Neto de imigrantes espanhóis, pioneirismo da família na “boca do sertão”, lavradores de café e arroz. Histórias do pai, contabilista. A paixão pelo comércio e negócios começou daí, paixão está que foi passada de pai para o filho Ricardo. Se tornou advogado e após uma temporada nos Estados Unidos, entrou em sociedade com o pai nos empreendimentos e corporação Arroyo Ltda, ramo de construção civil. Ricardo carrega o legado da tradição familiar espanhola, sendo diretor da Casa da Espanha, e do amor pelo Sindicato do Comércio herdado do pai, pela defesa das empresas e empresários. As atividades no comércio, na construção e na agropecuária. Se orgulha da dedicação ao sindicato, especialmente num momento delicado para comércio e empresariado.
Os desafios do Sindicato dos Comerciantes
História de Ricardo Arroyo
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 10/07/2021 por Ana Eliza Barreiro
Projeto Memórias do Comércio de São José do Rio Preto 2020-201
Entrevista de Ricardo Arroyo
Entrevistado por Cláudia Leonor e Luís Paulo Domingues
São José do Rio Preto, 1º de abril de 2021
MC_HV077
Transcrita por Selma Paiva
Conferido por Ana Eliza Barreiro
P1 – Então, ‘seu’ Ricardo, obrigada por ter aceitado o nosso convite, é uma honra o senhor estar aqui, em nome do Sesc, do Museu da Pessoa e a gente vai começar a entrevista falando, assim, de coisas bem pontuais. Eu vou pedir pro senhor falar o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R1 – Meu nome completo é Ricardo Eládio di Lorenzo Arroyo, de São José do Rio Preto, minha data de nascimento é 21 de agosto de 1957.
P1 – E o nome dos seus pais, ‘seu’ Ricardo?
R1 - Meu pai, Eládio Arroyo Martins, minha mãe Letícia di Lorenzo Arroyo.
P1 – E o que eles faziam, que o senhor estava falando? Eles trabalhavam, sua mãe e seu pai?
R1 – É, a mamãe foi professora, até aposentar, depois foi juíza classista e dona de casa, onde criou a mim e ao meu irmão, dando todo suporte e foi uma pessoa maravilhosa.
P1 – E o senhor seu pai?
R1 – Meu pai sempre foi comerciante, teve propriedade rural e depois ele entrou na área de construção civil, onde nós estamos até hoje também e acabou se tornando presidente do Sindicato do Comércio durante 36 anos ele foi presidente do Sindicato do Comércio aqui, onde ele labutou, em defesa do comércio na cidade e participou também do Sesc e do Senac, na diretoria São Paulo, onde ele sempre colocou e se posicionou muito claramente, em defesa do comércio e dos comerciários também.
P1 – E, ‘seu’ Ricardo, qual era o comércio de origem dele? Qual era o ramo de atividade? O nome da loja.
R1 – O papai se formou contador primeiro, foi trabalhar num sítio, onde ele era o contador desse sítio, depois passou pra uma fazenda, conseguindo juntar, amealhar um recurso ele veio pra são José do Rio Preto, onde ele comprou a firma Dente Farma, que era de loja de material odontológico, no começo também tinha aparelhos eletroeletrônicos, depois passou também a participar, fazer venda de material médico cirúrgico. Então, nós chegamos a ser o segundo, na época, em venda de filmes de raio X da Kodak e da região aqui de São José do Rio Preto, até Santa Fé do Sul. Nós tivemos um grande trabalho. Nessa época eu ainda estava estudando, meu pai tinha um irmão dele, que era sócio, o Carlos Arroyo, que também o ajudou a fazer esse trabalho, vendendo esse material para os hospitais de toda a região.
P1 – Agora vamos pegar um pouco a infância do senhor. O senhor cresceu em Rio Preto?
R1 – É, eu nasci e cresci em Rio Preto, onde estudei, até 1993, onde eu fui fazer um estágio nos Estados Unidos, fiquei lá por um ano. Quando retornei fiquei aqui mais seis meses, em Rio Preto, fui pra São Paulo fazer o cursinho no Objetivo, retornando fiz Direito, como também sequência do meu pai e da minha mãe, que já tinham feito, mas em 1989 o meu pai, quando eu acabei de me formar, chamou se eu queria continuar na carreira ou se eu queria ser sócio dele nos empreendimentos e corporação Arroyo Ltda, no ramo de construção civil. Acabei assumindo também o cargo de vice-presidente do empreendimento, onde eu toco até hoje. Com o falecimento dele acabei passando pra presidência, mas sempre nesse ramo. E nós tivemos aqui uma infância muito boa, onde você podia sair, passear, andar, não tinha esses perigos que se tem hoje. Isso aí é uma coisa muito boa, onde as pessoas, todo mundo se conhecia, a cidade era pequena, qualquer lugar que você ia, você era reconhecido, as pessoas sabiam de quem você era filho e então tínhamos, realmente, uma infância, uma juventude muito sadias aqui em São José do Rio Preto.
P1 – ‘Seu’ Ricardo, descreve, assim, o bairro que você morava quando o senhor era criança, adolescente.
R1 – Olha, eu sempre morei no Centro da cidade. Nós morávamos num apartamento, porque a loja do meu pai ficava a um quarteirão, então ficava muito fácil pra ele trabalhar e retornar e também, quando eu era jovem, eu ia muito à loja aprender e acabei aprendendo o ofício de comerciante com ele. Quando eu tinha nove anos de idade, eu vendia gibi em frente a calçada, vendia revista usada, que a gente lia e depois acabava revendendo. Então, fomos pegando esse amor pelo comércio, que até hoje a gente tem no sangue. Então, isso aí é uma coisa muito gostosa.
P1 – É bom, né? (risos)
R1 – Muito bom. Relembrar o passado.
P1 – E onde ficava a loja?
R1 – A loja ficava aqui na Rua Jorge Tibiriçá, número 28... não 2732. Hoje é a Riachuelo. Nós vendemos o prédio pra Riachuelo, onde eles fizeram uma mega loja pra época e acabamos indo pra um outro local, que ficava na Rua Voluntários de São Paulo, onde ficamos até quando acabamos sendo roubados e acabamos vendendo o estoque final e trazendo pra uma sala onde se mantém até hoje, mas é uma venda bem menor hoje, são os gerentes que tomam conta, a gente acabou tendo que assumir o sindicato, as propriedades de fora, os restaurantes, então acabamos tendo que deixar um pouco, diminuir o comércio, mas estamos ativos até hoje.
