, que foi a democracia. Mas alguns deles foram muito importantes nessa briga, nessa valorização, outros nem tanto, eles jogavam dos dois lados, como todo mundo, sobrevivência. Mas assim, a época que eu passei, pra mim foi uma época de aprendizado, foi uma época de entender melhor como lidar com isso. Tudo isso junto, não sei se vocês percebem que foi importante pra formação, pra cultura. Por quê? Porque te deu uma base de formação cultural e intelectual muito legal, então você não joga bem com as intempéries, com as curvas do tempo. Quer dizer, quando tem uma crise como a gente está tendo hoje, você é capaz de arrumar oportunidade pra poder fazer alguma coisa, você não fica depressivo, você não fica deprimido como hoje você vê muitas pessoas assim. Por quê? Porque você tem recurso da sua infância, da sua juventude que você utilizou. Na minha juventude foi muito legal, eu fui muito à baile de formatura, tinha muita festa, era muito legal, muito alegre, muito gostosa, você se divertia sem risco. Então foi uma época de muita mudança, época de tudo o que aconteceu, tanto como começou o rock n’roll e tudo o mais até o psicodélico e depois com o movimento, aqui no Brasil, da música popular, da MPB, tudo isso fez parte de uma cultura, então é esse pessoal todo que viveu que nessa época teve o privilégio de ter essa riqueza de mudança, de briga, de intempéries que fortaleceu, provavelmente, muita gente, intelectualmente, que foi muito legal, tinha muita gente boa. Você convivia com Chico Buarque na época de faculdade, aqui nessa avenida aqui da _1:17:18_ tinha muitos barzinhos, então você convivia com os caras, com Toquinho, Chico Buarque, esse pessoal todo assim, Wilson Simonal. Todo mundo tocando à noite porque eram caras que estavam ainda fazendo a vida e naquela época não era tão fácil você ser um astro, então os caras tocavam na noite, na madrugada. Então nessa época de adolescência você já tinha esse pessoal todo circulando de madrugada, era muito legal, foi uma época muito rica.
P/1 – Como é que você usufruía dessa cultura? Você saía muito, ia ao cinema?
R – Bastante. Mais em barzinho porque a gente se reunia em barzinhos nessa época. E eram barzinhos assim, por exemplo, café, Café Paris, acho que é um lugar que existe até hoje, não sei, não fui mais, mas é um café intelectual, um café como tinha na Europa. É um lugar onde você convivia com as pessoas importantes culturalmente. Então dentro do café tinha uma livraria e lá se falava de política, se falava de coisas importantes, se discutia a respeito da discussão do país de uma forma legal. Como se faz hoje mas naquela época era mais difícil porque você não podia fazer isso, você não podia falar isso. Pra você ter uma ideia, tinha um vídeo que circulava na faculdade que é da construção de Brasília. Esse vídeo era proibido! Você não podia ver esse vídeo. Um vídeo do Juscelino Kubitschek falando sobre a construção de Brasília. Você tinha que ver escondido e era o maior medo, se você se reunia na casa de alguém, qualquer movimento diferente chegava um carro, alguém batia na porta e você já ficava assustado pensando que eram os caras que estavam chegando. Um vídeo completamente normal, inocente. Falava da semelhança do intelecto e da personaliade do Juscelino em relação ao Ramsés, da importância dos dois porque os dois fizeram a mesma coisa, quer dizer, o Ramsés pegou a capital do Egito e levou pro deserto pra fazer o Cairo, que era Alexandria. Aí o Juscelino saiu do Rio de Janeiro e foi pra Brasília, no meio do nada pra fazer Brasília, então tinha algumas histórias semelhantes e era proibido você saber dessas coisas. Imagina, umas coisas assim. As músicas, os caras davam um jeito de dar mensagem nas letras das músicas que a gente entendia mas os miliatares não entendiam, os caras que faziam a censura não entendiam e passava batido. Mas a gente sabia qual era a mensagem. Isso tudo foi muito legal, foi uma época muito rica por causa disso, você teve muita história, você teve muitas oportunidades pra poder brincar e saber como lidar com essas coisas mais duras, mais difíceis. E isso deu a base pra você viver na situação de hoje, pra ser um cara legal, um cara digno, entender um pouquinho como administrar essa situação. E viver bem, que é uma coisa importante.
P/1 – E você entrou na faculdade quando e onde foi?
R – Então, eu fiz vestibular pra Psicologia, Biologia e Arquitetura. Porque eu tinha feito teste vocacional e tinha dado Arquitetura e Psicologia, eu fiz, né? E Biologia eu entrei lá na Federal – porque a gente ia fazer vestibular onde tivesse – entrei na Federal em Porto Alegre. E aqui em São Paulo peguei uma opção em Psicologia peguei uma opção de Biologia que eu não queria fazer, que tinha essa opção na época. E aí fiz um vestibular pra USP, pra Arquitetura, foi legal mas eu acabei não terminando, e fiz na Escola Panamericana, aí fiquei lá quatro anos. Foi uma escola muito legal pra mim porque fiz um monte de coisas legais assim que tem a ver com Arquitetura, Urbanismo e Decoração, aí foi uma formação completa, foi bem bacana, foi bem gostoso. Pra mim foi ótimo.
P/1 – E você fez amigos lá?
R – Muitos, até hoje tenho amigos. Lá, fora de lá, em outras faculdades, Mackenzie. Na época tinha essa... Ah, uma coisa que aconteceu muito nessa época, gincana. Tinha muita gincana de universidade. E na época a emissora mais importante era a emissora Record. E a Record tinha gincana que ela fazia, que era uma gincana muito forte, que entravam universidades e escuderias. Escuderias era o que tinha na época, eram grupos de bairros que faziam a sua escuderia com o nome, a nossa era, a gente se aliou à Pepe Legal, a nossa era Topa Tudo. A Pepe Legal era da Mooca, a nossa era daqui da região oeste e a gente entrava numa gincana pra poder ganhar e o prêmio ia todo para uma organização que tinha uma necessidade qualquer, Apae, seja lá quem for na época, né? Mas a gente tinha muitas tarefas e isso era transmitido direto na televisão. Então, imagina: “Próxima missão é achar o comediante Ronald Golias”. Ninguém sabia onde estava o homem, escondiam o cara, ninguém sabia onde estava. A gente tinha que ter espião, tinha que ter gente que estava focada nisso pra achar o cara. A gente achou o cara. O Ronald Golias tem um sítio, a gente ficou sabendo depois. Eu encontrei com ele depois, conheci ele pessoalmente, ele tinha um sítio em Serra Negra e a gente achou o cara lá. Escondemos o cara e ficamos escondendo o cara até a hora de entregar o cara na gincana, porque tinha que entregar cara lá na emissora ao vivo. Era uma briga porque se o cara achasse eles queriam pegar de você, dar um jeito, fazia você não chegar e tal. Então essas coisas também eram legais nessa época porque eram jogos que você tinha que cumprir. E a escuderia tinha uniforme, tinha blusão de couro com o emblema da escuderia. A Topa Tudo tinha um, a Pepe Legal tinha outro e a gente se juntava pra ter maiores elementos com gente inteligente; a maioria tudo universitário, gente que tinha muita comunicação na época porque precisava disso, não tinha telefone celular, você tinha que ter informação, que era o mais legal. Isso foi muito bacana também, foi uma época muito boa. Isso também ajudou muito.
P/1 – E como eram as matérias, como era a Arquitetura na época? Design.
