Apesar de num primeiro momento parecer introvertido, Moacir revela uma habilidade de expressão marcante, que modificou aspectos de sua trajetória.
Histórias de Internautas
Um grande sujeito
História de Moacir José Mattos
Autor: Thiago costa
Publicado em 23/04/2017 por Thiago costa
Programa Mostra SESC Museu da Pessoa
Depoimento de Moacir José Matos
Entrevistado por Tiago da Silva Costa e Juliana Vilanova
São Paulo, 18/03/2017
Realização Museu da Pessoa
MSMP_HV10_Moacir José Matos
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Qual é o seu nome?
R – Moacir José Matos.
P/1 – Sua idade.
R – Quantos anos eu tenho? Sessenta e três.
P/1 – Seu Moacir, fala pra mim a cidade em que você nasceu e como que era a sua vida durante sua infância, seus pais, seus avós.
R – Eu nasci na cidade de Rio das Pedras, município de Piracicaba. Eu não me lembro muito bem da infância, não. Eu não tenho muita lembrança de criança. Logo depois a gente veio pra São Paulo, então... se quiser eu já começo a contar dos rios, do piscininha, nadava no rio do piscininha ali. Depois quando a gente mudou pra Osasco ia nadar no Lago Azul, no braço do rio Tietê, jogava bola, estudava. Estudei no colégio Francisco Bono, na Vila São José terceiro e quarto anos. Depois nós mudamos pro Jardim Oriental, onde meus irmãos moram até hoje. Em 77 eu casei, nós moramos um pouco lá no Jardim Oriental, depois nós compramos uma casa e moramos no Jardim D’Abril há 35 anos.
P/1 – Vocês são em quantos irmãos?
R – Onze.
P/1 – Como é que era a convivência entre esses 11 irmãos?
R – Eu vou falar o que minha mãe falava, que eu era diferenciado não sei por que, qual o motivo? Desde pequeno eu sempre trabalhei, eu sempre fui independente. Não sei por que, mas eu sempre fui independente. Na Vila São José eu moía caldo de cana, o cara pagava pra gente. Do outro lado da ponte do rio Tietê tinha um cara que fazia cocada num tachão grande, pra gente lavar o tacho a gente tinha que raspar, então a gente cobrava o tacho de cocada. E ali era muito bom, eu morei dois anos lá na Vila São José, que tinha um braço do rio Tietê, que a água era limpinha, tinha carpa de quilos, tinha o campo do Bola Branca, onde a gente jogava, brincava lá. Mas aí chegou a Castelo Branco, a gente teve que mudar e a gente mudou para o Jardim Oriental, onde meus irmãos, minha mãe e meu pai moram até hoje. Minha mãe e meu pai já são falecidos, mas os meus irmãos moram na mesma casa lá, que é onde a gente mudou há 50 anos. Depois nessa época eu conheci a Edna, nós começamos a namorar, casamos, hoje nós temos dois filhos, três netos, o terceiro neto está chegando aí, o Lucar. A gente mora na mesma casa, graças a Deus, há mais de 35 anos, no Jardim D’Abril.
P/1 – Como era a convivência com seus pais?
R – Eu tive muita convivência com a minha mãe. Meu pai uma vez quis me bater com um fio de ferro, eu quase bati nele e nunca mais ele pôs a mão em mim. Eu era moleque, não sei quantos anos eu tinha. Eu não tinha feito nada e ele quis me bater com fio de ferro, eu tomei o fio de ferro dele e quase que eu bati nele. Mas com a minha mãe eu tive muita convivência, eu gostava muito da minha mãe. Inclusive ela foi várias vezes com a gente pra Bertioga, eu cuidava muito da minha mãe. Assim que eu entrei na Santista ela tinha aquele problema, depois de 11 filhos, teve aquele problema que as mulheres têm, que tinha que fazer uma cirurgia e, graças a Deus, na Santista a mãe tinha direito ao meu convênio. Logo que eu soube disso eu falei: “Ah mãe, a senhora vai fazer essa cirurgia’, que ela já estava há tempos querendo fazer e não conseguia fazer em lugar nenhum. Graças a Deus ela fez no doutor Curi lá em Osasco, que é um ginecologista muito bom, que é famoso em Osasco, ela fez e deu uma sobrevida muito boa pra ela porque ela estava muito mal com esse problema. Não sei o que é, problema de mulher que teve muitos filhos. Ela teve 12 filhos, segundo ela o mais bonzinho nasceu morto (risos).
P/1 – E como é que foi a passagem durante a sua adolescência? Você começou a trabalhar bem cedo.
R – A minha adolescência, trabalhar eu trabalhei a vida toda, sempre eu trabalhei lá mesmo na casa. Eu ia pra escola, eu estudei no Umuarama dois anos, fiz o terceiro e quarto anos no Umuarama, que é uma perto de casa lá e quando eu voltava eu olhava no jirau se as panelas estavam tudo em cima do jirau sabia que não tinha comida. Então eu ia, pegava sorvete no cara lá, vendia, eu ia dali do Jardim D’Abril até o Morumbi, aquela avenida que tem lá no Morumbi, que sai da frente do Morumbi e vem até a Francisco Morato, eu vi os caras começarem a escavar elas lá pra canalizar. Era onde eu vendia a maioria do sorvete (risos). Então durante um tempo eu vendi sorvete lá. Depois eu entrei na Santista, comecei a trabalhar, meu pai sempre foi muito bom padeiro, ele falou: “Ah Moacir, se você me ajudar a fazer um forno aqui a gente vende pão, tal”. Eu falei: “Não, pai, não tem problema”. Peguei e fiz um forno enorme que cabia 20 assadeiras dentro do forno e comecei a vender pão. Eu saía lá do Jardim D’Abril e ia até o Morumbi vendendo pão doce. Depois ele teve uma hérnia, não conseguiu mais trabalhar. Aí derrubaram meu forno e fizeram um quarto pra eles lá (risos), está lá até hoje o quarto que eles fizeram com o meu forno. Aí logo eu com 13 anos, a Edna com 11 anos, nós começamos a namorar. A tia dela me pegou pelo colarinho uma vez, quase que eu dei uns tapas na orelha dela e depois ela não mexeu mais comigo (risos). Nós começamos a namorar, namoramos 11 anos, graças a Deus casou virgem, nós nos amávamos com amor de criança mesmo, que eu tinha um pouco mais de idade que ela, mas também não era lá essas coisas (risos). E graças a Deus foi uma convivência muito boa no nosso namoro, por isso nós temos um casamentinho de 30 e poucos anos. Quantos anos? 77, 40 anos. E 11 de namoro. Então nos conhecemos há 51 anos.
P/1 – Como vocês se conheceram, você se lembra?
R – Ah, ela ficava mexendo comigo da casa. Eu jogando palitinho na frente do bar da casa dela e ela ficava na janela. A gente começou, no primeiro encontro que a gente teve ela estava com um vestido vermelho e preto. Eu não lembro como eu estava, mas ela eu lembro. E a molecada toda veio atrás da gente, os primos dela, meus irmãos, um monte de gente atrás da gente. Ela corria atrás deles e depois a gente começou a namorar assim. O pai dela não queria, a mãe dela não queria, a tia dela não queria. Tinha uma tia solteirona lá. Não, era casada, tinha um filho, mas era chata pra caramba. Eu falei: “Não, a senhora não vai impedir a gente de namorar de jeito nenhum”. Logo eu fui falar com o pai dela, com a mãe dela e resolveu. Logo depois a gente casou, em 77 a gente casou. Passamos a lua de mel em Bertioga e não paramos mais. Passamos a lua de mel no Pavilhão Cinco, Quarto 20, do antigo.
P/1 – Vamos só retomar um pouquinho da parte que o senhor começou a trabalhar. O senhor trabalhou nesse período vendendo pães e como é que o senhor foi construindo sua trajetória profissional?
R – Eu comecei vendendo sorvete.
P/1 – É, vendendo sorvete, desculpa.