P1 – Maravilha! Descreve como era esse Centro dessa adolescência, da infância, assim. Já era calçadão, tinha praça, o pessoal ia passear na praça? Eu me lembro de ter muitas andorinhas na praça.
R1 – Sim. Rio Preto sempre foi uma cidade... hoje não temos mais, hoje nós temos aqui pombos, mas andorinhas acabou o pessoal espantando ou mudando a rotina delas, nós não temos mais. Mas, na época, quando a gente era jovem, nós não tínhamos ainda o calçadão. O calçadão foi criado em 1974, se eu não me engano, mas até lá nós tivemos - ou 1984 – a rua principal, onde era o footing, que a gente ia passear, andar, tomar um sorvete na época, comer uma pipoca. Depois disso acabou indo pra Avenida Alberto Andaló, mas aí já era uma época que a gente já tinha condições, tinha carta, andava de carro, ficava fazendo footings de carro nessa região. Então, foi muito maravilhosa a nossa infância e juventude em Rio Preto. A área central apenas tinha a igreja tradicional e depois, com o passar do tempo, acabaram derrubando e fazendo uma nova catedral, onde colocaram novas salas, uma série de outras coisa e já não é mais aquele prédio tradicional, como a gente estava costumado e gostava. É um prédio muito bonito, também, muito grande, mas não tem mais aquela igreja tradicional, que nós tínhamos aqui na área. Hoje nós temos outra, a Igreja Nossa Senhora, na Boa Vista, ainda é tradicional, inclusive tem ainda os sinos, os relógios, que voltaram a tocar esse ano, então é muito gratificante a gente poder falar de Rio Preto.
P1 – E o senhor falou uma coisa que eu fiquei intrigada: hoje Rio Preto a gente sabe que é um polo na área de Medicina, pela faculdade e tudo, mas nessa época que o senhor tinha a Dente Farma já era um polo regional?
R1 – Já estava começando, sim. De lá pra cá é lógico que melhorou muito, tivemos muitos avanços. Hoje nós temos aqui, tanto na área... tem o Hospital de Base; tem a Santa Casa, que atende-se muito bem; tem outras... o Santa Helena. Então, são vários hospitais que se mantém abertos. Nós, infelizmente, perdemos dois hospitais aqui, que é o Nossa Senhora da Paz e o Ielar, que foram fechados aqui. Os prédios estão, vamos dizer, os equipamentos estão lá dentro, mas não estão ativos. Isso é uma grande perda aqui pra Rio Preto, mas hoje nós temos vários hospitais: D’Olhos; nós temos aqui o Hospital do Coração, o IMC, inclusive onde se faz muita cirurgia, muita coisa, que as pessoas vêm trocar as válvulas. Hoje nós temos, inclusive, no HB, o campo de transplantes, que é um dos grandes campos que nós temos no Brasil. É feito aqui, no HB, em Rio Preto ainda. Então, os alunos, os professores e os especialistas estão aqui, realmente, dando muito apoio pra cidade, o que foi com que fez que Rio Preto continuasse se mantendo, sendo um polo regional.
P1 - Maravilha! Tem alguma pergunta, Lu?
P2 – Tenho, sim. Eu até saí da tela aqui, vocês estão me vendo?
P1 – Estamos.
R1 – Agora estou.
P2 – ‘Seu’ Ricardo, eu queria saber um pouco antes da gente começar a seguir, assim, na sua vida, sobre a família... os seus avós. Você chegou a conhecê-los?
R1 – Sim. Conheci, por parte da minha mãe, a minha avó, que ela cuidava da casa e meu avô mexia com café e arroz. E tinha uma máquina de beneficiar, inclusive ele foi uma das pessoas que criou, pra aquela época, a máquina de emendar, quando se quebrava muito arroz no beneficiamento. E ele criou uma máquina que emendava o arroz, naquela época. Então, ele foi uma das pessoas que se dedicou muito a isso aí. Por parte da minha mãe. Por parte do meu pai, meu avô eu não conheci, ele morreu em 1942, eu não era nem nascido, mas minha vó, que labutou muito, era uma pessoa espanhola, muito exigente e conseguiu fazer que todos os filhos, cada um encontrasse o seu local e mantinha, até o seu falecimento, todo final de ano, em todas as festas, nós nos reuníamos na casa dela, inclusive meus avós por parte de mãe, que minha mãe era filha única, também iam. Então, nós fazíamos uma grande família reunindo, alguns tios meus também levavam os familiares das esposas, onde nós participávamos de grandes festas, em homenagem aos aniversários, nas festas de final de ano. Isso era muito bom, muito gostoso.
P2 – E, ‘seu’ Ricardo, você sabe se eles já nasceram em Rio Preto? Ou chegaram imigrantes espanhóis...