R – Cara, era muito legal. Tinha um pouquinho de Matemática porque tem, o pessoal acha que não tem, mas tem. Cálculo. Tinha Astronomia. Aí tinha as matérias normais de Arquitetura: construção, projetos, design, coisas pra criatividade, projeto que você tinha que criar alguma solução. Memorial descritivo que você tem que fazer como é que você descreve o que está sendo construído, o que vai ser e pra quem. Como é que nasceu o projeto, que tipo de arborização você vai usar, de vegetação, jardinagem, tudo o que você vai utilizar pra fazer um projeto, quantas pessoas vão morar, que tipo de necessidade tem essas pessoas. Como é a família, se tem só a família, se tem empregada, tem motorista, tem mordomo. Enfim, tem que caracterizar tudo isso dentro de um projeto. Eu fiz um projeto em Alphaville que foi um projeto que ganhou um prêmio legal até, foi bacana, eu acho que eu tenho até hoje guardado em algum lugar, acho que está na casa do meu filho. Uma casa pra sete pessoas. Mas você tem que descrever tudo o que tem na casa e por que a casa tem que ter aquela contação, daquela forma. E eu fiz uma casa que não tinha andares, ela tinha pavimentos desencontrados, que é pra facilitar a vida das pessoas. Então, quer dizer, tinha quatro pessoas morando, uma empregada doméstica, uma governante, um motorista, um cara de segurança que cuidava da casa toda, fazia manutenção e tudo o mais. Então eram as pessoas que estavam morando nessa casa. Os quartos e tudo o mais, a casa tinha telhado duas águas e uma entrada onde você tinha uma porta grande e depois da garagem você entrava e já saía numa sala enorme, dois degraus rebaixados. Depois saía para uma outra sala com dois andares pra cima e uma escada que levava até uma sala de estar, de jogos e tudo o mais e depois tinha uma outra sala que ia pra sala de tv. Aí tinha uma outra sala em cima, que era uma sala de jantar que ligava com a cozinha, que ligava com um monte de coisa. Enfim, coisas desse tipo bem legais e um corredor que dá pra ir pra todos os quartos e que via todo mundo lá embaixo, mas que as pessoas não viam as pessoas que estavam no corredor. Essas coisas eram legais pra você brincar, isso foi bacana na minha época por causa do que eu estudei. E bons professores. O Ruy Ohtake que é meu amigo hoje, que é irmão da Tomie que faleceu agora há pouco tempo, foi um mestre muito bacana, um cara muito bacana. O Rubens Anauate que também é um professor que encontrei profissionalmente, de repente estou lá num cliente meu, já como consultor e ele sai, ele é um cara que tinha um bigode assim, daqueles tipo Salvador Dali, um cara extremamente elegante, sai, olha e fala assim: “Marco Aurélio!”, eu olho: “Professor, o que está fazendo aqui?” “Estou numa empresa multinacional chamada Boston Scientific”. Ele estava fazendo todo o design do escritório novo deles e estava saindo lá com tudo pronto e eu estava no prédio antigo ainda que era um prédio novo, do lado do Shopping D&D. E aí ele falou: “Olha, esse foi o meu melhor aluno”. Cara, ouvir isso de um professor depois de anos, que eu não estou mais no ramo. Pô, pra mim foi ótimo porque o cara era meu cliente, né? Então tudo isso faz parte de uma vida que você teve, isso é muito legal. Ele era meu amigo mesmo, meu amigão, assim como o Ruy Ohtake também é. E outros professores que têm por aí que são muito legais. Então uma época muito rica.
P/2 – Como é que foi essa sua formação de consultor?
R – Eu entrei pra Xerox na área de Vendas, que foi pra mim uma decepção, que era formado, falei: “Cara, não tem nada a ver comigo isso”. Mas tanto as minhas amigas encheram o saco: “Marco, a empresa está precisando de pessoas assim como você”, eu falei: “Mas eu vou fazer o quê lá, não tem área de construção na Xerox” “Não, mas a empresa quer pessoas assim”. Eu falei: “Mas o que eu vou fazer lá?” “Vai lá fazer o teste vocacional”, eu fui e passei. Mas assim, foi cansativo porque era uma vaga pra cem pessoas. Imagina como era a briga. E eu estava entrando num mercado que não era meu, não conhecia nada. E eu acho que por eu não conhecer nada e ser uma pessoa com uma formação bem eclética que foi legal e eles me contrataram por causa disso. E foi assim quase um mês de teste, foi toda semana. Cansativo, um saco, eu estava com saco cheio já: “Eu não quero mais trabalhar nesse negócio”. Eu cheguei em casa e minha mãe falou: “Olha, ligaram e disseram pra você voltar lá” “Pô, mas eu estava lá, por que os caras não falaram ‘não vá embora, fique aí’?”. Eu já tinha sido contratado há uma semana! Olha que coisa interessante. Eu entrei no dia seis de junho na Xerox e isso era dia dez ou 11.
P/1 – Em que ano que foi isso?
R – 85. Não, 80. 85 foi quando eu saí da Xerox e fui pra empresa nova chamada Learning International, que veio pro Brasil. Em 80. E eu saí na época da, onde eu estava? Eu trabalhei na Basf também como estagiário um tempo, depois eu fui pro DSV, trabalhei no DSV quando ele estava começando, na época dos Caringella. De lá eu fui pra Xerox. E nessa época era muito legal porque a área de Arquitetura era muito complicada pra se trabalhar, como é hoje ainda, né? Não tinha emprego, não tinha trabalho, era muito difícil. Essa área pra mim foi uma área nova e quando eu entrei e fiquei quatro anos na Xerox do Brasil que era uma área de equipamento de cópia e duplicação, pra mim também foi um aprendizado porque é uma área que eu não conhecia nada, então foi legal. E eu já entrei com uma cabeça diferente, então pra mim foi bom porque eu comecei a inovar coisas que eles faziam e eles não aprovavam, eu achava ótimo porque eu adoro isso, né, quando tem que inovar e eu tenho que brigar para a inovação. Isso me mexe, me motiva. E aí de repente vejo lá uma notícia na Veja do presidente da Xerox, o Gunnar Vikberg, ele falando que o cliente é o nosso maior patrimônio. Eu falei: “Porra, eu estava certo! Tá vendo, viu? Eu já fazia isso pro seu cliente e você não sabia disso. O presidente falou exatamente o que eu faço, então você não tem que me encher o saco, eu estou no caminho certo”. Era umas coisas assim, eu era muito reativo a essas coisas, por causa da época que eu vivi, né? E os caras eram muito certinhos, eram muito encaixotados. Pra mim foi bom. No primeiro ano que eu entrei, nem tinha um ano ainda, ganhei um prêmio, fui viajar pro Nordeste. Eu falei: “Esses caras são loucos, eu não tenho férias e os caras me dão uma semana e meia com tudo pago, avião, hotel, voucher, tudo. Que empresa é essa?”. Então pra mim foi uma surpresa porque aconteceram muitas coisas novas. Depois ganhei outro prêmio em outro ano e assim foi indo. Mas aí apareceu essa empresa que tinha um negócio completamente diferente e um amigo meu, Oscar, me chamou e falou: “Marco, você quer trabalhar num negócio diferente?”. Eu falei: “Que negócio?” “Está vindo pro Brasil uma empresa do grupo, chama Learning International e é muito bom o negócio” “Mas o que é?”. Ele falou: “Não tenho a menor ideia, mas os caras estão investindo um milhão de dólares aqui”. Eu falei: “Cara, é muito dinheiro!”, ele falou: “Então, vem. Vem fazer o teste”, que é o vocacional porque tem que fazer. Fui fazer o teste, passei, um monte de dinâmica e tudo o mais. E foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida porque é uma área de desenvolvimento humano onde você tem tudo o que as pessoas precisam pra poder trabalhar melhor, são todos os treinamentos necessários lá, comercial, de atendimento, serviço, gerencial, liderança. E foi aí que começou essa formação. Esse nome coach surgiu depois, mas internamente já existia. E eu acabei me formando porque eu fui me formando em todas as áreas de formação, de treinamento pra dar às empresas, pra administrar as empresas e isso que dá pra você a competência de ser um cara que tenha esse conhecimento de consultoria e coaching, e foi isso que aconteceu comigo que foi ótimo. Então já me formei antes mesmo do coach ser tão difundido aqui no Brasil, já tinha essa formação, essa capacitação, vamos dizer assim. Foi por isso que eu acabei entrando nessa área de cabeça porque é uma área que eu gostei muito, lidar com gente é uma coisa muito legal, muito gostosa, gosto mesmo até hoje, é difícil mas é muito bom, você cresce, as pessoas crescem e você traz sempre novidades pras pessoas. E foi isso o que aconteceu comigo.
P/2 – E é isso que você faz até hoje?
