Em seu depoimento, Gustavo Borges narra aspectos de sua infância em Ituverava, interior de São Paulo. Recorda como começou nadar no clube da cidade, aos 9 anos e seu interesse por esportes, não somente pela natação, mas também pelo vôlei. Ele relata que mudou para São Carlos com o objetivo de aprimorar na natação e pelo mesmo motivo migrou para São Paulo, ingressando no Clube Pinheiros. A ida para os Estados Unidos, suas conquistas nos campeonatos brasileiros e nas Olimpíadas é parte marcante de sua trajetória. Finaliza falando sobre o seu trabalho atual, no gerenciamento de suas academias de natação e na organização de uma metodologia para academias licenciadas.
Correios 350 Anos: Aproximando Pessoas (HVC)
Uma vida dedicada à natação
História de Gustavo Borges
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 11/11/2013 por
Correios – Museu da Pessoa
Depoimento de Gustavo França Borges
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 29/05/2013
HVC_01¬_Gustavo França Borges
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Gustavo, você pode falar seu nome, o local e data de nascimento?
R – Gustavo França Borges. Nasci em 1972, 2 de dezembro, em Ribeirão Preto.
P/1 – Seus pais são de Ribeirão Preto?
R – Não. Eles são de Ituverava.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Isso.
P/1 – E seus avós são de lá?
R – Meus avós vieram de vários locais ali próximos.
P/1 – O paterno, por exemplo, e o materno?
R – O paterno é de Ituverava. O materno veio de uma cidade perto de Ribeirão Preto. Você vai fazer umas perguntas que talvez eu não...
P/1 – Não tem problema (risos). O que seus avós paternos faziam? E os maternos? Você sabe um pouco a história deles?
R – O paterno, meu avô era fazendeiro, minha avó eu não tive muito contato, nem com ele e nem com a minha avó, eles faleceram muito cedo. Mas vieram da fazenda, trabalharam na roça e tal, tiveram propriedades que acabou seguindo para a família do meu pai, que também teve uma vida voltada para fazenda e tudo mais. Na parte da minha avó materna, o meu avô eu tinha muito mais contato, viveram muito mais tempo, eu tive muito mais contato ao longo da minha vida. Um funcionário público, trabalhou em prefeitura, escreveu livro, teve uma série de coisas na cidade de Ituverava, e minha avó é professora.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Se conheceram em Ituverava, eu acredito. Não sei detalhes, assim, de como eles se conheceram. A cidade é pequena, uma cidade de 30 mil habitantes, antes na época devia ter muito menos do que isso. Mas é uma cidade pequena, acabaram se conhecendo ali mesmo.
P/1 – Como que é o nome do seu pai?
R – José Jovino Borges.
P/1 – E da sua mãe?
R – Diva França Borges.
P/1 – E qual era a atividade dele naquele momento, quando ele casou com a sua mãe?
R – Meu pai sempre trabalhou com revenda de veículos e trator. E também sempre teve o pé na fazenda, porque foi uma herança e sempre trabalhou nesse lado também. Gosta muito de fazenda, de roça, de plantar, de gado, essas coisas. E minha mãe, professora.
P/1 – Professora do quê?
R – Ela foi pedagoga. Acho que era pedagoga, ela fazia magistério lá em Ituverava, educava profissionais a se tornarem professores.
P/1 – E seus pais mudaram de Ituverava para Ribeirão quando casaram ou eles ficaram morando em Ituverava?
R – Ribeirão a única relação que eu tenho com Ribeirão Preto é o nascimento, o médico da minha mãe era de Ribeirão Preto, então, nasci em Ribeirão, voltei para Ituverava. Morei até os 15 anos em Ituverava. E fora de Ituverava, as cidades que eu morei no estado de São Paulo foi São Carlos, que eu fiquei um ano, e depois São Paulo.
P/1 – E você lembra da sua casa onde você morava em Ituverava?
R – Lembro das duas onde eu morei: a primeira, na mesma rua, era um quarteirão de diferença de uma para a outra, onde eu vivi até os oito anos de idade, eu lembro bem ali.
P/1 – Como era essa casa?
R – Era uma casa pequena, tinha um alpendre, na época todas as casas tinham alpendre voltado para rua, todas as casas tinham alpendre, uma gradinha e você estava na rua já. E uma casa bacana, simples. Aí, meu pai construiu uma casa maior, um quarteirão para frente de onde a gente morava, na mesma rua, então, sempre teve uma convivência ali na vizinhança.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho duas irmãs.
P/1 – Mais velhas? Mais novas?
R – Uma mais velha e uma mais nova.
P/1 – Como era na sua casa? Você dividia quarto com elas? Você tinha um quarto só seu?
R – Não. Elas dividiram o quarto. A diferença, eu sou o do meio, a mais velha tem um ano e pouco a mais do que eu e a mais nova oito anos a menos, então, uma temporãzinha. E quando ela nasceu ela foi para o quarto da minha irmã. Só que quando ela nasceu a gente já estava numa outra fase de nossas vidas ali, já estava com oito, nove anos de idade, aí, foi pouco tempo que a gente viveu juntos, uns cinco, seis anos, porque a gente abandonou o lar, porque cada um foi seguir um caminho. Eu fui para São Carlos com 15, a minha irmã foi para os Estados Unidos na mesma época, e quando ela regressou, a gente regressou para os Estados Unidos. E a minha irmã continuou lá em Ituverava, a pequenininha. Então, a gente teve uma convivência, assim, na infância, como a gente tinha uma diferença muito grande, então, você tem uma criança de dois anos, e você com dez, 11, é uma diferença muito grande. A hora que chegou na adolescência a gente fugiu do ar ali, direcionado pelos nossos pais, e a minha irmã continuou.
P/1 – E quem exercia autoridade na sua casa? Seu pai? Sua mãe?
R – Os dois. Muito mais minha mãe. Meu pai sempre foi um cara bem mais tranquilo, a minha mãe muito mais educadora, acho que pelo fato de ser professora e tudo mais. Meu pai trabalhando muito tempo fora de casa nos negócios. Apesar de que cada um tem uma particularidade, a serenidade, a objetividade do meu pai, com talvez a emoção, a explosão da minha mãe em alguns momentos, mas os dois com a questão muito forte na educação.
P/1 – Como era Ituverava naquele momento, na sua infância?
R – Era uma cidade boa, a gente brincava na rua direto, não tinha preocupação, a questão de segurança nem era questionada. E uma vida muito tranquila, pacata, tudo com bicicleta, tudo a pé, então, ia para a escola. Então, desde que eu era pequeno saía, andava três, quatro quarteirões estava na escola. Ia para o treino, ia para o clube, pegava a bicicleta e ia para o clube. Então, uma vida muito na rua, muito com molecada, brincando, se divertindo, fazendo tudo isso.
P/1 – Quais eram suas brincadeiras prediletas?
R – Tinha de tudo ali, viu? Você tinha pique-esconde, pique-pega, você tinha jogar bete, que era o taco, tinha construir carrinho de rolimã e brincar, assim, na própria rua, no asfalto, fazendo pista ali, empurrando um, empurrando o outro, jogava bola, muita bola, andava de bicicleta, tudo. Então, você não tinha videogame, não tinham essas questões eletrônicas, você inventava e fazia coisas na rua. E a questão de segurança era algo que nem se questionava, o maior perigo era, sei lá, um cachorro correr atrás de você, e lá só tinham os vira-latinhas. Ou senão um perigo, assim, com um carro ou outro que passava na rua, mas era muito tranquilo.
P/1 – E com quantos anos você entrou na escola?
R – Na escola? Minha escola chamava, não sei se era Topo Gigio, uma coisa assim, sabe? Quatro ou cinco anos de idade. Depois vinha o pré, tinha o pré-primário, e depois o primeiro ano. Então, eu me lembro, assim, de alguma coisa da escola por volta de quatro, cinco anos de idade. Com seis anos eu já lembro que eu estava na primeira série, com seis no ano que eu completei sete. E, aí, cada uma das fases ali chegando.
P/1 – Do que é que você gostava na escola?
R – Gostava dos amigos, gostava do entretenimento que era aquele momento, gostava de aprender era divertido, apesar de que algumas aulas eu acabava não se identificando muito. Tinha a figura única de um professor, então, até a quarta série eu lembro que era um professor só. Tinha lousa, giz e mesa, então, tanto quanto não lúdico o ambiente, mas de certa forma, o ambiente da escola era interessante. Se você olhar hoje, parece uma coisa meio... Você fica meio que aprisionado ali, mas naquela época era o que a gente conhecia como escola e era bacana. Quando eu vou à escola dos meus filhos hoje, é lúdico, é cor, é uma série de coisas. Antigamente, não. Mas as brincadeiras, o intervalo, o que acontecia depois da escola com os amigos, aquela convivência era muito bacana.