R1 – Não. Meus avós por parte de pai são espanhóis, os dois nasceram lá, vieram para o Brasil, se conheceram aqui e se casaram com 13 anos de idade, os dois se casaram. Os pais dele voltaram pra Espanha e os dois ficaram aqui no Brasil. Meu avô foi pra Monte Azul Paulista, onde ele montou um pequeno negócio. Com o passar do tempo, ele viu que, como já tinha muita gente, acabou vindo pra Mirassol, onde continua aqui, vendendo depois o que lhe pertencia, acabou comprando uma fazenda em Rio Preto, onde é o IPA aqui, hoje, depois foi vendido pro IPA e aí ele construiu uma máquina também de arroz e café. Então, os meus dois avós mexiam com arroz e café. Durante muitos anos eles ficaram pra cá e a família era muito grande, eram onze filhos e então cada filho teve que, simplesmente, fazer... eles não tinham condições, tiveram que escolher um só pra fazer uma faculdade no Rio de Janeiro, que foi Medicina, que é o Doutor Arroyo, que também já é falecido, meu pai acabou fazendo contador, foi fazer o curso de contador, onde foi pra essa propriedade que eu falei e começou a vida dele. Então, sempre fomos uma família que lutou muito pra termos o que nós possuímos hoje e sempre, graças a Deus, onde nós tivemos o reconhecimento da sociedade e sempre fomos muito preservados. Meus pais gostavam muito - eram muito atirados – gostavam de participar ativamente das festas, do Lions Club, meu pai foi governador do Lions Club, o primeiro governador do distrito L17. Então, eles gostavam muito de participar e serem ativos. A Igreja São Judas Tadeu, um dia nós estávamos na missa e o padre reclamou que tinha pouca coisa, só aquelas estátuas de gesso e não dava, tinha muito menino pra trabalhar e estudar e ele se dispôs, com o padre, de entrar, fazer pedido para o Lions e, como, na época, ele era o presidente, de fazer barracões, pra poder dar. O primeiro barracão que ele fez, onde ele colocou marcenaria; o segundo barracão ele colocou a parte de mecânica. Aí, depois ele saiu como presidente, vieram outros presidentes, mas ele sempre incentivou, fizeram vários barracões, eu não me recordo o número exato dos barracões que ele realizou, mas era uma pessoa que sempre gostava de tentar trazer o benefício para a população. Não eram pessoas que seriam egoístas, que queriam só pra si. Ele, inclusive, quando entrou no sindicato, acabou - pra se dedicar – deixando a parte da loja com esse meu tio, acabou deixando outras coisas, pra se dedicar exclusivamente ao sindicato. Quando eu assumi a presidência, acabou sendo a mesma coisa. Eu tive que... meu pai, com a idade que ele estava, já estava com 95 anos, pediu que eu assumisse, eu acabei assumindo. É lógico que eu não tenho os mesmos jeitos que ele tinha, ele era uma pessoa muito extrovertida e eu já sou mais introvertido, então não tenho a mesma coisa que eles tinham. Mas procuramos fazer, dentro do sindicato, um belo trabalho, sempre nos opondo às coisas que são erradas, sempre entrando em debates com a prefeitura e com outros órgãos, quando nós achamos que não é correto, mas procurando sempre preservar o que é de bom pra população.
P2 – Legal, ‘seu’ Ricardo.
R1 – Desculpa, eu estou com um problema de irritação na garganta, então toda hora eu estou tossindo, mas não é covid, não. É um problema que eu tenho na traqueia, que dá uma coceira aqui.
P2 – Mas tudo bem, ‘seu’ Ricardo. O senhor teve alguma tradição quando criança, com seus avós? Tradição que veio da colônia espanhola? Festas, comida espanhola, música espanhola. Teve isso?
R – Teve, sim. Mesmo, inclusive, hoje, eu sou diretor da Casa da Espanha aqui em Rio Preto, onde a gente participa... agora não estamos podendo, mas a gente fazia várias festas com comidas espanholas tradicionais, aquele quiabo com carne, a paella, são várias comidas que a gente procura fazer. Inclusive essa Casa da Espanha ajuda até hoje o São Judas Tadeu, nas Festas da Nações. Isso é muito bonito, muito importante que todo mundo participe.
P2 – Legal. Eu volto a palavra pra Cláudia, que é nossa coordenadora.
P1 – Eu ia perguntar justamente dessas tradições de família, ‘seu’ Ricardo. (risos)
R1 – É muito gostoso, muito bom isso aí. Hoje a gente procura - é lógico, em menor número - com os filhos, manter também essa tradição.
P1 – É. E tinha comidas, assim, que fazia, desse lado mais espanhol, alguma coisa específica?
R1 - Tinha as paellas, que é uma coisa muito gostosa; tinha, como eu falei, já, aquelas pimentas recheadas; o frango, mesmo já mais nacionalizado, mas eram festas que simplesmente a família se reunia, além de saborear, ficava conversando, trocando ideia, batendo papo, que é uma coisa muito importante, que eu acho que até hoje a gente tem que ter. Por exemplo: eu, até hoje, durante muitos anos, meus filhos, eu, meu pai, minha mãe, meu irmão e minha sobrinha almoçávamos todo dia num restaurante que tem aqui perto, pra gente poder, nessa hora, trocar uma ideia, conversar. Depois que minha mãe faleceu, nós continuamos, com meu pai junto e, após o falecimento do meu pai, continuou eu, meus filhos, meu irmão, quando ele está em Rio Preto, que ele fica muito lá em São Paulo, mas quando ele está em Rio Preto, ele também participa com a gente desses almoços, onde a gente troca ideia. Por exemplo: amanhã, mesmo, é um dia tradicional, onde vai ter a bacalhoada. Então, todos nós vamos nos reunir na chácara, pra poder aproveitar, com bate papo, o dia e também dar as graças a Deus, por ele ter dado a vida por nós e a gente tem que, também, agradecer muito. Mas são essas coisas simples que a gente faz.
P1 – Agora, assim, o senhor está falando uma coisa importante que, assim: tinha muitas famílias espanholas aí na região de Rio Preto?
R1 – Sim, tem bastante família espanhola, turca, árabe. Os árabes são, realmente, muito unidos também, aqui. Árabe mesmo* também tem bastante amizade com todos eles. Hoje o provedor da Santa Casa, o Doutor Nadim, é árabe e é muito amigo da gente. Todo domingo a gente toma café junto aqui, num tradicional ponto do café, que é o Café Conte, onde se reúnem várias pessoas e a gente fica ali, toma um café, bate um papo. Apesar de agora a gente não estar tendo essa oportunidade, né? Mas sempre que a gente pode, a gente se...
P1 – Nós entrevistamos o senhor Tarek. Ali é um ponto, mesmo, de encontro, né?
R1 – Sim. É um ponto de encontro, sim. O Tarek é uma pessoa muito gentil, muito boa, também é árabe, então a gente está sempre junto, ali.
P1 – É bem tradicional. É um ponto de encontro dos homens de negócios em Rio Preto? É o principal ponto?
R1 – Aos domingos, antes do almoço, o pessoal todo se reúne ali, pra bater um papo. Tem comerciante, fazendeiro, médico...
P1 - ... advogado. A gente já foi tomar um café lá, a gente conversou com várias pessoas ali.
R1 – Isso. Realmente ali é um local onde se concentra o pessoal, aos domingos.
P1 – Uma observação que a gente fez, eu e o Luís Paulo: o Centro de Rio Preto é muito bom, né? Ele não apresenta um aspecto de estar degradado, como muitas outras cidades, né?
R1 – É, veja bem: inclusive agora nós acabamos de receber o calçadão, que foi todo remodelado. Então, isso faz com que simplesmente o Centro continue ativo, vivo, pra trazer as pessoas de fora e daqui também, pra fazer as suas compras. Isso é muito importante também, para o desenvolvimento da cidade.