R – É, continuo fazendo e continuo aprendendo. É por isso que eu estou aqui (risos), senão não teria tido essa oportunidade, que é muito legal. E o meu filho, o nome dele é Marcos Vinícius, e ele é o cara que está enveredando pra outras áreas. Ele é um cara que teve uma formação completamente diferente, exata, que é da área de informática, desenvolvimento de software e hardware, ele mexe com isso, e ele está envolvido completamente nesse negócio do trabalho social. Tocou, ele quer isso, ele gosta disso. E ele está envolvido agora em duas coisas legais aqui em São Paulo. Ele é o cara que desenvolveu o site para o plano diretor da cidade de São Paulo e desenvolveu um site para um negócio novo que vocês vão conhecer que chama Almoço Comida, alguma coisa que tem ali no comecinho da Paulista com a Angélica. Já conheceram esse projeto ou não? Começou domingo passado, eu fui lá domingo passado, é muito legal. Tem um container com uma cozinha de comidas com três pratos, que não podem passar de 14, 15 reais, com bebidas, sucos, refrigerantes e tal. E do lado tem um outro quiosque, um outro container que é do Itaú, que é um parceiro. E tudo apoiado pela prefeitura de São Paulo. Cada mês vai ter lá uma comunidade com um chefe de cozinha explorando um negócio que depois vai virar um negócio de fato. Como o pessoal não tem dinheiro, a prefeitura proporciona o meio do cara começar a fazer o nome pra depois montar o seu negócio, que é nessa Praça dos Arcos ali, na Angélica com a Paulista, que é muito legal e ele que está desenvolvendo o site para esse pessoal. Então fui muito engraçado, eu conheci as pessoas primeiros e depois eles foram conhecer o meu filho que era o cara que fazia pra eles, então, sabe mundo assim pequeno? (risos) Muito legal. Então ele está envolvido mais nessa área. E ele saiu numa matéria agora na Época, chamada Filhos de Junho. São três pessoas, uma menina e dois rapazes, ele é um deles, que desenvolveram uma ferramenta em detrimento daquelas passeatas do ano passado. Ao invés de ficar brigando, derrubando, fazendo essas passeatas que o sentido é bom mas as pessoas têm de tudo ali ele falou: “Pera aí, vamos fazer uma coisa legal, vamos fazer uma coisa que seja útil”. E desenvolveu essa ferramenta que dá para você acompanhar o uso da verba pública. Você entra no site e acompanha tudo o que o governo municipal está gastando, que é muito legal. E saiu nessa reportagem da Época. Também me deixou bastante orgulhoso, né? É uma área muito interessante porque você vê condições de trabalhar em várias coisas ao mesmo tempo, né? E esse projeto, que é o projeto que eu tenho hoje que lida com gente e procura trazer uma coisa que as pessoas estão precisando muito, que é sair da casinha, então eu falo assim: “Pera um pouquinho. Você está estressado, você está doente, por que? Você precisa saber por que você está assim. E aí, o que você está fazendo hoje, você gosta do que você faz? Você tem paixão pelo que você faz? Se você não tem, vai fazer o que você gosta! Você está no caminho errado, você está fazendo tudo aquilo que é prejudicial a você, mesmo que você precise. Agora, se você precisa dá um tempo pra isso, fala assim: ‘Vou fazer isso durante um ano, dois, depois eu quero fazer o que eu gosto’, porque senão você não vai sair nunca desse formato”. Isso é uma coisa. A outra coisa é: “O que é que eu quero fazer? Por que eu estou aqui? Qual é o meu papel? O que eu estou fazendo? Eu vou modificar alguma coisa, eu vou influenciar alguma coisa, eu vou fazer alguma mudança? Eu vou participar de um processo que melhora a vida das pessoas?”. Eu tenho que saber, eu tenho que ter essa informação, porque senão eu não sei, eu fico perdido, eu vou fazer o que todo mundo está fazendo, sai de casa, vai pro trabalho, do trabalho vai pra escola, vai pra faculdade ou vai pro curso de inglês, ou vai pra academia e volta pra casa. Gente, isso não é vida! Você tem que ter uma vida que integre você a tudo aquilo que está ao seu redor. Agora, tem que começar pelas coisas que te...”
PAUSA
P/1 – Vamos continuar de onde você estava falando.
R – Vamos só terminar aquela coisa das pessoas, né? Eu acho que as pessoas hoje têm que ter ajuda pra poder ter esse discernimento de como é importante a pessoa fazer o que ela gosta, como ela ter prazer naquilo que ela faz, porque ela vai viver muito melhor. Se as pessoas tivessem esse sentimento aguçado elas teriam um trabalho muito mais forte, muito mais firme no propósito de cada um, sabe? Elas teriam mais condição de fazer, não necessariamente aquilo que dá dinheiro, o dinheiro é consequência do que você vai ganhar com aquilo que você faz. Porque você precisa do dinheiro, ele é extremamente necessário e ele é bem-vindo. Só que você tem que fazer alguma coisa que te dê prazer porque você vai viver muito mais feliz fazendo aquilo que você gosta ganhando dinheiro, essa é a ideia. Se você correr atrás do dinheiro a corrida é muito desleal, se você fizer o trabalho contrário, é correr atrás daquilo que você gosta pra ganhar dinheiro é mais fácil porque o dinheiro vai vir consequentemente. Pode não vir no jeito que você gostaria quando você estava correndo atrás do dinheiro, porque todo mundo corre atrás pra ficar rico, pra ter condição. Mas não é assim que funciona, você tem que fazer hoje, o mundo faz assim, a vida é isso, o tempo é o bem mais precioso que você tem hoje, não é o dinheiro, é o tempo. Porque esse segundo que apagou a luz e que a gente voltou a gravar já foi, não volta mais. Mas tudo o que aconteceu aqui vocês gravaram. Eu também. Então esse tempo é extremamente interessante, importante pra qualquer pessoa e as pessoas têm que entender isso, é isso que você tem que viver, é o hoje. Não adianta você ficar fazendo planos pra dois anos, três anos, cinco anos. Eu tenho amigo que faz plano pra cinco anos, ele faz plano no computador e tal. “Você não vai fazer isso, cara” “Vou” “Você não sabe se você vai estar vivo daqui a dois minutos, como é que você está fazendo plano pra cinco anos? Você está deitando uma vida toda para um projeto de cinco, dez anos sem viver o dia de hoje, o segundo que acabou de passar, o minuto que foi embora. Você está perdendo isso”. É a mesma coisa das pessoas que vão – sem nenhuma crítica pesada, mas um alerta – que vão a um cyber café e ficam no computador o tempo todo falando com uma pessoa que está lá na Inglaterra ou que está na Conchinchina, ou na Finlândia e não conhecem o cara que está do lado na outra máquina. O cara vai embora, ele vai embora e não sabe quem é e de repente poderia ser uma pessoa importante na sua vida, e você deixou passar aquele momento. Então, quer dizer, as pessoas estão deixando de participar de coisas importantes da vida dela, né? Tenho uma amiga que voltou agora, mora aqui no bairro, inclusive, querida demais. Eu conheci ela, ela tinha 17 anos. Ela era essas meninas que fazem propaganda de marcas nos shoppings, que vestem aquelas roupas e tudo o mais. É uma menina bonita, corpo bonito e tal, me chamou a atenção pela alegria dela. E ela é assim até hoje. Nós somos amigos há muitos anos, a gente não vai nem fazer conta porque ela fica brava, hoje ela está com 32 anos, imagina, ela tinha 17. Ela foi numa palestra minha aqui na Fnac com o namorado e quando a gente começa a conversar os caras ficam assim, falam: “Cara, que doideira esses dois. O cara com 63 anos, ela com 32, quanta coisa que ele viveram juntos”. Por quê? Porque é isso, a vida da gente é isso, são pessoas, são os momentos. E a gente estava falando exatamente disso. Ela foi pra Paris, um sonho que ela tinha e ela foi sozinha. Porque foi a oportunidade que ela teve e ela foi, ela não ficou esperando alguém pra ir com ela: “Eu vou sozinha”. E ela disse que ela sentava naqueles bistrôs, nos cafés e ela via as pessoas conversando, ninguém no telefone, ninguém no celular. As pessoas falavam umas com as outras. As crianças brincando de roda, saindo pra brincar na calçada e tal, mas todo mundo olhando olho no olho. E você senta aqui de costas para alguém que está lendo um livro e ninguém vai te encher o saco, ninguém vai te perturbar, todo mundo está vivendo sua vida numa boa. Então isso é uma coisa que eu sinto falta no Brasil, que legal que tem isso, porque as pessoas hoje estão muito ligadas no eletrônico. O Brasil é um país que está vivendo muito isso, isso está trazendo algumas coisas boas e muitas coisas que não são tão boas, que as pessoas estão perdendo de controle, de vista. Então, quer dizer, é importante que a pessoa tenha noção do que está acontecendo, o que representa isso pra ela, qual a importância que isso tem na vida da pessoa, para onde ela está indo, qual o papel dela, o que ela vai fazer, qual a importância que tem aquilo que ela faz na vida que ela está tendo e como é que ela pode ajudar a melhorar ainda mais o entorno dela porque é isso que vai mudar as coisas. Não adianta você querer que a Dilma faça alguma coisa, que alguém faça. Não, o governo vai e passa, nós não, nós permanecemos. E esses caras vão passar, então você tem que fazer alguma coisa praquilo que você está construindo, porque é isso que vale a pena. Basicamente é isso.
P/1 – E como é que você passou a trabalhar do jeito que você trabalha hoje?
