História de:
José Bernardo da Silva
Autor:
Museu da Pessoa
Publicado em:
17/03/2004
A história do José nos traz para mais perto da realidade carioca do Morro dos Prazeres, lugar onde o interlocutor criou muitas amizades e participou de diversos projetos para o desenvolvimento cultural da comunidade. Desde os bailes até sua atuação na Associação dos Moradores, no clube de futebol dos veteranos e no bloco dos Acadêmicos dos Prazeres, José Bernardo é uma personalidade muito importante para a história do morro.
P/1- Boa tarde. O senhor poderia me dizer o seu nome completo?
R – José Bernardo da Silva.
P/1 – Local e data de nascimento.
R – 22 de maio de 1939.
P/1- Por que você e sua família vieram morar no Morro dos Prazeres?
R – Eu sou natural de Juiz de Fora, nasci no município de Juiz de Fora, na Fazenda da Boa Vista e o motivo de eu vir aqui pro Rio foi o seguinte: Eu sou filho de uma família muito pobre e sempre eu pensei vencer um dia na vida. Aí, em companhia do meu irmão, eu vim aqui, pra Petrópolis. Em Petrópolis passei uns dias e vim direto pro Rio. Chegando aqui – antigamente a rodoviária era na Praça Mauá. Foi onde eu encontrei um pouco de dificuldade porque eu não conhecia nada aqui no Rio, e desempregado. Normalmente quando a gente vem não tem emprego. Fui trabalhar de ajudante de pedreiro ali na Presidente Vargas.
P/1- Conte alguma história interessante ou engraçada, ligada à sua vivência no Morro dos Prazeres, que o senhor se lembre agora.
R - A minha vivência aqui no Morro dos Prazeres, eu moro aqui há 37 ou 38 anos. Aproximadamente há uns 40 anos. Eu não tinha, assim, muito tempo pra me divertir. A diversão mais aqui era baile. A gente dançava muito em bailes improvisados. Outra hora era aniversário de pessoas amigas que vinha a conhecer. Então, a minha diversão do passado aqui era essa.
P/1- Sabe porque o nome Morro dos Prazeres? Conte um pouco pra gente da história do porquê desse nome.
R – As pessoas mais antigas que moram aqui nos Prazeres dizem que esse nome veio através de uma senhora que trabalhava ajudando a igreja católica ali no Dois Irmãos, que chamava Madre Maria dos Prazeres. Como ela era uma pessoa muito dedicada ao povo menos favorecido e ajudava, todo mundo procurava essa Dona Maria dos Prazeres. E aí segundo os antigos, ficou sendo Morro dos Prazeres.
P/1- Agora conte alguma história ligada ao Casarão dos Prazeres, de sua vida no Casarão dos Prazeres. Um casamento, uma festa, um evento.
R - Eu, quando conheci o Morro dos Prazeres, eu antes trabalhei na Associação dos Moradores. Eu fui presidente três meses da Associação dos Moradores e aqui na ocasião não tinha água, não tinha luz e a gente, pra conseguir isso, teve a necessidade de fundar uma Associação. Na fundação, eu fui indicado para trabalhar como diretor na Associação, e fui escolhido depois de algum tempo trabalhando na Associação, para ser presidente. E como conseqüência tive três mandatos: um como presidente e o outro como vice-presidente. E ao chegar aqui no Casarão, nós começamos a ver que havia um interesse muito grande da comunidade de expandir, crescer um pouco mais. E o Casarão na época, tinha vários donos. Aparecia um, depois aparecia outro e chegou num ponto que era abandonado mesmo. Ficou abandonado e o sonho entre nós foi resgatar esse patrimônio que pra nós sempre foi muito importante. E hoje, graças a Deus conseguimos um ideal que é considerado uma luta muito forte pra mim, ter conseguido resgatar esse Casarão. É o motivo que hoje a história dele pra mim é importantíssima, porque foi obra de muito sacrifício. De todos os moradores daqui.
P/1 – O que o senhor achou da participação nessa entrevista e contribuir para o projeto do Museu da Pessoa da Memória do Morro dos Prazeres?
R – Eu acho bom isso do Museu da Pessoa. Foi o primeiro trabalho que a gente vê do resgate dessa história da comunidade aqui dos Prazeres. Eu acho importantíssimo esse trabalho porque é uma forma para que ela fique gravada e para que posteriormente as pessoas que não conhecem: como começou os Prazeres? Como começou o Casarão? Até onde está? Como chegou? Se não tiver alguém que se interesse para levantar essas histórias, fica muito difícil. O Museu fez isso e agora daqui pra diante vai ser bem mais fácil. Esse trabalho do Museu da Pessoa é um trabalho maravilhoso e eu estou satisfeito em participar desse trabalho.
P/1- Obrigado pela sua entrevista.
P/1- Zé, conte pra nós um pouco da história do Casarão dos Prazeres que nós sabemos só que existia bem antes da comunidade. Então, conte uma história que a gente sabe que foram vários acontecimentos aqui, existiam alguns eventos. Conte um pouco desses eventos, um pouco da história, da sua história com o Casarão dos Prazeres.
R - Aqui no Casarão dos Prazeres, no passado, antes de ele ser danificado, funcionou aqui uma igreja, houve batizados...
P/1- Qual era a igreja?
R – Igreja católica. Tinha uma outra igreja aí, que eu não me lembro o nome dela. Funcionava ali e era ligada às pessoas, fazer esse tipo de trabalho social. E o Casarão, além de ser o trabalho da igreja, foi utilizado como escola também.
P/1- Então era escola.