R – Não, comecei engraxando sapato no Jaguaré. Eu tinha que arrumar dinheiro pra assistir jogo no Pacaembu. Eu só comprava mistura pra minha mãe e depois ia pro Pacaembu. Depois nós fomos pra Vila São José. Na Vila São José só nadava e moía cana pro cara e lavava o tacho do outro cara pra comer a cocada. Depois nós mudamos para o Oriental, que é onde eu estudei os dois anos e tinha vez que eu saía, ia vender sorvete. Com 15 anos e meio eu entrei na Santista. Na Santista eu trabalhei três anos e meio, foi o que eles me aguentaram porque eles eram loucos para me mandar embora, só que eu era menor e eles não podiam me mandar embora, esperaram eu ficar maior (risos). Aí eles mandaram eu embora, eu entrei na Jaraguá, trabalhei nove meses na Jaraguá. Quando eu saí da Jaraguá tinha na vila uns 20 caras trabalhando em cobrança. Eu falei: “Isso aqui deve ser bom, né? Tanta gente trabalhando”. Foi quando eu comecei a trabalhar em Cobrança. Hoje só tem eu trabalhando, o resto logo depois saiu todo mundo e eu fiquei na cobrança, me aposentei em cobrança e trabalho em cobrança até hoje. Só que hoje em dia estou trabalhando 14 dias por mês só pra ir pra Bertioga, senão não arrumo dinheiro pra ir pra Bertioga (risos), nem pro Espírito Santo, nem pra Fortaleza (risos).
P/1 – E como era a sua relação com esporte?
R – Ah, eu sempre fui bom, eu mandava em todo time que eu jogava porque eu fazia gol, então os caras não reclamavam. Eu joguei muita bola, mesmo depois que eu quebrei a perna em um acidente de moto, eu fiquei cinco anos parado e depois joguei mais dez anos. Então eu joguei até quebrar a perna. Eu jogava e mandava no time porque os caras não... Porque eu arrumava jogo, eu falava pro cara, tomava dinheiro dos caras pra pagar mensalidade, que ninguém queria pagar. Eu falei: “Se não pagar não vai jogar”, então os caras pagavam. A gente tinha um campo, tinha vestiário, tinha tudo. E quando acabava o jogo punha uma caixa de cerveja pros caras. Eu não bebia, mas eu punha uma caixa de cerveja pros caras. Eu falei: “Se vocês querem alguma coisa vocês têm que colaborar”. Então eu tomei conta desse time durante uns sete, oito anos. Quando eu quebrei a perna, quando eu voltei eu comecei a jogar sem ter responsabilidade, só jogando. Eu fui até o tempo que a artrose não deixou eu jogar mais.
P/1 – E como era o dia a dia desse futebol?
R – Ah, era muito bom. A gente teve um time que nós jogamos mais de dez anos, do goleiro ao ponta-esquerda, nós jogávamos só fora e dava oito e meia o primeiro estava completinho no lugar que a gente marcava pra jogar, sabe? Eu que arrumava jogo, eu que comprava uniforme. Tomava o dinheiro dos caras e comprava, eu não comprava do meu bolso porque eu não tinha. E a gente sempre estava com uniforme novo, sempre com bola nova, a caixinha de medicação sempre cheia de medicação todinha que precisa para um tima de futebol. Então eu tinha... uma vez um cara quebrou a perna jogando com a gente, eu cuidei dele durante um ano, a hora que eu vi que ele já estava ficando veiaco eu falei pra ele: “Agora não vou te ajudar mais, não”. Durante um ano porque ele quebrou a perna jogando bola lá com a gente eu cuidei dele e da família dele, fazia compra e levava na casa dele. Então graças a Deus, Deus me abençoou nessa parte também porque eu sempre... os caras acham que eu sou metido. Eu não sou metido, eu sou justo. Se eu acho você legal, eu vou com você até o fim. Agora se eu vejo que você é traíra, eu não estou nem aí com você. E as pessoas não entendem isso, eles acham que você é metido, que você é isso. Sempre aquele que é contra você, né? Porque quem te conhece verdadeiramente, o cara embarca na sua numa boa. E graças a Deus eu não sei o que foi, até dentro da minha casa, sempre foi assim com meus irmãos, eu sou líder, com dez anos eu liderava em casa, falava: “Ô, tem que fazer isso, fazer aquilo”. E depois quando eu saí pra rua também. Onde eu entro eu entro quieto, daqui a pouco eu vejo que está tudo em cima de mim, entende? Todas as empresas foi isso. Só que é o tal negócio, Deus te abençoa, então você tem que estar atento a tudo o que está acontecendo. Então Deus não vai te dar as coisas só pela metade, ele vai te dar completo. As outras pessoas não conseguem entender. Eu trabalhei na Lojicred, tinha um cara de Santo André, onde tinha prestações altas de carro, porque a Lojicred financiava muito carro. Então esse cara fazia cinco anos que ele ficava em primeiro lugar na Lojicred inteira, sabe? No primeiro ano que eu entrei eu derrubei ele, ele ficou em segundo e nunca mais voltou pra primeiro. Aí isso causa até inveja dos caras, confusão, mas eu falei: “Não estou nem aí, eu estou fazendo o meu trabalho”. Como eu trabalhava em Barueri, Jandira, Itapevi e ele trabalhava no ABC, uma zona que tem muito dinheiro, prestação alta. E Deus me abençoava que eu ficava em primeiro lugar na frente dele. E isso o que acontece? Pra gerência os caras te idolatram, só que eles ficam jogando, jogam pros outros: “Ó, Fulano está fazendo isso, você não faz”. E os caras em vez de quererem fazer pra passar... mesma coisa, quando eu entrei na Lojicred aqui em Osasco tinha um rapaz de Carapicuíba que fazia cinco anos que ele ficava em primeiro lugar. Eu no segundo mês que eu estava trabalhando fiquei em segundo, no terceiro eu fui pra primeiro e não saí mais. Aí o cara fica com raiva de você. Eu falo: “Não, moço, eu não faço nada demais, eu só trabalho”. Ela mesmo é testemunha, eu saía às sete horas de casa e chegava às sete horas da noite. Se o cara quisesse falar pra mim: “Ó, eu só estou aqui tal hora”, eu falava: “Não tem problema”. Eu saía de Osasco e ia lá em Itapevi receber. Tem até uma história, uma vez a gente tinha prestado conta, então a gente saía pra almoçar. Eu nunca bebia, os caras bebiam, tomavam cerveja, caipirinha, eu só almoçava, comer eu comia bem. Só que eu eu tinha marcado com um cara que ele ia me quitar um carnê, ia dar um bom dinheiro. Ele falou: “Seu Moacir, eu vou estar aqui às duas horas da tarde. Só que quatro horas eu já estou com um táxi marcado que eu vou viajar e não sei quando eu vou voltar”. Eu falei: “Não tem problema”. Quando deu uma e meia, que eu estava me preparando pra sair de Osasco pra ir pra Itapevi caiu um pé d’água. Eu não tive dúvida, fui lá na moto, peguei minha roupa de chuva, minha bota. Os caras: “Onde você vai com essa chuva?” “Não, eu marquei com o cara, eu tenho que ir lá receber”. Eu sabia que se eu não fosse ele não iria pagar mais, que depois quando ele voltasse ia ser outro problema, aí já estava com o nome sujo, já ia ser outro problema. “Você está é louco, nós estamos tomando cerveja”. Os caras tudo tomando cerveja com calabresinha, eu só comia, os caras bebiam e eu só comia. “Com essa chuva” “Não, eu marquei com o rapaz eu vou”. Então eu acho que isso me ajudou a ser firme. Uma: você não consegue mudar minha opinião de jeito nenhum, nem você, nem ninguém. Eu nunca deixei isso. Quando alguém chegava desse jeito, até meu pai. O meu pai uma vez quis me bater, eu falei: “Por que você veio me bater? Você não vai me bater. Nós vamos rolar aqui, mas você não vai me bater” “Não sei o quê”, ele veio com a cinta dobrada, que era o jeito que ele batia nos meus irmãos. Eu falei: “Em mim você não vai bater com isso aí, não, que você vai apanhar”. Eu falei: “O que eu fiz pra você?”