História de:
Benjamin Roitman
Autor:
Museu da Pessoa
Publicado em:
09/01/2020
Nesse depoimento, Benjamin Roitman relembra o período que emigrou da região da Bessarábia, na época pertencente a Romênia, para o Brasil, mais especificamente, para a capital do Sergipe, Aracaju. Cinco anos depois da viagem, seguiu para o Rio de Janeiro com o sonho de montar uma fábrica de móveis, a qual dedicou a vida até a aposentadoria. Conta sobre o irmão vítima do regime de Stálin, sobre a mãe e os irmãos em Buenos Aires e a viagem que fez durante um ano para o exterior.
P/1 - ...E a medida que o senhor for se lembrando das coisas também pode me dizer, tá? Estão aqui.
R - Você vai guardar?
P/1 - Eu vou guardar, não se preocupe não.
R - Isso é muito interessante esse grupo. Muito interessante. "Chalutzim". De 1930. Sabe o que é "Chalutzim"?
P/1 - Sim. Os jovens que iam para Israel, né?
R - Primeiros jovens que foram para Israel.
P/1 - Para colonização, né?
R - Isso.
P/1 - E o senhor fez parte de algum grupo desse?
R - Eu não. Eu não fiz parte não.
P/1 - Então, eu vou deixar aqui...
R - Eu fui lá quando estava tudo pronto. (risos)
P/1 - O senhor foi pra Israel. Mas vamos voltar mais pra trás. Eu gostaria que o senhor me contasse um pouco de onde o senhor nasceu, né, e com o que trabalhava seu pai.
R - Bom, eu nasci na aldeia chamada Chersemi. Esta gravando?
P/1 - Esta gravando. Mas não tem problema nenhum. Como era a aldeia que o senhor...
R - Aldeia chamava-se Chersemi. Chersemi.
P/1 - E como é que foi? Era perto de onde essa aldeia?
R - Kishinev [atual Chișinău, capital da Moldávia]. Até os 12 anos, trabalhava em casa, ajudava a mãe.
P/1 - Essa aldeia era uma aldeia grande, era pequena, era como?
R - Regular.
P/1 - Regular. E o seu pai trabalhava em quê?
R - Olha, meu pai era negociante. Ele embarcou para a América em 1914. Eu só me lembro dele depois que eu vim pro Brasil, você entendeu? Lá na Europa, quando conheci ele, que ele embarcou em 1914.
P/1 - E o senhor nasceu quando?
R - Em 1908. Eu tinha seis anos.
P/1 - 1908. Quando o senhor nasceu, exatamente? Era em que mês?
R - Como?
P/1 - Quando, em que mês, qual é a data do seu aniversário?
R - Maio. 16 de maio.
P/1 - 16 de maio de 1908. Então, quando ele emigrou, o senhor nem lembra dele, então, né?
R - Só o conheci bem quando ele veio ao Brasil.
P/1 - Ele emigrou pro Brasil?
R - Emigrou pro Brasil, levou toda a família.
P/1 - Quer dizer, ele era negociante. Ele negociava o quê?
R - Compra e venda de cereais. Cereais, com que todos os judeus se ocupavam.
P/1 - Mas... O senhor pode me contar. O senhor nasceu, logo depois ele emigrou. O senhor ficou lá com a sua mãe. E como é que foi?
R - Isso. Ajudando ela na arrumação da casa. E ela... Nós éramos nove irmãos. _________ cada vez ia um pra estudar em Rascov, na casa da tia. De lá, ia pra Odessa pra ir pra faculdade.
P/1 - Pra ir pra faculdade?
R - Primeiro em Rascov, Talmud-Torá. Depois ia pra Odessa, pra escola técnica. E depois ia... E aprendi a ler lá.
P/1 - Ia pra lá pra casa das tias, né, estudar na Talmud-Torá...
R - Depois passei pra Odessa.
P/1 - E o senhor foi estudar o que em Odessa?
R - Mecânica.
P/1 - Era uma escola técnica lá? Não era uma faculdade, né, era uma escola...
R - Escola técnica.
P/1 - E depois o senhor iria pra uma faculdade?
R - Não deu tempo. Embarquei pro Brasil em 1920.
P/1 - Em 1920, o senhor veio pro Brasil? Ah, 1925.
R - E nem sei como embarquei pro Brasil.
P/1 - E o senhor tinha nove irmãos?
R - Éramos nove.
