Daniela é uma educadora cheia de energia. Em seu depoimento, gravado nas instalações do Projeto ICA em Mogi Mirim, Daniela nos conta sua infância repleta de brincadeiras. Lembra do período escolar, quando ajudava as professoras na sala de aula. Ao ver alunos do ICA durante um desfile de aniversário da cidade se interessou pelos cursos oferecidos por esta ONG. Assim, aos nove anos, Daniela começou sua trajetória no ICA. Ela descreve os cursos que fez e o interesse cada vez maior por tudo que envolvesse arte, música e principalmente atividades circenses. Ela finalizando refletindo sobre seu papel como educadora e sobre a importância do ICA para a cidade de Mogi Mirim.
Meu nome é Daniela Alessandra dos Santos. Nasci em 5 de abril de 1989, em Mogi Mirim. Meus pais são Edméia Aparecida dos Santos e Celso Ângelo Piconi. Minha mãe nasceu em Itapira, dia 28 de outubro de 1954. Meu pai eu não sei. Minha mãe está quase se aposentando, mas ela era diarista, trabalhava em casa de família mesmo e meu pai não mora com a gente. Então eu não conheço o meu pai, na verdade, ele mora em Campinas então não tive muito contato com ele. Quase nenhum contato com ele. Quando eu era pequena, tinha acho que três anos, ele já foi embora de casa então não tive nem contato. Na verdade eu nunca o vi. Eu também nunca tive interesse em procurar também. Minha mãe falava com ele por carta só, mas ele não assumiu a gente, eu e o meu irmão no caso, então a gente não teve contato. Só a minha mãe criou a gente mesmo. Meu irmão é Daniel Augusto dos Santos. Tem 28 anos, trabalha numa firma como pintor. Minha mãe batalhadora, guerreira, criou eu e o meu irmão sempre sozinha, mas sempre com muita fé, muita garra. O que ela quer ela vai atrás, ela consegue. Mesma coisa eu peguei isso pra mim, eu tive minha mãe como um exemplo na minha vida, porque se ela conseguiu qualquer coisa eu também posso conseguir. E minha mãe é tudo, é a base, está sempre comigo me apoiando, sempre veio assistir minhas apresentações. Está sempre dando conselhos positivos pra mim, mostrando-me que a vida pode ser melhor. Na verdade, eu fiquei muito com a minha avó, morava com ela. Minha avó fazia festa de São Gonçalo que é uma tradição que ela seguiu do pai dela que seguiu do pai dele no caso e ela continuou seguindo essa tradição. Então eu não lembro bem a data que ela fazia essa festa de São Gonçalo, a gente corria atrás de prendas, batia nas casas pra ajudar com comida, essas coisas, pra fazer a festa pra comunidade.
A casa da minha avó era bem grande, tinha o quintal com galinhas, galos, animais em geral. Tinha pé de acerola, de manga, jabuticaba, essas coisas, então sempre vivi assim nesse meio. Minha avó era super animada, eu peguei isso dela também. O nome dela é Josefina Felix dos Santos. Pra mim ela não era brava. Minha mãe disse que ela era bem brava com ela e com os filhos. Ela olhava, todo mundo já parava de fazer o que estava fazendo, prestava atenção nela, mas pra mim ela sempre fez minhas vontades. Eu acho que avó é sempre assim, faz as vontades dos netos. E ela era muito legal, viajava comigo nas ideias, ela meio que era uma criança junto comigo ali, mas quando tinha que me corrigir ela corrigia também. Mas eu achava que minha avó não cresceu assim, ela sempre teve aquela mente, aquela alma de criança, isso que eu mais me identificava com ela por causa disso, entendeu? Uma pessoa superboa, superpopular no bairro, todo mundo conhecia a minha avó por fazer a festa, então acho que ela viveu bem o tempo que ela ficou aqui com a gente.
A gente brincava de tudo, na verdade esconde-esconde era a melhor assim, à noite ainda. Todo mundo, aquela coisa, com medo assim de sei lá, aparecer alguém, acontecer alguma coisa, tal. Mas esconde-esconde era muito bom, a gente brincava de caça ao tesouro também na rua. Uma brincadeira bem bobinha, no final achava uma caneta que era o grande tesouro, que a gente não tinha nada de tão valioso pra colocar. Mas era essa, mais caça ao tesouro e esconde-esconde que eu gostava muito. A gente brincava de taco também, todas essas brincadeiras era tudo misturado menina com menino. Nossa, a gente brincava demais! Muito bom. Brinquedos a gente criava algumas coisas na hora tipo taco, pegava um pedaço de pau, bolinha de tênis, mas eu tinha também o patinete, eu gostava muito, patins também. Primeiro eu queria ser médica, depois eu não queria mais, eu queria ser atriz. Isso aí ficou pro resto da minha vida, que eu queria ser mesmo atriz, quero ser ainda, vamos ver se eu realizo. Mas é isso, eu quero ser atriz, continuo com essa vontade ainda. Foi quando eu vi o desfile do ICA, que aí o ICA começa a entrar na minha vida, quando eu vi o desfile no aniversário da cidade, que foi dia 22 de outubro. Foi em 98 isso. Eu os vi desfilando, aquela criançada toda pintada, com roupas coloridas, pulando pra lá e pra cá, aquele som muito alto, muito legal. Ali eu falei, eu estava junto com a minha mãe ainda, eu falei pra ela: “Mãe, eu quero participar disso. Eu quero ser atriz, eu quero estar junto com eles, com o rosto pintado, com aquela roupa colorida”. Eu acho que foi ali que eu comecei a me identificar com isso, com a arte em geral. Eu tinha oito anos nessa época.
Na escola já foi direto do pré, bem pequenininha. Na verdade eu não lembro muita coisa dessa época, eu sei que eu já fazia bastante bagunça assim, conversava bastante. Eu lembro mais da quarta pra frente. Da quarta série pra frente que eu ajudava a professora porque como eu tinha muita energia então pegava pra ajudar, pra ocupar a cabeça e não ficar atrapalhando os outros. Então eu ajudava, escrevia na lousa, apagava a lousa, entregava os cadernos, entregava os lápis, essas coisas. Sempre estava aqui, na ativa. E depois sétima série, oitava série, eu fui ficando mais calma, mais centrada, não brincava tanto, já estava no ICA também, tinha outros pensamentos, já era mais focada. Mas de lembrança boa assim foi mais na quarta série. Depois ensino médio também não tenho tanta lembrança legal assim e depois a faculdade, que aí é outro nível, é mais focado, mesmo assim a gente brincava um pouco. Tem que ter a diversão senão não tem graça, tem que se divertir também, mas é mais isso mesmo da época de escola assim. Era perto de casa mesmo, eu ia a pé com algum coleguinha ou sozinha mesmo. Bem pertinho de casa mesmo, ia e voltava a pé.