P1 – E, falando em desenvolvimento da cidade, como o senhor vê, assim, que o comércio se organiza nas ruas, nos bairros? Se a gente for pensar assim: a zona norte é um lugar bastante grande da cidade, bastante representativo, mas quais seriam as principais vias de comércio que o senhor identifica?
R1 – Aqui nós temos a área central toda; nós temos aqui a Avenida Potirendaba, que é muito forte no comércio; nós temos a Avenida Bady Bassitt, que vai até o Shopping Iguatemi, que também é muito forte no comércio; nós temos aqui o Rio Preto Shopping, que também traz uma tradição - por ser o primeiro shopping - de Rio Preto; nós temos, lá na zona norte, o Shopping Center Norte, que é de uma outra família tradicional, que é a Tarraf. Inclusive eu conheci os pais deles, que foram muito amigos dos meus pais. E simplesmente tem uma grande força no comércio de Rio Preto, através desse shopping, que ficou muito grande aquela região. Nós temos na região norte algumas ruas ali, que eu não me recordo o nome agora, mas que simplesmente também tem um comércio muito forte, onde atrai a população da região. Inclusive tem gente que nasceu na região norte, que não conhece o Centro de Rio Preto, porque acaba ficando. Ali tem Banco, hospital, farmácia, tudo que é necessário, né? Tem as lojas dos comerciantes que são, hoje, muito bem equipadas e então, às vezes, as pessoas acabam nem vindo pra cá, na região e lá é uma região muito grande, a população de lá é quase metade da população de Rio Preto.
P1 – É mesmo?
R1 – É. Hoje atrai um movimento, um fluxo muito grande pra região norte. Agora, já tem outras áreas que estão sendo desenvolvidas também, que é, por exemplo: São Deocleciano; os Villages Damhas, onde tem a churrascaria dos meus filhos. São vários condomínios fechados que estão crescendo, fazendo a região lá. Lá nós temos cinco condomínios de casas populares que, realmente, foram readaptados e estão muito bem. A população de lá também é muito ordeira, muito trabalhadora. Então, está puxando o fluxo pra lá também. Então, Rio Preto, hoje, pra todos os pontos que a gente vê, olha, cresceu demais, né? Que é uma cidade pujante, mesmo. Nós não temos que falar que tem um lado menor ou maior. Lógico que tem algumas coisas que ainda estão começando, mas a maior parte, hoje, já está bem estabelecida. Essa semana mesmo eu tive conhecendo um setor que fazia muitos anos que eu não ia, que é a Vila Azul, também já tem um comércio instalado, dando bom atendimento pro pessoal que mora naquela região.
P1 – ‘Seu’ Ricardo, Rio Preto costuma exercer, ser um polo atrativo pras outras cidades irem fazer compra, passar o dia, usufruir de um hipermercado?
R1 – Sim. Rio Preto, hoje, como proporciona toda essa área que nós temos de atendimento geral, inclusive nós não perdemos nada em termos de lojas de São Paulo, nós temos várias lojas, vários grandes grupos aqui, isso aí faz com que simplesmente as pessoas venham fazer suas compras aqui em Rio Preto e muita gente vem ao médico e, após o médico, vai passear, fazer suas compras aqui na região, onde traz um fluxo de pessoas muito grande pra Rio Preto.
P1 – E o setor hoteleiro, assim, por conta dessas clínicas, tudo, também acaba sendo ativado?
R1 – Sim. Não tenha dúvida. O setor hoteleiro hoje é muito forte em Rio Preto. Nós temos vários grandes grupos aqui, inclusive construindo mais um hotel na região sul, que deve ser inaugurado dentro de mais alguns meses e isso aí traz uma grande novidade, inclusive até de cozinhas internacionais. Isso, realmente, traz um incentivo pras pessoas virem a Rio Preto.
P1 – Maravilha. Agora, a questão das franquias. Na nossa pesquisa a gente leu bastante que Rio Preto era um polo de franchising também. É isso?
R1 – É. Rio Preto é um dos grandes polos, se não for o maior do Brasil, é um dos grandes polos, onde nós temos várias firmas aqui que se instalaram e foram virando franquias para o Brasil inteiro. E até algumas franquias internacionais. Então, esse é outro produto que é muito bem visado em Rio Preto: o setor de franquias é muito grande e muito forte também. Nós temos aqui, também, o setor joalheiro, que é um dos grandes setores que nós temos aqui na região, muito forte e há muitos anos vem, são famílias que eram tradicionais, tem muita gente que entrou, nova, mas simplesmente alguns amigos nossos, que eram proprietários, faleceram, mas continua um polo muito forte com os filhos, com os netos, trazendo também as suas vendas para o Brasil inteiro, no setor de joias também. Então, nós temos vários segmentos de Rio Preto que ficaram muito fortes.
P1 – Maravilha! O senhor falou que o senhor seu pai já era o presidente do sindicato, né? Como o senhor foi se envolvendo com o sindicato?
R1 – Olha, eu acabei vindo pra cá através dele, onde eu o acompanhava nas reuniões, ia à São Paulo, nas reuniões da federação, então participava, onde eu fazia muita amizade com as pessoas e, com o passar do tempo, você acaba pegando amor. Isso aqui é o que eu falo, falava pra ele e ele sempre falou pra mim também: “É um bichinho que te morde, que é difícil”. Ninguém quer entrar, mas quem pega amor por isso aqui, depois fica difícil de sair, porque é uma coisa que você quer defender com unhas e dentes, as empresas, os empresários, simplesmente a gente querer, cada dia mais, o setor forte. A gente não gosta de ver uma firma fechada. A gente procura, às vezes, dar um apoio, nem que seja moral, mas que simplesmente as pessoas continuem dando empregos.
P1 – E aí, assim, quais foram as principais bandeiras, conquistas que o senhor acabou atuando?
R1 – Nós tivemos aqui várias vezes a briga pelo calçadão, pra agilizar o calçadão. Quando tentavam, às vezes, fazer uma coisa que pudesse atrapalhar, a gente tentava entrar e discutir. Nós tivemos aqui, quando foi feita a lei da... em novembro nós já temos aqui o feriado de 15 de novembro, 2 de novembro e estavam criando mais um feriado, que seria o da escravidão... não seria escravidão, é um outro nome... comemoração...
P1 -... da Consciência Negra.
