Roda Viva
Autor:
Publicado em 14/11/2021 por Danilo Eiji Lopes
Entrevista de Éder Flávio Barbosa
Entrevistada por Torigoe / Daniela
28/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FUNAS_HV012
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P/1 – Qual o seu nome completo, a data de nascimento e cidade?
R - Éder Flávio Barbosa, nasci no dia 12 de Dezembro de 81, e moro na cidade de Passos, Minas Gerais.
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P/1 – Qual que é o nome do seu pai e da sua mãe completos?
R - Meu pai, Laercio Barbosa e minha mãe, Maria Gení Barbosa.
0:48 - O seu pai é de Passos também, a família dele? Como é que é a história da sua família por parte de pai?
R – Meu pai é natural do Guapé, cidade aqui próxima, próxima à usina de Furnas até. E depois já mudou muito cedo Passos. Guapé é uma cidade pequena, e de Guapé ele já veio para passos e desde sempre estamos aqui. Meu pai trabalhou na roça um tempo. E depois já veio para a cidade.
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P/1 - E os seus avós por parte de pai, eles são de Guapé também? O que eles faziam? Eles estão vivos?
R - Já morreram os dois. A minha avó morreu um pouco antes de eu nascer, meu avô eu cheguei a conhecê-lo. Mas ele era go Guapé e do Carmo do Rio Claro, cidades aqui próximas. Então trabalhava sempre na roça, lá no Guapé. E depois vieram também para Passos, em busca de novas oportunidades, tudo mais. Passos é quase que uma cidade, digamos, polo para a região. Apesara de ser uma cidade pequena também, mas é uma cidade que concentra mais as pessoas.
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P/1 – Você conheceu seu avô, se lembra dele?
R – Conheci sim, eu lembro do meu avô. Meu avô depois, ele foi morar em Campinas, então nós tivemos até pouco contato, mas eu lembro bem dele. Depois a gente ia viajar, ia para casa dele, ele vinha sempre para cá, para Passos. Mas eu lembro.
2:39
P/1 - Como que ele era? Como que ele tratava você, quando criança, como é que era essa relação?
R - Muito boa! Era muito boa! Tenho um carinho muito grande por ele, José Adriano Lopes, o nome do meu avô. Sempre que ele vinha para cá, a gente saia, levava a gente na venda, era uma coisa que ficava marcada. A gente ia na venda comprar um doce, era muito gostoso. Que é uma coisa que hoje meu pai faz com os netos, com os meus filhos, com os meus sobrinhos. Às vezes vai na venda comprar um doce, comprar uma bala, uma vendinha próxima. Mas a magia não está no que vai comprar, estar em ir com o vô. Então é fantástico, e muito bom! Então essa recordação eu tenho muito firme, muito recente, muito viva dele.
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P/1 – Eder, conta um pouco agora da família da sua mãe. Qual que é a origem deles, da onde eles vem?
R – A família da minha mãe vem de Alpinópolis, uma cidade também próxima a Passos. Então meu avô Ramiro e minha avó Geraldina. O meu avô eu também não conheci, morreu um pouco antes de eu nascer. E minha vó eu já conheci ela acamada, ela estava doente e morreu eu tinha, acho que uns quatro anos, quando minha avó morreu, materna. Mas eu lembro da minha avó uma coisa muito viva também, dela na recordação. Sempre que a gente saia da nossa casa e ia para casa dela visitar, que a minha mãe ia ajudar e tudo mais, tinha uma flor na frente, na fachada de uma casa que a gente passava por ela. Tinha uma flor, que dava flor o ano inteiro. E sempre eu colhia aquela flor específica, para levar para minha avó. Então é uma coisa... Todas as vezes que eu vejo essa flor também, eu lembro dela. Uma coisa que marcou, muito bonita, que fica sempre uma memória viva da vó.
5:10
P/1 – E uma das primeiras lembranças que você tem?
R – Sim, é uma das primeiras lembranças da vó. Eu me recordo muito bem disso, dessa caminhada, que a gente sempre fazia, vinha a pé. Eu, minha mãe e meu irmão, para casa da vó, para poder visitar, ajudar ela.
5:36
P/1 - Você sabe como é que seus pais se conheceram? Eles contaram essa história para você?
R – Sim! Eles moravam na roça, então o meu vô tinha uma roça aqui próxima, a fazenda chamava Áreas, e meu pai estava trabalhando lá próximo também. Então eles se conheceram nos bailes, que tinha na época, todo mundo com uma casa na roça e fazia os bailes. Meu pai conheceu minha mãe lá, num desses bailes, na comunidade, por lá mesmo. Então tem uma coisa que é muito interessante, que meu pai toca violão, ele gosta muito de violão, viola. Eu estou vendo que você também toca, tem um violão aí. Então a gente gosta muito de música. E meu pai fez uma serenata para minha mãe lá na roça, ele cantou uma música para ela, chamou os amigos e foram cantar. E cantou a música, não me recordo bem, se chama “Desde que te vi”, eu acredito que é esse nome. Aí a música fala assim, “desde que te vi, que te quero, desde que te vi, te adoro, desde que te vi, te venero, porque tu és meu tesouro”. É uma outra coisa viva dessa experiência dos dois que ficou em nós, dessa serenata, ele fazendo. Eu acho que as vezes acabou conquistando ela com a serenata, com a música, muito bom!
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P/1 - Me conta mais um pouquinho dessa história? Eles se conheceram, aí ele fez a serenata, e eles foram namorar e tal, é isso?
R - Aí eles namoraram, meu pai trabalhava também lá na roça, como eu disse. Eles se conheceram, namoraram, acho que foi pouco tempo, não foi muito tempo, acho que foi um ano e pouco, dois anos no máximo, e já se casaram. Na época até moraram na roça mesmo, meu pai começou a partir de então, tomar conta de uma outra fazenda, lá próximo. Depois disso, ele foi trabalhar na Olaria, na fazenda do meu avô, nas terras do meu avô. Ele montou uma Olaria lá, onde eu nasci nessa Olaria, primeiro tem um irmão que é mais velho que eu, sete anos e depois do meu irmão sou eu. E logo após, eu era bem novo também, onde ele vendeu a Olaria e veio para Cidade.
8:24
P/1 - O seu pai e sua mãe estão vivos?
R – Estão! Estão vivos!
8:35
P/1 – E ele canta para ela essa música ainda? Você ouviu ele cantar quando criança?
R – Sim! Eles ainda cantam. A gente canta juntos, nos cantamos aqui, tocamos violão, viola e a gente sempre está cantando. E essa música, toda vez que a gente se reúne, alguma coisa, “vamos cantar”! “Vamos”! A gente canta também, muito bom! Trazer sempre viva essa esperança, essa magia de quando a gente reencontra, eu acho que a música tem muito disso né. De relembrar.
9:14
P/1 – Conta para mim o que é uma Olaria? Como era o trabalho do seu pai?
R – Uma olaria, é onde faz tijolo. Só que os tijolos antigamente, era tudo feio manual. Então tinha uma pipa, que a gente fala pipa, não e de soltar pipa, é de amassar o barro. Então ela era tocada por um cavalo, um cavalo que tinha um cambão, uma madeira grande, o cavalo girava e ia amassando o barro. E depois os tijolos todos feitos manuais. Depois que fazia o tijolo levava ele para um forno e nesse forno onde ficava, fugiu a palavra agora. Mas dava a temperatura ali para o Tijolo. Então é um trabalho bem manual, bem braçal mesmo.
10:27
P/1 - Então quando você nasceu, era o seu pai e sua mãe e seu irmão mais velho já, é isso?
R – Isso, meu irmão chama Denilson.
10:42 - E o seu pai e sua mãe te contaram como é que foi o seu nascimento?
R - Sim! A gente morava na roça, ainda, lá na Olaria. E foi numa fase da vida bem difícil, até quando eu nasci, foi quando a Olaria não estava dando muito dinheiro, estava dando mais prejuízo. Então assim, não foi uma coisa muito, digamos que não foi muito planejado. Mas aconteceu, e tudo foi muito bom! Na época não tinha um berço, não tinha condições de comprar um berço para mim. Então eu dormia em uma bacia, uma bacia grande de alumínio, que tem na casa da minha mãe até hoje. Onde minha mãe forrava e eu dormia do lado dela nessa bacia, assim, é muito legal ainda. Não é uma coisa de dá pena ou dó, nem nada disso, mas é coisa de se orgulhar. Que às vezes não é nos grandes feitos, não é no dinheiro, não é no ter, que a gente encontra a verdadeira felicidade. Já tá no ser. É no carinho, no amor é muito bom. Eu lembro muito bem até da bacia que está lá na casa da minha mãe até hoje.
12:08
P/1 – Você nasceu em hospital ou foi lá?
R – Não, foi no hospital, foi aqui em Passos. Uma história interessante de nascimento, em relação aos meus avós. O meu avô que fez o parto de todos os filhos da minha vó. Então meu avô, eu acredito, se fosse hoje, seria um médico. Chamavam de raizeiros, ele fazia muito xaropes, conhecia muitas plantas e tudo mais. Todo mundo da região, procurava ele, para ele passar o remédio, como se fosse um farmacêutico também. Mas isso veio passado de geração em geração.
12:58
P/1 - Você quando nasceu morou um tempo nos arredores de Passos, é isso? Você já foi para a cidade?
R - Não, assim que eu nasci a gente ainda morava na roça, depois que a gente, eu era bem pequeno nós viemos Passos. De Passos a gente foi morar na Usina, um usina açucareira, que tem aqui em Passos, meu pai estava trabalhando lá, veio trabalhar, e a gente foi morar lá. Nós ficamos lá, acho que até os meus três anos, depois que a gente voltou para Passos.
13:35
P/1 - As suas primeiras lembranças então são de onde e são quais?
R - Eu acho que a minha lembrança mais antiga, é lá da Usina Rio Grande. Essa Usina açucareira que a gente morou. E tem um fato muito interessante, uma coisa que ficou muito marcada dessa época, e que lá, a Vila que a gente morava, lá na usina, chamava Vila dos Macacos. Então tinha muitas árvores atrás das casas, atrás das vilas, muitas árvores, onde a gente ia brincar lá, nessas árvores, no parque que tinha. E tinha muitos macacos, e lá tinha, a gente chama de grota, um barranco e tinha um cipó da árvore, onde a gente pendurava e atravessava de uma ponta do barranco até a outra, pendurado nesse cipó. E um certo dia, estava meu irmão, Denilson e mais dois primos, mais três primos, a Rosinei, o Magela e a Creusa. E a gente estava lá brincando e eu tinha atravessado, ficava meu irmão de um lado e a minha prima do outro, segurava no cipó, eles me empurraram. Chegava de lá o outro pegava, porque eu era o menor na turma, pequenininho, tinha uns 3 anos, se tivesse. Bom, aí eu travessei para o lado de lá, da grota, do barranco. Aí ouvimos um berro muito grande do lado de lá, como se fosse um macaco gritando, alguma coisa do tipo. Todo mundo saiu correndo e me deixou, os três saíram correndo e me deixaram. Me deixaram do lado de lá. Aí depois que meu irmão voltou para mim pegar para ir embora. Então assim, foi um susto, uma coisa totalmente inusitada. Ficou gravado isso, eu acho que é um dos fatos mais antigos que eu lembro. Foi muito bom, era muito gostoso.
15:52
P/1 - Vocês ficaram quantos anos morando nessa usina?
R - Eu acho que deve ter sido uns 2 anos, por aí, em média de 2 anos.
16:10
P/1 – Entre esses anos você tinha de 3 a 5 anos, é isso?