R – Como eu trabalhei sempre em multinacional na maioria das vezes e essa multinacional me deu um embasamento muito forte de formação, desenvolvimento, conhecimento, oportunidade de viajar que é uma coisa importante, sair do país e tudo o mais, você abre os olhos, você cresce um pouquinho mais em relação ao que tem no mundo. O mundo é muito maior do que simplesmente a cidade que você mora, do que o escritório que você trabalha. A minha mesa não é importante (risos), entendeu? O prédio que eu trabalho não é importante. Não, é um instrumento praquilo que eu faço, o importante é o que eu faço ou como eu faço, pra quem eu faço. E aquilo vai provocar o quê? Isso é mais importante. Então eu acho que eu fui buscando sempre uma resposta. E muitas coisas me levaram pra essa vida que eu tenho hoje, que eu já vou falar daqui a pouco, mas é o caminho que você vai perseguindo. Por exemplo, eu estudei num colégio religioso, eu vivi numa época de repressão, eu tive uma formação acadêmica, então essa soma não parece, mas ela é muito forte. E ela nos faz questionar muitas coisas. Por exemplo, no colégio religioso. Pô, tem muita coisa que você sabe que está errada e estudar num colégio religioso te dá muita base porque você vê as coisas erradas lá dentro, que as pessoas na igreja não veem. Então você vê todo tipo, já tinha padre pedófilo naquela época, você já tinha os caras sacanas. Teve um padre que foi expulso porque tinha um monte de revistinha de sacanagem no armário. O outro padre que tinha a batina furada. A batina é furada normalmente, mas ela vai pro bolso da calça. Mas o bolso também era furado. Então ele juntava balas, botava balas e a molecada ia pegar bala no bolso e a bala estava perto do piu piu do cara lá e ia brincando. O cara era pedófilo. Mas era, já era na época. Então você vê quanta coisa que você via. Então não é bem isso. Eu vi um filme que o cara falava assim: “Eu não acredito na religião, eu não acredito em todo mundo que fala que é em nome de Deus”. Porque muita gente matou naquela época já, que era na época do feudalismo, muita gente já matou por causa do nome de Deus. Então as pessoas fazem muitas coisas erradas em nome de alguém. O que vale é o que você faz e o que você tem aqui. Baseado naquilo que você tem aquilo com aquilo que você faz, é isso que leva você para um caminho legal ou não. Isso eu achei muito legal porque era um padre falando sobre isso no filme. Então foi muito legal, aquilo me marcou bastante. É exatamente assim que eu vejo. E o cara estava numa guerra, na guerra pra expulsar os muçulmanos, já naquela época, de Jerusalém (risos). Olha que loucura, né? Então quer dizer, essa coisa vem de muitos anos já, de muito tempo. Aí eu falei: “Caramba”, quando eu ouço numa missa o padre fala assim, na época da consagração, antes da comunhão ele fala assim: ‘Senhor eu não sou digno que entreis na minha morada mas dizei uma palavra e serei salvo’. Eu falei: “Pera aí, eu sou digno? Sim, eu sou imagem e semelhança sua, eu sou seu filho. Logo, eu sou digno”. Então você pode entrar a hora que você quiser, estão abertas as portas da minha casa pra você, minha casa, quer dizer, dentro de você. Como é que o cara fala isso? Pô, tá tudo errado, né? Então já vinha brigando com essas coisas que eu ouvia na missa, eu falei: “Cara, não é isso que eu quero”. Eu já tentava descobrir isso há muito tempo. E aí nessas viagens que eu faço eu conheci – olha quanto tempo levou, hein? Conheci uma chefe de cozinha chamada Aluk, lá em Santo Antonio do Pinhal que é embaixo de Campos do Jordão. Eu parei pedindo informação, estava com o Motorhome. Parei, o pessoal olhava assim: “Nossa, o que é isso? Você é da televisão?” “Não, não”. É porque ele tem uma antena Sky em cima, tem um monte de coisa que parece ser um carro de TV. Aí: “Não, não, eu só quero uma informação. Quero saber onde é que é o caminho pra chegar até o pico onde tem a pedra do bau porque eu quero subir nas grapas”, as grapas que tem na pedra do baú dá pra você subir na mão e eu queria ir pra lá e não sabia se estava no caminho certo e perguntei. E era um restaurante enorme, era uma antiga casa do cara que era o dono da fazenda que virou um restaurante. Então uma casa grande, com terreno, parecia um sítio, uma chácara. Extremamente bem cuidada, com riacho, cheio de plantas, uma coisa. Eu vi uma gema de cristal desse tamanho assim no jardim. Umas coisas assim, um astral muito legal. Aí eu parei e perguntando para o garçom, já tinha entrado dentro do estacionamento em frente do restaurante, é do lado da entrada da cidade. Ele falou assim: “Olha, vou chamar a minha chefe” “Tá bom”. Estou pensando que é a chefe dele, garçonete. Não, era a chefe de cozinha. Aí me aparece uma menina, caracterizada e tal eu falei: “Puxa, desculpa! Você é a chefe?” “É” “Eu não quero te atrapalhar, volta pra lá, você estava trabalhando”. Ela falou: “Não, tudo bem, está tudo tranquilo. O que é isso aí?” (risos) Começamos a conversar e não paramos mais. Almocei com ela, tomei um vinho com ela. Ela era filha de, o pai era espanhol, a mãe era brasileira e o pai era missionário, então viajou muito. Ela conhece mais o Brasil do que muito brasileiro, ela é brasileira só que é filha de estrangeiro. E é uma menina com uma cabeça muito aberta e uma inteligência muito aguçada, muito boa de papo, bonita e tal. E o restaurante era dele e do marido. E ela falou assim: “Pera aí, você tem que conhecer um amigo meu”. Aí ligou pro cara: “Ô Francisco, vem pra cá! Tem um cara que você tem que conhecer, o cara está com o Motorhome aqui, você tem que vir pra cá. Vem pra cá”. Aí o cara veio. O nome do cara é, perdão, não é Francisco, é Fernando. Fernando Veríssimo. Eu falei: “Cara, quem é esse cara?”. Na hora eu não peguei o nome na hora. Aí esse cara chegou, tal, começamos a conversar. Esse cara já me deu uma cafeteria, eu não parei mais de andar com eles, só por causa de uma informação. Porque eu estava disponível pra conversar. E aí fiquei amigo, ela já mandou convite pro festival de alcachofra que vai ter lá, que ela está fazendo prato e mandou foto do prato, eu tenho que ir lá. Enfim, as coisas vão rodando. E esse cara me falou de um livro que está marcando muito a minha vida e que depois eu vou falar pra vocês, mas, posso falar aqui também. Esse livro é um livro que vai mudar muito as coisas, provavelmente vai mudar muito a vida das pessoas. É um livro, o nome dele parece ser um livro religioso, mas ele não é um livro de religião, ele é um livro de conhecimento, ele tem muita coisa ali, mas muita coisa. É muito forte, é de um compromisso muito grande quando você começa a ler porque você não, se você está preparado você não para mais. Chama-se Cartas de Cristo. Esse livro é um livro que começou a ser divulgado no mesmo ano do acidente das torres gêmeas de Nova Iorque. No mesmo ano, um pouquinho antes, ele começou a ser divulgado porque foi naquela época que a pessoa que estava escrevendo esse livro, que estava sendo impelida a escrever esse livro, quer dizer, estava sendo iluminada para escrever o livro, ela estava pronta, porque ela tinha sido preparada 15 anos antes. Esse livro começou a ser publicado fisicamente naquela época, ano 2001. E é uma freira escocesa que tinha uma fazenda e tal e ela também estava nessa busca de verdades. E esse livro fala sobre isso. E esse Francisco Veríssimo eu vim saber que eu conhecia já a família dele há muito tempo, que eu já conhecia o seu João Veríssimo, que era um empresário aqui em São Paulo, que é da família Veríssimo que é o dono do Eldorado, o dono de um monte de coisa, é um cara que está com 90 e poucos anos hoje, o cara está inteiro ainda. Tio dele, ele trabalhava na empresa do tio, na época da Xerox servia a empresa dele como fornecedor e conversei com ele algumas vezes, com o seu João, conversei com muita gente, mas devo ter passado por ele várias vezes só que nunca conheci, vim conhecer o cara depois. E esse cara também ganhou o livro da mesma forma. E o livro vem assim pra gente, é dessa forma que ele vem. E eu não paro mais de ler esse livro. Eu baixei ele na internet porque eu não consegui achar ele. Eu tenho, imagina, o meu apoiador é a Fnac, o outro é a Renault, mas eles não conseguiam achar o livro, a edição, porque é uma editora pequena e eles não fazem consignação com as livrarias, eles vendem e vendem. Então tem livrarias que não querem comprar dessa forma porque não vai ter o montante que ela quer, mas ele está esgotado. Então, se você não lê ele fisicamente você pode baixar na internet. E também tem no YouTube, você pode ler, você pode ouvir, você pode baixar, você pode fazer o que você quiser porque ele quer que quanto mais pessoas saibam dele, melhor ele vai poder distribuir esse conhecimento. E é conhecimento mesmo, é um livro MUITO MUITO legal. Porque ele fala sobre tudo, tudo o que você pode imaginar, inclusive a concepção física do universo, de como aconteceu, é um livro muito profundo. Mas é um livro fácil, você começa a ler e você não para mais. Por que? Porque é muito conhecimento, você começa a entender muita coisa. Aí deparo com uma, vim visitar uns amigos aqui do Duofel. Vocês conhecem o Duofel? Duofel é uma dupla muito famosa que tem, gravaram agora, dois anos atrás, um DVD e um CD só com música dos Beatles lá em Liverpool onde nasceu os Beatles, onde começaram a tocar que era o London Tavern, viraram amigos e tudo o mais, me convidaram e era aniversário do Luiz. E o Luiz falou: “Marcos, você não quer ir numa palestra que vai ter?”