. Ele queria bater porque nunca tinha batido em mim. Não bateu. Então eu sou assim. Tem cara grande, tinha uns caras enormes no campo lá: “É, não sei o quê, não sei o quê, você é dono daqui?” “Não, não sou dono, mas eu quero organização. Você quer ficar aqui? Aqui é assim, assim e assim” “É, que não sei o quê” “Não, o caminho da onde você veio você pode voltar, desse jeito a gente não quer você aqui” “É, mas você não manda nada aqui” “Ué, então vai falar com quem manda”. Ele ia lá e o cara falava: “Não, você tem que falar com o Moacir”. Então, Deus me deu esse dom graças a Deus e eu não uso mal. Eu podia até usar pra mal, graças a Deus, Deus permitiu que a gente ficasse assim. Até na igreja eu sempre tive problema na igreja porque na igreja neguinho tudo quer: “É Deus, não sei o quê”. É Deus faz tudo, mas as coisas que os humanos têm que fazer é nós. Eu não vou fazer coisa pra te... eu nunca precisei, e Deus me deu essa benção graças a Deus, eu nunca precisei puxar o saco de ninguém. Quando chegou na igreja eu vi um monte de puxa-saco e os caras queriam que eu fizesse a mesma coisa. Eu peguei e resolvi. Eu sou diácono da igreja, eu faço só a minha parte agora, quando estou escalado eu vou, faço o que tem que fazer e pronto. Por quê? Porque os caras querem rodinha, querem coisa e eu não sou de rodinha. Eu e a minha mulher, a gente fala assim: “Nós temos poucos amigos”. Não temos, não, nós devemos ter muita gente de amigo, só que os caras não querem frequentar sua casa porque querem fazer o que fazem na casa dos outros e na minha casa não faz, nem meus filhos fazem. Nem minha mãe e meu pai faziam. Meus irmãos não me visitam. Um dia eles falaram que eu sou metido, então eu sou metido é problema de vocês, a casa está lá, quem quiser ir pode ir, vai ser bem recebido, mas eu não vou insistir com eles pra eles irem visitar. Quando eu tenho saudades eu vou lá e vejo, converso com eles, pronto. Mas é assim, minha vida é assim. Graças a Deus depois que eu conheci minha esposa, começamos a namorar, nós somos muito felizes, nós temos dois filhos, agora já estamos indo para o terceiro neto, graças a Deus. O que a gente pode a gente ajuda os filhos, tudo. Tanto meu filho tem uma empresa que está no meu nome, que é um risco danado porque ele é meio cabeça dura, mas infelizmente é o jeito dele trabalhar. O cara é um excelente guitarrista, é um dos melhores guitarristas que tem aqui em São Paulo, não é eu que falo, é quem conhece ele que fala e resolveu fazer CD, ele não quis tocar. Ele podia estar em qualquer dessas bandas gospel que ganham cinco, seis paus por mês e ele enterrou o talento, não quis, mas precisa ver o menino tocar, você não vê os dedos dele na guitarra. E não sei, Deus sabe o que quer. E não sei, Deus sabe o que quer, né? Então ele trabalha com dificuldade. Até hoje a menina atendeu o pedido da gente, eu falei: “Filha, compra uma casa pra você, qualquer lugar é bom”. Ela mora no CDHU lá em Osasco, a casa é dela. Falei a mesma coisa pra ele quando ele começou a namorar: “Filho, compra um terreninho, desse terreninho faz o que a gente fez, a gente fez isso. Esse terreninho você vende, compra um terreno melhor. Depois, quando você tiver condição você vende esse terreno e compra uma casa. Ele: “Ah, é difícil”. Paga aluguel há 12 anos. A minha filha mora na casa dela. Você dá educação do mesmo jeito, mas só que um pega e o outro não pega. Obrigar ele eu não posso porque a mulher dele queria morar em um apartamento. E o apartamento ele não estava podendo comprar. Eu falei: “Você compra um terreno em qualquer lugar no meio do mato”. Quando eu comprei meu primeiro terreno no Jardim Cirino, era mata virgem. Quando eu cheguei lá o cara falou: “Ó Moacir, seu terreno é esse aqui, é dez por 25”. Eu falei: “Tá bom, quanto que custa?” “Tanto” “Tanto”. Era seis mil, parece. Tá, eu deixei o terreno lá um tempo, logo depois quando eu estava pensando em comprar a casa, vi o negócio da casa, não sei se eu precisava dar entrada. Por que eu vendi o terreno, pra ficar com o terreno, bem? Sei que eu fui um dia lá, falei pro cara que me vendeu: “Vê se acha alguém pra comprar meu terreno que eu estou querendo vender esse terreno” “Não, quanto é que você está pedindo?” “Como assim?” “Eu quero comprar ele, eu compro”. Eu pedi, ele me deu o valor, eu guardei o dinheiro. Foi o dinheiro que eu juntei um pouco mais e eu comprei minha primeira casa, que era uma descidona da Rua Paraguaçu, que todo mundo odeia e a casa estava toda detonada, estava invadida. O cara que me vendeu a casa, fazia cinco anos que ele não ia ver a casa. Mas como meus irmãos moram lá, a gente mora lá desde 67 eu falei: “Não”, como eu conheço todo mundo e era perto do campo onde eu jogava, eu falei: “Não”, fomos lá, demos um tapinha na casa, tudo e nós moramos cinco anos nessa casa. Quando acabei de pagar a casa eu já corri tirar a escritura porque o cara era estrangeiro e a mulher dele já tinha morrido. E pra depois você pegar a escritura de uma casa que o cara é estrangeiro, é o governo que vai te dar essa escritura. Dizem que é o maior rolo do mundo. Então eu peguei um dinheiro, corri lá, levei o cara do cartório, que ele falou que o livro de ata lá não sei o quê não pode sair pra ir de ônibus, tem que sair dentro de um carro. Eu falei: “Não tem problema”. Peguei um táxi na Xavier de Toledo e fui até a Vila Sabrina, lá pra baixo no final, na casa do homem que estava lá, o homem já estava quase pra morrer também. Se ele morre a casa vai pro governo, aí virava um inferno pra você tirar a escritura com o governo. Ele já assinou a escritura, tirei tudo, fui no cartório, já peguei a escritura. Quando cheguei em casa com a escritura na mão falei: “Bem, agora a casa é nossa”. Ela sentou, olhou e falou: “Eu quero é mudar daqui”. Eu falei: “O quê? O que você quer?” “Eu quero é mudar daqui!”. Só que ela já estava vendo, ela é uma veiaquinha também, sabe? Ela já estava vendo essa casa que a gente mora, que era uma casa perto de onde ela morou, na mesma rua, só que ela morava no final da rua, virando assim, e a casa era aqui na Emilio Rizzo. Eu falei: “Tá legal, então vamos lá”. Eu fui lá, o cara era um vidraceiro na avenida lá, o Zé Antônio. Eu fui lá: “Ô Zé Antônio, eu estou interessando em sua casa, eu quero ir lá ver”. Ele: “Não, vamos lá, Moacir, vamos lá ver”. Tinha gente morando quando nós fomos ver? Tinha, né? Tinha um pessoal porco, a casa estava toda imunda. O Zé Antônio falou: “Eu quero mostrar a casa pra esse pessoal porque eles estão querendo comprar”. Eu olhei, olhei, falei: “Poxa, a casa é uma delícia”. A casa era linda, linda. Tem 15 metros de zetaflex, aí faltou um pouco lá e eu completei. Quando chove você só fecha, quando está sol você abre e pronto. Eu falei pro Zé Antônio: “Ah, tudo bem, eu gostei da casa, meu. Dá para eu pagar o que você está pedindo, só que eu não tenho entrada porque acabei de tirar a escritura da minha outra casa”. A hora que eu falei escritura eu vi que os olhos dele brilharam. Eu falei: “Ôpa, é por aqui que nós vamos”. Você vê, são detalhes que você tem que estar atento, né? A hora que eu vi que os olhinhos dele brilharam, que eu falei que eu tinha escritura, eu falei: “Tá feito o negócio. Se você quiser eu dou a minha casa lá como entrada e acabo de pagar o que você paga aqui”, ele pagava pelo BNH e faltavam quatro anos. Ele: “Tá feito, tá feito o negócio. Vamos no cartório amanhã, a gente já faz tudo, já tira escritura”. Eu falei: “Legal”. Foi pá. Eu morria de medo de BNH porque essa aqui queria comprar sobrado pelo BNH de tudo quanto é jeito. Eu falei: “Não”. Faltavam quatro anos pra gente pagar, aí o governo congelou. A última prestação que eu paguei foi um real e sete centavos. Aí já tirei a escritura e é onde a gente está há 35 anos.
P/1 – E como é a convivência ali no bairro?