Eu entrei no ICA na verdade com nove anos e fui gostando muito, aproveitando as aulas, envolvi-me com a arte que eu achei que ia ser um complemento, mas eu vejo que é o carro chefe na minha vida, que é o que me move, que é o que me puxa, impulsiona-me pra fazer as coisas. Então eu fui me destacando nas artes, em especial o circo, que é o que eu mais gosto, mas gosto muito de música, teatro e dança, tudo que envolve arte eu estou lá. Me tornei monitora com 16 anos. Eu auxiliava o professor na época. Então aí eu já comecei a ter uma ajuda de custo básica e aí já comecei a ajudar em casa. Foi com 16 anos. Fui me destacando, eu tive vários desafios que era passar dessa fase educanda pra educadora, monitora, quase uma educadora já. Com 18 anos, eu fui registrada aqui no ICA como educadora mesmo e estou até hoje, graças a Deus. Daí com 18 anos já tudo certinho, comecei a tirar a minha carta, consegui, paguei certinho, já tirei minha moto, tenho meu próprio automóvel agora, ajudo em casa, como eu já falei. Então foi a partir dessa época aí que eu comecei a ajudar. Eu conheci o ICA no desfile. Eu acho que foi minha mãe que correu atrás dessa vaga pra mim, que ela queria que eu fizesse alguma coisa diferente. Por mim eu estava bem, não ia ter mudança nenhuma, continua assim. Eu fui pro Educandário e depois eu vim pro ICA, certo, com dez anos. E aconteceu essa história de ter as aulas de arte. Na época era mais reforço mesmo que a gente tinha, tinha aula de bordado, tinha caratê também. Fui fazendo. O que aparecia eu ia fazendo, sempre participativa mesmo, tem que aproveitar, né? Já que eu estava ocupando um espaço a gente tem que dar valor. Então foi bem assim, eu acho que eu aproveitei bastante essa época, tenho muita saudade de ser aluna, mas mesmo assim eu acho que eu fiz meu melhor na época que eu tava aqui como aluna. Foi assim que eu conheci o ICA. O que eu mais me identifiquei, como eu disse, foi o circo e foi quando eu aprendi três bolinhas e quando eu aprendi a tocar flauta na aula de música. Pra mim, nossa, foi o sonho realizado, que eu achava superdifícil chegar a três bolinhas e eu estava ali conseguindo, consegui tocar a minha primeira música na flauta também, foi um sonho maravilhoso. E também os passeios que a gente tinha. Estando no ICA já viajei de avião também, que foi uma coisa, nossa, supermarcante, eu morrendo de medo a primeira vez, fui sozinha.
Eu acho que eu fui descoberta, não fui nem eu que descobri. O educador me chamou, ele me chamou pra fazer um teste pra ser monitora na época. E como eu já me destacava bastante no circo, sempre ajudava, porque o circo é muito amplo, não é só uma coisa, tem malabares, acrobacia, equilíbrio, palhaço, pirâmides, bastante trabalho em grupo, então eu gostava dessa coisa bem dinâmica. Então ele me chamou pra ser monitora, fiquei com medo de aceitar esse desafio, mas aceitei e foi assim que tudo começou. Eu comecei a pesquisar, comecei a ler, correr atrás das coisas, ver vídeos, observar pessoas, assistir apresentações, mas nunca deixei o teatro, a dança, de lado, a música também não. Mas o meu foco mesmo é o circo que foi nessa época que eu comecei a dar aula.
ICA significa Incentivo a Criança e o Adolescente. É uma instituição que atende crianças e adolescentes de dez a 18 anos aqui na sede. Eu sei que as pessoas fazem doações e o Criança Esperança ajuda instituições. É isso que eu sei basicamente. Sempre vi na Globo, passando na televisão e vejo, passam algumas instituições, alguns depoimentos também, das pessoas que são contempladas com esse apoio. É um recurso muito importante porque instituição é movida por doações, então a gente sempre precisa e mais apoios. Então quando vem um apoio desse eu acho que é importante pra manutenção de materiais, comprar materiais novos, melhorar a sede mesmo, construir algumas coisas, dar mais oportunidade pras crianças terem viagens, passeios. Eu acho que vem de uma maneira muito positiva assim porque nunca é demais e é uma causa muito boa, ajudar as crianças que são o futuro da nossa nação. Eu não tenho muito contato, mas eu acredito que o repasse aqui no ICA tenha sido pro projeto Carpe Diem, pras aulas de música, teatro, circo e dança. Eu lembro que compraram mais materiais novos também, melhoraram as salas, a gente foi assistir algumas peças, fomos viajar também. Foi mais pra isso, aquisição de novos materiais, passeios, arrumar alguma sala, alguma coisa. Acho que foi pra isso mesmo. Acho que Mogi Mirim sem o ICA não teria tanta perspectiva de futuro assim, porque as crianças iam fazer o que? Iam fica na rua aprendendo coisa errada. Eu acho que o ICA consegue atender bastante crianças e a ideia é atender a cidade inteira. Acho que quem sai mais ganhando com isso é a comunidade e as crianças como um todo. Sem o ICA não tem assim nada de atrativo pra eles, não tem nada pra fazer, o bairro não oferece, a cidade também não oferece nada de interessante. Então esse apoio eu acho que vem de uma forma positiva e que ajuda muita gente, que as crianças deem valor também, que não adianta só o projeto apoiar e a criançada também não participar. Mas é diferente, o ICA a criançada vem, sim, apoia bastante, a criançada aproveita o que tem. E que continue apoiando porque vale a pena, tem bons frutos, tem bons resultados, certo? Eu acho que está valendo a pena sim. Quando eu era aluna eu mais recebia. Eu só aprendia o que me ensinavam e passando pra monitora e educadora você tem que se doar, você não só aprende pra você, você aprende pra ensinar alguém. Eu acho que esta é a melhor parte, de você poder passar o seu conhecimento, que é uma coisa que eu já fazia, mas não tinha o espaço pra isso, eu fazia como aluna. Hoje eu tenho uma função, acho que é mais uma missão mesmo, porque ser professor não é simples. Você trata com vidas, você lida com vários tipos de alunos, você tem que se colocar no lugar do outro, entender o que ele está passando naquele momento. Nem sempre os alunos vêm bem, tem aqueles alunos mais agitados, às vezes o dia está meio turbulento, às vezes você não está bem, você tem que saber lidar com as suas emoções, lembrar que você está ali pra formar, pra educar, pra ajudar o seu aluno. E eu aprendo muito com eles, eles me ensinam demais. É uma troca, eu ensino, aprendo com eles. Estou sempre disposta a ouvir, a gente além de ensinar a gente dá conselhos também de vida mesmo, como é que você está, como é que está lá em casa? Não é só passar a técnica por passar, é algo além, a gente tem uma amizade além de ser educador. Então eu acho que mudou bem isso a minha visão do ICA, agora eu acho que eu tenho um lugar mesmo que as pessoas me esperam, a criança me espera pra aprender algo novo, pra ouvir um conselho, pra ouvir um oi, pra ouvir um bom dia, um abraço. Acho que isso faz total diferença na vida deles, porque nem sempre em casa tem um abraço da mãe, tem um bom dia do pai. Então a gente está aqui pra isso, além de ensinar ter esse cuidado, esse olhar cuidadoso com os nossos alunos. Me inscrevi na faculdade para pedagogia, fiz vestibular, tudo certinho, passei e graças a Deus fiz os quatro anos, terminei o ano passado.
Histórias de Esperança - 29 anos do Projeto Criança Esperança (HECE)
Paixão pelo circo
História de Daniela Alessandra dos Santos
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 16/11/2014 por Rosali Henriques
Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Daniela Alessandra dos Santos
Entrevistada por Tereza Ruiz
Mogi Mirim, 31/10/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_25
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Primeiro, Dani, fala pra gente o seu nome completo, data e o local de nascimento.
R – Daniela Alessandra dos Santos. Nasci em 5 de abril de 1989, em Mogi Mirim.
P/1 – Agora o nome completo dos seus pais e também data e local de nascimento, se você souber.
R – Edméia Aparecida dos Santos. Celso Ângelo Piconi. Minha mãe nasceu em Itapira, dia 28 de outubro de 1954. Meu pai eu não sei.