R1 – Isso, a Consciência Negra. Onde simplesmente iria atrapalhar muito o comércio de Rio Preto. Nessa época nós entramos com uma ação, onde acabamos ganhando e até hoje eles tiveram que voltar atrás, porque já tinha ultrapassado o número de feriados na cidade, então isso aí, para o comércio, foi muito bom. Além disso nós tivemos várias e várias atividades junto a prefeitura, junto ao governo do estado, fazendo os pleitos que os empresários pediam pra gente e sempre acompanhando de perto os pleitos que eles tinham pra cidade. São vários pleitos, várias coisas que nós fizemos, mas tem hora que a gente acaba nem guardando, porque é coisa que já acabou, já passou, a gente não tem como ficar com recordações, que cada dia já tem um pleito novo. Por exemplo: amanhã já tem o pleito que não sabe se o pessoal... tem uma firma aqui que está querendo abrir e tem o Cnae de supermercado, a prefeitura não aceita o Cnae dela, então nós ficamos tentando interferir. Uma série de coisas do dia a dia que vão absorvendo esse nosso tempo.
P1 – Isso. Agora a gente está vivendo um tempo muito diferenciado, né? Então, eu queria, assim: como o senhor percebeu essa aproximação da pandemia e como os comerciantes foram aprendendo a lidar com essa questão toda? Muito mais no sentido de dizer que lições, que desafios que os comerciantes tiveram e como que o sindicato atuou também.
R1 – Olha, veja bem: os comerciantes não estavam preparados pra essa pandemia. A maior parte não tinha nem o tipo de vendas on line. Isso veio atrapalhar quase 99% das firmas. Algumas agregaram, outras criaram, mas veja bem: mesmo com tudo isso aí, isso aí não representa 10% das vendas de uma loja num período normal. Isso aí tem muita gente que está, hoje, já consumindo as suas reservas particulares, pra poder manter as suas lojas abertas. As vendas não cobrem o custo da luz hoje, por exemplo, vamos dizer. Muito menos do aluguel. Nós temos aqui vários casos de pessoas que não estão pagando. Não é porque não querem pagar. É que, com as lojas fechadas, não tinham recurso guardado, acabaram não tendo dinheiro pra poder pagar o aluguel. 00:30:52:11 Isso aí, inclusive, às vezes, até dá dó da pessoa chegar aqui, às vezes tem pessoas que a gente vê como não tem maldade, que simplesmente realmente é o desespero, porque ela viu que não tem recursos. Isso que acaba deixando as pessoas, às vezes...
P1 – Porque a economia está parada.
R1 – Está, realmente, totalmente parada.
P1 – E em relação àqueles protocolos de segurança... porque agora está numa fase mais restrita, né? O senhor falou que saiu hoje dessa fase mais restrita, né?
R1 – Isso. Hoje nós saímos da fase mais restrita. Mas veja bem: um empresário não quer que o seu colaborador pegue alguma doença. Então, ele sempre manteve um certo isolamento. Ele não abria todas as portas da loja. Ele abria um pedaço, uma porta da loja, onde ele colocava algumas coisas pra impedir entrar muita gente e simplesmente a pessoa que entrava era medida a temperatura, dava-se o álcool em gel, então a pessoa podia ir lá fazer as suas compras, sempre de acordo com o número que era destinado às suas lojas, de 40%, 20% da população que poderia entrar. Mas isso aí já veio, a própria população, já com medo, não vinha ao comércio. O número que vinha não representava nada. Isso aí já começou a fazer simplesmente que hoje sentissem, realmente. E tentassem passar para as vendas de outras formas. Mas sem uma certa adequação. Foi tentada várias formas, alguns se adaptaram, uma grande parte não se adaptou, está tentando fazer ainda as vendas através de whatsapp e fazer a entrega, mas não é o suficiente. Nós vimos que firmas como supermercados, que ficaram fechados esses dias e tentaram fazer as suas vendas através do whatsapp ou de outros, não tinha gente pra poder embalar e fazer as entregas. E teve muita gente que ficou sem comida, porque não conseguiu fazer as suas entregas. Alguns supermercados chegaram a fechar, porque não tinham condições de fazer o atendimento. Isso é muito triste, tanto para o empresário, como para o seu colaborador e também muito pior para as pessoas que acabaram passando necessidade, porque não tinham, às vezes, até o que comer, em casa, por falta dessas entregas. Isso que deixou a gente muito chateado.
P1 – Eles usam pouco do comércio on line ainda, o senhor considera?
R1 – Olha, agora já aumentou bem. Mas não tem ainda aquela tradição dessas vendas, principalmente os pequenos, os micros. Eles ainda não têm essa tradição. Estão apanhando bastante, pra poder fazer parte desse grupo.
P1 – Porque precisaria colocar um site, uma parte de embalagem, de despacho, entrega, essas coisas todas?
R1 – Sim. Não tenha dúvida. Tudo isso vai englobando, são coisas que quem não tem experiência, vai pegar experiência, leva algum tempo e isso aí atrapalha, às vezes, até a venda.
P1 – Maravilha. Lu, quer fazer alguma pergunta?
P2 – Eu gostaria de fazer uma pergunta referente a cidade de Rio Preto, porque eu ando bastante, em muitas cidades, mais ou menos do tamanho de Rio Preto: Ribeirão Preto, Campinas, Bauru e eu percebi que Rio Preto tem o Centro da cidade extremamente - pelo menos foi a minha opinião – arrumado, limpo, você não vê as coisas se deteriorando e parece que o público vai muito no Centro ainda, quando nas outras cidades, mais ou menos, como Bauru, onde eu moro, o pessoal já fugiu do Centro, já está lá na zona sul o comércio. O senhor vê isso também? E, se for verdade, porque conseguiu fazer um Centro tão bonito, tão arrumadinho?
R1 – Olha, faz muitos anos que começou a fazer o calçadão em Rio Preto. Isso atraía muita gente de fora pra cá e a própria população, pra área central. Com o passar do tempo foi-se revitalizando, como eu acabei de falar agora, nós recebemos mais uma vez uma nova revitalização. Isso aí traz com que, simplesmente, as pessoas de fora, venham pra cá, continuem vindo, mantendo essa tradição. As ruas fechadas fazem com que a população venha com seus filhos ou com pessoas mais idosas e possam ficar tranquilamente passeando, sem o perigo de um atropelamento. Isso aí traz esse fluxo pra área central. Nós temos aqui lojas de todos os tipos, de todos os ramos. Isso aí também é outra coisa que a pessoa não precisa ficar se locomovendo de um lado pra outro, ela tem tudo aqui na área central.