P/1 – Você se lembra de algum nome de algum professor? Das características dele?
R – Lembro. Dona Lalá, da quarta série, Dona Cristina, deixa eu ver aqui, Dona Cristina era de... Como é que era? Artes Cívicas.
P/1 – Educação Moral e Cívica.
R – Educação Moral e Cívica. Isso. Aí, cantavam o hino nacional, não sei nem se tem isso mais. A Dona Geralda, era tudo “dona”, né?
P/1 – É.
R – A primeira professora eu lembrava, esqueci. Mistura, mistura tudo, mas tem várias que marcaram, que estava presente ali.
P/1 – E festas na sua casa, comemoração, tinha? Acontecia? Essas festas, Natal, por exemplo, Ano Novo?
R – Acontecia, muito centralizado ao redor dos meus avôs maternos. Então, as festividades de Natal, Ano Novo, sempre eram rodeados com os avôs. Aniversários, muitos aniversários de criança ali, Festa do Picolé, a molecada tomando picolé, até chegar aos chás dançantes da vida, que aí era um pouquinho mais sério já de adolescente, dançando com as meninas, com os meninos, tanto eu, quanto a minha irmã, a gente é muito próximo. Mas as festividades de fim de ano muito concentrado em São Paulo. Meus avôs mudaram para cá e a gente vinha muito para São Paulo passar umas férias, passar o Natal, o Ano Novo, então, tinha sempre um pouco dessa relação, assim, mas sempre juntando ou em Ituverava mesmo meus avôs indo para lá, então, a gente estava sempre junto nesses momentos.
P/1 – Alguma comida predileta que você tinha na infância, que sua mãe e sua avó preparavam?
R – Pô, várias. Minha mãe acabou herdando uma das principais, que é a maionese que minha avó fazia. E até hoje a Dona Diva tem que preparar a maionese, quando tem festividades em casa tem a maionese da Dona Diva. Frango com cravo, macarronada da minha avó era deliciosa. Quando eu morei em São Paulo, eu vim para cá com 16 anos, estava com a minha irmã, meus pais estavam longe, todo domingo era almoço na minha avó, não tinha jeito. Era eu, minha irmã, meu avô e minha avó, e minha avó fazia um banquete, uma coisa doida. A gente chegava, almoçava, dormia, ficava lá. Era bem bacana isso, porque a gente veio para cá muito jovem, para a cidade, então, eu e minha irmã morando juntos, 16 e 17 anos, e tinha essa base, essa questão da família segurando ali a relação.
P/1 – Quando que você começou a nadar?
R – Comecei a nadar com nove, dez anos de idade lá em Ituverava.
P/1 – Em algum clube?
R – Associação Atlética Ituveravense, que inclusive a piscina leva o meu nome hoje. Superorgulho. Está lá a piscina.
P/1 – Você começou a fazer natação por algum motivo?
R – Não, eu gostava. O motivo era que meus amigos estavam fazendo. O pai de um dos meus amigos, o pai do Homil, Seu Homil, ele era o presidente do clube naquele momento, e ele trouxe um treinador de fora de Ituverava, de Ribeirão Preto, inclusive. Aí, chega o treinador de fora, pô, aquele alvoroço na cidade: “O cara é bom, o cara é isso...”. A molecada em peso. Depois foram ficando alguns, né? Aquela coisa inicial de todo mundo quer fazer, então, me lembro da piscina cheia nos primeiros meses que o cara chegou. Foi o Luis Carlos, o treinador, depois ficou realmente quem queria nadar, tal, daí eu segui, segui nadando. Fui de Ituverava, eu treinei em Franca durante um período, mas eu ia e voltava uma vez ou outra.
P/1 – Mas você tinha uma coisa de querer ser nadador ou você tinha o desejo de ser outra coisa quando crescesse?
R – Não sabia muito bem, naquela época eu queria ir para Olimpíada. Não sabia nem muito bem o que era Olimpíada, mas eu queria ir. Todo mundo que vê um esporte ou vê alguma coisa. Com 13, 14 anos, foi quando eu consegui identificar um pouco mais o que é que era isso. O Ricardo Prado era um atleta que foi uma referência na época, e ele olhando os resultados do Ricardo, falou: “Pô, um dia, quem sabe?”. Mas você pensava numa coisa dessas, “Pô, quero ir pra Olimpíada”, num dia, no dia seguinte você está lá em Ituverava na carteira com a Dona Lalá estudando, indo brincar de futebol. Então, uma realidade meio que você não sabe onde vai dar aquilo e isso é legal.
P/1 – Mas você gostava de nadar, assim, você tinha que sensação, assim?
R – Gostava. Gostava de nadar, gostava de jogar vôlei também, eu joguei vôlei até os 13 anos e achava bem bacana.
P/1 – Você queria ser atleta da natação quando você pensava em ir para as Olimpíadas?
R – Eu queria ser atleta. As coisas foram acontecendo, então, o querer ir para Olimpíada era muito diferente de falar: “Agora eu vou treinar pra ir pra Olimpíada”, não era assim. Treinava, tinha oportunidade, minha mãe viu que eu gostava, então, arrumou um treinador lá em Franca para ir nadar. Depois quando eu mudei para São Carlos, foi muito baseado nisso.
P/1 – Mas você ia de Ituverava para Franca nadar?
R – Ia. Minha mãe me levava uma vez por semana, o treinador vinha outra vez, passava treino, até eu mudar para São Carlos, aí, foi uma mudança já mais focada na natação em si.
P/1 – Mas você mudou para São Carlos por conta da natação?
R – Por conta da natação.
P/1 – Como foi essa mudança? Por que aconteceu?
R – A gente viu ali que não tinha mais condições dentro da cidade, dentro de Ituverava para continuar dessa forma ou ir para Franca, ou o treinador vir, não tinha muito sentido. Na região a equipe mais interessante e bacana que a gente acabou conhecendo era o pessoal do São Carlos, tinha uma equipe boa, uma equipe competitiva, um treinador bacana.
P/1 – Aí você já sabia que você queria competir?
R – Aí eu já estava competindo, eu já era federado, com 13, 14 anos, eu já era federado. Então, no ano que eu completei 15 anos, eu estava em São Carlos.
P/1 – Mas você mudou sozinho?
R – No ano que eu completei 15? Não. No ano que eu completei 16, eu estava em São Carlos.
P/1 – Você mudou sozinho ou sua família mudou para lá?
R – Não. Sozinho. Morei com um treinador, inclusive, na época ele era muito mais velho que eu, ele tinha 21 anos de idade, eu tinha 15, uma diferença muito grande naquela fase. Mas ele me acolheu e tal, morando com ele, tinha bicicleta, vai e volta, e era assim, na raça.
P/1 – E quando você fez sua primeira competição? Você lembra?
R – Minha primeira competição foi em Ituverava, era um festival de natação entre as escolas, aí, eu peguei terceiro lugar. Perdi para o Fernandinho Nunes e para o Renê. O Renê ganhou, o Fernandinho pegou segundo, eu peguei terceiro, medalha de bronze. Só que os dois eram mais velhos do que eu, de 71, eu era de 72, mas mesmo assim. E o Renê era um cara que era enorme na época, ele tinha um metro e 50, eu tinha um metro e 48. Só que hoje ele tem um metro e 55, eu tenho dois metros e três. (risos) Então, um ano depois ele já não conseguia mais ganhar de mim. Mas era um momento, assim, era mais uma olimpíada interescolar, uma coisa assim. Aí, foi. Depois, com nove, dez anos... Isso era com oito anos. No ano seguinte que eu comecei a treinar. Primeiro foi uma competição assim: “Atravessa a piscina aí, vê o que acontece”. Depois começou uma coisa mais estruturada.
P/1 – E quem é que decidiu, assim, foi você, seu pai, quem falou: “Vai ter um treinador, vai seguir, muda pra São Carlos”? Como aconteceram essas decisões?
R – Eram mais compartilhadas, assim: “O que você acha de treinar em outro lugar?” Meus pais sempre motivaram isso, sempre tiveram um pouco...
P/1 – Você já tinha demonstrado potencial.
