Rosilene lembra de sua infância em Petrolina de Goiás e da condição de caçula de seis irmãos e única mulher do grupo. Fala das mudanças de cidade e das dificuldades financeiras do pai, produtor rural. Queria ser engenheira, mas acabou matriculada na Escola Normal e tornou-se professora primeiro na rede pública de Goiás e, depois de onze anos, por concurso, na rede pública do Distrito Federal. Desde então envolveu-se com o SINPRO-DF, cuja atuação já admirava desde quando era professora em Goiás. Em 2004, integrava com suplente a chapa que ganhou as eleições para o SINPRO e em 2006 assumiu a Secretaria dos Aposentados, dando início à sua trajetória de dirigente sindical. Participou de todas as mobilizações da categoria e marcou presença em greves históricas. Seu depoimento revisita uma firme atuação sindical e não deixa de mencionar companheiros e companheiras que deixaram exemplos marcantes de luta.
Sempre professora
História de Rosilene Corrêa Lima
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 19/11/2021 por Wini Calaça
Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
04/03/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001
Transcrito por APonte
1:30
P/1 – Por favor, Rosilene, seu nome completo, local e a data do seu nascimento?
R – Sou Rosilene Corrêa Lima, nasci em Petrolina, Goiás. Uma cidade bem pequena próxima a Goiânia, nasci em 25/02/74. Sou filha da Maria Veloso Lima e de Eugênio Corrêa Lima, ambos já falecidos.
1:58
P/1 - Qual era a atividade dos seus pais?
R- O meu pai a vida toda, primeiro ele era da fazenda, era fazendeiro, mas depois teve problemas financeiros que acabou se tornado proprietário de uma pequena chácara e a minha mãe, sempre foi do lar, cuidando dos filhos, enfim, trabalhava muitíssimo, mas cuidando de nós.
2:26
P/1 – Você conheceu os seus avós?
R – Eu conhecei a avó materna e paterna, mas avô nenhum.
2:39
P/1 – Você tem noticia de onde eles vieram, da origem dos seus avós?
R – Os pais do meu pai, eles eram mineiros de Araguari. Da minha mãe, não, Goianos mesmo da região próxima Anápolis.
2:56
P/1 - E a profissão deles você tem notícia?
R – Eles também eram de origem bem rural, sempre foram, tanto os pais da minha mãe quanto o meu pai, eles moravam em fazenda.
3:12
P/1 – Você tem irmãos?
R - Nós éramos seis filhos, eu sou a caçula desses seis e única mulher, então eu tinha cinco irmãos, mas dois deles, os dois mais velhos já faleceram.
3:28
P/1 – Qual é a sua posição na escadinha de irmãos?
R – Eu sou a ultima, sou a caçula.
3:38
P/1 – Como é que era Petrolina, cidade onde você passou sua infância, que cidade era essa?
R – Então, Petrolina é uma cidade tipicamente de interior mesmo, bem pequenininha. Aí você imagina interior de Goiás, então a influência da cidade toda era muito Rural, o forte ali da economia eram as fazendas, era realmente a agricultura ou mesmo fazendas de criação de gado, que era o caso do meu pai. E Petrolina era aquele lugar onde todo mundo conhecia todo mundo, era a mesma escola, a mesma igreja, porque tudo muito pequeno, para você ter ideia, eu quando fui......eu fui dama de honra de casamento aos 3 anos, no primeiro casamento que eu participei, desde então, todos os casamentos na cidade era dama de honra, porque não tinha tantas meninas assim na minha idade e com disposição dos Pais para isso, enfim. Mas eu saí de Petrolina muito cedo, nós mudamos eu tinha, acho que 9 anos, e claro que eu sempre continue frequentando Petrolina, minha adolescência vive muito em Petrolina, meus primeiros namorados, enfim. Mas não fiquei morando lá! Claro que tem família lá ainda.
4:49
P/1 – Ainda assim, como é que era a sua rua, como é que era a casa que você morava?
R - A minha casa era a última da rua, com a saída para a cidade, uma das saídas, né! Bem próximo tinha um córrego que a gente gostava muito de ficar brincando, não tinha asfalto, na época que eu morava lá não tinha muito asfalto, e eu morava de frente para a igreja, a igreja católica, que não tínhamos ainda a praça, mas tinha o que a gente chamava de Largo, que na verdade era a praça que não estava pronta, com gramado na frente. Onde a gente brincava muito também, de pique-esconde, de queimada, de futebol, era lá na porta da igreja, e a minha casa era bem de frente para essa igreja. E a rua subindo direto ia dar na minha escola, então era tudo assim, tudo muito visível, tudo muito perto. E tínhamos um padeiro na nossa rua, que ele fazia o pão caseiro e saía de bicicleta, com a cesta na bicicleta ia entregando o pão fresquinho nas nossas casas. Era uma vida assim, de qualidade altíssima.
6:08
P/1 – Você podia descrever a sua casa, como era que ela se distribuía?
R – A minha casa era uma casa grande, a época era inclusive uma das melhores casa da cidade, como eu disse para o meu pai, nesse período ainda tínhamos uma condição financeira que permitia isso. Então era uma casa de esquina, com a garagem grande na sua lateral, mas naquela época, todas as casas tinha alpendre, que era aquela frentizinha ali, minha casa tinha o alpendre bem grande, com cadeiras bonitas, algumas de fio de plástico colorido, mas tinha umas outras de metal, tínhamos uma sala bem ampla, uma quarto para todos os filhos, e o que era diferente na casa, e que ele tinha uma varanda vazada, que separava sala, quartos, da cozinha, e despensa, área de serviço, então era separado por essa varanda vazada, então a gente tinha saída pelas duas laterais dessa varanda. A gente gostava muito de brincar, correndo um atrás do outro, passando por essa varanda que era vasada, então isso marcou muito a minha infância, então como eu te disse, a rua era em uma das saídas a cidade, a gente pulava muito o muro, se escondendo um do outro e passava por esse beco, a gente chamava de beco, a saída, a rua, era um beco, então era também o nosso lugar e era a descida da água da chuva, a enxurrada desembocava toda ali nesse beco, e a gente adorava brincar na enxurrada da chuva ali naquela rua.
7:48
P/1 – Que outras brincadeiras você curtia nessa época da sua infância?
R – Acho que era tudo que era possível, até porque, como eu sou a única mulher, então naturalmente eu me envolvia muito na brincadeira dos meninos, era muito mais brincadeira na rua do que brincar de casinha com as amigas, porque não eram muitas, tinha mais era meninos por perto de mim, porque a minha casa era muito frequentada pelos amiguinhos dos meus irmãos, então eu acabava me metendo muito nisso. Uma coisa que eu adorava brincar, era salve latinha, não sei se você conheceu? A gente pegava uma latinha de extrato de tomate, ou leite condensado, não tinha muito, leite condensado naquela época era só no final de semana, e tal, mas a gente deixava a latinha num ponto e todo mundo tinha que se espalhar, e ficava escondido, e tinha aquele que ficava procurando os outros, né! Mas eu poderia salvar toda a turma se eu chegasse até a latinha e batesse, salve latinha! Aí ficava todo mundo liberado, e aquele continuava sendo o caçador, entende! Ele tinha que tocar em mim antes que eu chegasse até a latinha, então assim, essas brincadeiras, e queimada. Gostava muito de queimada, especialmente de grupo.
9:06
P/1 - Na sua casa Rosilene, tinha divisão de tarefas, você e os irmãos ajudava a mãe nas tarefas?
R - Olha gente, a minha mãe foi de uma geração muito submissa, embora depois eu posso falar um pouco dela, assim, do que eu acabei fazendo na vida, e que devo totalmente a ela, de uma decisão dela. Mas ela era do tipo, mãe, esposa de cuidar de tudo, da comida pronta, da roupa limpa, a gente tinha Dona Antônia que ajudava minha mãe, especialmente com as roupas, lavando, passando as roupas, e tinha sempre alguma moça que ficava em casa, porque era muita gente, né! Seis filhos para minha mãe sozinha, era muita coisa, e a casa grande também. Mas a gente sempre teve uma relação com ela, assim, de muito cuidado. Mas aí, ainda dentro daquela formação, de que eu sendo a menina era a que mais tinha a obrigação de ajudar a mãe, né! Os irmãos ficavam muito, agora meu pai nunca permitiu que um de nós, saísse do quarto de manhã sem a cama ficasse arrumada, isso era ordem na casa. Então embora uma casa cheia de meninos, mas não era uma casa desorganizada, de bagunça que a gente fizesse, porque o meu pai era muito rigoroso com isso, muito mais que a minha mãe. Então tinha essa situação, da coisa dos meus irmãos, eles não foram educados muito com essa obrigação de dividir as tarefas, eles adotaram isso adquiriram isso depois, com a vida deles, com as companheiras deles, muito mais do que com a minha mãe, porque infelizmente a minha mãe trouxe com ela essa coisa mesmo da responsabilidade feminina.
11:01
P/1 - Quando você começou os estudos, a sua primeira escola qual foi?
R - A minha primeira escola foi em Petrolina, e foi a dona Lurdinha, que era filha do nosso vizinho, que era dono de um supermercado, um mercadinho que tinha lá da nossa casa, seu Zé Siqueira, então a dona Lurdinha foi a minha primeira professora do jardim de infância, como é que foi isso? Não era uma escola, ela montou uma turminha de crianças, de jardim de infância, dos filhos dos amigos, entende. Então nós fomos, a igreja cedeu uma sala para ela, para que ela pudesse dar aula para nós, então era lá nessa igreja, em frente a minha casa, só atravessava o Largo e ia para a igreja na nossa primeira aula de jardim de infância. E aí depois é que eu fui então para escola mesmo em Petrolina, que fiz até a terceira série, que na época era terceiro ano, né, o primário. E aí a quarta série eu já fiz em Anápolis, que eu me mudei para Anápolis, eu fiz a quarta série em Anápolis e iniciei a quinta. Aí foi quando houve uma mudança radical na minha vida, que meu pai faliu, e não tivemos mais condições de ter fazenda naquela região onde nós tínhamos, próximo a Anápolis, e meu pai teve que comprar então, terras em interior de Goiás, mais interior, no norte de Goiás, propriamente dito, onde a terra era bem mais barato, então comprava-se uma quantidade maior de alqueires de terra por um valor menor. E aí então, meu pai decidiu ir para lá, nós ficamos morando em Anápolis e meu pai indo para lá e voltando, enfim. Aí até que decidiu-se que a família toda deveria ir. Aí quando eu digo que foi a mudança radical, foi exatamente porque eu saí dessa condição de filha única mulher, com alguns paparicos, do meu pai, da minha mãe, desse cuidado todo, de ter uma vida social relativamente, digamos confortável, de destaque da minha cidade, e de repente eu fui morar. Aí tinha uma pessoa que ajudava também em casa, e aí de repente eu, de um dia para o outro, fui morar em uma casa, de madeira, essa primeira casa ainda era madeira e tinha telhas mesmo, mas foi por pouco tempo, mas o chão não tinha cimento, era terra batida, né! E depois nós tivemos que nos mudarmos desse local e ir para um lugar mais distante ainda, até enquanto estava morando nesse local, o meu pai nos levava para escola, então eu era moradora da zona rural, mas ia para cidade estudar, então continuei os meus estudos da quinta série, só que aí quando foi para fazer a sexta série, eu com 12 anos, me transformei já em uma aluna do noturno, por quê? Porque os meus irmãos também tinham que estudar, e aí já ficava uma despesa muito alta se fosse para dar duas viagens no dia. E os meus irmãos tinham que trabalhar, e era só eu para ir de dia, então a solução que teve, foi que eu uma menina de 12 anos passei a estudar à noite. Era um convívio que a turma toda era de adultos, que eram trabalhadores de uma mineradora, que tem ainda lá em Niquelândia, porque eu fui morar em Niquelândia, bom. Aí depois disso, nós nos mudamos pra um local mais difícil, e a decisão foi de que ninguém mais iria estudar. Então em 1977, eu não estudei, eu fiquei morando nessa fazenda, e era um rancho de pau-a-pique e de capim, o telhado não era mais de telha, a gente não tinha água em casa, a gente tinha que pegar água do riacho, depois o meu irmão fez uma engenhoca que jogava o balde e conseguia trazer a água, quando chovia tinha que ser água da chuva, porque a água do rio ficava muito suja, barro, enfim. Até que, aí quando eu falo da minha mãe, né! Então eu passei o ano todo num trabalho intenso, para convencer o meu pai a deixar que eu voltasse a morar em Anápolis na casa de uma tia, para poder retomar os estudos, porque eu não vinha nenhuma expectativa para mim ficar naquele lugar, embora eu tivesse 13 anos, mas aquilo me incomodava, eu chorava muito. E aí a minha mãe, então, entrou nessa batalha comigo, e convencer o meu pai de que o melhor para mim era que eu fosse morar com a minha tia para voltar a estudar. Então é isso que eu digo, assim, eu levei um tempo para reconhecer e perceber a atitude da minha mãe, aquela mulher que tão submissa, mas ela entendeu, teve a coragem de enfrentar o meu pai e bancar que eu saísse de casa para estudar, e abriu mão de ter a sua única filha no convívio com ela, inclusive de ajudar nas tarefas de casa, porque aí ela ficou sozinha, então ela abriu mão de tudo isso, e abriu mão de conviver comigo. Hoje eu fico pensando, em abrir mão dos meus filhos por qualquer motivo que fosse, e ela fez isso, quando eu digo abrir mão, é porque eu realmente passava messes sem ver os meus pais. Porque era distante, não tinha asfalto na época, eram 350 km de chão, era muita terra ou muita lama para chegar lá, e ainda chegava na cidade para conseguir um jeito de ir lá para a roça, lá para fazenda. E a época não tinha telefone, assim, não era todo mundo que tinha telefone em casa, imagina, não existia celular, não tinha outras formas. E aí era carta, eu escrevia para os meus pais uma carta por semana, e aí chegava a carta na cidade, para que alguém, ia para casa de uma amiga minha, que de lá um dia chegava na casa da minha mãe a minha carta, então foi assim. Aí eu voltei a estudar nessas condições, em 78 eu fiz a sétima série, e aí já continuei no noturno, porque eu tinha que ajudar na casa da minha tia e estudar, então voltei, mas já voltando para o noturno, e desde então nunca mais retornei para o diurno, porque tive que trabalhar, para me virar por lá, para ajudar os meus pais a me sustentar. Então talvez por isso, as coisas vão acontecendo não por acaso, mas às vezes o acaso também colabora, porque eu fui fazer magistério, porque a minha tia insistiu com isso, porque na verdade quando eu era ainda bem criança lá em Petrolina, eles começaram a fazer uma obra ali por perto, não me lembro mais o que que, mas eu me lembro que eu via o avião passando, avião pequeno, sabe. Levando os engenheiros para esta obra, era uma obra grande. e aí eu falava: quero ser engenheira. E aí quando for para fazer o segundo grau, eu queria fazer um curso de ensino médio, que chamava construção civil, não era engenharia, era construção civil, que era no Polivalente, quase que uma escola técnica na época. Só que aí, a minha tia falou: Ai Rosilene, eu acho que você deveria fazer magistério, depois você resolve fazer outra coisa, porque você vai trabalhar, não sei o que e tal. Aí eu fui fazer o magistério, à noite também! E com isso eu consegui um trabalho com 18, eu fiquei esperando completar 18 anos para entregar os documentos, para começar a trabalhar como professora de séries iniciais, né! Que é professor de nível médio, porque eu estava terminando o magistério, só que em seguida, aí eu também assim, aí eu já descobri a educação, já me vi nesse ambiente, e quis fazer portanto o vestibular para Pedagogia. Porque também era o curso que eu conseguiria pagar, porque eu tinha bolsa, porque o meu chefe era diretor da faculdade. Ele me deu uma bolsa de 60%, eu tinha bolsa na faculdade, e era o que era possível, não tinha faculdade pública, universidade pública, então era particular, e era o que foi possível, mas a escolha do curso poderia ter sido outra, mas eu já escolhi pedagogia, e desde então, eu costumo dizer Luiz, que eu nunca, não consigo, assim, se eu não fosse professora, certamente eu seria professora, sabe, eu não consigo, me ver fazendo outra coisa, minha vida inteira, assim, às vezes eu fico pensando. Estou aposentada, daqui a pouco acaba o mandato do SINPRO, eu posso inventar outra coisa, mudar completamente, mas aí eu não me acho, sabe, não consigo enxergar esse caminho para pensar em algo tão diferente. Então talvez, essa coisa de permanecer no sindicato, estar na
é porque dessa forma eu continuo na educação, não estou dentro da sala de aula, mas eu continuo também fazendo parte do que é isso, do que, que é a política educacional, do que você pode conseguir para educação do país, então acho que tem um pouco disso, minha vida foi mais ou menos por aí. Aí você vai me perguntar, e como é que veio parar aqui, porque eu não sou de Brasília.
20:35
P/1 – Graças a sua mãe e a sua tia, que você enveredou por esse caminho. Eu queria voltar um pouquinho atrás e te perguntar sobre seu primeiro trabalho, o trabalho que você conquistou que foi de professora. Você lembra o que você fez com o seu primeiro salario?