R - Escola _______ que uma ocasião ela funcionou aqui.
P/1- Mas por que eles vieram aqui? Não existia escola ainda.
R – Me parece que foi uma época de reforma e usaram esse espaço. Depois ele ficou danificado, foi invadido por pessoas desconhecidas que passaram a morar aqui. Danificaram tudo e gente achava aquilo um absurdo. Uma casa dessas, que muita gente dizia que era mal assombrada, que ouvia ruídos aqui, e uma série de coisa. Eu pelo menos nunca vi isso não Mas tem pessoas que comentam que tinha alguma coisa que não era muito natural. [risos] e eu acredito que as pessoas que comentavam, são pessoas que não mentem e naturalmente devem ter visto. Mas eu nunca vi nada demais aqui.
P/1- Seu Zé. Seus filhos nasceram aqui?
R – Sim. Graças a Deus, todos eles nasceram aqui no Rio, todos aqui no Morro dos Prazeres.
P/1- Quantos filhos o senhor tem?
R – São seis.
P/1- Já tem netos, bisnetos?
R – Já tenho cinco netos.
P/1- Não tem bisnetos ainda não?
R – [rindo] Por enquanto ainda não.
P/1- Como o senhor disse, o senhor trabalhava muito, mas de vez enquanto o senhor tinha tempo de ir a festas, jogava futebol... Como era essa coisa de futebol nessa comunidade?
R – O futebol aqui era importante. Eu, até hoje ainda jogo, Faço parte do time dos veteranos...
P/1- Tem nome esse time?
R – Veteranos.
P/1- Só Veteranos?
R – Só. É o pessoal da terceira idade. Futebol, eu sou amante de futebol. Gosto. Inclusive eu sou dono de um time de futebol, o Revolução. Foi o time que dividiu com o time do Flávio. Porque o Flávio fez um outro time, porque ele jogava porque era o dono do time. Então aqueles que discordaram da participação dele criaram um outro time que foi o Revolução. Mas continuaram amigos, porque a Revolução é só de nome [risos]. Eles continuam amigos até hoje, graças a Deus. Ele é uma ótima pessoa, mas como é de praxe, todo mundo acontece isso mesmo.
P/1 – Nós sempre soubemos que existiam blocos aqui na comunidade. O senhor se lembra de algum pra poder me relatar um pouco dessa história?
R – Lembro. O bloco foi uma agremiação que foi o Acadêmicos dos Prazeres e eu tive a honra também de ser presidente desse bloco por dois anos, e nesses dois anos nós fomos campeões, ganhamos. E foi uma coisa muito importante pra comunidade porque é uma parte social onde você consegue juntar pessoas de diferentes sexos, sem discriminação de raça e cor. Foi muito importante. O bloco pra mim é uma maravilha.
P/1- Esses blocos ainda existem?
R - Não, não. Nosso bloco acabou há bastante tempo, mas ainda tem pessoas que lembram muito bem disso, tem a Dona Zilda, que era a nossa porta bandeira, era uma pessoa muito importante pra nós. Esse compositor que era_____ do pandeiro, Leo (?) da Vila.
P/1- Existe um boato, que existe uma escola de samba no Rio de Janeiro que foi fundada na rua Barão de Petrópolis, com blocos da comunidade do Morro dos Prazeres.
R – Não. Na Barão de Petrópolis tem um bloco, que era o Unidos da Barão. Só tinha esses dois blocos: O Grêmio Recreativo dos Prazeres e o Unidos da Barão. O sonho era fazer uma escola mesmo aqui, As pessoas ainda sonham mesmo. Unir as duas comunidades, os dois blocos ou se puder até mais para poder formar uma escola.
P/1- Normalmente esses blocos desfilavam aonde?
R - A gente juntava ali em frente à Associação dos Moradores. Era uma barreira e então a gente ia juntando... Era uma lixeira, quer dizer, Fizemos um espaço ali e ali foi criado o bloco.
P/1- Mas onde é que vocês desfilavam?
R- Desfilamos na Av. Rio Branco, desfilamos em Vila Isabel, Santa Cruz.
P/1- Então, vocês saiam fora, visitavam outros lugares.
R - Era uma organização feita pela própria federação. Sorteado e aí você tinha que desfilar.
P/1- Sobre caipiras, tipos, esses folclores, que a gente chama assim no interior, ainda existe algum no Morro dos Prazeres?
R – Existe. Só que ela está muito mudada. Hoje ela não é festa de caipira como era no passado. Hoje ela está muito sofisticada, está muito em cima. Parece até uma escola de samba.
P/1- Não é mais tradicional?
R - Não é mais tradicional. A tradição realmente perdeu.
P/1 – Mas ainda existe na comunidade?
R – Existe. Existe a Doce Mel. Quadrilha Doce Mel. Só existe uma. Antigamente tinha duas.
P/1- Obrigada pela entrevista e gostaria de saber o que o senhor achou de dar essa entrevista, sobre o projeto.
R - Apenas eu quero parabenizar o projeto do Museu da Pessoa e desejar que esse trabalho continue por muito tempo, e assim que sair daqui que vá para outros lugares e que continue levantando as nossas histórias, porque é de suma importância para o jovem de amanhã.
P/1- Obrigado.
Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
por Museu da Pessoa
Elenilde Dias Fernandes
por Museu da Pessoa
Yaguarê Yamã (Ozias Glória de Oliveira )
por Museu da Pessoa
Milton Teixeira Santos Filho
por Museu da Pessoa
Gustavo Borges
por Museu da Pessoa
Nelson de Souza Lima
por Nelson de Souza Lima
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