R – Porque naquele ano que eu fui para São Carlos, a minha irmã foi para os Estados Unidos. Eu fico pensando hoje, meu filho está com 14 anos e no que meus pais fizeram comigo e com a minha irmã, e meu filho chegando nessa idade agora, como é que seria esse desprendimento e essa confiança que eles tiveram neles mesmos, tanto meu pai, quanto a minha mãe, na nossa educação para deixar isso acontecer daquela forma. Eu tenho muito orgulho da confiança que os meus pais tiveram. Porque hoje o meu filho está com 14, vai fazer 15 o ano que vem, pô, é o ano que eu saí de casa. E meu filho é um bebezão, então, como é isso, né? E foi muito legal.
P/1 – A sua irmã foi para os Estados Unidos para estudar?
R – Foi. Foi fazer um intercâmbio. Ela estava nadando ainda nessa época, ela parou de nadar depois, quando ela voltou.
P/1 – Ela nadava também?
R – Nadava. A gente nadava juntos. Nessa época eu já estava nadando melhor do que ela, já tinha desprendido um pouco, mas ela ainda estava nadando legalzinho. Ela era mais velha, então, era mais competitivo no feminino para ela. Ela foi para os Estados Unidos, continuou treinando durante um ano na High School que ela fez, morou um ano lá em Michigan, e quando ela voltou, eu voltei junto para São Paulo com ela, que ela ia fazer cursinho para fazer faculdade e acabou fazendo aqui em São Paulo.
P/1 – E como foi mudar para São Carlos? A vida lá? Como é que era?
R – Foi superbacana. A dificuldade no começo era um pouco de estar sozinho ali, de não ter a família, mas todo fim de semana eu ia para Ituverava. Então, eu ia na sexta-feira para Ituverava e voltava segunda de manhã, toda semana. Um pouco cansativo fazer isso, mas São Carlos tem duas horas.
P/1 – E você estudava lá?
R – Eu estudava em São Carlos. Estudava, treinava e treinava à tarde. E tinha muita gente em São Carlos de Ituverava, aí na faculdade, que seriam uns dois, três anos mais velhos do que eu. Então, acabamos juntando com quem tinha carona, então, sempre tinha alguém para me levar, ou para me trazer, ou algum motorista que meu pai arrumava para me trazer.
P/1 – Mas quem te bancava? Você tinha patrocínio ou era seu pai?
R – Não. Meus pais. Meu pai. Patrocínio foi aparecer uma ajuda de custo no primeiro ano que eu estava no Pinheiros, que foi no ano seguinte, quando eu vim para São Paulo.
P/1 – Quer dizer, você nadava, como era a sua rotina? Você ia para escola em São Carlos.
R – Escola de manhã, treino à tarde, estudar à noite e dormir, isso já o dia inteiro. Então, eu saía da escola por volta de meio-dia e meia, uma hora, ia para casa, almoçava, era tudo mais ou menos pertinho ali. Parecia meio longe, porque tinha uma ladeira para subir na saída do treino que era terrível, então, de bicicleta para fazer isso era duro. Mas era bacana o esquema. Tinha muitos amigos ali de São Carlos.
P/1 – Qual era a sua diversão, assim, era em São Carlos? Ituverava?
R – Eram os dois. Quando você começa...
P/1 – Na juventude, né? Você já era um adolescente.
R – É, ali tinha as festinhas em São Carlos, em Ituverava também a mesma coisa. Quando você é adolescente, você sai da sua cidade, quando você volta, está tudo diferente, você se acha o máximo, “Agora eu estou morando fora, não sei o que”, aí você começa ver a coisa de uma forma diferente, você amadurece muito. Você não sabe que você está amadurecendo, mas você amadurece muito, você tem outras responsabilidades, né? Você morar em casa e você sair de casa e voltar, você começa a moldura da sua personalidade e do seu ser. E acho que ali começou uma transformação. Mas a diversão era com os amigos, era festa na casa de um, na casa de outro, saía no fim de semana, coisas desse tipo. Em São Carlos eu saía menos, porque a questão da locomoção, era todo mundo moleque, não tinha como, ou o pai de alguém passava para pegar ou não tinha como chegar nos locais. E durante a semana era muito corrido, estudava, treinava, estudava, treinava. E o pessoal do clube se encontrava ali e ficava ali entre nós mesmo, então, não tinha muito mistério.
P/1 – Que música você escutava? O que você gostava de ouvir?
R – Na época?
P/1 – É.
R – Na época de São Carlos eu nem me lembro, assim, na época de 14, 15. Ali na década de 80, começou naquela época aquela questão mais de Erasure, Depeche Mode. Quantos anos você tem?
P/1 – Eu sou bem mais velha, tenho 47.
R – Ah, “bem mais velha”, eu tenho 40, então, você já estava noutra.
P/1 – Mas eu lembro, mas eu lembro.
R – Mas você estava noutra, né?
P/1 – Não, mas eu ainda escutava.
R – Escutava isso?
P/1 – Eu sabia que tinha.
R – Depeche Mode.
P/1 – Meus primos escutavam.
R – Esse aqui nem era nascido em 87.
P/1 – Não, esse aí não.
R – Aí você tinha Pet Shop Boys, Rick Astley…
P/1 – Rick Astley.
R – O Rick Astley foi um pouquinho antes, né? Emendou ali. O que mais que tinha? Tinham essas aí.
P/1 – Você gostava de dançar?
R – Nunca fui muito bom de dançar, não. Acho que eu gosto mais de dançar hoje do que naquela... Antes eu tinha vergonha, hoje eu não tenho mais, você perde a vergonha quando você fica mais velho, uma das vantagens de ficar mais velho é que você perde um pouco da vergonha de fazer as coisas. Mas dava umas dançadinhas, não era uma coisa muito naquelas, não, mas...
P/1 – E como você se correspondia com a sua família quando você estava em São Carlos?
R – Telefone.
P/1 – Telefone.
R – Telefone, e-mail, Facebook, essas coisas.
P/1 – Mas com 15 anos?
R – (risos) Você vai me perguntar isso? (risos) Não, era só telefone, sinal de fumaça, telefone.
P/1 – Mandava carta?
R – Não. Carta, não. Quando eu mudei para os Estados Unidos, sim. Mas quando eu estava em São Carlos, não tinha carta. Eu fui para os Estados Unidos... Eu vim um ano para São Paulo, fiquei um ano e meio aqui, depois eu fui para os Estados Unidos, que ali foi mais ou menos em 1990, 90, isso.
P/1 – Mas, aí, em São Carlos em que momento você saiu de São Carlos?
R – Eu fiquei em São Carlos o ano de 88. Em 89 eu estava aqui em São Paulo já.
P/1 – Como se deu essa decisão de mudar para São Paulo?
R – Do mesmo jeito que deu a ida para São Carlos, a vinda para São Paulo foi o próximo passo. Eu evoluí muito em São Carlos, aí, já teve uma perspectiva assim: “Pô, sua irmã tá voltando e vai morar em São Paulo. O que você tá a fim de fazer? Vamos pra São Paulo também? É mais fácil, tal, a gente tem lá o seu avô, sua avó, tal”.
P/1 – Seus avós estavam morando aqui? Eles saíram de Ituverava e vieram para cá?
R – Eles já estavam morando aqui, eles saíram bem cedo.
P/1 – Antes de vocês?
R – Antes de eu nascer. É, acho que desde que eu me entendo por gente, meus avós já estavam aqui.
P/1 – Ah, eles vieram para São Paulo e seus pais continuaram em Ituverava?
R – Isso.
P/1 – Então você passavam férias aqui?
R – Tudo. Aqui e em Santos. Eles tinham uma casa em Santos, um apartamento em Santos, a gente ia passar lá as férias.
P/1 – Que lugar de Santos?
R – Gonzaga, acho que é Gonzaga. Por ali, perto do shopping ali. Ali é Gonzaga, né?
P/1 – É.
R – Mais para o lado ali. Zé Menino ou Gonzaga, um desses aí. Mas, aí, em 89 minha irmã estava voltando, ele falou assim: “Ah, já que vai voltar morar com a tua irmã em São Paulo”. Aí, pegou lá um apartamento aqui no Paraíso, na Eça de Queiroz, e foi ali.
P/1 – Moravam você e sua irmã. Vocês não moravam com seus avós?
R – Não. Morávamos só nós dois.
P/1 – Você estava com quantos anos?
R – Foi o ano que eu completei 17.
P/1 – E como era o Paraíso nessa época que você veio morar?