. Eu falei: “Quem é que vai fazer a palestra?” “O Amit”. Eu na hora não saquei, mas aí comecei no dia da palestra que era uma quarta-feira, foi num lugar que tem aqui nessa rua mesmo, perto da Fradique, lá pra frente, um lugar chamado Unity, acho que é Unity, é um espaço onde você tem uma série de coisas bacanas pra fazer, tem Yoga, tem um monte de coisas assim, todas com esse espírito pra evoluir as pessoas. E ele foi dar a palestra ali. Então no dia da palestra estava lotado, cheio. Então tinha a palestra e teve um jantar indiano. Ele, o Amit Gosman é um indiano, ele é um físico, é um dos pais da física quântica. Já ouviram falar na física quântica? Ele é um dos físicos que faz parte daquele grupo da física quântica que lançaram aquele livro O Segredo e um monte de outras coisas que apareceram nessa época. E nada mais é do que o conhecimento que você tem nesse livro. Aí eu tive tanto conhecimento dessa parte da física quântica, que é uma coisa complicada pra você ler, mesmo você assistindo o vídeo e pegando o livro e tal, você precisa concatenar tudo aquilo que está vindo pra você poder entender porque é complicada, a linguagem deles é muito rebuscada. O dia que o Amit Gosman deu a palestra dele aqui pra mim foi uma surpresa quando eu vi ele: “Cara, é o Amit!” (risos). O cara está aqui no Brasil. Ele já veio várias vezes pra cá e eu não sabia. Aí o cara começou a falar, eu comecei a entender e falei: “Cara, é isso que eu estou lendo. Eu estou entendendo o que esse cara está falando agora porque eu sei o que ele quer dizer, mas a linguagem está mais próxima pra mim por causa do livro”. Acabou a palestra, ele deu autógrafo e tal. Quando ele estava sozinho na mesa que ele estava eu fui falar com ele. Eu falo inglês, né, aí eu perguntei pra ele se ele conhecia esse livro. Ele não entendeu, eu falei de novo, aí olhou pra mim assim e falou: “Sim, conheço”. Eu fiquei olhando pra ele assim, a gente ficou olhando um tempinho, sabe, uns segundos sem falar nada. Eu falei: “Cara, esse cara está me falando alguma coisa”. Eu falei: “Obrigado”. Ele falou: “De nada”. E continuou fazendo o que ele estava fazendo. Eu fui lá na biblioteca e falei: “Escuta, você tem esse livro aqui?” e a menina falou: “Tenho, nossa, esse livro é muito legal”. Você entendeu? Tudo, quando você está evoluindo, você sai de um estágio e passa para o estágio seguinte. Quando você está nesse estágio seguinte as pessoas com quem você começa a ter contato são pessoas que têm a mesma sintonia, estão na mesma frequência que você. Então você parece que atrai e essas pessoas também são atraídas por você e assim por diante. É uma coisa natural. As pessoas que não têm a ver com essa evolução, que estão na parte debaixo ainda, elas não entendem, então elas não conseguem conversar. Aí você começa a evoluir por causa disso, porque você começa a ter mais noção daquilo que você está tendo como conhecimento, aí você começa a conhecer pessoas que têm o mesmo conhecimento. Aí você começa a evoluir naquele conhecimento e assim por diante e assim você vai evoluindo como ser humano, como entidade. E isso foi uma coisa muito legal pra mim porque eu consegui entender uma coisa que era tão técnica, fisica quântica é uma coisa muito difícil de você entender esse processo. E no livro ele fala do processo tão natural, numa linguagem simples da física, é fantástico. E você começa a ter noção de coisas que são importantes, uma das coisas é essa, atração, a lei da atração, positivo e negativo. Esquece negativo e positivo e pensa como atração e repulsão. E uma coisa que me veio assim foi a coisa da reza, da oração, que tem diferença, né? Lembra que isso é o sinal de quem está orando, né, até no whatsapp tem uma mãozinha assim pra você mandar pra pessoa, alguma coisa tem a ver com isso. Isso aqui nada mais é do que você ter o seu lado direito que é o da atração, o lado esquerdo que é o da repulsão, juntos, mas nunca com a mão assim, sempre assim. E aqui tem um espaço no meio. Quando as pessoas rezam e que você faz esse sinal, que você quer pedir alguma coisa para alguém que você está rezando, seja quem for, você está colocando tudo o que você quer pedir aqui dentro. E isso vai para o lugar que você quer. Então o que tem de mais puro está aqui dentro, que você está pedindo. E aquilo você emana, você joga, você manda, como se fosse uma luz, um raio, uma coisa que não termina porque você está pedindo e aquilo está indo, está caminhando. Isso é essência, isso chama-se orar. Quando você ora você fala com o coração. Quando você reza você está decorando. Só tem uma reza, todo mundo sabe as rezas. Você pode estar falando a reza mas estar pensando no banco, você pode estar: “Pô, tenho que ir na reunião e tal”, você está rezando, é automático aquilo. Quando você ora não, quando você ora você está concentrando só numa coisa. E a oração não precisa ser essa coisa tão rigorosa, ela pode ser uma conversa. E é o que eu faço hoje, quando eu peço, eu oro, eu converso, é simplesmente isso, uma coisa muito natural. Isso me traz uma vida muito legal, me traz uma vida com muita paz. Eu atraio aquilo que eu quero, aquilo que eu não quero não vem. É um processo natural, as pessoas falam: “Ah, mas você não tem medo?” “Medo do quê?” “Não mas...”. Eu não penso nisso, eu não chamo isso, eu não atraio isso, eu penso naquilo que eu quero, que é bom praquilo que eu estou fazendo ou praquilo que eu vou fazer ou praquilo que as pessoas que estão comigo. É isso que eu penso. Então essa energia, esse frequência que eu estou dizendo, a mesma coisa eu digo pra essas pessoas que estão deprimidas: “Quando você está num estado aonde você tem essa incapacidade de ser verdadeiro com você mesmo e de ser autêntico, de ser leve, suave com você e com aquilo que você deseja, você está perdendo a grande oportunidade de harmonizar toda essa frequência que tem ao seu redor, tudo o que você precisa está aqui, ó, tudo o que nós precisamos está aqui. Essa conversa que a gente está tendo, essa entrevista, tudo o que cada um de vocês está fazendo está ao redor de vocês. Você só precisa fazer assim e pegar aquilo que você precisa. É assim que funciona. Você só vai saber disso quando você tiver este conhecimento. Esse conhecimento é que te leva pra essas coisas legais, pra esse universo que a gente não conhece que está aqui do lado da gente, que é uma outra frequência que é uma dimensão próxima, mas que a gente não teve acesso, ninguém ensinou pra gente. Não tem interesse em ensinar isso pra gente, entendeu? Então esse conhecimento está vindo agora e está sendo difundido desde essa época. Esse livro está rodando o mundo de várias formas pra um conhecimento desses ter esse acesso fácil pras pessoas, como as pessoas não vão ter essa capacidade de entender porque elas não estão prontas. Eu vou dar a minha mensagem e vou colocar à disposição. Algumas pessoas vão pegar, vão entender e vão seguir, outras não, vão pegar, vão falar: “Não, não é isso que eu quero”. Não tem problema, o momento que ela está vivendo é diferente, eu respeito, porque cada um vai ter o seu, cada um vai ter o seu momento, então cada um vai ter a oportunidade de pegar ou não. Mas esse conhecimento é fundamental, é o que a gente precisa. Muita coisa vai mudar nesses próximos séculos. Por quê? Porque é o momento, está na hora de fazer alguma coisa. Esse conhecimento veio pra mudar essas coisas. Esse movimento não é só aqui. Tem um brasileiro, um empresário, que leu esse livro em inglês e ele, se vocês entrarem no site vocês vão ver que o site é muito interessante porque ele tem perguntas e respostas de pessoas que já leram, ele tem questionamento de pessoas que têm dúvida sobre assuntos sérios, qualquer assunto, ele responde todas as perguntas, tudo, fala sobre qualquer assunto. Sem nenhum problema. E coloca isso de uma forma muito clara. Esse clara dá um depoimento, ele não pergunta, ele dá um depoimento: “Puxa, como eu li esse livro em inglês não é a mesma coisa porque não era a minha língua materna, então eu não tive a sensibilidade que eu estou tendo quando eu li esse livro em português, no meu idioma”. E agradece por tanto conhecimento que ele teve. Quer dizer, é um cara de sucesso mas um cara que conseguiu entrar nessa frequência de uma forma legal, gostosa, mas depois de anos que ele tinha lido o livro em inglês, você vê que coisa doida. Então quer dizer, é conhecimento, conhecimento é sempre bom, sempre importante. É uma relação da mudança de vida das pessoas, é por isso que eu estou falando disso. E uma coisa mais legal é que não é um livro de religião, ele fala sobre todas elas. E ele dá abertura pra todas elas. E ele fala a respeito de todos os outros líderes de todas as religiões, que é uma única pessoa. É uma coisa muito maior do que a gente pode imaginar, isso é conhecimento, conhecimento não tem preço. Então está à disposição, se vocês quiserem acessem, vejam lá, conheçam. Tomara que vocês aproveitem porque eu estou aproveitando muito. Mas assim, tem pessoas que eu posso dizer, posso falar, tem pessoas que eu não posso, eu tenho que me segurar: “Puxa, não está na hora ainda”, pra minha irmã, pro meu cunhado. Eu ensaiei umas quatro vezes pra falar isso, o dia que eu comecei a falar sobre isso ele teve uma conversa franca, de mágoas que tinham que eles foram soltando, eu falei: “Gente, era esse o momento”. E arrumamos tudo, acabou tudo, uma maravilha, hoje parece que eles são outras pessoas. Então quer dizer, são essas coisas.