R – É, de 3 a 4 anos quando a gente voltou para cidade.
16:21
P/1 – Você se lembra de mais alguma coisa dessa Usina? Como que era a casa de vocês?
R - Então, a gente morava numa vila, essa vila que eles chamavam de Vila dos Macacos. Então eu lembro também da casa, que a casa era no alto, e tinha um gramado na frente, de todas as casas, eram todas iguais, enfileiradas. Um gramado na frente da casa, onde a gente brincava, escorregava nessa grama. A gente sempre pegava um papelão, colocava e escorregava nessa grande, era muito bom. E os brinquedos que a gente tinha, na época também, era tudo feito em casa, meu pai que fazia a grande maioria dos brinquedos, e tudo feito de madeira. Fazia os curralzinhos, fazia os boizinhos, as coisas tudo como se fosse uma fazenda, sabe. A gente tinha montado lá, muito bom!
17:29
P/1 – Aí vocês foram para Passos para que, seu pai foi trabalhar lá?
R – Sim, ai meu pai na época saiu da Usina e veio trabalhar na coca-cola, como motorista. Ele já era motorista na Usina, veio como motorista agora na coca-cola.
P/1 – E como é que foi para você, ter mudado para a cidade? Como que era Passos nessa época? Vocês foram morar aonde?
R – Nos viemos morar no bairro Nossa Senhora das Graças, na rua Andorinhas, e foi muito bom, porque também tinha amigos, uma coisa nova, diferente. E depois logo já fui para a escola, mas foi muito bom essa época de infância, ali no bairro Nossa Senhora das Graças. E fui para a escola, estudava na escola Deus e Universo, minha mãe me levava e buscava todos os dias. E nosso brinquedo preferido, meu brinquedo preferido aqui na Nossa Senhora das Graças, era um carrinho de rolimã, a gente chamava de patinete. A gente sentava e descia a rua, várias crianças, cada um com um carrinho que descia. E meu pai pegou, tinha um amigo dele que trabalhava na coca-cola, ele pegou pintou o carrinho de vermelho, e o amigo dele escreveu, ele era pintor, pintor da coca, escreveu coca-cola no meu carrinho. Então ficou um dos mais bonitos da rua, eu tinha um orgulho imenso desse carrinho pintado, foi muito bom.
19:16
P/1 - E me conta um pouco mais como é que era sua casa nessa época, tinha uma rotina que vocês tinham em conjunto? Como é que era o seu pai a sua mãe dentro de casa, como era o humor deles? Como era essa relação?
R – Era muito tranquila, muito boa, graças a Deus! Assim, meu pai saia muito cedo todos os dias para o trabalho, minha mãe ficava em casa, costurava também, fazia as roupas e tudo ali. Eu lembro que minha mãe até me ensinava a ler e escrever. Ela ficava na máquina costurando, e eu do lado, e às vezes me ensinando, semialfabetizando. Meu irmão nessa época trabalhava, ele vendia picolé, já desde pequeno. Ele saia para vender picolé e de vez em quando ele passava lá por causa também. Aí dava um picolé, ou a gente comprava alguma coisa assim. No carrinho, naqueles carrinhos, vendendo picolé. Um fato interessante que eu lembro também, desse a época, teve um dia que eu estava, a nossa casa, a janela dela, do quarto da minha mãe, era de frente para rua. Um dia eu estava lá, minha mãe costurando, e eu batendo a janela, abria e batia, abria e batia. Ela virou e falou assim: você vai quebrar esse vidro, não faz isso, seu pai vai ficar bravo. Tudo bem! Foi a conta dela falar, eu bati, quebrou. Aí eu esquentava todos os dias, dava mais ou menos a hora do meu pai chegar, eu sentava lá na porta, para esperar ele chegar na rua lá em cima, para mim encontrar com ele, eu vou topar com meu pai. Eu chegava, corria com ele, ele me abraçava, e a gente descia junto, me pegava no colo, e a gente descia. Aí esse dia eu fiquei ansioso, bem antes dele chegar, eu já sentei lá na porta, e fiquei lá esperando ele, lá na porta. A hora que eu apontou lá em cima na rua, eu já fui correndo, ceguei lá, “papai, papai, eu fiz um risco”. “Você fez um risco filho”? “Fiz”! “Você fez um risco onde, na parede”? “Não papai”! “Você fez um risco onde filho, onde você riscou, foi o chão”? “Não papai”! “Mas onde você fez esse risco”? E ele veio perguntando, e eu não, não. Aí na hora que chegou lá na porta, na frente da janela, eu mostrei, “olha lá papai, eu fiz um risco na janela”. Tinha trincado o vidro. Aí ele começou foi a rir, da minha forma, do jeito que eu falei, fiz um risco, muito bom!
22:13
P/1 - E foi nessa época que vocês começaram a ir para a escola, foi isso?
R – Sim, foi depois disso, a gente já começou, com uns 5 anos eu comecei ir para a escola.
22:29
P/1 - E qual que era a escola, como é que era? Você se lembra?
R – Lembro, escola Deus Universo, chama Deus Universo e Virtude, eu comecei a frequentar. Minha professora no pré, como é que era o nome dela, a professora do pré eu esqueci o nome, é, eu esqueci, acho que era Simone, mas não era esse não. Mas eu lembro, lembro muito bem, foi muito bom. A gente atravessava, sempre vinha, aquela turma de crianças, tudo a pé, vindo para a escola, muito bom!
23:14
P/1 - E você ficou quanto tempo nessa escola?
R - Nessa escola eu fiquei até a 3ª série do primário. Então foi 5, 6, 7, 8, 5 anos. O pré com 5, 6, primeira série, segunda e terceira, cinco anos os ficamos.
23:39
P/1 – E como era você na escola? E como é que era a escola nessa época? Porque era um pouco diferente de hoje, né?
R - A gente tinha um uniforme, do prézinho, era um uniforme todo de listras, branco vermelho, listradinho. E tinha meu nome escrito aqui, Edér Flávio. Aí um dia eu cheguei na escola, nos primeiros dias, fui no banheiro, quando ver um menino chegou lá, “oi Éder Flávio, tudo bem”? “Eu não te conheço, como é que você sabe meu nome”? Aí ele até brincou, “eu sei, seu sei seu nome, eu descobri”. “Mas como que você descobriu meu nome”? Eu fiquei indignada dele saber o meu nome. Ele: eu conhecia. E que ele tinha lido, é óbvio! Mas foi muito foi muito engraçado esse dia, me recordo bem disso também. Mas era muito bom, eram muitas brincadeiras, a gente brincava muito. Tinha momento cívico, todos os dias aqui na escola, a gente fazia as filas, sempre no pátio, tocava o hino nacional, tocava o hino da bandeira, depois a gente subia para escola, para sala de aula. Aí a professora na frente, segurando a mão do primeiro e todos os outros enfileirados, bonitinhos, indo para a sala de aula. Era muito bom, é uma lembrança muito boa, assim, de organização. E eu acho que às vezes falta isso hoje, sabe, já trazendo para hoje, eu acho que às vezes falta um pouco de organização, de civismo, nas nossas escolas. Quando era o dia, cada turma que hasteava a bandeira. Quando era o dia da nossa turma, a gente ficava eufórico para poder saber quem que ia ser escolhido para hastear a bandeira, quem não tinha feito nenhuma bagunça, arte, alguma coisa, dentro da sala, muito bom.
25:50
P/1 – Tem alguma passagem que você se lembra, dessa escola, que vem na tua cabeça, alguma uma história?
R – São muitas lembranças, assim, de criança. Tem essa parte da Bandeira, quando a gente hasteava, desenvolvimento cívico, que é uma coisa que vem, eu lembro muito. E tem uma vez que eu quebrei o braço na escola, quebrei o braço também. Eu estava para subir, para nossa sala, e tinha uma rampa, e o corrimão na rampa. Eu estava sentado nesse corrimão, na hora do intervalo, do recreio, sentado no corrimão e depois veio um dos colegas de sala, ele puxou meu pé por baixo, eu girei, cai, bati e quebrei o braço. Aí fui correndo para o hospital, com o braço quebrado, o diretor me levou, depois minha mãe chegou lá também, para ficar comigo. Eu lembro bem disso também.
27:00
P/1 - Em casa vocês assistiam TV, ouviam rádio, ouviam música, como é que era?
R – Sim, a gente ouvia rádio, tinha um rádio, uma vitrola de vinil, tocava rádio e fita, com o aparelho, e tinha uma TV. Primeiro a gente tinha uma TV preto e branco, eu lembro, depois o meu pai comprou uma TV à cores. Quando comprou essa TV à cores, era a sensação. Era uma TV Semp Toshiba de tubo, grandona, eu tinha ela lá em casa até pouco tempo, guardada. Mas a gente assistia TV, jogava bola na rua, tinha um campinho lá próximo, andava de patinete, sempre, é isso. Tinha um clube também, que a gente ia de vez em quando, o clube que era Praça de Esportes. A gente ia para Praça de Esportes, para poder nadar, correr e brincar também.
28:10
P/1 – E o que vocês assistiam nessa época? Os programas você se lembra?
R- Xuxa! Era a Xuxa. Eu falo que a babá nossa, da nossa fase, da nossa época, era a Xuxa. Era de manhã a Xuxa e à tarde indo para a escola.
28:35
P/1 - Que horas que era o programa, você se lembra?
R - O programa era de manhã, começava, não sei se 8 horas da manhã, 8:30, alguma coisa assim. Programa sempre de manhã, a gente assistia o programa da Xuxa de manhã e a tarde ia para escola.
28:54
P/1 – E era babá por quê?
R – Era babá porque ficava de frente para a televisão, as crianças ficavam sempre de frente para a televisão. Hoje a babá das crianças às vezes é o celular, smartphone.
29:11
P/1 – Você se lembrar de ver mais alguma coisa na TV, nessa época? Vocês assistiam jogos ou corrida?
R – Sim! Assistia corrida, o Ayrton Senna na época estava no auge e jogos, muito também. Assistia os jogos e ouvia pelo rádio. Meu pai é Atleticano, ele torce para o galo, então sempre acompanhando, os jogos Quando não era transmitido pela TV, ouvia pelo rádio.
29:45
P/1 - Você tinha algum time, já nessa época?
R - Também gostava do Atlético, em relação ao meu pai. Mas eu nunca fui muito de futebol, sabe, eu nunca gostei muito de futebol, assim, de ser torcedor fanático. Já meu irmão, é louco por futebol, igual o meu pai. Mas eu já não despertei, por esse lado de futebol muito não.
30:10
P/1 - Me diz uma coisa, o seu irmão então tem 7 anos a mais. Ele foi para escola também nesse período?
R – Foi, ele ainda foi para escola nesse período. Na época ele estudava no Tiradentes, que ele já era mais velho que eu, já estava no ginásio. E ia para escola, mas a gente não ia junto. Que eu ia para uma escola e ele ia para outro. E depois disso também, eu ainda morando lá na Nossa Senhora das Garças, eu tinha 8 anos, 9, de 8 para 9 anos. Eu comecei vender salgado. Meu pai trabalhava na coca-cola e eu pegava os salgados, de uma vizinha nossa, Hortência, que morava próximo a nossa casa. Primeiro foi a Cida, depois a Hortência. E levava lá para o depósito que meu pai trabalha, da coca-cola. E vendia a hora que o pessoal chegava de viagem, chegava tudo com fome, eu vendia, depois vinha embora com o meu pai. Então comecei a trabalhar cedo também, desde os 8 anos. E a minha primeira aquisição, com o meu dinheiro, eu comprei um cavaquinho. Eu juntei o dinheiro, trabalhando, juntando o dinheiro para comprar um cavaquinho, tenho esse cavaquinho guardado ainda. Eu vendia salgado, depois fui crescendo mais um pouquinho, depois dos 9, 10 anos, por aí, eu comecei a vender salgado, vendia picolé, vendia doce. E teve uma época que teve a duplicação da rodovia aqui, que era próxima da minha casa. Então tinha aquelas filas de carro, os carros paravam, então eu ia vender salgados lá. Eu chegava e perguntava, “o Lucas você quer comprar salgado”? “Não obrigado”. “Então compra picolé”! “Não”! “Tudo bem, e um docinho”? Eu vendia de alegre, tinha que comprar alguma coisa, alguma coisa eu estava vendendo. Já era empreendedor, desde pequeno.