R – Não era muito diferente do que é hoje. Eu passo por ali de vez em quando... Lógico que tem um prédio ou outro novo tem algumas coisas ali, mas se você pegar aquela Rua Eça de Queiroz, eu estudei na Eça de Queiroz em frente num colégio ali que chamava Benjamin Constant, chama ainda. E aquela região, assim, deu uma evoluída em vários itens ali, várias áreas, do outro lado também do Paraíso evoluiu, mas está muito parecido do que era na minha época. Tinha o metrô que era ali próximo, o próprio metrô Paraíso, o metrô Ana Rosa. E é lógico que a movimentação aumentou, o fluxo de gente aumentou, mas era isso. Saía ali da Eça de Queiroz pegava o Pinheiros–Sacomã, que era a linha de “busão” que eu pegava, descia a Brigadeiro, eu lembro que eu saía uma hora antes do treino para chegar no horário, chegava sempre antes, então, eu levava mais ou menos uma meia hora de ônibus, no máximo. Hoje em dia nem sei como é esse trajeto aí.
P/1 – Como se deu a entrada no Pinheiros? Por que no Pinheiros?
R – Eu vim para nadar no Paulistano quando eu vim para São Paulo. E quando eu cheguei aqui, o treinador William Urizzi de Lima, que era o treinador do Paulistano, eles estavam numa ascendência muito bacana, uma equipe jovem, o Willian é um cara muito legal, inclusive trabalha comigo hoje aqui. Ele nem precisou me recrutar, eu já queria vir para nadar com ele. E quando eu fiz as malas e cheguei a São Paulo, assim que eu chego a São Paulo, eu fico sabendo que o Paulistano ia terminar com a natação e o Willian ia para o Paineiras. Que, aí, o Morumbi naquela época, já é meio longe hoje, apesar de que o Paineiras é muito perto da onde a gente está aqui, mas ele era outro mundo, eu falava assim: “Nossa, no outro lado do rio”. Nem lembro se tinha o túnel na época, acho que nem tinha aquele túnel, nem sei como era para chegar lá, acho que tinha que passar ali pela... Sei lá, era um caos, um transtorno, assim, era uma outra cidade, parecia o Morumbi. E, aí, conversei com os meus pais: “Pô, mas como é isso, tal?”. Aí ficou meio solto, assim, num determinado momento. E antes de começar os treinos, eu me lembro de estar no Shopping Iguatemi, antes de ir para o Pinheiros, né? Enquanto eu estava no Shopping Iguatemi, tinha um cara que eu encontrei por acaso lá, eu já estava pensando no Pinheiros, de ir para o Pinheiros, só que eu não sabia como ia ser a entrada ali. Eu não lembro exatamente se eu tinha marcado para ir ao Pinheiros ou não, mas quando eu encontrei esse atleta, era uma atleta do interior também, que estava vindo para São Paulo para treinar no Pinheiros. Eu encontrei com ele e a gente foi junto para o Pinheiros. Ele não tem a minha altura, mas ele tinha assim, um metro e 94, um metro e 95, alto também. Então, chegam dois “pirulão” lá para entrar no clube e, aí, a hora que o técnico viu lá os dois, falou assim: “Cara, está tudo certo”. O diretor veio: “Olha, são do Pinheiros. Vamos embora”. E aí foi.
P/1 – E, aí, você ficou quanto tempo treinando no Pinheiros?
R – Eu fiquei toda a minha carreira profissional, porque depois teve uma evolução muito rápida no primeiro ano já, peguei seleção e tudo mais.
P/1 – Como foi? Você entrou lá, você nadava, você era federado, você nadava para o São Paulo, pelo Pinheiros, como é que era?
R – Pelo Pinheiros.
P/1 – Pelo Pinheiros.
R – Você treina pelo clube, você nada pelo clube.
P/1 – E como é que foram sendo as competições?
R – Como assim? As competições?
P/1 – É. Você vai participando de estadual? Como funciona para ir fazendo essa carreira?
R – Você tem todas as competições estaduais e nacionais, se você pegar seleção, você vai para as competições internacionais e assim por diante.
P/1 – Quando você foi para sua... Que você ganhou nacional a primeira vez?
R – Eu cheguei aqui em 89, foi em dezembro de 89, eu participei de um campeonato de Goiânia, que foi a primeira vez que eu fui campeão brasileiro. E ali, na sequência, em 90 eu já ganhei tudo. Em 1990 eu já não perdi nenhuma prova que eu disputava. Eu perdi o 200 livre no começo do ano e ganhei o 50 e o 100 no brasileiro, tanto no brasileiro no troféu, quanto no de categoria. Porque você tem o brasileiro de categoria e o brasileiro aberto, no aberto eu ganhei o 50 e o 100, perdi o 200. E desde aquele momento em diante, eu não perdi mais nada, praticamente. Ganhei no meio do ano, no ano seguinte já era o Pan-americano, eu já tive uma melhora tremenda, que acabei indo para os Estados Unidos, depois tive uma melhora tremenda.
P/1 – Quando você foi para os Estados Unidos?
R – Em 90.
P/1 – Por que você foi para lá?
R – Estava buscando oportunidade de estudo e de treinamento em alto nível.
P/1 – Você foi para fazer faculdade lá?
R – Eu fiz um ano de High School antes. Como aqui a gente se forma um ano antes do que nos Estados Unidos, que a gente tem o 11º ano, o 12º ano, que é a 11ª série. Lá o 12º ano, no ano que você completa 18 anos você está no 12º ano. A não ser que você seja um pouco mais novo ali, mas uma diferença de seis meses. Aqui a gente no ano que completa 17 é o ano que você está no terceiro colegial. Então, quando eu fiz isso, eu fui para a faculdade com... Como eu sou de dezembro, eu fui para faculdade no momento certo do americano, então, eu fiquei seis meses fazendo cursinho e mais um ano lá, depois eu fui para faculdade.
P/1 – E você tinha... Quer dizer, você já tinha esse desejo de ir para as Olimpíadas, que foi se concretizando de alguma maneira aí, e você tinha desejo de seguir alguma outra profissão?
R – Naquele momento eu já estava muito claro que meu negócio era nadar. Eu já estava com 17 anos, eu já estava ganhando tudo aqui no Brasil. Com 18 anos não tinha a mínima chance de ninguém chegar nem perto, assim, já estava muito consolidado, que a evolução estava indo muito boa. Eu fazia 48 no 100 livre, por exemplo, na curta, e o segundo colocado fazia 50, então, um segundo, um segundo e meio. Até o Xuxa chegar, que aí se aproximou, foi mais ou menos ali em 92, 93, mais para 93 do que 92, aí, a coisa ficou um pouquinho mais séria na competição entre eu e o Fernando. De 90, 91, 92, foi muito rápido. Em 90 eu nadei muito bem, fui para os Estados Unidos. Em 91 eu fiz um tempaço, era quarto do mundo. Em 92 eu fui para a Olimpíada e ganhei segundo lugar.
P/1 – Nesse tempo que você foi nos Estados Unidos, você ficou quando tempo lá?
R – Eu fiquei dez anos no período todo. Mas eu fiquei em Jacksonville durante um ano, depois eu fiz faculdade em Michigan, depois eu voltei para Jacksonville, fiquei mais um tempo, e aí voltei para o Brasil.
P/1 – Como foi esse período da High School lá?
R – Foi bom. Foi um período novo de adaptação. Os primeiros meses foram muito mais difíceis do que aqueles primeiros meses em São Carlos, acho que pela cultura, por ser diferente, por estar num país diferente, a língua, foi um período muito... Eu me lembro de um período muito sozinho nessa época. Logo ali em agosto, setembro, outubro, até eu voltar.
P/1 – E você treinava aonde lá?
R – No próprio local. Morava, treinava e estudava. Chamava: Bolls, Bolls School, B-O-L-L-S, Bolls.
P/1 – E você se correspondia com a sua família como?
R – Aí muita carta. Tinha carta, tinha telefonemas, mas eu me lembro de ter muita carta, principalmente, com alguns amigos aqui do Brasil. O Tamanaha, que é um amigão meu, que eu tenho carta dele até hoje, assim, a gente dá risada.
P/1 – Você tem carta?
R – Tenho.
P/1 – Você emprestaria para gente digitalizar?
R – Putz, eu teria que procurar isso. Nem sei onde eu procuro, eu sei que eu tenho em algum lugar. Agora precisaria, putz, gastar um bom tempo para tentar achar isso. A não ser que minha esposa tenha jogado fora, porque da última vez que eu lembro, a última vez que eu vi essa carta deve fazer uns quatro anos, cinco anos, por aí. Não sei se eu joguei, posso até dar uma procurada e te falar.
P/1 – Ah, está bom.
R – Mas...
P/1 – Qual era o conteúdo dessas cartas?
R – Só besteira. Só besteira. Tinha uma namoradinha aqui, aí, tinha umas cartas com elas, e era isso.