R – Ah, muito boa! Graças a Deus que a maioria das pessoas na nossa rua é tudo proprietário. Ah, uma que a gente não dá muita conversa, não deixa ninguém entrar na nossa vida, nem família, muito menos vizinhos. Não tem essa de vizinhos estar dentro da minha casa. Vizinho é bom dia, boa tarde, boa noite. Porque esse negócio de entra e sai, eu não aceito. Até minha sogra demora pra caramba pra ir lá, minhas cunhadas demoram pra ir, mas elas são bem-vindas (risos). Mas elas demoram pra ir também. A gente mais vai na casa delas porque a minha sogra toma conta dos meus netos, então, quando a gente quer ver o neto a gente vai na casa dela (risos). Mas eu e ela somos muito fechados na gente. Se você perguntar o que está acontecendo com o vizinho... agora que a casa que é parede e meia com a gente, que o proprietário morava lá, agora ele comprou outra casa e está alugando, é terrível. A mulher que está lá vive brigando com o marido, fica enchendo o saco. E agora ela tem uns gatos lá, eu já falei que eu vou matar aqueles gatos dela. Porque eu tenho essa zetaflex, o gato começa a andar, amassa a zetaflex, ela é fininha. Eu falei: “Eu vou falar com ela, ou ela dá um jeito naqueles gatos ou eles vão morrer porque se caírem lá dentro eu mato eles”. Ontem eu estava la, sorte que ele é filho, o filho da puta agarra em tudo quanto é coisa, né? Se ele caísse lá dentro eu ia matar ele. Eu vou falar com ela. Então é a única coisa que está atrapalhando a gente (risos), esses gatos da vizinha. Mas o resto. E a gente é muito feliz, graças a Deus. Isso que a gente fala do SESC, eu tenho o maior prazer, eu não falo do SESC só por aqui não, pra quem quiser ouvir eu falo, sabe? Tem gente que fala: “Como que você viaja?” “Eu viajo pelo SESC” “Ah, como faz?” “Não sei, você vai lá perguntar, vai lá procurar saber”. Eu não fico dando entrevista, sabe? Agora, é uma foto com os colegas aí, que esses caras viajam em 20 casais, é lá de Campinas e redondezas, é tudo já aposentado. Eles viajam muito. Então quando a gente se encontra é uma delícia. Eles ficam bravo que eu não jogo, nem jogo carta e nem bebo. Um dia eu contei, tinha 18 garrafas de diferentes bebidas na mesa deles. Em 20 casais, só dez homens. Tem umas mulheres que dão tapa no beiço também, mas os caras, enfim, são tudo, um foi gerente de banco lá em Campinas, outro foi não sei o quê, os outros aqui de São Paulo são tudo, tudo está com a vida organizada, sabe, e graças a Deus todos têm suas esposas, sempre viajam com elas.
P/2 – O senhor se lembra a primeira vez que foi pra Bertioga?
R – Me lembro, foi na lua de mel, minha filha.
P/2 – E qual o sentimento?
R – Ah, maravilhoso.
P/2 – O que o senhor sente toda vez que o senhor vai lá?
R – Ah, uma delícia, muito bom, muitas boas lembranças. Que nós tivemos um começo de vida muito bom, nós ficamos dez dias lá em lua de mel. Nós casamos no dia 28 de julho e nós ficamos do dia primeiro ao dia dez, esperamos três dias para ir pra lá.
P/3 – O senhor consegue contar essa viagem?
R – A viagem?
P/3 – É, como foi.
R – Ah, foi uma delícia. Nós casamos, tal, e já fomos pra nossa casa, que já estava montada, era uma casinha da minha sogra perto da casa dela. Nós moramos lá dois anos. E na lua de mel nós saímos da festa, graças a Deus foi uma festa. Bom, só time de futebol tinha quatro times convidados. Eu fui buscar um bezerrinho lá em Boituva. Não sei quem me falou, eu trouxe um bezerrinho. Eu mostrei para o cara: “É aquele lá”. Ele pegou, laçou o bezerro, matou e falei: “Fica com o chifre, os braços, o resto você me dá que eu levo tudo pra casa”. Tinha não sei quantos quilos e carne no nosso casamento. Ainda a minha sogra arrumou um cara que fazia churrasco bem, ah, foi uma... só de time de futebol tinha quatro times de futebol, fora família, vizinhos. E graças a Deus, quando se fala no meu casamento todo mundo fala: “Eu nunca mais vi um casamento daquele”. E não vai ter outro, não, porque eu não vou casar outra vez (risos). Foi muito bom, nossa. Sabe, a minha sogra arrumou um churrasqueiro lá da CBS, antiga CBS, e o cara fazia um churrasco, e ainda com carne fresquinha de bezerrinho. Eu não sei quantos quilos, deu quase cem quilos de carne. Tanto que o filé mignon e as coisas eu peguei tudo pra nós, pra levar pra casa. E outra coisa, eu comprei mil pãezinhos. Eu não vi um pãozinho jogado no chão, pisado, que os caras não comeram, acabou tudo. E a hora que acabou eu mandei todo mundo embora, eu falei: “Vocês vão embora que acabou tudo, agora não tem mais nada”. Os caras todos amigos. Meu irmão mais velho levou um fogo paulista, eu não vi. Depois que os caras falaram: “Moacir, estão dando fogo paulista ali”. Eu falei: “Ah, se vire. Está fora de casa?” “É, está lá na rua” “Então é problema dele”. Porque eu comprei naquela Antartica perto da Cásper Líbero, tinha três barrios de chopes. Teve bastante chope, refrigerante graças a Deus. Bolo, quem foi que fez o bolo, bem? Nem lembro. Tinha bolo, tinha lanche, comprei mil pãezinhos, comeram tudo. A hora que acabou tudo eu falei: “Vai todo mundo pra sua casa agora que eu vou pra minha, vocês saem fora”. E como eu tinha um pouco de liderança nos caras, quase todo mundo foi embora, só ficou a família lá pra arrumar. Eu falei: “Estou indo embora”. Fomos pra casa e deixamos os caras lá. Graças a Deus foi isso.
P/1 – E aí teve a viagem pra Bertioga.
R – Aí teve a lua de mel que a gente já tinha marcado tudo, já tinha marcado antes. E os caras falaram: “Só vai poder vir dia primeiro”. Foi a primeira vez que a gente foi, né bem? E naquela época eram dez dias, era lá na Roosevelt que a gente marcava. Eu já fui na Roosevelt, já fui na Paulista, já fui na Vila Mariana, onde o SESC vai eu vou atrás, onde tem inscrição eu estou indo. Agora está fácil porque já tem em Osasco, não precisa andar, mas naquela época era só uma central que fazia, né? Na Rua Cubatão também eu fiz bastante. Eu tenho saudades do pessoal porque depois você perde o contato. Essa aí já está querendo vim pra Paulista, quer ir pra Itaquera, quer ir para não sei onde, daqui uns dias a gente já perde o contato também, porque cada um vai pro seu lugar e às vezes a gente fica no mesmo lugar. Então era o que a gente fazia. Quando eu trabalhava na Hermes Macedo, né, que eu trabalhava, como eu sabia que eu tinha direito eu tinha feito carteirinha, tudo. Falei: “Nós vamos pra lá” e não paramos mais até hoje.
P/2 – O que o senhor sentiu quando o senhor chegou lá em Bertioga?
R – Qual foi o sentimento? De não querer sair de lá. Eu estava com 23 anos, eu jogava bola de manhã, à tarde e à noite. Tinha noite que eu chegava e tinha que deitar e jantar. Mas aí foi direto, nós começamos a ir muitas vezes, feriados fomos muitas vezes, diária, mesmo quando ela saía de férias, quando eu trabalhava em firma que dava facilidade eu falava: “Meu, vou pegar dez dias, tal tempo”. Porque naquela época, hoje é ainda três meses que faz, né?
P/2 – Cinco meses.
R – Cinco meses agora? Agora época eram três meses. Nossa, agora passou pra cinco! Tá vendo como estou desatualizado?
P/2 – O senhor se lembra de algum caso que aconteceu lá em Bertioga no período que o senhor estava lá?
R – Ah, lá não aconteceu nada, graças a Deus, lá era só maravilha. De manhã a gente levantava, ia tomar café, do café a gente voltava pra escovar os dentes e ia pra praia. Eu nadava bastante, ela não, ela não gosta muito de água, mas eu adoro água. Aí eu jogava vôlei, jogava bola, bocha, malha, fazia de tudo. Ela só fica olhando.
Edna – Conta do tempo em que eles nos recebiam no coquetel.
