Nesta entrevista, Arlindo nos conta a história de sua família e de sua criação na comunidade São Remo. Nos fala sobre os conflitos familiares e de sua vida conturbada na escola- relação esta que foi transplantada para o Projeto Esporte Talento (PET), em 2002, quando lá entrou. A partir daí então, nos conta sobre o cotidiano e as atividades do projeto, de suas travessuras, bagunças e casos que o levaram a ser expulso de lá em 2006. Arlindo nos fala também de como depois desatou a cometer pequenos delitos e quase entrou num caminho sem volta. Neste período, foi ajudado pela igreja protestante da comunidade, onde até hoje atua como pastor. Por fim, sabemos um pouco sobre suas perspectivas para o futuro e seus sonhos.
20 Anos do Projeto Esporte Talento (PET)
Salvo do fundo do poço
História de Arlindo Gonçalves de Jesus Júnior
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 17/09/2015 por Lucas Torigoe
P/1 – Arlindo, pra começar diz pra mim o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Arlindo Gonçalves de Jesus Júnior. Moro em São Paulo, data do meu nascimento é 10 de março de 91.
P/1 – Você nasceu aqui em São Paulo mesmo?
R – Nasci aqui em São Paulo.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai é Arlindo Gonçalves de Jesus. O nome da minha mãe é Maria José dos Santos Gonçalves de Jesus.
P/1 – E eles são aqui de São Paulo também?
R – Meu pai, falecido, nasceu na Bahia.
P/1 – E sua mãe?
R – No Rio Grande do Norte.
P/1 – Você sabe mais ou menos como eles se conheceram?
R – Não, não, não sei.
P/1 – E seus avós, você teve algum contato?
R – Só com a minha avó e com meu avô da parte da minha mãe, mas também não tive aquele contato de saber muita coisa deles.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos?
R – Um se chama Cícero, a outra se chama Laís, a outra se chama Ruama e o outro Vinícius.
P/1 – E você é o mais velho, é o mais novo?
R – Eu sou dos homens o mais novo, mas tem minha irmã Laís que é mais nova do que eu.
P/1 – Arlindo, descreve pra mim seus pais, como era seu pai, como é sua mãe?
R – Meu pai sempre trabalhou como pedreiro, então não tenho como dizer muitas coisas porque eu tive uma convivência com ele só que para eu externar eu não consigo.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe é uma pessoa que sempre está conosco, sempre está nos ajudando, sempre foi guerreira, sempre está correndo pra nos ajudar, né?
P/1 – E Arlindo, descreve pra mim o lugar que você morava quando você era pequeno, onde você morava?
R – Lá na São Remo mesmo, né, sempre morei lá, há 24 anos. Quando eu era mais novo nós tinha uma grande dificuldade pela questão do espaço que todo mundo dormia no mesmo lugar, não tinha quarto separado praticamente, o único quarto que era separado era o da minha mãe e do meu pai, mas nós irmãos não tinha quarto só pra mim, pra ter uma privacidade maior. Todo mundo era junto ali, mas hoje já deu uma mudada.
P/1 – E como é que era a São Remo na época que você era pequeno?
R – Ah, bem diferente da São Remo de hoje, né? A São Remo de hoje tem muitas coisas já, a São Remo de hoje tem até dentista dentro da comunidade, temos mercado, temos restaurante. Tem muitas coisas que vêm mudando, mas não tinha nada disso, hoje já temos bastante coisa.
P/1 – E você e seus irmãos, como é que era a convivência quando vocês eram pequenos?
R – Não foi uma convivência muito boa, não, sempre estava brigando, né? Sempre estava numa parte das discussões, briga, porrada e muitas coisas mais.
P/1 – E tinha algum irmão que você brigava mais ou que implicava mais com você? Como é que era?
R – Ah, acho que todos brigavam comigo, até pela questão do jeito, sempre fui mais explosivo, mais estourado.
P/1 – E as brincadeiras, você brincava na rua? Do que você gostava de brincar quando você era pequeno?
R – As coisas que eu mais gostava de fazer era brincar de pega-pega e de mãe da rua, umas brincadeiras da época nossa. Hoje você fala isso para algumas pessoas, as pessoas nem sabem o que é isso, as crianças de hoje. Pião, bolinha de gude, pipa, até hoje empino pipa (risos).
P/1 – O que é mãe da rua? Explica pra mim.
R – Mãe da rua é uma brincadeira meio agressiva mas era a nossa diversão. Tinha que ficar em cima da calçada e se você colocasse o pé na rua você tinha que correr com um pé só pra atravessar pro outro lado e o pessoal tentava te derrubar. E se eu colocasse o outro pé no chão era só porrada (risos).
P/1 – E Arlindo, me fala da sua primeira lembrança da escola, o que você lembra da escola, quando você era pequeno?
R – A primeira lembrança da escola acho que foi na primeira série. Eu já tive que ficar trancado dentro da sala e não poder ir pro recreio, foi a primeira lembrança que foi já pior. Eu aprontei demais dentro da sala de aula e já no primeiro dia aula já fiquei de castigo.
P/1 – E o que você fazia dentro da sala de aula?
R – Ah, pegava papel, tacava na cabeça das crianças e outro também que estava comigo, brigava demais, xingava até o professor. Meio agressivo, né?
P/1 – E tinha alguma professora que você lembra mais, que te marcou de algum jeito?
R – Ah, foi na quarta série, a professora Lourdes. Ela marcou muito porque ela me ajudou bastante. Nós tínhamos um campeonato na escola de futebol e ela que organizava. E eu repeti na quarta série e ela pegou e falou: “Não, você vai ficar me ajudando. Você pode jogar, mas se você não quiser jogar você me ajuda de outra forma”. Isso foi um incentivo pra mim, foi legal, foi bacana.
P/1 – E onde era a escola? Qual o nome da escola que você estudava?
R – Adolfino de Arruda Castanho.
P/1 – Você consegue descrever a escola pra gente? O prédio, onde é que ela ficava.
R – Ela fica perto da Nossa Senhora do Assunção, se não me falha a memória, ela fica ali ainda. O prédio é um prédio grande, alto. Hoje a quadra já é coberta, não era na nossa época, a quadra era descoberta. Tinha um muro atrás da escola que nós pulava, menino assim pequeno nós já pulava.
P/1 – Você comentou que você tinha um temperamento mais explosivo. Por que você tinha esse temperamento?
R – Eu não sei, eu acho que depois de alguns acontecimentos, aos dez anos eu caí de uma laje, então não sei se afetou alguma coisa. Eu creio que não mas pode ter afetado alguma coisa, eu me tornei mais um pouco, como posso dizer, não atentado, mas o termo mesmo é meio explosivo, tipo, bagunceiro.
P/1 – E os amigos da escola, você tinha bastante amigo na escola?
R – Bastante, até tinha bastante amigo.
P/1 – E o que você gostava de brincar na escola? Fora o que você fazia na rua, as brincadeiras da rua, quais eram as da escola?
R – Da escola não posso contar porque eu não vivia tanto na escola. O meu processo foi mais cabular aula, então eu não sei te contar, eu não posso te contar uma brincadeira na escola porque eu nunca tive. Eu mais entrava na escola pra comer, saía da escola e ia pro shopping andar, ia pros parques, vinha pro Cepeusp, então, não ia muito pra escola.