P/1 – Mas pra difundir essa ideia que teve a ideia do Motorhome?
R – Não, na realidade o Motorhome apareceu por causa da minha formação, da minha vontade de fazer coisas diferentes, dar esse presente pras pessoas. Que as pessoas podem melhorar a sua vida, como é que elas podem despertar para um outro universo que elas têm e elas não estão percebendo. Então falei: “Eu vou ter que fazer alguma coisa, muito pouco o que eu estou fazendo, acho que eu tenho que ter uma forma de levar a informação e a mensagem mais o forte, pra mais pessoas, independente de onde elas trabalham, onde elas estejam. Esse trabalho que eu vou fazer na Virada Sustentável, por exemplo, são pessoas que eu nunca vi na minha vida e vou encontrar pela primeira vez no sábado e no domingo. Ótimo, que legal. Aberto pro lado do palco, o Motorhome vai estar lá, as pessoas vão poder visitar. Mas como hoje eu estou fazendo outras pessoas estão fazendo da mesma forma, alguns pela internet, outras viajando, outras fazendo de outra forma. Enfim, vocês deram exemplos inclusive. Então é muito legal, é um trabalho que a gente chama de escolha, que são escolhas que você faz, todo mundo tem as suas. Eu, particularmente, acho que não tem escolhas erradas de certas, tem escolhas. O que tem são responsabilidades pelas escolhas que você faz, isso é de cada um. Fez a escolha? A responsabilidade da escolha é sua, você vai arcar com elas.
P/1 – E por onde você já andou com o Motorhome?
R – Ih rapaz, nesses dez, onze meses agora, 43 mil quilômetros, então bastante. Não tenho destino certo, fui sendo levado pelas coisas que aconteciam. Podia ter feito uma programação, não é a mesma coisa, não é o intuito, mas nasceu assim dessa proposta. Então quando ele começou, começou em Curitiba porque eu morava lá, eu já estou fora de São Paulo há uns oito anos, e aí ele começou a rodar em Curitiba, meu cliente mais forte foi a Fnac, eu comecei lá o processo. Eles viraram parceiros, aí eu estava subindo da fábrica do Motorhome que é lá em Joinville e na estrada eu pensei e falei: “Caramba, eu estou com um Renault, eu conheço o vice-presidente da Renault, eu vou passar próximo da fábrica da Renault, eu vou parar na fábrica da Renault e falar com ele” (risos). Foi assim. Quem é que em sã consciência faria uma coisa dessa? O vice-presidente de uma empresa tão grande não é um cara que atende assim, mas eu conheci esse cara numa festa de um bistrô francês de um francês lá em Curitiba, dois anos atrás. Eu falei: “Vou passar lá”. O nome dele é Alan, se ele puder me atender, ótimo, se ele não puder, é o máximo que pode acontecer. Aí fui pra fábrica, Portão 1, portão principal, cheguei na recepção: “Bom tarde, eu queria falar com o Alan Tissier” “Ah, o senhor tem hora marcada?”, eu falei: “Não” “Ah, ele marcou com o senhor?”, eu falei: “Não” “Como que eu falo pra ele então?”. Eu falo: “Então, dá pra você levantar um pouquinho?”. A menina levantou da recepção e eu falei: “Tá vendo aquele carro ali?” “O senhor é da televisão?”, porque eu tenho uma camiseta do projeto, tal. Ela não leu, ela viu o emblema que é aquilo que você viu no cartão, que é o próprio, a terra, colorida, bonita e tal, com os dizeres lateralmente. Aí ela olhou e falou: “O senhor é da televisão?” “Não. É um projeto que eu comentei com o Alan muito tempo atrás, uns dois anos numa festa e eu acho que ele vai gostar de conhecer. Fala que é o Marco Aurélio que esteve com ele no aniversário do bistrô Delices de France e que está aqui pra mostrar um projeto com o carro da Renault”. Ela falou: “Agora eu tenho como ligar pra ele”, e ela ligou. Ele falou que não podia me atender, mas que ele sabia quem era e do que se tratava e falou pra ela, eu nem falei com ele no telefone, a assessora estava falando comigo. Aí a assessora me ligou: “Olha, seu Marco, uma pena porque ele em reunião até sete e meia, agora são quatro horas, pra poder esperar, né?”, eu falei: “É, é meio chato”. Ela falou: “Não, vamos fazer o seguinte, ele falou que vai mandar alguém pra falar com você rapidamente, tá bom assim?” “Tá bom” “Você quer que eu deixe o cartão?” “Não precisa, não” “Tá bom”. Tinha meu telefone, tinha tudo. No outro dia de manhã alguém me liga: “Olha, aqui quem fala é o Carlos, sou assessor do Alan na fábrica e ele me pediu para entrar em contato com o senhor” “Ah, pois não, você quer que eu vá à fábrica?” “Não, não, não, onde o senhor tá?” “Não, mas eu estou aqui em Curitiba, você está em São José dos Pinhais”. Ele falou: “Não, não, onde é que o senhor está” “Eu estou em qualquer lugar, onde você quer que eu esteja?” “Onde é que é mais fácil?” “Olha, num estacionamento do Condor”, que é um supermercado, “está bom pra você?” “Tá, tá bom, aqui no Bigorrilho, tá legal” “Que horas?” “Duas horas” “Tá bom”. Duas horas o cara estava lá. Ele ficou uma hora comigo, cravada no relógio, ele gravou a minha entrevista, fotografou, ficou encantado com o Motorhome, tirou foto do Motorhome, pegou a minha palestra, olhou, leu, viu, gostou e ficou maravilhado, ele falou: “Cara, como é que pode caber tudo isso dentro de um carro desse tamanho? Um furgão”, que é o grandão, o maior. Eu falei: “Isso é um projeto dessa fábrica Vitória” “Mas cara, que bacana, tem tudo aqui!” “Tem” “Você tem toda tecnologia” “Tem” “Cara, você tem chuveiro! Como é que é a água?” “A água é a gás” “Água quente?” “Claro, água quente e fria” “E é uma ducha!” “Ducha, é. Ela é retrátil, tal” “Tem banheiro separado” “Tem banheiro separado” “Tem cama de casal!” “Tem cama de casal” “Nossa, cheio de armário, que bacana e tal. O que é isso aqui?” “Isso é da antena da Sky” “Você tem Sky?!” “Tenho, aqui é a anteninha da Sky” “Como é que você acha?” “Não, tem um aplicativo no celular que você acha os satélites” “Cara, que legal!” “E aqui o que é?” “Aqui é uma outra cama” “Pera aí, isso aqui é uma poltrona” “Então, uma poltrona aqui, uma poltrona aqui, a gente pode fazer virar uma cama de solteiro” “Cara, você tem tudo! Tem a cozinha” “Tem tudo. Tem geladeira, tem microondas, tem fogão, pia” “Cara, que bacana!” “E essa poltrona do motorista?” “A poltrona do motorista é fixa, a do passageiro ela vira e isso aqui vira uma salinha, enquanto a gente está viajando as pessoas estão conversando aqui, todo mundo com seu cinto e tal” “Cara, muito legal, muito bacana”. Aí viu toda a tecnologia que tinha no carro, com placa pra armazenar a energia solar e tudo o mais. Ele ficou maravilhado e levou toda essa informação pra lá. Aí eu tenho até hoje essa parceria com a Renault sem um papel assinado, tudo aqui. Por quê? Porque o projeto é legal, porque eles gostaram e ele foi sincero. E porque eu passei lá, se eu não tivesse passado lá não tinha acontecido nada disso. É a mesma coisa com a Fnac. O que eu preciso de tecnologia, telefonia, filmadora, computação, o Apple que eu tenho é tudo deles. Mas então, isso é o que eu falo pra vocês dessa frequência em que você se encontra, então as pessoas que estão na mesma frequência elas se aproximam naturalmente porque todo mundo está na mesma sintonia, é uma energia natural que as pessoas têm. Quando acontece alguma coisa na vida de vocês que é uma coisa que chama a atenção porque fala: “Cara, deu tudo certo! Porra, que legal!”, vocês não vibram? Essa vibração que vocês têm é própria daquilo que já aconteceu, mas é porque estava tudo organizado praquilo acontecer e vocês estavam pensando em acontecer, vocês não estavam pensando em não acontecer. Toda vez que vocês querem alguma coisa vocês têm que pensar no que vocês querem, não no que vocês não querem. Porque se vocês constroem um pensamento que vai levar vocês pra algum lugar e esse pensamento é forte, ele leva. Se vocês pensarem só nisso ele leva. Se vocês não pensarem nada que destrua esse pensamento vocês conseguem. Agora, se por um momento qualquer durante esse processo vocês pensarem: “Pô, mas e se o cara não estiver lá?”, pronto, vocês acabaram de