R – É, tem disso, que vocês podem falar pros caras lá se eles não vão voltar, mas acho que não volta nunca mais. Durante alguns anos, não lembro quanto, mas toda vez quando eu chegava entrava pessoal, entrava quase todo mundo junto, que às vezes fechava a colônia dois dias, aí no terceiro dia quando abria entrava todo mundo junto. Aí o, como era o nome dele? Lembra o nome daquele cara que ficou muitos anos lá no SESC Bertioga? Aquele grandão, o cara era três metros de altura. Lembra o nome dele? Ah, eu não vou lembrar. Esse gerente ficou 30 anos lá em Bertioga. Nós fomos lá e acho que pegamos pelo menos uns 15 anos dele. Esse cara era assim, mas ele era muito dado com as pessoas. É o que eu falo até hoje, ele podia ser o que fosse, mas pra nós, hóspedes, nossa, era tudo limpinho, a grama era toda cortadinha, você não via sujeira em banheiro nenhum, você não via nada. Umas épocas aí a gente ficou até meio assustado, falou: “Nossa, o que está acontecendo?”. Eu não reclamo de nada, não vou reclamar com ninguém, nada, mas o gerente de agora era auxiliar desse cara. Depois que ele saiu, se aposentou, esse cara ficou, o que está lá agora, nem sei se é ele ou outro, mas funcionário nenhum olhava pra você, quando cumprimentava, cumprimentava com educação, sabe? Hoje em dia os funcionários são abusados que só eles. Comigo não, né, que eles sabem que é diferente, mas quando eles pegam os carinhas eles são abusados porque o cara pede uma coisa pra eles e eles falam: “Não, não vou fazer”. E é obrigação deles fazerem, você vai pedir coisa, está com o negócio sujo e você: “Dá pra você pedir pra alguém limpar aqui?”. Lá na praia, você chegava de manhã lá, a bocha estava o pano passado, a malha estava com o campo feitinho. Hoje em dia, ó. Campinho de vôlei estava certinho. Hoje em dia você nem vê alguém jogando. Quando vai esse pessoal que eu falo pra vocês, eles fazem um campo de malha lá, então de manhã a gente joga malha lá, à tarde eles jogam baralho e eu não sei jogar baralho, então às vezes eu vou lá só pra comer os petiscos deles. E à noite a gente faz alguma coisa ou vai jogar dominó. Mas lá a gente teve muita amizade, só que é aquela amizade que você faz ali e é muito difícil você entrar em contato, né? Porque são muitas diferenças, pessoas de longe. Às vezes você até tenta, mas aquele contato não está mais. Então geralmente a amizade que a gente forma é só ali dentro, sabe? Esse pessoal mesmo, uns já me convidaram pra ir pra casa, mas eu e ela somos muito pacatos, nós somos muito daquilo de fazer... por isso que deu certo até hoje, é mais nós, a gente cuida mais da vida da gente. Minha filha agora está fazendo oito meses que ela está em casa, e a conta de luz, água e eles não tiram um tostão pra dar, mas muda, muda a sua vida. É uma benção porque eu estou cuidando dela lá porque ela mora em um prédio que não tem elevador e tem três lances de escada pra subir, ela mora no terceiro andar. A gravidez dela é de risco, tanto que ela está com ciclagem pra segurar o bebê porque ela já teve quatro gravidezes e perdeu. Lógico que a gente faz de tudo pra ajudar, né? Esses sete meses ela ficou levantando da cama, deitando no sofá, do sofá pra cama. Agora que começou a abusar, domingo passado ela tocou na igreja, tanto no sábado como domingo. Eu falei: “A cabeça é dela, ela é adulta, marido também”. O marido dela é um panacão, não fala nada.
R/2 – Bem, importante lembrar dos bailes à noite, terceira idade, os jovens.
R – É. A gente não dança. Você vê, a gente não dança, mas a gente adora ver eles dançarem. No tempo da lambada tinha uns funcionários lá que dançavam lambada pra caramba, eles estão lá até hoje, um trabalha no restaurante, o outro é um cabecinha branca, não sei se você já viu ele lá, ele trabalha parece que no almoxarifado. Eu não vou lembrar o nome dele. A gente jogava junto e toda vez que eles jogavam contra mim eles perdiam, eles ficavam doidos da vida. Porque eu entro sério, moço, eu não tenho, futebol pra mim não tem pai, não tem mãe, não tem nada, eu quero é ganhar. Eu sempre fiz isso. Eu joguei bola 40 anos, eu tive time, tomei conta de time, fiz time. E todos os times que eu ia os caras já passavam pra mim as coisas porque eu corria atrás de ônibus, de tudo, quando a gente ia jogar fora. Só que daí eu cobrava, eu pegava o dinheiro dos caras. Tinha cara que falava: “Pô meu, se eu estou pedindo dois contos pra você e você fala que não tem, aí na hora que chega no campo você está com três cervejas na mesa, que história é essa? Dá pelo menos uma pra gente, né, dá o dinheiro de um”. Se falava não: “Então daqui uns tempos eu vou parar”, porque o ônibus eu ia na prefeitura, pegava e o ônibus vinha de graça, mas eu falei: “Vou começar a cobrar o ônibus de vocês. Gasta em cerveja e não dá nada pro time?”. Graças a Deus foi tudo isso. Então eu sempre uma vida ativa, que ela ficava brava que eu só fazia feira e ia. Depois a gente se converteu, aí comecei a ir pra igreja, parei. Acabava a escola dominical eu corria pro campo. Mas, graças a Deus, foi muito bom tudo isso, Deus abençoou bastante, tanto que ela é muito boazinha.
P/1 – E como é que você começou a frequentar as unidades daqui em São Paulo?
R – Eu não frequento as unidades, só ia fazer a inscrição, só ia pra Bertioga. Aqui a gente não... Nós fomos em Itaquera.
R/2 – Santo Amaro.
R – Santo Amaro? Tem SESC em Santo Amaro?
P/1 – Tem.
R – Ah, lá em cima, né? Aquele que tem aquela piscina gostosa. É, nós frequentamos Santo Amaro. Itaquera a gente foi uma vez só, né bem? O nosso negócio são as colônias. Eu já fui pra Fortaleza, Alagoas, Espírito Santo, Santa Catarina.
P/2 – Do que o senhor mais gosta nesse turismo?
R – Ah, tudo! Não vem perguntar isso pra mim porque pra mim você não vai ver eu falar mal do SESC nunca, por mais ruim que esteja o lugar. Se tiver lugar para eu tomar café. Mesmo se o almoço for ruim eu não reclamo, se a janta for ruim eu não reclamo. Se a cama estiver gostosa, minha filha, o resto. Porque eu acho o seguinte, pelo que a gente paga no SESC, a pessoa tinha que sentir vergonha aqueles que reclamam de alguma coisa, eu acho. Porque onde você vai ficar numa estadia, quanto está a estadia hoje, 80 reais?
P/1 – Oitenta e cinco.
R – Oitenta e cinco? Café da manhã, almoço e janta? Onde você vai conseguir isso, fala pra mim. Você tem direito de chegar em um lugar que às vezes o café não está bom e você reclamar, pelo que você está pagando? Tem gente que faz isso, que faz até trocar presidente de colônia, diretor de colônia porque ele acha que ele tem direito, que não sei o quê. Eu fico puto da vida com uns caras desses, não faz perto de mim que você vai levar chumbo. Se falar mal do SESC perto de mim, já teve cara que quis brigar comigo, eu falei: “Não, quer brigar por quê? Você está vindo agora aqui, eu frequento o SESC há tanto tempo, você vem falar mal disso?”. Cara que reclama de toalha! E as toalhas do SESC são bem limpas. Se alguém sujou foi ele. Aí o cara vai reclamar que a água está suja, que a cama não está bem arrumada, sabe? Olha, desculpa, está gravando? Então não vou falar, não. Era o que a minha mãe falava, tirar com o dedo de lá daquele lugar, sabe? É procurar sarna pra se coçar. Eu acho isso. Tanto que eu não converso muito com pessoas porque se vir falar mal leva, principalmente Bertioga. Bertioga eu não aceito o cara vir falar mal. Onde você acha um hotel igual a colônia? Desde do tempo que não tinha ar condicionado eu já fazia isso, imagina agora que tem ar condicionado em todos os pavilhões! Tem cara que reclama. “Ah, tá frio”. Eu falo: “Pô, você devia vir aqui em maio, em junho, quando não tinha ar condicionado”. A gente dormia, era uma sauna, e daí? Se você não está bem ali vai pra um lugar que é melhor, ué. Eu já cansei de falar isso pro cara: “Não tá bom, meu? Lá no centro de Bertioga tem hotel, vai pra lá” “Mas não é isso que eu estou falando” “Não, é isso que você está falando. Se você está reclamando é porque você não está gostando”. Teve época que a comida, quando o SESC constrói alguma coisa a comida fica terrível, mas mesmo assim é muito melhor que muitos hotéis que tem por aí, eu acho. Apesar que eu sou igual avestruz, eu como tudo.
P/3 – Seu Moacir, o senhor já viajou pra vários lugares, várias colônias. Teve alguma história que vocês vivenciaram, algum causo que foi marcante pra vocês?