P/1 – E você comentou que você jogava bola na escola, né? Como é que foi esse contato com o futebol? Quando começou, quando você começou a jogar?
R – Não, nunca tive tanto contato com futebol, mas sempre queria estar ali junto com o pessoal jogando um fut, né, que é sempre bacana. E foi bem pouco tempo, nunca fui fã, apaixonado de jogar bola. Eu gosto de assistir, de ver, mas jogar, jogar mesmo, eu não gosto muito, não.
P/1 – E tinha algum outro esporte que você praticava, que brincava?
R – Não.
P/1 – E ainda nessa parte da escola, você falou que você cabulava aula. E os professores contavam pros seus pais, como era essa situação?
R – Eu lembro uma vez que teve uma reunião de pais, isso, como se diz, o meu pai me matriculou em fevereiro, vamos dizer assim, então começaram as aulas. Num belo dia uma vizinha nossa falou que ia ter reunião no mês de novembro e meu pai foi na escola. E quando ele chegou na escola ele foi perguntar de mim e quando ele perguntou a professora falou: “Nunca vi esse aluno aqui na sala, nem conheço, não sei nem quem é esse aluno”. Então foi o fim, eu levei uma surra daquelas quando cheguei em casa pela questão de nunca ter comparecido na sala de aula.
P/1 – Mas você cabulou o ano inteiro?
R – Praticamente (risos). Se eu entrasse na escola era pra comer. E se eu saísse da escola era pra bagunçar. Então se eu entrasse na escola pra ficar podia ter certeza que eu não estaria fazendo lição, ou estaria na sala de outra pessoa, nunca estaria na minha sala mesmo.
P/1 – E como é que foi aí, você ficou esse tempo na escola, tal, como que você veio aqui pro PET, como que você ficou sabendo do PET?
R – O PET criou, acredito que teve um projeto de escola com o projeto, então eles mandavam os papéis e quem pudesse preencher o papel. E acho que tinha uma seleção, se não me engano, e eu fui uma das pessoas selecionadas nesse projeto, que aí acabei conhecendo.
P/1 – E você lembra de ter visto, do dia que você viu esse papel, do dia que você veio fazer o teste aqui, você lembra?
R – Não, não lembro muito.
P/1 – Você lembra mais ou menos do teste, o que tinha que fazer?
R – Não, não.
P/1 – E quando foi isso, mais ou menos?
R – Em 2002.
P/1 – E você lembra do primeiro dia que você veio pra cá?
R – Lembro.
P/1 – Conta pra gente.
R – Ah, o primeiro dia que eu fui vim pra cá eu entrei, já fiquei olhando assim: “Nossa, ó o campo, grande”, olhava as coisas aqui, eu falava: “Nossa, bacana”. E aí a primeira professora que eu tive o primeiro contato foi com a Kátia e com a professora Pérola, na época, né? Ela era estagiária, se não me falha a memória.
P/1 – Só que você disse que nessa época que você cabulava aula você já tinha vindo pro Cepe antes. Como é que você fazia pra vir pra cá, se você frequentava aqui a USP antes?
R – Frequentava, frequentava a USP por questões de morar perto, a gente mora do lado, na realidade, então acabou tornando uma casa, né, tornando a nossa convivência. Então a metade do nosso tempo, o tempo todinho que nós teve foi aqui dentro, então, era o único lugar que nós podia entrar, andar de Circular de graça, poder andar na USP inteira, aí é bacana.
P/1 – E o que você gostava de fazer aqui na Cidade Universitária?
R – Ah, na Cidade Universitária o que nós mais gostava de fazer era andar de ônibus. E segundo, andar pelos prédios. Nós ia em todas as faculdades, ECA, História, Geografia, andava em tudo que é faculdade.
P/1 – E vocês passavam o dia passeando.
R – Passeando.
P/1 – E conta pra mim qual foi a sensação de entrar aqui no projeto? O que você fazia, como que era? Você chegava aqui e fazia o quê?
R – Chegava aqui e a primeira coisa que eu fazia era bagunçar. Eu lembro que quando foi passando um tempo, e aí você vai criando uma convivência no espaço, você vai pegando as coisas, então você vai vendo que você vai ter uma liberdade, querendo ou não você cria uma liberdade. Eu achei que a liberdade se tornaria libertinagem, então eu comecei a extrapolar naquilo que não devia, né? Aí, vixi, aí era bagunça demais, chegava de manhã, tentava chegar primeiro do que os professores, chegava já aqui dentro, ficava sentado ali fora, já esperando alguém chegar pra poder zoar, ir lá em cima andar, bagunçar. Era a melhor coisa que eu queria fazer, era bagunçar.
P/1 – E que atividades que tinha aqui quando você entrou?
R – Tinha todas, acredito que continua como hoje. Tinha futebol, tinha basquete, tinha vôlei, tinha handebol, tinha tênis, tinha muitas atividades.
P/1 – E como é que é, você escolhia, você fazia uma ou podia fazer todas? Quantas crianças tinham, como é que era? Conta pra gente.
R – Eu acho que tinha, juntando todo mundo, de todos os grupos, uma faixa de 150 crianças ou um pouco mais.
P/1 – E como eram as atividades, o que você fazia? Por exemplo, você falou do tênis, você chegou a jogar tênis?
R – Cheguei.
P/1 – E como é que foi pra você? Você nunca tinha praticado o negócio, como é que foi?
R – Rapaz, eu jogando tênis eu até nunca tinha praticado, mas depois nós jogando, brincando, se divertindo, aconteceu diversas coisas jogando tênis.
P/1 – Conta aí pra gente.
R – Já joguei a raquete pro chão, pegou na testa de um amigo meu e rasgou a testa. E até esses dias eu estava comentando com ele, ele falou: “Poxa, você lembra dessas coisas”. Eu falei: “É, você vê”. Na realidade eu não queria participar de esporte, o meu objetivo totalmente era zoar, brincar, nunca queria respeitar.
P/1 – Mas conta direito esse dia que você jogou a raquete no chão.
R – Nós tava tudo lá, jogando, o menino pegou a raquete e aí eu falei: “Não, fica lá do outro lado lá que eu vou jogar a bolinha e você já volta rapidão, ou senão a gente fica jogando pra parede”. Ele falou: “Não, não, não, só eu vou jogar agora”. Eu falei: “Ah, é? Então pode jogar aí”. Eu peguei a raquete e joguei no chão, só que a raquete bateu no chão e voltou na testa dele certinho. E aí foi um dia que tive que ir embora rapidinho, nem fiquei na atividade. Fui embora rápido, corri.
P/1 – Mas os professores ficaram sabendo, como é que foi?
R – Os professores ficaram sabendo.
P/1 – E como é que eles lidavam com você? Você falou que você era todo explosivo, só queria brincar, tal. Como é que eles lidavam com você aqui?
R – Ah, toda vez chamavam pra conversar.
P/1 – Quem chamava?
R – Principalmente a Kátia, o Zé. Chamavam bastante pra conversar. Eles sempre estavam junto me acompanhando pra ver se eu mudava, então sempre eles estavam chamando a atenção, que eu não deveria fazer aquilo.
P/1 – E tinha algum uniforme quando você entrou?
R – Tinha.