P/1 - Certo. Eram nove. Então, o senhor tinha oito irmãos.
R - Um pereceu na Revolução Russa.
P/1 - De quê?
R - Stálin matou.
P/1 - E isso quando? Logo... Ah...
R - Em 1936. Os outros não.
P/1 - Dos nove, quantos vieram pro Brasil?
R - Todos.
P/1 - Todos? Em 1925 vieram todos?
R - Não, não, não. Só vieram em 1940. Espaçadamente.
P/1 - Então, vamos começar lá do começo de novo. O senhor nasceu, ajudava a sua mãe na manutenção da casa. E cada vez... O senhor era o irmão mais velho, o irmão do meio? Como era? Era o primeiro irmão?
R - Como é?
P/1 - O senhor era o irmão mais velho da casa? O mais novo?
R - Era o mais novo.
P/1 - O senhor era o mais novo.
R - O mais novo. Na Odessa ficava um. Assim que chegava à idade de ir a Talmud-Tora, ia pra Rakov.
P/1 - Certo. E depois ia estudar alguma coisa, né?
R - Claro.
P/1 - E o senhor vivia de quê? O seu pai mandava dinheiro daqui do Brasil pra lá?
R - Não, não. Eu trabalhava com um irmão.
P/1 - Trabalhava em quê?
R - Fazia fivelas.
P/1 - Faziam-se fivelas? Lá na sua cidade?
R - Em Odessa.
P/1 - Ah, em Odessa. Depois que o senhor...
R - Você escutou falar em Odessa?
P/1 - Já escutei falar sim.
R - Uma cidade grande. Progressiva.
P/1 - E o senhor estudou... Aí o senhor ficou lá, trabalhava com seu irmão...
R - Eu estudava na escola técnica. Mas não terminei, não tinha diploma. Porque era a hora de embarcar.
P/1 - E por que que o senhor quis embarcar pro Brasil?
R - Porque toda a família já estava no Brasil. Toda minha família. Toda. Minha mãe, meu irmão. Toda. Eu era o único que fiquei lá.
P/1 - A sua mãe, pelo que eu vi na cédula de identidade, ela não veio pro Brasil. Ela foi pra...
R - Não. Ela esteve no Brasil também.
P/1 - E depois foi pra Argentina?
R - Ela foi. Porque eu tinha dois irmãos na Argentina. Mais velhos. Então, ela estava cambiando Brasil, Argentina.
P/1 - O seu pai morava aqui no Brasil?
R - Meu pai morava no Brasil
P/1 - E ela veio encontrar ele?
R -. Com mais três. __________ Só falta um que não está aí. Muito bem.
P/1 - Então... O seu pai era muito religioso? Ou a sua mãe?
R - Não. Era homem simples.
P/1 - E ele veio pra cá pra ganhar dinheiro.
R - Não, porque aqui era vida boa. Clientela. Sabe o que é clientela?
P/1 - Sei, sei.
R - Vendia tecido.
P/1 - E ele veio pra isso. A vida lá era muito dura?
R - Regular. Pra quem estava acostumado, estava boa. Pra quem estava acostumado, estava boa. Agora, pra quem pra quem não está acostumado...
P/1 - Nessa aldeia que o senhor nasceu existiam muitos judeus ou?...
R - Tinha umas dez famílias.
P/1 - Judias. E o resto não. O resto não era judeu?
R - Claro. Cristãos.
P/1 - Eram cristãos. Já havia algum problema de anti-semitismo?
R - Não. não se falava nisso não. Era tudo gente pacata. Agora, passei... Depois de vir ao Brasil, passei um tempo em Aracaju, Sergipe.
P/1 - Ah. O senhor emigrou para cá, veio pra cá, veio para Aracaju primeiro, então.
R - Passei uns cinco anos em Sergipe. E também em Buenos Aires.
P/1 - Depois o senhor foi pra Buenos Aires?
R - Eu viajava.
P/1 - O senhor trabalhava em quê?
R - Aqui no Brasil? Clientela.
P/1 - E por isso que o senhor viajava tanto?
R - No princípio, nessa época, entre 1925 e 1930. Depois montei uma fábrica, nessa loja aqui. Até que nasceu uma fábrica grande. Tarzan.
P/1 - Como era o nome da fábrica? - Uma fábrica de quê?
R - De móveis. Tarzan.
P/1 - Onde ficava essa fábrica?
R - No Engenho Novo.
P/1 - Mas no começo o senhor trabalhava com clientela, né?