R – Isso é com ela, qual foi?
P/3 – Alguma situação? Conheceu gente ou...
R – Ah, isso em todas. A gente é muito fácil de fazer amizade, mas eu não vou lembrar de coisa.
R/2 – A convivência sempre foi muito boa.
R – A nossa convivência sempre foi. O cara pra ser chato comigo, ele tem que ser muito chato porque mesmo ele sendo chato eu faço ele ficar legalzinho. Ela fica quietinha, ela não abre a boca e quando ela fala, ela fala com sabedoria, tem disso, né? Agora tem vezes que eu falo muito, então tem muitas coisas que até agride a pessoa, sem eu querer, mas agride. O problema é o seguinte, eu e minha mulher nos damos muito bem, então eu não tenho necessidade de ter gente perto de mim pra ficar feliz, você entende? Eu não tenho essa necessidade, ela não tem essa necessidade. Agora tem gente que tem necessidade. Todas colônias que a gente vai a gente faz amizade, faz tudo, conversa, almoça junto, faz tudo, come, toma café quando coincide os horários, não tem problema, eu não tenho problema porque eu mexo com o público, então pra mim mexer com gente é a coisa mais simples. E eu mexo com o público pra ir tirar dinheiro dos caras, eu sou cobrador, eu vou na casa dele pra tomar o dinheiro dele. E a maioria dos meus clientes são amigos meus. Tem velhinho aí que quando eu demoro de ir, fala: “Ué, por que você não veio ontem?”. Eu falo: “Ah, é porque não deu tempo”. Então eu tenho facilidade. Ela é quietinha, mas eu falo mais do que a boca. Mas quando ela começa a falar também, ela fala mais do que a língua. Mas eu acho que é assim. Nós começamos a namorar ela tinha 11 anos e eu tinha 15, então a gente se conhece bastante, ela sabe a hora que ela pode ficar brava comigo, eu sei a hora que eu posso ficar bravo com ela, hora de brincar. Então eu vejo assim, sabe, a gente não tem necessidade de ter pessoas diferentes perto da gente, não tem. Se é pra ficar sozinho nós ficamos 15 dias sozinhos em qualquer lugar, se é pra ficar só nós, se estivermos só nós. Tem uma colônia que nós fomos que estava quase vazia, não tinha ninguém. A gente ficou numa boa. Você conversa bom dia, boa tarde com outras pessoas, que tem gente hoje em dia que não ddá nem bom dia, né? Você dá bom dia e o cara olha pra você, só falta falar: “Bom dia por quê?”. Então pra evitar essas coisas. Eu sou meio chato, às vezes eu retruco, então como eu me conheço eu manero bastante, eu já fui muito mais atirado, mas hoje em dia eu aprendi um pouco que não vale a pena, não vale a pena. Você não ganha nada, a pessoa não ganha nada, mas tem gente chata pra caramba.
P/1 – E como é que o senhor planeja as viagens? O que te atrai no roteiro quando você faz aí um turismo?
R – Aí qualquer colônia me atrai (risos). Pode ser onde for, onde quiser, qualquer uma que a gente foi, que a gente planeja. É que ela está trabalhando, ela não é aposentada, ela vai se aposentar esse ano. E esse ano como vai nascer o neto, tudo, ela já está me regulando umas viagens aí, então eu já pego e não planejo nada. Mas ano que vem a gente já começa a planejar. Acabou de pagar uma a gente faz outra, é por aí. Porque no que eu estou trabalhando agora, eu trabalho 14 dias por mês só, e trabalho em três empregos. Então é um serviço que eu chego: “Eu vou viajar de tal dia a tal dia, eu vou voltar tal dia” “Ah, e o serviço?” “Quando eu voltar eu faço”. E ela sabe que eu faço, então não tem problma. Tem uma que eu já trabalhei com ela em um outro emprego, todas, tem duas que eu trabalhei em outro emprego e tem uma que eu estou há quse 15 anos com ela, então não tem problema. Mas isso, gente, não foi fortuito, não foi agora que eu estou fazendo, nós sempre pensamos assim. Tanto que depois que eu me aposentei o menos que nós fizemos foi três viagens por ano. No ano passado nós fizemos cinco viagens, três pra Bertioga, Curitiba e Guarapari.
Edna – Guarapari nós fomos duas vezes.
R – Mas isso foi outro ano, estou falando no ano passado. Nós fomos pra Guarapari, três vezes pra Bertioga e uma vez pra Curitiba, que é excelente também, eu não tinha ido pra Curitiba. Nós fomos com a excursão do SESC de Osasco.
Edna – A nossa preferência é Bertioga. Conhecemos outras colônias.
R – Se não tem jeito, que seja dado outro jeito. Três vezes nós fomos pra Bertioga no ano passado, fomos pra Guarapari e nós fomos pra Curitiba. Pra Curitiba nós fomos com excursão de Osasco.
Edna – E fomos pra Nova Friburgo.
R – Mas foi no ano retrasado.
Edna – Não, ano passado.
R – Nova Friburgo?
Edna – Nova Friburgo, nós fomos em julho do ano passado.
R – Então viajamos seis vezes. Eu aprendi a gostar do SESC desde quando eu vi que é uma coisa legal que é bom pros dois. Não é bom pra um só, tudo que é bom pra um só dizem que não presta. Então desde quando nós passamos lua de mel, quando eu fiquei sabendo, eu acho que eu trabalhava na Hermes Macedo, quando eu fiquei sabendo que a gente podia passar a lua de mel lá eu fiquei doido, eu falei: “Não, vamos pra lá”. Uma mixaria, nós ficamos no Pavilhão Cinco, Quarto 20. E ó, fez 40 anos e eu não esqueço. E teve uns tempos atrás que nós ficamos no mesmo quarto (risos). Eu falei: “Ah, você lembra alguma coisa?” “Lembro” “Que bom que você lembra ainda” (risos). Então foi muito bom. Apesar que agora está diferente, eles fizeram o pavilhão novo, foi antes deles fazerem esse pavilhão novo que nós ficamos lá. Lá a gente já ficou em quase tudo quanto é lugar. Eu falo que pra Bertioga eu vou nem se for pra dormir na casa do caseiro lá no fundo. Se tiver só a vaga lá eu vou pra lá. Porque é muito bom. Tem cara que fala assim: “Mas como o SESC é tão bom assim?”. Eu até parei de fazer propaganda porque eu estava enchendo muita gente. “Pra onde você foi? Como é que você consegue?” “Ah, eu não sei, eu acho que sorte”. Mas não dou mais instrução, não. Antigamente eu era tão entusiasmado que eu dava, não custa nada você falar pro cara: “É assim, é assim, você vai”. Mas hoje em dia eu falei: “Não, quem quiser que vai procurar”.
Edna – Instrução você dá sim, você deu instrução pra nossa vizinha e ela está indo pro SESC Bertioga com a família.
R – A Fabíola?
Edna – A Lucinda.
R – Ah, mas a Lucinda é gente boa. É, essa mulher, o marido dela é um idiota, o cara tem dinheiro e só toma cachaça. E ela, a mulher faz de tudo pelo cara. Aí ela vai com a filha pra Bertioga e o cara não vai. A filha leva eles de carro, leva tudo pra lá. Ela foi nesses tempos atrás e o cara não vai, fica em casa tomando cachaça. Ele vai no boteco toma uma, volta, depois ele vai, toma outra, volta, até ele ficar bêbado e vai dormir. Isso é a vida do cara, você não vai mudar. Triste, mas. É um cara 100%, mas... É, a Lucinda até que vale a pena porque ela é legalzinha. Mas pra gente pezão eu não falo muito, não. Eu falo: “Vai lá, procura o Tiago”.
P/3 – Seu Moacir, deixa eu perguntar uma coisa pro senhor. O senhor poderia explicar o seu trabalho um pouco? Você fala que é de cobrança. Explica um pouco pra gente qual é o seu trabalho, que já está há anos e se teve algum caso, alguma situação que tenha sido marcante no seu trabalho.