R – Bom, eu fiz um monte de coisas antes de ser professora, ser contratada como professora no Estado de Goiás, na época não tinha concurso, foi antes da constituição, então não tinha concurso, sei exatamente o que é você ter que articular com a influência politica para você ter um emprego. Eu tive que passar por isso, em 82 eu fui contratada como professora de nível médio, mas antes disso eu já havia trabalhado em sorveteria, em lojinhas de roupas e um monte de coisas, né, padaria. Mas o meu primeiro emprego de professora, nível médio e quando eu recebi o meu primeiro salário eu não acreditava que aquilo era meu, e olha que professor de Goiás ganha pouco, na época então, era muito pouco, mas era o meu salário, resultado do meu trabalho de professora, então foi de uma realização imensa. Mas você me perguntou o que eu comprei, comprei várias coisas, mas o que me marcou no meu primeiro salário, foi que eu pude comprar os meus primeiros óculos de sol, e eu sou apaixonada por azul, e aí eu me lembro exatamente como era aqueles óculos, eles tinham as lentes sombreadas, assim meio de azul, sabe era lindo, meus óculos eram a coisa mais bonita. Então o que eu me lembro bem, é isso, e uma e uma calça jeans da Gledson, que eu tinha loucura em ter uma calça da Gledson, e ai eu puder ter uma calça da Gledson, que nem existe mais, eu acho.
22:26
P/1 – Como é que chamava mesmo, Gledson?
R – Gledson, era uma marca famosa na época, antes da azul, bem antes.
22:42
P/1 – Você fez vestibular e entrou na faculdade onde e quando?
R – Então, fiz vestibular em Anápolis, fiz magistério em Anápolis, voltei a estudar minha 7ª séria em Anápolis, quando fui para a casa da minha tia, então fiz, concluiu o ginásio na época, e depois fiz o segundo grau lá também, no Colégio Estadual Professor Faustino, em Anápolis e em seguida já fiz vestibular, foi o primeiro vestibular que eu fiz, passei, já fiz então em Anápolis. Eu terminei a minha faculdade em 86
23:22
P/1 – Fora essa professora sua vizinha, que foi a sua primeira professora bem dizer, mas fora ela que evidentemente marcou, mas teve algum professor ou professora que na sua trajetória tenha te marcado, que você guarda uma lembrança forte?
R - Ah tem! Lá mesmo em Petrolina tive a minha professora dona Nair e ela foi muito marcante, acho que para todo mundo que passou por ela, em Anápolis na 5ª série foi a professora Áurea, que era de matemática que era muito brava, mas eu admirava muito o trabalho dela, a forma firme que ela conduzia a turma, e na faculdade eu tive a professora Heloísa, era de problemas brasileiros. Porque a professora Heloisa me chamou atenção, assim, é porque com ela, eu aprendi a ter um olhar mais crítico, para a economia no país, para política do país, ela despertou muito isso em mim, jeito dela falar, a militância dela, e a professora Jorleide, que era a professora de psicologia, ela me acompanhou praticamente o curso todo de pedagogia, foram várias psicologias, a gente tem muita psicologia no curso de pedagogia. E a professora Jorleide ela me aturou na verdade. Porque eu contestava tudo que ela falava, queria entender tudo, todos os meus conflitos de fase de adolescente, né, e eu queria respostas para tudo, tanto que um dia Luiz no meio da aula, ela falou: Rosilene, por favor, você tem agenda liberada comigo no meu consultório, para todo dia que você quiser falar comigo, mas me deixa dar aula. E eu acabei indo mesmo, sabe, fiz algumas sessões lá com ela, depois eu abandonei. Mas essa foi a alternativa que ela teve, vou ter que conversar com essa menina em outro lugar, para ela deixar eu trabalhar aqui na sala de aula. Porque eu queria contestar tudo, tudo eu queria entender diferente.
25:29
P/1 – Rosilene, quais foram, qual foi o primeiro movimento social com o qual você teve contato? Quando é que começou essa tua ação social?
R – Olha, eu sempre fui, como é que eu posso te falar, eu sempre fui de me incomodar com as injustiças, de me incomodar com o problema dos outros, de querer, como eu falei, de questionar as coisas, então no meu curso de Magistério, a gente não tinha muita atuação, porque primeiro que era só mulheres, ainda era uma época do magistério, essa escola só estudava meninas. Mas foi lá que foi o meu primeiro movimento, assim, que eu liderei, que foi exatamente para contestar todas as regras que a direção havia determinado para a gente. Que o vice-diretor, que era Professor Osvaldo, esse professor Osvaldo, teve muito trabalho comigo, porque aí eu realmente insisti nesse movimento, porque eles tinham, eles mudaram horário, a gente não podia alterar as aulas, eu sei que foi uma prisão para nós. E aí a gente não queria aceitar aquilo, e eles não queriam nem discutir, então eu me lembro que eu estava no segundo ano do magistério, não era mais uma criança, e nós fomos para a reunião com ele, e eu fiquei nervosa e me deu crise de riso, e o professor Osvaldo entendeu que eu estava com uma crise deboche, aí eu levei advertência, sabe, foi tudo registrado em livro, eu quase morri com isso. Eu tinha maior respeito por ele, fazia a disputa, mas de forma respeitosa, e o riso foi de nervoso, sabe, me deu uma crise de riso que não conseguia parar. Então eu fui punida, fui advertida por escrito por isso, tive uma suspensão de dois dias, e isso marcou muito. E depois disso, a faculdade a gente tinha uma rotina que não levava muito a isso, porque era uma faculdade particular, pequena, então a gente não teve muito essa militância. Mas eu me lembro de uma cena marcante, eu deveria ter, acho que não tinha 8 anos ainda, o tempo que o meu pai ainda conseguia me botar no ombro, mas eu me lembro de participar de comícios, lá na minha cidade de Petrolina, de campanha, de eleição, enfim, para prefeito, deputado, ou mesmo para governador. Então, o meu pai, ele teve uma participação na política, na época era o MDB, né! E aí os políticos de Anápolis, lá tinha a família Santino, que era bem poderosa, eles iam a minha casa para conversa com meu pai, para ir as fazendas, para pedir votos, etc.... Então eu lembro muito de estar no comício, como eu era pequena, meu pai me colocou no ombro, entendeu? Me levantou e me colocou nos ombros dele para eu ficar assistindo o comício, e eu ficava assim, eu me lembro bem como eu estava vibrando com aquelas pessoas discursando em cima daquele caminhão, e tal. Então isso me marcou muito, eu lá pequenininha, então as coisas foram acontecendo, depois quando eu vim, ainda professora de Goiás mas eu acabei vindo morar aqui em Brasília, e trabalhando em Goiás, na cidade próxima, porque aqui tem isso, né, tem o em torno aqui, com a Metrópole na verdade,. e a gente. Aí lá eu liderei uma greve, nos tivemos greve dos professores em Goiás, e aí essa greve, eu tinha 23 anos. E aí eu liderei essa greve, de realmente enfrentar as pessoas, a direção da escola queria colocar substitutos no nosso lugar, e eu cheguei eu pedi para a professora que estava me substituindo se retirar da sala, não aceitei, coloquei meus alunos para irem embora e fazia as reuniões. Enfim, liderei essa greve nessa cidade aqui, que é Santo Antônio descoberto, então a verdade pertence a uma Regional de Luziânia. Então isso foi aos 23 anos.
29:42
P/1: Você nesse momento estava organizada, participava de algum grupo politico?
R – Não, grupo politico não, não era filiada a nenhum partido, mas nesse movimento, eu conhecia as pessoas, os dirigentes do meu sindicato de Goiás e acabou que eu me envolvi tanto com isso, que logo em seguida nós tivemos um processo de eleição, só que a eleição, do sindicato, né. A época eles elegiam os representantes dirigentes, como se fosse por núcleos, de acordo com a cidade que quer passar da capital, e era como se fosse uma assembleia, e ali as pessoas decidiam quem é que iria representar. E aí que que aconteceu, eu estava nessa assembleia, e a pessoa, a professora que era para ser a vice-presidente da Regional teve lá um imprevisto, que não foi, aí quando eu vi meu nome foi citado e eu acabei assumindo esse negócio, com essa idade e depois, já trabalhando aqui no DF, o que era Presidente na época junto comigo, professor Aluízio, que é aposentado nosso aqui no DF. Aí nós nos reencontramos aqui, ele foi meu colega lá, eu fui da direção com ele, mas foi por pouco tempo, que depois eu me mudei novamente, aí nos encontramos aqui. Então quando ele me viu no SINPRO, ele falou: ai Rosilene, eu sabia que você não tinha como tomar esse caminho, estava escrito que a gente ainda ia se esbarrar por aqui fazendo a mesma coisa. Então foi assim que começou essa relação com o sindicato, foi em Santo Antônio descoberto, com a Regional aqui de Luziânia, do
, eu ainda professora de Goiás.
31:33
P/1 – Rosilene e sobre o SINPRO, qual foi a primeira vez que você ouvi falar no Sindicado do Professores do DF?
R – Ouvir falar do SINPRO, a gente ouvia falar muito mesmo antes de estar no DF, quando eu morava ainda em Anápolis, fazendo magistério ou mesmo pedagogia. O que que era o plano, o sonho de quem fazia magistério em Anápolis, era passar no concurso para ser professor em Brasília, porque na época tinha um salário muito bom, então era o projeto de vida da maioria, era esse. E meu, não! Pode parecer mentira, mas eu não tinha isso, assim, quando eu fiz magistério até mesmo pedagogia, eu não tinha esse desejo de vir para Brasília, era uma coisa distante, para mim assim, não sei! Aí bom, mas o SINPRO, especialmente, o que eu te relatei agora, eu já morando aqui e trabalhando aqui próximo, em Goiás, a gente tinha uma admiração danada pelo Sindicato dos Professores, e ainda em 86, eu trabalhando em Alexânia, porque tem uma passagem que eu morei em Alexânia, e foi lá que eu me casei. Eu tinha uma colega de trabalho, que era orientadora Educacional aqui, e era também lá em Goiás, então ela trabalhava aqui, e lá com a gente, e ela falava muito, e a gente via as atividades que aconteciam aqui, então aquilo já, sabe, mostrava para a gente a força do SINPRO, aí isso eu tinha um desejo, assim, de chegar mais perto desse sindicato, essa coisa que aqui tinha. Em Goiás também sempre teve uma excelente atuação, mas o SINPRO causou impacto, assim, nas pessoas. Eu acho que quando a gente pensava em vir para a Secretária de Educação, na época da Fundação Educacional, impossível não pensar em fazer parte dessa categoria, que se organizar, que enfrenta que tem greve, as grandes mobilizações, isso ficava muito evidente, e é isso! Quando você toma posse na secretária, o contato com o SINPRO é imediato, e eu quis logo sindicalizada, sem nenhuma dúvida. Logo me sindicalizei, e ia em todas as assembleias, participava da atuação do sindicato, das atividades do sindicato, mas até então, sem nenhuma intenção, diferente de ser filiada, sindicalizada, e participar, e colaborar, mas da minha escola. Depois de algum tempo é que essa aproximação foi acontecendo.
34:32
P/1 – Que mobilizações importantes você se lembra dessa época, que tenha marcado na sua memória?
R - Eu fui professora em Goiás por 11 anos, então quando em vim para a Secretária de Educação, eu já trouxe portanto ai comigo, alguns anos de magistério, então eu fui nomeada aqui em 93, então não tem tanto tempo assim, se você considerar a história e o meu tempo de magistério. Então quando eu vim em 93, logo em seguida, a época era Joaquim Ruiz,
a disputa, ai logo em seguida tivemos o primeiro governo do PT, aqui no DF, que era o Cristóvão Buarque, que foi governador, e ali eu vivi um conflito muito grande. Porque eu acabei indo trabalhar na regional de ensino, que era resultado de um trabalho, eu estava em uma escola, rapidinho assim, eu tinha uma ano e pouquinho de Secretaria, e tive a oportunidade de substituir a vice-diretora que saiu de licença a maternidade, de uma escola grande, de Samambaia, tinha cinco turnos, quase 170 servidores, entre professores e todo mundo nesses cinco turnos, então era uma escola bem grande, nova, recém-inaugurada. Então foi uma baita experiência para mim, realmente conhecer a máquina por dentro, enfim. Aí com isso eu acabei me aproximando das pessoas que trabalhavam na regional de ensino, que é como fosse uma subsecretaria de educação, não sei como é que você conhece isso aí, cada cidade que era antigamente cidade satélite, região administrativa aqui, tem uma subsecretaria, que é o que a gente chama, de Sub Regional de Ensino. E aí eu tinha uma relação lá com as pessoas, na mudança de governo acabaram me convidando para trabalhar lá. E eu fui, me aproximei muito da coordenadora da Regional que é uma pessoa super amiga, a gente brinca que ela é amiga mãe a nossa relação se tornou assim de afetividade, mesmo, que a Dorcas de Castro, ela é orientadora Educacional aposentada, que é esse marco na minha vida. E aí qual foi o conflito, você falou de mobilização o que marcou, e tal. Foi porque eu estava trabalhando no governo, não estava na escola, não estava dando aula, e teve greve. E aí você imagina como é que é, assim, essa pessoa que nunca deixou de fazer uma greve, nunca deixou de atuar, de tá na briga, né! E aí de repente tem uma greve de um lado tem o governo que você está fazendo parte, e do outro lado tem a categoria, que a sua categoria, que é o seu lugar, fazendo uma greve. Então, por sorte, a Dorcas tem também esse mesmo pensamento, e ela mesma incentivava, que a equipe dela fosse para as assembleias, então a gente pode participar, não deixamos de trabalhar todos os dias, mas participávamos de todo movimento e estávamos do lado do movimento. Mas foi uma situação muito conflituosa para nós militantes, que estavam naquele momento compondo o governo. Mas aí nós tivemos greve históricas depois disso. Em 2001, hoje mesmo eu estava lembrando da greve de 2001, e não são só greves, a gente tem momentos de luta. O SINPRO, eu não estava em Brasília, mas o SINPRO tem a luta pelas Diretas Já, na época do Collor, que foi também esse marco na história do país, no impechment do Collor, e assim por diante. Então tudo que a gente tem vivido, país tem vivido, que o DF tem vivido, que diz respeito à vida das pessoas, ao direito das pessoas, o SINPRO sempre é atuante.
38:39
P/1 – Me diga uma coisa, como é que se deu a transição dessa diretoria clássica sindical, Presidente, Secretário e Vice-presidente, para essa direção colegiada que dirige o SINPRO hoje, como se deu essa transição e por quê?
R – Olha, eu não estava, não convive com esse pedido no SINPRO, né! Eu ainda, a Lúcia Carvalho foi nossa última presidenta, eu conheci ainda a Lúcia no sindicato, mas quando houve essa mudança, eu não participei do momento, das discussões. Mas o que eu ouço, do que contam, e certamente você ouviu, ou vai ouvir isso também. Houve uma decisão, um entendimento, de que era preciso dar mais, democratizar mais as estancias do sindicato, as decisões do sindicato, então entenderam naquele momento, que não se podia concentrar esse poder nas mãos de poucos ou só de um. Eu particularmente acho que é uma discussão que ela precisa ser mais aprofundada, porque há uma ideia de que o colegiado por si só garante democracia ou o contrário, de que o presidencialismo impõe um autoritarismo, e não se trata disso, acho que depende da prática de cada um, da condição de quem está presidindo, que vai dar ao processo, então não é, nem determina a democracia e muito menos determina também o autoritarismo esse modelo, mas é uma discussão delicada de se fazer com a categoria, porque tem que ter uma ideia de colegiado é amplamente democrático, enfim. Acho que a gente tem que garantir a participação de todos, um debate necessário, para que as decisões sejam tomadas e sejam acertadas, e isso é claro que tem muito mais chance de acertar quando você realmente amplia o debate e respeita e ouve as opiniões.
40:55
P/1 – Que avaliação você faz da atuação atual do SINPRO, nesse contexto que nos estamos vivendo? Você se referiu ao sindicato que não apenas luta pelos direitos da categoria, mas também por pautas sociais mais amplas. Como é que você avalia a atuação do SINPRO hoje?