P/1 – O que os seus pais fazem profissionalmente?
R – Minha mãe está quase se aposentando já, mas ela era diarista, trabalhava em casa de família mesmo e meu pai não mora com a gente. Então eu não conheço o meu pai, na verdade, ele mora em Campinas então não tive muito contato com ele. Quase nenhum contato com ele.
P/1 – Você falou que não conhece o seu pai, mas vocês nunca chegaram a se encontrar ou seus pais se separaram quando você era pequena? Como é que é essa história?
R – Quando eu era pequena, tinha acho que três anos, ele já foi embora de casa então não tive nem contato. Na verdade eu nunca o vi. Bem na real assim, eu nunca vi meu pai.
P/1 – E vocês chegaram a se falar alguma vez?
R – Não também. Eu também nunca tive interesse em procurar também. Minha mãe falava com ele por carta só, mas ele não assumiu a gente, eu e o meu irmão no caso, então a gente não teve contato. Só a minha mãe criou a gente mesmo.
P/1 – Qual que é o nome do seu irmão?
R – Daniel Augusto dos Santos.
P/1 – E ele é mais novo ou mais velho que você?
R – Tem 28. Mais velho.
P/1 – E o que ele faz, seu irmão?
R – Ele trabalha numa firma. Ele é pintor. Pintor, eu acho.
P/1 – Descreve um pouco como é que a sua mãe é então de personalidade, como é que é o jeito dela.
R – Bom, minha mãe batalhadora, guerreira, criou eu e o meu irmão sempre sozinha, mas sempre com muita fé, muita garra. O que ela quer ela vai atrás, ela consegue. Mesma coisa eu peguei isso pra mim, eu tive minha mãe como um exemplo na minha vida, porque se ela conseguiu qualquer coisa eu também posso conseguir. E minha mãe é tudo, é a base, está sempre comigo me apoiando, sempre veio assistir minhas apresentações. Está sempre dando conselhos positivos pra mim, mostrando-me que a vida pode ser melhor. Essa é a minha mãe.
P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família assim, seus antepassados?
R – Não. Não sei nada.
P/1 – Conta pra gente um pouco como é que é a casa em que você passou a infância, Dani. Como é que era a casa, o bairro?
R – Bom, na verdade eu fiquei muito com a minha avó, morava com ela. Minha avó fazia festa de São Gonçalo que é uma tradição que ela seguiu do pai dela que seguiu do pai dele no caso e ela continuou seguindo essa tradição. Então eu não lembro bem a data que ela fazia essa festa de São Gonçalo, mas eu sempre estava com ela, a gente corria atrás de prendas, batia nas casas pra ajudar com comida, essas coisas, pra fazer a festa pra comunidade. Casa da minha avó era bem grande, tinha o quintal com galinhas, galos, animais em geral. Tinha pé de acerola, de manga, jabuticaba, essas coisas, então sempre vivi assim nesse meio. Minha avó superanimada, eu peguei isso dela também. A rua dela não tinha muita criança, era mais pessoas de idade e na minha rua sim tinha bastantes crianças, a gente brincava de tudo, esconde-esconde, pega-pega, todas essas brincadeiras que hoje as crianças não brincam mais a gente conseguiu aproveitar na nossa infância. Minha rua era demais, aproveitei muito bem a infância, tenho saudade daquele tempo. Hoje em dia não tem tanta criança assim, as crianças ficam mais em casa em computador, tablet, essas coisas, mas a minha infância foi ótima. Minha rua muito boa, maravilhosa mesmo, gostava muito.
P/1 – Como é que era o nome da sua avó?
R – Josefina Felix dos Santos.
P/1 – E como é que ela era? Descreve um pouco ela pra gente, você falou que passou uma boa parte da infância com ela, né?
R – Bom, pra mim ela não era brava. Minha mãe disse que ela era bem brava com ela e com os filhos. Ela olhava, todo mundo já parava de fazer o que estava fazendo, prestava atenção nela, mas pra mim ela sempre fez minhas vontades. Eu acho que avó é sempre assim, faz as vontades dos netos. E ela era muito legal, tipo, viajava comigo nas ideias, ela meio que era uma criança junto comigo ali, mas quando tinha que me corrigir ela corrigia também. Mas eu achava que minha avó não cresceu assim, ela sempre teve aquela mente, aquela alma de criança, isso que eu mais me identificava com ela por causa disso, entendeu? Uma pessoa superboa, superpopular no bairro, todo mundo conhecia a minha avó por fazer a festa, então acho que ela viveu bem o tempo que ela ficou aqui com a gente.
P/1 – Como é que é a festa de São Gonçalo? Conta um pouco.
R – Bom, na verdade São Gonçalo é um santo. Eu não sei muito bem porque eu era bem criança na época, mas eu sei que ele é um santo, não sei o que ele faz pras pessoas, mas deve ser coisa boa. Eu lembro que tinha uma procissão, isso tinha, uma procissão, todo mundo acompanhava, fazia a oração lá na frente e depois tinha catira também, as pessoas dançavam, tocava violão. Eu lembro que era uma coisa muito animada, muito agitada assim e depois tinha os comes e bebes, tinha quentão também. É tipo uma festa junina misturado assim, mais ou menos. E eu lembro que no outro dia tinha o almoço dos anjos, que era o almoço das crianças. Só iam as crianças da comunidade, tinha uma mesona assim grande e a criançada ia tudo lá pra almoçar e passar umas horinhas boas. É isso que eu lembro da festa dela.
P/1 – Qual que era a comunidade?
R – Bom, ali perto de casa mesmo, Mogi Mirim II, aquele bairro ali.
P/1 – Conta um pouquinho pra gente, você falou um pouco das brincadeiras, você tinha uma brincadeira favorita?
R – Deixa-me ver. Bom, a gente brincava de tudo, na verdade esconde-esconde era a melhor assim, à noite ainda. Todo mundo, aquela coisa, com medo assim de sei lá, aparecer alguém, acontecer alguma coisa, tal. Mas esconde-esconde era muito bom, a gente brincava de caça ao tesouro também na rua, entendeu? Uma brincadeira bem bobinha, no final achava uma caneta que era o grande tesouro, que a gente não tinha nada de tão valioso pra colocar. Mas era essa, mais caça ao tesouro e esconde-esconde que eu gostava muito. A gente brincava de taco também, todas essas brincadeiras era tudo misturado menina com menino. Nossa, a gente brincava demais! Muito bom.
P/1 – E brinquedo você tinha assim na infância?
R – Então, brinquedos a gente criava algumas coisas na hora tipo taco, pegava um pedaço de pau, bolinha de tênis, mas eu tinha também o patinete, eu gostava muito, patins também.
P/1 – Então só se puder retomar pra gente, Dani, os brinquedos você tava citando, se puder voltar nisso.
R – Sim. Os brinquedos sempre tava na modinha assim, então eu tinha patinete, aí todo mundo tinha patinete, patins também quando era época de patins também tinha. Carrinho de rolimã também a gente tinha na época e alguns brinquedos improvisados tipo taco, era um pedaço de pau e a bolinha de tênis, entendeu? E algumas brincadeiras tipo pega-pega que não tinha brinquedo, brincava assim com o que tinha na hora. Mas eram mais esses que eu mais gostava, patinete e patins, carrinho de rolimã também.
P/1 – Você lembra na infância o que você queria ser quando crescesse?
R – Lembro. Na verdade eu queria ser bastante coisa, né? Primeiro eu queria ser médica, depois eu não queria mais, aí eu queria ser atriz. Aí isso aí ficou pro resto da minha vida, que eu queria ser mesmo atriz, quero ser ainda, vamos ver se eu realizo. Mas é isso, eu quero ser atriz, continuo com essa vontade ainda.