destruir uma coisa que vocês estavam construindo tão forte, simplesmente porque o pensamento é o nosso ego, ele fica trabalhando o tempo todo assim, que o pessoal chama de mente, né? A mente mente, então ela fica toda hora te provocando, ela faz o que ela quer e você tem que controlar isso. Pra você controlar você tem que aprender, pra você aprender você tem que conhecer. E é isso que te manda para os lugares que você quer. Então, você pode fazer qualquer coisa na sua vida, depende do que você quer. Não tenha limites, não imponha limites, não tem limite pra você fazer as coisas na sua vida, depende sempre de você. Ayrton Senna falava isso de uma forma muito diferente mas muito forte, vocês lembram disso, do Ayrton Senna? Ele falava que você pode fazer o que você quiser na sua vida é só você acreditar. Ele fez o que ele quis, morreu fazendo o que ele quis. Mas ele fez. Então as pessoas que conseguiram sucesso, o sucesso não é só as grandes realizações, qualquer coisa que você faça e tenha sucesso é importante na sua vida, tudo, isso que vocês estão fazendo é importante na vida de vocês. Então isso aqui, vocês terem chegado até aqui, vocês estarem aqui é uma realização, valorizem isso, deem valor pra vocês, pra tudo aquilo que vocês fazem porque isso é importantíssimo na vida de vocês, vocês têm que ter essa relação forte com o valor que tem as coisas que vocês colocam o empenho de vocês. A vida de vocês, a emoção, o amor, a paixão por fazer aquilo que vocês fazem. Porque isso ajuda muito, isso tem uma força que vocês não têm ideia, o tamanho da força que vocês têm. Depende da gente. Então é um processo de construção. E é isso que me levou a fazer o que eu faço hoje. Não é fácil porque você tem que colocar alguns conchavos naquilo que você precisa pra você fazer o que você quer. Não acontece às vezes da forma que você gostaria, mas isso faz parte do processo de crescimento que você tem que ter. Se você entender isso fica tudo bem, você não tem estresse, você sabe que tem etapas pra cumprir, cada etapa tem o seu preço das coisas que têm que acontecer pra poder cumprir a próxima, faz parte do processo de crescimento que você vai ter.
P/1 – Eu queria voltar um pouco, como é que você conheceu a sua esposa, que teve seu filho.
R – Então, isso é uma outra história. Porque dessas brincadeiras de rua, de jogar bola e brincar na rua, na casa do meu avô os irmãos dela também brincavam, eles moravam na mesma rua. E a gente foi crescendo, foi virando adolescente com 18, 19, 20, 22, 23 anos e aí ela já era uma das garotas que passeavam, que iam no cinema naquela época e tal. Mas não era a minha trupe, não era o meu grupo, o meu grupo não era dali da casa do meu avô, a casa do meu avô era a casa do meu avô mesmo, não tinha tantos amigos ali. E aí um dia ela estava passando, um Dia dos Pais, estava todo mundo na casa da minha avó e ela estava passando. Ela é uma mulher muito bonita, adoro mulher que tem cabelo comprido, não sei por que até hoje (risos). Gosto de mulheres de cabelo curto também, mas a mulher de cabelo comprido me chama a atenção, não sei, parece que é mais feminino, enfim. Hoje não, hoje você tem vários tipos que são muito legais, curtos, pequenos, diferentes e tal, que mudou bastante. E ela me chamou a atenção. E a gente começou a namorar e foi assim porque já era da mesma rua, tinha muito essa coisa da rua, não morava ali mas era na mesma rua. E aí acho que foi, cinco meses a gente casou.
P/1 – Foi em que ano isso, mais ou menos.
R – Ai cara, meu filho está com 30, nós estamos em 2015 menos 30? Vamos pegar aí, porque ele nasceu depois de um ano e pouco, um ano e meio, então mais ou menos nessa época.
P/1 – 83?
R – 82, 83, por aí.
P/2 – Tem um filho só?
R – É. Que eu saiba só, ninguém reclamou ainda.
P/1 – Qual é o nome dela?
R – É Sandra. Sandra Regina. Mas a gente já não está mais casado há algum tempo. Mas continua minha amiga, a gente tem reuniões juntos eu, com meu filho e ela, a namorada do meu filho e falando sobre as empresas de cada um. É bem legal porque a gente convive bem com isso, sem problema.
P/1 – Qual é o nome do seu filho?
R – Marcos Vinícius Russo Roberto, mais conhecido como Vi (risos). Um homão desse tamanho, ficou Vini ou Vi. E ele gostou mais do Vinícius Russo, então ele usa mais o Vinícius Russo para os negócios, para o que ele faz.
P/1 – E eu queria voltar mais ainda. Seria imperdível eu perguntar sobre as discotecas da época.
R – Ah, uma época muito legal, muito rica. Nossa, como eu me diverti, cara. Nossa, eu vi muita gente boa que veio para o Brasil fazer shows. De Billy Paul, Donna Summer, Sarah Vaughan, nossa! Todo mundo que veio para o Brasil naquela época, que eu participava, eu morava em São Paulo e São Paulo era o centro de tudo, então todo mundo vinha pra cá fazer show e pro Rio de Janeiro. E eles iam muito pras discotecas fazer shows, nas discos grandes. Como elas fazem até hoje, só que hoje em grandes espaços. E na época tinha concurso de dança, era muito legal, você arrumava um par que não tinha nada a ver com você, de repente não era a sua namorada, mas era uma pessoa que mais casava com você pra dançar do jeito que você gostava. Você participava de concurso e você ganhava prêmios, ganhava viagem e você ficava conhecido porque eram pessoas de todo tipo e de todos os lugares, em algumas discotecas importantes. Papagaios, Jacaré ou Crocodilos, enfim, as várias discotecas que tinha em São Paulo. E era uma coisa gostosa porque era uma coisa feliz, era uma coisa alegre, super. Você transpirava pra caramba pra dançar e era legal porque você curtia aquilo e saía aliviado, deixava tudo ali. E tinha aquela, a trupe, a turma que estava com você e que era bacana porque todo mundo estava participando de alguma forma, ou ajudando, ou fazendo alguma coisa, ou participando mesmo do concurso e tal. Mas era gostoso porque fazia parte. Agora com isso vieram outras coisas, viagens. Aí formaram-se outros grupos que se reuniam em alguns bares. Tinha um lugar aqui chamado O Bar, era o nome do restaurante, O Bar, que a gente se reunia toda segunda-feira pra planejar viagens. E aí gente de carro, gente de avião, tal, iam pra Floripa, por exemplo. Então marcava um dia e fazia férias, dez dias, 15 dias de Floripa. Todo mundo. Ia pra Bahia. Era uma coisa muito legal. Porque tinha um jantar que o cara dava, do bar, porque o cara também fazia parte e todas as fotos que a gente trazia ficavam todas lá, dos lugares, todo mundo ia pegando as fotos e trazendo e montando lá no bar e trocando. Então era um lugar que se encontrava uma outra tribo, um outro tipo de situação, que era essas viagens, que era uma coisa legal nessa época um pouquinho mais à frente. Aí tinha outra época, então você vê que tinha várias coisas legais, muita gente na época das escuderias, das gincanas, das discotecas, das fanfarras, são tipos de situações diferentes mas sempre com muita gente. Convivência com muita gente e gente completamente diferente. Então eu não tinha o menor problema com turma de rua, ou com turma de bairro, eu vivia bem com todo mundo, namorava menina de tudo quanto era lugar, não tinha o menor problema. Por que? Porque eu sempre tive acesso, era gostoso, eu não tinha inimizade, eu não gostava do negócio da briga da turma, a turma só de harley, ou a turma só de kawasaki, a turma só da lambretas. Não cara, eu convivia com todo mundo numa boa porque eu tinha amigo em todas elas, então tinha acesso e era muito legal e isso é muito gostoso. Então quer dizer, isso foi uma época muito rica nessa relação. Tinha brigas como tem hoje mas eram brigas na mão, era diferente, ninguém andava armado. No máximo uma faca, um revólver que de repente aparecia lá, mas ninguém queria matar o outro, entendeu? Era briga pra resolver, olhava pro cara e brigava com ele, os dois saíam tudo destruído mas de repente no cara no futuro virava amigo, entendeu? Então era diferente.