R – Então, porque na verdade, acho que tudo que acontece, direto ou indiretamente, tem a ver com a gente, não tem como assim, qualquer medida adotado por um governo, ou qualquer retrocesso, de algum modo, em algum tamanho, isso vai me atingir. Então o SINPRO tem essa característica dessa atuação mais ampla, se envolver nas pautas, sócias e de tudo, ai a gente tem uma dificuldade Luiz, com a categoria muitas vezes, dessa compreensão, as coisas não ficam clara para alguns da nossa categoria, não da maioria. O que que é o papel do sindicato? Parece-me que o sindicato, a única razão de existência do sindicato é defender o seu salário, dos seus direitos, é claro que isso é o primeiríssimo item da lista, evidente, nós somos a entidade classista, e nós somos uma entidade que temos uma fração e temos que ter uma atuação corporativista, agora, quando a gente fazia uma leitura, uma coisa mais recente de que o golpe que se estava aplicando na Dilma, para tirá-la do comando do país, da presidência, iria nos afetar como trabalhadores e trabalhadoras, não necessariamente porque a Dilma era do PT e direção do sindicato tem uma linha de esquerda, e que votou na Dilma, não! É porque a gente tinha clareza, de que as medidas que seriam adotadas, depois que ela fosse retirada, teriam medidas que traria um prejuízos, para nós, e para o país, a gente sabia! A gente falava a frase “o golpe é contra a classe trabalhadora”, e as pessoas achavam que não, que nós estamos fazendo a defesa da Dilma, pura e simplesmente, então tem essa dificuldade de compreender a atuação do sindicato, além da pauta da categoria propriamente dita. Aí a gente vem com debate, nós tivemos as eleições, a última, da reeleição da Dilma com o mineiro, Aécio Neves, aí nós fizemos o jornal, colocando qual era a política do PSDB, qual é a política do PT, colocamos vários candidatos, para mostrar para a categoria, do que a gente estava falando, de projeto de país, do que que estava em jogo, o que que seria aprovado, e o que poderia acontecer com isso. E a gente tem esse jornal, inclusive guardado até hoje, teve muita gente que criticou muito, que disse que ia denuncia no ministério público, que se desinsindicalizou por isso, mas a gente não pode abrir mão de fazer esse tipo de debate. Agora nós temos aí um Bolsonaro, que é um genocida, que uma pessoa que não poderia nunca estar onde está, é um mal para esse país. E a gente precisa denunciar isso, então hoje nós estamos na luta na batalha, pra termos vacinas para todos, não é só para categoria, nós estamos fazendo uma campanha gastando recursos mesmo com essa campanha, para mostrar para a população que ela tem direito a ter vacina, e que é obrigação do governo providenciar essa vacina, nós estamos em campanha, hoje fizemos, aí é difícil falar do hoje, porque não sei quando a gente vai ver isso depois, mas assim, nós estamos vivendo um momento, que é um ataque brutal ao estado brasileiro. Então nós estamos em campanha em defesa das estatais, porque a gente tem clareza que privatizar, vai ser um desastre, a reforma administrativa vai ser um atentado, não só ao servidor público, mas a população de modo geral, porque é um serviço que vai deixar de ser prestado, e que é direito constitucional também, de todo mundo. Então a nossa pauta é muito maior do que só nossa pauta da categoria, que tem vários itens, nossa luta. Mas é isso, então o SINPRO se preocupa e atua, quando tem alguma demanda de transporte, do meio ambiente, entendi? Então a gente procura realmente ter uma atuação que é de preservar, de cuidar, de defender o que é direito do povo.
45:58
P/1 - Quais são as principais ferramentas que o SINPRO utiliza para comunicar-se com a categoria, como é que se dá essa interação?
R – Olha! Nada, absolutamente nada, substitui acho que ainda vai levar um bom tempo para substituir, o olho no olho, que é a nossa principal ferramenta de trabalho a visita ao local de trabalho, nada substitui isso, a categoria gosta, exige e nós também. Estarmos lá, reunir os professores, professoras, ou na hora do intervalo, ou num horário que não estão na regência mesmo, e fazer um bom debate, conversar, enfim, trocar ideias e passar informações, fazer análises conjuntura, é lá, no local de trabalho. Agora é claro que nem sempre isso é possível, não é todo dia, e agora tem mais de um ano que nós fomos afastados disso. Então, em termos de ferramenta que a gente utiliza hoje é o que ninguém pode mais abrir mão, né! Nos estamos falando de recursos tecnológicos, de tecnologia digital, o WhatsApp é o que mais, mais promove isso, de chegar, nós temos um espaço na TV comunitária de Brasília, nos temos espaços em jornais impressos também, ainda a gente faz isso, nosso site, enfim, as rádios comunitárias, a gente procura falar com as pessoas. Mas em termos de ferramenta de trabalho, eu continuo te dizendo que a nossa principal ferramenta, ainda é isso aqui, é a voz, e os pés para chegar até as escolas.
47:38
P/1 – Nesse contexto Rosilene, quais são os desafios mais prementes que se colocam diante do SINPRO hoje? Quais são os maiores desafios que ele tem que enfrentar neste momento?
R - Olha eu diria que o nosso maior desafio hoje, é exatamente sobrevivermos a esse período, e quando eu digo sobreviver, nem to falando de a Rosilene continuar viva, é a entidade, a atuação política do SINPRO sobreviver a esse período, com esse distanciamento, porque por mais que você possa enviar dez mensagens por dia para cada professor, como eu disse, nada substitui o que era nossa atuação, e o que tem que ser, que é o ideal. Então para mim o maior desafio é manter uma relação estreita com a categoria em tempos de pandemia, e esta categoria continuar com esse vínculo, continuar tendo o sindicato como sua referência, como a sua fonte de informação, como a sua segurança, sua proteção, e essa pandemia, ela pode comprometer isso sim, isso é muito desafiador para nós, i no ponto de vista dos nossos direitos, na nossa pauta, nós temos várias ameaças, e nós estamos no sétimo ano de salário congelado, e com leis sendo aprovadas, que isso endurece a cada dia. Então a cada momento, você só tem notícias, de pelo menos de tentativas, de avanços para cima dos nossos direitos, e aí é todo movimento, e é na medida em que a pandemia permiti de fazer mobilização nas redes sociais para tentar reverter. Tivemos vitórias como foi a votação do
, mas que no outro dia, você já acorda com uma outra ameaça, e tem sido assim. Mas um dia essa pandemia vai passar, eu espero que passe logo, para que a gente possa retomar com as nossas atividades, tomar as rédeas de volta, né, dessa luta que não sessa, essa é a verdade. Então para mim o maior desafio hoje, não só para o SINPRO, mas para qualquer entidade sindical, é isso, é manter o vínculo com a sua categoria, e essa categoria continuar também com essa proximidade. Até porque também, assim, preciso dizer, assim como os professores das escolas virtuais trabalharam muito, e estão trabalhando muito, nós também tivemos, e estamos tendo, desde então, um ano, né! Nós estamos em março, foi março passado, tivemos uma atuação, uma jornada, muito dura, muito dura, é muito cansativo. E como eu disse muitos problemas acontecendo, e você tendo que encontrar formas de solução, que não as tradicionais. Então isso acaba exigindo muito mais de nós.
50:39
P/1 – Rosilene sem te pedir nenhum exercício de futurologia, não se trata disso, mas como é que você enxerga a educação nesses tempos pós-pandemia, o que você vê pela frente?
R- Nossa, eu preferia nem responder, porque assim, eu não consigo ter um diagnóstico otimista, porque veja bem, para aprovar um auxílio emergencial o governo faz chantagens que tem que retirar o dinheiro da saúde, da educação, aí não conseguiu desta forma, mas a gente sabe que se não conseguiu com esta medida, mas amanhã aparece outra, nós estamos com a emenda condicional 95, que congela investimentos, estabelece um teto. Então isso significa, até deu um exemplo outro dia, assim, vamos imaginar uma escola toda legal, ok, só que ela passou um ano sem manutenção, mais um ano sem manutenção, mais um ano sem manutenção, são 20 anos, né! Então ainda tem muito tempo pela frente, se isso não for revogado, então essa casa, essa escola vai começar a desmontar, ela vai se deteriorando, por mais que a gente esteja lá dentro tentando fazer o nosso trabalho, mas isso vai dificultando, até porque também, precisamos de investimento em nós, não só nos salários, mas também na nossa formação, no incentivo, de assistência à saúde. Então nós estamos vivendo sobre uma ameaça de nós nos próximos anos, a gente ter um resultado, uma constatação de um prejuízo, que independente da pandemia, a educação é sempre a área em que os políticos acham fácil remanejar recursos, na verdade é retirar, e lá e pegar mesmo o que não é deles. Porque diferente da saúde, por exemplo, se você vai a um hospital, se você não for atendido você pode morrer ali na porta, e tal, a educação é uma morte lenta, porque é uma morte, uma morte intelectual, é uma morte porque você pode ficar condenado a ficar fora das possibilidades de uma questão, de você poder frequentar uma faculdade, ter uma profissão que te coloca em outra condição, enfim, de uma vida mais digna, né! Então a educação, só que isso a médio, longo prazo, você vai ter esse resultado, não é de imediato, então por isso as pessoas vão lá e tiram mesmo, metem a mão no dinheiro da educação, e vai deixando ficar capenga. A pandemia escancarou uma desigualdade social muito grande no Brasil, né! Então os nossos alunos, aqui na capital do país, nós temos milhares de estudantes que não frequentaram escola de jeito nenhum no ano de 2020, nem na plataforma, nem no celular, nem de material, de nada! Ele simplesmente ficaram, ficaram deixados de lado, né! E aí vem mais um ano assim, se inicia um ano assim, imagina você, por mais que todos tenham se dedicado, dado máximo de si, quando eu digo todos, todos mesmo, professores, estudantes, pais, todo mundo envolvido nessa nova escola que foi imposta, mas isso jamais vai substituir as aulas presenciais, óbvio que não vai! Não se consegue chegar a esse máximo. Então naturalmente nós teremos aí sequelas, nós temos questões a serem recuperadas. Aí você soma isso ainda, ao fato de que, aqui eu estou falando da grande maioria que frequentou, está frequentando as aulas virtuais, mas e aqueles que não frequentaram o que mais ou menos? Então você vai ter realidades distintas dentro da mesma escola, e que é preciso pensar uma proposta pedagógica especial, para atender isso, para recuperar, para sanar um pouco isso. Mas aí você tem o MEC que não tem nenhuma política, é como se não existisse, o MEC não tem nenhuma orientação, não tem coordenação de nada, e aí fica por conta dos estados e municípios, e vai depender da sorte e da decisão de cada um deles ver como vai fazer. Mas quando se tira recursos da educação, como é o que esta tentando se fazer o tempo todo, pode-se ter boa vontade, mas vai ter dificuldade. Então nós estamos na contramão, o que o Brasil precisa é de mais investimento na educação, para que a gente possa recuperar isso, para que o prejuízo não seja tão grande. Mas para isso é preciso investimento, precisa melhoras as escolas, equipas as escolas, precisa de tecnologia sim nas escolas, para que a gente possa complementar, precisamos de professores valorizados, para que não adoeçam como nós estamos adoecendo. Então você precisa investir, para tentar recuperar um pouco, mas nós não estamos assistindo isso, por isso que eu falei no início que era melhor eu não falar que eu não estou nem um pouco otimista, porque a gente não vê nenhum movimento nesse sentido, muito pelo contrário, tudo que nós estamos assistindo, são tentativas e muitas vezes, se consegue de fato concretizar medidas que são só de retrocesso, para educação pública. Então isso é muito triste, há hoje uma política que é de mercantilização, de terceirização, de privatização, e a educação não está fora desse pacote, e esse o quadro que nós temos! Ou a gente muda radicalmente o cenário político do Brasil em 2022, ou nós infelizmente vamos sofrer consequências muito, muito, muito, danosas para o futuro dos nossos jovens.
56:41
P/1 – De fato, a única política presente em todas as áreas é a política do desmonte!
R – Total! Exatamente, querem de fato, eles estão desidratando o estado brasileiro, né! Desidratando, e é porque eles querem um estado mínimo para servir a poucos, aí o povo vai ficar sem estado. Eu brinco, assim, acho que a decisão desse governo, primeiro que aquela frase que alguém de Recife, já disse!
ão se tem política de combate à pobreza no Brasil, tem-se uma política que combate ao pobre! É como assim, vamos exterminar o pobre, então deixa morrer de fome, porque vai morrer mais gente e a gente vai se livrando desse povo. Meu, e essa realidade!
57:28
P/1 – Isso é o tamanho da nossa tragédia! Mas vamos voltar um pouquinho para o plano pessoal. Você é casada?
R – Eu fui casada por 19 anos, tenho a Morgana, 31 anos e Leonardo de 30, mas hoje eu sou divorciado.
57:46
P/1 – E como é que você conheceu seu marido?
R - Então, nessas minhas andanças! Eu morava em Anápolis, morando com a tia, e aí eu acabei vindo, em 85 eu vim morar em Alexânia, que é uma cidade fica a 60 km de Brasília e 60 km de Anápolis, fica no meio ali. E aí eu vim morar com a outra tia, eu já estava na faculdade, era uma tia, era não, é uma tia muito querida, que eu sempre tive vontade de morar com ela, nesse período que eu fiquei morando com tias, na verdade eu morei com três tias, até concluir esse período, mas a que eu morei mais tempo foi a tia Rosalina. Tia Rosa primeiro, depois tia Rosalina que eu fiquei seis anos, eu penso que foi a que me aturou de verdade. E depois a tia Selene que eu vim para Alexânia, porque o marido dela, tio Everton, era gerente do Banco do Brasil, aí eu vim morar com eles e ficava indo para faculdade todos os dias em Anápolis, então terminei a faculdade morando em Alexânia. E aí em Alexânia conheci o meu ex-marido, que é o Junior, uma pessoa fantástica, e foi muito bom, foram 19 anos significa que não era ruim, né, senão não teria ficado esse tempo todo, tivemos dois filhos lindos, filhos maravilhosos. Mas um dia não deu mais, então ele voltou a morar em Alexânia, e eu estou aqui, somos bons amigos. Nós nos conhecemos em Alexânia, que é uma cidade bem pequenininha, era o único bar, todo mundo se encontrava naquele bar, tinha uma festa, todo mundo estava naquela festa, e aí foi isso, foi uma sexta-feira, eu sai com as amigas, recém amigas, lá, eu mudei para lá em julho, foi em setembro, agosto que eu conheci, alfo assim, dois meses que eu estava lá! E curioso, viu! Com 45 dias eu fui pedida em casamento e aceitei! Não nos casamos, fiquei um ano noiva, porque a gente não tinha dinheiro para casamento, então ficava arrumando noivos, para depois a gente se casar. É uma história meio maluca, essa!
59:50
P/1 - E os seus filhos o que eles fazem?
R - A Morgana é advogada, ela trabalha no escritório, mas ela também trabalha com roupas, com moda, ela é meio metida aí comas redes sociais, meio que tentando ser uma blogueira. Ela é uma mulher muito bonita, uma filha linda, e uma mulher muito bonita! E o Leonardo é engenheiro civil, ele se casou á um ano e meio, nós estamos em 2021, em 2019, ele se casou com a Gabriela e já temos o Romeu. Então foi tudo muito rápido, eles se conheceram, ficaram noivos, se casaram e já tiveram o Romeu, foi tudo bem rapidinho. O Romeu tá dois meses, que é o amor da nossa vida atual, né, e vai ser sempre. E o Léo é engenheiro civil, que é também um filho lindo e um homem lindo!
59:59
P/1 – Eu também sou avô, sei o que você está querendo dizer!
R – Pois é, estou morrendo de saudades, porque eu não posso ver todos os dias, mas enfim.
1:00:55
P/1 – O Rosielene, tem alguma coisa que você gostaria de ter dito e eu não te perguntei?
R – Olha, eu não sei se a gente vai ter outra oportunidade pra falar o que é ser dirigente do SINPRO, né! Como é que é isso, porque eu falei como é que eu vim ao SINPRO, mas não falei da minha chegada no SINPRO.
1:01:16
P/1 – Por favor, isso me interessa muito saber, como é que você aportou no SINPRO e como é que você se tornou parte da direção do SINPRO?