P/1 – Como é que era o uniforme?
R – Não, não, de uniforme nós ganhava uma camisa branca com o símbolo do Ayrton Senna com o projeto.
P/1 – Tirando as brincadeiras, de tudo o que era oferecido aqui de esporte, tal, o que você mais gostava de fazer?
R – O que eu mais gostava de fazer, sinceridade? Rapaz, eu gostava mais de handebol e vôlei, duas atividades que eu gostava. E a melhor, que eu mais gostava também, era correr.
P/1 – E como é que foi pra você treinar esses esportes?
R – Eu nunca fui fã de ficar sempre. Gostava, mas treinando mesmo assim, com os alunos, com os professores, era meio complicado porque eu nunca prestava atenção. Eu queria chegar lá, pegar a bola e vamos jogar, esse era o meu objetivo. Mas nunca acontecia dessa forma, né?
PAUSA
P/1 – Arlindo, quando você estava aqui no PET você participava de alguma competição, alguma coisa assim?
R – Participei de uma competição do Olipet, se não me engano, e eu lembro que eu corri nesse dia. Eu lembro que eu estava correndo, fez uma volta ou duas, nós tinha que dar, nesse espaço aqui fora que tem da trilha, dá mil metros se não me falha a memória. E nesse dia aí todo mundo começou a correr naquele gás, pique, e eu sempre, por mais bagunceiro que eu fosse, mas sempre prestava atenção. Então sempre aprendi que nunca devemos começar com aquele gás todo, devemos sempre guardar o gás pro final, né, então comecei bem devagar e uma pá de gente na minha frente correndo, aquele gás todo e esperei. Na última volta foi a hora que eu explodi e cheguei em primeiro lugar.
P/1 – E qual foi a sensação de ganhar?
R – Foi muito boa. Foi muito boa porque pela questão de outros projetos ter vindo pra cá também participar, não foi só nós e fora que bastante gente chamando o meu nome: “Vai, vai, vai! Corre, corre!”, foi muito bom, muito interessante.
PAUSA
P/1 – Arlindo, eu queria perguntar pra você, no tempo que você estava aqui no PET você participou de alguma competição?
R – Participei.
P/1 – Que competição que era essa?
R – Do Olipet.
P/1 – O que era o Olipet?
R – Era uma atividade com diversos esportes. Então geralmente você tinha oportunidade de, como ele formava sempre um grupo, um jogava futebol, outro jogava vôlei, outro participava de outras atividades, tinha diversas atividades.
P/1 – E era sempre que acontecia, uma vez por ano? Como é que é?
R – Se não me falha a memória é uma vez por ano.
P/1 – Tá. E o que você participou?
R – Eu participei mais de correr. Eu participei nesse dia aí, foi legal
P/1 – Você lembra o ano?
R – O ano eu não lembro.
P/1 – E como foi essa corrida?
R – Ah, essa corrida aí, como eu estava falando, eu comecei correr bem devagar, bastante gente passando na minha frente, bastante gente num pique bem elevado, gastando seu fôlego no começo e eu deixei pra gastar o fôlego no final. Então, depois que nós já tinha dado a primeira volta, aí na segunda volta eu dei meus passos longos, comecei a correr mais rápido, mais forte e eu cheguei a ganhar nesse dia aí e foi bacana.
P/1 – Tinha torcida?
R – Torcida não, mas tinha uns incentivos de pessoas que eram do projeto. Como tinha bastante gente que vinha participar de outros projetos, de escola, de diversas coisas, então foi interessante porque quem nos conhecia nos deu um incentivo. Tinha pessoas que estavam correndo junto com nós: “Vai, vai, vai, vai, Arlindo! Consegue, você consegue!” e consegui.
P/1 – Qual a sensação de você passar em primeiro lugar ali?
R – É muito boa, muito boa. Parece que você está ganhando um campeonato.
P/1 – E quem te treinava na corrida?
R – Na corrida, participava muito, agora o nome eu não vou lembrar porque eram muitas pessoas que sempre estava nos... então eu não lembro, mas sabemos que tinha bastante professores nos educando ali, até em questão de pular de salto à distância, diversas coisas. Então isso daí era um incentivo muito grande pra mim.
P/1 – E desses professores aí qual que você lembra mais? Pode falar de todos.
R – Eu lembro do Paulo, lembro do Cássio, do Piu.
P/1 – Fala um pouquinho de cada um deles aí.
R – Ah, vocês vê onde nós está gravando nessa sala aqui? Tem uma história muito bacana (risos). Bacana pra mim. Eu tranquei dois professores aqui dentro, saí correndo, fui embora, pulei cancela. Nós tava até conversando ali agora eu, a Kátia, a Remédio, que eles foram atrás de mim, só que eles não conseguiram me alcançar. E aí eles estavam pensando em já trocar de fechadura, ia fazer diversas coisas já.
P/1 – Porque você levou a chave.
R – Porque eu levei a chave. Só que eu voltei depois à tarde, lá por volta de três, duas horas.
P/1 – E que horas que você trancou eles aqui?
R – Era mais ou menos na hora do café, nós tinha acabado a atividade, por volta de umas dez e meia, onze horas, por aí. Mas aí ele já tinha saído porque pegaram a chave reserva, só que pra ter chave reserva tem que ter a chave normal, então, eu tinha que trazer a chave de volta. E nesse dia ainda voltei, passei por baixo do portão, os professores não acreditavam. Então diversas coisas, aprontei bastante. Cheguei também a fazer canoagem com um desses professores que ficou trancado aqui dentro, que era o Paulo. Tinha o Cássio também que me dava bastante incentivo.
P/1 – E o que você achava desse monte de pessoa te dando incentivo, tal? Ou você nem conseguia pensar nessas coisas?
R – Eu nunca consegui pensar nessas coisas, sempre chamavam minha atenção mas eu sempre fazia o contrário. Tipo assim: “Vou mudar”, mas não mudava, piorava. Então sempre foi assim.
P/1 – E era só você ou tinha outros meninos com você que também iam na onda?
R – Tinha, tinha bastante. Só que os outros eu acredito que tinha uma, como posso dizer? Não era tanto igual eu. Eu já era mais pra frente. Teve vezes de arrumar brigar, sair na mão, sair na porrada.
P/1 – Tem alguma que você lembra mais?
R – Ah, lembro.
P/1 – Conta pra gente.
R – Lembro porque eu estava conversando com um menino, nós tava indo embora. Eu conversando com ele falei: “Ô rapaz, você está tirando eu, né? Então você vai ver o que eu vou fazer com você”. Ele falou: “Duvido”. Quando chegou lá fora, porque eu falei: “Aqui dentro eu não posso bater em ninguém”. Quando chegou lá fora dei um murro no olho dele, o olho dele inchou. Depois de um certo tempo um pessoal veio pra querer me pegar, meu pai foi chamado aqui também, minha mãe, teve umas conversas e eu falei: “Não, vou mudar, vou mudar” e não acabava mudando.
P/1 – E por que você pensava: “Ah, porque aqui dentro eu não posso bater em ninguém”. Por que aqui dentro você não podia e lá fora você podia?
R – Porque aqui dentro eu sabia que eu ia ser chamado a atenção, então uma coisa que acontecesse aqui dentro era aqui dentro, se acontecesse lá fora ficava lá fora, ninguém podia falar nada. Então foi lá fora, esse era o meu pensamento. Mas de qualquer jeito não mudou em nada.