32:44
P/1 - E como é que você carregava tudo isso?
R – Então, o picolé era num carrinho, tinha um carrinho de picolé, a gente empurrava o carrinho. O salgado era numa caixa de isopor, uma caixa de isopor que eu colocava, passava uma alça no pescoço e deixava ali em cima do carrinho, empurrava. E os doces eram pequeninhos, era tranquilo, ficava em cima da caixa.
33:15
P/1 – E como é que você falava para os clientes na rua?
R - A grande maioria já eram pessoas que eu já ia em estabelecimentos comerciais. E quando não era, quando tinha que abordar alguém, “você que comprar um picolé, compra um salgado, vai um docinho”, era assim.
33:45
P/1 - Então desde criança você já tinha que lidar com dinheiro, com conta, com a responsabilidade, como é que era isso?
R – Já, desde criança! Prazeroso, era muito bom, o sentido de saber quanto custa. Porque minha família era humilde, não era uma família que tinha dinheiro, posses, nada. Então a gente sempre trabalhava para contribuir. Eu não ajudava lá em casa, nessa época, mas era para comprar as coisas que eu queria também. Então, por exemplo, esse cavaquinho, queria muito esse cavaquinho. Então vou trabalhar, juntar dinheiro, e compro o cavaquinho. Comprei! Então é muito bom, é gratificante, é prazeroso. E saber que a sua conquista foi feita através do seu próprio trabalho, muito bom.
34:43
P/1 – As outras crianças, colegas de escola, você sabia se alguém também trabalhava?
R – Alguns sim! Alguns trabalhavam, ajudavam o pai em oficinas mecânicas, que tinha alguns que eram mecânicos, outros não. Então era muito diversificado. Mas a grande maioria fazia alguma coisa, trabalhava, vendia uma verdura na rua, às vezes tinha uma horta de verdura na própria casa, vendia. Mas era geralmente tudo assim.
35:27
P/1 - E você vendia essas coisas em que horário geralmente?
R - Eu estudava à tarde e vendia de manhã, depois mudou o horário da aula, passei para de manhã, aí eu comecei a vender à tarde. Então nessa época quando eu passei vender à tarde, que eu comecei com picolé também, porque estava mais calor. Aí eu vi uma oportunidade de negócio, “opá, tá calor, então dá para mim fazer os dois”.
35:55
P/1 – Me conta uma coisa, por que você escolheu um cavaquinho? Já tinha violão na sua casa?
R – Já tinha violão e tinha viola. Eu também não aprendi a tocar cavaquinho, então acho que foi por conta do tamanho, sabe, foi bem por conta do tamanho, dele ser menor, para dar para mim tocar. Mas não aprendi a tocar, cavaquinho não. Violão eu toco mais ou menos, mas o cavaquinho não consegui. Porque meu pai já tinha viola, já tinha violão. Teve uma vez que ele me deu uma gaita, mas eu também não aprendi a tocar a gaita. A gaita ele me deu de Natal, uma gaita bonita, mas eu também não dei conta de aprender tocar, não consegui.
36:44
P/1 - Seu pai tocava violão, cantava? O que ele tocava? Que horas ele fazia isso?
R – Tocava! Mas de final de semana. Mas nos finais de semana, as vezes ia para casa dos amigos também, tinha o Vanderlei que morava lá próximo, eles cantavam juntos. Sempre quando tinha as festas de confraternização, lá na coca-cola, eles cantavam e tocavam também, muito bom. Nas festas de família, tocava, cantava.
37:47
P/1 – Roda de viola, então?
R – Isso! Mas uma coisa bem amadora, vamos dizer assim, não tinha nada profissional mesmo, bem para divertir mesmo.
38:06
P/1 - Nessa época, você estava passando para o ginásio. Você já pensava em alguma profissão nessa época?
R – Sim, tinha! Primeiro quando eu era criança, queria ser motorista, igual meu pai. Meu pai era motorista eu queria ser também. Aí depois quando eu entrei já para o ginásio, ensino médio, aí eu queria ser piloto. Eu gosto muito de altura, e sou muito aventureiro, aí eu queria ser piloto. Então comecei a estudar já para fazer concurso, alguma coisa da prova, da AFA, Academia da Força Aérea, alguma coisa do tipo.
39:09
P/1 - Como que é a cidade de Passos? Vocês iam na igreja? Vocês são católicos?
R - Sim, somos católicos. E a cidade é uma cidade bem tranquila, calma. Hoje a cidade tem 120 mil habitantes. Na época tinha menos. Mas é uma cidade boa, bem calma de viver, muito tranquila. Vivia na época mais da parte do agronegócio e indústrias de confecções, aqui em Passos. A gente morava perto da igreja, igrejinha da Nossa Senhora das Graças, onde eu fui criado ali, dentro da igreja, meus pais muito participantes, sempre. Então a gente tinha um grupo de jovens, primeiro de adolescentes, chamava JOCAQ, depois do JOCAQ a gente cantava na igreja, participava. E depois JOCAQ eu passei para o JUCEM, Jovens Unidos a Cristo e Maria. JUCEM já era mais para a parte de 14, 15 anos, para frente, e participavam muito. A gente teve as missões populares, na época que vinha os padre redentoristas, fazia missões, então sempre estava na igreja, muito bom, nessa época Nossa Senhora das Graças. Depois da Nossa Senhora das Graças, nós mudamos, lá para o Santa Luzia, meu pai fez outra casa lá no Santa Luzia, nós mudamos para lá. E depois de lá, ele vendeu essa casa também, e construir outra no Vila Rica, nos mudamos para o Vila Rica. Aí nessa época o meu pai já saiu da coca-cola e começou a trabalhar de construtos, de pedreiro. Então ele que fazia as casas, vendia, e começou a fazer casa para as outras pessoas também, trabalhava de pedreiro. Aí meu irmão foi trabalhar com meu pai e depois eu também. Quando ele vendeu essa casa do Vila Rica, e foi fazer uma que ele mora hoje, lá no Eldorado, até hoje, eu tinha 11 anos. Então eu também trabalhei nessa casa, também ajudei na construção dela. Então a partir de 11 anos eu já comecei a trabalhar com meu pai, como pedreiro, na época o servente, servente de pedreiro. E com 15 anos eu já trabalhava de pedreiro, junto com ele.
42:07
P/1 – Me conta um pouco então, o que você precisa para ser um bom pedreiro, um bom servente de pedreiro?
R – Para ser um bom pedreiro a gente tem que ter uma visão muito boa do que vai fazer, da casa e de tudo, da parte do reboco, tijolar, fazer as paredes e tudo. E tem que ser muito caprichoso, tem que ter muito capricho no que vai fazer, principalmente com a parte de segurança, limpeza da obra, e tudo mais. Porque senão fica igual meu pai sempre fala, fica um serviço muito porco, muito sujo, não fica bonito de se ver, não fica bom. E além de tudo, tem que ter habilidade, porque senão não consegue, por exemplo, para rebocar um teto, uma das coisas mais difíceis que tem, porque você ficar trabalhando o dia inteiro aqui assim, olhando para cima, ai cai massa no olho e daí por diante, tem que ter habilidade também, tem que saber fazer. Não é um serviço só braçal, tem que ter conhecimento, habilidade, fazer um encanamento. A gente pegava casa, digamos do chão, e entregava ela pronta, com a chave na porta. Então tem que ter bastante habilidade para poder trabalhar. E tem um fato interessante, teve uma vez meu pai pegou uma casa para rebocar, e eu que fui para rebocar essa casa, com 15 anos. E a senhora a hora que chegou lá, e viu que era eu que estava fazendo, no primeiro dia, ela falou, “não, esse menino, ele que vai rebocar a minha casa”? Aí meu pai falou: é! “Não, mas ele não, eu contratei foi o senhor, não foi ele, ele é uma criança ainda, é um menino”. “Vamos fazer o seguinte, a senhora vai embora, vai para casa, não fica aqui não, a senhora vai para casa, e à tarde, a hora que der 5 horas, a senhora volta, a senhora vai ver o serviço dele, se a senhora gostar do serviço, ele continua, se não gostar eu troco ele, pode ser”? Aí ela, “então tá”, foi embora. Chegou lá, eu falei, vou pegar no beiral da casa, do lado de fora, a gente já estava preparando para fazer. Que uma das partes mais difícil, tem que fazer aquela quininha, a gente fala que a quina fica viva, que aparece bem. Aí eu peguei para fazer, estava rebocando, reboquei o beiral tudo, comecei a descer a parede no reboco. Na hora que ela chegou à tarde, ela falou: eu não quero que o Senhor fica, vai ficar só ele. Foi engraçado, fiz a casa inteira, foi muito bom.
45:12
P/1 - Você trabalhava muito, já desde cedo né, pelo o que você está me contando. E o tempo para brincar, como é que foi ao longo dessa juventude, dessa infância? Que horas você fazia outras atividades?
R – Então, o que a gente fazia. Eu estudava de manhã, nessa época, quando eu passei para o ginásio, para o ensino médio, na quinta série. Ensino Médio é primeiro colegial né? A quinta série eu fui para o Colégio Estadual, estudava de manhã e à tarde já vinha direto da escola, já ficava para ajudar na construção dessa casa do meu pai, agora no Eldorado, da nossa casa. E já ficava direto lá, trabalhava até por volta de 5, 5 e meia, de lá já saia e ia jogar bola. Já saia de lá direto, jogava bola, tinha um campinho lá próximo de casa também, já cantava os amigos tudo que morava ali próximo já no Eldorado, e a gente ia jogar bola. E depois ia para casa, fazia as lições, fazia as atividades e tudo. Mas era muito tranquilo, final de semana às vezes ia para o clube, saia, ia para a igreja, participava do JUCEM, tudo mais, do grupo de jovens. Mas era uma vida muito ativa, desde cedo, muito ativa. E acordava de manhã, lembrei agora de uma fase, algo interessante, ia na venda, na padaria, lá próximo, comprar bengala. Bengala um pão grande, grandão, deste tamanho. A gente comprava duas bengalas. Saia de manhã, comprava a Bengala, voltava, tomava café da manhã, para ir para escola. E da escola para casa, olha só, próximo da minha escola, tinha uma cooperativa de leite. Aí eu pegava carona no leiteiro, que dava a hora de ele sair, e tinha um leiteiro que passava, que saía de próximo à escola e passava na porta da minha casa. Eu pegava carona no leite para mim vir embora, porque era longe. Era mais ou menos uns 4 km, e vinha a pé. Pegava carona com o leiteiro todo dia, o rapaz já ficava até me esperando.
47:55
P/1 – Eder, qual foi a casa mais caprichosa, mais bonita, que seu pai, você e seu irmão fizeram?