R: Então, eu comecei na verdade, me sindicalizei assim que tomei posse, e na escola a gente tem uma figura, que a gente chama de delegado sindical, que aquele, o vinculo com o SINPRO, que representa o SINPRO dentro da escola, é o representante do local de trabalho, e aí eu naturalmente comecei a fazer isso, pelo perfil mesmo, né, de atuar, conversar, de ser quem organiza na escola para as questões a serem questionadas principalmente. E aí, eu tive a oportunidade de primeiro ir para uma associação que nós tínhamos que era a
, fui dirigente
por um mandato, foi 2000, 2001, 2002, não, 2001, 2002, 2003, foi um mandato só que eu fiquei, e já muito próxima, lógico, ai já com envolvimento com os professores e professoras, que já tinham uma atuação mais forte no SINPRO, já estava afilhada também ao partido dos trabalhadores, com uma atuação também no partido. Bom, ai eu saí da associação, e voltei para escola em Samambaia, eu sempre atuei em Samambaia. E aí fiquei na escola, e depois tive então, tivemos aí uma articulação, que o grupo entendeu que eu deveria então concorrer a eleição no SINPRO. Então teve essa construção, e eu fui para chapa de 2004, fui como suplente, não tinha vaga para todo mundo, lógico! E aí tem o suplente, eu entrei como suplente para aguardar, ver o que iria acontecer, só que logo em seguida, na época o SINPRO representava também os professores da rede particular, e aí tomou-se a decisão na diretoria de separar, criar um sindicato que pudesse ser dedicar exclusivamente aos professores das escolas particulares. Isso foi feito, então criou-se o
, que é das escolas particulares. Com isso, alguns diretores que já estavam no SINPRO, e que atuavam com escolas particulares, foram então para o novo sindicato, com isso, eu tive então a oportunidade de tomar posse, foi em março de 2006, eu tomei posse no SINPRO. E aí de lá para cá, estar no SINPRO é uma coisa, assim, quando você não está, você olha para dentro daquilo e imagina mil coisas, assim, né! Inclusive de críticas a direção, que poderia fazer assim, que poderia ser melhor assim, que não sei o que, e tal! Quando você chega e se depara com uma coisa tão gigante, e de uma responsabilidade tão grande, mas ao mesmo tempo é um negócio contagiante e que você não consegue fazer pela metade, entende? Assim, é impossível estar no SINPRO, é impossível ser dirigente no SINPRO, representar essa categoria, falar por ela, e falar para ela pela metade, não tem jeito! Eu acho que se alguém fica numa condição assim, e um desconforto constante, porque não tem jeito, você ser demandado, e você sente a necessidade de dar respostas o tempo todo. E eu tenho muito esse perfil, assim, de assumir mesmo as coisas as quais eu me coloco, né! E aí no SINPRO foi isso! Eu entrei no SINPRO, na secretária de aposentados, não era aposentado ainda, foi em 2006, 10 anos, 11 anos antes da minha aposentadoria, mas com a minha companheira Isabel, que era a coordenadora, só que no SINPRO, assim, a principal função do SINPRO e visitar escolas, é estar lá com os professores e professoras das escolas. Então eu me dediquei a isso, visitando escolas, visitando escolas, minha regional era o plano piloto, assumiu uma montanha de escolas, e assim uma dinâmica e você vai se envolvendo com a categoria, com as nossas questões, e tal! Quando você vê, você tá em cima de um caminhão falando para milhares de pessoas e você tá respondendo, enfim! Sabe então, o SINPRO e isso, o SINPRO te consome, mas ele te consome de uma forma que é uma consumação, que é de construção para sua própria vida sabe, eu falo que esse período que eu estou no SINPRO eu olho para trás e é como se antes disso não fosse a Rosilene, entende, assim, eu me fiz vivendo essa história por dentro! E é claro que a gente comete muitos erros, muitas falhas, é impossível, ninguém tem receita para nada, são desafios que são postos. Aí você passa pelo um governo, passa por outro governo, porque eu estou muito tempo aqui no SINPRO, tenho esse privilégio, de ter sido reeleita junto com os meus outros colegas nós somos 39 na direção, os titulares, 39. E temos conseguido fazer algo que é quase que uma exceção, exatamente isso, um projeto que vem dando certo e tem reconhecimento da categoria, por isso a gente tem as reeleições, a gente tem uma renovação de um terço do número dos diretores, a cada três anos. Então, assim, a gente passa pelo teste da categoria, pela aprovação ou reprovação da categoria, daquilo que a gente tá fazendo. A muito, desde 2001, que esta frente, digamos assim, está no sindicato, com alterações e alterações, pessoas que foram passando, como eu disse 2001, eu entrei em 2006 e nesse período aí, muitos outros já passaram pelo SINPRO, então não são as mesmas pessoas. Mas é uma proposta de trabalho que se permanece, né! Com as inovações e renovações necessárias. Então é isso, o SINPRO é um privilégio, representar essa categoria que tem uma garra, e é muito bom quando você participa de atividades fora, e quando você se apresenta como SINPRO DF, as pessoas se viram para olhar, para ver quem é que é do SINPRO, porque o SINPRO é sim uma referência, e essa referência pela força que a categoria tem, pela nossa capacidade de organização também, é lógico quem está à frente da entidade também tem seu mérito, sem dúvida, e na seriedade que a gente faz tudo isso. Mas tudo que nós somos, a fortaleza que nós somos, é porque temos uma categoria aguerrida, e que reconhece a importância do seu sindicato. Nós temos cerca de 80% da categoria sindicalizada, isso não acontece em qualquer categoria, então isso é de uma responsabilidade enorme para quem dirige o sindicato. Então eu digo sempre assim, se você está vindo, se colocando para direção do SINPRO, saiba que você tem duas opções, você pode ser diretor ou diretora do SINPRO, ou você pode ser dirigente do SINPRO, e o que a categoria espera e que você seja dirigente, ela te elege, ela confia em você, para você de fato ser dirigente. Então você pode escolher por passar pela direção do SINPRO, né, mas eu acho difícil, como eu disse que alguém chegue até a direção do SINPRO e consiga não assumir isso como a gente faz. Então é isso, estar no SINPRO, ter chegado no SINPRO é um privilégio, é uma honra, pelo reconhecimento da categoria a cada três anos, que esse grupo, essa frente, se projeto está aí, agora é claro que nós temos muitos desafios, o país está num momento crítico, o movimento sindical sendo fortemente atacado, a política de modo geral está sendo criminalizada, e o movimento sindical também, faz parte dos planos deles, esta na agenda deles a destruição do movimento sindical. Porque assim eles terão o domínio total da classe trabalhadora para retirada dos seus direitos, então o momento exige muito de nós, esse desafio está posto, então nós precisamos mais do que nunca, ter a categoria, como eu disse, muito próxima a sua entidade. Não só a nossa, todas, isso que eu estou falando vale para toda a classe trabalhadora, mais do que nunca nós precisamos fortalecer as nossas entidades, porque os ataques, eles são muito fortes. E aí tem uma coisa Luiz, que a gente se acostuma a ouvir muito, que a gente brinca muito no SINPRO, que é assim, o governo vai lá e toma uma medida que, é assim, eu não tenho responsabilidade do Bolsonaro ser presidente, porque eu não votei nele, e eu avisei que não ia dá certo. Mas ele é o presidente, não é? Mas quando acontece alguma coisa, a primeira pergunta que vem, mas o SINPRO vai fazer o quê? O que que o SINPRO vai fazer? Aí outro dia, eu tive que falar com a pessoa, olha o SINPRO vai avisar de novo, para não votar errado na próxima! Mas é claro que a gente fala isso brincando, porque independente de quem esteja governando, o papel do SINPRO é defender os interesses da categoria. E aí não importa quem votou em quem, né! O que importa é o que está aí para ser enfrentado, é o que a gente tem feito, e que continuaremos fazendo.
1:11:34
P/1 – Rosilene como que é a sua rotina, descreve ai o dia a dia, da militante, mulher, ativista, social.
R – Em tempos de pandemia, muito sem graça! Não, mas olha, eu tenho alguns probleminhas, do tipo, eu fiz 57 anos, 25 de fevereiro, eu sou de 64, e nunca malhei, não gosto de academia, não consigo ter disciplina, para cuidar da minha saúde, porque é uma questão de saúde, então eu gostaria muito de falar para você que eu tenho uma rotina, que eu acordo, vou caminhar, vou correr, mas não é bem isso. Nesses últimos tempos, eu tenho contado muito com a companhia desses dois, aqui está vendo só um, mas tem a Akira também são dois, tá vendo? Então eu tenho contado, muito, muito com eles, nesses últimos meses. Na verdade eu não tenho uma rotina estabelecida, porque acho que as coisas acontecem e vão me fazendo caminhar, sabe! Então eu não tenho uma coisa assim, como é que eu posso dizer, eu gosto de tomar vinho, mas eu também gosto de cerveja, adoro sair, bares com música ao vivo principalmente, gosto muito, muito, muito de receber amigos em casa, de cozinhar para eles. Eu gosto de cozinhar, não sei fazer nada de diferente, é o trivial, o básico, mas gosto de fazer, faço com maior prazer, maior carinho. E a Rosilene é muito isso, assim! Eu não tenho novidade nenhuma, eu me lembro, que um dia nós fizemos uma reunião na casa de uma amiga, depois de um período de greve, e aí um professor recém-chegado na secretaria, chegou e eu estava na cozinha, e eu estava responsável pela comida, né! Aí ele puxou a cadeira e ficou, aí não sei o que, mais tarde ele falou “eu fiquei aqui vigiando, porque eu não acreditava que você iria cozinhar”. Eu falei: como assim? Não, porque eu só te vejo lá em cima do caminhão, de longe, não sei o que, nunca imaginei que você cozinhasse. Eu falei: eu cozinho, lavo, passo, eu lavo o banheiro, essas coisas assim, que todo mundo faz, eu faço também. Então tem um pouco isso, a gente tem que ter se cuidado, porque nós não somos nada, não tem nada de especial na nossa atuação. Mas às vezes cria também essa relação, você chega em uma assembleia com dois mil professores e professoras, aí você chega e já vai direto para o caminhão, sabe essa coisa da altura, né! De você tá lá em cima e as pessoas te olhando aqui de baixo, isso não é legal! Só que a gente não tem um outro modo de fazer essas assembleia, ninguém inventou ainda um outro modelo. Mas quando ele me falou isso, porque eu te vejo lá em cima do caminhão, sabe essa coisa do lá em cima, isso acaba tendo um efeito, sabe do distanciamento. Isso não é legal, não é uma relação estreita de igual. Por que eu vou na escola? Porque na escola você tá na sala, junto com todo mundo de perto conversando, de perto, né, tá próximo, tá no olho, você toca na pessoa. Então tem isso assim, essa observação que ele fez, me chamou muita atenção nesse aspecto, nesse tema, te via lá em cima do caminhão, sabe essa coisa. E isso é muito ruim, a gente tem que pensar uma forma de mudar esse formato de assembleia que gente faz, que tem esse distanciamento, alguém tem que pensar, inovar com isso. Mas é isso, a Rosilene não tem nenhuma novidade, não tem nada de diferente, eu faço o que todo mundo faz, gosto do que todo mundo gosta, não tem dificuldade de me agradar. Sou muito, muito, deveria ser um pouco menos autêntica, sou muito espontânea, e muito autêntica assim, eu sofro desse mal, de às vezes falar e não ser bem entendido, porque ofende. Então isso é uma marca minha, sabe, essa coisa de falar muito o que eu estou pensando. O que eu acho de você, você vai ouvir de mim, você não vai ouvir de outro o que eu acho de você, você vai ouvir de mim, então isso nem sempre é bem entendido. Tenho tido uma certa intolerância com o mundo, com tudo que tá acontecendo, isso tem que ser um exercício, né! Para você lidar com isso, ninguém tem o direito de ser intolerante, é quando a gente fala que tem que respeitar a verdade, tem que combater a intolerância, mas não pode ser sendo intolerante. Então é o exercício que a gente precisa realmente fazer com isso assim, o lidar com outro, com o pensamento do outro. É um desafio! Como eu brinquei agora pouco, da professora reclamando, e que eu falei que não tinha culpa de quem tinha votado, e tal! Que não é minha culpa! Mas é isso sim, você tem que entender que cada professor, cada professora, que liga para gente, é porque ela está com problema, normalmente quando tá com problema, quando está tudo bem, não liga muito não! Mas no meu aniversário eles são super carinhosos! Mas é quando liga é porque está com problema, e naquele momento o problema daquela pessoa é o maior problema, e você tem que entender isso, pode não ser, mas para ela, ela que a solução para aquilo ali, então é o mais importante, pode ser pequeno para você, mas para ela não é! E a gente tem que compreender, que as vezes você fica assim, caramba tá o mundo acabando e a pessoa tá se pegando a isso. Mas aquilo ali é o máximo para ela, naquele momento, pode ser com outro dia não, mas naquele momento é. Então você que está aqui, você SINPRO, tem que saber isso, tem que saber que o máximo daquela pessoa, daquele momento, tem que ser o seu máximo também, para dar resposta, e pra ser aquilo que ela tá esperando, que ela tem direito, que ela entende que é responsabilidade sua de fazer! Eu tenho exercitado muito isso assim, de compreender as prioridades dos outros. Para você aquilo não tem a menor importância, mas para aquela pessoa que te ligou relatando um problema e porque te fato é muito importante para ela.
1:18:17
P/1 – Isso é um dado que o museu do muito valor, que é arte da escuta. As pessoas tem todo direito de falar e serem escutadas, isso a gente faz questão de manter sempre!
R – Exatamente, às vezes a pessoa tá querendo realmente é só que você de atenção, que você retorne, né! Eu sempre falo, olha o telefone é para ser atendido, não é para ter uma chamada e você não atender, e nem depois não retornar, é para ser atendido! E o mundo tá muito cruel, nós estamos sendo bombardeados de informações o tempo todo, que tudo acontece muito rápido e às vezes a gente se cansa disso, né, telefone cansa a gente! Então as vezes a gente pode cometer um deslize, de ficar uma ou outra coisa que você não conseguiu responder, mas é isso assim! Quem tá te ligando é porque tá querendo falar com você, então é bom que você atenda, é bom que você retorne, e nós, o SINPRO, é isso, e esse telefone que é de trabalho, e o telefone do SINPRO, a pessoa não ligou para Rosilene, ligou para o SINPRO. Então o SINPRO precisa atender, precisa retornar para esse professor, para essa professora.
1:19:32
P/1 – Muito bem Rosilene! Estou satisfeito! O que você sentiu dando essa entrevista?
R – Então, na verdade eu nem sabia que a gente ia conversar tanto, né, estava realmente, falando nisso eu tenho uma live daqui a pouquinho, assim, acho que para mim foi ótimo, que as coisas foram fluindo, que você foi lá quase que perguntou se foi parto normal ou cesariana da minha mãe, né! Mas, e olha só, quem fez o parto da minha mãe, quando eu nasci, o irmão da minha professora do jardim de infância, que era o filho lá do nosso vizinho, que era médico, ele tinha dois filhos médicos. Doutor Dalton, eu fui o único parto da minha mãe que foi com médico, e tal, foi o meu! Os outros todos eram a parteira, mas ai como já tinha o vizinho médico, aí eu ele fez! Mas enfim, eu acho que foi bom Luiz, é essa metodologia que você vai adotar com um pessoal?
1:20:45
E esse é o caminho, evidentemente que com mudanças pontuais a cada um dos perfis. Aqui estava valendo como um belo teste, porque você contou uma bela história para nós e também para o manejo desse microfone, desse processo de gravação, que a cada vez que eu entro falando, no vídeo que está sendo gravado, entra minha imagem. A minha imagem não interessa, interessa a sua.
R - Mas ai vai aperfeiçoando, né! E depois também assim, se eu me atentar para alguma coisa, especialmente essa parte da minha atuação no SINPRO eu tenho que ter um certo cuidado com isso, porque assim, como nós não temos, aquela parte que eu falei do presidencialismo, talvez seja melhor a gente eliminar, porque eu sou contra o colegiado. Então eu tenho dificuldade para falar disso, o colegiado é uma farsa, é uma merda, só atrapalha, pra você ver, como vocês, esse tempo todo que eu falei com o Zé, depois com você! Cara, se fosse o presidencialismo, não e que o presidente ia decidir sozinho, fazer sem consultar, mas ele tem o mínimo de autoridade para encaminhar algumas coisas, entende? Dá agilidade, e aí como eu disse não significa ser autoritário, mas é da agilidade, burocratiza demais o colegiado, sabe, tudo você precisa assim, a gente põe isso aqui vermelho ou rosa? A tem que fazer uma reunião ouvir 39, os 39 vão debater. E essa parte da chegada no SINPRO, talvez eu queira fazer de novo, para pensar uma linha mais, porque tudo que você fala, e eu tenho uma situação que é exatamente isso assim. Como não tem presidencialismo, mas a imprensa se refere a mim como presidente, quando eu vou para uma reunião na Câmara de Deputados que eles vão anunciar, me anunciam como presidente do SINPRO. Então a leitura que se faz, é essa! Mas isso causa uma ciumeira danada em outros, então a gente tem que ter um certo cuidado nessa coisa, mas enfim!
1:23:16
P/1 – No momento que isso tiver sendo processado, a gente acerta, você vai ler esse material e a gente faz os ajustes. Para finalizar Rosilene, eu queria que você me dissesse quais são os seus sonhos?
R – Estou tão ruim de falar de sonhos! Olha, considerando, eu quero fazer questão de registrar o dia que eu estou fazendo essa gravação, que é dia 4 de março de 2021, que nós estamos vivendo um dos piores momentos da pandemia da covid-19. Então o meu grande sonho e que a humanidade receba a vacina, que a gente possa voltar abraçar as pessoas queridas, que a gente possa voltar acreditar que vai ter amanhã. Eu não consigo ter outro sonho hoje senão esse, que a gente restabelecer as nossas vidas, a gente poder, porque não tem vida se não for coletiva, não tem vida se não for interagindo, não tem vida senão for tocando. Assim somos nós, quando isso passar a ser vida é porque a humanidade está perdida, humanismo acabou e eu não quero de jeito nenhum que isso aconteça com o mundo. Eu quero que a gente seja cada vez mais pessoas calorosas, né! Então é isso, meu maior sonho hoje é que a humanidade receba a vacina e que a gente possa voltar a se tocar, se abraçar muito.
1:25:03
P/1 - Conta como é que você fazia para limpar o chão de terra batida lá da sua casa?
R - Então primeiro que, os moradores primeiros da casa onde nós fomos morar, eles tinham muito gato, e aí tinha pulga demais na casa, e o meu pai sempre gostava de lençóis brancos, né! Então a gente ainda tinha lá o enxoval da minha mãe, então era muito fácil, e a gente acordar com pulgas picando a gente, então a gente acendia a lamparina para matar pulgas, a gente acordava de manhã, olhava o travesseiro e estava todo pingadinho de sangue, porque a gente ficava matando as pulgas que ficavam picando a gente. E aí ensinaram para nós, preparar lá com argila que tinha no corregozinho lá perto, e cocô de vaca, então eu fazia um cimento, sabe, uma massa, ia com a mão, passava isso no chão, aí criava-se uma crosta acima da terra, com isso, com o tempo nós fomos matando as pulgas, conseguimos eliminar as pulgas e o chão ficava bem mais simpático, não tinha aquela poeira toda, não tinha terra, né! Ficava com se fosse um cimento! Então essa foi uma coisa que eu aprendi lá no interior de Niquelândia, fazer com que a casa ficasse mais agradável, além de eliminar as pulgas. Se minha mãe não tivesse me mandado embora, viver minha vida, eu teria ficado lá nessa roça, e eu não sei o que teria sido.
Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
27/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001_parte 2
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 - Boa tarde Rosilene! Eu queria que você começasse, por favor, dizendo o seu nome completo o local e a data do seu nascimento?
R – Eu sou Rosilene Corrêa Lima, nasci em 25 de fevereiro de 1964, o ano emblemático. E onde eu nasci, é isso? Petrolina – Goiás. É uma cidade bem pequena, a época menor ainda, fica a uns 50 km de Goiânia. Entre Goiânia e Anápolis, que é a segunda cidade do estado de Goiás. Em Petrolina, mas no estado de Goiás.
0:44
P/1 – Qual sua atividade atual?
R - Eu já sou professora aposentada, professora da rede publica do Distrito Federal, mas comecei a minha trajetória como professora foi em Goiás, estava com 11 anos de carreira quando vim para o Distrito Federal. E hoje sou aposentada e faço parte da diretoria do SINPRO, e também da Diretoria da CNTE.
1:08
P/1 - Qual foi à última entidade que você se referiu?
R - A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE. E faço parte também da Diretoria ampliada da CUT Nacional.
1:22
P/1 – O nome dos seus pais Rosilene, por favor?
R – Meu pai era Eugenio Corrêa Lima, mas ninguém conhecia como Eugenio, era Genico, seu Genico e Maria, Maria Veloso Lima.
1:35
P/1 – E qual era a atividade do seu pai e da sua mãe?
R – Meu pai era inicialmente Lavrador, depois adquiriu propriedade e se tornou um fazendeiro de médio porte em Petrolina. Minha mãe sempre do lar, cuidando dos filhos e do marido, ela se casou com 16 anos, meu pai um pouquinho mais velho. E aí então ele se tronou isso, como é que eu diria. Não se pode intitular como um fazendeiro, mas era assim que ele era visto lá em Petrolina. Não com um patrimônio tão grande, mas era a profissão. Era proprietário, né.
2:13
P/1 - Você conheceu os seus avós?
R – Só as avós, tanto a minha avó materna, quando a paterna, mas avô nenhum deles. Quando eu nasci eles já não existiam, nenhum dos dois. Minha avó paterna chegou a morar comigo, na minha casa, no mesmo quarto, dividimos quarto. Inclusive os últimos anos de vida dela foram morando conosco, a vó Fica.
2:44
P/1 – Você poderia repetir o nome dela, por favor?
R – A gente era vó Fica, mas era Maria, só que a gente chamava de Fica. E minha vó Mariana, que era a mãe da minha mãe, que parecia muito uma índia, muito baixinha do cabelo bem pretinho e bem liso. A vó Mariana morava numa fazendinha, lá também, no interior de Petrolina, e era uma delicia passar finais de semana na casa dela.
3:11
P/1 – E como era essa cidade de Petrolina onde você passou parte da sua infância?
R – Então, Petrolina uma cidade muito pequena, eu imagino que quando eu nasci ali não deveria ter 3.000 habitantes, algo assim, muito pequena mesmo. Daquela cidade onde todo mundo se conhece. Então era só um grupo escolar, só uma igreja. Depois veio ter um hospital, bem pequeno, bem simples, é claro que hoje é uma outra cidade, que também se modernizou e também cresceu. Mas ainda assim é uma cidade pequena. Onde as pessoas se conhecem, se esbarram todo mundo sabe o nome de todo mundo, praticamente, bem interior, apesar de ser próxima da capital.
4:00
P/1 - E a sua casa, como é que era a sua casa?
R – Olha, minha casa, era uma casa que a época, era uma das boas casas da cidade. Como eu te disse, meu pai adquiriu um certo patrimônio. A minha casa se posicionava bem de frente para a rua principal da cidade, só que era a ultima rua, ou a primeira, dependendo do ponto de referência. Mas era numa esquina onde tinha uma saída da cidade. Quando passava pela minha casa, a gente chamava de beco, que era onde, inclusive a enxurrada descia, porque tinha um corregozinho, sei lá, a quase 500m da minha casa. Mas era de frente para igreja, a Matriz da cidade, a igreja católica. A época ainda não tinha a praça, era o largo, um quarteirão todo da igreja, mas era só com grama ou terra, e uma igreja bem simples, que depois foi construída. E hoje nós temos lá uma outra igreja, com uma praça bem bonitinha.
5:14
P/1 - Você tem irmãos Rosilene?
R - Nós éramos seis, eu sendo caçula e única mulher. Então tinha cinco irmãos, mas meus dois irmãos mais velhos já faleceram.
5:29
P/1 - E a sua primeira escola, qual foi?
R - A minha primeira escola foi uma sala na igreja, no salão paroquial, foi transformada em sala de aula, foi uma turma de jardim de infância. Que a filha do nosso vizinho organizou, para os filhos dos amigos. Então ela montou uma escolinha, e lá que foi o meu primeiro contato com o mundo escolar. Aí depois eu fui para o grupo escolar, que era onde a gente fazia as series iniciais em Petrolina. Mas eu me mudei de lá quando terminei a terceira série. Fiz a quarta série já em Anápolis, que é uma cidade maior, que a segunda cidade do estado de Goiás.
6:12
P/1 - O que motivou essa mudança para Anápolis?
R – Como eu te falei Petrolina é uma cidade muito pequena, sem nenhuma perspectiva de mercado de trabalho. Eram 5 homens em casa, além do meu pai, 5 homens, que foram crescendo, ficando adultos, e sem espaço para trabalho. A princípio meu pai não se preocupava muito, porque como tinha fazenda e todos eles gostavam, com exceção de um, que não gostava muito de fazenda, não gostava de fazenda para trabalhar. Os outros todos já tinham uma afinidade, gostavam muito de ir, ainda que fosse para brincar com os bezerros e os cavalos. Então eles adoravam fazer isso. Mas meu pai começou a ter problemas financeiros e se preocupou em não continuar podendo sustentar todo mundo, e com poucas oportunidades em Petrolina. Então ele resolveu que deveríamos mudar para Anápolis, para que os meus irmãos pudessem continuar estudando, mas também trabalhar. Só que não deu muito certo, porque eles não se adaptaram a cidade maior. E continuaram insistindo muito em querer ir embora para a roça, entendeu. E ninguém quis da verdade trabalhar, só um deles, que foi para o trabalho, depois o outro que não gostava muito da ideia de voltar para o interior, ele acabou arrumando lá um emprego, para poder ficar, inclusive por Anápolis mesmo.
7:46
P/1 - E você, como é que foi a sua adaptação a essa nova cidade, essa nova realidade?
R – Olha, não foi muito simples, porque, primeiro que em Petrolina a gente tinha uma estrutura, melhor, uma casa muito maior, melhor, tinha ajudante para minha mãe. Em Petrolina como eu disse, nós, todo mundo se conhecia. Eu tinha uma condição assim, todos os casamentos da cidade eu era dama de honra. A principal representação do Sete de Setembro eu fazia, fui Branca de Neve, fui Princesa Isabel, fui Dona Leopoldina, enfim, sabe, uma série de coisas nesse sentido, nem lembro mais. E aí eu cheguei em Anápolis, uma cidade maior, onde era apenas mais uma garota. Na minha escola também, que eu cheguei, eu era apenas mais uma garota, claro que isso para uma criança, faz diferença. Sem contar os laços de amizade, porque lá era tudo muito solto, a gente andava pela rua o dia inteiro, todo mundo se conhecia. E Anápolis era uma outra realidade, e ainda mais na condição de mais nova, com cinco irmãos, mais o meu pai, mais a minha mãe, mais a minha avó. Então era um cuidado excessivo, porque não podia andar pela rua sozinha. Para ir para a escola tinha que obrigatoriamente um dos irmãos me acompanhar. Então teve uma certa mudança, nesse aspecto ai, com certeza.
9:26
P/1 – E o que a menina Rosilene queria ser quando crescesse?
R - Pois é! Eu em Petrolina ainda, teve uma obra e que fazia muito movimento na cidade, muitos carros e também pequenos aviões, naquela época era muito mais novidades. E aquilo me despertou muito para engenharia civil, eu falava que queria ser engenheira. Mas porque achei que aquilo era assim... Que foi o meu primeiro contato com algo diferente, com profissionais diferentes. Mas depois as coisas foram acontecendo e mudando de rumo. Hoje eu tenho em casa um engenheiro civil, meu filho, por acaso é engenheiro civil. Mas eu não deu para ser, pelas circunstâncias, acabou não sendo.
10:18
P/1 – Como é que se desenvolveu sua trajetória educacional? Como é que você prosseguiu os seus estudos?
R – Então, esse período em que eu fiquei em Anápolis, eu fiz a quarta série e comecei a quinta série, aos 10 anos. E meu pai, como eu falei... Nós nos mudamos para Anápolis, numa tentativa de busca de outras alternativas. E nesse período ele já não tinha mais a propriedade lá em Petrolina, ele já passou alugar uma fazenda e depois ele acabou alugando em Niquelândia, que é Norte Goiás. E tentou manter isso lá, mantendo a família em Anápolis e ele ficando muito lá nessa fazendinha que ele alugou. Mas tornou-se insustentável, manter duas estruturas, até pela distância. Porque a época não tinha asfalto, 350 km de muita poeira ou muita lama. E os meus irmãos não se encaixaram no ambiente de Anápolis, não começaram a trabalhar para ajudar. Então meu pai decidiu que nós todos deveríamos ir embora para Niquelândia. Aí sim, foi uma mudança radical na minha vida. Aí nós saímos da vida urbana e fomos para roça. E aí quando eu digo roça, é roça! Não era uma fazenda, era uma casa muito simples, de pau-a-pique, as paredes eram madeira roliça, o chão era chão batido, não tinha piso na casa, só a cozinha era de pedra Pirenópolis e tinha telha, essa casa tinha telha, me lembro bem que tinha telha. Então quando eu cheguei, foi um choque aquilo. Mas ainda, consegui ir me adaptando, porque o meu pai tinha um carro e de manhã ele levava o meu irmão e eu. Íamos nós dois para escola de manhã, era um dos menores, que é o meu primeiro irmão acima de mim, o quinto. E os outros mais velhos ficavam trabalhando de dia. E aí passaram... Como não quiseram trabalhar na cidade, foram trabalhar na roça, literalmente, viraram lavradores, e a noite meus irmãos iam para escola. Mas no ano seguinte, para reduzir despesas, o meu pai já decidiu que todo mundo deveria estudar à noite. Não é que decidiu, foi a necessidade. Então eu, aos 12 anos, já tive que frequentar a escola noturna. Então meu pai teve que ir até escola, explicar para a diretora da escola a necessidade, porque pela minha idade nem era permitido estudar a noite. E aí então eu passei a frequentar um mundo, absolutamente diferente. Sair da escola de garotos e garotas, para uma escola de adultos, porque ai era realmente uma escola de adultos. Eram trabalhadores de uma companhia que tem lá, ainda tem a Niquel Tocantins, uma multinacional. Então foi isso aos 12 anos... Isso é claro, naturalmente acabou me amadurecendo mais cedo. Porque você tem que assumir responsabilidades e conviver com pessoas que tem um outro tipo de vida, diferente, imagina você dentro de uma sala de aula com a garota de 11 anos, qual é o ambiente que você tem? Você imagina a noite, só com adultos e pessoas que trabalharam o dia todo, ou donas de casa que estava ali à noite tentando seguir os estudos. Então foi uma mudança radical na minha vida e para não dizer que não poderia ficar mais grave, no ano seguinte aí já o meu pai realmente não conseguiu manter os filhos na escola. Vendeu o carro, porque começou a dar problema, e tinha oficina toda hora. E nós ficamos então sem estudar! Então em 97, imagina, 77, eu não pude estudar, nem eu e nenhum dos dois irmãos. Um deles tinha ficado em Anápolis, esse ficou para estudar e estava trabalhando. E aí eu fiquei um ano sem estudar, então assim, foi uma tragédia na minha vida, esse um ano fora da escola. Porque aí Luiz, foi isso assim, o ano anterior eu estava morando nessa roça. Mas eu tinha uma vida na cidade, porque eu tinha o vínculo com a cidade, as minhas amizades, enfim. Porque é diferente, não adianta querer dizer que é a mesma coisa, alguém que nasce morando na fazenda, na zona rural e de quem nasce na cidade, são coisas diferentes. Mundo diferente, o jeito de falar, de se vestir, eu me vestia diferente das meninas lá. Eu tive até uma certa resistência, porque parecia que tudo que eu fazia era provocação, algo assim. Então foi um período para eu conquistar as amizades lá nessa fazenda, para frequentar as festinhas. Então foi um período de adaptação, e de conquista. Porque era isso assim, nós todos éramos vistos como diferentes, os hábitos diferentes, o jeito de vestir, de falar, a casa organizada de uma forma diferente. E aí quando eu fiquei sem estudar, eu perdi o vinculo com a cidade. Aí isso foi muito duro para mim, então eu sofri muito, chorava muito, passei o ano inteiro chorando, rezando e alugando a minha mãe, para ela alugar o meu pai, para deixar que eu pudesse morar com alguém, para voltar a estudar. Porque na verdade a escola era o meu... A minha porta de voltar para aquela vida que eu tinha perdido. Então eu insisti muito nisso e a minha mãe foi minha aliada, eu demorei até para compreender o papel que a minha mãe cumpriu naquele momento, de abrir mão da filha, da ajudante, porque era a única filha, para ajudá-la nos trabalhos domésticos. Imagina interior, esse monte de homens, não tinha o hábito, a cultura de ajudar, de lavar louça, lavar roupa. Então era tudo a gente que fazia e era cozinhar em fogão a lenha, buscar carvão. Eu tive que aprender a lavar e ajudar minha mãe em tudo, passar roupa, eu me lembro que eu aprendi a passar roupa muito cedo, por isso que eu não gosto muito de passar roupa, muito cedo e roupa dessa montanha de gente. Eu passava a tarde toda, com rádio ligado, ouvindo música e passando roupa, e passando roupa com ferro a brasa, não sei se você já viu. Um ferro de passar roupa que é de ferro, que você enche de brasas, e aí a coisa começava a acabar, e você tem que abanar para poder as brasas perderem... Igual uma churrasqueira. Então era assim que a gente passava as roupas de tantos homens e de nós duas e da casa. Mas enfim, por fim eu consegui convencer o meu pai, e fui morar na casa de uma tia dele, já uma senhorinha em Anápolis, para poder continuar estudando. Aí é claro que era naquela lógica, de você ajudar em casa, para poder estudar. Então eu voltei a estudar em 78, fui fazer a sétima série, mas também no noturno. Então desde os 12 anos, que eu fui para vida noturna escolar e nunca mais teve volta. Porque eu tinha que trabalhar, para poder estudar, então foi sétima série à noite, oitava série a noite e assim por diante, até a faculdade.
18:27
P/1 – Como é que você escolheu o seu curso superior?
R – Então, acho que as coisas não acontecem por acaso, porque hoje eu fico olhando, pensando se eu tivesse... Porque teve um período que eu tive vontade de fazer assistência social. Então acaba que tem muito a ver, sempre essa coisa assim de uma relação muito humanizada na profissão. Eu quando fui fazer ensino médio, eu ainda tentei perseguir aquela minha coisa lá de infância. E eu tentei fazer construção civil, era o nome do curso no Colégio Polivalente. Anápolis inaugurou o Colégio Polivalente, e eu queria fazer construção civil. Mas assim, com muitas limitações, porque a acaba que o meu período de estudo foi muito comprometido, em Niquelândia aquela época, era uma dificuldade enorme para ter professores. Professores qualificados, tinham boa vontade, mas muitos nem tinham curso superior, não tinha nem ensino médio completo e estava dando aula para gente, entendeu. Então assim, era muito limitado, então eu acabei tendo muito prejuízo na minha formação. E aí que era área de exatas, era um negócio que iria exigir muito. E coincidiu que no período de matrícula, eu teria que estar em Anápolis. Mas eu queria muito estar em Niquelândia, para aproveitar as minhas férias, que era o momento que eu tinha, tanto com a família e com os amigos de Niquelândia, num período de namoro. Então assim, aí eu teria que sacrificar minhas férias para ficar, para disputar uma vaga. Aí eu fui e falei para a minha tia: a senhora faz a minha matrícula e tal. Aí quando ela foi fazer, não deu certo lá na construção civil, ela foi: olha, então eu não vou fazer na escola normal. Aí tudo bem, então vamos para escola normal. E aí foi isso, quando eu comecei a fazer eu já não tive vontade de mudar, porque eu poderia ter mudado de curso, depois no decorrer do ano e tal. Mas aí não, eu já comecei a viver aquele mundo ali. Aí na época era uma escola normal só para meninas, não tinha meninos na nossa escola. E aí eu não quis voltar atrás, e antes de terminar o curso eu já estava ingressando no mercado de trabalho e já com professora. Tive mil outros empregos antes. Mas era muito aquela coisa assim, sabe Luiz, quando estava perto de um feriadão. Aí eu queria roupa nova para viajar para minha casa, para Niquelândia. Claro que antes de chegar lá na roça eu passava pela cidade né. Então tinha os namoricos, etc e tal, as festas para ir. Aí eu dava um jeito de arrumar um emprego. Então eu trabalhava assim, um mês na padaria, ganhava um dinheiro, fazia roupa, aí eu tinha que sair porque eu tinha que viajar. Então eu trabalhei em loja de roupas, trabalhei em padaria, em sorveteria, um monte de “ia” que você imaginar eu fiz para poder ir vivendo, tendo as minhas coisas na minha adolescência. Que é isso, da vaidade, dá vontade de ter roupa nova, um sapato novo, enfim. E ai então, eu terminei... Aí quando eu fui para um emprego mesmo, foi já como professora, esperei 18 dias com minha documentação parada para completar 18 anos, para poder ser contratada. A época em Goiás, nós não tínhamos concurso, na verdade foi antes da constituição, então foi com processo seletivo de professoras e professores de nível médio. Eu fui e ingressei na Secretária de Educação do estado de Goiás. Depois de lá... Bom, aí depois de muito tempo ai que eu acabei chegando em Brasília.