P/1 – Com seus pais.
R – Com os meus pais até tinham cartas, mas eram... Com esse amigo específico, o Tamanaha, que é amigo até hoje, a gente se encontra direto, esse era direto, esse era, putz, uma carta por semana e só sacanagem, só besteira (risos), eram coisas muito engraçadas assim. Ele me colocava a par de tudo que estava acontecendo no clube também, falando, coisa de moleque, quem está pegando quem, quem está namorando não sei quem, balada tal. E naquele primeiro ano foi muito intenso isso, eu lembro muito claramente. No segundo ano, quando eu já estava em Michigan, na faculdade, diminuiu bastante. Acho que as nossas vidas estavam muito agitadas ali, aí, eu lembro nesse momento mais de cartões postais. Aí, entrou meio numa fase de cartão postal e menos cartas. Tinha pouca carta nessa época. E logo na sequência, não, logo na sequência, não. Uns dois, três anos depois, começou a entrar o e-mail, que aí facilitou muito.
P/1 – E encomenda? Sua mãe te mandava coisas daqui, você mandava de lá?
R – Minha mãe mandava bastante coisa.
P/1 – O que ela mandava?
R – Minha mãe chegou a mandar. O que ela mandava? Alguma coisa de roupa, assim, às vezes que eu precisava, tinha saudade. Acho que minha mãe já me mandou até arroz e feijão para cá. Mas ela mandava sim, mandava um doce, mandava um negócio de compota, uma goiabada cascão. De encomendas tinha, principalmente, com a minha mãe. Com o Márcio, com as outras, não. Com os meus amigos era mais nesse momento assim de cartas, depois por cartão postal, e encomendas em alguns momentos. Quanto mais velho eu fui ficando, ficou um pouco mais distante, assim, essa questão das encomendas. Mas acontecia. Dava uma saudadezinha, vinha uma encomendinha.
P/1 – Você queria prestar faculdade do quê?
R – Economia.
P/1 – Você já...
R – Eu queria Administração, mas eu fiz Economia.
P/1 – Mas teve influência de alguém da sua família nessa escolha?
R – Teve do meu pai. Eu sempre gostei, assim, do lado empreendedor do meu pai, muito voltado para negócios, para vendas, eu sempre gostei muito disso. Assim, eu trabalho hoje com muitos educadores físicos, com a natação, com tudo isso que tem a ver com a Educação Física, mas eu sou muito mais alinhado com aspectos voltados ao negócio, e não a parte técnica exatamente, apesar de ter muito conhecimento nessa área pela prática que eu vivi. Mas eu queria fazer Administração, só que Administração era muito difícil em Michigan para eu entrar, pelas notas e pela disponibilidade de tempo com a natação. Então, Economia era o caminho mais objetivo ali para eu conseguir alguma coisa nessa área.
P/1 – E como é que foi esse período da faculdade?
R – Foi ótimo. Uma experiência não em termos de aprendizado de matéria, mas aprendizado de vida mesmo. É o momento em que você está uma esponja, você absorve tudo. Você tem lá... Todo mundo tem a sua idade, então, você entra com 18, sai com 22 e são quase 80%, 90% da faculdade é isso. Então você entra lá com 18, você é um faixa branca total, você vê os caras com 21 se achando, porque já podem ir para o bar beber, tal. Então, tem uma mudança muito grande do primeiro para o segundo ano, do segundo para o terceiro e do terceiro para o quarto, onde você se acha no quarto ano, porque fala: “Eu já fiz isso durante dois anos, três anos”. Então, têm todas essas características, de você conhecer as pessoas. A parte do estudo é muito legal também, o envolvimento com as matérias, com tirar nota, isso é muito bacana.
P/1 – E você nadava lá mesmo?
R – Nadava lá mesmo, na Universidade de Michigan.
P/1 – Mas você pagava o curso, ou pelo fato de você nadar?
R – Eu tinha bolsa 100% de bolsa.
P/1 – Pelo fato de você nadar?
R – Pelo fato de nadar. Eu tinha 100% de bolsa. Um momento muito legal.
P/1 – E você continuava competindo?
R – Competindo. Pela universidade e pelo Brasil.
P/1 – Quando tinha aqui no Brasil, você vinha?
R – Quando tinha no Brasil, eu representava no Brasil, o clube aqui. Quando nadava nos Estados Unidos, eu representava a universidade. Então, é um processo normal isso nos Estado Unidos... A não ser que era uma competição internacional, eu ia representando o Brasil, mas normalmente eu representava a universidade. E você tem o período universitário de competição e o período de competição que você fazia por outro, podia até trocar de clube, no caso. Mas era não profissional, então, você tinha as bolsas, mas você não recebia dinheiro, nada da faculdade, só o estudo.
P/1 – E você ficou lá durante o período da faculdade... São quatro anos?
R – São quatro anos o período todo.
P/1 – E nesse período você continuou sendo campeão brasileiro?
R – Sim. Nesse período eu ganhei três medalhas olímpicas, tinha recorde mundial, tinha uma série coisa.
P/1 – Então, quando é que você bateu pela primeira vez o recorde mundial?
R – O recorde mundial foi em 93. Eu estava no processo de Michigan, mas eu estava treinando com Gregg Troy, que era o treinador de Jacksonville lá de Bolls, estava treinando com ele, fui para um verão lá, porque é normal você está na faculdade e você vai para o verão competir, treinar em outro lugar. Então, eu estava treinando com o Gregg Troy em Jacksonville, na Flórida. E, aí, tem umas mudanças assim, que você faz. Dependendo de onde você quer treinar, com quem você quer treinar, meio que normal.
P/1 – E quando você viu que você bateu o recorde...
R – Eu já estava numa expectativa grande, porque eu já estava fazendo o tempo na... O que aconteceu em 93 é que o recorde mundial na curta era mais fácil de bater do que na longa. E quando eu nadei, eu já queria nadar para baixo de 48 segundos, eu nadei para 47,97. E eu já tinha feito tempos na longa, que é a piscina de 50 metros e em piscina de jardas, que me credenciavam para fazer isso. Então, era mais ou menos assim: “Vai lá, nada e bate o recorde mundial”. Não era tão simples quanto isso, mas foi muito próximo do que aconteceu. Aí, eu bati o recorde que era do Michael Gross, que era 48,20, e foi uma felicidade total ali, vibração, imprensa, aquela coisa toda. Pela primeira vez abaixaram de 48 segundos em solo brasileiro, recorde mundial no Brasil. Pô, foi uma festa tremenda, foi bem bacana.
P/1 – E quando você foi à primeira vez para Olimpíadas?
R – Em 92.
P/1 – Como foi?
R – Foi uma emoção tremenda. Eu estava preparado para nadar a prova, principalmente, os 100 metros. Os 200 é uma prova que eu fui me consolidando ao longo do tempo, mas os 100 metros eu sabia que eu podia ganhar uma medalha. E, aí, teve toda aquela preparação para chegar nos 100 livre, para nadar a prova, na sala de balizamento, aquela tensão, aí, vai para prova, que tinha Matt Biondi de um lado, tinha Popov do outro, tinha toda uma energia conspirando a favor para o resultado. Caí na prova, todo mundo, assim, no pau, sabia que a prova ia ser muito disputada, e hora que eu termino a prova, o placar não funciona. Aí vem uma frustração, falei: “Pô, treinei, fiz tudo isso, aí chega aqui, o placar não funciona”. E naquele momento eu vejo lá o resultado, nada, aí demora 40 minutos para sair o resultado. Depois desses 40 minutos eles me chamam de volta, falam: “Pô, ganhou medalha de prata, tal”. Aí vai lá, premiação, aquela felicidade toda. Dá uma bela história esse contexto todo, mas faltou aquele negócio de você comemorar o prêmio, comemorar a vitória, comemorar a medalha no momento certo. E em 96, isso aconteceu de uma maneira um pouco mais tranquila, que é por a mão na parede, funcionar e ver. E aí eu consegui duas medalhas em 96 dessa forma.
P/1 – Aí de Michigan... Você ficou quatro anos? Quatro, né?
R – Michigan eu voltei para...
P/1 – Você já estava com patrocínio aí?
R – Aí já estava com patrocínio.
P/1 – Qual foi o seu primeiro patrocinador? Em que ano?
R – Meu primeiro patrocinador... Bom! O Pinheiros foi o primeiro clube que me apoiou financeiramente.
P/1 – Quando você estava aqui no Pinheiros, você já recebia?