P/1 – E você lembra quando é que você teve essa ideia assim pela primeira vez, quero ser atriz, e por quê?
R – Bom, foi quando eu vi o desfile do ICA, que aí o ICA começa a entrar na minha vida, quando eu vi o desfile no aniversário da cidade, que foi dia 22 de outubro. Foi em 98 isso. Eu os vi desfilando, aquela criançada toda pintada, com roupas coloridas, pulando pra lá e pra cá, aquele som muito alto, muito legal. Ali eu falei, eu estava junto com a minha mãe ainda, eu falei pra ela: “Mãe, eu quero participar disso. Eu quero ser atriz, eu quero estar junto com eles, com o rosto pintado, com aquela roupa colorida”. Eu acho que foi ali que eu comecei a me identificar com isso, com a arte em geral.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Eu tinha oito anos nessa época.
P/1 – E da escola, Dani? Quais são as primeiras lembranças que você tem da escola? Que idade você tinha quando você começou a frequentar? Como é que era essa escola?
R – Na escola já foi direto do pré, bem pequenininha. Na verdade eu não lembro muita coisa dessa época, eu sei que eu já fazia bastante bagunça assim, conversava bastante. Mas na primeira série... Eu lembro mais da quarta pra frente. Da quarta série pra frente que eu ajudava a professora porque como eu tinha muita energia então pegava pra ajudar, pra ocupar a cabeça e não ficar atrapalhando os outros. Então eu ajudava, escrevia na lousa, apagava a lousa, entregava os cadernos, entregava os lápis, essas coisas. Sempre estava aqui, na ativa. Gostava muito, tem até uma professora minha, Ana Maria, que ela, nossa, foi meu exemplo assim de vida, entendeu? Como na quarta série antigamente a professora ficava com todas as matérias, então tinha o dia inteiro com ela assim, o tempo inteiro com ela. Então era muito bom, tinha bastante amizade também. Na sala a gente rodava pião na sala, teve uma época de rodar pião também, aí ela liberava um pouquinho no final da aula pra gente rodar pião no fundo. Brincava de tudo assim também. Uma professora demais, a turma colaborava também. Eu fazia minhas bagunças, mas nada muito extremo, eram coisas saudáveis assim, era mais conversar demais mesmo. E depois sétima série, oitava série, aí eu fui ficando mais calma, mais centrada, não brincava tanto, já estava no ICA também, tinha outros pensamentos, já era mais focada. Mas de lembrança boa assim foi mais na quarta série. Depois ensino médio também não tenho tanta lembrança legal assim e depois a faculdade, que aí é outro nível, é mais focado, mesmo assim a gente brincava um pouco. Tem que ter a diversão senão não tem graça, tem que se divertir também, mas é mais isso mesmo da época de escola assim.
P/1 – Como é que você ia e voltava pra escola?
R – Era perto de casa mesmo, eu ia a pé com algum coleguinha ou sozinha mesmo. Bem pertinho de casa mesmo, ia e voltava a pé.
P/1 – E nessa mesma escola você fez todo o seu ensino básico?
R – Não. Na verdade, não. Eu fiz do primeiro acho que a terceira série numa escola aqui, Piccolomini, depois eu fui lá no meu bairro que se chamava Peres Marques a escola, aí eu fiz da quinta a oitava e o ensino médio eu fiz no Valério que também é perto de casa. Só aqui na primeira, segunda, terceira série que eu fiz nessa escola longe do meu bairro, mais no centro, aí eu ia de ônibus com a minha mãe.
P/1 – E na mudança assim da infância pra adolescência o que mudou na sua vida assim em termos de hábito, diversão, lazer, grupo de amigos? O que se transformou assim?
R – Bom, acho que é mais responsabilidade, né? Aumentou assim, tomar conhecimento das coisas, saber o valor das coisas. Porque antes minha mãe me dava tudo, na medida do possível, claro, e hoje eu entendo que nem tudo é fácil, que a gente tem que trabalhar pra conseguir, que as coisas são caras, que a gente tem que dar valor no que a gente faz também pra ser valorizado. Então é uma mudança radical, mas eu acho que o meu lado criança eu nunca perdi assim, essa coisa de ver o lado bom da vida, de se divertir mesmo, está tudo difícil, mas vamos ver alguma coisa boa nisso, vamos tentar pensar positivo pelo menos pra não ficar tão mal. Porque problema todo mundo tem, eu acho que isso é normal, mas a gente ficar movido por eles eu acho que não é a melhor forma, entendeu? Então eu acho que é mais isso, o meu lado de acreditar, meu lado criança de ser continua mesmo com 25 anos. Eu acho que vai continuar pra sempre, essa é minha marca assim registrada. Mas, claro, tem a responsabilidade, tem a hora séria e tem a hora de brincar. Então eu acho que eu aprendi isso, antes eu só brincava, agora eu sei os momentos que eu tenho que fazer tal coisa.
P/1 – E quando você entrou na adolescência assim mudou alguma coisa em termos de lazer? Você passou a sair com amigos, sair pra dançar, sair pra um bar, cinema? O que você fazia pra se divertir?
R – Ah, sim. Na verdade minha mãe sempre confiou em mim então desde pequena com 12 anos eu já podia pousar na casa dos meus amigos, das minhas amigas. Então sempre foi muito normal isso, mas aí com mais idade, aos 18 anos, já ia pra balada, churrasco com os amigos, fazia chácara, a gente pousava lá, entendeu? Bem mais liberal, mas claro, com responsabilidade. Sempre avisei minha mãe pra onde eu estou indo, isso aí acho que eu sempre vou fazer. Não custa avisar pra ela sempre ficar sabendo onde eu estou. Mas mudou sim, mudou nisso de poder sair, ter o meu dinheiro, agora eu trabalho, pago minhas contas, posso fazer minhas compras sem depender da minha mãe. Hoje eu ajudo a minha mãe, né? Antes ela comprava tudo pra mim. Eu ajudo em contas em casa, às vezes ela está sem dinheiro, eu tenho eu dou pra ela. Agora é uma mão lava a outra, antes ela só me ajudava, agora uma ajuda a outra. Isso que mudou.
P/1 – Antes de você terminar o curso superior, durante o ensino básico você trabalhava também ou você só estudava?
R – Então, eu entrei no ICA na verdade com nove anos e fui gostando muito, aproveitando as aulas, envolvi-me com a arte que eu achei que ia ser um complemento, mas eu vejo que é o carro chefe na minha vida, que é o que me move, que é o que me puxa, impulsiona-me pra fazer as coisas. Então eu fui me destacando nas artes, em especial o circo, que é o que eu mais gosto, mas gosto muito de música, teatro e dança, tudo que envolve arte eu estou lá. Então eu fui me destacando, aproveitando cada oportunidade e me tornei monitora com 16 anos. Eu auxiliava o professor na época. Então aí eu já comecei a ter uma ajuda de custo básica assim, e aí eu já comecei a ajudar em casa. Foi com 16 anos. Aí eu fui me destacando, eu tive vários desafios que era passar dessa fase educanda pra educadora, monitora, quase uma educadora já. Tinha os conflitos porque eu estava na bagunça com os meus amigos, de repente eu estava chamando atenção deles, então eu tinha que pensar: “Nossa, agora eu não sou aluna mais. Eu tenho outra responsabilidade”. Isso foi um pouco doloroso porque você tem que ser exemplo e ser exemplo não é tão fácil, numa época com 16 anos você está lá naquela agitação, mas aí eu já comecei a me policiar, melhorar meus comportamentos. E com 18 anos, aí sim eu fui registrada aqui no ICA como educadora mesmo e estou até hoje, graças a Deus. Daí com 18 anos já tudo certinho, comecei a tirar a minha carta, consegui, paguei certinho, já tirei minha moto, tenho meu próprio automóvel agora, ajudo em casa, como eu já falei. Então foi a partir dessa época aí que eu comecei a ajudar.