P/1 – E você tem um sonho pessoal hoje, Marco?
R – Vários. Qual deles você quer saber? (risos)
P/1 – O que você tiver na mente agora.
R – Cara, o meu sonho ainda é fazer esse projeto virar mais, sair do eixo Sul e Sudeste, Centro-Oeste que eu já andei mas pegar o Brasil todo, depois pegar a América, América do Sul, passar a América Latina, passar América do Norte e me embrenhar por aí. Ele não tem tempo pra terminar, ele começou. Ele tem etapas. Então a próxima etapa é continuar explorando ele mais pelo Brasil. Região Centro-Oeste que é uma região muito rica, uma região que está progredindo, que tem espaço, que tem trabalho, que tem negócios acontecendo, que não está sentindo essa crise porque as pessoas estão focadas em outras coisas que são importantes, está convivendo legal lá. A região Norte que é uma região também interessante. Nordeste e Norte são duas regiões diferentes. E depois o resto. Eu não quero dividir muito, eu acho que dá pra fazer assim, junto com a região Oeste uma perna pro Chile ou uma perna pro Peru. Com a região Sul uma perna pro Uruguai, pra cidade do fim do mundo, enfim, dá pra fazer pra Ushuaia, dá pra fazer muitas coisas assim paralelo, não tem nenhum limite. Esse é um. O outro é andar num hidroavião, que eu ainda não andei. Nos outros eu ja andei, mas no hidroavião não andei ainda e acho que é muito legal. Voo de balão já fiz, é uma coisa muito legal que eu quero fazer mais, é uma coisa muito bacana, tem inclusive a foto dentro da minha palestra num voo que eu fiz lá no Sul. Mas eu já fiz outros aqui em São Paulo, com o truff. Em Criciúma com o pessoal da Liquigás que eu fiz um trabalho pra eles, eles levaram um balão pra lá e a gente fez o voo pras escarpas lá da serra, que foi muito legal. Enfim, tem vários. E ter uma companheira, né, que hoje eu não tenho. Mas ter uma companheira assim, parceira. E eu não posso ter qualquer pessoa, tem que ser uma pessoa que tenha a mesma cabeça que eu tenho, que tenha disponibilidade pra fazer o que eu faço e não é fácil, então tem que ter alguém que... uma hora ela vai aparecer, ela está por aí me esperando (risos).
P/1 – Como é que foi contar a sua história pra gente?
R – Ótimo, muito legal. É uma forma de você saber como você já fez coisas legais e como você já foi útil e como você pode passar isso pras pessoas que não estão na mesma situação hoje, que precisam muito de história pra poder viver as suas e fortalecer um pouco mais. E fazer com que as pessoas saibam como isso é importante, como viver é legal. É um privilégio, as pessoas não entenderam talvez isso ainda, algumas delas, como é importante você viver o dia a dia. O dia a dia te leva para um monte de lugares, depende muito do que você quer. A outra coisa é dizer pras pessoas: “Olha, é possível, você pode fazer o que você quiser, depende de você. Isso pra mim foi uma escolha”. Se vocês falam: “Puxa, mas você não tem uma casa?” “Tenho” “Não, mas você não tem um lugar fixo” “Tenho” “Não, mas isso é um Motorhome” “É. Eu posso parar ele, ele fica fixo. Está vendo essa ancorazinha que tem aqui? Então, essa âncora eu jogo e fica ali” “Não, mas você não tem uma casa” “Tenho!!!” “Mas você não tem um ponto, uma coisa no chão”. Eu falei: “Ele está no chão” (risos). Eu brinco muito pras pessoas entenderem que elas estão muito apegadas a coisas que não são tão importantes. Mas aí é cada um no seu ritmo, cada um no seu momento. Eu falo: “Olha, a minha casa é o que eu preciso dela. Ela é pequena mas ela tem tudo aquilo que eu tenho, o que eu preciso está lá”. É um studio, é uma kit, que hoje chamam de studio. É um studio, mas o meu quintal, rapaz, o meu quintal é muito grande (risos). Ele é enorme. Tem praia, ele tem montanha, ele tem o que você quiser. E ele está disponível. Então depende do que você quer, eu fiz essa escolha, você faz a sua. Eu acho que todo mundo tem um momento pra escolher aquilo que quer. De repente uma casa pode ser melhor coisa pra uma pessoa mesmo, é legal ter uma casa de praia, uma casa de montanha, um apartamento não sei onde, sei lá. Viajar, tal. Eu faço tudo isso ao mesmo tempo, eu acho que eu sou um privilegiado, o que é legal. E uma pessoa para acompanhar seria muito bom, mas eu não tenho pressa, eu acho que tudo tem a sua hora, ela vai aparecer do jeito que a gente está fazendo as coisas acontecerem. E quando vier vem muito bem-vinda, então a hora que vier está em casa. Mas é legal, é muito gostoso contar história. Primeiro que a gente dá exemplos de coisas que aconteceram na vida da gente pras pessoas que estão nos vendo, como vocês por exemplo, e enriquece um pouco mais a vida das pessoas porque são exemplos que às vezes as pessoas não tiveram, não tiveram oportunidade que a gente teve, cada um tem a sua vida. Eu sou um cara muito feliz com as coisas que eu faço, muito, muito. Sou privilegiado. Um cara com saúde e uma coisa que esse conhecimento traz muito pra gente, você é capaz de administrar a sua vida, fisicamente inclusive, do jeito que você querer, quer dizer, o que você trouxer pra você é o que você vai ter como fruto. É bem aquilo mesmo, você vai colher aquilo que você plantar. Algum já falou isso pra vocês, né? Pois é, vai mesmo. Então cuida bem do que você for plantar, porque é o que você vai colher depois. Então semeia bem pra ter uma boa colheita depois. Plante as coisas legais pra vocês, porque é muito importante, e procurem ser feliz em tudo o que vocês fizerem. Na menor coisa tem um significado legal, bacana. Vocês tiveram vontade de tomar um copo d’água e quando vocês pegam o copo d’água na mão vocês tomam com aquela coisa e fala: “Cara, eu estava precisando dessa água”. Quando vocês fazem isso vocês estão vivendo um momento único, que é uma coisa que parece simples demais mas é importantíssimo. É isso, a vida da gente é cada momentinho desse que você vê. É esse apagar da luz, é chegar até aqui, é a curiosidade de conhecer vocês e vir aqui, vocês convidarem e a coisa continuar, tudo isso faz parte de um processo, as coisas acontecem porque você provoca, você se disponibiliza pra que elas aconteçam. Você dá espaço, você entra na frequência delas e as coisas acontecem. Quando as coisas andam muito certo é porque você está trabalhando pra isso. E como vocês trabalham pra isso as coisas acontecem naturalmente. É muito mais fácil. Parece que é fácil, parece que aconteceu tudo do jeito que vocês previram antes, é porque vocês provocaram todo o ambiente pra que isso acontecesse, é um processo natural. Então desejem sempre aquilo que vocês querem, sempre. Sempre, sempre, sempre. É difícil, viu, fazer isso. É muito difícil. Porque a gente foi educado assim, muitos séculos atrás a pensar sempre com esse julgamento: “Ah, e se...”. E se separado é uma coisa. “E um dia quando eu fui, se tiver”, é uma coisa. Agora o ‘e se’ junto é perigosíssimo: “E se não der certo? E se o cara não vier? E se apaga a luz?”. O ‘e se’ atrapalha toda a vida da gente. Então, não pensa, a coisa vai fluir naturalmente, é uma coisa que vai acontecer. Se a, como é que chama a menina do projeto que idealizou? A que fez a matéria que virou esse museu?
P/1 – Karen.
R – A Karen. Se a Karen não tivesse feito a tese dela e se aquilo não tivesse virado uma energia que desse a ela condição de pensar nisso, isso não teria acontecido. Aquilo foi um trabalho só que ela precisou fazer para uma tese do mestrado. Então essas coisas todas são legais por que? Porque provocam um universo que você não tem ideia do tamanho dele. Isso aqui pode crescer muito ainda, tem muito campo, muita área, ele vai tomando corpo. Eu costumo dizer o seguinte, quando você joga uma pedrinha no lago, tum, ela tem aquele movimento da provocação nas ondas, né? Dependendo do tamanho da pedra as ondas são diferentes. Então dependendo da energia que você imprime lá pra poder acontecer as coisas que vocês querem. Mas eu adorei fazer isso. Adorei. E foi no momento certo. Que eu falo: “Pô, poderia ter feito isso antes”. Não. É esse momento de fazer, agora. Conhecimento é isso, é muito trocar, enriquecer. E estou muito feliz por conhecer vocês, obrigado pela oportunidade, só posso agradecer, né? Estou falando que eu sou um cara privilegiado?
P/1 – Tá certo, a gente te agradece também, viu? Obrigado, foi ótimo!
R – Que bom! (risos) Muito legal mesmo, obrigado gente. Beijo. Fiquem bem.
FINAL DA ENTREVISTA