R – Quando eu estava aqui no Pinheiros, eu já recebia mais uma ajuda de custo, depois veio a ser um patrocínio. Eu tive um patrocínio, se eu não me engano, da Eletropaulo, aí, sim era um mês, meu pai conhecia alguém da Eletropaulo, não sei como era, ou alguém que começou a patrocinar naquela época. Os Correios, eles entraram com patrocínio individual... Com patrocínio na CBDA entraram em 91, lembro bem do campeonato mundial, mas como patrocínio individual os Correios entraram, se eu não me engano, em 93 ou 94. Acho que foi 93 que entrou como patrocínio individual, se eu não me engano. Apesar de que em 92 eu tive um prêmio que eu ganhei da Confederação que veio via Correios, se eu não me engano. Mas acho que o meu primeiro patrocínio, assim, que foi bem próximo dos Correios, foi do Banespa.
P/1 – Que ano era isso?
R – Que foi ali 91? Foi 91.
P/1 – Como que era patrocínio naquele momento?
R – Com o Banespa ou de forma geral?
P/1 – De forma geral, o patrocínio para natação.
R – Era esporádico. Primeiro você tinha que dar uns resultados surpreendentes, então, até eu conseguir as cinco medalhas no Pan-americano eu não tinha patrocínio. Aí, quando eu consegui a medalha no Pan-americano, aí surgiu. O Banespa foi nessa época, depois vieram os demais. Negociações difíceis, duríssimas. Eu lembro que o Banespa, especialmente, era contrato semestral. Então, você imagina hoje a gente fala de contrato de quatro anos, de dois anos, seis meses, fazia seis meses, meu pai ia lá, fazia uma revisão, mais seis meses. Eu fiquei, se eu não me engano, oito anos com o Banespa. Depois entrou os Correios, que aí foi toda a minha carreira eu fui patrocinado pelos Correios.
P/1 – Os Correios entram em que ano?
R – Os Correios eu acho que entrou 92 ou 93. Patrocínio com pessoa... Para mim, especificamente. A CBDA começou em 91, isso eu tenho certeza. Eu acho que foi de 92 ou 93.
P/1 – Até hoje.
R – Até o fim da minha carreira. Depois do fim da minha carreira, em 2004, eu tive mais dois anos, que ainda fiz trabalhos com os Correios, depois disso se encerrou e voltou esse ano com outros tipos de trabalho.
P/1 – Como que aconteceu esse patrocínio com os Correios?
R – Foi via CBDA, sempre foi linkado ao patrocínio da CBDA, então, a CBDA tem toda a estrutura que ela oferece de viagens e estruturas de treinamento e tudo mais, e com patrocínio individual para os atletas. Então, os Correios patrocinavam os atletas via CBDA, já que patrocinavam a instituição. Então, os Correios sempre foram um parceiraço, sempre estiveram presentes, sempre estiveram segurando mesmo os investimentos que a Confederação fez e o apoio para os atletas.
P/1 – Tinha alguma exigência assim, alguma contrapartida?
R – Tinham várias exigências contratuais e de imagem, por exemplo, de presença em eventos. Não tinha cobrança por resultados, mas acho que a cobrança por resultado era uma coisa meio que natural de quando você está com... Eram contratos anuais e renovava se você tivesse uma boa performance ou não, então, isso era uma coisa meio natural. Mas a contrapartida era a imagem e era a presença em eventos, e assim por diante.
P/1 – Sempre foi igual? Ou teve alguma fase que o patrocínio foi diferente, dos Correios?
R – Diferente em que termos?
P/1 – Não sei, de exigência, ou que você sente assim: “Ah, os Correios agora está assim, ou está mais assado”?
R – Foi diferente depois que eu parei de nadar, aí, era um contexto diferente na minha relação, era uma relação diferente, não de atleta, mas um ex-atleta e com obrigações um pouco diferentes também. Era muito mais voltado para presença em evento, fazendo eventos buscando a motivação e semear a natação pelo país. Fiz vários eventos em várias Federações. Isso era muito bacana. Mas em termos de diferença, eu não me recordo de nada muito específico assim, contratual. Não sei, não sei se tiveram grandes mudanças ou não. Pode até ter sido alguma coisa ou outra, mas contratualmente e de apoio era aquilo.
P/1 – Você tem alguma competição, alguma história na natação que tenha te marcado, sem ser ligado às Olimpíadas ou essas grandes? Alguma competição antes de você estar nesse universo todo que tenha te marcado?
R – Antes de estar nesse universo, várias competições. Antigamente, e até acabei fazendo isso durante um período da minha vida, tinha troféu de natação ou festivais de natação que eram marcados por um patrocínio e por uma natação não federada, na qual eu participei muito. Então, você tinha o Troféu Jovem Pan Kibon, você tinha Troféu Pernambucanas de Natação, Taça Bobs de Natação, e depois eu fiz o Troféu Gustavo Borges durante 11 anos. Então, durante a minha carreira não federada, essas competições eram as mais importantes. O Bobs veio durante a minha época de alto rendimento, então, eu não participei, mas Pernambucanas e Jovem Pan, eu cresci nadando nessas competições.
P/1 – Tem algum causo, assim?
R – Tem um causo específico. O Troféu Pernambucanas de Natação era Troféu Ricardo Prado Pernambucanas de Natação e tinha umas das competições, eu vim aqui em São Paulo, então, você tinha uma seletiva no interior, depois você vinha para São Paulo fazer outra seletiva e competir a final. E numa dessas seletivas, eu fui nadar, minha sunga caiu. Esqueci de amarrar a porcaria da sunga, na hora que eu nadei, pulei, a sunga caiu, eu tive que nadar e segurar a sunga. Então, eu estava cotado para pegar entre os primeiros, acabei ficando em 12º, por exemplo. Isso me levou para uma final B, não para final A. E, aí, na final nadou a final B, depois a final A, e eu superei o tempo, eu ganhei a final B e superei o tempo da A. E eles distribuíam na Pernambucanas uma medalha linda, era enorme, para gente. Eu estava procurando alguma aqui, quanto maior a medalha, melhor, mais pesada. “Nossa, essa medalha é linda.” Talvez a competição não fosse nem tudo aquilo, mas se a medalha fosse pesada e bonita, você queria aquela medalha. Apesar de que a Pernambucanas, por não federada, era o “ó do borogodó” ali. Eu nadei a final B, superei o tempo e ganhei uma medalha de superação do tempo. Então, a única medalha, até nem sei onde está essa medalha hoje. Eu superei o segundo. Não superei o primeiro, mas superei o segundo, então, eu ganhei a medalha de segundo lugar. Eles ganharam as três medalhas e eu ganhava a superação. Então, chamava medalha superação de tempo. Então, fui sozinho lá para receber a de superação, superbacana. Pega um cara numa outra final, que não estava na final, e eles davam uma medalha. (risos) Essa medalha foi interessante.
P/1 – E os bastidores das Olimpíadas como eram? A primeira que você participou assim?
R – Tem de tudo. Tudo de graça, né? Então, você chega lá moleque, pô, fica impressionado com tudo. Barcelona foi uma Olimpíada fantástica, praia particular para gente, McDonald’s, Pizza Hut, tudo ali a nossa disposição, área internacional, as paqueras, tudo, tudo era interessante. Não conhecia nada, então, era uma coisa muito viva ali, então, você encontra de tudo, você encontra gente lá que vai enfiar o pé na jaca, você encontra gente que vai lá só dar pré-resultado, você encontra gente lá que vai para fazer os dois: se divertir e dar resultado, que sempre foi um pouco do meu direcionamento, do meu modelo: “Pô, se divirta, mas dê resultado”. E é tudo muito bacana. Você tem muito tempo livre, porque você está treinando pouco e você está competindo. Então, essa competição, você chega lá uns três, quatro dias antes, você treina muito pouco e fica lá curtindo, segurando a onda para não fazer muita besteira para você competir. E hora que começa a competição, você está muito ocupado e, aí, toca o pau, mas é interessante. A Olimpíada é um momento particular, é um momento bacana, um cheiro diferente, energia diferente, a área internacional com as bandeiras ali para um lado e toda aquela mistura de culturas onde você está ali trocando experiências.
P/1 – Quanto tempo fica fora?
R – Não entendi a pergunta.
P/1 – Quanto tempo fica lá?
R – Na Olimpíada?
P/1 – É.