R – Só uma vez que um cara veio pra cima de mim querendo brigar e eu tive que dar uns tapas na orelha dele e resolveu meu problema. Só que não voltei mais pra cobrar ele (risos). Agora não, essa cobrança que eu faço agora, há muitos anos, é doação, sabe? Então eu nem forço. Quando eu comecei a trabalhar você tinha que tirar o dinheiro do cara na marra, tinha que tirar de qualquer jeito. Eu não ia na casa do cara pra perder tempo, de jeito nenhum. Ou ele pagava ou... Quando eu trabalhava na Hermes Macedo ou pagava ou devolvia o carro, não tinha outra coisa. Eu falava: “Moço, você está sem condições de pagar?” “To” “Então é o seguinte, quanto mais demora pior fica pra você”. E eu tirava o carro do cara. Aí abriu um escritório em Sorocaba e tinha uns que ninguém queria ir para lá. Um dia o chefe falou: “Moacir, nós estamos precisando que vá alguém pra Sorocaba”. Eu falei: “Tudo bem. Eu não conheço nada, vou conhecer. Eu fui pra lá e estourei de receber. Tirei carro, tirava dois, três carros por dia. E recebia bem. Aí os mais velhos começaram a querer ir pra lá. Eu falei: “Vai, pode ir”. Eu nunca briguei por causa disso. “Vai, quer ir, vai”. Porque tem o zoião, que é zoião, os caras são zoião, você sabe disso. A hora que eles viram o salário que eu estava tirando lá, eles foram pr cima do chefe, eles faziam comboio com o cara lá, que deu até probleminha lá. Os caras pagaram até uma viagem para o Rio Grande do Norte pra esse cara, que ele pegava as comissões e não lançavam com o cara. Eles pagaram até uma viagem. Aí eu falei: “Problema seu, eu não vou fazer isso nunca, vocês querem fazer, façam”. Mas o problema é o seguinte, sempre quando eu comecei a trabalhar desde pequeno eu sempre assim, eu saía da escola, saía lá do Jardim D’Abril e ia até o Morumbi vendendo sorvete, moço, pra ajudar a minha mãe a comprar comida, comprar mistura. E toda vez eu voltava já com a carne comprada pra levar pra ela. Meu pai, bem, só Deus pra ter misericórdia. Eu sempre fiz isso, então na minha casa eu faço mais ainda, na minha casa o freezer está sempre com alguma coisa, sempre tem coisa, eu não deixo faltar. Mesmo com a minha filha lá agora e o genro também que come, mas eu sempre fiz isso. Então eu fazia isso na casa da minha mãe, eu sempre ajudei. Os três anos e meio que eu trabalhei na Santista, 40% do meu salário era comida deles, que era o que nós podíamos comprar na cooperativa. Então minha mãe quando dava o dia de compra estava lá na porta me esperando. Coitada. Vou contar só uma historinha pra ela. Eu tinha apelido de Cafuringa, lembra o Cafuringa do Fluminense? Eu jogava na ponta direita e os caras puseram o apelido de Cafuringa. E ficou esse apelido, Cafuringa, Cafuringa, Cafuringa. Aí um dia minha mãe foi lá e eu não gosto de fazer bagunça, imagine, saía todo mundo uma e meia, ia tomar banho, escondia a roupa de todo mundo. Eu roubava a chave. Tinha um cara que fazia lanche, levava e fechava à chave e deixava a chave lá no chuveiro. A hora que ele ensaboava eu ia lá, pegava a chave dele, abria o coisa, pegava o lanche dele e comia (risos). Mas mais pra zoar, sabe, não era fome, mas era bagunça. “Moacir, você me comeu o lanche outra vez!!!” “Eu? Sua chave não estava lá, rapaz? Eu não sei não, não fui eu não”. Essas coisas. Foi um tempo muito bom porque eu era moleque, os caras eram tudo grande, eu tinha 16, 17 anos. Imagina eu com 16, 17 anos, era o capeta, rapaz, fazia coisa que até eu duvidava. Mas tudo sem sair do normal. Então eu sempre fui assim e sou assim até hoje. Tanto que na igreja eu tive problema por ser assim. Que os falsos caras não querem ver a sua alegria. Você sempre contente, os caras querem ver você cair. Eu falo: “Meu Deus do céu, dentro da igreja tem cara que quer ver você caído”. Então vou ficar numa boa eu e minha mulher e pronto. E é a melhor coisa que a gente fez, que agora você entra, cumprimenta todo mundo, todo mundo que me cumprimenta eu cumprimento, ou até cumprimento as pessoas novas que chegam na igreja, a gente tem que receber bem pra pessoa querer ficar na igreja. Minha sogra é fundadora da igreja, hoje em dia, coitada, ela já não pode ir muito, a gente leva ela só na santa ceia, que ela está com bastante idade já, mas ela é fundadora da igreja. A igreja começou com ela e uma outra pessoa que já faleceu. Então a gente é fundador. E tem gente que às vezes quer misturar as coisas. Não fui eu que fundei a igreja, foi ela, que elas começaram lá e a igreja vinha pastor de Pinheiros pra pregar lá e tomar conta até que apareceu o Pastor Adolar lá que ficou direto lá. E a igreja prosperou, ela era num negócio onde tinha banana, vendia banana, hoje na nossa igreja cabem 600 pessoas. E Deus abençoa a igreja grandemente, muita gente. Tem gente que acha que a igreja já nasceu daquele tamanho. Tem gente que está pequenininho, vê um grandão e fala: “Ué, por que você é grande e eu sou pequeno?” “Não, eu nasci pequeno também, não nasci grande”. E graças a Deus a igreja é uma benção na nossa vida. Pra mim mesmo foi muito bom porque acertou muitas coisas na vida da gente. Você começa a ver o mundo de tal maneira. Eu não sou esses crentes pegajosos. Se você vir conversar comigo sobre religião, sério, eu converso. Mas se vir com brincadeira eu falo: “Se você quiser saber alguma coisa eu te falo, se eu souber eu te falo, mas sem ser sacana. Se quiser numa boa eu te falo numa boa, se não quiser”. Eu jogo dominó com o pessoal lá, com os velhos que têm lá, que eu também sou meio velhinho agora, então é um divertimento que você tem, um jeito de passar o tempo. E graças a Deus lá tem uns caras que bebem e coisa, mas eu não quero nem saber. Tem três mesas, se eu não quiser ficar na mesa que os caras bebem é só não ficar e pronto. E eu geralmente não fico. Mas não tem ninguém, não sai confuso de nego bêbado, não sai nada, é brincadeira pra você passar o tempo. Os caras conseguiram pôr isso na cabeça, que no começo era bravo, todo mundo queria mandar, todo mundo queria... ninguém queria mandar, é só ficar lá e passar o tempo. E dominó passa o tempo que você nem vê.
P/1 – Seu Moacir, voltando a falar um pouco do SESC, o senhor chegou a usar serviço de odontologia também?
R – Já, ô.
P/1 – Como é que foi a utilização?
R – Muito bom. Eu estou precisando, viu? Preciso fazer minha inscrição logo lá pra fazer minha obturação, já fiz inscrição. Vê á a agenda que caiu a obturação que eu fiz a última vez, hein?
P/1 – Como é que foi essa passagem? Você fazia esse tratamento antes?
R – Já fiz tratamento na Pompeia, na doutor Vilanova, onde tiver dentista eu estou indo. Vou pagar mais caro pra quê, se eu tenho direito?
P/1 – Gostou?
R – Nossa, sempre foi bom. Essa obturação aqui caiu foi minha última vez que eu fiz no SESC. Procura ver quando foi a última vez que eu fiz lá, se você conseguir localizar (risos). Acho que faz uns quatro anos, que agora quebrou e tem uma panela grande, então eu estou precisando consertar essa panela. Mas, Tiago, você não me venha perguntar nada do SESC que você não vai ouvir falar nada de ruim do SESC, não tem como, eu não consigo achar, eu não sei como tem gente que acha alguma coisa ruim. Se tiver alguma coisa ruim foi a gente que fez, não foi o SESC que fez. É isso que as pessoas não... eu penso assim, como eu sempre liderei ,essas coisas, eu percebo as pessoas que querem falar uma coisa pra você concordar, pra depois ela falar que foi você que falou. Como a minha mãe falava, né, tirar a brasinha com a mão do macaco dá braseiro. É fácil, você põe a mão do macaco, tira, aí você está com a brasa. Mas a sua mão mesmo você não pôs lá. Tem muita gente que usa disso. Bom, perto de mim ninguém fala, mesmo na colônia, em qualquer colônia, se eu vejo alguém falando mal, ele arruma problema. Eu já arrumei vários probleminhas assim com gente que começa: “Ah, a comida está ruim”. Eu falei: “Meu, mas tem restaurante lá no centro, vai comer lá, ué” “Ah não” “Se você acha a comida ruim, moço, vai lá na cozinha, você pode entrar na cozinha, ver como é feita a comida. Você que está com a boca ruim, rapaz, não é a comida que é ruim, não”. Por pior que esteja a comida, eu não apoio quem fala mal. Onde que você encontra 85, uma pousada, café da manhã, almoço e jantar por 85 reais? Já pensou nisso? Quanto está um comercial lá em Osasco agora? Fala pra mim. Está 20 contos, pô. E tem cara que vem falar de comida. Em Caldas Novas mesmo, a cozinha lá é pequena, não sei se vocês conhecem lá, eu não sei como está agora porque já faz tempo que a gente não vai, né, bem. A comida é excelente, só que os caras começam a entrar com aquelas botas na cozinha e traz a comida pra cá, fica sujo o chão lá. É até perigo pros próprios caras que trabalham lá. Mas a comida em si? Se você reclamar que está sujo aqui até concordo, mas tem cara que vai reclamar da comida? Eu falo: “Ah não, meu, vai passear, vai comer no mercado ali em cima, come lá”. Você vê, Fortaleza mesmo, as primeiras vezes que a gente foi a comida não era lá essas coisas, mas é uma comida, eu comi. Nós fomos duas vezes pra Fortaleza, Edna? Uma? Onde nós fomos duas? Goiás, né? Eu penso assim, como é que você vai reclamar de um lugar que está te dando comida, café da manhã, almoço e janta e dormida. Agora está 85, que eu acho até caro porque agora eu estou aposentado (risos).