R – Olha, nós fizemos uma no Muarama, que é muito bonita, uma casa muito grande, muito bonita. Nós fizemos um predinho também, do Vilela, rebocamos ele, foi muito tempo de serviço que nós fizemos. Depois nós trabalhamos na Tech Center, fizemos a loja da Tech Center, uma loja muito bonita também. São várias, são muitas construções que nós passamos nesse tempo.
48:39
P/1 – É interessante que vocês também construíram a própria casa de vocês?
R – Sim, a nossa própria casa. Hoje a minha casa, meu pai que construiu, meu pai, meu irmão que ajudou também, trabalhou aqui. Então é muito gratificante. Na minha casa, ai eu já estava acidentado, o piso nos dois quartos, que a gente fez, que eu fiz por último, fui eu que assentei. Então fruto tudo desse trabalho, que já vinha, dessa experiência que já tinha.
49:24
P/1 - As pessoas normalmente, ou elas compram, ou elas alugam a casa, como é que é você pensar não, eu quero a casa assim, como é que é a relação com essa construção, é diferente, é igual?
R - É diferente, você saber que você está construindo, que você está fazendo a sua própria casa, é diferente. O jeito que você vai fazer, você já pega as experiências que você tem das outras construções, das outras casas, os modelos, você já tem tudo, já fica tudo, digamos que mental, essa experiência que já vem, é muito gratificante, muito bom. Você morar na casa que você mesmo construiu, muito bom.
50:14
P/1 – Você passou todo o ensino médio trabalhando com os seu pai e querendo estudar atrás para aeronáutica, é isso?
R – Isso, eu queria ser piloto. Aí eu comecei a fazer cursinho, trabalhava durante o dia todo, já nessa época, a partir do primeiro colegial, quando entrou no ensino médio, eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. E já começava a estudar também, preparar para poder fazer a prova da AFA, Academia da Força Aérea, que tem em Pirassununga, no interior de São Paulo. Então eu fiz a prova lá 3 anos seguidos. E vi que tinha um grupo de estudos, nós fizemos um grupo de estudo aqui em Passos, de pessoas que também queriam fazer e todos se ajudavam, para poder fazer essa prova, foi muito bom. Fiz a prova lá 3 anos. Infelizmente não consegui entrar, teve uma vez que fiquei em terceiro excedente, mas uma experiência muito boa.
51:39
P/1 - Dava tempo de namorar, como é que era?
R - Para namorar sempre tem né. Sempre a gente faz o tempo. Às vezes arrumava namorada na escola, essas as coisas, é muito bom, sempre tem. A gente tem uma energia, uma vitalidade que não tem condições. Queria ter hoje também, a mesma energia que tinha nessa época 15, 16 anos, fantástico, tem que aproveitar as oportunidades e tudo.
52:21
P/1 – Eder, como é que fazia para namorar nessa época, aonde que vocês iam, que passeios vocês davam, como é que ia conversar com as meninas?
R - Na escola, às vezes arrumava na própria escola. Às vezes a gente ia na missa, na igreja da matriz, e da igreja da matriz a gente ia para praça, e já ficava ali na praça, a turma toda, ia cidade inteira para lá. Então a gente participava, e a nossas vidas, digamos noturna, era quase que ali na praça. E tinha também os shows que a gente ia, ia nas exposições. Tinha exposição que a gente ia, tinha casa de show que a gente ia muito, gostava muito de dançar, música sertaneja, vinha Gian e Giovani. Esses dias até lembrei de um fato muito legal, aqui tinha showmício, era um comício, que tinha um show junto. Depois isso foi proibido. E teve uma vez que teve um deputado federal aqui, que trouxe Chitãozinho e Xororó. Então a gente estava na Avenida, que a gente fala Avenida Arouca, que é Avenida dos bancos, uma Avenida mais larga, como se fosse um Sambódromo da vida. Inclusive as escolas de samba passavam por ali também, desfilavam lá. E nesse show a gente foi para lá, e quando vê eles falaram assim, agora eu quero uma pessoa para poder vir dançar aqui em cima do palco. Aí estava eu com meus dois amigos, a gente tinha saído da escola, descido, aí eu subi no ombro deles, um de cada lado, e subi no palco, para poder dançar. São experiências muito boas, muito divertido.
54:18
P/1 - Isso você está falando nos anos 90?
R – Já era mais de 90. Final dos anos 90 para inicio dos ano 2000.
54:51
P/1 - Estou te perguntando porque essa época foi o auge dessas duplas.
R – Isso! Gena e Geovane, a gente ouvia muito Chitãozinho e Xororó, foi nessa época. Começou ali nos anos 90, Leandro e Leonardo, gostava muito também, de dançar, ir nos shows e tudo, muito bom.
55:25
P/1 – Eder, no colegial, no ensino médio, você gostava de alguma matéria mais do que é outras?
R – Exatas! Gostava muito de exatas. A parte física, química, matemática, gostava bastante.
55:45
P/1 - E depois da das provas da AFA, o que você foi fazer?
R – Então, ai foi uma mudança muito grande na vida. Aí depois que eu fiz a ultima prova, eu estava com 18, para 19 anos. Depois quando eu tinha 19 anos, eu acidentei, eu sofri um acidente de moto, eu já tinha moto. Eu estava vindo de uma cidade vizinha de Passos para cá, eu sofri um acidente. Sai numa curva, bati no barranco, quebrei a coluna. E nisso eu fiquei paraplégico, com 19 anos. Mas isso tem história também, agora tem história para contar dessa nova fase. Lucas, olha, para você ver, com uma semana antes de eu acidentar, foi aniversário da minha irmã. Estava com um amigo meu em casa e ele perguntou, fui levar ele embora para casa, de moto, ele me perguntou. “Eder, qual a pior coisa que poderia acontecer com você”? Eu falei assim: não sei, que pergunta. Pior coisa que podia acontecer, sei lá, eu acho que eu ficar numa cadeira de rodas. Eu acho que eu ficar numa cadeira de rodas, deve ser muito ruim, porque eu sou tão ativo, eu trabalho, eu estudo, eu saio, eu vou na igreja, eu faço tanta coisa, e eu acho que eu ficar numa cadeira de rodas, sei lá, eu acho que eu prefiro morrer, deve ser ruim demais. Uma semana, um sábado antes. Um sábado depois estava eu lá, acidentado. Eu fui num show, lá em Fortaleza de Minas, o Teodoro e Sampaio, era aniversário da cidade tinha um show lá, nós fomos, e estava eu e o meu primo. Na volta que eu acidentei. E o pessoal todo que passava de carro, às vezes gritava, ele morreu, ele morreu, ele morreu. Eu gritava, eu estou vivo, eu estou vivo, eu estou vivo. E até chegar a ambulância, do corpo de bombeiro, para me socorrer, para me trazer para Passos, para vim para o hospital. Acho que demorou umas 2 horas, mas essa ânsia ali estar vivo. E olha só, uma semana antes, aconteceu esse fato, de eu falar que às vezes eu preferia está morto. E uma semana depois estou eu lá acidentado, já não sentindo as pernas. Eu procurava as pernas no meio do mato e não achava, que eu cai no mato, do lado, não achava, já estava a noite. Como se tivesse decepado. Então às vezes eu acho que é Deus preparando a gente, para algo que a de vir, eu não acho, eu tenho certeza. Ha, Deus quis assim, não, as escolhas são nossas, as escolhas são nossas. E desse dia para cá, aí eu pensei, e agora, o que eu vou fazer, como será a minha vida daqui para a frente? Eu fiquei 40 dias internado, entre UTI e quarto, até fazer cirurgia. Sai de Passos, fui fazer cirurgia em Belo Horizonte, na capital, que tinha um médico lá que era referência, em cirurgia da coluna, medular, tudo mais, Dr. Enguer. Então foi até interessante esse fato também, porque eu saí aqui de passos para ir para Santa Casa de Belo Horizonte, fazer essa cirurgia, com um dos médicos renomados, cirurgia de coluna Dr. Enguer, até o nome parece que já “puf”. Um dia, eu lá já na santa casa, quando vi chega um senhor, tranquilo, conversando comigo, eu alegre, eu o tempo todo fiquei assim, estava contente até, com esperança até de voltar a andar, de fazer a cirurgia, dar tudo certo. Eu não fiquei, graças a Deus, não me deu depressão, graças a Deus, momentos de tristeza sim, mas depressão não. Então esse senhor chegou e foi conversar, “a você é o Eder”? “Sou”! Nós conversamos uma meia hora, e de repente, na hora que ele já estava, eu tenho que ir embora, tá na minha hora. “Nossa, eu esqueci de perguntar o nome do senhor”. “O Eder, nem me apresentei, eu sou o Dr. Enguer.” Lucas, isso foi uma coisa tão boa, porque me tirou aquela coisa que pressionou, nossa, é um ser, não sei quem é, eu nem vou ver, uma pessoa muito acima de mim, não, não. Então me trouxe mais confiança, e mais credibilidade também. E no dia de cirurgia, ele pegou virou e falou assim: o Eder, nós vamos fazer a sua cirurgia, mas eu não sei como vai ser, eu não sei como está a tua coluna, tua medula e tudo mais. Então só depois pra mim poder te falar. Eu falei pra ele: Dr. o senhor vai consertar a minha coluna? Desse jeito, ele: vou! “Então faz, que o resto Deus está fazendo, que seja feita a vontade dele não a nossa”. Então graças a Deus a cirurgia foi muito boa, passou bem. Estou paraplégico, usando cadeira de roda, não voltei a andar. Mas confio em Deus, é ele que rege os nossos passos, a nossa vida, tudo mais. Não é por isso que eu não vou ser feliz, continuar sendo feliz da mesma maneira. Então a partir desse momento, aquele sonho de ser piloto, foi embora, passou, agora eu não tem condições de ser piloto mais. E o que eu vou fazer? Então aí eu vendi minha moto, assim que eu voltei para casa, vendi minha moto e comprei um computador. Agora eu vou fazer... Aí uma coisa que eu não tinha dito, eu tinha entrado na faculdade, eu estava fazendo matemática, assim que eu acidentei, eu tinha três meses de faculdade. E agora? Vou continuar matemática, o que eu vou fazer? Não, eu vou mexer com computador, e fui para a área que também é exatas, fui fazer sistema de informação. Voltei para o cursinho, me preparei, fiz vestibular de novo, para entrar na faculdade. E um fato interessante, isso nesse entremeio, quando eu fiquei, como eu já tinha dito, 40 dias internado, e fora de casa. Quando eu voltei para casa, já não voltou o mesmo Éder mais, já voltou um outro. E o impacto, às vezes para mim não foi tão grande, quando para os meus pais, não tinha visto aquilo ainda, aquele fato ainda. Então teve um dia que meu pai pegou e falou assim para o meu sobrinho, que estava em casa, e eu estava deitado na cama, se chama Lucas também, “o Lucas, pergunta para o seu tio se ele gostou do troféu que ele ganhou”. Eu olhei, procurei até troféu, aquele lapso, “a pai, que Troféu”? Ele falou assim: a cadeira de rodas, troféu de corredor. Eu gostava de correr de moto, mas no dia eu não estava correndo, mas tudo bem. Aí eu pensei, e agora, eu olhava para cadeira, pensava, chorei bastante esse dia. Minha mãe estava junto também. E não compreendi aquilo, eu não entendi o que ele queria falar. Aí eu rezei, e pedi a Deus para me mostrar, Divino Espírito Santo me mostrasse o que ele estava querendo dizer com aquilo. E compreendi depois. Lá em casa, quem que era o companheiro de serviço, de trabalho dele, eu. Tinha um projeto mais complicado, estava junto, ia rebocar, fazer um serviço na altura, era o Éder. Ia viajar, quem é que dirigia, era o Éder. Então ele colocou em mim, como se fosse um sucessor, a confiança, e sabia que ia vencer na vida, ia sair, que ia fazer alguma coisa. De repente estava o Éder numa cadeira de rodas, numa cama precisando de dar banho, fazer fisioterapia, levar para ir no banheiro, tudo eu precisava de ajuda, tudo. Usando um colete. Então aquela