R – Depende, normalmente você chega lá... Hoje em dia mudou um pouco, está muito mais profissional o negócio. Na Olimpíada de Barcelona a gente deve ter chegado lá uns quatro, cinco dias antes. Até uma semana, não, acho que uma semana seria muito. Acho que foi uma semana, porque todo mundo viajou direto para Barcelona e lá a gente foi para Vila. Já em 96 a gente fez uma aclimatação antes em Memphis, depois foi para Atlanta. Mas normalmente o pessoal faz uma aclimatação em algum lugar hoje em dia. Faz uma aclimatação em algum lugar e depois você vai para Vila Olímpica já adaptado ao fuso horário, alguma coisa assimEu vi situações em 2012, quando você está fora da Vila Olímpica, por uma questão de logística e de espaço, você está fora da Vila Olímpica, vai um dia antes, compete e sai no dia seguinte, o judô fez isso. Então, antes você tinha muito mais tempo na Vila Olímpica, você podia curtir aquele momento: “Agora eu estou na Vila. Agora eu terminei de nadar, fico mais uma semana”. Hoje acabou isso. É muito caro o atleta ficar na Vila e o espaço para os países ele é reduzido, então, toda a logística de construção, a logística de alimentação, de gente, pá pá pá, depende muito dessa logística de você entrar, competir e sair. Então, não tem mais o “curtir muito a Vila”. Você curte a Vila, mas curte rápido, você vai “vazar” daqui a pouco. Algumas equipes você até consegue ficar, o Brasil pelo menos. Nessa última teve uma sequência assim, terminava, tinham entradas e saídas e eles ficavam no Crystal Palace e tal. Mas é assim.
P/1 – E você nadou oficialmente até quando, assim, competindo pelo Brasil?
R – 2004 na Olimpíada de Atenas foi a última Olimpíada.
P/1 – E aí depois?
R – Aí é isso aqui que você está vendo.
P/1 – E qual foi o momento de decisão, assim, de parar em 2004?
R – Eu acho que foi em 2001. Em 2000 eu não sabia se eu ia chegar a 2004. Se perguntasse em 96 também eu não sabia que eu ia chegar a 2000, porque antigamente com 26, 27, você era velho no esporte. E a minha geração foi que envelheceu, pelas questões financeiras que acabaram acontecendo, os patrocínios para que a gente chegasse no ponto que a gente chegou. E naquele momento, em 2000, falei: “Vou dar um descanso”. Aí eu voltei a treinar em 2001, ainda estava com um pouco de gás, assim, estava voltando para o Brasil, tinha outros interesses, queria começar a fazer uma transição, aí, comecei a investir em academia, em outros negócios. Investi em bares também, eu fui sócio de três bares aqui em São Paulo.
P/1 – Quais bares?
R – Chamava Favela. O Bar Favela, da Atílio Innocenti, não sei se vocês conhecem, eu sou o sócio-fundador daquele bar. Tem outro que era do lado, chamava Swahili. Você pegou também o Swahili? Aí tinha outro Favela, que era aqui onde é um Starbucks hoje, na Lavandisca, aquele local, aquela estrutura assim também foi a gente que montou.
P/1 – Por que você decidiu entrar nesse ramo?
R – Mais investimentos. Eu tinha amigos doidos para fazer isso aí, falei: “Vamos juntos”.
P/1 – Você conseguiu juntar dinheiro com a natação?
R – Sim. A natação me deu muita flexibilidade para investimentos nas coisas que eu fiz. E, aí, as academias vieram na sequência, a metodologia veio, que aqui é um escritório da metodologia.
P/1 – Depois desses bares que você abriu as academias?
R – Foi meio que junto. O primeiro bar foi em 2001, a primeira academia em 2002, o terceiro bar em 2003, o quarto bar em 2003, e aí em 2004 eu já não tinha mais bar nenhum.
P/1 – Por que você decidiu sair?
R – É um ciclo. O bar é sempre cíclico. Tivemos boas ofertas de compra, a gente vendeu. Aí: “Ah, vou abrir mais uma não sei o quê. Você está a fim de entrar?”. Falei: “Não. Não estou afim mais”. Aí saí de todos. Processo meio que natural.
P/1 – Aí veio a academia?
R – Aí as academias já estavam nesse... Tem muito mais a ver comigo, tem muito mais a ver com o que eu queria e proposta de trabalho.
P/1 – Bom, a academia está até hoje?
R – Estamos com cinco academias próprias e uma rede também na questão da metodologia, que hoje nós temos 250 licenciados.
P/1 – Como que é essa rede? Quando surgiu?
R – Surgiu em 2005.
P/1 – De sistematizar essa...
R – Isso. Em 2005 a gente percebeu que tinha um produto na mão que podia ser replicado. E a gente construiu a empresa focada nisso, focado em algo que era replicável e que ajudasse o empreendedor com o negócio dele.
P/1 – Em suma, qual é essa metodologia?
R – Quais são os diferenciais assim, que você quer saber?
P/1 – É.
R – O nosso trabalho é focado na estrutura do método, na estrutura pedagógica para ajudar o empreendedor com a parte da gestão aquática dele, tanto no aspecto operacional aquático, quanto pedagógico, esse é um ponto. O outro, aí, tem todos detalhes aqui, as avaliações, as divisões por níveis, as tocas, toda a questão pedagógica que envolve mapa de ocupação, que são aqui ferramentas de trabalho para esse bloco. O segundo é desenvolvimento profissional, a capacitação dos profissionais para que a gente possa desenvolver esses mesmos, tanto no processo da metodologia, como qualquer assunto aplicado à natação, seja ela infantil, bebês ou adultos, adulto iniciação ou condicionamento. Então, você tem fisiologia, você pode ter psicomotricidade, tem uma série de coisas ali. E o terceiro diferencial é a troca de experiência gerada por essa gama de clientes, então, soluções que vêm de um cliente vão para outro, troca de experiências em rede. Então, esses itens são fundamentais para gente fazer um atendimento que seja especializado nisso aí, oferecendo soluções para os nossos clientes. Se você quiser pegar imagens disso depois, está tudo escrito atrás de vocês isso que eu acabei de falar.
P/1 – Ah, tá.
R – Não estava nem colando, porque eu já decorei isso aqui. Você viu que eu nem olhei, mas você leu ali? Olha, “metodologia estruturada, atualização profissional, atendimento, integração do aprendizado em rede”. E ali as competências que a gente precisa ter para fazer isso aqui.
P/1 – E, aí, essa metodologia vocês passam para essas outras academias, escolas?
R – Academias, escolas, clubes.
P/1 – E esse patrocínio outro que você tem dos Correios é para desenvolvimento desse trabalho?
R – Hoje?
P/1 – É.
R – Não. Hoje é para trabalhar junto com os eventos e ações que os Correios tenham necessidade que eu trabalhe. Então, por exemplo, aquele evento que eu participei dos 350 anos, palestra motivacional para equipe dos Correios, desenvolver algum tipo de projeto que pode até vir a ser um caso de uma metodologia, caso a gente ache que isso é algo importante. Visitei um projeto que os Correios patrocina em Montes Claros, em Minas Gerais, com a prefeitura de Montes Claros.
P/1 – É um patrocínio para figura do Gustavo Borges?
R – Isso. Isso.
P/1 – Patrocínio de imagem.
R – Isso.
P/1 – Esse vem desde quando?
R – Esse é desse ano.
P/1 – Como é que foi o convite?
R – Para esse?
P/1 – É.
R – Foi via CBDA através de um contato dos Correios com a CBDA, com o Coaracy. Surgiu esse interesse, o Coaracy falou: “O que você acha disso?”. Falei: “Topo, estou dentro”. E aí eu conheço todo o pessoal dos Correios, a Graziela, a turma toda. Hoje eu lido muito com a irmã, não sei se você conhece a turma toda lá. E tem uma relação superboa aí de relação. Eu sempre tive uma boa relação com o pessoal dos Correios.
P/1 – Fora esse período que você disse que você... Você não tem essa memória? Algum carteiro que você se lembre da imagem dele?
R – Tipo o carteiro da nossa rua ali? Do nosso CEP?
P/1 – É, do seu CEP.
R – O CEP de Ituverava é um CEP só e é tudo Centro. Não sei se tem dois CEPs, não. Era 14500, acho, que era o CEP. 14500? É possível, depois olha lá, vê se é isso. Eu lembro que uma época veio 14500-000, porque depois colocaram mais três depois, aí teve toda essa aí. Mas não.
P/1 – Chegou a colecionar selo?
R – Cheguei. Tenho alguns selinhos, até hoje eu tenho alguns selinhos que eu ganhei comemorativo dos Correios, tenho algumas coisas.
P/1 – Mas você colecionava, assim, de pequeno? Quando você começou a colecionar, a guardar?