P/1 – E você tinha algum medo de ser expulso, de não poder mais vir pra cá?
R – Acho que esse medo aconteceu (risos). Aconteceu mas nunca parava, nunca parava.
P/1 – E você ficou aqui de que ano a que ano, mais ou menos?
R – Fiquei de 2002 a 2005, 2006, essa faixa.
P/1 – E aqui dentro tinha alguma divisória por idade?
R – Tinha.
P/1 – Como é que era? Fala pra mim.
R – Existia, se não me falha a memória, quatro grupos. Exista o Petelequinho, o Pequeninos e o Unidos. E o Petelecão. Faixa etária dos Petelequinhos acho que era menos de 11 anos, porque a gente tinha 11 anos e ia pro Pequeninos.
P/1 – E depois os outros eram como?
R – Aí os outros já eram a partir dos 13 anos, era Unidos. E o Petelecão já era de 15 pra cima.
P/1 – E você entrou em qual?
R – Eu entrei no Pequeninos.
P/1 – E todo o tempo que você ficou aqui você ficou no Pequeninos?
R – Não, e no Unidos.
P/1 – E qual era a diferença de um pro outro?
R – A diferença eram as atividades, né? Então, vamos dizer, por nós sermos novos naquela época as atividades não eram tão pesadas como quando depois que eu passei ao outro grupo, as atividades começaram a pedir um pouco mais, exigir um pouco mais. Até por questão de idade também, aí pedia bastante: “Então vamos lá”. Sempre tinha alguém pra nos incentivar.
P/1 – E quando começou a praticar as modalidades mesmo? Já foi mais velho ou desde o começo você já jogava?
R – Desde o começo.
P/1 – Nesses anos que você estava aqui você viu alguma diferença no projeto? As atividades mudaram, ou o tipo de pessoa que trabalhava aqui mudou, alguma coisa assim?
R – Muitas pessoas, como hoje eu entendo que pra mim, quando eu estava aqui na época eram professores, só que na realidade eles eram estagiários. Tipo assim, era um período em que eles ficavam aqui mas rapidamente sempre estava trocando e eu não entendia isso, sempre quem ficava eram o Zé, a Kátia, a... esqueci o nome dela agora, mas sempre estava, então falava: “Por que eles ficaram e os outros vão embora?”, então via essa diferença, mas nunca entendia.
P/1 – E teve algum estagiário que você lembra que te marcou, ou que você aprontou com ele alguma coisa?
R – Ah, lembro de muitos estagiários que eu aprontei (risos).
P/1 – Conta pra gente aí!
R – Eu lembro da Gil que uma vez eu taquei pedra nela.
P/1 – Por que você tacou pedra nela?
R – Rapaz, agora eu não lembro por que, qual foi o motivo, mas saí tacando pedra. Teve também um outro professor que não me recordo o nome, o pessoal lembrou o nome dele mas eu não recordo agora, que nós estava lá em cima numa modalidade...
P/1 – No módulo?
R – No módulo, isso. E eu lembro que nós estava jogando vôlei. E nesse dia eu não sei o que eu aprontei e ele falou assim: “Você não vai ficar aqui, você vai embora”. Aí eu falei pra ele assim: “Não, não vou embora”. Ele falou: “Você vai embora”. Eu falei: “Não, não vou embora. Quero ver você fazer eu ir embora”. Então ele me pegou no colo e quis me levar embora e eu comecei a dar um par de soco na cara dele, quebrei o óculos dele. E depois ele ficou com medo, fiquei esperando ele ali fara pra tacar pedra nele também mas acabei não tacando, fui embora. Porque eu ia ficar muito tempo esperando porque eles demoravam pra sair daqui. Então eu acabei indo embora nesse dia. Depois eu voltei no outro dia como se não tivesse acontecido nada.
P/1 – E você pediu desculpas?
R – Não. Sempre aprontei e nessas partes assim era difícil pedir desculpa, eu sempre achava que estava com a razão.
P/1 – E tinha algum tipo de punição, eles te colocavam de castigo ou mandavam bilhete pros seus pais, como é que era?
R – Mandava. Cheguei a ficar sem participar de atividade.
P/1 – E como é que você se sentia?
R – Normal (risos). Sinceridade, normal. Porque nunca, pra mim era normal, pra mim era: “Ah, tô nem aí”, sabe?
P/1 – E quando te chamavam pra conversar aqui dentro, quem que te chamava geralmente?
R – Geralmente era a Kátia e o Zé. O Zé era mais explosivo comigo, o Zé já falava bastante: “Você está pensando o quê, você está achando que aqui é a sua casa, moleque?”, então sempre era mais duro. Sempre ouvia assim mas não tinha aquele medo.
P/1 – E tem alguma conversa que tenha te marcado? Você lembra: “Eu aprontei, fui falar com o Zé e teve aquela conversa”?
R – A conversa que me marcou mesmo foi o dia que eu fui expulso daqui. Foi o dia que eles foram na minha casa por ter feito uma coisa muita errada e aí acho que aquele dia acho que foi o dia que foi marcado.
P/1 – E o que você tinha feito de errado?
R – Eu tinha pegado o boné e levado pra casa.
P/1 – De quem o boné?
R – O boné ficava na mesa do Marcos. E um dia eu peguei esse boné e levei pra casa.
P/1 – Conta pra mim como é que foi esse dia, onde é que você estava, você estava em casa, eles chegaram, como é que foi?
R – Chegaram e eu falei: “O que deve ter acontecido”. Chegou, conversaram comigo, pediram para eu devolver o boné e depois tiveram uma conversa com meus pais e falou: “Infelizmente não tem como ele participar mais do projeto”. Foi onde eu fui desligado. Mas mesmo assim depois de um tempo ainda continuei tendo o contato com eles.
P/1 – E como é que foi pra você esse desligamento? Quando eles te falaram: “Você não vai poder mais vim”? O que você sentiu?
R – Aí eu senti a perda, aí eu senti a falta.
P/1 – E como é que foi você não poder mais ver seus amigos? Aí o que você fazia, o tempo que você estava aqui você ficou em casa fazendo o quê? Como é que foi?
R – Esse período depois disso, aí foi onde eu procurei bagunçar mais. Então mesmo não podendo participar sempre pulava, sempre entrava, sempre dava um jeito de estar aqui.
P/1 – E junto com esse período que você estava aqui você ainda estava na escola, né?
R – Tava.
P/1 – E como é que era na escola também?
R – Na escola, ixi, sempre, sempre a mesma coisa. Sempre cabulando, repetindo a quinta série (risos), sempre a mesma coisa.
P/1 – E quando o pessoal aqui, depois de você ter sido expulso via você entrando, o que eles faziam?
R – Não faziam nada. A maioria me via, não falava muita coisa, né, porque eu sempre ficava mais esquivado. Então eles me viam de relance e eu estava correndo, dava linha na pipa, rápido, porque eu sabia que o segurança podia aparecer.
P/1 – E você sentia vontade de voltar pra cá?