pessoa que às vezes ia ajudar, queria estar junto, ia ser parceiro, agora ia está precisando de ajuda, dependente. E ele não sabia, como me ajudar, como fazer, não sabia. Preferia milhões de vezes estar no meu lugar, do que eu estar no lugar dele. Mesmo sem falar nada eu percebi isso tudo. E hoje, eu como pai também, claro, eu não quero que aconteça nada com o meu filho, eu prefiro passar no lugar dele, no lugar da minha filha, pai tem isso. Então eu compreendi, e desse momento para cá eu falei assim, e agora, eu vou ser dependente, eu vou viver na cama, ou eu vou dar a volta por cima e vou fazer diferente, a escolha é minha. Eu escolhi vencer, eu escolhi mudar de vida, fazer o que fosse preciso e ser feliz independente das circunstâncias e situações, eu escolhi. E eu escolho, até hoje, a cada dia, ser feliz, lutar, ir a luta. Então eu fui fazer cursinho, voltei para faculdade, comprei o computador. No primeiro semestre da faculdade, fui para Contec, empresa aqui de Passos. Pessoal amigo nosso, que a gente trabalhava para eles de pedreiro, meu pai trabalha até hoje, como construtor para eles. E falei: quero um estágio, você me arruma um estágio? Falei. Beto, você me arruma um estágio? Quero fazer estágio aqui. Contec, empresa de automação comercial. Ele: pode ser! Pode ser! Me dá um tempo para eu me ajeitar aqui, estruturar para você, e eu arrumo para você, consigo um estágio. Ia para a faculdade de manhã, de lá eu já descia direto para Contec, para o trabalho, onde eu fiz o estágio lá por 8 meses, depois ele me contratou. Ele falou: estou precisando de uma pessoa aqui, e é você, você quer trabalhar aqui? “Ótimo! Me contratou. Aí eu fiquei mais dois meses trabalhando lá só meio período, depois no outro semestre eu passei para noite, trabalhava o dia todo e fazia faculdade à noite. Então foi a volta por cima, sabe, que eu dei, que eu saí. E antes do acidente eu saía de segunda, a segunda, depois do acidente eu passei a sair de domingo a domingo. Todo dia eu estava fora de casa, saindo, fazendo alguma coisa também. Bom, aí nisso, eu recebi um seguro do DPVAT, do acidente. Comprei um carro, comprei um Opala Comodoro 90, tem que ver que Opalão bonito, Lucas do céu, zerado, lindo. Sonho de todo jovem, opalão, pelo menos era. Bom, aí fui fazer um curso de Teologia, lá em São Paulo, na PUC em São Paulo, eram 15 dias de curso. No último dia roubaram meu carro, roubaram o carro, lá em São Paulo. Mas tudo tem um propósito, eu acredito que tudo tem uma razão de ser, algo para ser. Olha para você ver. Eu tinha passado no posto, o tanque estava na reserva, passei no posto para abastecer, eu tinha R$100,00 para encher o tanque, para mim voltar, naquela época enchia um tanque com R$100,00, hoje não enche mais não, pois é. Eu peguei com a chave na mão, para entregar para o frentista, falei assim, na volta eu abasteço e já vou embora. Que a gente já ia voltar, e já vamos embora. E não abasteci, e eles roubaram o carro. E foi os R$ 100,00 que eu tinha para voltar para casa, senão eu não tinha dinheiro nem para voltar. Aí depois a polícia me roubou também, porque eu fui para dar queixa, fazer o BO, e tudo mais. Aí chegou um pessoal lá da polícia lá, e falou: você quer que procura o seu carro? “Quero”! “Tem uma empresa aqui que procura, se quiser pagar para gente procurar teu carro, a gente procurar”. Aí nos pagamos para procurar o carro, que também não achou. Aí depois que eu fui pensar, mas não é obrigação dela procurar, porque eu tive que pagar para procurar. Mas depois que a ficha cara, mas tudo bem, é coisa que acontece. Mas foi uma mudança de vida muito grande.
1:11:08
P/1 – Com relação a isso, me conta como que foi então, essa de adaptação. Eu imagino que deve ter tido uma adaptação muito grande para locomoção. Como é que é o ponto de vista na questão de acessar os locais, a faculdade?
R - Então foi muito diferente. Eu tive que tirar carta de novo, tive que fazer exame de rua de novo, porque é exame num carro adaptado. Então foi recomeçar, a palavra é essa, recomeçar. Na faculdade, tinha dia que eu tinha aula no segundo andar, que não tinha elevador, era escada. Aí como que fazia. Os colegas de classe pegava minha cadeira e carregava, levava ela para cima, na própria faculdade. Então fiz toda a faculdade assim, sabe. E foi muito bom, eu acho que a dificuldade, ela tá não é... As vezes a gente que se limita, a gente que se limita, eu vejo muito isso. A limitação está mais em mim, do que nos outros, ou nas circunstâncias. Porque quando a gente quer a gente consegue, não existe limitação, quando a gente quer, quando a gente está determinado, a gente consegue, a gente faz a diferença. Nessa época já, eu conheci minha esposa, a gente já se conhecia, mas a gente começou a namorar depois que eu acidentei. Então, olha só, depois de acidentado, fui para a faculdade, fiz faculdade, casei. Comecei a namorar com a minha esposa, casei, tenho filhos, consegui entrar em Furnas. Uma outra história muito legal também, a minha entrada em Furnas, foi uma história muito interessante. Então foi muitas coisas que eu consegui, que eu venci. Dificuldades teve inúmeras, inúmeras, tanto da dificuldade de não ter como ir para faculdade, de não tem carro para ir, que já tinha me roubado o carro. Como não ter para voltar, várias vezes voltar para casa tocando a cadeira, e chegar na Rua alguém, “quer ajudar, deixa eu te ajudar”. Me ajudava empurrar. Dificuldade tem, mas a gente não pode desistir.
1:14:14
P/1 - Como que é se familiarizar com a cadeira? Parece que é uma extensão do seu corpo...
R – É um extensão, é as minhas pernas. Eu costumo dizer muito, que no antidoto esta o veneno, o antidoto está no veneno. Por quê? O antidoto da picada de cobra, tá no que? No veneno da cobra. Então, qual que era o meu maior medo? Era estar numa cadeira de rodas, meu maior medo era esse, meu veneno era esse. E hoje? Hoje eu estou. Hoje eu sou grata a ela. Por quê? Porque se não fosse ela não estava trabalhando, eu não estava fazendo palestras, eu não estava aqui agora, eu não estava me locomovendo. Tem uma música do Barrerito que fala, “eu não desejo para ninguém”, mas é ela que me ajuda, sou grato por ter. Então esse familiarizar, esse adaptar, e fazer parte, se fazer parte da cadeira, como se fosse as minhas pernas. É bom? Não! Não é bom, não quero que ninguém use, mas eu sou grato por tê-la, porque se não tivesse, seria muito mais difícil a minha vida, com certeza.
1:16:08
P/1 - Me conta como surgiu a oportunidade em trabalhar em Furnas? Você já conhecia a empresa antes?
R - Já conhecia! Porque aqui na região, Furnas é referência, é uma das maiores empresas que têm na região. Então era sempre referência, de trabalho, de bom lugar para trabalhar, que tem na região. Porque uma empresa grande, do porte de Furnas aqui na região não tem. Tinha a Usina, só que a usina é um serviço mais braçal, a parte de cana e tudo mais, agora uma hidrelétrica, igual Furnas, não, referência. Bom, eu estava na faculdade, terminando o último ano da faculdade, e trabalhando na Contec na época. E soube da oportunidade que tinha, da cota para deficientes em Furnas. Então falei: me interesso! Falei na época com o assistente social que estava vendo sobre isso, falei com ela, “Adriana, me interesso, quero sim trabalhar”. E tinha duas vagas para parte de TI, lá em Furnas. Falei assim: ótimo! Vou fazer entrevista, vou fazer tudo. E graças a Deus deu certo, eu fui na época na usina de Luiz Carlos Barreto de Carvalho, que vara era para lá, lá em Estreito, Usina de Estreito. E fiz a entrevista, tinha mais quatro candidatos na época para essa vaga. E me escolheram, graças a Deus passei, gostaram do meu perfil e tudo. Então na época era para trabalhar lá em Estreito, só que aí surgiu oportunidade de vir para Furnas, de liberar uma vaga aqui na Usina de Furnas. E eu vim para cá! Então me lembro muito bem do primeiro dia, que eu cheguei na Usina já para trabalhar, estava na sala do gerente de departamento, que tomava conta de tudo. Na época o Emílio, o Carlinhos, me recebeu. E era diferente para eles também, porque eles não tinham nenhum candidato com deficiência, nenhuma pessoa com deficiência trabalhando aqui, eu fui o primeiro cadeirante, aqui da usina, isso a 15 anos atrás. Então a gente crescer, sabe, posso dizer que nós crescemos juntos, ali na empresa e na parte de adaptação. Acho que nós crescemos juntos, a parte da adaptação, adaptar banheiro, adaptar sala e tudo para mim poder locomover. Então fui trabalhar na DELM, Divisão de Eletro Eletrônico. E o pessoal me recebeu muito bem, a equipe que tinha, Wilson Trivelin, Jurandir, o Gleison e eu, era nos 4, aqui da área Minas, que tomava conta da parte de TI. Então foi muito bom, aprendi muito, aprendi muito quando eu cheguei, e acho que contribui também. Porque passaram a ver com outros olhos, que a limitação da cadeira, é uma limitação física, mas não intelectual. Porque muita das pessoas, antes, quando eu acidentei, às vezes até quando eu comecei a namorar já com a minha esposa, às vezes ia no restaurante. Só para ilustrar isso que eu estou dizendo, no restaurante as pessoas, o garçom chegava e perguntava para ela, “o que ele vai comer”? Ela falava: pergunta para ele, ele só no anda, mas fala. E fala muito (risos). Então às vezes tinha isso, sabe, que antigamente, as pessoas que usavam cadeira de rodas, elas iam para a APAE, estudar no APAE. Mas a deficiência dela não é intelectual, é física, porque que tem que estudar no APAE. Então eu vi isso acabar um pouco, ainda existe, mas acabou muito, já diminuiu muito esse grau. Então isso também foi no trabalho. Teve um dia que ia ter um treinamento de mouds, no Rio. Aí todos os 4 estavam escalados para ir, e o gerente falou: a não Éder, você não vai não. Ué, o que será que eu fiz de errado. “Mas não vou por que”? “Não, porque vai de avião”. “Tá, mas é daí”? “Mas como você vai entrar no avião”? “Eles me carregam. Como que eu entro no ônibus? Eles me carregam. Vou entrar no avião”. “Mas não é constrangedor para você”. “Não, não é, eu vou. Constrangedor para mim é perder a oportunidade, isso eu não quero, então eu vou”. “Ah, mas como que vai ser”. “Não sei, mas lá a gente vê como vai ser”. “Então tá ótimo, então vá”. Aí eu fui fazer treinamento. Mas sabe, às vezes não é por maldade, é por zelo, é por zelo, é por cuidado. Só que muita das vezes, eu tenho que perguntar para você, Lucas o que é melhor para você? Você consegue fazer? Dá para você fazer? Você consegue ir? É assim que eu acho que tem que ser comigo e com qualquer outra pessoa com mobilidade reduzida, ou seja, lá o que for. Perguntar, e aí dá para fazer, você consegue? Eu estou preocupado com a questão da limitação, mas dá para ir? O que você acha? Então desse dia para cá, eu acho que abriu muito, sabe, o leque. Por isso que eu falo que eu acho que nós crescemos juntos, nós fomos vivenciando e aprendendo, e o leque foi abrindo, as possibilidades e oportunidades, aqui em Furnas. Depois teve, no final do ano, teve a corrida e a caminhada, que tinha muito aqui. No final do ano fazia uma caminhada na Usina, tinha corrida, com pessoal da saúde organizava. Eu ia, eu corria com a cadeira, ia todo mundo junto, e eu correndo com a cadeira. Então foi um aprendizado muito grande, eu tenho muitas fotos, muitas coisas desses momentos.