P2 – Sim.
R1 – Rio Preto sempre foi uma cidade que procurou agradar muito as pessoas de fora que vinham pra cá. As pessoas daqui são bem-educadas e conseguem dar um bom atendimento. Isso faz com que as pessoas gostem, fiquem mais algum tempo ou às até voltem, também, como é o caso de muitas pessoas. Isso é importante pra manter a área central ativa. A limpeza. Nós temos aqui uma equipe de limpeza que a prefeitura disponibiliza praticamente 14 horas por dia, pra manter a área limpa. E nós temos aqui gente que vem só pra conhecer a praça. Nós temos aqui um shopping na área central, que é o Praça Shopping, que também traz muita gente pra vir aqui, pra almoçar, pra passear, pra descansar um pouco quando está na rua. Então, isso aí tudo atrai as pessoas pra área central, pela beleza, pela sempre boa limpeza, a revitalização e o bom atendimento de todo mundo, tanto do proprietário, como do seu colaborador.
P1 – Legal. Vou passar de novo pra Cláudia.
P1 – O que eu fiquei pensando é assim: quando foi a chegada do shopping e não acabou migrando esse comércio do Centro pro shopping, não, né? Por isso que tem um Centro bom, também?
R1 – É. Como no Centro nós temos várias lojas que fazem atração das pessoas, o shopping veio e trouxe muita gente de fora também, pra cá. Rio Preto é uma cidade muito pujante. Nós temos aqui inúmeros condomínios de pessoas que moravam em São Paulo, ali em Campinas, em Santos e que vieram pra cá pela tranquilidade da cidade. Isso aí fez com que simplesmente se dividisse o número de pessoas, mas que continuasse alta a presença das pessoas, tanto na área central, como na área de shoppings também. O número da população aqui cresceu muito.
P1 – Maravilha. Mas o senhor também... da Dental Farma, né?
R1 – Não, Dente Farma.
P1 – Foi migrando pra parte de construção, é isso?
R1 – Isso. Passei pela parte de construção.
P1 – Como que vocês começaram a perceber essa oportunidade? Com o crescimento da cidade? Como é que isso aconteceu?
R1 – Olha, meu pai era uma pessoa muito visionária. Quando ele esteve no Rio de Janeiro, quando meu tio se formou e ele viu os prédios, ele ficou encantado e ele falou que um dia ele ia fazer aqui em Rio Preto. E acabou dessa forma: ele comprou algumas áreas aqui na área central e começou a construir. Daí você sabe como é filho: sempre vai atrás daquilo que o pai está fazendo, quer aprender. E acabei pegando o gosto também por essa área de construção civil, onde nós construímos não só em Rio Preto, mas como construímos também em Votuporanga; em Paranaíba, Mato Grosso do Sul; no Mato Grosso, em várias regiões e aqui mesmo, além da construção de condomínios, nós também fizemos construções particulares, nossas. Então, você acaba ganhando amor por isso aqui. Essa é que é a realidade. Então, você vai migrando, em cada época, uma região. E no ano de 2000, meu irmão era Secretário de Agricultura lá no Mato Grosso, no município de São José do Rio Claro e ele acabou saindo da secretaria e queria vir pra Rio Preto. Foi na época que nós tínhamos fazenda de gado. Nessa troca que ele veio pra cá e eu acabei indo pra lá. Então, eu fiz todos os setores: comecei no comércio, passei pra construção civil, depois eu fui pra parte de fazenda, onde morei durante dez anos lá no Mato Grosso, voltando novamente pra Rio Preto, acabei assumindo a presidência do sindicato e estou aqui até hoje, mas foi uma sequência de coisas que eu fui seguindo o que meu pai fez e eu acabei indo junto, pelo amor, pelo carinho que a gente tinha e fui aprendendo as coisas e acabei passando por esses... aí retornei pra Rio Preto, quando assumi a presidência, meu irmão retornou pro Mato Grosso, onde hoje nós temos lá as propriedades, lá em São José do Rio Claro. Gozado, aqui é São José do Rio Preto; onde nós temos nossa propriedade é São José do Rio Claro, no Mato Grosso. Então, nós estamos felizes com o São José, que nos deu uma grande força, tanto em Rio Preto, como lá no Mato Grosso, graças a Deus. Um grande trabalho...
P1 – É, São José é trabalhador, né?
R1 – Ah, sim. Não tenha dúvida. Ele que aguentou todas as coisas, carpinteiro excelente. É isso mesmo.
P1 – (risos) O senhor estava falando da churrascaria. Seus filhos que tomam conta? Queria que o senhor falasse, assim, como surgiu a ideia da churrascaria e o nome da churrascaria, pra estar registrado.
R1 – Meu filho foi pra Olímpia e começou a namorar uma menina que é do Rio Grande do Sul. E os pais do irmão dela tinham uma churrascaria lá e, nesse contato, acabaram vindo e o chamaram, se ele não queria fazer uma nova churrascaria, maior, porque lá é um polo, hoje, turístico e acabamos comprando uma área grande lá, onde fizemos um prédio e nós temos hoje mais de cento e sessenta lugares pra mesas e acabou, eles ficaram trabalhando, se deram bem e acabaram e falaram: “Por que não faz em Rio Preto, que tem os outros meus irmãos?” E acabamos vindo pra cá, montamos um novo agora, infelizmente pegamos a pandemia, estamos aí lutando, com eles também, mas o ramo de churrascarias entrou com esse meu filho, que hoje é casado com uma gaúcha e acabou gostando do negócio e entrando e já levou o outro irmão, o caçula, Leonardo, também junto com ele e então sempre, graças a Deus, todos os meus filhos são muito unidos, então um é dentista, os outros dois que estão em churrascaria são agrônomos e tem o meu filho mais velho, que hoje está no sindicato também, que é advogado. Então, ele é da diretoria do sindicato. Então, a gente procura manter uma união entre todos nós, que eu acho que como meu pai dizia o seguinte: “Um palito é fácil quebrar. Se você juntar vários palitos, já fica difícil”. Então, essa que é a nossa base, que nós temos e, pra ficar mais forte ainda, trago sempre meu irmão e minha sobrinha junto comigo e estamos labutando bastante em São José do Rio Preto, pra poder dar uma vida melhor pra população e benefício a todos.