R – Sinceridade, depois de um certo tempo que eu tive vontade de recuperar o tempo perdido, mas naquele momento eu falei assim: “Ah, já era, né, vou fazer o quê? Não tem como voltar atrás, já era”. Só depois de um bom tempo que eu comecei a me preocupar, falar: “Pôxa, podia estar bem hoje, podia ser um professor, alguma coisa podia estar fazendo de bom”.
P/1 – E daí você saiu da escola, o que você fez? Você começou trabalhar, como é que foi?
R – Ixi. Aí eu comecei a aprontar, né, aí eu comecei a aprontar. E aí foi onde eu descabecei de verdade.
P/1 – O que você fazia, como é que foi?
R – Eu comecei a entrar pro lado errado. Então comecei a furtar, comecei a andar com más companhias, piores do que eu, e fui traçando a minha vida para o pior.
P/1 – Mas como é que foi que você começou a furtar? Foi algum amigo que te chamou ou você queria alguma coisa?
R – Eu mesmo. Eu queria alguma coisa e fui atrás.
P/1 – E você fazia sozinho?
R – Geralmente fazia sozinho porque eu tinha medo de ir com alguém e esse alguém não conseguir segurar, sabe? Não conseguir aguentar pancada, porrada, então eu sempre ia sozinho.
P/1 – E nunca foi pego?
R – Fui.
P/1 – E como é que foi?
R – Ah, nesse dia eu estava com um amigo meu. Infelizmente fiz uma coisa errada...
P/1 – O que você fez?
R - ... e esse amigo meu falou: “Ah, vamos entrar por aqui”. Eu falei: “Ah, vamos por aqui que é melhor”, aqui no Crusp. Eu falei: “Pô mano, tem tanto lugar pra nós ir, por que você quer ir por aqui?” “Ah, porque eu quero passar ali pra ver se eu como um lanche”. Aí nós foi, ele viu uma bolsa e pegou essa bolsa. Só que como eu estava com ele eu falei: “Vambora, né, meu?”. Quando chegou ali no prédio da História nós abriu a bolsa e era de um policial civil. Poxa, tinha um pente dentro da mochila carregado de bala e eu falei: “Meu Deus do céu, agora nós tá ferrado mesmo”. Quando foi ver o segurança apareceu, nós saiu correndo, entrou dentro do ônibus só que a polícia conseguiu pegar nós. E nesse dia aí ele começou a chorar, começou a pensar na mãe dele, falando que a mãe dele tinha problema do coração e ele começou a chorar. E eu sempre fui o bravão, sempre fui aquele cara marrudo, então falei pra ele: “Ó, é o seguinte, tinha que pensar antes de fazer. Agora já fez a besteira vamos aguentar, mano”. E o policial civil levou até nós...
P/1 – Você era menor nessa época?
R – Era de menor. Aí o policial civil mandou os policial militar liberar nós e eu falei pra ele assim: “Ó, sou vou ser liberado na delegacia. Eu não vou sair de dentro da viatura, minha mãe já está indo pra delegacia, o senhor me libera lá. Se for para ser liberado eu quero ir pra delegacia”. Aí o policial queria porque queria liberar nós ali.
P/1 – Por que você queria ser liberado só na delegacia?
R – Porque eu tinha medo. Porque eu falei: “Pôxa, se eu sou liberado aqui a polícia pode me matar, pode fazer alguma coisa. Minha mãe estando lá não tem condições”. E fica registrado. Já pensava dessa maneira. Na época eu tinha menos de 14 anos se não me falha a memória.
P/1 – E como é que foi? Você foi pra delegacia?
R – Fui.
P/1 – E sua mãe foi lá?
R – Ela já estava lá. Quando nós chegou ela já estava lá porque eu tinha conseguido avisar um amigo meu que passava dentro do Circular da USP.
P/1 – E como é que foi esse encontro com a sua mãe.
R – Ixi, aí minha mãe falou um monte pra mim, brigou bastante comigo.
P/1 – Mas daí você mudou ou continuou fazendo a mesma coisa?
R – Aí continuei fazendo a mesma coisa, sempre aprontando, sempre fazendo coisa errada. Só que quando eu cheguei até os 16 pra 17 anos que eu procurei a mudança, que aí eu olhei pra mim e falei: “Pô, to crescendo, não tem como continuar na mesma vida, né? Não tem condições de eu continuar da mesma maneira. Ou eu procuro mudar ou eu procuro piorar a minha situação”. E aí eu procurei mudança.
P/1 – Nessa época que você estava descabeçado como você falou, você chegou a ter algum envolvimento com droga, alguma coisa assim?
R – Sim, sim.
P/1 – O que você usava?
R – Usava maconha, cheguei a usar cocaína.
P/1 – E você chegou a traficar alguma coisa assim ou não?
R – Cheguei, cheguei.
P/1 – Onde, aqui na universidade?
R – Não, na comunidade.
P/1 – E como é que era? Conta pra gente.
R – Então, comecei a traficar, vixi, foi onde eu comecei a me envolver bastante com esse lado das drogas. Eu pensei bastante, até um certo dia que eu até pensei e falei: “Poxa vida, agora estou nem aí, não, agora vou viver minha vida dessa forma. Agora seja o que Deus quiser, se tiver que morrer assim eu morro mas não vou preso”. Esse era o meu pensamento.
P/1 – E você pegava a droga lá e vendia lá mesmo ou vendia fora?
R – Lá mesmo.
P/1 – E como é que foi esse momento de mudança? O que bateu na cabeça?
R – Como posso te dizer? Primeira coisa eu acho que quando a pessoa está caída dentro de um poço que ela quer sair de lá de dentro ela tem que procurar algum... como se dizer? Ela tem que pensar, ela tem que analisar e falar assim: “Não tem nenhuma possibilidade de eu sair daqui de dentro sem ajuda de ninguém, se alguém me ajudar eu saio, senão, não”. A primeira coisa tem que ter um esforço da nossa parte. Então vamos dizer, pra alguém ouvir lá em cima nós temos que gritar. E se alguém ouvir vai nos ajudar, né? Então eu acho que partiu de mim primeiro a querer a mudança e aí eu procurei mudança. Eu procurei a mudança pensando no quê? Pensando que se eu ficasse, só se esquivasse e falasse: “Não quero mais isso pra mim” e continuasse de uma maneira que ele olhasse: “Não, mas você está junto com nós ainda”, praticamente ia me considerar ainda como uma pessoa traficante, o que seja. Só que eu procurei uma mudança diferente. Então eu me esquivei das pessoas e procurei uma igreja pra ir. Porque como eu posso te dizer? Se a sua mente ficar vazia, não tiver nada pra você preencher ela, então te leva a conduzir outros caminhos, você precisa ter uma mente cheia de alguma coisa, se é cheia de maldade você vai só colher maldade, então preferi ir pra uma igreja e colher algumas coisas que a igreja nos traz. Então primeiro o amor ao próximo, o amor a si mesmo.
P/1 – E quando você teve essa esquiva dessas pessoas, essas pessoas muitas delas eram seus amigos?
R – Eram.
P/1 – E como é que foi essa sensação de deixar de falar com os amigos?
R – Poxa. Primeiro dia eu lembro que eu saí da porta de casa e tinha um pessoal fumando maconha e eles falaram assim: “E aí, não vai dar um trago, não?”, e eu falei assim: “Não, parei, estou indo pra igreja”. E ele já falou: “Ah mano, isso daí é só dois dias, daqui a pouco você tá com nós de novo. Isso daí rapidinho você volta, que nada, isso é papo pra boi dormir”. E aí depois de um bom tempo eles viram que realmente eu tinha mudado.