R – Eu comecei a me interessar por isso quando eu recebia os cartões postais, que eu mudei para os Estados Unidos, aí tinha um pouco dessa questão. Mas eu colecionava o cartão inteiro com o selo. Depois, como eu vivenciei muito tempo com os Correios, visitava muito Brasília, sempre estava ganhando, alguns eu guardava. Tem o selo da natação, não sei nem se eu tenho esse, mas tinham algumas coisas bacanas ali que a gente acabava sendo presenteado e tal, uma homenagem, alguma coisa assim.
P/1 – E se a gente puder, depois você dá uma olhada se você tem esses selos, esses cartões, a carta que você trocava com seu amigo para gente...
R – Tá. O seu cartão é esse aqui, né?
P/1 – É.
R – Não, eu vejo sim. Você precisa de imagens disso?
P/1 – É. Se você puder emprestar para gente digitalizar.
R – Eu posso tirar e mandar para você?
P/1 – É que a gente precisa tirar com alta, porque é para livro, exposição. Aí se você puder emprestar, a gente tira e devolve no mesmo dia.
R – Eu vejo o que eu tenho, trago aqui, vocês vêm aqui e tiram aqui.
P/1 – Está ótimo.
R – Aqui é um lugar bom para vocês tirarem.
P/1 – Pode ser.
R – Não na semana que vem, na outra você me procura.
P/1 – Tá. Tá bom. Pode deixar.
R – Que na semana que vem eu estou viajando.
P/1 – E você casou quando?
R – Eu casei em 1998.
P/1 – Como você conheceu a sua esposa?
R – Conheci nadando, ela foi nadadora também, nadadora espanhola, nadou em duas Olimpíadas. A gente se conheceu nesse meio, treinamos juntos em 96 para as Olimpíadas e ali que o negócio deu um “catranco”. E, aí, desde então a gente casou.
P/1 – E seus filhos nasceram quando?
R – Meu filho nasceu em 99, o primeiro.
P/1 – Como é o nome dele?
R – Luis Gustavo, e a segunda nasceu, que é menina, a Gabriela, nasceu em 2002, três anos de diferença.
P/1 – E hoje, sua rotina como é? Você vem aqui, trabalha...
R – Ah, a gente vem aqui se diverte, tem uma agenda, que eu acabo fazendo dependendo das necessidades aqui que a gente tem, os planejamentos aqui da turma. A gente tem uma equipe muito boa aqui, que acaba mais me puxando, os projetos jogam as iscas assim, a turma já está muito craque em tocar os projetos, assim, isso é bem legal. Alguns projetos importantes que eu acabo assumindo um pouco. E hoje eu estou muito voltado para área comercial aqui da metodologia. Eu sempre fui muito voltado para as questões de produto e atendimento, toda a metodologia, a minha preocupação era muito grande com isso, com a qualidade do que a gente estava vendendo, como a gente estava entregando isso, tanto aqui, como nas academias. Então hoje eu estou muito mais na operação, e essa parte está muito bem resolvida com a turma que eu tenho. E a parte de vendas é onde precisa mais da minha ajuda e onde eu gosto, assim, na parte de novos negócios.
P/1 – Tem origem do pai lá atrás.
R – É, aí, você resgata a origem. Eu gosto disso e gosto de novos projetos, então, umas coisas que eu interfiro muito junto com os gerentes. E nas academias, eu fico muito mais voltado nos clientes, então, quando eu visito uma academia, é difícil eu entrar no aspecto operacional, a não ser que precise, mas aqui eu estou direto na operação, nas academias, menos. Então, eu tenho uma agenda muito intensa aqui nesse escritório, nas visitas às unidades, tanto as minhas, quanto da metodologia, e com palestras que eu faço ainda hoje com muita frequência e que consomem muito meu tempo, palestra motivacional. A agenda eu que monto, então, ou eu estou aqui, ou eu estou na academia, ou eu estou viajando, visitando, ou fazendo uma palestra. E por aí vai, então, semana que vem, por exemplo, eu vou para Recife, vou visitar uma cliente, que é a Companhia Atlética, que está fazendo um evento que eu vou participar lá. E assim vai, então, assunto é o que não falta. Só aqui na metodologia são 85 eventos que a gente vai realizar esse ano, com capacitação, com treinamento. Então, assim, se eu estou com vontade de desenvolver pessoas, tem área que eu possa infiltrar ali, eu participo disso também. Fora os colaboradores, que é um processo natural de desenvolvimento, se eu quiser trabalhar junto com os meus clientes, com uma palestra, tal, tem assunto para tudo.
P/1 – O que você acha dos Correios estar resgatando a história dos seus 350 anos através da história de vida das pessoas que de alguma maneira se relacionaram com os Correios?
R – Ah, eu acho legal, porque os Correios, as pessoas vivenciaram e vivenciam muito essa relação. Aqui, pô, todo dia vem o nosso representante, não sei se... O Correio é franqueado? São franquias?
P/1 – É. Tem unidade própria e tem o franqueado.
R – Tem o nosso parceiro Correios, que todo dia aqui vem o rapaz aí pegar. Não sei o nome dele, mas...
P/1 – Vocês mandam muita encomenda?
R – Muita, a gente manda muita encomenda.
P/1 – Que encomendas?
R – Como a gente trabalha com material pedagógico, com material didático, esses livros, essas avaliações são em papel, então, eu envio esses papéis, esses materiais pedagógicos de acordo com os pedidos dos meus clientes. Então, tem pilhas de coisas aqui que o pessoal, então, não sei se é diário, mas acho que uma ou duas vezes no mínimo por semana. Dependendo da época, acho que liga, manda vir buscar aqui. Mas é diário. Aqui todo dia tem. Ás vezes mais, às vezes menos, mas a gente utiliza muito o serviço dos Correios, dessa unidade específica que a gente tem contrato. Eu acho que a unidade nem é aqui próxima, viu? Não é a unidade mais próxima daqui, é uma unidade que fica ali em Santo Amaro, que acabou oferecendo uma condição, não sei como funciona ali o serviço, vem buscar, tem toda um “nove horas” que a turma aí sabe.
P/1 – O que você achou de contar a sua história de vida?
R – Então, deixa eu só completar.
P/1 – Ah, tá.
R – Tem dois momentos do Correio, uma necessidade muito pessoal, que hoje com o e-mail, com internet, com Facebook, acabou diminuindo muito essa questão das cartas. E a gente, dentro do nosso negócio, em determinados momentos a gente resgata um pouco isso, de escrever uma carta à mão, de enviar, de mandar um cartão postal, ou mesmo fazer alguma ação dentro da nossa unidade que resgate isso. E quando a gente está resgatando alguma ação meio retrô, que seria o caso de você enviar uma carta escrita, você resgata os Correios. Então, vou enviar pelo correio, independente se for correio eletrônico, então, o e-mail é correio eletrônico. Por que é que é “correio”? É “correio” por causa dos Correios. Então, tenho uma relação muito forte com a marca, tenho uma relação muito forte com a história dos Correios, de estar presente, de estar em todas as cidades, em múltiplas unidades em várias cidades. Isso é uma coisa muito legal, e resgatar isso através da história das pessoas eu acho que é legal, porque a memória que traz de uma lembrança positiva, uma saudade, o orgulho, o sentimento, a relação de confiança, tudo isso você podia fazer através de cartas. Às vezes, a dificuldade de você se comunicar por telefone, era caríssimo uma ligação, uma carta já dizia tudo aquilo. E hoje a praticidade, é lógico, que hoje a utilização aqui, pelo menos da nossa turma, minha particularmente, é muito voltada para o negócio, também nos traz uma confiança, uma entrega onde eu tenho essa relação que o meu cliente precisa. Então, a hora que eu penso nos Correios, eu penso nessa relação de confiança, penso nas questões sentimentais, que eu já tive em relação a ele, e eu acho muito bacana esse processo de contar, através das histórias das pessoas, essa relação. Então, parabéns.
P/1 – E o que você achou de contar a sua história de vida?
R – Achei legal, achei legal, eu não sabia exatamente qual ia ser o caminho, mas já pelo título que a... Como chama?
P/1 – Museu da Pessoa.
R – O Museu da Pessoa, e a Bárbara me contou um pouquinho do que ela fez, eu imaginava, mas eu não sabia que ia começar assim, bem lá na raiz, né? “E seu avô, sua avó?” Não sei. Acho que talvez eu estava pensando num enredo um pouco mais voltado para o esporte, que ele acaba em determinado momento... Não dá para separar muito do enredo ao esporte. Mas foi muito legal. Gostei.
P/1 – Obrigada.
R – De nada.