R - Aqui. Contra meu gosto.
P/1 - O senhor não gostava não?
R - Contra meu gosto.
P/1 - E por que o senhor, então, ia para Buenos Aires? Pra vender coisas lá também?
R - Dois irmãos estavam lá estabelecidos.
P/1 - Sei. Aí o senhor ficava indo e voltando também.
R - É, se pudesse largar nesse instante para ir para Buenos Aires...
P/1 - Ah é? Eles ainda estão lá, seus irmãos?
R - Não. Só tem sobrinhos, tem três sobrinhos mais moços do que eu uns 3, 4 anos. Muito bem.
P/1 - Ai... O senhor casou lá ou aqui? O senhor casou?
R - Aqui. Por duas vezes.
P/1 - Casou por duas vezes. Com quem que o senhor casou?
R - Primeiro foi com Cima Filkenstein. Faleceu de câncer, em 1944. A segunda vez foi com a Rosa Lerner. Faleceu em 1984.
P/1 - Da sua primeira mulher, o senhor já conhecia ela lá? Ou o senhor veio conhecê-la aqui?
R - Não. Conheci ela aqui.
P/1 - Ah, conheceu ela aqui. A sua segunda mulher era daqui ou era de lá?
R - De Sukaron.
P/1 - Qual. A Cima ou a Rosa?
R - A Rosa.
P/1 - E o senhor também conheceu...
R - E a Cima também era de Sukaron.
P/1 - Todo mundo de Sukaron. E as duas o senhor conheceu aqui?
R - É e tenho mais dois filhos da Cima.
P/1 - Como é o nome dos seus filhos?
R - Nome? Samuel Roitman e Clarinha Chiniks. C-h-i-n-i-k-s.
P/1 - E o seu filho faz o quê?
R - Trabalha no setor bancário.
P/1 - E a sua filha?
R - Vendedora na H.Stern. Agora, eu estive três vezes na Europa, viajei a Europa toda.
P/1 - O senhor foi lá pra visitar a Europa?
R - E passeei ela toda.
P/1 - E...
R - Fui a Israel. Viajei quase um ano.
P/1 - E os seus tios, os irmãos, os parentes da sua mãe e do seu pai, eles continuaram lá na Bessarábia ou eles vieram pra cá também?
R - Se continuaram lá?
P/1 - É. O resto da família. Porque, pelo que o senhor disse, veio o senhor...
R - Todos vieram pra cá.
P/1 - Veio todo mundo pra cá? E por que emigrava todo mundo assim?
R - Naquele tempo não se fazia outra coisa, só emigrava. Você vê esses capitalistas, São Paulo, Tabacow e tudo, tudo era gente simples.
P/1 - Todo mundo de lá, né?
R - Todo mundo de lá. Quem chegou primeiro, abocanhou mais. Você tem pai e mãe?
P/1 - Tenho.
R - Você tem avó aqui?
P/1 - Avó aqui? Meu avô já faleceu. Mas...
R - Worcman. Que tem ”Arbeitsamt".
P/1 - O meu avô, ele faleceu. Ele era polonês. Era da Polônia. Por quê?
R - Não. Eu queria... Pensei que você tem alguém aqui. Eu estou confundindo Worcman com Arbeitsamt.
P/1 – Não, não é. É Worcman. Talvez seja outro nome.
R - Seu pai faz o quê? Agora sou eu que estou entrevistando. (risos)
P/1 – É, vamos voltar a entrevistar o senhor. (risos) Depois eu conto pro senhor, porque senão vai gravar minha vida, não interessa né. Eu queria saber mais da sua vida. E como era isso que o senhor trabalhava lá? Eu queria que o senhor me contasse um pouquinho da vida lá em Odessa, em Raskov.
R - Em Odessa é o seguinte. O meu irmão mais velho, um deles, montou uma fábrica de fivelas, artefato de metal. Claro, que eu era irmão, morava na casa dele, ele me dava comida e dormia, abrigo e tudo, então, eu trabalhava com ele. E trabalha com muita consciência. Nunca se estragava nada. Nunca. Nunca me descuidei do serviço. Até o dia que eu embarquei pro Brasil.
P/1 - E decidiu que o senhor ia embarcar pro Brasil. Foi o senhor mesmo?
R - Eu estou explicando. A minha família toda já estava no Brasil. Aí eu recebi uma chamada, uma chamada para vir, com passagem e tudo.