P/2 – E seus irmãos, o que eles fizeram ao longo desse tempo todo?
R – Ah, os meus irmãos ao longo desse tempo todo eu, como posso te dizer? Eu nunca tive um contato familiar, eu nunca fui daquelas pessoas igual vi várias famílias de sentar numa mesa e estar com irmãos ali conversando, trocando umas ideias, eu nunca fui assim. Eu sempre, até hoje eu vivo mais fora do que dentro de casa. Pode ter certeza, se eu acordar e sair do meu quarto não consigo ficar na minha casa conversando com a minha mãe, com meus irmãos, sempre rua. Então eu tenho bastante amizade, eu tenho bastante amigo, mas nunca tive um contato legal com meus irmãos.
P/1 – E Arlindo, como é que foi? Você falou que depois que você decidiu mudar você foi pra igreja. Mas como é que foi? Por que a igreja, quem te levou, alguém levou você pra lá? Falou: “Ah, na igreja você vai conseguir mudar”, como é que foi?
R – Ah, um vizinho meu sempre me chamava, sempre me chamava e um dia eu falei: “Eu vou”. E aí eu fui e depois comecei a frequentar de verdade, procurei a mudança, cortei bastantes amigos. Através da igreja conheci outros lugares, outros estados, nunca tinha ido. Então, teve uma mudança por completo, mudou completamente a minha vida.
P/1 – Que igreja que é?
R – Assembleia de Deus.
P/1 – E numa das fotos que você trouxe pra gente tem ali duas pessoas, você falou que são praticamente seu pai e sua mãe.
R – Isso.
P/1 – Fala um pouquinho qual o nome deles?
R – O Renato Reis é um pastor e quando eu comecei a ir pra igreja ele me acolheu. Porque eu não tinha ninguém pra conversar, pra desabafar. Então vamos dizer, se vai desabafar com a minha mãe não tinha condições, não ia entender. Ia desabafar com o pai, o pai também não entende. Então desabafava com ele, conversava com ele, ele me dava conselho, sempre estava falando o que eu deveria fazer, a maneira correta de fazer. Então essas duas pessoas, com a esposa dele, a Rosangela, foram as pessoas que até hoje eu considero como um pai e uma mãe porque sempre eu estou na casa deles, sempre estou com eles, tem dias que eu fico dois, três dias lá, então, pessoas que eu considero família.
P/1 – E a sua mãe, como é o relacionamento com ela?
R – Ah, o relacionamento com a minha mãe é aquele relacionamento, como posso te dizer? Não muito de mãe pra filho, então tem aquele relacionamento, ela pergunta algumas coisas, ela fala algumas coisas, algumas coisas eu falo pra ela como ela deve fazer, muitas coisas ela me dá conselho. Mas eu não tenho aquele convívio totalmente família. Por questão de, como posso dizer? Por rotina, né?
P/1 – Você comentou pra gente já, mas quando é que foi que você começou a perceber: “Putz, lá no PET era assim, era legal, eu devia ter aproveitado”. Quando foi?
R – Ah foi uns quatro anos atrás. Foi quando eu terminei os estudos e eu olhei assim: “Puxa vida, podia estar fazendo uma faculdade, podia estar mudando totalmente a minha vida, podia estar num momento desse agora podendo estar bem, pelo menos vamos dizer, não bem estruturado, mas podia estar ganhando um salário muito bom, podia estar formado e podia estar fora da comunidade hoje”.
P/1 – Em algum momento você tentou voltar pra cá mesmo pra fazer visita, ver o pessoal?
R – Ah, tentei. Eu vim aqui, tem vezes que eu estou correndo aqui na USP e eu passo, tem hora que eu fico olhando: “Pô, vou lá dar um abraço em alguém”. Então já vim aqui dar um abraço na Kátia um dia desses. Vim aqui, fui lá em cima, eles davam dando atividades para algumas pessoas.
P/1 – E eles ficam felizes em receber você aqui?
R – Ficam. Eu fico mais feliz ainda, de poder ter essa porta aberta. Geralmente quando acontece esse tipo de coisa em alguns lugares, eu acredito, é difícil de voltar até por questões das pessoas não querer receber.
P/1 – E qual importância do PET pra você hoje?
R – A importância do PET pra mim ela tanto forma a pessoa profissionalmente, ela pode ser formada aqui dentro pra trabalhar no esporte, ela pode ser formada aqui dentro e ela forma até o caráter da pessoa, basta a pessoa querer. Se a pessoa quiser ela é formada com os projetos que têm aqui dentro. Então tipo assim, o projeto é muito bom, só que infelizmente, eu não sei porque, quando é menino nós pensamos como menino, então acho que não dá tanta importância. Algumas pessoas dão importância e aproveitam, outras não. Outras pegam isso e jogam no lixo, foi isso que eu fiz, peguei a oportunidade que eu tinha e joguei no lixo. Então essa oportunidade hoje muito faz falta.
P/1 – Mas você acha que o projeto aqui ajudou a formar o seu caráter?
R – Ajudou um pouco. Não tudo mas ajudou bastante a refletir na vida, pensar. Então ela me ajudou bastante. Hoje eu falo pra várias pessoas, teve pessoas que chegou a entrar aqui ainda quando eu já tinha mudado, já tive conversa com algumas pessoas e falei: “Aproveita porque eu não aproveitei”. Pra aproveitar. Porque é um momento único, é um momento que passa, mas se as pessoas souberem aproveitar esse momento que se passa, esse momento vai valer muito lá na frente.
P/1 – Agora eu queria voltar pro período que você ainda estava no PET. Você falou pra mim que você chegou até a fazer canoagem.
R – Sim.
P/1 – Conta pra gente como é que foi fazer canoagem. Você já tinha feito em algum lugar, assim?
R – Não, não.
P/1 – E como é que era?
R – Era muito bom, muito legal. Eu sempre virava o barco pra cair dentro da água (risos). Eu nunca queria ficar sem entrar na água, eu queria entrar na água, eu queria mergulhar. Só que tinha as piranhas também, tinha que ter um pouco de cuidado, mas era o que mais queria, então você ficava zoando (risos), nunca fazia as coisas direito.
P/1 – Era na raia aqui?
R – Na raia.
P/1 – E como é que era? Vocês chegavam, aí tinha aula, alguém ensinava?
R – Tinha o Paulo com outros professores, e o Paulo já era, eu acredito que até hoje, eu não tenho contato com ele, mas acredito que até hoje ele participa disso. Ele não era só professor, ele participava das competições. Eu lembro que uma vez eu fui ver ele participando de uma competição da Havaianas, que é só um remo, tem que ir um por lado aqui só com a mão mesmo e praticamente você fica ajoelhado. E ele ganhou nesse dia aí, foi muito interessante, foi muito bacana, fui ver ele lá. E ele me incentivava, ele me incentivava bastante.
P/1 – E tinha piranha na raia?
R – Tinha. Tem até hoje eu acredito. Tem piranha na raia, pegava nossos pés, tinha que sair rápido de dentro da água. Chegamos a fazer natação também aqui dentro do Cepeusp.