22:24
P/1 – Qual foi a primeira escola que você assumiu?
R - Eu comentei em Anápolis na verdade, foi no que a gente chama, aqui em Brasília de Regional de Ensino, lá a gente chama de Delegacia de Ensino, então eu comecei com esse trabalho que era administrativo. Só que lá eles contratavam como professor e você poderia atuar, também nessa área. Então eu fui trabalhar, comecei como secretária do Delegado de Ensino, entende. Esse nome não combina muito com educação, essa coisa de delegacia, mas lá, pelo menos a época era assim. Então foi lá que eu comecei, depois eu fui para a escola. Primeiro eu fiquei lá um bom tempo, depois eu fui para escola Trinta e um de Março, em Alexânia. Eu não fiquei muito tempo em Anápolis já depois que comecei a trabalhar. Acabei me mudando para Alexânia, ainda fazendo faculdade. E em Alexânia eu trabalhei na escola Trinta e um de Março, a minha experiência de escola mesmo assim, foi em Alexânia.
23:39
P/1 – E a sua transferência para Brasília se deu motivada por quê?
R – Então, em Alexânia eu acabei conhecendo o meu ex-marido, pai dos meus filhos. E ele tinha uma vivência de Brasília, ele morou aqui antes de ir para Alexânia. Alias, quando a gente se conheceu, ele ainda morava em Brasília e ia finais de semana para lá. Depois é que ele acabou, terminou o ensino médio, não quis faculdade e foi de vez para Alexânia, foi quando nós nos casamos. Mas sempre com vínculo aqui, e Alexânia é uma cidade muito pequena, também sem perspectivas. Então nós resolvemos que era melhor vir para cá, para ele trabalhar, eu já trabalhava, mas ele não tinha nada definido. Aí viemos para cá, eu continuei trabalhando em Goiás, porque tem cidade bem próxima aqui, eu fiquei em Santo Antônio Descoberto. Então nem pensei em fazer concurso, naquele momento não fiz concurso, nem sei se teve nesse período. E aí quando eu engravidei em 89, a gente volta a morar em Goiás, só que aí fomos para a cidade de Goiás Velho, primeira capital de Goiás, e a cidade de Goiás, a gente chama de Goiás Velho. Passamos uma temporada lá e depois voltamos Alexânia, aí eu engravidei do Leonardo e quando o Léo estava com 4 meses, voltamos para Brasília. E eu continuando a trabalhar em Goiás. Aí voltei para Santo Antônio Descoberto. Foi ai que veio o concurso e eu falei: olha, eu acho que agora a gente vai ficar por aqui, então eu vou fazer o concurso. Aí fiz o concurso, a primeira vez que eu fiz concurso, passei com uma boa classificação, acho que fiquei no decimo primeiro lugar, então fui logo chamada, na primeira chamada eu já fui chamada, em 93 eu tomei posse aqui. Então eu trouxe 11 anos de trabalho já. Então por isso eu não tenho tantos anos aqui e não acompanhei à muito tempo assim, muito de perto a história do SINPRO. Então eu já cheguei com o SINPRO já essa fortaleza toda que ele é.
25:53
P/1 - Mas de todo modo, quando você assume a sua primeira escola em Brasília, depois de aprovada no concurso, qual foi a sua primeira visão do SINPRO? Quando que você ouviu falar do SINPRO?
R – Na verdade antes, mesmo quando eu ainda atuava em Goiás, mesmo antes de morar aqui, a gente já sabia quem era o SINPRO. E quando eu morava aqui, até porque eu tinha pessoas próximas a mim, primas do meu marido e tal, que eram professoras. E eu sempre acompanhava, até porque eu sempre tive essa coisa da militância. Então eu prestava atenção, muito por isso, admirava muito a forma, a condução, a política do SINPRO, a luta da categoria aqui. Quando eu estava em Alexânia, eu tinha uma colega de trabalho lá, que era daqui, ela era servidora da Fundação na época aqui e também do estado de Goiás. Então a gente tinha muita troca de informações, do que estava acontecendo aqui, das greves, então de certa forma eu sempre acompanhei muito a trajetória do SINPRO. E sempre com esse olhar assim. Agora eu nunca olhava me vendo dentro, tão dentro quanto eu acabei chegando. Mas tinha essa coisa, de certamente um dia estaria mais perto. Porque assim, só uma curiosidade, em Anápolis, não só lá, mas lá onde eu fiz magistério, o que você conversava com as meninas terminando magistério, o que queria fazer na vida, era fazer o concurso em Brasília, ser professora de Brasília. Até porque a época o salário era muito bom, então o desejo de quem fazia magistérios em Goiás, não era ser professor em Goiás, era ser professor em Brasília. Era um atrativo aqui, a Fundação em Brasília.
27:57
P/1 - Nesses seus conhecimentos preliminares do SINPRO, o que mais te chamava atenção no modo do SINPRO atuar?
R – O SINPRO mantém isso. Mas o envolvimento do SINPRO com pautas além da categoria, sempre foi uma marca. Eu me lembro das diretas já, que eu não estava mesmo aqui, estava ainda em Anápolis, a gente acompanhava, como eu te falei, as noticias que tinha, ou às vezes. Tenho uma tia que mora em Planaltina, então tinha passagem por aqui. E isso assim, acho que uma coisa marcante é isso, é a atuação do SINPRO, claro, além do envolvimento da categoria, das grandes mobilizações, mas essa característica, que é das pautas que vão além da categoria, da educação propriamente dita, pauta educacional.
29:04
P/1 - E você quando está em Brasília concursada, assumindo uma escola. Alias, que escola era? Eu queria que você dissesse que escola era? Sindicalizou-se logo, como é que foi esse processo de vinculação orgânica com o sindicato?
R – Eu tenho até que puxar pela minha ficha, para saber exatamente o dia, mas se não foi no dia da posse, foi muito logo em seguida, entendeu, não me lembro do momento, já tentei buscar isso, de como é que isso aconteceu, onde foi, acho que é uma coisa tão natural pra mim que, enfim. Mas a minha primeira escola foi a Escola Classe 111 de Samambaia, e o Centro de Ensino Fundamental 312. Porque a época eu tive que ficar em duas escolas, porque não tinha a carência para carga completa na mesma escola. Mas logo em seguida eu deixei o 111 e fiquei definitivamente na 312. Era uma escola recém-inaugurada, bem grande, tinha mais de 150 servidores. Porque isso, tão grande. Porque era uma cidade jovem, Samambaia, de muita gente, uma cidade jovem, mas de população já bem, de muita gente. Porque foi uma cidade, na época o governador Roriz, foi aquela coisa, de lotear sem nenhum planejamento, sem nenhuma estrutura. Então você tinha gente morando assim, mas muita gente, e a escola tinha que reduzir o turno, para ter vários turnos, para poder acomodar as crianças. Então essa escola trabalhava com 5 turnos, é o que chamava de turno da fome, que tinha um turno que era no horário do almoço, e aí ia até noturno. Então tinha desde os pequenos, até o noturno com os adultos, então era uma escola bem grande, bem agitada. Mas foi uma escola que nós inauguramos, eu cheguei à escola estava recém-inaugurada. E foi onde eu praticamente fiquei, tempos de escola fiquei foi lá. Mas eu sempre trabalhei em Samambaia, não trabalhei em outra cidade, sempre fiquei lá. Dessa escola eu fui para a Regional de Ensino, que foi quando me convidaram para ficar na Regional de Ensino em 95. E foi quando nós iniciamos, a primeira vez que o partido dos trabalhadores governou aqui em Brasília. Que era o professor Cristovam Buarque que foi Governador. E aí eu fiquei na Regional de Ensino, para contribuir lá, não fiquei na escola. Mas foi uma coincidência, eu fui para regional para ser encaminhada para uma outra escola, porque eu gostaria de mudar de escola, e acabei sendo convidada e fiquei. E conheci lá uma das pessoas mais fantásticas que eu tive oportunidade, que eu tenho paixão, que é a Dorca. É uma pequenininha, orientadora educacional, que era nossa coordenadora da Regional, e foi lá que eu tive oportunidade de conviver, trabalhar e aprender com uma equipe fantástica de professores, professoras e auxiliares de ensino que compunham toda aquela equipe. Como eu te falei, Samambaia era uma cidade ainda nova, e era muito desafiador, porque era uma cidade muito, muito, muito, Rorizista. Então tinha uma resistência muito grande a tudo que era novo, tudo que era proposta, por causa da questão partidária. Então a população olhava para gente de uma forma meio que dura com isso, porque eles idolatravam o Roriz. E aí vem o governo do PT, então nós éramos o governo, então a gente teve uma certa dificuldade com isso. Mas a Dorca soube conduzir esse trabalho, e a regional de Samambaia fez um trabalho brilhante, deixou sua marca lembrada até hoje. E foi uma baita da escola para mim.
33:16
P/1 – Rosilene, que reflexão você faz hoje na distância do tempo da contradição entre a luta sindical, vis a vi um governo democrático popular, em princípio aliado. A um conflito aí também que precisa ser mediado. Como é que você avalia isso?
R – Eu diria que ainda nos dias de hoje, a gente vive um pouco disso, e avalio, inclusive como sendo algo relativamente natural, esse conflito de interesse de papéis. Só que aquela época, era algo muito novo. Então como eu te falei o sindicato muito combativo, com uma direção que sabia o seu lugar, que inclusive assim, é natural que os sindicalistas, é o que se espera, que os sindicalistas tenham uma opção política, ideológica de esquerda, porque é quem defende a classe trabalhadora. Então é claro, que quem dirigia o nosso sindicato, eram pessoas ligadas aos partidos de esquerda, não digo ao PT, mas aos partidos de esquerda. E com a sua autonomia política e que fazia muitos enfrentamentos. Como eu falei tinha um governo Rorizista bem coronel, bem conservador e muito duro. E aí quando o PT ganha as eleições, é claro que para montar o governo, preencher os cargos, os partidos tiveram, que era uma frente, tiveram que buscar quadros onde tinha, e é claro que nós tínhamos muitos bons quadros em sindicatos. Não só no Sindicato dos Professores, mas em outros sindicatos também, que onde a gente estava atuando, e era onde, portanto tinha os melhores quadros, naturalmente, é claro que em outros lugares, em bancos etc e tal. Mas assim, o movimento sindical, você tinha ali um batalhão, então muita gente que estavam nos sindicatos, às pessoas saíram, os companheiros e companheiras e foram compor o governo. E aí começam os conflitos, porque infelizmente é isso, assim, às vezes quem está no governo, acha que quem está no sindicato, tem que comungar, porque é o seu partido, são os seus projetos. E aí você não pode cobrar, você não pode confrontar, você não pode discordar. E por sua vez também, quem está no sindicato muitas vezes acha que, porque elegemos um governo, esse governo tem que governar para nós em primeiro lugar, depois os outros. Mas nós precisamos fazer de acordo com que a gente sempre fez. Aí você imagina você ter gente que era do sindicato, dirigentes de história do sindicato, de linha de frente, grandes lideranças. Assumindo cargos dentro da Secretária de Educação, pra lidar diretamente com o sindicato. E aí nós tínhamos, que tinha sido presidenta do nosso sindicato, eleita deputada, a Lúcia Carvalho, de uma história super reconhecida, tanto é que foi eleita pela categoria, para deputada. E aí vem um governo. E aí nós entramos assim, numa situação de conflitos, isso infelizmente resultou em um episódio, que deixou uma marca muito cruel na nossa história. Que foi uma Assembleia que resultou na expulsão de nove dirigentes do SINPRO. E isso trouxe assim, causou um mal enorme a categoria, a entidade, portanto a categoria. Esse período ficou muito marcado e o prejuízo. Porque ele distanciou a nossa entidade da nossa base, da nossa militância mesmo. Porque é claro, imagina, isso dividiu. Por mais que uma assembleia tenha aprovado isso, mas as condições, como isso foi conduzido, enfim. Foi um resultado muito cruel, cruel com essas pessoas, e que certamente isso é uma marca na vida delas. Embora a categoria reconheça quem... O papel que eles desempenharam, e todos eles de alguma forma continuaram, alguns mais, outros menos na militância, ocupando outros espaços em seguida, alguns até voltaram ao SINPRO, enfim. Mas isso deixou uma marca, que depois quando. Em 2001, foi que o nosso grupo, digamos assim, que hoje está a frente do SINPRO. Que nós ganhamos as eleições, porque então houve uma mudança na condução política, dentro do SINPRO. E quando assumimos, eu não era da chapa, digo nós, porque eu faço parte desse grupo político, dessas pessoas que se organizaram para montar uma chapa, que eu era apoiadora. A realidade assim que foi encontrada, era isso, de um distanciamento. Porque nós vivenciamos um período de muita disputa. Que você ia para a assembleia e a diretora claramente estava dividida em posições, faziam disputas entre a própria diretoria. E aí teve que passar por um processo de reconquista, sabe, assim, de reconstrução, de trazer de volta a categoria, para ela querer ir de novo para uma assembleia, de participar. Esse grupo que assumiu em 2001, se empenhou muito nisso, investiu muito em formação, em uma reaproximação da categoria, entre categoria e a entidade. E aí deu certo, categoria respondeu. Depois eu falo isso, é claro que ninguém está aqui julgando, quem é que estava certo, quem é que estava errado. Eu particularmente tenho uma posição, acho que foi um desastre, foi um prejuízo imenso para categoria, essa condução dessa assembleia. Especialmente porque são pessoas sem exceção, que todas merecem, e tem o respeito, reconhecimento da categoria, como pessoas de muita responsabilidade e que nada justifica ter passado por isso. Essa é a verdade, então é um marco que nós temos na trajetória da nossa entidade, que eu tenho certeza que todos lamentam bastante, hoje, pelo que aconteceu. Por essa disputa que houve, ou conflito, não digo disputa, mas essa situação conflituosa das relações, o conflito nas relações, que acabou resultando nisso. E que foi um mal, além do mal individual a cada um desses nove, um mal a categoria, foi um prejuízo tremendo.
40:47
P/1 - De todo modo Rosilene, essa recomposição da confiança, esse lamber as feridas, se dá numa entidade cuja à grande características é exatamente o trabalho de base, o trabalho lá no chão da escola, digamos assim. Como é que isso foi articulado para quê esse episódio, enfim, foi superado?
R – Então, é claro que por um período, isso... Porque ficam sequelas, inevitavelmente. Então, criou-se uma situação de disputas, de outras chapas, no próximo processo. Mas isso foi se desconstruindo, e é isso! O que possibilitou uma volta, o termo não seria tranquilidade, mas uma harmonia nas ações, o sindicato e categoria. É isso, é essa proximidade que tem que é uma característica também do SINPRO, da atuação do SINPRO, que é está sempre muito perto da categoria, de frequentar diariamente as escolas, de muito diálogo, que foi o que permitiu essa retomada. Então isso com o tempo foi superado e hoje as coisas estão. É claro que alguns têm mais tranquilidade em superar, outros não, e é preciso compreender isso. Fico imaginando para quem viveu uma situação assim, na própria pele, certamente não é tão simples assim. Um ato de injustiça mesmo.
42:35
P/1 - Você disse que em 2001 participa do grupo de apoio da chapa, que afinal ganhou as eleições. E quando se dá efetivamente a sua vinculação com a direção do SINPRO?
R – Nas eleições de 2004. 2004 eu participei da chapa já, mas como suplente, isto julho de 2004, foi à posse. Aí 2006, março 2006, eu tomei posse, que nós éramos. O SINPRO era quem representava rede pública e também escolas privadas, professores de escolas privadas. E em 2006, houve um entendimento de que fazia se necessário, até pelo aumento de escolas. Brasília foi crescendo, aumentando muito escolas, tanto públicas, quanto particulares. Então houve um entendimento de que era necessário, seria uma prestação de serviço melhor, se a gente se desmembrasse. Então se criou o SINPROEP, que é o sindicato dos professores de escolas particulares. Então com isso, alguns que eram do SINPRO, foram para o SINPROEP. E aí eu, que estava na posição de suplente, assumi. E assumi, a época estava longe ainda de me aposentar, mas assumi uma vaga na Secretaria de Aposentado. Então eu comecei a minha trajetória no SINPRO, pela secretaria de aposentados em 2006. Visitando as escolas da Regional do Plano Piloto, que foi onde também eu praticamente tenho atuado. Depois mais algumas outras, mas Plano Piloto, foi onde eu fiquei maior parte do tempo em visitas, foi lá.
44:25
P/1 - Você começou então como liderança, sobre as asas da Isabel Português?