P/1 - Isso em 1925?
R - Aí eu tive que embarcar.
P/1 - Isso com quantos anos o senhor tinha? 15 anos?
R - 17 anos.
P/1 - 17 anos. E o seu irmão mais velho? Ele embarcou junto?
R - Qual irmão?
P/1 - Esse que o senhor morava com ele.
R - Devia ter uns 30 anos.
P/1 - Ah, e muito mais velho que o senhor, então.
R - É. É o segundo da família.
P/1 - Depois o senhor me dá o nome de todos eles? Se o senhor quiser, também não precisa tanto não.
R – Não, isso não interessa. Basta botar dois só.
P/1 - Então, diz.
R - Todos eles se radicaram em Buenos Aires. Gregório Roitman, o mais velho, também cursou a escola técnica em Odessa. Montou uma fábrica de artefato de metal.
P/1 - Lá em Buenos Aires?
R - Tudo em Buenos Aires.
P/1 - E o outro? Esse.
R - O outro, Leon.
P/1 - Também em Buenos Aires?
R - Se você botar Roitman... Ele mudou o nome no tempo da guerra, Olordoski.
P/1 - Por quê? Por que ele mudou de nome?
R - Porque ele era diretor do exército. Sabe como é naquele tempo _________, “se você for a Buenos Aires, fala comigo. Eu te recomendo o filho dele, Magnata.” E começou lá em Odessa.
P/1 - Começou em Odessa?
R - A fábrica começou em Odessa. Agora é a Magnata.
P/1 - Aqui em Buenos Aires.
R - Em Buenos Aires. Tem 900 operários.
P/1 - Nossa! E como que eles se deram tão bem? Por que o senhor acha que eles fizeram assim tanto dinheiro? Foi a situação da Argentina que ajudou? O que houve?
R - A indústria. Tendo a capitalizar o pessoal. Você trabalha hoje... Comprou por tanto, vendeu por tanto, fabricou, encheu. Ai sobrou. Então, cresce a indústria. E quando vê, já cresceu. Quando a pessoa abre a sua casa, muitas vezes chega a um ponto da casa, aí... Tudo abaixo. Tiveram sorte, pegaram um artigo bom para fabricar. Bastante praça. Mas a indústria tende a crescer. Olha São Paulo. Todos eles são ricaços. O que é? Indústria. Compra urna fazenda, uma peça de fazenda ________.
P/1 - O senhor me falou, não sei se o senhor gostaria de falar mais uma vez, mas que teve um irmão seu que Stalin matou, né. Mas isso foi em 1936. O senhor disse que era o único que estava lá na Romênia no fim, em 1925, e veio pra cá encontrar sua família. Quer dizer que ficou um irmão seu lá, então?
R - Não. Esse que morreu lá nunca veio pro Brasil.
P/1 - Ele ficou lá sempre?
R - Claro. Era comunista, dedicado ao Partido. Stalin matou milhões deles, não é só ele. Só isso.
P/1 - O senhor tem alguma lembrança de...
R - Ele era muito garoto.
P/1 - Ele?
R - É. No Exército. Mas, infelizmente, não foi o único.
P/1 - Não. Foi muita gente.
R - Não sei se você escutou falar na chacina de Stálin.
P/1 - Já. Já li bastante sobre isso.
R - Sempre levei uma vida boa, pacata, cumpridor do dever.
P/1 - Deixa eu lhe perguntar. Quer dizer que o senhor, atualmente... Aqui no Rio de Janeiro, o senhor chegou quando?
R - Quando?
P/1 - O senhor chegou ao Rio de Janeiro.
R - 1930.
P/1 - Em 1930. O senhor chegou ao Brasil, foi direto pra Aracaju?
R - Fui direto pra Aracaju.
P/1 - Por quê? Tinha gente da família lá?
R - A família toda estava lá.
P/1 - Ah, a família estava toda em Aracaju. E aí, quando o senhor veio pro Rio de Janeiro, a família também estava vindo pro Rio de Janeiro?
R - Não. Não. Eu me lembro, até no início me desliguei.
P/1 - Da família?
R - Fui procurar meu destino.
P/1 - E por quê? O senhor se desentendeu ou por que o senhor queria independência?
R - Não. Porque eu estava sonhando com indústria.
P/1 - Estava sonhando em fazer uma fábrica.
R - A minha fábrica. Eu sou um grande mecânico. Não é bom se falar de negócios? Tem que falar mesmo. Eu entendo muito bem de máquinas. Olha aqui a máquina.