P/1 – Você aprendeu a nadar aqui?
R – Aqui não, mas aprendi a nadar no, tem um prédio aqui do Paço das Artes, dentro da USP, atrás dele tinha uma lagoa. Eles iam construir um prédio e quando começou a fazer as ferragens encontraram uma mina de água lá e não conseguiram, tem até esse prédio abandonado na USP aí. Então nesse prédio aí tinha uma lagoa e nós ia pra lá nadar. Tinha uma parte que era ferro mas tinha parte que não era, então nós nadava e eu aprendi ali. Até que umas vezes que nós foi aqui pro Cepeusp, aqui na piscina, tinha que nadar com colete, uma piscina funda, de seis metros se não me falha a memória, e eu sempre dava um jeitinho de soltar o colete porque eu sabia nadar, eu queria impressionar todo mundo, eu sei nadar, então eu sempre soltava o colete.
P/1 – E Arlindo, fala pra mim assim, de cabeça, todas as modalidades que você lembra de você ter praticado aqui dentro.
R – Que eu tenha praticado aqui dentro? Eu lembro que eu pratiquei vôlei, basquete, futebol, handebol, atletismo, ginástica olímpica, natação.
P/1 – A canoagem.
R – Canoagem. Essas são as atividades que eu lembro. Tem mais, mas por questão de não lembrar eu não consigo falar.
P/1 – E quem decidia que modalidade que ia ter, que modalidade que não ia ter?
R – Os professores.
P/1 – Eles que escolhiam?
R – É.
P/1 – E aí você podia escolher qual daquelas você queria e qual não queria ou você tinha que ir em todas?
R – Tinha que ir na que era no dia. Então tinha semana que não teria, porque na realidade nós ficava aqui de segunda, terça, quarta não tinha, que eles faziam reunião e quinta e sexta. Esses eram os nossos dias, então tipo assim, tinha semana que era só futebol, tinha semana que era só handebol. Tinha dia que era handebol, futebol, basquete e vôlei, entendeu?
P/1 – E qual modalidade você mais gostava e menos gostava? E por quê?
R – A que eu mais gostava era handebol e vôlei. Não que eu não gostava do futebol, futebol é a paixão, mas não era tão fã. Mas a que eu mais gostava era de handebol e de vôlei.
P/1 – E a que você menos gostava?
R – A que eu menos gostava? Acho que a que eu menos gostava, rapaz, era basquete. Basquete dificilmente eu ia.
P/1 – Você chegou a comentar da ginástica olímpica. Como é que é, o que você treinava na ginástica olímpica?
R – Nós pulava, nós corria e pulava na areia, eram diversas coisas. Aquela corrida de atletismo que fala, você correr e passar bastão, essas coisas. E dentro dos módulos tinha aqueles pulava no colchonete, de correr e subir no negócio lá e aquelas cambalhotas, essas coisas. Só que eu nunca consegui fazer (risos), eu sempre ia lá zoar.
P/1 – E você fez muitos amigos aqui dentro?
R – Amigos, amigos aqui dentro? Rapaz, não. Os professores foram meus amigos, agora educandos nunca.
P/1 – E você chegou a ter alguma namoradinha aqui dentro, alguma coisa assim?
R – Ah...
P/1 – Fala aí, conta pra gente.
R – Ah, mas essa parte nós pula (risos). Porque foi muito zoeira, não tem condições de contar (risos).
P/1 – Então tá bom. Vocês se conheceram aqui no projeto mesmo?
R – Sim, sim.
P/1 – E ela era mais nova ou mais velha?
R – Na mesma faixa etária.
P/1 – Tá, tá bom.
P/2 – Tinha muita gente da Remo que vinha fazer parte?
R – Sim, sim. Sim. Principalmente na hora de ir embora. Na hora de ir embora Circular lotado, nunca vazio, então sempre cheio o Circular e as portas iam aberta, não podia fechar a porta.
P/2 – Era cinza?
R – Na realidade nem cinza era ainda, na época que nós começamos eu lembro do Circular amarelo ainda. Não sei se alguém pegou essa época mas eu lembro do Circular amarelo ainda, depois que entrou o cinza, e nós ia com as portas abertas. Nós colocava a perna na porta, o motorista tentava fechar, mas tem que ir assim. Mas ia lotado. Ou muitas vezes pegava rabeira no busão, nunca que a porta ia fechar. Eu sempre ficava por último, eu queria a porta aberta, sempre queria estar segurando ali a porta aberta pegando vento. Então, direto. Bastante gente ia com nós, muita gente da São Remo, nós ia cantando dentro do ônibus, era a maior zoeira, um zoando o outro e o pessoal até reclamava: “Motorista e as pessoas aí? Só xinga, só zoa esses meninos! Manda eles descer!” A guarda universitária já parou muitas vezes o ônibus pedindo pra nós descer, ia embora a pé.
P/2 – Isso tudo na volta, só pra chegar lá.
R – Tudo na volta. Na ida não tinha tudo isso pela questão do horário, o horário era muito cedo, muita gente não pegava o ônibus ainda nesse horário e não tinha muita gente indo. Mas na hora de voltar era bastante, era bastante. Da São Remo acho que tinha mais de 20 pessoas.
P/2 – E você sabe o que eles estão fazendo hoje? Você ainda vê eles na rua?
R – Então, uns conseguiram terminar, uns estão fazendo faculdade, outros têm filhos hoje, outros trabalham. Poucas pessoas eu tenho contato hoje.
P/1 – E tem gente que está aqui hoje que é da Remo? Você acha?
R – Onde?
P/2 – Você falou que até você indicou ou incentivou o pessoal.
R – Não, depois que eu saí do projeto cheguei a vir aqui e tinha um menino que tinha quase a mesma personalidade que a minha, quase a mesma. Bagunceiro. E ele morava na comunidade. Eu conversei com ele, falei: “Você tem visto a minha vida”. Hoje eu tenho visto ele mas eu não tenho contato.
P/1 – E o que você falou pra ele? Como é que foi a conversa? Foi o pessoal aqui que pediu pra você falar com ele ou foi você que quis ir lá falar com o menino?
R – Não, não. O pessoal falou comigo: “Tenta conversar com ele, explica pra ele”, pela mudança que teve na minha vida, né? Então conversei um pouco com ele, falei pra ele: “Rapaz, aproveita, não joga no lixo a oportunidade que você está tendo. Eu desaproveitei, peguei a oportunidade que eu tinha e joguei no lixo. Não tem como voltar atrás tudo o que passa, se você não souber aproveitar a oportunidade, muitas vezes pode vir outra oportunidade, mas aquela oportunidade que você teve você perdeu. Pode vir uma lá na frente, posso ter outra oportunidade, posso ter outras coisas, posso sim, mas a oportunidade que nós perdemos não conseguimos encontrar de novo”. Nós tem que saber aproveitar, né?
P/2 – E quando foi a primeira vez que você entrou lá na Assembleia de Deus, o que te chamou a atenção?
R – O que me chamou a atenção?
P/2 – É.