P/1 – E você lembra assim com a primeira ajuda de custo ou os salários que você recebeu, se você comprou assim alguma coisa que você quisesse muito ou se teve uma compra que tenha sido mais significativa? Como é que você gastou assim os seus primeiros salários?
R – Bom, como eu entrei, também depois de um tempo entraram alguns amigos meus como monitores, todo dia que a gente recebia assim, todo dia 5 de cada mês, a gente ia ao Amazonas, que é uma lanchonete, comprava um suco e um salgado assim. Só que é a lanchonete mais top assim da cidade, entendeu? Então a gente garantia esse dinheirinho pra ir lá já garantir, porque depois ia acabar o dinheiro. Então a gente ia lá e comprava, todo mês estava lá firme e forte comprando. E depois eu lembro, eu acho que meu dinheiro todo ia pra pagar carta mesmo, que era bem baratinho assim na época, acho que era cem reais por mês, uma coisa assim. Então acho que eu fazia isso mesmo, eu comprava lá na lanchonete com eles e depois pagava a minha carta e o que sobrava, sei lá, eu comprava coisas básicas assim, salgadinho, Danone, essas coisas simples. Eu me lembro disso.
P/1 – Vou voltar um pouquinho então pra quando você entrou no ICA, queria saber assim se você lembra quando que você conheceu o ICA, primeira vez que você soube da existência do ICA e como é que você se aproximou e se inscreveu. Como é que foi o começo assim aqui como aluna?
R – Então, eu conheci o ICA no desfile, né? Até então não tinha ouvido falar do ICA, eu sempre ficava na rua mesmo brincando e minha mãe trabalhava. Não tinha essa pretensão de entrar em alguma organização, de ter um futuro diferente. Achava que, sei lá, eu ia crescer, no máximo que eu pensava pra mim é ser caixa de supermercado e comprar um carro. Tava bom, tava ótimo. Mas aí eu conheci na verdade o Educandário, que é outra organização que atende as crianças com a faixa etária abaixo, eu acho que é de cinco até nove anos e depois você vem pro ICA. Então quando você entrava no Educandário sua vaga estava garantida aqui quando você completasse os dez, nove anos. Então foi isso que aconteceu comigo, eu entrei com oito no Educandário, fiquei um aninho só e minha vaga já tava garantida, aí eu vim pro ICA. Mas minha mãe, eu acho que foi minha mãe que correu atrás dessa vaga pra mim, que ela queria que eu fizesse alguma coisa diferente. Por mim eu estava bem, não ia ter mudança nenhuma, continua assim. Aí eu fui pro Educandário e depois eu vim pro ICA, certo, com dez anos. E aí aconteceu essa história aí de ter as aulas de arte. Na época era mais reforço mesmo que a gente tinha, tinha aula de bordado, tinha caratê também. Fui fazendo. O que aparecia eu ia fazendo, sempre participativa mesmo, tem que aproveitar, né? Já que eu estava ocupando um espaço a gente tem que dar valor. Então foi bem assim, eu acho que eu aproveitei bastante essa época, tenho muita saudade de ser aluna, mas mesmo assim eu acho que eu fiz meu melhor na época que eu tava aqui como aluna. Foi assim que eu conheci o ICA.
P/1 – E nessa experiência ainda como aluna, antes de você se tornar monitora e depois educadora, tem algum momento assim ou algum episódio, uma situação que você tenha vivido que tenha sido marcante assim? De repente um momento que você decidiu que queria trabalhar com arte, se teve alguma situação que tenha sido marcante pra você.
R – Deixa-me ver.
P/1 – Uma experiência, uma vivência.
R – Nossa, aconteceu tanta coisa. Mas eu acho que eu sempre tive essa coisa de ensinar, eu queria, eu observava o professor mesmo sem ter pretensão de ser educadora um dia, eu observava como que ele ensina, como a pessoa aprende, como que eu ensinaria se eu tivesse a frente. Eu sempre tivesse esse pensamento um pouquinho a frente assim, uma visão além. Mas eu acho que os professores que eu tive me impulsionaram, eles sempre me pegavam pra ajudar, ajudante do dia, pegavam-me como exemplo. Eu sempre estava ali na frente mostrando algum exercício pra alguém, ajudando os meus amigos quando eu terminava a atividade primeiro. Eu acho que foi isso, essas oportunidades que eu fui tendo assim pra despertar esse gosto por ser educadora mesmo. Os professores me mostraram que é uma carreira boa, que é uma profissão legal de ser. Eu acho que eu fui pegando gosto por isso.
P/1 – E teve alguma descoberta assim nesse seu tempo como educanda no sentido assim, coisas que você não conhecia e que passou a conhecer? O que mudou assim no seu...
R – Na verdade eu não tinha contato com nada disso, então tudo foi novo pra mim. Tudo mesmo. Mas o que eu mais me identifiquei, como eu disse, foi o circo e foi quando eu aprendi três bolinhas e quando eu aprendi a tocar flauta na aula de música. Pra mim, nossa, foi o sonho realizado, que eu achava superdifícil chegar a três bolinhas e eu estava ali conseguindo, consegui tocar a minha primeira música na flauta também, foi um sonho maravilhoso. E também os passeios que a gente tinha. A gente ia pra museus, a gente já foi pra Broadway assistir teatros, a gente ia num restaurante aqui perto também, porque a gente aprendia a comer de garfo e faca no ICA, até então em casa eu comia só de colher. Isso foi importante pra mim, uma coisa simples, mas eu acho que mudou ali. Comecei a ter mais postura na hora de comer, garfo e faca, sentadinha, e a gente ia lá no restaurante pra colocar isso em prática. Então eu já sabia comer no restaurante, nossa, eu me sentia importante, estou no restaurante com outras pessoas, realmente estou vivendo isso, não é só fantasiando ou simulando no ICA, eu estava lá realmente vivendo. E os passeios, aprendi a me comportar em cada local, que a gente tem que ter um tipo de comportamento, nas viagens também de ônibus, a dividir os lanches, certo, a hora de ficar em silêncio, vamos todo mundo dormir, colaborar. Foi tudo descoberta porque até então eu não tinha viajado pra muitos lugares. Estando no ICA já viajei de avião também, que foi uma coisa, nossa, supermarcante, eu morrendo de medo a primeira vez, fui sozinha. Mas eu já viajei...
P/1 – Como é que foi essa primeira viagem de avião?
R – A primeira vez foi pro Rio de Janeiro, mas aí eu já tava... Minto. Foi em Goiânia a primeira vez, foi em Goiânia, uma formação de educadores, aí eu já era educadora mesmo. E depois eu viajei pro Rio de Janeiro e depois pra Pernambuco. Tudo assim como educadora. Até então eu não tinha vivido isso, eu não sabia se eu ia viver um dia e aí com a oportunidade que eu tive aqui eu consegui viver essa experiência. Então muita coisa nova eu consegui aprender sim.
P/1 – E dessas viagens e desses passeios teve algum que tenha ter marcado em especial?