1:24:07
P/1 - Aonde você trabalha é dentro do complexo da usina de Furnas, perto de Passos, é isso?
R – Sim! É dentro da Usina. Então aqui na Usina nos temos uma particularidade, tem a Vila de Furnas, onde fica os escritórios, a maioria dos escritórios. E tem a usina, vamos dizer assim, o chão de fábrica, onde fica os geradores, fica a subestação e tudo mais. Hoje eu trabalho num escritório aqui na vila, só que eu tenho que ir sempre na sala de controle, tudo lá em baixo na Usina, então atendo tudo, a gente atende tudo. E assim, a mobilidade é tranquilo. Construímos rampas, foi feito rampas, foi feito mobilidade, acesso, tudo, tudo tranquilo.
1:25:12
P/1 – Mas já existia antes, ou foi mais a demanda de quando você chegou?
R – Foi a demanda depois que eu cheguei, não tinha, antes não tinha. Foi visto as necessidades e foi se adaptando, foi fazendo.
1:25:32
P/1 – Como que foi conhecer a Usina? Você já tinha ido em outra Usina? Qual foi sua impressão.
R – Já tinha visitado aqui a Usina de Furnas. Mas trabalhar é diferente, a realidade é diferente. Saber como tudo funciona, como que é a geração. E até as pessoas, a maneira que todo mundo, que os colegas de trabalho, que os amigos tudo que me receberam, foi muito, foi muito bom, foi gratificante.
1:26:16
P/1 - Você está na mesma área que você estava desde que você chegou?
R – Sim! Estou na mesma área. Antes, eu entrei na Eletro Eletrônica, que é a TI fazia parte da Eletro Eletrônica. Hoje a TI não faz mais parte, faz parte da própria TI no Rio. Só mudou de gerência, mas o que eu faço é basicamente a mesma coisa. Só que antes nós éramos uma equipe de 4 pessoas, que fazia todo o trabalho. Hoje só eu de Furnas, como supervisor de incidentes. Então mudei de função, estou como supervisor de incidentes hoje. Minha equipe tem pessoas em Estreito, Mascarenhas de Moraes e em Furnas, pessoal contratado que trabalha e eu fiscalizo eles e ajudo, do apoio e tudo mais. Nós tomamos conta da parte inteira de Minas Gerais, a parte de Minas toda é nossa responsabilidade, quanto a TI. Hoje a minha gerência, eu estou no CSAI, que é na parte do centro de serviço compartilhado, atendimento do usuário, que a minha gerente é Andréa que fica no Rio de Janeiro.
1:27:54
P/1 – Me conta como que é a TI? Os principais desafios que vocês enfrentam? E como que é exercer essa função dentro da empresa?
R - É muito bom, é desafiador. Porque a dimensão da nossa empresa é muito grande, ela é muito grande, então, eu tenho subestação que é sobre nossa responsabilidade que fica a 800 Km daqui, e que às vezes a gente tem que ir lá, da manutenção, fazer alguma coisa. A grande maioria das intervenções, elas são todas remotas, a gente consegue fazer tudo remoto. E Furnas tem uma característica muito grande, que toda a fibra ótica e de Furnas, todo sistema de comunicação é de Furnas. Então a gente tem que entender e mexer nisso aqui na ponta também. E até mesmo aqui dentro da Usina, aqui em São José da Barra, onde fica a Usina de Furnas, a distância entre os blocos é grande, por exemplo, da Usina até o bloco que eu trabalho, tem 6 km de distância. Então em uma impressora lá, tem um microcomputador lá do outro lado, lá na sala de controle, então tem que sair daqui e ir lá para resolver, quando não dá para fazer remoto, tem que ir. Tem a casa de relés, que fica dentro da subestação. A distância física também é grande, mas é tudo interligado, tem fibra ótica interligando tudo, todos os pontos. Então isso em Furnas destaca muito, e parte da rede de estrutura dela é muito boa. É muito bom, e é gratificante, você chegar e ver que hoje, todas as máquinas, por exemplo, as máquinas que eu digo, os geradores, e tudo ligado e interligado na rede. E tudo ligado por computador, hoje é um computador que comanda uma máquina, hoje é o computador que vai lá e fala assim: o é para gerar mais, e para gera menos, e para abrir um comporta, é tudo dentro da área de TI, é tudo nosso, digamos assim, nossa habilidade e tudo mais. Claro, tem os operadores, tem tudo. Mas eu falo, estrutura física é TI. É muito bom trabalhar numa empresa que tem a responsabilidade, que tem Furnas, de geração de energia, responsabilidade social que tem. A grande maioria das regiões que Furnas está que tem uma usina, que tem um subestação, que às vezes é uma cidade pequena, ela acaba sendo concentradora ali naquela região, sendo referência. Eu sou muito feliz de trabalhar hoje na empresa que eu trabalho.
1:31:14
P/1 – Me explica uma coisa, quando as pessoas falam, eu trabalho em TI, geralmente pensa dentro de uma empresa, uma pessoa que vai mexer nos microcomputadores. No seu caso não, é empresa gigantesca, o computador é medidor de energia, tudo isso que você falou. Como é que é cuidar da tecnologia desse porte aí?
R - Muita responsabilidade. Porque, por exemplo, um canal de comunicação que cai, não tem comunicação mais, entre quem está fazendo a operação da usina, com quem está pedindo, por exemplo, NOS, tem que ter comunicação. Então, tem mais de um canal de comunicação, tem comunicação via rede, tem fibra, tem rádio, tudo mais. Então a comunicação é muito eficiente, a parte das máquinas, uma máquina, um micro, não é apenas um computador onde eu navego e entro na internet, não é, ele também faz a operação da usina. A comunicação que é feita ali, os e-mails, a gravação, que às vezes o telefone é gravado, tem gravação de voz, é o micro que grava também, uma máquina, uma gravador. Então é muita responsabilidade, a gente só vê quando para, quando cai, aí a gente vê. A TI fica ali escondidinha, fazendo tudo funcionar, a maneira a contenta, e não pode parar. Se parar dá problema também.
1:33:24
P/1 - Quais são os problemas mais comuns que vocês enfrentam nessa área e de quebra os mais incomuns?
R – Os comuns, às vezes falha no próprio hardware das máquinas, software, dúvidas dos usuários, basicamente isso mesmo, os mais comuns do dia a dia. Dúvida de como entrar no sistema, como atua, como faz. Um e-mail que não está funcionando, que a gente tem que resolver, a partir do nowts, a parte mais comum, do dia a dia. Agora o incomum, vamos lá para o incomum que já aconteceu, assim, TI tem uma grande capilaridade, tem um botãozinho e acende uma luzinha, um LED, é TI, tudo (risos). Então tudo é TI. As pessoas às vezes confundem muito, o que é estação de trabalho, o que é um computador, o que é uma impressora, e daí por diante. Às vezes acham que o micro-ondas é TI, micro-onda não é, não dou manutenção em micro-ondas. Então às vezes chega para gente ir lá, para manutenção, teve um dia que chegou uma máquina de cortar papel. “Estou com uma máquina aqui com problema”. “Tá, mas e daí”? “Mas vocês não arrumam?” “Não, máquina de picar papel não é TI, ela tem um LED, tem um botãozinho, mas não é nós”. Quando estava tendo a modernização das máquinas, coisa que aconteceu, a modernização da usina, dos geradores da usina. Então tem um sistema que chama SKE, que mede, faz parte de medição dos geradores. Então a gente teve que lá próximo da máquina, num painel junto lá com computador que fica num painel, atuar lá junto com a empresa, para poder fazer as medições todas que tinham que fazer, vamos dizer assim, resumindo. Então são coisas distintas, uma coisa é só um micro, outra coisa é um micro que trabalha com a máquina, é muito legal, bem interessante. Outra coisa é o picador de papel, que também chega.
1:36:08
P/1 – Como está sendo sua trajetória profissional dentro da empresa? Quais são os degraus, passos que você já caminhou até agora? 15 anos de empresa, né?
R – Então, eu comecei lá na DMLM como técnico em processamento de dados, a função que eu tinha na época. E junto com a equipe, o Wilson Crivelin era o supervisor, e de lá para cá, o Wilson já aposentou, já passou outras pessoas e tudo mais. Então hoje eu sou supervisor de TI, aqui da nossa região, do polo da usina de Furnas. Então, em termos de ascensão, de cresce e tudo, eu acho que eu estou onde tinha que chegar, aqui a parte de TI, não vislumbro muita coisa mais para frente. Mas é um serviço que é muito, como já disse, muito prazeroso e que tem muita responsabilidade, sabe, cuidar de toda essa parte aqui na usina, aqui de toda área Minas. São mais de 300 máquinas só que na usina de Furnas, 300 computadores, todos ligados em rede, tudo ao mesmo tempo. É muita coisa.
1:38:04
P/1 - Então você virou supervisora agora? E hoje como que é supervisionar?
R - Eu tenho uma relação muito tranquila, com os meninos, que é muito bom, eu sou parceiro, a gente está sempre junto, e dúvida eu sempre falo com eles, “qualquer problema que tem, não sofre, passa para mim, vamos resolver juntos, vamos fazer juntos”. E nós temos uma relação muito boa. Antes eu era, digamos, supervisionado, hoje eu estou supervisionando eles, ajudando. Não como chefe, nem nada com isso, mas com parceiro mesmo. Então o que precisa, todos os problemas que tem, eu estou sempre junto ajudando, pedindo auxílio também, pro pessoal (...) lá no Rio, tudo mais, trabalhando sempre em conjunto. Eu gosto muito de pessoas, de olhar nos olhos, essa proximidade, então, muito tranquilo. Eu acho que essa parte de estar na supervisão e tudo mais, é muito tranquilo, como supervisor de incidentes. A gente monitora o SLA do atendimento, porque são duas empresas. Empresa Assimpres, que presta serviço de impressão, e a Solutions, que presta serviço de N1 e N2, aqui na empresa. Que é o primeiro atendimento, digamos de TI, de falha no computador, no software, dai por diante. Então monitoro SLA, o tempo de atendimento deles, o tempo tem que estar a contento. Então, por exemplo, Mascarenhas de Morais, outra usina, eu tenho que monitorar lá também o atendimento que está das impressoras, se uma impressora falhou, é uma impressora departamental, ninguém daquela parte, daquela sessão vai imprimir. Então tem que ver o tempo de atendimento e de resposta que eles estão dando, para fazer e para solucionar. Se não solucionar logo, a gente tem que achar uma outra maneira, para poder colocar lá de novo, para poder atender. Porque, “a, é só uma impressora”. Tá! Mas tem documentos que saem, até da operação, que tem que entrar documento, se não entrar aquele documento eles não podem realizar o serviço. Tem um PR que vai fazer, digital, mas tem que estar assinada, e tem que imprimir também. E tem que estar tudo funcionando, senão não sai o serviço.