R – Exatamente, então quando eu citei a Docas, que foi com quem eu aprendi muito, na política e na vida. A Isabel foi outra mãe, inicialmente na política, e depois se tornou mãe afetiva mesmo, uma relação assim. E a Isabel foi também uma outra conquista, eu cheguei fui trabalhar diretamente com ela, na secretária. E a gente foi rapidamente, a gente já se conhecia logico, mas nunca tínhamos trabalhado juntas. E foi uma parceria muito legal, muito forte. E ela era uma baita protetora, pra você ter ideia, a Isabel, ela cismava com alguma coisa, e daí ela falava: já estou fazendo a novena para você, estou indo a missa todos os dias, por 9 dias e essas missas são dedicadas a você, para te proteger, não sei o que e tal. Eu sempre fui descuidada com horário para comer. A Isabel chegava com uma marmitinha de almoço para ela e a marmitinha para mim. Então assim, esses cuidados, ela tinha isso, ela observava e não era só comigo, era com todo mundo, ela era muito cuidadosa, isso falando da Isabel mãe, amiga, parceira. Mas a Isabel lutadora era aquela incansável também, que não deixava, e detalhe, que cobrava de todo mundo, ela policiava. Ela tinha um caderninho, a gente ri muito disso, que ela tinha um caderninho que ela ficava anotando as falhas de cada um, e depois ela ia atrás, para conferir aquilo e te cobrar, de verdade, ela tinha um controle, só que era um controle de mãe, que ninguém se ofendia. Era uma coisa assim, muito engraçada, muito explosiva da Isabel, isso. E sem contar do que era mediação dela, e a garra dela para a defesa de todos, mas claro que dos aposentados, aposentadas, ela fazia isso de uma forma que eu acho que ainda deve nascer alguém para chegar perto do que foi a Isabel nisso. Por mais que a Silvia tenha todo empenho, que é quem está hoje na coordenação e tem outras na secretaria. Por mais que a gente se esforce, porque nós todos temos as mesmas responsabilidades, mas acho que vai demorar muito ainda para a gente ter uma Isabel 2 entre nós, do jeito dela, não é que seja melhor ou não, mas é o jeito da Isabel.
47:10
P/1 – Rosilene, durante esse seu período na direção, você poderia citar algumas das grandes mobilizações que você julga importantes, foram emblemáticas, tiveram uma incidência grande na vida do SINPRO.
R – Nossa, são tantas! Nós tivemos boas conquistas em 2007, nós tivemos a negociação no governo Arruda e também governo Lula, claro. No momento em que a economia do Brasil estava em uma projeção bem razoável. Então nós tivemos uma boa negociação, resultado de uma grande mobilização, não de greve, mas de muito movimento da categoria. E aí que temos a reestruturação do nosso plano de carreira, que foi um grande salto, entendeu. Passamos a ter aí o melhor plano de carreira do Magistério Público no Brasil, era o nosso plano de carreira. E a época quem estava muito a frente dos trabalhos, era o Lisboa, mas tinha uma diretoria inteira, lógico, ninguém conquista nada sozinho. Mas era um período em que ele ficava muito em evidencia. Inclusive sofrendo muitos ataques, apesar das conquistas, mas muitos ataques. Por que disputa sempre existe, no meio politico você vai estar sempre lhe dando com disputas, e adversários, portanto. Então foi um período assim, de conquistas, mas também de alguns desafios e algumas decepções, nessa condução. Mas eu diria Luiz, falando um pouco do que eu experimentei. Experimento que foi marcante. Nós tivemos uma greve, ai já um pouco mais adiante, em 2012. Aí de novo o PT governando, e a gente no SINPRO. Então de novo, aquela situação, e a gente já com um cuidado enorme, para que as coisas acontecessem de forma diferente. Mas de qualquer maneira, você não pode nunca, deixar, abrir mão da autonomia sindical. A entidade sindical ela tem um papel e você não pode abrir mão disso. Independente de quem esteja governando, nós temos a nossa responsabilidade. E o processo de negociação acabou que não foi suficiente e nós tivemos, portanto que deflagramos uma greve. E essa greve durou 52 dias, então foi uma greve muito dura. E por que foi muito marcante. Porque de novo, quando o PT e eleito aqui, o Governador Agnelo, quando foi eleito, também nós tivemos alguns movimentos de e ex-dirigentes, compondo o governo, inclusive chegamos a ter um ex-dirigente do SINPRO que foi Secretário de Educação, por um período. E tinha essa coisa assim, como é que vão lhe dar. E também, porque coincidiu com uma renovação de quadros, digamos que, de pessoas com maior experiência na condução, que naquele momento saíram, e outras vieram compor. E tem uma greve e nós que ficamos no sindicato, estávamos muito assim... Nós fomos postos a prova. A sensação era essa, a impressão que a gente sentia era assim, “vamos ver o que esse povo aí agora dá conta de fazer”. Porque os experientes aviam saído e os que ficaram, assim como eu, não tinha tanta experiência. Então era uma primeira greve que estaríamos na condução dessa greve. Então isso foi um grande desafio. O Washington fazia parte, o Washington Dourado fazia parte nessa época, a Bernadete. Eu não quero aqui citar nomes, porque você acaba... A Berenice, que ainda estamos juntas hoje também, o Kleber, Fernando, enfim. Muitos que estão, estiveram nesse período, estavam também nesse período. Então foi um desafio enorme, o Cláudio, enfim. Mas nós conseguimos conduzir esse movimento 52 dias, fechamos a greve, suspendemos a greve, sem concluir negociação. Porque naquele momento, foi em maio, o governo apresentou que não tinha condições de fechar nenhum acordo financeiro e postergou isso para setembro. E nós suspendemos a greve de 52 dias, sem fechar reajuste, sem fechar nada. Só o processo de negociação, de pontos do plano de carreira, importantes, que nos daríamos continuidade até chegar setembro, para poder tratar na tabela salarial. E foi uma coisa, tão louca, que imagina você assim, um cenário desse, você imagina que a diretoria vai apanhar para encerrar uma greve, para suspender o movimento desses 52 dias, de bolso vazio. Aí nós conquistamos nesse momento, o auxílio saúde, que são R$ 200,00 para cada um, dependente da condição, R$ 200,00 no contracheque. Fomos muito criticados, alguns chamaram de auxílio Cibalena, que não sei o quê, sabe tipo, “isso não dá para pagar plano de saúde nenhum”, e tal. Mas foram R$ 200,00, que nós conquistamos aquele momento. E fizemos a defesa da suspensão da greve. Eu chegando na praça do Buriti para essa assembleia, virei o pé, fraturei o tornozelo. Aí o brigadista me socorreu ali, não teve jeito, me levaram para o hospital, para poder engessar esse tornozelo. Eu passei por três hospitais, até conseguir ser atendida. Isso a Assembleia começou, a Assembleia acontecendo. E era Assembleia de suspender a greve, portanto não era uma assembleia qualquer. E eu na maior agonia, até que um funcionário do SINPRO, no terceiro hospital, falou para atendente: você tem filho na escola pública? Ela falou: tenho, mas está em greve. “Pois é, mas aquela moça ali vai ajudar hoje a suspender essa greve, mas ela precisa ser atendida, porque ela tem que ir para Assembleia”. Aí a moça deu um jeito, que eu sei que eu fui atendida. E cheguei nessa Assembleia, meus colegas me tiraram carregada do carro, não podia por o pé no chão naquele momento, e me botaram lá em cima no caminhão. E aí eu acabei fazendo a última intervenção da Assembleia, que nós conseguimos aprovar suspensão da greve, e pasme você, que fomos aplaudidos, carregados pelos colegas lá embaixo, quando descemos do caminhão. E o receio era que a gente fosse apanhar, porque imagina você, suspender depois 52 dias. E assim, sem nada garantido. E conseguimos isso! Então foi uma relação muito boa, de muita confiança da categoria com o sindicato. E claro, que ai gente tinha que dar conta de dar o resultado depois, na hora certa, e conseguimos fazer isso! Aí o processo de negociação aconteceu, e em setembro fechamos, portanto a tabela salarial, também os reajustes. Que foram seis parcelas, foi uma excelente negociação. Principalmente porque nós incorporamos uma gratificação, que era de um valor alto, Gratiden. Isso teve um efeito muito bom para todo mundo, no seu contracheque. E que infelizmente nós estamos aí com a pendência da sexta parcela, que o governo anterior, que foi o próximo logico, depois do governo Agnelo. Não pagou e o atual também não pagou ainda. Nós ganhamos inclusive na justiça, mas isso ainda não foi pago. Então tem aí o resultado desses 52 dias, que ainda tem uma pendência. Mas eu diria assim, que o marco foram esses 52 dias de greve. Greve é sempre uma coisa muito marcante, seja ela de que tamanho for, que tempo ela dure. É sempre muito marcante. Você imagina 52 dias. Então, foi muita história, 52 dias, foi muita coisa que aconteceu, teve ocupação, teve tudo que imaginar, entende. Ocuparmos o sexto andar do anexo do Buriti, e que por fim eles impediam a entrada de comida. Nós colocávamos comida num Balde e subia na corda para quem estava lá em cima. Foi assim... Tem momentos que só vivendo mesmo. Então é isso, queria dizer que o momento marcante, muito, esse desafio. Fomos colocados à prova, e a categoria respondeu, confiou e deu certo! Agora é claro que tem grandes momentos, e depois disso, e antes disso. Eu falo sempre assim, viver no SINPRO, viver com o SINPRO, é viver emoção. Quando você acha que tem uma coisa, que você está conseguindo solucionar, acha que vai respirar um pouquinho. Que nada! Antes de você concluir a frase, já tem outra coisa ali que tá te demandando e você precisa correr atrás. Então são muitos episódios.
57:15
P/1 – Rosilene, como é que é o SINPRO, sobretudo os seus dirigentes, como é que eles lidam com a seguinte situação. Boa parte do professorado, sobretudo o mais jovem, olha para o contracheque, aquilo, todos os adendos, as gratificações, elas são como datas, no fundo elas foram conquistadas. Como é que se esclarece isso? Como é que se forma uma nova consciência sobre esse tipo de coisa?
R - É um grande, eu diria assim, é um nó que nós temos, é um grande desafio. Porque é isso que você fala, cada item do nosso contracheque ou do nosso plano de carreira, e como se tivesse ali, DNA de várias pessoas, de milhares de pessoas. Como se fosse ali um carimbinho de cada um que fez isso. Então é isso o tempo todo, não é de agora, de quando eu estou e tal. Quando eu entrei, já tinham itens ali que são resultados de luta, da minha trajetória também, de outros também que saíram, e de outros que estão chegando, certamente continuaremos assim. Agora, quem chega, e que pega isso pronto, principalmente, porque você imagina você hoje sendo nomeado professor aqui, e vai se sindicalizar ao SINPRO. Só que o momento hoje, ele é de ataques, de retirada. E que nós estamos caminhando para 7 anos sem reajuste, então o nosso salário já foi o melhor do país, hoje não mais. Então quem pega, vê que nós estamos numa condição, numa situação, que nós estamos em defasagem. Aí ele não consegue valorizar aquilo que tem, porque aquilo que tem para ele é insuficiente. Então perde o efeito, você entende. Então isso é muito difícil, e quando você vai contar essa história, e valorizando cada item daquele, para essa pessoa que tá chegando, parece que não tem sentido. Existe um vazio, porque isso não é o bastante para ela. Porque esse salario de hoje, não é suficiente para eu comprar o carro que eu gostaria, para fazer a viagem que eu gostaria, para comprar o meu apartamento. Então tudo se torna de menor valor. Mas a gente insiste muito em contar a nossa história, exatamente por isso. Porque cada item desses é resultado de muita luta, de muito sacrifício, de greve de fome, de deixar filhos pequenos em casa para ir para as assembleias, para ir para as marchas, para as ocupações, para apanhar de polícia. Então é isso, a gente precisa olhar para o nosso contracheque e tentar enxergar um pouco de tudo isso ali dentro. E aí não tem outro caminho, senão continuar fazendo para que esses que estão chegando, venham viver isso, para poder entender um pouco isso. É só vivendo, para entender também a história passada. Acho que é isso, não tenho outro caminho. Por mais que a gente, fale, fale, fale a pessoa só sabe o que é viver uma greve, quando ela vem para dentro dela. E a gente ouvi muito isso, sabe Luiz, de pessoas que... Às vezes assim, uma coisa porque você tem vários níveis de participação, você tem aquele que é sindicalizado, contribui mensalmente e vai a tudo, absolutamente tudo, ele vai assembleia, ele faz greve, ele vai ao seminário, ele vai a chácara, ele vai, ele vai, ele vai a festa, ela vai a tudo, ele vive a vida do SINPRO. Tem aquele que vai a assembleia. E tem aquele que só contribui financeiramente. Aí você fala: esse cara não tem noção. Olha, a contribuição dele é importante. Então você tem vários níveis de participação na vida sindical, na nossa militância. Então de vez em quando você se depara com pessoas, que apesar de não serem novas na categoria. Mas resolvem vim viver a greve, por dentro. Então vem participar de um comando de greve, vai a tudo, participa de tudo. E aí fala: gente eu não imaginava, hoje eu sei o que é uma greve, porque eu vivi essa greve por dentro. Quando você vai para a direção do SINPRO, que você assume a responsabilidade por um movimento, também é uma outra experiência. Que é muito diferente. É você saber, que você vai pegar o microfone, e vai dizer para categoria o que você acha que é melhor para ela. Porque é isso que é dirigir. Mas é claro que isso não é da minha cabeça, não é da cabeça de qualquer um que dirige o sindicato, é uma construção. Mas é mais ou menos isso. Quem está ali te ouvindo, tá esperando que você de uma luz, que você oriente, diga para onde é melhor caminhar. Então é de uma responsabilidade gigante. Então é um peso! Eu falo sempre assim, que o dia que algum dirigente, deixar de sentiu um frio no estômago quando pega o microfone para falar em uma assembleia decisiva, já não deveria mais estar ali. Porque você precisa, seu corpo precisa dar sinais de que você ainda se incomoda com o resultado daquilo. Então eu não consigo pegar o microfone, com segurança de que assim, que eu não vou me preocupar com que eu estou lhe fazendo e tal. Porque é muita gente que está ali confiando em você, esperando, que possa confiar em você naquilo que você vai falar. Então para quem está na condição de dirigente, o peso é muito grande, é muito grande, e é claro que inevitavelmente a gente erra. Então tem isso também.
1:03:20
P/1 – Rosilene, nesse contexto de trabalho de base, trabalho de formiguinha, como é que você avalia o capítulo formação na atuação do SINPRO atualmente?
R – Quando assumimos em 2001, como eu te falei, as pessoas estavam distantes, categoria distante. O caminho mais acertado que foi tomado, foi exatamente investir na formação. Nós retomamos com projeto de formação. Inclusive eu fiz parte da primeira turma lá de 2004. Foi em 2001 aí 2, 3, no iniciozinho de 2004, já estávamos com a politica de formação. Não que não tenha acontecido antes, mas de forma mais elaborada e com parceria com a escola ECOCUT, que é a escola de formação da CUT do centro-oeste. E eu fiz parte dessa primeira turma. Então foi o caminho que encontramos de reaproximação. E formação é isso, porque aí eu chego na escola e dou continuidade a esse trabalho e consigo agregar a partir do debate qualificado que você vai adquirindo. Então de lá para cá, a gente só tem, eu posso dizer assim, sem nenhuma arrogância, que a gente só tem melhorado e acertado na nossa política de formação. É uma veia forte que a gente tem também é a formação. Porque a formação Luiz, não é só o curso, com turmas de 40, que vão ali para um fim de semana, para fazer esse curso, etc e tal. A formação ela é constante, uma visita nossa a escola, um debate político que a gente faz com os professores, é um formação, tanto para eles, quanto para a gente. Porque a gente recebe, até às críticas, os questionamentos que a gente recebe por parte da categoria, é para nossa formação, está nos preparando. E um seminário que você faz, é formação, a reunião com os aposentados, é formação. Então tudo tem o caráter e um tom político e que forma, que qualifica. E o SINPRO, a gente tem isso muito forte, muito acertado.
1:05:49
P/1 – Rosilene, e quais são, na sua avaliação, os desafios mais prementes que se colocam diante da atuação do SINPRO?
R – Olha, os desafios hoje para o SINPRO, eu diria que os mesmo que para qualquer outro sindicato. Nós temos ai, digamos que está se consolidando, um novo mundo do trabalho. E a gente achava, até de forma bem romântica, havia uma ilusão de que a educação estava distante disso e de certa forma protegida disso. Mas uma coisa totalmente da nossa cabeça, porque hoje nós temos dentro da Secretária de Educação no Distrito Federal, uma realidade de quase 50%, de professores regentes hoje, são de regime de contratação temporária. Isso significa, e aí é bom registrar, que não estamos aqui discutindo, as condições dos profissionais, porque eles são profissionais tão qualificados, quanto os concursados. Até porque ele passa por um processo seletivo, ele tem que ter já curso superior. Ele é habilitado, portando também qualificado. Então a questão aqui não é o debate de quem é um profissional e quem é o outro profissional, e da condição. Então hoje para mim, particularmente falando, o grande desafio nosso, é o fortalecimento da educação pública, com concurso público. Educação pública, feita por servidores e servidoras do serviço público, entendi. Porque a escola ela está sendo tomada, de prestadores de serviço, e digo mais uma vez, nada com os profissionais, mas é a condição pela qual eles chegam até a escola. Isso é a demonstração do desmonte do Estado. Então para mim, no nosso caso, de Sindicato do serviço público. O nosso grande desafio, hoje, é retomar com a política de fortalecimento do estado. Porque nós servidores estamos caminhando para sermos minoria. Se continuar assim, daqui a pouco nós seremos minoria, dentro de uma escola pública. Nós servidores e servidoras estaremos em minoria. E o que isso representa? Representa que talvez nem tenha a reforma administrativa, mas o desmonte do Estado está aí. E na medida que isso acontece, isso enfraquece o movimento sindical, entendi. Então assim, esse é um grande desafio, e o que é o mais grave? É que com tudo que está acontecendo no mundo. E desemprego e etc e tal. E esse sentimento umbilical, essa coisa egoísta que o capitalismo vem fazendo, ao longo dos anos. A também uma coisa, enganosa, que para esses trabalhadores e trabalhadoras, de que não, eles tem um emprego, entendi. Então está bom, não tem problema se for temporário, que todos os anos vai ter, eu estou empregado. Então essa dificuldade também, de fazer a leitura do mal que isso é para ele próprio. Essa construção que foi se fazendo, então é isso. Eu acho que não só para o SINPRO, mas para qualquer sindicato, sobretudo. Falando aqui do serviço público. É essa condição do desmonte do estado.