P/1 – Tem alguma história, alguma coisa que vocês queiram falar?
R – Fala um pouco bem, que eu cansei de falar, fala o que você lembra.
P/1 – Que vocês acham importante pra finalizar?
Edna – Não, o que eu gostaria de falar é o seguinte: que a opinião que nós temos sobre o SESC Bertioga é a opinião de muitas pessoas, amigos nossos que fizemos lá no SESC Bertioga. Nós fizemos vários amigos, nesses últimos tempos nós temos um grupo de amigos lá, estamos com o grupo de amigos e eles vão muito mais que nós pra lá. E apreciam muito, gostam muito e falam. Como nós falamos eles também falam. Tem outras colônias maravilhosas, mas não são iguais ao SESC Bertioga, não se compara. Tem pessoas até que falam assim: não comparamos com o SESC Bertioga. E quando nós começamos a frequentar o SESC Bertioga desde o período da nossa lua de mel, os senhores, senhoras, os antigos que frequentavam o SESC já há alguns anos falavam assim. Nós perguntávamos assim: “O que você acha da gente ir para outras colônias?”, eles falavam: “Você pode ir, mas não será igual ao SESC Bertioga”. Não é. Não é igual ao SESC Bertioga. E quanto ao SESC Osasco, e nós percebemos isso em todos os SESC, o quanto é bom, a questão do bem-estar. E quanto ao SESC Osasco eu tenho amigas que frequentam, nós frequentamos lá na área da Odontologia e vamos lá pra fazer inscrições pras excursões, principalmente Bertioga, e eu tenho uma amiga que vai lá à noite, não sei se na quinta ou na sexta à noite, frequenta, leva as filhas e fala a mesma coisa, ela fala a mesma coisa, ela foi no SESC Santos e ficou maravilhada com o SESC Santos. Então nós temos amigas que têm a mesma opinião.
P/3 – Posso tirar uma curiosidade? A última? Por que você se tornou evangélico? O que levou?
R – Ela. Ela e a minha sogra.
P/3 – Foi por eles? O senhor se lembra quando foi a primeira vez que o senhor entrou?
R – Quando foi bem?
Edna – Foi em dezembro de 1982.
P/3 – Mas o senhor se lembra a primeira vez que o senhor foi ao culto?
R – Lembro.
P/3 – Como foi?
R – Ela me convidou, eu falei: “Vamos, ué”.
Edna – Você lembra da música. Você fala sempre que você ouviu a...
R – Qual foi?
Edna – Cristo é pedra viva.
R – Ah, é. (canta): Cristo é pedra viva, pedra de esquina, pedra angular.
P/3 – Foi isso, teve um cântico.
R – Esse cântico é lindo, é a coisa mais linda que me toca até hoje quando a gente conta. Só que é o tal negócio, né, a molecada não toca essas coisas, a molecada quer música nova, quer música que eles fazem. E essa música é mundial, essa Cristo é pedra viva. Mas é uma música.
P/3 – Mas o senhor foi no culto e já virou evangélico assim, primeiro dia?
R – É.
P/3 – Ou teve um processo.
R – Não, não. Não teve processo, não. Ou você é, ou você não é. Que eu era católico, só que eu ia na igreja porque tinha uma menina que parecia com ela. Então quer dizer, eu não estava nem aí pro padre, não queria nem saber do padre. Eu via a menina que parecia com ela. Depois eu comecei a namorar firme com ela e parou. Um dia ela falou: “A minha mãe está chamando a gente pra ir pra igreja” “Vamos”. Assim que eu entrei eu me senti bem. Falei: “Ah, já que agrada a ela, agrada à mãe”, agradar a sogra é outra coisa, né meu? Mas foi a melhor coisa, me ajudou muito. Que antes você não pensava em fazer nada, tudo o que aparecia você fazia. Depois não, depois você fala: “Não, isso não agrada a Deus”. Se não agrada a Deus, não vai agradar a mim. Entende? É simples assim, você tem que entender isso. É uma coisa... tem muita gente: “Você era católico e virou crente, você era crente e virou católico”. Não, não é que virou, você tem que estar onde você se sente bem. E graças a Deus, depois que eu comecei a trabalhar, eu fui ungido diácono, fiquei muito tempo trabalhando de diácono. Eu sou diácono até hoje, depois eles deram, aí começou o negócio que eu não aceito também, negócio de baciada e ungiu todo mundo a presbítero. Eu falei: “Não, desse jeito eu não quero. Eu quero que venha de Deus, que seja feito por Deus. Se não for assim é melhor eu ficar como diácono e pronto”. Que aí a igreja começou a crescer, sabe? Que a igreja nossa era num salãozinho um pouco maior do que esse aqui, cabia 30, 40 pessoas, 50 pessoas. Era uma casa de 12 metros e meio por 25 de fundo. Aí comprou essa casa e fez essa igreja. Assim, você entrava pela porta de frente, aí o pastor alugou a casa do lado. E a casa da frente, desculpa, não é preconceito, mas tinha uma preta que a igreja tentou comprar e ela falou: “Pra igreja eu não vendo nem morta”. Então atrapalhou muito a igreja comprar aquele terreno porque a igreja queria expandir pra frente. É que o pastor morava na igreja. Aí Deus abençoou tanto o pastor, que o pastor foi morar num lugar muito melhor e comprou uma casa lá, aí derrubou a casa do pastor e a igreja ficou com dois terrenos diretos. Aí, querendo comprar a casa da mulher e a mulher não queria vender. “Não vendo nem morta”. Logo que ela morreu, na segunda semana a filha dela procurou a igreja e falou assim: “Vocês querem comprar ainda?”. Comprou e a igreja fez. Hoje a igreja tem 37 metros e meio de construção, cabe umas 600 pessoas. O primeiro onde morava o pastor fez um prédio alto que parece que tem três andares, né bem? Três ou quatro andares, tem várias salas que usam. Fez outro do outro lado também, pra cima. Então a igreja é um quadrado assim com duas partes e a nave no meio. Então foi assim. Graças a Deus, Deus abençoou a menina que vendeu, porque a mãe não queria de bronca porque disse que não gostava de crente, então ela não vendia. Assim que a mãe morreu a menina, uma semana depois que a mãe morreu a moça procurou a igreja: “Vocês estão interessados na igreja ainda?”. Os caras falaram: “O dinheiro está aqui”. E pronto. E fez e construímos. Trabalhei bastante. Principalmente na primeira lá, tem duas colunas que sustentam a igreja no meio, que tem quatro metros de fundura por quatro metros de largura e é concreto puro, Concreto puro com ferro. A gente fazia o concreto lá na rua e jogava tudo lá. Graças a Deus.
P/3 – Vocês participaram da construção?
R – Eu participei da construção. Graças a Deus. Hoje em dia eu não participo de mais nada, agora eu estou aposentado, estou mais sossegado. Agora tem quatro equipes de diáconos com quase 15, 16. Eu acho um exagero, mas eles querem pôr é bom. Tem quatro equipes e cada equipe trabalha um final de semana.
P/3 – Ok, tudo bem, gente?
P/1 – Tudo bem.
P/3 – Obrigado, seu Moacir. Obrigado, Edna.
R – Se faltou alguma coisa é só perguntar.