1:41:20
P/1 – Éder você acha que existe uma cultura dos trabalhadores de Furnas? Um perfil dos funcionários?
R – Uma cultura que tipo? Um perfil?
1:42:01
P/1 – Como vocês veriam em geral o funcionário de Furnas? O que a empresa cultiva para ser implementado no dia a dia?
R – Furnas, a capilaridade é muito grande de funcionários. Então Furnas é uma empresa de energia elétrica, então a gente vê que o foco está na geração e transmissão de energia, então foco grande tá em geração e transmissão. O foco está na TI, não, a TI é necessária, mas o foco é geração e transmissão. Então acho que o perfil maior da empresa, é de engenheiros elétricos, é de técnicos em eletrotécnica, em eletromecânica, é o perfil geral. É o fim da empresa, o fim dela é esse. E agora no meio, tem muita coisa, tem a parte de segurança do trabalho, no meio, tem a parte de TI, tem a parte de saúde, que é muito grande, assistente social. Tem muitos projetos sociais, que abrangem também. Mas o perfil mesmo, quando a gente fala da empresa, eu acho que é um perfil de Engenheiro Elétrico, a parte mais de engenharia elétrica. Era isso mais ou menos que você queria saber, ou era... Eu respondi sua pergunta?
1:44:20
P/1 – Sim! Como é que são as amizades que você fez? Me fala de alguns colegas que te marcaram?
R - Os funcionários, os amigos, os colegas de trabalho, muito bons, respeitam muito uns aos outros, mesmo sendo departamentos diferentes, divisões diferentes. Normalmente nas confraternizações de fim de ano junta todo mundo, e é muito bom, a parte de respeito, até de parceria, sabe, quando você precisa de alguma coisa, é fantástico, tem uma parceria muito grande, eu acho que entre todos. Tudo em busca de algo maior, tudo em busca de uma união, de trabalhar junto, de estar junto. Então é muito bom de trabalhar aqui em Furnas. Quem me marcou mais, sabe, tem muita gente, desde gerentes, o Paulo César, que foi o meu primeiro gerente aqui, quando eu entrei na DMLN, que me marcou muito, muito bom. O Geraldo, quando eu entrei também, nessa época a gente trabalhava junto na eletro eletrônica, ele vinha de carro comigo, pra mim não vir sozinho, bem no início. Depois nós fizemos um rodízio de carro, o Zé Antônio, tinha o Reinaldo, o Alessandro, tudo para a gente vir juntos, um carro só, sabe, olha a sensibilidade, um exemplo, nessa época do Geraldo, “eu vou de carro com você para você não ir sozinho”. Porque de Passos para Furnas, onde eu moro, são 36 km, tem que pegar a rodovia. E se desse um acidente, sei lá, alguma coisa na estrada, estava sozinho. É a sensibilidade dele já, “não eu vou com você”. Depois quando eu passei a vir de ônibus, tinha o Michel, eu parava num ponto embaixo, eu tinha que subir uma ruinha, para chegar até a minha sessão, meu local de trabalho. O Michel descia lá junto comigo, o Michel e deficiente auditivo, também trabalha na cota para pessoas com deficiência, e ele trabalhava num outro setor. Ele subia para me empurrar. Às vezes vinha outra pessoa, ele não gostava não, “eu que vou ajudar o Éder a subir”. Então são muitas pessoas que marcaram e marcam. A dona Vilma mesmo, que era a pessoa da limpeza, dona Maria que já passou, eu acho que é um geral, é tudo, não tem uma pessoa que eu falo, esse é melhor do que aquele. Aqui na usina, nós trabalhamos de uma forma muito cooperativa, uns com os outros, um clima bem harmonioso. O pessoal do transporte, sempre solicito, quando a gente pede, “o, eu preciso de um carro para eu poder ir na usina, para eu pode fazer esse atendimento, ou aquele.” Muito tranquilo, até com relação a cadeira, porque aí eu tenho que passar para o carro, guardar a cadeira no maleiro, ou na caminhonete atrás. Nunca tive problema nenhum com isso, muito tranquilo, foi muito bom. Então eu acho, se tivesse que classificar de 0 a 10, a equipe de trabalho aqui da Usina de Furnas, com certeza é 10, com certeza. De tudo, desde os gerentes, até digamos, a faxineira, o pessoal que varre. O Sr. José, que está sempre ali cuidando do jardim, sempre alegre, todo mundo.
1:49:28
P/1 - E me conta uma coisa, quanto tempo demorou para essas obras de acessibilidade ocorrer em seu local de trabalho? E o que eles fizeram? Como é que foi mudado o espaço para melhor acomodar você?
R - Foi tranquilo, foi rápido. Na época eu cheguei já tinha um banheiro adaptado, eles já se preocuparam antes de eu entrar, já ter o banheiro adaptado, já tinha. Então foi bem tranquilo, não demorou muito. E eu acho que partiu a partir da necessidade, onde foi tendo necessidade, foi se fazendo. Por exemplo, para entrar na sala de controle, tinha dois degraus, ai foi feito uma rampa. Hoje a sala de controle mudou, passou para uma sala de controle nova, já é tudo rampa. Nas calçadas, nos meio fios, as portas, tudo que foi se fazendo, já foi pensando nessa nova dinâmica que tem. Eu posso dizer que foi acontecendo e vai acontecendo, na medida do que se gera necessidade.
1:50:51
P/1 - E você tem alguma tarefa que você teve, algum desafio, alguma passagem que te foi especial durante esse tempo em Furnas?
R - Quando nós fomos trocar os servidores, daqui da Usina, que eu acho que foi uma coisa assim que gera um grande impacto. E fizemos tudo de uma forma assim, sincronizada e sem perder nada, sem dar impacto nenhum para o usuário. Então na verdade o usuário nem ficou sabendo que ia trocar. E foi um serviço muito grande, nós trocamos tudo que era sucateado. Então foi um serviço demorado, que às vezes a gente fala assim, “vou trocar”, acha que é tirar um e colocar o outro. Tem muita coisa, os dados estão todos ali, tem muita coisa. Acho que foi algo, que a hora que terminou foi assim, aquele ufa, deu tudo certo, não teve impacto nenhum, é muito bom esse. E dentre outros, tem muita coisa. Igual esses dias mesmo, teve um que... Eu ajudo também na parte de eventos, aqui na usina. Tivemos a reunião agora com o ministério de Minas e energia, com o governador de Minas Gerais, a presidência de Furnas, Eletrobras, todo mundo, tudo junto aqui na usina. Então, a hora que terminou tudo, que tem muito preparativo, muita coisa para poder recebê-los e a gente fazer. Estava falando sobre o reservatório da usina de Furnas, foi muito bom, muito gratificante, uma coisa assim muito grande que nós fizemos, com uma repercussão nacional.
1:53:03
P/1 - Era uma reunião por causa de um evento que você estava organizando, é isso?
R – Sim, foi por conta do nível do reservatório da usina de Furnas. Ai veio até o pessoal presidente da ANA, Agência Nacional das Águas, para falar, debater sobre o nível do reservatório, de Furnas em Mascarenhas de Moraes.
1:53:26
P/1 – Como é que é você participar dessa parte de eventos? O que você faz lá?
R - Muito bom! Cuido da parte de áudio visual, som, vídeo e até os micros, as máquinas, microfone e tudo mais que tem na parte audiovisual, tomo conta. Então é uma correria louca. Porque tem a casa de visitas de Furnas, que tem eventos lá, tem eventos às vezes no auditório, que são locais diferentes. Então tem que ir num lugar, corre para o outro, e vai, e no fim dá tudo certo, a gente vai se ajeitando, muito bom. São muitas pessoas, é muita gente. Eu gosto muito de eventos, eu gosto muito de falar, mas nesses eu fico quietinho, não pode. Mas eu gosto de estar junto, sabe, nessa, de organizar, de ver realizar. Depois que passa a gente fala assim, “eu estava ali, eu estudei, eu contribuí”, é muito bom.
1:54:29
P/1 - Teve algum evento que você gostou mais de ajudar a fazer?
R – Teve os 60 de Furnas, foi muito bom. Fez até o Museu lá em Furnas. Foi feito também, as meninas da comunicação organizou também um evento aqui em Passos. Para poder mostrar para a população também, sobre a importância da Usina, importância de Furnas e mostrar a história de Furnas. Esse foi um evento muito gostos, muito bom de participar, muito grande também, que demorou muito tempo, foi bom.
1:55:23
P/1 – Éder teve mais alguma viagem que você fez por conta da empresa? Você falou que da muita palestra, como é que é isso na sua vida?
R – Sim! Já fiz diversas palestras, dentro da empresa e fora, dentro de Furnas, na SIPATS, Semana Interna de Prevenção de Acidentes. Então, eu sempre falo sobre motivação. A primeira foi em 2012, aqui na usina. Foi para SIPA também, eu falei, “cuidado a excelência do ser humano”. E já falei sobre diversas outras, foi muito bom, sempre participando das SIPAs, e ajudando, e como palestrante também. E já fiz em Marimbondo, já fiz em Luiz Carlos Barreto, Mascarenhas, Porto Colômbia, já fui em Mogi, também. Tudo áreas da empresa que eu já fui fazer palestra, na SIPA, Semana Interna de Prevenção de Acidente. Falando sobre mobilidade, falando sobre motivação. Motivando as pessoas sempre, a está bem consigo mesmo, eu acho que isso é fundamental. Se eu não estou bem em casa, se eu não estou bem comigo, eu não estou bem no trabalho. Se eu não sou motivado comigo mesmo, eu não sou motivado no trabalho. Consequentemente o meu rendimento é outro, quando eu estou bem, quando eu estou feliz, quando eu faço o que eu gosto.
1:57:08
P/1 - Como é que você vê a empresa, Furnas, com essa relação da questão social, de acessibilidade? Qual é a sua opinião, sua visão sobre a empresa nesse quesito?
R - Muito boa! Pelo seguinte, Furnas, ela é uma empresa de sociedade mista. Para entrar em Furnas, é com concurso público, só que nos concursos que Furnas já fez, ela não conseguiu manter o quadro para pessoas com deficiência, a cota de 5%. Então o que Furnas fez. Fez um contrato social, isso a mais 15 anos atrás, um contrato social para colocar pessoas com necessidades especiais, da cota, dentro do quadro dela. Não só para cumprir a lei de cotas, mas mais do que isso, mas do que isso, para dar oportunidade para uma parcela da sociedade que não atende. Porque a grande maioria dos empregos que a gente ver, para pessoa com necessidade especial. Aí vem aquela história que eu disse lá atrás, “a é cadeirante, vai estudar no APAE, a é cadeirante, empacotador de supermercado, atendente de telemarketing”. Não desmerecendo ninguém, muito pelo contrário, é querendo dar oportunidades iguais, ou melhor, dizendo, oportunidades diferentes, para os diferentes. Não é oportunidade igual para todo mundo, é oportunidade diferente, para quem é diferente, para nivelar a pessoa, colocar ela no mesmo patamar dos outros. Isso eu acho que é importantíssimo, e fenomenal que a empresa faz, é dá essa oportunidade para quem é diferente. Uma oportunidade diferente, para ela se tornar igual, sabe. Furnas hoje tem 167 pessoas com necessidades especiais, com deficiência no quadro dela, no contrato social. Então faz a diferença na vida de cada uma dessas pessoas, nas mais diversas funções. E cada uma desempenha o seu papel, o seu trabalho, com certeza, com maestria, honrando a oportunidade que teve. Porque quando tem, normalmente uma pessoa quando tem limitação, isso eu posso dizer de carteirinha, de experiência própria e vivência com outras pessoas também. Ela agarra mais aquela oportunidade, e dá mais de si, para poder fazer diferente e fazer a diferença. Ela entrega mais, ela entrega o que ela tem, ela dá o que tem, e dá o que tem de melhor. Então é muito bom também, fazer parte desse quadro. Porque eu costumo dizer assim também, Lucas. Quem não tem necessidade especial? Todos nós temos, todos nós temos. Seja necessidade especial de atenção, mas nos temos. Tem uma necessidade especial de um óculos, eu uso óculos, beleza. Então sou portador de necessidade especial, sim, porque se eu não tivesse aquele óculos a minha a condição seria diferente da dos outros, eu não ia enxergar também. E eu no caso, eu preciso da cadeira, que é visível, todo mundo vê. Então são essas oportunidades que fazem a diferença. Isso que eu vejo que é tão importante na empresa, ela cumprir, ela fazer essa lei de cotas, e dar essa oportunidade através de um contrato social, que Furnas têm hoje, para pessoas com necessidades especiais, com deficiência, fazer parte do quadro dela.