1:09:48
P/1 – E qual você considera, sem lhe pedir nenhuma bola de cristal. Qual você considera o futuro da Educação no país? Que futuro é esse?
R – Nossa, Luiz é muito complicado falar de futuro no Brasil hoje, para qualquer um, para qualquer situação, para qualquer área, ramo, enfim. Porque há na verdade uma descrença hoje no nosso país, e que a gente tem que reagir, a gente resiste o tempo todo. Primeiro que eu não consigo enxergar futuro sem educação e, sobretudo a educação pública. Porque senão eu um futuro para alguns, não é um futuro para a nação. Para isso acontecer tem que ter educação pública acontecendo e com qualidade, e com todas as bandeiras que a gente defende. Então o que nós precisamos e reverter esse quadro, hoje a gente tem uma política, aliás, a ausência de política no Brasil hoje, política educacional é o projeto que esta em curso. Não há projeto de política educacional, o que é há é um ataque, enfim, um conservadorismo. E aí quando eu falo conservadorismo, é um fundamentalismo na verdade, tentando ocupar as páginas dos nossos livros, da nossa educação, e isso é muito grave. E não tem jeito, o nosso Brasil, precisa sofrer uma mudança radical na sua estrutura política, e para isso, não basta eleger Presidente da República, ou governador. Precisa muito mais que isso, com todas as instâncias, nós precisámos provocado mudanças. Inclusive de ocupação de espaço. A gente precisa fazer com que a população assuma para si uma participação maior, e claro que nós precisamos mudar quem governa, isso é inevitável. Mas eu preciso mudar em todas as esferas. Então acho que é um trabalho árduo que nós teremos pela frente, porque hoje o que estão fazendo no Brasil, e parece que tem uma grande parcela aí da população, que não consegue pensar diferente. Isso me preocupa muito, até quando isso vai durar, entende. Como que a gente vai fazer para ter essa mudança. Mas eu acredito que a educação é o único caminho, e que é dentro da minha sala de aula, que eu posso provocar essa mudança. E aí eu não estou aqui falando de fazer campanha para a, b ou c, não, eu estou falando do que é uma educação libertadora, e uma educação que de fato questione, que forme. Uma educação que realmente vai formar. E é isso, acho que a escola precisa ser mais provocativa, sobretudo nesse momento. Acho que a gente precisa ousar mais dentro da sala de aula.
1:13:12
P/1 - O que você diria, que mensagem você teria para um jovem, uma moça, um rapaz, que decidiu ser professor, que mensagem você teria para eles?
R - Que ele tomou uma excelente decisão. Tem que saber que não é o romantismo que às vezes falam para a gente quando a gente é criança, do brincar de escolinha, que é tudo lindo. Que é uma baita profissão, de uma responsabilidade enorme. Eu falo, se eu não fosse professora, eu seria a professora, teria sido professora, continuaria sendo professora, eu não consigo ver diferente. E é por isso, porque para mim, fazer parte daquilo que transforma, que tem a capacidade de transformar. Agora é bom dizer, transforma pro bem e pode transformar para outro caminho, por isso que é muito do que você quer fazer com isso. Porque a educação não é só o que está escrito nos livros didáticos. É o que a gente é, o que a gente faz dentro da sala de aula. Mas eu diria para esse garoto e essa garota, que bom que tomou essa decisão. E com certeza eles experimentaram uma das maiores delícias da vida. Essa educação é uma troca constante, essa coisa de Paulo Freire é a coisa mais sábia. Você está sempre aprendendo, você está ensinando e aprendendo o tempo todo. E isso é de uma grandeza. É incomparável. Então é isso, que é uma decisão extremamente acertada, mas tem esse romantismo. Ele vai ter a partizinha dele na transformação de um mundo melhor, de abrir caminho para as pessoas, porque é isso, pra mim a educação, é sem sombra de dúvida a possibilidade de mudança na vida das pessoas. É através da educação, por isso que a gente precisa combater essa desigualdade, essa injustiça social que a gente vive. Por isso que não querem investir na educação, por isso que tudo tão precário, por isso que não se paga bem o professor. Porque não querem abrir as portas para todo mundo, só para alguns. E a educação é essa porta.
1:15:50
P/1 - Alguma coisa que você gostaria de ter dito eu não te perguntei?
R – Eu só acho que é importante a gente registrar o momento que nós estamos vivendo, que é da pandemia. Um dos momentos mais duros da história da humanidade e principalmente da história do Brasil. Também da história da minha categoria. Daqui a pouco a gente vai contar a nossa história com esse período, fazendo parte dos livros inclusive, dentro do conteúdo. E esses desafios que foram postos, o fazer diferente, o aprender fazer para esse momento. Que nos estamos ainda tentando passar por isso, superar tudo isso. Da dor que tem sido, das dificuldades e o fazer pela categoria, também é um grande desafio para nós. Professores e professoras tendo que ser reinventar, para continuar dando o máximo de si. E nós também, que estamos no sindicato, passando também por esse momento, e uma sensação. Era isso que eu queria registrar, que às vezes a gente precisa se segurar muito. Que fica uma sensação de incapacidade. Você tenta fazer o máximo, mas é tanta coisa acontecendo. E aí os impedimentos são muito grandes, das nossas ações. Então a gente tem um período em que a gente vai lamentar, profundamente, não só as perdas que estamos tendo. Mas de olhar... Vamos lamentar e ao mesmo tempo vamos compreender, com passar dos dias. Do tudo que fizemos, do máximo que fizemos, afinal de contas, somos todos seres que estamos expostos e o nosso emocional, nossa vida, as pessoas que a gente ama, a vida solidárias, também solitária. Então essas coisas se confundem nesse momento, acho que esse momento da pandemia nós estamos vivendo, enfim. Essa a parte você corta, que eu não quero que bote não. Pode voltar e cortar lá e deixa essa parte sem colocar.
1:18:40
P/1 – Vamos fechar então Rosilene. Diga para nós quais são os seus sonhos?
R - Eu tenho dito que o sonho de qualquer pessoa nesse momento, e hoje mais do que nunca, porque eu tenho o Romeu, que é o meu netinho, que tem 3 meses. O grande sonho é que a vacina chegue no braço de cada um e cada uma, nesse país e aqui no Distrito Federal. E que a gente possa voltar a tocar as pessoas que a gente ama. O grande sonho do momento é que a gente tenha a população vacinada, que a gente tenha de fato a vida restabelecida, acho que é esse o grande sonho do momento. Não tem como sonhar nada antes disso, entende. Começa por aí, então o grande sonho nesse momento é que mais ninguém seja infectado, que mais ninguém morra e que tenhamos vacinas para todos e todas.
1:19:40
P/1 – Ok Rosilene, muito obrigado pelo seu tempo e pela sua bela entrevista.
R – Luiz, obrigada pela paciência de fazer de novo. Aí você fica a vontade para misturar, não tem problema nenhum não, tá. Veja o que você faz.
Entrevista de Rosilene Lima
Entrevistado por Luiz Egypto
16/06/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número SINPRO_HV001_parte 3
Transcrito por Aponte
0:00
P/1 – Nos temos o seguinte quadro, a seguinte situação. No governo Agnelo Queiroz o SINPRO obteve grandes conquistas, sobretudo a incorporação da chamada TIDEM e parte dessas conquistas, passaram, ficaram para serem consumadas no governo Rodrigo Rollemberg, como é que foi a relação do SINPRO com o governo Rollemberg? E como é que vocês conseguiram concretizar essas conquistas?
R - É fato, que na gestão Agnelo Queiroz, nós tivemos a reestruturação do plano de carreira, que foi resultado de 52 dias de greve, uma greve dura. Que conquistamos também o auxílio saúde, que foi quando nós suspendemos a greve. E depois retomamos as negociações, com bons avanços. E a reestruturação da tabela também. Então os efeitos de reajuste, que foi o que ficou pendente, parcelas ficaram pendentes para o próximo governo. Que aí quem ganhou as eleições foi o Rodrigo Rollemberg. Já em janeiro, nós tivemos acampamento na Praça do Buriti, porque tinha atraso de pagamento de décimo-terceiro, e que o Rollemberg assumiu e não tomou as providências. Então o retorno do ano letivo, já foi tenso, com uma assembleia bem tensa. E que ali iniciamos inclusive uma greve no governo Rollemberg. E essa greve foi, se eu não estou enganada, 29 dias, 30 dias de greve. E tivemos o pagamento da primeira parcela em março. Aliás, essa greve, minto. Essa greve no início do ano letivo foi uma greve curta, de uma semana. Aí recebemos o mês de março, mais uma parcela do reajuste. E setembro que deveria ter sido paga a outra parcela e que não foi paga. Depois disso, então tivemos uma greve, que essa sim foi 29 dias de greve. Em 2017, nós tivemos uma outra greve, porque ainda continuávamos recebendo calote do governo. Ou seja, a 6ª parcela do reajuste, não foi paga. Fizemos novamente uma greve longa, dura, que professores apanharam da PM, claro que pelo comando do governador. E não conquistamos o reajuste, a 6ª parcela. Conquistamos não, não recebemos, porque já era uma conquista, está na lei inclusive. E que está judicializado, por fim nós judicializamos, e isso está tramitando. Estamos agora indo para o STF, foi o que nos restou depois de duas greves. E tem um fato marcante Luiz, que foi nessa segunda greve, na gestão Rollemberg, que nós perdemos um dos nossos dirigentes. Que era o Professor Cássio, que é de Sobradinho, uma pessoa super querida, e foi muito duro. Você ver a categoria numa greve tão difícil, e ele era um dirigente, um militante muitíssimo dedicado, responsável, querido na cidade. Ele fez, eu diria assim, ele conseguiu chegar até a categoria em Sobradinho, de uma forma que poucos de nós conseguiu ou consegue. Ele realmente deixou uma marca dele em Sobradinho, e foi muito duro para nós, naquele momento de uma relação duríssima com o governo, ainda perdermos uma pessoa como ele. Que dizer, perder qualquer pessoa é sempre muito doído, mas ele por ser uma pessoa extremamente, especialmente querida. Então foi de um domingo para segunda, nós tivemos uma reunião do comando de greve no domingo, na sede da CUT, e no outro dia de manhã, na segunda-feira. Inclusive eu fui para a cidade dele, que tínhamos lá uma assembleia Regional. E aí quando eu estava chegando em Sobradinho, foi a notícia que ele estava hospitalizado. E quando abrimos Assembleia, eu estava conduzindo a mesa da Assembleia, quando uma companheira recebeu a ligação, avisando que ele não havia resistido. Então você imagina, no meio de uma greve da categoria, perder alguém assim. Então foi uma coisa assim, muito difícil isso, ainda nossas energias e ao mesmo tempo a vontade de lutar mais. Até mesmo, não é uma homenagem, mas em respeito a ele, uma obrigação de sairmos vitoriosos daquilo ali, por ele também. Mas de novo encerramos essa greve, sem que o governo cumprisse. Realmente o governador Rodrigo Rollemberg, tomou uma decisão foi de não cumprir com a lei e não respeitar uma conquista da categoria. Mas vale registrar, que não só com os professores e professoras, na verdade são 32 categorias do DF, que ele não cumpriu com a lei. Porque o governo anterior, do Agnelo, reestruturou todas as carreiras, e essa estruturação com efeito financeiro. E o governo seguinte, do Rollemberg, não cumpriu com isso. Sobre a alegação de que o Agnelo não havia feito uma previsão orçamentária adequada para suportar tudo isso. E desde então estamos sem reajuste, porque a política tem sido a mesma, inclusive do Governo Federal, que classe trabalhadora só é punida, desde então. O que nós temos vivido é isso. Então fica esse marco também na história do SINPRO, de duas greves durante o governo, mantendo a posição do calote. Tivermos uma campanha inclusive, identificando o governador como caloteiro. E perdemos também esse companheiro tão querido.
5:57
P/1 – Na sua avaliação, a judicialização desse problema está sendo bem sucedida, está bem encaminhada?
R – Olha, nós temos um cenário nacional, muito desfavorável. Outros estados que tiveram que recorrer ao judiciário, não tiveram o êxito. Porém hoje, a gente tem um movimento, eu diria que começa a mudar, esse cenário, dentro do próprio STF. A gente tá vivendo em um movimento que alguns deles, estão tendo um outro olhar. Então nós estamos com expectativa sim, de que a justiça realmente faça cumprir, com aquilo que é legal. Que nós estamos falando de um direito previsto em lei, uma conquista que virou lei, e que foi descumprida e continua sendo descumprida pelo atual Governador. E que prometeu inclusive em campanha, que não só iria cumprir com isso, de pagar as parcelas pendentes, a todas as categorias. Mas de também reajustar os salários. E no caso dos professores, ele disse que era inaceitável professor ganhar menos que um juiz. E nós estamos caminhando aí, penúltimo ano de governo e sem nenhum reajuste, sem atualização de nada, nem de um auxílio e nem, portanto dos nossos vencimentos.
7:16
P/1 – Que passa pela cabeça de um professor ou professora quando ele apanha da polícia na rua?
R – Olha, nós chegamos inclusive a irmos para a delegacia, registramos e claro que os ossos advogados atuaram. E lamentavelmente não deu em nada, eles não entenderam como tendo sido abuso de poder da polícia. E o que a gente sente Luiz, eu não passei por isso, mas claro que a gente consegue imaginar, o que é para um professor, uma professora, apanhar da polícia, como se você fosse um bandido. Porque isso assim, nem bandido tem que apanhar, a polícia está aí para tomar outras providências, e não para espancar ninguém. Aí imagina você, professor na rua, lutando por um direito seu, porque um governador está descumprindo a lei, e a polícia te agredir. Então isso deixa qualquer um indignado, é um desrespeito, como eu te disse, ninguém tem que apanhar de ninguém. Mas quando você está em uma luta, que é justa e por algo que é reconhecido, a polícia se achar no direito de usar dá força para poder barrar esse movimento, isso foi terrível. Nós estávamos no Eixão, era uma ação radical mesmo, arriscada, porque nós fechamos o trânsito do Eixão Norte e Sul, ao mesmo tempo. A gente sabe que isso causa transtorno a população, mas nós estávamos no limite. Sabe quando você vai chegando, que você precisa se arriscar, porque preciso chamar atenção da sociedade para o que está acontecendo. Não dava mais para ficar com a nossa greve só entre nós e o governo. Era preciso fazer com que a sociedade de fato tomasse conhecimento da gravidade. Então nós realmente fomos extremistas, nesse aspecto. Assim, tínhamos que fazer algo mais forte, para que a sociedade percebesse. Que a cidade de Brasília percebesse o que estava acontecendo. Então fomos para as duas saídas, norte, sul, no fim do dia, que é o horário de trânsito, e fechamos, bloqueamos mesmo o transito. Então isso gerou um transtorno. Mas a polícia realmente chegou e foi truculenta, tivemos direção do SINPRO agredida, com ferimento inclusive. Isso foi traumático, sabe, isso marcou. E certamente cada um, e cada uma que sofreu este tipo de violência, terá isso na sua vida para sempre, isso é impossível. E aí ficou então a marca lamentável. E vale destacar, que o Rollemberg foi eleito, num clima muito de expectativa, a categoria apostou, nossa categoria votou a maioria nele, posso afirmar isso sem medo de errar. E na verdade, até porque o PSB, não é um partido que poderia ser entendido como um partido de direita. Então com expectativa, uma pessoa da cidade, e depois um governo, como um todo, não cumpriu com isso e houve aí uma decepção. Então tem uma frustração aí. E aí tá assim, a cada 4 anos as pessoas vão apostando no que aparece de novo, tentando ter algo melhor. E lamentavelmente isso não tem acontecido.
10:46
P/1 – Uma luta infinda.
R – Exatamente isso! Para a educação tudo é sempre assim. Eu costumo dizer, que é incrível que para a educação, tudo tem que primeiro ter muita dor, sabe. Se não tiver muita, muita luta. Você não chega a algum lugar. Incrível, todas as nossas conquistas, são conquistas resultados de muita luta. Muita batalha da categoria, nada foi por um decreto, por responsabilidade do governo.
11:18
P/1 – Muito menos caído do céu!
R – Certamente que não. O céu está muito distante para cair aqui alguma coisa para nós.