P/1 - Mas a sua loja foi de móveis, né? A sua fábrica foi de móveis.
R - Móveis muito ligadas à mecânica. Você pode costurar um botão com a agulha e pode costurar um botão com máquina automática. Tudo automatizado. Entendeu?
P/1 - Entendi. Entendi. E essa... Quando o senhor chegou aqui no Rio, o senhor morou aonde?
R - Na Praça XI. Até casar.
P/1 - Ah, o senhor morou na Praça XI. E foi quando que o senhor casou?
R - Em 1934.
P/1 - E como foi que o senhor conheceu a sua primeira mulher? Lá na Praça XI também?
R - O quê?
P/1 - A sua primeira mulher, a Cima, como foi que o senhor conheceu?
R - Também na Praça XI. Na família Guerman.
P/1 - O senhor está cansado já?
R - Mais ou menos. Ainda dá.
P/1 - Ainda dá?
R - Mas o resto, uma vida boa. Vira pra lá, da um pulinho pra cá, dá cambalhota, escapa de uma coisa, escapa de outra, entra numa fria. (risos) Essa é a vida.
P/1 - Que frias que o senhor entrou?
R - Às vezes a gente perde no negócio, perde dinheiro, é roubado. Enganado por sócios.
P/1 - A sua mãe aqui no Brasil ou lá na Argentina, ela não trabalhou não?
R - Trabalhou. Ela trabalhou.
P/1 - Trabalhou? Em quê?
R - Na cozinha.
P/1 - Ah, tá. Não trabalhava fora não, né?
R - Não.
P/1 - E na sua família tinha alguém que era muito religioso? O senhor é religioso? Não. Ninguém era...
R - Não.
P/1 - Não frequentava nenhuma sinagoga nem nada?
R - Aparentemente, não é. No fundo, no fundo, ninguém é religioso.
P/1 - O senhor chegou a frequentar alguma sinagoga?
R - Como é?
P/1 - O senhor frequentou alguma sinagoga?
R - Por força das circunstâncias... Feriados, dias santos.
P/1 - Certo. Que sinagoga o senhor frequentou?
R - O Templo.
P/1 - O Grande Templo?
R – É, o que eu aprendi com as viagens ao exterior.
P/1 - Quando foram essas viagens?
R - Quando? 1964, 1966, 1967.
P/1 - E quanto tempo o senhor passou em cada viagem?
R - Um ano.
P/1 - Em cada uma?
R – Não, ao todo.
P/1 - O senhor foi lá passear?
R – Passear, conhecer.
P/1 - E o senhor voltou lá na sua cidade natal?
R - Só voltei em Odessa. A minha cidade natal não fui, porque não tinha hotel. Eles não permitem... Os russos não permitem judeu fora do hotel que eles têm.
P/1 - Ah, sei, não permitem ir lá.
R - Não. Se a cidade não tiver hotel, não pode ir lá.
P/1 - E essa cidade não tinha hotel.
R - Em Rascov não tem.
P/1 - E agora o senhor está lendo o livro de Gorbachev, que eu estou vendo, né?
R - Estou lendo sim, senhora. Eu sou muito inclinado ao progresso ________ da Rússia. Como eu disse, eu gosto do país. Eu falo russo. Aprendi muita coisa na Rússia.
P/1 - Na Rússia? Mas como que o senhor... Isso, nna época que o senhor estava lá, já era ocupação russa, né? O senhor falava que língua lá?
R - Russo.
P/1 - Na escola era russo? Tudo russo?
R - Tudo russo.
P/1 - E em casa também se falava russo?
R - Tudo russo. Depois eu completo. Vou lhe arranjar mais umas fotografias.
P/1 - Tá certo.
R - Mas isso vai ser um trabalho ingrato. Cada pessoa, vai ter que fazer um caderno especial.
P/1 - Cada pessoa tem um caderno especial. Mas... É importante. Deixa eu ver se eu estou com uma cartinha aqui que eu vou deixar com o senhor...
Adilson José Santos Carvalhal
por Museu da Pessoa
Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
por Museu da Pessoa
Paulo Cipassé Xavante
por Museu da Pessoa
Maria Aparecida Vicente de Aguiar Alecrim
por camara cidada caparao
Dulce Sardinha de Vasconcelos
por Museu da Pessoa
Maria Gercina Simão de Oliveira
por Museu da Pessoa
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