P1 – Que bairro fica a churrascaria?
R1 – A churrascaria fica aqui no bairro Belvedere. É na região onde tem os Villages Damhas, aqueles condomínios. É uma região nova, está começando agora, onde o pessoal está começando, ainda, a dar um grau maior pra região.
P1 – Maravilha. E, ‘seu’ Ricardo, falando, assim, da parte pessoal, o senhor falou dos filhos, né?
R1 – Sim.
P1 – Mas como o senhor conheceu a sua esposa?
R1 – Olha, eu sou separado hoje.
P1 – Ah, desculpa.
R1- Nós temos um bom relacionamento, estamos sempre juntos, amizade acho que prevalece, mas infelizmente acabou não dando certo, por essas questões de sempre estar viajando, então você acaba se distanciando um pouco, mas, com a graça de Deus, somos ótimos amigos.
P1 – São quatro meninos?
R1- São quatro homens, graças a Deus.
P1 – Fala o nome deles, assim.
R1 – Eu tenho o mais velho meu, que é o advogado, que é o Ricardo; eu tenho o Eládio, que é o dentista; eu tenho o Leandro, que é o que começou a churrascaria; e tenho o Leonardo, que é o meu caçula, que está na churrascaria de Rio Preto. Então, é uma família, realmente, pra hoje, grande, né? Mas que, graças a Deus, estamos sempre unidos, isso que traz a nossa felicidade.
P1 – Que maravilha! Lu, você quer perguntar mais alguma coisa? Que a gente vai encaminhar pro final.
P2 – Sim.
P1 – Vai lá!
P2 – Retomando, que a gente estava falando, o senhor teve várias atividades, né?
R1 – Isso.
P2 – Agora, quando teve a pandemia, pro comércio realmente foi uma desgraça, mas pra construção acho que continuou forte, né ou não?
R1 – Olha, a construção, nós tivemos alguns empecilhos, mas realmente continuou, sim e principalmente para o alto padrão. O alto padrão foi muito beneficiado com isso, com a valorização, que as pessoas que não ficavam em casa, quando começaram a ficar em casa, começaram a ver que as casas não eram aquilo, que podiam ter casas maiores e acabaram dando uma valorização para o alto padrão. Realmente continua muito forte e está muito forte ainda. E a agropecuária, você sabe que quem mexe com exportação de grãos, está de vento em popa e ontem recebemos a notícia que os Estados Unidos vão reduzir a plantação em 5% da soja e do milho, isso deve trazer um benefício para os grãos no Brasil. Então, esses dois setores é que estão, realmente, aguardando, tanto a área comercial nossa, como a churrascaria, que também está fechada. Está só no delivery e você já sabe que hoje, o delivery, infelizmente, não dá suporte pra gente poder manter todas as contas. Mas graças a Deus, não podemos reclamar, Deus está com a gente, que é o mais importante, a família unida e isso que é o mais importante.
P2 – E o senhor consegue ter uma visão geral, assim, dessas três atividades: o comércio, a construção e a atividade agropecuária, agrícola? Consegue lidar com os três ao mesmo tempo ou tem um que o senhor gosta mais? Como é que é?
R1 – Não. Veja bem, assim: hoje eu estou mais dedicado ao sindicato. Até agora a gente tem se dedicado muito a isso. A área de construção civil, esse meu filho que é advogado que está agilizando hoje, inclusive vamos lançar um loteamento aqui em Rio Preto a partir de agosto. Então, esse a gente fica despreocupado, porque ele toma conta. O dentista não tem nada a ver, mas sempre, quando a gente precisa de alguma coisa, ele dá um auxílio. Na área das fazendas eu tenho meu irmão que mora, inclusive, lá nas fazendas, então ele toca lá, eu vou muito pouco. Eu vou, às vezes, duas, três vezes por ano, lá, mas a gente já sabe, como eu já morei lá, o que é preciso, necessário, as coisas pra poder auxiliá-lo, daqui a gente o auxilia lá. E, no ramo comercial, infelizmente, a gente sabe que vai ser penoso e eu não sei quantas firmas vão continuar abertas, eu acredito que nós vamos ver mais um número que vão fechar, que é preocupante, porque isso aí infringe em desemprego. Então, a gente vai ter que, realmente, tomar muito cuidado. Não pode querer aventurar numa época dessas. Quem já tem a solidez, pode continuar trabalhando. Mas quem não tem a solidez, pra iniciar agora é um problema muito sério. Mas quem já está, tem que continuar prevendo e vendo, mantendo um livro de compra relativamente reduzido, pra você poder acompanhar cada estação que vem, pra você não ficar com estoque parado, mas eu acho que a gente tem que ter essas precauções quanto ao que vai acontecer daqui até o final do ano. Esperamos que essa vacina venha, realmente, acabar com essa doença, que eu acho que é a única forma, realmente, que a gente tem visto. Então, temos que, realmente, tomar muito cuidado, tanto na área comercial, com as empresas, que a gente tem que sempre estar de olho no seu fluxo de caixa, que isso também é uma coisa muito importante, os seus estoques; negociar, quem paga aluguel, tentar negociar, pra angariar alguns descontos por esse período, às vezes até conseguir jogar pra frente o aluguel, subdividindo em vários meses, pro futuro, depois que acabar a pandemia. O comércio acho que é a parte que mais preocupa nesse setor. Eu, por exemplo: a minha loja está em prédio próprio. Então, eu já tenho uma coisa a menos pra me preocupar. Mas o caixa e o estoque a gente tem que tomar muito cuidado, mesmo assim, porque tem muita coisa que você não consegue repor. Você, às vezes, vende e a reposição está muito lenta. Então, a gente tem que, também, estar sempre de olho nisso aí. Então, é uma outra coisa que você tem que estar, sempre, acompanhando. Mas eu acho que, tendo fé, a gente acaba passando por esse período também.
P2 – Não, com certeza. E, ‘seu’ Ricardo, só pra completar, a gente sempre pergunta, a gente conversa com o pessoal do comércio, que trabalha pra burro, o senhor tem sua atividade aí diária, no sindicato, mas quando o senhor não está trabalhando, o que o senhor gosta de fazer?