R – Eu acho que foi assim vários, com certeza, mas acho que a Broadway, quando eu assisti A Bela e A Fera lá. Eu já tenho essa vontade de ser atriz, aí eu vejo as pessoas lá cantando, dançando, atuando, nossa, a vontade só aumentou, entendeu? E até hoje eu tenho a vontade de apresentar na Broadway, espero conseguir fazer testes, levar muitos nãos, mas depois conseguir, é uma oportunidade. Acho que a Broadway, toda vez que eu vou lá eu me vejo no palco, eu viajo assim. Pra mim a Broadway marca bastante.
P/1 – E quando é que você decidiu assim, você disse que hoje você tem mais contato com o circo, como educadora, quando é que você percebeu que tinha uma afinidade maior com o circo e resolveu se direcionar mais pra essa área?
R – Bom, eu acho que eu fui descoberta, não fui nem eu que descobri. O educador me chamou, ele me chamou pra fazer um teste pra ser monitora na época, entendeu? E como eu já me destacava bastante no circo, sempre ajudava, porque o circo é muito amplo, não é só uma coisa, tem malabares, acrobacia, equilíbrio, palhaço, pirâmides, bastante trabalho em grupo, então eu gostava dessa coisa bem dinâmica. Então ele me chamou pra ser monitora, fiquei com medo de aceitar esse desafio, mas aceitei e foi aí que tudo começou. Aí eu comecei a pesquisar, comecei a ler, correr atrás das coisas, ver vídeos, observar pessoas, assistir apresentações, mas nunca deixei o teatro, a dança, de lado, a música também não. Mas o meu foco mesmo é o circo que foi nessa época que eu comecei a dar aula.
P/1 – E você tem alguma admiração por algum grupo específico ou pelo trabalho de alguém nessa área artística no circo?
R – Então, acho que pra todo mundo que faz circo ou pra maioria é o Cirque du Soleil, que é um top dos tops. Também já fui acho que cinco vezes assistir. Foi uma viagem muito marcante também. Eu tenho o Soleil como algo assim que eu me inspiro, tanto nas maquiagens, nas roupas, na forma que eles fazem, no lúdico, nas ideias, na mensagem que eles passam. Espero um dia conseguir chegar nesse nível ou ter essas ideias que eles têm pelo menos, mas eu me inspiro bastante neles assim, até pros meus próprios alunos eu falo bastante, as maquiagens a gente tenta basear neles, também criar as nossas. Mas eu acho que é o Soleil mesmo que é o mais top assim pra mim.
P/1 – Você citou música também, que você gosta de ouvir?
R – Música, na verdade eu toquei na banda, comecei tocando flauta como todo mundo, ganhava uma flauta, levava pra casa, tocava no ônibus, tocava na rua, tocava na calçada, o vizinho xingava, tinha que parar, eu continuava tocando. Mas eu estava lá todo momento estudando. E toquei trompete também na banda, que foi o instrumento que eu mais me identifiquei assim, por já tocar a flauta eu fui pro trompete. E hoje eu escuto todo tipo de música. Agora também dou aula de musicalização numa outra escola pra educação infantil. Então achei que nunca ia me dar futuro a música e estou aí atuando também com a música na educação infantil. A gente faz apreciação, eu mostro alguns tipos de músicas pra eles, eles tocam alguns instrumentos disponíveis na escola. Então eu estou com contato direto com a música, estou estudando bastante também pra ensinar, que é diferente do que estudar pra si, mas também está valendo a pena, estou gostando muito. E toco também aqui no ICA quando tem alguma apresentação, alguma coisa eu sempre estou lá envolvida.
P/1 – E o que você acha que mudou na sua vida, Dani, a partir do seu contato com o ICA? O que mudou no seu dia a dia? O que mudou em termos de perspectiva?
R – Bom, minha vida começa acho que quando eu entro no ICA, que é algo que, sei lá, mostra-me um futuro diferente que até então, como eu disse, eu não tinha muito perspectiva de vida. Eu tinha dificuldade pra trabalhar em grupo, sim, não conseguia me expor, falar o que eu estava pensando, eu não tinha opinião própria. Tudo que você me perguntava eu falava não sei, pergunta pra outra pessoa, não tinha muito essa autonomia pra falar. Desenvolveu minha autonomia, hoje eu tenho sonhos, busco realizar, tenho vontades, quero correr atrás, certo? Sou uma pessoa diferente, acho que eu sou mais feliz assim, tenho mais perspectiva de futuro, tenho visão de futuro, quero ser alguém mais do que eu sou hoje, busco. Eu acho que mudou também na minha organização, eu planejo minhas aulas, eu gosto de estar tudo certinho, ter o domínio do que eu estou fazendo, né? Se alguém me perguntar alguma coisa eu tento ter a resposta, se eu não tenho eu busco e depois eu respondo. Como trabalhar em grupo eu também acho que é muito difícil, na faculdade foi um pouquinho difícil, mas por eu estar no ICA eu me destacava nesse ponto. Redações, por eu ter feito teatro, também me destacava nisso. Circo também ajuda na imaginação da gente. Os trabalhos que eu fazia na faculdade sempre levava um pouquinho da arte, esse é o meu diferencial na faculdade. Então eu acho que é bem isso assim, mudou muita coisa na minha vida, hoje eu sou mais feliz mesmo, sou mais criativa, eu busco, tenho vontade. Quero melhorar a cada dia, eu gosto de desafios, tudo que me desafia eu to lá tentando, buscando, batalhando. E tento passar isso pros meus alunos, pra que eles tenham essa garra, essa força pra conseguir realizar o que eles querem.
P/1 – Explica pra gente um pouco o que é o ICA em termos gerais assim. O que significa ICA e com o que o instituto trabalha?
R – ICA significa Incentivo a Criança e o Adolescente. É uma instituição que atende crianças e adolescentes de dez a 18 anos aqui na sede. Na verdade o ICA se descentralizou, então tem alguns ICAs nos bairros, que aí começam a atender de seis anos até os 15, mais ou menos, 16. Agora o ICA tá bem grande, não é só mais aqui. Então a criançada faz assim, eles vão na escola de manhã e vêm pro ICA à tarde. E ao contrário também, vão à escola à tarde e vêm pro ICA de manhã. E aqui a gente tem aula de circo, teatro, música e dança, tem o apoio escolar também que ajuda nas lições de casa, os cuidados com o corpo, a higiene, tem aulas de etiqueta, como se comportar num restaurante, como segurar o garfo e a faca, essas coisas. Então eles vêm pra cá e aprendem diversas e variadas coisas assim no dia a dia, entendeu? O ICA acho que muda muitas vidas mesmo, quem entra aqui sai totalmente diferente. Nem todos conseguem chegar a serem educadores, mas os que saem têm uma profissão legal lá fora, veem o mundo de outra forma. A maioria das crianças mora em bairros com situação de risco, então aqui é o único lugar que eles são olhados, independente das dificuldades, das aparências, eles são olhados como ser humano, que podem mudar de vida, que podem ser outra pessoa, podem ser melhores. Acho que aqui eles têm um espaço no mundo, como eu tive assim, que eu achava que eu era só mais uma, hoje eu vejo que não, sou uma pessoa diferente que tem um espaço no mundo, que pode conseguir o que quer. Eu acho que é essa a mensagem que o ICA passa pra cada aluno que passa por aqui.
P/1 – Eu queria falar um pouquinho da relação com o Criança Esperança. Primeiro eu queria saber assim o que você sabe, o que você conhece do projeto, do Criança Esperança. É uma resposta bem pessoal mesmo, assim o que você, Dani, conhece, sabe sobre o Criança Esperança, desde quando você conhece o projeto, o que você sabe sobre o projeto.