2:02:00
P/1 – Éder como é que enxerga hoje a empresa, e como é que você ver ela no futuro, daqui uns 20, 30 anos?
R – Olha, eu vejo a empresa, e espero, que ela continue sendo o que ela é desde a fundação. Sabe, desde quando Juscelino Kubitschek fez... Porque a primeira usina que foi feita de Furnas, foi a usina de Furnas. Juscelino lá atrás, quando ele idealizou, ele falou assim: vamos fazer o Brasil avançar 50 anos em 5. Grande parte desse avanço se deu por conta de energia elétrica, por conta da usina de Furnas. Que na época que ela foi criada, ela mantinha mais da metade do país inteiro sozinha, ela tinha capacidade para isso. E hoje, como que eu vejo Furnas. Ainda fazendo a diferença. Não somente com energia elétrica, que hoje a gente não vive sem, mas também na vida das pessoas, dando oportunidades as pessoas, com tantos trabalhos sociais que Furnas tem, que ajuda as comunidades. Um projeto aqui, de tecelagem, aqui na usina de Furnas, Tecer e Crescer, que era da comunidade aqui. Tem projeto de música e tem N projetos. Tem projeto de Furnas, para a primeira usina, que gera energia a partir do lixo, que é aqui em Boa Esperança, aqui em Minas, projeto de Furnas. Sustentabilidade, eu não vou fazer aterro sanitário, eu não vou jogar lixo, nem reciclável. Mas a partir do lixo gera energia, sabe. Furnas se comprometendo, estando junto com a sociedade, para um bem muito maior, muito além de gerar energia. É servindo o povo, servindo a nação, servindo quem está próximo, servindo toda a comunidade, que é muita gente. Que está próximo as usinas, não só comunidade, como a nação inteira. Então eu vejo ela daqui a 20 anos assim, continuando a servir, fazendo o que ela foi idealizada para fazer, servir no que tange a energia elétrica, com maestria, com excelência e também toda a comunidade que está ao redor.
2:05:09
P/1 - Qual foi a primeira vez que você viu, conversou com a sua atual esposa?
R – Então, a gente já era amigos, já conhecia antes. E eu posso dizer que foi um despertar, um abrir os olhos. Teve um dia que eu fui ajudar um amigo, que ele tinha terminando com a namorada, então nós fomos num barzinho aqui, e ela estava lá também. Estava com as amigas dela, e ela foi ajudar uma outra amiga também, nos fomo lá. E chegar lá a gente encontrou, e tudo, começou a conversar, e nós marcamos de sair no fim de semana, que isso era meio de semana. Todo mundo, a turma inteira que estava ali, para sair. E deu que ninguém foi, ninguém saiu. Aí eu liguei para ela, “e aí, tá firme, tá de pé, nos vamos, tal”? “O pessoal, todo mundo, desistiu. Mas tem uma festa para ir, um aniversário, você quer ir”? “Vamos”! E nós fomos nesse aniversário, chegando lá, nós ficamos juntos, como amigos e tudo. Todo mundo na festa achou que a gente já estava namorando, ficando, alguma coisa assim. E não tinha nada ainda. Aí a hora que eu fui levar ela para casa, eu deixei ela na porta da casa dela, e aí, sabe, quando eu falo que foi o abrir os olhos. Aí eu dei um beijo nela, aí no outro dia a gente já saiu, e começou a sair e foi assim. Um ano e três meses nós estávamos casados, foi muito rápido.
2:07:34
P/1 - Qual que é o nome dela Éder?
R – É Solange.
2:07:31
P/1 – E ela teve durante o período que você sofreu o acidente, foi o depois que vocês começaram a namorar?
R – Então, nós começamos a namorar depois. Eu conhecia ela desde antes do acidente, mas nos começamos a namorar mesmo, depois do acidente. Então assim, teve muita dificuldade, teve muita coisa, não por parte de nossa, às vezes até das pessoas. Teve muita gente que chegou para ela e falou assim: mas você vai namorar com ele é por dó? Tem muita gente, sabe, que às vezes não sabe o que fala e o que faz. Mas graças a Deus, nós superamos tudo. Ela é uma parceira fantástica, não tem como descrever, eu escolhi bem. E tá sempre comigo, sempre parceira, sempre na luta, sempre lutando. Viagem, em saídas, em médico, em tudo, parceira de vida, com certeza.
2:08:48
P/1 – E como é que foi quando nasceu seu primeiro filho Éder.
R – Então, eu não posso ter filhos. Aí o primeiro foi o Cauã, com 7 anos, aí foi outra decisão que nos tivemos, de adotar. O primeiro foi o Cauã. Nós nos preparamos, a gente estava fazendo nossa casa, e a gente sempre tinha noção, consciência, que a partir de adoção demora. E eu tenho certeza que tudo é preparado por deus, e escrito por ele, tem filhos que nascem para você e tem filhos que nascem de você. Os meus filhos nasceram para nós, os nossos nasceram para nós, com certeza. Então, o Cauã, quando nós entramos na fila da adoção, a gente imaginou, deve demorar em torno de uns dois anos, mais ou menos, para sair a adoção. Até lá a gente aumenta a casa, que só tinha um quarto na minha casa, hoje, dá para fazer outro. Com 3 meses ele chegou, 3 meses, foi fantástico, maravilhoso, uma sensação sem igual. Ele nasceu para nós, com três meses, logo depois, foi uma gestação muito rápida, sabe. E já a Kauane, depois de algum tempo, já também nos encontramos de novo na fila. A Kauane já demorou mais ou menos uns dois anos, até ela vir. Hoje o Cauã tem 14 anos, dia 30 de maio agora ele faz 15, e a Kauane tem sete. Então é uma benção na nossa vida, são os filhos que Deus me deu. Nossa, o Kauã é parceiro demais, tudo que eu vou fazer ele estar junto, me ajuda muito. A Kauane, sensacional, cada tirada, cada coisa que ela fala, que emociona. Então eu com a Sol, minha esposa, eu chamo ela de Sol, nós somos muitos felizes, pela família que nós temos, sabe, que nós somo, e construímos magnético. Dificuldade a gente passa, tem muitas, como todo mundo tem, todo mundo tem. Mas a gente supera, com Deus a gente supera tudo, com ele fica mais fácil, a gente vai embora. E poder contar um com o outro, da mesma forma que ela pode contar comigo e eu contar com ela, sabe. E uma coisa que eu disse para ela, que eu tenho isso até hoje, e acredita nisso, quando a gente estava namorando ainda, eu virei para ela e falei assim: Sol, eu estou com você, não por quem você é, mas por quem eu sou quando eu estou ao seu lado. Eu sou uma pessoa muito melhor, eu sou uma pessoa completa, sou muito mais, sabe. E eu acho que é isso que nós precisamos, nos encontrar nos outros, e eu me encontro nela, eu me encontro totalmente nela. Realmente aquela história da metade, se faz jus, com a gente, eu acho que ela é minha metade. E eu amo muito e agradeço a Deus todo dia, por ter ela na minha vida, e por ter os filhos e a família. A família eu acho, que não existe tesouros no mundo que pague o fracasso de uma família. Eu acredito que hoje o mundo está do jeito que está, as vezes tão turbulento, tão bagunçado, porque está faltando família, está faltando amor, está faltando companheirismo, está faltando amor mesmo, nas famílias dentro de casa. Tá faltando família, do jeito que eu tive com a minha, graças a Deus minha família é muito boa, muito tranquila, e estou fazendo com os meus filhos também, com a minha família, graças a Deus.
2:13:18
P/1 – Como é que foi contar um pouquinho da sua história hoje para gente?
R - Muito bom, sabe. Muito bom! Porque eu sou fruto da minha história, de toda ela. Momentos bons, momentos ruins, mais ou menos, momento. Como a música Roda Viva, tem dia que a gente tá em cima, tem dia que a gente está embaixo, roda do mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num instante, nas batidas do meu coração. E eu levo a vida assim, não existe dia ruim, ou não existe dia inteiro mal, ou bom, não, são as nossas escolhas. E contar isso é um prazer muito grande, porque faz parte de mim, faz parte da minha história, eu gosto muito dela. E eu amo minha história. Independente do que já passou, do que já aconteceu. Sou grato a Deus por tudo que eu vivi e que eu vivo e que eu viverei ainda.
2:14:36
P/1 – É isso Éder, obrigado viu. Obrigado pela sua disposição, pela paciência, teria muita coisa para perguntar sempre, mas a gente, não dá para contar tudo da vida, sempre tem uma coisa ou outra. Infelizmente a gente fica por aqui. Mas eu agradeço muito pela sua história, eu achei maravilhoso, você conta muito bem, E acho que a empresa ganha muito ouvindo a sua história. Eu não sou de Furnas, mas eu acho que eles ganham muito com o registro. Muito obrigada!
R – Um fato interessante, eu tinha esquecido ate de falar. Um tio meu, ele trabalhou na construção da usina de Furnas, e foi o primeiro emprego dele. Quando ele trabalhou aqui, foi o primeiro emprego. E ele pegou a nota, uma nota que ele recebeu o primeiro salário e guardou, guardou essa nota, acho que de Cruzeiro, alguma coisa assim. Ele me deu a nota, eu tenho guardada aqui, do primeiro salário que ele recebeu quando ele foi trabalhar, justamente na construção da usina de Furnas. É uma coisa que é muito legal também, um fato referente ao trabalho, a usina. Lucas, o prazer foi todo meu, foi muito bom tá aqui, contando um pouco da minha história, da minha vida, para vocês. E espero que possa ter contribuído com a vida também de vocês. Uma coisa que eu falo muito, em que eu vivo isso. É o dar a vida, o que significa dar a vida. Não é morrer pela pessoa, é viver. E neste momento nós estamos aqui, eu estou dando um pedacinho da minha vida, para vocês. E também estou recebendo um pedaço da vida de vocês para mim. Porque a vida nada mais é do que o tempo, quando eu dedico meu tempo para alguma coisa, eu estou dando um pedacinho da minha vida, um pedacinho de mim, uma parte de mim para o próximo, para quem estar junto de mim, para o meu próximo. Então recebam com carinho um pedacinho da minha vida, que eu estou recebendo um pedaço da vida de vocês também.
2:17:11
P/1 – Obrigado! É uma honra mesmo, é um momento sagrado, sempre ouvir a história de alguém, precisa ter muito cuidado, espero que tenha sido uma boa experiência para você.
R - Com certeza, com certeza foi!