R1 – Olha, eu gosto de ficar na fazenda ou ir pra praia. São locais onde me agradam muito, onde eu consigo relaxar e ficar despreocupado, às vezes até desligando o telefone, pra poder ter uma tranquilidade maior. Mas porque na fazenda a gente fala: a gente vai pra lá, você trabalha, mas a cabeça você distrai. Cansa fisicamente, mas mentalmente você consegue descansar, porque não tem esse tumulto do dia a dia, do comércio e do sindicato. Então, são locais que eu gosto de ir, pra poder, realmente, relaxar e descansar, é na fazenda. E inclusive também nós temos uma propriedade em Rio Preto, que é onde vai começar o loteamento, então quando eu posso, também, eu vou com meus filhos, fico lá um fim de tarde ou um domingo, pra gente poder ter a represa, onde tem jacaré, uma série de animais lá no fundo, então a gente fica quietinho lá, pra poder admirar. Então, é isso que eu gosto de fazer. Mas é muito tranquilo, graças a Deus.
P2 – Está legal. Muito obrigado, ‘seu’ Ricardo.
R1 – Nada. Eu que agradeço a sua gentileza e, se vocês precisarem de alguma coisa do começo da cidade, eu posso falar também, como Rio Preto começou. Não sei se vocês já têm isso aí...
P1 – Pode falar. O senhor gostaria de falar alguma coisa?
R1 – Eu acho que já, inclusive, uma vez falei com vocês, mas se vocês quiserem que eu fale novamente: Rio Preto é uma cidade que começou, veio pra cá, era boca de sertão, como diziam, aí a estrada de ferro parou aqui em Rio Preto, durante muitos anos, então o pessoal vinha de trem até aqui, descarregava aqui, pra depois poder seguir de carroça, tinha muito pouca condução, algumas mais poderosas tinham seu veículo pra poder chegar até a barranca do Rio de Santa Fé, pra ir até a fronteira, que é Minas Gerais. Então, Rio Preto foi uma região onde, daqui se partiu o comércio. Vamos dizer: os árabes compravam muita coisa e punham em cima de mulas e saíam vendendo pelas propriedades, pelas fazendas. Por isso que eu falo que Rio Preto tem um comércio muito forte, muito tradicional, porque daqui saía pro interior o fluxo de pessoas, pra fazer as suas vendas. E as pessoas vinham do interior pra cá, pra trazer o arroz, o café e vender aqui, pras máquinas fazerem os benefícios. E compravam aqui as suas roupas. Meu pai ainda falava: meu avô ia fazer compra, ele comprava aqueles tergais de pacote e minha vó cortava, os onze filhos pareciam todos iguais, que era calça cinza pra todo mundo, vestido amarelo pra todo mundo. Então, esse foi o começo de Rio Preto. Quando as pessoas vieram pra cá, eles começaram a trazer o comércio. Por isso que eu falo que Rio Preto é uma cidade, realmente... é lógico que temos outras coisas hoje, mas o comércio sempre foi muito forte e trouxe muita felicidade pras pessoas que vieram pra cá, que moraram aqui. Isso é uma coisa muito gratificante, saber que nosso sangue começou dessa forma, através dos meus avós, que vieram pra cá; depois meu pai, que também conseguiu, graças a Deus, fazer o sucesso que ele fez e minha mãe; e nós estamos tentando seguir os passos deles, dando sequência e tendo meus filhos, que me dão todo o apoio, pra continuar tentando ter uma família feliz, muito próspera.
P1 - Maravilha! Agora, deixa eu perguntar uma coisa pro senhor: Barretos é muito perto de Rio Preto, né?
R1 – Barretos é bem perto. Barretos está a cem quilômetros, no máximo, daqui.
P1 – Mas o comércio de carne ficou concentrado ali, em Barretos, nessa história mais antiga?
R1 – É, sim. Barretos foi que os ingleses fizeram um frigorífico lá, onde eles tinham fazendas, propriedades muito grandes lá, onde eles acabaram fazendo, montando frigorífico em benefício deles lá, daquela região. Tinham gado muito forte. Inclusive, ali teve gado de Gir [raça] (57:30), que era o leiteiro e de abate também, que pessoas vendiam por verdadeiras fortunas, como é hoje em alguns locais, que tem esses leilões de gado de elite. Naquela época era Uberaba e Barretos que tinham esses gados de elite. Então, uma região muito forte nessa área de gado. Mas os fazendeiros se concentraram em Araçatuba, é uma região onde tem um número de fazendeiros muito grande, porque de lá eles saíam, começaram a invadir ali aquela região, Mato Grosso e o número de fazendeiros se reuniu na região de Araçatuba. Rio Preto ficou, realmente, concentrado no comércio. E agora a área, depois, médica, que hoje já está suplantando, que a área de serviço já suplantou o comércio, bastante. Nós sabemos disso, temos que reconhecer, mas o comércio foi o que deu vida em Rio Preto, pra começar. Esse foi o começo de Rio Preto.
P1 – E, pra gente terminar mesmo, ‘seu’ Ricardo, o que o senhor achou de ter dado essa entrevista pra gente, pro Memórias do Comércio, ter deixado a sua trajetória, sua experiência, pro Museu da Pessoa?
R1 – Olha, eu agradeço a vocês, por terem se lembrado de mim. É um grande prazer que a gente tem, de poder estar colaborando com uma coisa mínima, mas porque simplesmente tem a tradição de manter Rio Preto sempre junto de vocês aí. Espero que Rio Preto fique no coração de vocês com bastante carinho e nós estaremos aguardando vocês aqui, o dia que vierem aqui me liguem, pra vocês jantarem comigo, que vai ser um grande prazer, tá?
P1 – (risos) Vamos esperar essa pandemia, né?
R1 – Sim, não tenha dúvida, mas o importante é a gente fazer amigos, a gente ter essa empatia, que é muito gostoso e é um grande prazer eu poder, um dia, recebê-los aqui, com a gente. Ou aqui ou em Olímpia. Se vocês forem, às vezes, quiserem fazer um descanso lá em Olímpia, umas férias, também me avisem, que eu vou pra Olímpia, não tem problema, não.
P1 – Com certeza. Olímpia é pertinho, né?
R1 – É. Olímpia dá 54 quilômetros de Rio Preto. Então, a gente vai ter um grande prazer em conhecê-los pessoalmente e poder comer uma carne boa. Vai ser um grande prazer, tá? Pra todos vocês.
P1 – Maravilha! Então, em nome do Sesc e do Museu, eu agradeço muito. Agora, o Tiago vai desligar a câmera e eu vou...