R – Então, na verdade eu não sei muita coisa do Criança Esperança, não. Eu sei que as pessoas fazem doações e o Criança Esperança ajuda instituições. É isso que eu sei basicamente. Sempre vi na Globo, passando na televisão e vejo, passam algumas instituições, alguns depoimentos também, das pessoas que são contempladas com esse apoio. Mas é mais isso que eu sei mesmo, que é um projeto que ajuda as instituições.
P/1 – E qual que você acha que é a importância desse recurso que é direcionado do Criança Esperança pras instituições?
R – Ah, é um recurso muito importante porque instituição é movida por doações, então a gente sempre precisa e mais apoios. Então quando vem um apoio desse eu acho que é importante pra manutenção de materiais, comprar materiais novos, melhorar a sede mesmo, construir algumas coisas, dar mais oportunidade pras crianças terem viagens, passeios. Eu acho que vem de uma maneira muito positiva assim porque nunca é demais, ajuda pra instituições nunca é demais e é uma causa muito boa, ajudar as crianças que são o futuro aí da nossa nação. Eu acho que é um apoio bem positivo que ajuda bastante.
P/1 – Aqui no ICA você sabe como é que foi usado o recurso do Criança Esperança que foi direcionado pra instituição? Não sei se você tem contato com isso.
R – Eu não tenho muito contato, mas eu acredito que tenha sido pro projeto Carpe Diem, pras aulas de música, teatro, circo e dança. Eu lembro que compraram mais materiais novos também, melhoraram as salas, a gente foi assistir algumas peças, fomos viajar também. Foi mais pra isso, aquisição de novos materiais, passeios, arrumar alguma sala, alguma coisa. Acho que foi pra isso mesmo.
P/1 – E assim, pensando na sociedade de uma maneira geral, qual que você acha que é a importância de um projeto como o Criança Esperança e dessas instituições com projeto social como é o caso do ICA?
R – Acho que Mogi Mirim sem o ICA não teria tanta perspectiva de futuro assim, porque as crianças iam fazer o que? Iam fica na rua aprendendo coisa errada. Eu acho que o ICA consegue atender bastante crianças e a ideia é atender a cidade inteira. Então o apoio do Criança esperança só apoia o ICA pra apoiar a comunidade. Uma mão lava a outra. Acho que quem sai mais ganhando com isso é a comunidade e as crianças como um todo. Sem o ICA não tem assim nada de atrativo pra eles, não tem nada pra fazer, o bairro não oferece, a cidade também não oferece nada de interessante. Então esse apoio eu acho que vem de uma forma positiva e que ajuda muita gente, que as crianças deem valor também, que não adianta só o projeto apoiar e a criançada também não participar. Mas é diferente, o ICA a criançada vem, sim, apoia bastante, a criançada aproveita o que tem. E que continue apoiando porque vale a pena, tem bons frutos, tem bons resultados, certo? Eu acho que está valendo a pena sim.
P/1 – Queria falar um pouquinho assim sobre a mudança da sua visão sobre o projeto e a sua relação com o ICA de uma maneira geral quando você se torna educadora. Que você fez esse percurso, aluna, monitora, educadora, como é que é ser educadora no ICA? Qual que é a sua função aqui? O que mudou na sua visão do trabalho do projeto?
R – Quando eu era aluna eu mais recebia. Eu só aprendia o que me ensinavam e aí passando pra monitora e educadora aí você tem que se doar, você não só aprende pra você, você aprende pra ensinar alguém. Eu acho que aí que está a melhor parte assim, de você poder passar o seu conhecimento, que é uma coisa que eu já fazia, mas não tinha o espaço pra isso, eu fazia como aluna. Hoje eu tenho uma função, acho que é mais uma missão mesmo, porque ser professor não é simples, né? Você trata com vidas, você lida com vários tipos de alunos, você tem que se colocar no lugar do outro, entender o que ele está passando naquele momento. Nem sempre os alunos vêm bem, tem aqueles alunos mais agitados, às vezes o dia está meio turbulento, às vezes você não está bem, você tem que saber lidar com as suas emoções, lembrar que você está ali pra formar, pra educar, pra ajudar o seu aluno. E eu aprendo muito com eles, eles me ensinam demais. É uma troca, eu ensino, aprendo com eles. Estou sempre disposta a ouvir, a gente além de ensinar a gente dá conselhos também de vida mesmo, como é que você está, como é que está lá em casa? Não é só passar a técnica por passar, é algo além, a gente tem uma amizade além de ser educador. Então eu acho que mudou bem isso a minha visão do ICA, agora eu acho que eu tenho um lugar mesmo que as pessoas me esperam, a criança me espera pra aprender algo novo, pra ouvir um conselho, pra ouvir um oi, pra ouvir um bom dia, um abraço. Acho que isso faz total diferença na vida deles, porque nem sempre em casa tem um abraço da mãe, tem um bom dia do pai. Então a gente está aqui pra isso, além de ensinar ter esse cuidado, esse olhar cuidadoso com os nossos alunos.
P/1 – Como educadora assim teve alguma situação marcante que você tenha vivido com os seus alunos?
R – Deixa-me ver. Tem uma situação que a gente estava falando sobre bullying, a gente estava lendo uma entrevista na revista lá, a gente fez uma roda, vamos conversar um pouquinho sobre isso, quem sofreu bullying e tal, o que é o bullying e tal. E as crianças começaram a falar várias coisas, aí teve uma menininha que comentou que ela tinha perdido os pais e ela sofreu bullying na escola por isso, xingavam ela: “Você não tem pai. Você não tem mãe”. Ela chorava muito por causa disso, ela ficava mal, não queria ir mais pra escola, entendeu? Mas ela conseguiu passar, superou esse momento e aquele dia era a primeira vez que ela conseguia falar disso de novo, depois de três anos que os pais tinham falecido. Aquele dia eu chorei, eu não aguentei, foi muito emocionante pra mim, olha o valor que a gente tem na vida da criança, ela se sentiu a vontade pra falar disso e ninguém deu risada, ninguém tirou sarro, todo mundo ouviu. Criança de dez anos e eu estava ali mediando aquela situação aí todo mundo me abraçou: “Dani, não fica assim não. Calma. Está tudo bem”. Mas eu falei: “Gente, calma, eu não estou triste. É só uma emoção do momento”. Eu falei, nossa, olha o valor que eu tenho, a referência que eu sou na vida deles. Foi muito marcante esse dia pra mim, que ela conseguiu falar de um sentimento doloroso, porque não é muito fácil falar, uma criança de dez anos perder os pais. Foi importantíssimo aquele dia pra mim.
P/1 – Quando você decidiu que você ia fazer faculdade de Pedagogia, Dani? Como é que foi essa decisão assim? Qual foi o momento da decisão?