R – Rapaz, eu vou falar pra você, acho que tipo assim, acho que Deus coloca dentro do nosso coração algo que não tem como explicar, né? Então tipo assim, a melhor coisa que ele colocou em mim e gerou dentro do meu coração é eu ter visto, eu estar olhando e vendo as pessoas que queriam meu bem me incentivando a estar ali dentro. Então, quando acabou o culto, principalmente quando acabou o culto todo mundo me abraçou, então, eu encontrei o amor ali dentro, foi muito bom, foi onde eu procurei: “Pô, vou ficar aqui”.
P/1 – E você está lá até hoje?
R – Até hoje.
P/1 – Deixa eu te fazer uma pergunta. Você falou lá no começo, quando eu perguntei do uniforme, que ele era branco e tinha o Senninha no peito. Você conhecia o Senninha, o Senna, você chegou a ver ele correr, alguma coisa assim?
R – Não, não porque o Senna morreu em 1994, eu tinha nem quatro anos ainda.
P/1 – E aqui eles falavam bastante dele pra você?
R – Falavam. Até chegamos a ver um vídeo dele praticando esporte aqui dentro, né? Então para incentivar nós a praticar esporte, correr. Tinha diversas coisas que sempre tinha conversa com nós, sentava em grupos e falava a necessidade do projeto, a necessidade de nós estar praticando esporte, que é bom pra nossa saúde.
P/2 – Você gostava do uniforme?
R – Ah, nunca fui fã de uniforme (risos).
P/1 – E o que você quando era pequeno e estava aqui no PET achava do Ayrton Senna?
R – Ah, uma pessoa que eu acho que ele fez o que ele gostava. Além dele fazer o que ele gostava ele morreu naquilo que ele gostava, né, que era correr. Então eu sempre vi ele como um incentivo pra todos os brasileiros.
P/1 – E como é que foi, depois que você endireitou a sua vida você começou a trabalhar, o que você fez?
R – Aí eu comecei a procurar trabalhar. Procurei trabalhar, fui trabalhar de auxiliar de serviços gerais, trabalhei no SVO, depois trabalhei em prédio.
P/1 – E você pensava em voltar a estudar, alguma coisa assim?
R – Pensava. Pensava mas é um pouco difícil porque eu sempre tive dificuldade por questão de não frequentar, nunca querer aprender, então eu tive um pouco de dificuldade. Depois de um tempo eu falei: “Não, eu tenho que criar vergonha na cara e procurar estudar”, foi onde eu comecei a estudar de volta.
P/1 – E o que você fez? Você terminou o ensino médio, é isso?
R – Eu terminei.
P/1 – E hoje? O que você faz hoje, qual é a sua rotina? Você acorda e o que você faz?
R – Ah (risos). Hoje, hoje, atualmente, como eu estou desempregado, estou no seguro desemprego o que eu faço? Acordo, muitas vezes eu vou fazer alguma coisa com alguém, com o pastor, vou na casa de alguém, vou conversar com as pessoas. E geralmente, se eu não estiver empinando pipa, como estamos na época, eu estou em casa lendo algum livro.
P/1 – O que você gosta de ler?
R – Ah, eu gosto de ler bastante História.
P/1 – É?
R – É. Eu acho que até na escola, até no tempo que eu ia na escola a única aula que eu acho que eu nunca cabulei é História e Matemática.
P/1 – Por que você gosta de História?
R – Ah, História é uma questão de mexer com a mente, né? Mexe com a nossa mente completamente, nós cria as coisas, História você imagina como seria. Então mexe totalmente com a nossa imagem da nossa mente?
P/1 – E qual o seu livro preferido? Se você tivesse que falar um.
R – Um? Rapaz. Bíblia.
P/1 – E deixa eu te perguntar, Arlindo. Você falou que quando vinha visitar aqui o pessoal que você estava correndo pela USP. Você ainda corre?
R – Corro. Hoje eu estou um pouco relaxado, mas corro.
P/1 – E você pratica mais algum esporte?
R – Não, não. De vez em quando vou jogar uma bolinha na quadra mas não é sempre, né? De vez em quando.
P/1 – E se tivesse que falar assim, hoje qual é o seu maior sonho? Sonho pessoal, que você gostaria de realizar?
R – Sair da comunidade.
P/1 – Por que?
R – Ah, por diversas coisas. As pessoas acham que nós quer sair de lá porque lá não presta, porque lá é aquilo, isso outro, tipo, coloca algum porquê. Eu não coloco nenhum porquê, eu coloco a minha vida. Eu nasci ali, todo mundo me conhece ali, todo mundo sabe a minha rotina ali, mas eu queria mudar de lugar, para um lugar melhor. Pela questão até de emprego também, questão de uma comunidade ser mal falada, diversas coisas. Muitas pessoas não nos aceitam. Não vai falar na nossa cara, mas fala: “Obrigado, qualquer coisa nós te liga” e nunca liga. Então nós já sabemos por qual motivo não ligaram.
P/1 – E você já chegou a sofrer algum tipo de preconceito assim?
R – Já.
P/1 – Conta pra gente.
R – Ah, eu cheguei a chegar numa loja, fui comprar roupa e por questão de estar mal apresentado o pessoal não querer vender. Só que eu comecei a olhar pro cara e falei assim: “Ó, não vou brigar porque...”, eu pedi pra pessoa tirar da vitrine para eu olhar a camisa e ele não tirou. Ele olhou pra minha cara e não respondeu. Eu falei: “Você está achando que eu não tenho dinheiro?”. Eu abri a carteira e falei: “Dinheiro eu tenho, só que agora eu não vou comprar aqui e também não vou arrumar confusão, porque eu tenho que ter testemunha pra fazer qualquer coisa, eu não tenho, mas você perdeu comigo”. Saí daquela loja, percebi que na realidade pra algumas pessoas a roupa fala alguma coisa, pra algumas pessoas, como posso dizer, muitas coisas falam pra algumas pessoas, né? Só que na realidade ninguém pode olhar pra uma roupa e falar: “Pô, aquele cara é um delinquente, aquele cara é um marginal”. Hoje em dia as pessoas não podem tirar conclusões por roupa. Porque se nós for tirar conclusão por roupa vai ver que tem gente de terno, engravatado, igual eu estou hoje aqui, mas eu posso ser um marginal, né? Roupa não define ninguém, né, o que vai definir é a sua vida no dia a dia.
P/1 – E como é que você se sentiu quando o cara não quis tirar a camisa?
R – Ah meu, me senti muito mal. Mas eu não queria arrumar confusão, não me senti abalado nem por nada.
P/1 – E Arlindo, você comentou que hoje você tem uma namorada. Fala pra gente o nome dela, como é que você conheceu ela?
R – Não, não.
P/1 – Não quer? (risos)
R – Não. Hoje não (risos).
P/1 – Arlindo, eu queria que você me dissesse o que você achou de ter contado um pouco da sua história pra gente?
R – Ah, muito interessante, né? Muito bom poder voltar aqui e estar contando a minha história já com mudança de vida, isso que é o mais interessante pra mim.
P/1 – E o que você acha do pessoal aqui do PRODHE ter pedido pra chamar você pra contar?
R – Ah, uma honra. Uma honra porque, até do fato de eu olhar assim, poxa, aprontei tanto e hoje o pessoal está me chamando para estar participando dos 20 anos do projeto do PET.
P/1 – Então tá certo, Arlindo, a gente agradece muito a sua participação, viu?
R – Muito obrigado.