R – Na verdade a Tarcísia, que é a presidente, ela sempre me tratou assim como uma filha me dando conselhos, apontando-me caminhos, dando direções. E aí ela chegou e conversou: “E aí? Vai fazer uma faculdade? Como que vai ser? 18 anos, terminou os estudos”. Sempre aqui me alertando. Eu não tinha muita pretensão de fazer até então. Ela me falou sobre pedagogia, você é professora, que você vai ensinar, que você vai melhorar sua didática, sua forma de passar o conhecimento, você vai ter mais organização, vai ter planejamento. Falei bom, se ela sempre me deu conselhos bons até hoje, tenho certeza que esse também vai ser. E aí me inscrevi na faculdade, fiz vestibular, tudo certinho, passei e aí graças a Deus fiz os quatro anos, terminei o ano passado e agradeço até hoje por ela ter me dado essa dica. Porque a minha mãe não tem estudo, ela foi até a quarta série só, não tem essa visão, então não é por mal que ela não me falou, ela não me falou porque não tem mesmo o conhecimento. E a Tarcísia, a Cisa me fez esse papel de mãe e me deu essa dica. Eu acatei, corri atrás, ela disse: “Não vai ser fácil, mas o que você precisar estamos aí pra dar uma ajuda”. E foi. Foi bem isso que aconteceu. Consegui terminar a minha faculdade e hoje estou aí. Pretendo já fazer mais duas mais pra frente, que é de artes cênicas e educação física, agora eu não quero parar de estudar mais que eu gostei muito, foi uma boa escolha. E tenho certeza, melhorei muito como educadora, demais assim. Tenho mais conhecimento, claro, tenho muita coisa pra aprender, porque a gente aprende bastante coisa na experiência, né? Mas a parte teórica assim busco estudar, saber o que eu to fazendo pra estar bem informada da minha função, do meu dia a dia.
P/1 – Como é que foi a experiência na faculdade?
R – Um mundo novo totalmente. Porque escola você levava meio... Não levava muito a sério: “Ah, é escola mesmo. Vou faltar hoje, amanhã eu pego a matéria”. Faculdade não. Faltou um dia, nossa Senhora, você tem que correr atrás porque ninguém quer passar nada pra você, é cada um por si. É um mundo assim meio egoísta, ou você vai, tira a sua nota, ou ninguém vai te ajudar. E minha sala era bem assim, a maioria tudo mulher, uma falava mal da outra, tinha essa coisa, mas graças a Deus eu não envolvia com isso, fazia as minhas coisas. Tinha um amigo meu também que é educador, o Gleisson, a gente fazia aula juntos, só ele de homem na faculdade. Então faculdade pra mim foi isso, sempre buscava tirar nota boa, a gente meio que competia um com o outro pra ver quem tirava nota melhor, era um estímulo pra gente sempre correr atrás e melhorar. Então tirava nota boa sim, corria atrás, quando ficava com nota baixa ficava triste, mal com isso, mas depois tentava superar. Mas a faculdade foi um lugar diferente assim, eu gostei muito, mas no último ano foi bem complicado, tinha muita coisa pra entregar, trabalhos, estágios. Foi uma experiência assim gostosa ao mesmo tempo estressante. Mas enfim, acabou, deu tudo certo.
P/1 – Eu vou encaminhar pro final da nossa entrevista, só quero perguntar, fazer mais uma pergunta pessoal e depois a gente vai pras três perguntas finais, tudo bem? Queria saber se nesse tempo todo assim de adolescência, agora esse início de vida adulta mesmo, se no aspecto, no lado afetivo teve alguém importante na sua vida, um namoro, uma paixão, alguém que tenha marcado.
R – Na verdade teve sim. Várias pessoas passaram pela minha vida, mas um namorado que me marcou mesmo foi o Douglas, que ele também foi aluno daqui, a gente se conheceu aqui, ele também se tornou educador, monitor, educador e aí rolou um clima, tal, e a gente começou a se relacionar. Namoramos aí uns dois anos eu acho, mais ou menos, mas aí as diversidades da vida, não deu certo, cada um tinha um pensamento, eu tinha uma visão um pouco mais ampla. Então acabou não dando muito certo, mas eu acho que eu aproveitei bastante o tempo que a gente esteve juntos. Eu acho que foi o mais marcante. Os outros foram namorinhos de criança, nada muito especial pra mim. Mas ele foi sim, hoje a gente quase não se vê mais, mas acho que ele está bem, eu também estou bem com isso, tá tudo bem resolvido, graças a Deus. Eu sou uma pessoa assim, eu gosto de resolver as coisas internas, porque ficar levando só vai piorar ainda mais a situação, a gente não consegue viver. Então hoje estou bem, graças a Deus, estou feliz como eu estou, saio, vou pras baladas ainda, curto minha vida tranquilinha. No outro dia tem que trabalhar cedo a gente está aqui firme e forte. Trabalho e diversão também, senão só trabalhar a gente não consegue viver, né?
P/1 – Vou encaminhar pras perguntas finais então. Antes de fazer as duas últimas perguntas queria saber se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado e que você gostaria de falar. Qualquer coisa.
R – Deixa-me ver. Bom, acho que você perguntou bastante coisa assim.
P/1 – Uma coisa que você acha que ficou de fora, às vezes uma história que você gostaria de contar.
R – Eu acho que... Eu não sei se tem muito a ver, mas eu pretendo crescer muito na vida assim, realizar os meus sonhos e um dia poder ajudar o ICA. Ser doadora também, sei lá, de alguma forma, ou com o meu trabalho, ou com dinheiro, ou com alguma coisa que eu possa retribuir tudo que eu fiz, tudo que eu aprendi aqui. Acho que foi muito mágico, está sendo ainda, mas foi muito mágico tudo que eu vivi aqui, que eu vivo até hoje. Eu espero retribuir de alguma forma pra ajudar mais crianças. Então acho que é um sonho meu, uma vontade que eu tenho. Espero ser atriz também, conseguir realizar esse sonho aí, fazer novelas, fazer teatro, estar na Broadway um dia, poder dar uma entrevista novamente falando consegui, estou aqui hoje, estou ajudando o ICA. Acho que é mais isso mesmo.
P/1 – A minha penúltima pergunta tem tudo a ver com que você falou agora que é quais são os seus sonhos. Não sei se você quer acrescentar, você já falou um pouquinho disso, se quer acrescentar mais alguma coisa.
R – Ah, meus sonhos são esses mesmos que eu te falei. Fazer faculdade de Educação Física, de Artes Cênicas, conseguir chegar na novela, fazer televisão, fazer teatro também. Trabalhar em academia que eu também tenho vontade, a parte aeróbica ou de musculação também. Tudo essa parte assim mais corporal que esteja envolvido com movimento eu pretendo realizar. Ajudar o ICA como eu falei, continuar como professora também. Tenho vontade de entrar numa companhia de teatro. Nossa, quantos sonhos, né? É bastante coisa, mas a gente tem que sonhar, porque ficar sonhando baixo a gente não realiza. Mas eu pretendo conseguir realizar, traçar estratégias porque não é só sonhar. Como que eu vou fazer isso? Então a partir de agora, terminei a faculdade ano passado, começar a pensar, são sonhos maiores, como que eu vou conseguir? Ficando parada não. Esperando de alguém? Também não. Então eu tenho que traçar metas pra conseguir realizar.
P/1 – Tá certo. E por fim então como é que foi contar a sua história?
R – Contar a história da gente é sempre muito bom. A gente esquece muita coisa porque são 25 anos de vida aí, passei por muita coisa já, mas eu acho que a maioria das coisas importantes eu falei. É sempre bom poder falar o ICA porque é algo que eu vivo, que eu vivi, tudo está aqui dentro internalizado ainda e daqui um tempo vai ter mais história pra contar. Espero contar pros meus netos tudo que eu vivi, espero que eles vivam isso também, vivam realmente a infância, a adolescência, a parte adulta, né? E vamos ver daqui pra frente como vai ser, espero que eu tenha mais sucesso ainda, que eu consiga realizar mais coisas e ser uma pessoa cada vez melhor.
P/1 – Tá bom, Dani. Muito obrigada. A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTA