Falcão nasceu Alessandro Rosa Vieira, em São Paulo. Em seu depoimento fala sobre a origem da sua família e a profissão de açougueiro, de seu pai e seu avô paterno. Recorda a infância no bairro Parque Edu Chaves, na Zona Norte de São Paulo. Lembra o início da carreira no Clube Guapira e a ida para o Corinthians. Descreve cada mudança de clube e os mundiais que participou defendendo a camisa da Seleção brasileira. Encerra o depoimento falando sobre as escolinhas de futsal que montou e que gerencia enquanto a carreira não chega ao fim.
Correios 350 Anos: Aproximando Pessoas (HVC)
O rei do futsal
História de Falcão (Alessandro Rosa Vieira)
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 15/10/2013 por
Correios 350 anos
Depoimento de Alessandro Rosa Vieira (Falcão)
Entrevistado por Rosana Miziara
Orlândia, 17/09/2013
HVC081_Alessandro Rosa Vieira (Falcão)
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Falcão, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Alessandro Rosa Vieira, 36 anos, eu nasci em São Paulo, capital.
P/1 – Seus pais são de São Paulo?
R – Meus pais são de São Paulo, capital, também.
P/1 – Tanto seu pai, como a sua mãe?
R – Tanto meu pai quanto a minha mãe.
P/1 – E seus avos paternos?
R – Meus avós paternos são do interior de São Paulo, são de Santa Cruz do Rio Pardo, próximo a Marília, um pouquinho depois de Marília, eles são do interior de São Paulo.
P/1 – Você sabe um pouco a atividade deles, o que eles faziam?
R – Na verdade, os meus avós, eu já perdi há algum tempo, a minha avó eu tinha cinco, seis anos, minha avó paterna e o meu avô, há uns sete a oito anos, ele trabalhava com açougue, casa de carnes em São Paulo e no interior, que foi um segmento depois de toda a família.
P/1 – E seus avós maternos?
R – Meus avós maternos são baianos, meu avô e minha avó são baianos, são de uma cidadezinha no interior, chamada Orucuri do Ouro, se eu não me engano e são do interior da Bahia e a minha mãe já é paulista, minha mãe é nascida em São Paulo.
P/1 – Você sabe por que os seus avós saíram de lá e vieram para São Paulo?
R – Os meus avós paternos em busca de uma vida melhor, cidade na época deles era quando São Paulo começou a ser um grande centro, pra trabalho. Não sei muita coisa, não, mas eu sei que foi em busca de uma vida melhor, que o interior era muito restrito.
P/1 – Aí, eles abriram a casa de carne?
R – O meu avô era funcionário de uma casa de carne e os meus avós maternos também, em busca de uma vida melhor, eu não lembro exatamente o que meu avô materno fazia, e a minha avó sempre foi dona de casa.
P/1 – E você sabe um pouco como o seu pai e a sua mãe se conheceram?
R – Sei. Sei um pouquinho. Eles se conheceram, acho que numa festa de amigos em comum. Minha mãe era muito jovem, minha mãe e o meu pai eram muito jovens e eles se conheceram numa festa de um amigo em comum e depois começaram a sair, namorar e foi indo embora.
P/1 – E o que é que o seu pai fazia?
R – Meu pai também, ele veio no segmento do meu avô, meu pai trabalhava com açougue, ele começou como funcionário de um açougue, depois ele começou a ter o seu próprio negócio, começou a ter seus açougues. Eu acabei perdendo o meu pai em 2004, mas o ramo do meu pai sempre foi casa de carne, sempre foi açougue.
P/1 – E quando eles casaram, seu pai e a sua mãe… como é o nome do seu pai?
R – Meu pai, João Eli Vieira.
P/1 – Sua mãe?
R – Minha mãe, Reinalma Rosa Vieira.
P/1 – E quando eles casaram, eles foram morar onde?
R – Eles moravam na zona norte de São Paulo, sempre, a minha vida inteira, desde que eu nasci, morei na zona norte, eles também.
P/1 – Em que bairro?
R – Parque Edu Chaves, bem ali, quase divisa com Guarulhos. E eu também nasci ali e ali eu cresci.
P/1 – Como que era essa casa? Sua casa de infância?
R – Eu lembro bem vagamente, mas sempre passava em frente, mas a minha mãe sempre mostrava, era um corredorzinho, que eu acho que tinha, acho que dois ou três cômodos, só. Era bem pequenininha e depois, meu pai foi melhorando e a gente foi mudando, mas sempre ali no mesmo bairro, mas era uma casa bem, bem pequena.
P/1 – Como é que era o Edu Chaves nessa época, o Parque Edu Chaves?
R – Pra mim, eu tenho muita lembrança boa, porque eu morei lá até os meus 16 anos. Sempre que eu tenho um tempinho, eu passo por lá e fico viajando ali sozinho, lembrando da minha infância, que a minha infância foi muito bacana. Mas também eu lembro das enchentes, que era um bairro que enchia de água e toda vez, na minha casa, quando começava a chover, a gente tinha que levantar os móveis, tudo isso. Então, eu tenho as lembranças boas e as lembranças ruins, que era essa correria, que quando chovia a gente tinha que fazer as coisas, mas é muito mais lembrança boa, porque faz parte da minha vida.
P/1 – Falcão, você tem irmãos?
R – Eu tenho três irmãos, nós somos quatro. Eu sou o mais velho, eu com 36 anos, tem o Renato de 32, o Tiago de 28 e o Bruno de 24 anos.
P/1 – Quatro homens?
R – Quatro homens.
P/1 – E como é que era dentro da sua casa, quem exercia a autoridade, seu pai ou a sua mãe?
R – Meu pai trabalhava muito, o açougue te tira de dentro de casa todos os dias, de manhã até de noite, sábado e domingo de manhã e a minha mãe é que lidava com as coisas de casa, então, a autoridade maior dentro de casa, no dia a dia, era a minha mãe, que o meu pai trabalhava demais.
P/1 – Vocês tiveram alguma formação religiosa?
R – Nunca nada muito especifico. Minha mãe frequentava bastante o espiritismo kardecista, eu ia quando era criança também, aprendi bastante coisa, depois, eu já por mim mesmo, frequentei a igreja evangélica, nada que eu possa falar que eu sou evangélico, nada disso, mas a gente acredita muito em Deus, acredita muito nas boas crenças, mas nada muito específico com alguma coisa.
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância, quando moleque, lá no Edu Chaves?
R – Olha, eu fiz de tudo que hoje eu vejo que os meus filhos não fazem mais. Era bolinha de gude, empinar pipa, polícia e ladrão, esconde-esconde. Então, realmente por isso que eu tenho essa minha lembrança muito boa da minha infância de empinar pipa, que eu era viciado em empinar pipa. Então, pessoal da minha idade, um pouquinho mais velho contam as historias, eu fiz. Então, eu posso dizer que na minha infância eu fiz tudo o que uma criança poderia fazer…
P/1 – Jogava bola na rua?
R – Demais! Ia atrás de pedra pra fazer o golzinho, quando eu jogava taco, tampava os bueiros, quando a bolinha caía no bueiro, levantava o bueiro pra pegar. Então, eu fiz de tudo, realmente, eu vivi intensamente, assim.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Entrei na escola com cinco anos, de quatro pra cinco anos, numa escolinha lá no Parque Edu Chaves também, que era bem próxima da minha casa.
P/1 – E você lembra de professores do seu primário?
R – Lembro! Lembro de professores, lembro de amigos, lembro…
P/1 – De quem que você lembra?
R – Lembro da minha primeira professora da primeira série, a Dalva, lembro da professora do Pré, que era a Cida, porque era bem pertinho da minha casa e depois, a idade foi passando, eu fui pra mesma escola, no mesmo bairro, só que era de acordo com a idade, então, eu lembro muita coisa da minha infância.
P/1 – Como que você ia pra escola?
R – Olha, no começo até era uma escola meio tradicional, de que sentido você está falando, de locomoção?
P/1 – É
R – Eu ia a pé, que era pertinho, era na mesma quadra e depois, quando eu mudei, depois com sete, oito anos, minha mãe me levava, porque era um pouquinho mais longe. Mas a locomoção era a pé mesmo, minha mãe me levava…
P/1 – Era escola estadual, era…
R – Não, era escola particular, era escola particular.
P/1 – Como é que era essa escola?
R – Era uma coisa bem tradicional, assim. Era camisetinha de botão, sapato, calça marrom, eu me lembro como se fosse ontem, ia de lancheira pendurada. Meus amigos ficavam na rua, esperando eu chegar na escola pra me zoar da lancheira, pra ficar tirando onda. Então, eu lembro exatamente de tudo como se fosse ontem.
P/1 – E quando que você começou a jogar futebol?
R – Na verdade, desde que eu comecei a andar, eu já chutava bola. Na rua, eu sempre jogava, desde uns seis, sete anos, eu já jogava com os meninos de nove, dez, porque os meninos da minha idade dava muita diferença, eu não percebia porque eu era criança, mas hoje, lembrando, que eu estava na terceira série da escola, eu jogava com os meninos da quinta, da sexta série. Então, eu sempre me diverti, mas sempre com o pessoal mais velho. Eu acho que isso pra mim foi sempre importante.
P/1 – Mas, você jogava assim, lazer? Você não ia numa escolinha, ou jogava…
R – Não, nunca fui numa escolinha, jogava de lazer mesmo na rua, os campeonatinhos de rua, contra a outra rua de baixo, ou na escola, eu levava um potinho de iogurte, no intervalo eu tomava o iogurte, amassava e jogava na quadra da escola. Então, eu sempre dava um jeito de jogar futebol. Não interessa como, se fosse com uma bola, se fosse com um potinho de iogurte, ou se fosse com uma meia, então, sempre fez parte da adaptação da minha vida, jogar futebol em qualquer lugar que eu estivesse.
P/1 – Mas, as pessoas já começavam a falar que você era diferenciado?
R – Já, mas eu era uma criança e não percebia. Eu queria me divertir, então o fato de eu estar jogando com o pessoal mais velho, eu não percebia: “Nossa, eu sou bom, porque eu tio jogando com o pessoal mais velho”. Eu queria jogar, mas eu escutava todo mundo falar, assim, sempre o primeiro a ser escolhido, mesmo sendo o mais novo. Então realmente é uma coisa que hoje, a gente lembrando o porquê de tudo isso, mas na época eu apenas queria me divertir e jogar futebol, nunca quis jogar numa escolinha, nunca pensei em ser jogador profissional, que eu ouvia os meus amigos: “Ah, vou fazer teste no Corinthians, vou fazer teste na Portuguesa”, e eu nunca pensei nisso, eu só jogava pra me divertir, então as coisas pra mim foi meio num caminho diferente.
P/1 – Quando você era pequeno, você tinha alguma coisa assim: “Quando eu crescer, eu quero ser tal coisa”?
R – Eu queria trabalhar no açougue do meu pai, que acho que era uma tradição da família, meu pai, os irmãos dele, os primos dele, todos tinham açougue, era uma época que açougue era muito bom, porque não tinha carne nos mercados, era só açougue mesmo, então era aquela loucura de cliente o dia inteiro, tanto que com 11 anos, eu comecei a ir no açougue com o meu pai, de acompanhar, de ajudar, eu ficava no caixa, eu aprendia a cortar carne, então, pelo menos, três vezes por semana, ele me levava e eu gostava de ir, então aquilo pra mim, foi importante, porque criou uma certa responsabilidade pra mim também.
P/1 – Você gostava de ir no açougue?
R – Gostava! Gostava muito, porque eu era o xodozinho ali, porque era a padaria, o açougue, a farmácia, o mercadinho, era tudo junto no bairro de Lauzane Paulista, na zona norte de São Paulo, também. Então eu ia lá, e açougue naquela época fechava da uma as três, eu jogava bola lá na frente com o meu tio, com o pessoal do mercado, da padaria, então, pra mim, eu tenho uma lembrança bem bacana.
P/1 – E aí, e a adolescência, como foi passar a adolescência lá na zona norte?
R – Foi muito legal, porque na adolescência, foi quando eu comecei ir no açougue e criei a responsabilidade de ficar na rua. Então, o meu pai sempre teve essa preocupação e eu também nunca fui aquela criança: “Não quero ir pro açougue hoje, porque eu quero ficar jogando futebol”, o dia que eu tinha que ir para o açougue, eu ia satisfeito e o dia que eu tinha que voltar, ou ficar na rua, eu também gostava. Então, era bom, que tudo era na conquista. Eu ia bem no açougue pra no dia seguinte eu ficar na rua e o meu pai me deixava. Então, tudo era uma troca de informações, foi bem bacana assim. Então, a minha adolescência foi bem… hoje eu vejo os meninos com dez, doze anos que já pensam em namorar, já pensam em menina e eu só fui pensar nisso depois dos 15, 16 anos, eu só queria brincar e me divertir. Logo depois, eu mudei pra Parada Inglesa, um bairro da zona norte de São Paulo, também, com 16 anos.
P/1 – Por que vocês mudaram?
R – Nós mudamos, porque o meu pai estava num momento bom, no momento, ele fez uma casa bacana pra gente ali na Parada Inglesa e a gente resolveu mudar pra zona Norte mesmo, mas a minha adolescência foi bem diferente das de hoje, foi uma coisa bem de brincadeira mesmo.
P/1 – Quem eram os seus amigos, você tem amigos até hoje?
R – Tenho, tenho! Hoje de vez em quando eu passo lá no bairro, levo uma camisa para o pessoal. Eles ainda têm aquele bloqueio, porque eles acham que porque você ficou conhecido, eles te veem como um personagem da televisão e aquele é só um personagem que está ali pra jogar aqueles minutos na televisão, mas eu sou a pessoa mais normal do mundo e tento passar isso pra eles. Então, todo final de ano, eu organizo um jogo entre eles, eu vou lá jogar, participo junto, pra quebrar esse clima e eles sempre quando me veem, os primeiros minutos é sempre igual, e depois, eles vão se soltando e a gente volta a ser criança, realmente, relembrando todas as nossas coisas.
P/1 – E que coisas vocês faziam na adolescência?
R – Ah, tudo o que você imaginar! Fazíamos pipa junto na casa do outro, tinha que fazer o cerol, ia na casa do outro, que a mãe brigava, jogava bolinha de gude, dava volta nas ruas, procurando gente pra jogar futebol. Então, a minha lembrança é bem legal. A rua que eu morava era uma rua redonda, que você andava e sempre saía no mesmo lugar. Com 12, 13 anos: “Vamos correr pra gente ficar forte, pra virar jogador”, saía correndo, dava volta… então, sempre um sonho assim, foi bem bacana!
P/1 – E festinhas, você frequentava festinhas?
R – Muito pouco. Na minha adolescência, muito pouco. Eu queria brincar, eu tinha vergonha de ir nas festas e até porque o bairro que eu tinha o meu ciclo de amizade era aquela coisa mesmo, de levar um bolinho na rua, comia ali mesmo, cada um trazia um salgado, um docinho e era aquilo. Então, dificilmente a minha mãe fazia festa. E dificilmente os meus amigos faziam festa. Então, era uma coisa muito corrida para os pais de todos os meus amigos e a gente sempre improvisava ali entre a gente.
P/1 – E na sua casa, vocês comemoravam algumas datas, tipo Natal, Páscoa, essas coisas?
R – Comemorava, mas era uma coisa não tão tradicional. Hoje, a minha esposa cobra muito isso, porque a minha formação foi realmente de não dar muita atenção para essas datas, não porque não dava atenção, porque não tinha tempo. Então, Natal, todo mundo quer comprar o pernil pra fazer. E o meu pai era o que vendia o pernil (risos), então o meu pai era aquela loucura, aquela correria e chegava em casa no dia 24 às onze horas da noite. Então não dava tempo de organizar um negócio bacana. Os aniversários, geralmente como os meus irmãos são de março, abril, maio e junho, nessa ordem, meu pai fazia uma festinha bem rapidinha para os dois mais novos, depois, uma festinha com poucas pessoas para os dois mais velhos. Então, é uma coisa que a minha esposa cobra muito da gente, dessa formação de dar valor para essas datas. Então, a minha formação não foi muito de dar valor para datas. Eu estou aprendendo isso agora.
P/1 – E quando que você começou a jogar bola, assim, começou a ganhar um caminho?
R – Com 12 anos, eu jogava num clube que o meu pai frequentava com os amigos e o filho de um amigo do meu pai jogava num clube chamado Guapira, na zona norte de São Paulo também: “Vamos lá, você vai jogar, você vai ser federado…”
P/1 – Clube Guapira é no Jaçanã?
R – Jaçanã, exatamente! “Você vai ser federado”, eu nem sabia o que era ser federado.
P/1 – Esse clube, quando você tinha 12 anos, que clube que era?
R – Era o Players, que é um clube na Fernão Dias, indo pra Mairiporã. E pra mim, eu estava indo lá jogar bola, não estava inda fazer teste no clube, eu não tinha essa percepção. E acho que isso pra mim, sempre foi um grande diferencial, que eu fui lá, fiz cinco, seis gols no primeiro treino. No dia seguinte, já me deram uma ficha pra assinar, eu já era federado e eu não entendia o que era aquilo. Então, eu pulei essa etapa de escolinha, fui direto pra um clube, nesse clube, eu fiz um jogo contra o Corinthians, que eu acabei jogando muito bem, no ano seguinte, o Corinthians me chamou e foi quando tudo começou a acontecer muito rápido. Então, eu pulei muito essa etapa de escolinha…
P/1 – Aí, do Guapira…
R – Do Guapira, eu fui pro Corinthians.
P/1 – Depois de um ano?
R – Depois de um ano.
P/1 – Mas era o futebol de campo?
R – Futebol de salão. Sempre foi de salão.
P/1 – Futebol de salão?
R – Sempre! E quando eu fui pro Corinthians, eu fiquei cinco anos. E nesses cinco anos no Corinthians…
P/1 – E como é que você ia, assim, da zona norte para o Corinthians?
R – Eu pegava dois ônibus, descia no Tietê, do Tietê eu pegava um ônibus que pegava a Marginal e descia na porta do Corinthians.
P/1 – Você já tinha 14 anos?
R – Já, eu já tinha 14 anos.
P/1 – Fazia isso sozinho?
R – Fazia sozinho. Eu com os meus amigos, eu tinha dois amigos que jogavam comigo. A gente se encontrava no metrô Santana, nesse metrô de Santana, a gente ia até o Tietê e do Tietê, a gente pegava um ônibus que saía lá no Corinthians. E à noite, o pai de um desses amigos ia pegar a gente no treino.
P/1 – Quantas vezes por semana?
R – Era quatro vezes por semana. Quatro vezes por semana, quase todos os dias.
P/1 – E como é que era no Corinthians?
R – Foi bacana! Ali sim, começou a cair a minha ficha: “Pô, vou jogar no Corinthians”, quando eu ganhei a primeira roupa, eu levava na escola. Eu ia com a roupa vestido no ônibus, pra todo mundo ver que eu jogava no Corinthians. Então, ali foi uma coisa meio diferente, assim. Foi muito gostoso, foi muito gostoso ter aquela sensação de realmente as coisas poderem acontecer e de eu mudar o rumo de querer ser jogador, porque eu nunca quis ser jogador.
P/1 – Foi no Corinthians que…
R – E foi no Corinthians que eu vi que as coisas poderiam acontecer, principalmente, quando eles me chamavam para o futebol de campo. Então, dos cinco anos que eu fiquei lá, eu fui para o futebol de campo sete vezes, só que eu ia e não gostava, ficava um mês e meio e não ia mais. Aí passava um mês, a diretoria: “Não, você tem que ir, a gente tem um plano de negócio pra você, pra você ser jogador de futebol” “Está bom, eu vou”, ficava dois meses, não ia mais. Sempre que pegava o cansaço em mim, porque treinava futsal, treinava futebol, fazia lição e ia pra escola, tem uma hora que pesava e eu sempre optava pelo futsal, que foi sempre o que eu gostei de fazer.
P/1 – Tem algum episódio marcante, assim, você lembra nessa fase do Corinthians?
R – Tem bastante. O primeiro jogo, eu lembro que minha avó materna foi e não dormia à noite, que eu queria jogar e acabei sendo o destaque do jogo, foi 5 a 4, eu acho, fiz quatro gols, foi contra a Portuguesa, alguma coisa assim. Então, tudo pra mim foi marcante: chegar naquele clube, ter o respeito das pessoas, saber que os pais ficavam ali pra me ver jogar, porque geralmente as crianças jogavam sub-7, sub-9, sub-11, sub-13, sub-15, tudo no mesmo dia. E todo mundo ficava pra me ver jogar e eu não tinha essa percepção. Hoje que eu lembro que todos os pais ficavam ali e quando acaba o jogo, todo mundo ia embora. Então, todo mundo ficava pra me ver jogar, então eu tenho essa lembrança e era muito bacana.
P/1 – E seus pais, seu pai e sua mãe? Como é que eles se posicionavam?
R – Olha, meu pai me acompanhou muito pouco no meu lado profissional, mesmo quando criança, eu vou te falar que na época que ele ficou vivo, se ele foi ver 20% dos meus jogos, foi muito! Devido ao trabalho, não conseguia sair, ele quando ele saía as coisas não andavam. Então, cada vez mais, ele ficava preso na profissão. O meu tio ia mais me acompanhar, que é o irmão do meu pai, que é vivo até hoje e hoje também ainda trabalha com açougues, que é o tio Silvio. Então, meu pai mandava o meu tio ir, mas não ia, porque ele não queria largar dali, ele queria as coisas acontecendo. E minha mãe me acompanhava muito pouco também, porque ela nunca se ligou em futebol e pra ela eu estava indo jogar bola também. Então, minha mãe começou a me acompanhar um pouco depois, então eu nunca tive essa família muito próxima de me ver jogar, era mais os amigos, a família dos meus amigos, é uma coisa que eu queria que tivesse acontecido, mas eu entendo também pela profissão dos meus pais, que é o que eu quero que os meus filhos entendam, hoje entendem, que às vezes, eles têm jogo de tênis, tem jogo de futebol, e eu não posso ir por causa da minha profissão. Mas eu tenho vontade de estar mais próximo.
P/1 – E no Corinthians, você ficou esses cinco anos, aí você já era federado?
R – Isso. Eu fiquei no Corinthians nas categorias de base, eu cheguei lá em 92 e cresci, fiz toda a minha base no Corinthians, e em 95 eu ainda era Juvenil, eu tinha mais três anos nas categorias de base, mas eu comecei a jogar na equipe profissional, no futsal, então ali que eu comecei a perceber, comecei a ter propostas financeiras, comecei a ter uma ajuda de custo e com…
P/1 – Quando que foi a primeira vez que você recebeu?
R – Com 16 anos. Porque eu era o único da minha idade que recebia, porque eu comecei a ter muita proposta e o Corinthians me puxou pra equipe profissional e me colocaram na folha de pagamento da equipe profissional, porque muita equipe estava me puxando e eles não queriam me perder. Então, com 16 anos, eu comecei a receber o meu primeiro salário, comprar a minha roupa…
P/1 – Quanto que era? Você lembra?
R – Ah, eu acho que jogando pra hoje, era uns 800 reais, 700 reais. Então, com 16 anos, era muito dinheiro, assim, na época. E cada ano que passava, as propostas aumentavam dos outros times e o Corinthians me segurava. Até que de 96 pra 97, não teve mais jeito, eu fui pra Chevrolet, GM Chevrolet de São Caetano do Sul, que era a primeira equipe profissional de futsal, que o pessoal só jogava Futsal, treinava dois períodos, porque até 94, 95, os jogadores de futsal jogavam e trabalhavam. Então, treinavam a noite e trabalhavam durante o dia e a GM, essa equipe que me contratou, foi a primeira equipe profissional de futsal e eles me levaram pra lá e dali acho que foi quando eu comecei a deslanchar.
P/1 – Lá na GM você jogava o dia inteiro?
R – Lá a gente treinava de manhã, que era em São Caetano, eu morava na zona norte. Então, não dava pra eu ir, treinar, voltar pra casa e ir de novo. Então, tinha uma casa lá, que chamava casa do atleta, tinha uma cama pra cada um ali. Então, treinava de manhã, das dez ao meio-dia, almoçava no clube, ia pra essa casa, descansava, treinava das quatro às seis e chegava em casa, às vezes, oito, oito e meia da noite, pra no dia seguinte, fazer a mesma coisa.
P/1 – Você parou de estudar?
R – Não. Parei de estudar depois quando eu fui pra GM, eu parei de estudar, eu estava no terceiro colegial, e eu não terminei o terceiro colegial. Eu parei de estudar e só foquei no esporte.
P/1 – Não dava mais?
R – Não tinha mais como.
P/1 – E pra você sair do Corinthians, quando você saiu do Corinthians e foi pra GM, como que era a abordagem, era com você que eles conversavam?
R – Era comigo.
P/1 – Era tudo com você?
R – Eu nunca tive empresário a minha vida inteira, eu sempre cuidei das minhas coisas, os meus patrocinador, porque o meu pai me ensinou isso, pra eu cuidar das minhas coisas. Que eu vejo hoje, muitos amigos meus, atletas, que tiveram empresário a vida inteira, sempre teve pessoas pra tomar decisão por você e depois que você para de jogar, você não tem mais essa pessoa. É onde esses atletas se perdem, esses ex-atletas se perdem. Então, eu sempre tomei as minhas decisões, eu sempre discuti os meus contratos e discuto bem, eu sento na mesa com o pessoal e eu sei discutir os meus contratos. Então, sempre fui eu que fiz as minhas coisas. Já naquela época era comigo, que eu já sabia o mercado, eu já sabia quanto que o pessoal ganhava aqui ou ali, eu já sabia se eu estava dentro do mercado, se eu merecia ganhar mais, se eu merecia ganhar menos. Então, eu sempre tive essa noção desde novo.
P/1 – E quando você foi pra GM, foi com você que eles conversaram, você negociou e foi?
R – Foi comigo. Eles já estavam atrás de mim há dois anos, aí o Corinthians acabou me amarrando por dois anos e nessa época, não teve escapatória, porque realmente eles pagaram a multa rescisória e me deram o que eu queria, assim, então, foi tudo comigo, quando eles me mostraram o plano legal de carreira, me deram dois anos de contrato, tudo, ai eu acabei optando de sair do Corinthians.
P/1 – E você já tinha feito algum campeonato fora de São Paulo?
R – Já, já tinha. Foi justamente num campeonato fora de São Paulo, acho que foi em Caxias do Sul que eu chamei a atenção mesmo, eu ainda era Juvenil, mas eu já pulei etapas, eu já estava na equipe profissional. E eu não estava lá só pra ficar no banco, eu jogava mesmo. E ali eu chamei a atenção de muita gente, muita gente começou a vir atrás de mim e foi quando eu acho que eu tive a minha afirmação ali, que o pessoal começou a me conhecer nacionalmente.
P/1 – E na GM, como é que foi esse período GM? Quanto tempo você ficou lá?
R – Foi bacana. Eu fiquei dois anos, eu fiquei lá em 97 e 98, fomos campeões paulista, fomos campeões brasileiros e foi quando eu comecei a ir para a Seleção Brasileira, que foi em 97 e 98, jogando na GM e foi bem bacana, porque eu juntei os dois. Eu estava num grande clube, indo pra Seleção Brasileira. Então, hoje, eu tenho 15 anos de Seleção Brasileira. E foi quando em 99, o Atlético Mineiro fez um grande time, chamando quase que a Seleção Brasileira toda e eu tinha aquela coisa que sair de São Paulo e ir morar em BH, é como ir morar no Japão, eu tinha aquele medo de sair de casa, tal…
P/1 – Continuava na Zona Norte?
R – Eu continuava na Zona Norte, mas era uma proposta irrecusável, meu pai falou que era importante pra minha carreira, se era isso que eu queria fazer, que o meu pai queria que eu jogasse futebol de campo, meu pai queria, que queria que eu jogasse futebol de campo. Depois de um tempo só que ele aceitou, devido a parte meteórica da minha carreira no futsal. Aí, eu fui pra esse time do Atlético Mineiro, no começo eu cheguei como coadjuvante, mas eu me impus, eu sempre tive uma personalidade muito forte e acabei jogando, indo bem, sendo campeão brasileiro, acho que foi o recorde mundial de público, até hoje, no futsal, foi 28 mil pessoas no Mineirinho e ganhamos de cinco a quatro a final, eu fiz três gols. Então, eu acho que ali foi a minha afirmação mesmo, não só para o mundo do futsal no Brasil, no mundo inteiro, porque estava todo mundo assistindo aquele jogo. Então, ali pra mim, eu comecei a ter procura de patrocinador de tênis, que eu nunca tive, comecei a fazer propagandas de coisinhas assim, da cidade que eu morava, ou de uma construtora. Então, comecei a ter as minhas primeiras coisas. Fiz propaganda de televisão do meu tênis. Então, ali eu comecei a ter uma visualização legal.
P/1 – E como é que foi mudar pra Minas?
R – Putz, no começo foi horrível, eu tinha acabado de conhecer a Tatiana, minha esposa…
P/1 – Você tinha quantos anos?
R – Tinha 21 pra 22. A gente estava começando a namorar e ela trabalhava de modelo também e, aí, ela ia em BH me visitar, daí ela abria mão dos trabalhos dela. Então: “Eu tenho trabalho amanhã em tal lugar, mas eu não vou”, daí ela ligava e falava que não ia, e assim, ela foi largando a profissão aos poucos, que eu morava em Minas, ela em São Paulo, não tinha como, então ela ia, ela tinha que ficar três dias e voltar, ela acabava ficando dez. Daí, ela perdia os trabalhos dela e ela optou e a gente resolveu casar em um ano, porque a profissão que eu tinha e a que ela tinha, ou a gente ficava junto, ou não ia dar certo. Aí, foi quando a gente acabou casando em um ano de namoro. Mas a ida pra Minas, quando eu fui foi triste, mas depois eu acostumei, eu vi que não tinha essa distância toda, não tinha muito essa noção, e foi tranquilo e pra minha carreira foi importantíssimo!
P/1 – Onde você conheceu a sua esposa?
R – Conheci a minha esposa no trânsito lá em São Paulo. Ela estava no carro dela, eu estava no meu, eu vi ela passando e aí, a gente parou no semáforo, um do lado do outro, ela estava indo para o mesmo lugar que eu, a gente conversou lá, não aconteceu nada. E depois de três dias, a gente se encontrou de novo, aí saímos pra jantar e depois nunca mais largou.
P/1 – E você ficou em Minas quanto tempo?
R – Eu fiquei sete meses em Minas no ano de 99 e quatro meses no Rio. Então, com uma equipe que jogou a final com o Atlético Mineiro e com a equipe que me contratou depois. Aí, eu fiquei quatro meses no Rio. Essa equipe acabou sendo extinta depois, o patrocinador teve um problema e saiu, eu acabei voltando pra São Paulo em 2000.
P/1 – Quem foi o seu primeiro grande patrocinador?
R – Foi a Topper, de tênis. Foi a que fez o tênis Falcão. Foi o meu primeiro patrocinador, que eu comecei a ter uma remuneração, que fez um tênis com o meu nome. Então, ali foi bem bacana pra mim, porque o auge do futsal é quando você tem um tênis com o seu nome, você vai na loja, está lá, o tênis do Falcão. E hoje, eu tenho até hoje, já passei por outras marcas e até hoje, eu tenho patrocinadores.
P/1 – E continua? Ainda existe esse tênis da Topper?
R – Não, da Topper eu sai da Topper depois, fui pra outras marcas, hoje eu estou com a Umbro, eu passei pela Nike, passei pela Penalty e hoje eu estou com a Umbro, já há sete anos.
P/1 – E esse período no Rio?
R – O período no Rio foi quatro meses foi legal, porque o campeonato não era tão difícil, estava do lado da praia, eu adoro praia. E foi uma coisa curta, legal, assim, me valorizou bastante em termos financeiros, que eles me tiraram de um time grande, pagavam bem na época e esse time acabou também depois de quatro meses, só que eu já tinha uma valorização feira por eles e eu acabei voltando pra São Paulo, para o São Paulo Futebol Clube no futsal, onde eu fiquei 2000, 2001, metade de 2001 e na metade de 2001, eu fui pra um clube chamado Banespa, que é em Santo Amaro, São Paulo também, ai fiquei da metade de 2001 até o final de 2002 e, aí, em 2003 eu fui pra Santa Catarina, onde eu fiquei oito anos.
P/1 – E esse período, quando você foi pra Seleção, quando você foi campeão mundial?
R – Eu fui pra seleção em 98, no comecinho, joguei a Copa de 2000…
P/1 – Eu estou dando esses pulos só pra… por causa do seu horário.
R – Não, não, não, não tem problema. Pode tocar. Eu joguei na seleção a Copa de 2000, o Brasil perdeu, nós perdemos. Eu continuei na seleção, teve a Copa do Mundo de 2004, perdemos também e pra mim, foi uma frustração muito grande, porque o Brasil vinha de uma sequência de títulos mundiais e a minha geração não tinha conseguido ganhar e eu ainda tive o privilégio de jogar 2008, ganhar e agora de 2012, que eu joguei com paralisia facial, uma série de coisas que deu uma repercussão bem bacana e ganhamos também. Então, não sai com saldo devedor até agora, está tudo equilibrando.
P/1 – Vamos voltar e quando que você foi… como é que foi e quando você foi considerado o maior jogador do mundo?
R – Foi em 2004, na Copa do Mundo da China, onde eu ganhei pela FIFA melhor jogador do mundo e ali, pra mim, foi especial demais, porque não tinha ganho o campeonato mundial, então pra mim, foi uma válvula de escape, porque eu fui artilheiro e o melhor jogador do mundo. Em 2008 se repetiu, então eu fiquei por oito anos pela FIFA, o melhor jogador do mundo. Então, a responsabilidade aumentou, vieram muitos patrocinadores, que eu estou até agora, com Correios, Banco do Brasil, Chevrolet, então todos os patrocinadores da seleção são meus patrocinadores individuais. Então pra mim, sempre foi muito bom, porque quando eu ganhei o melhor do mundo e fui pro São Paulo, jogar no São Paulo Futebol Clube, futebol de campo, em 2005 e quando eu fui para o São Paulo…
P/1 – Como é que foi essa decisão de você ir para o campo, no São Paulo? Como é que foi?
R – Na verdade, eu estava muito frustrado com a perda do campeonato mundial em 2004. E o São Paulo me fez essa proposta e era o momento bacana, já tinha a minha afirmação, todo mundo já me conhecia, todo mundo já falava do Falcão do futsal e para o São Paulo, foi uma estratégia de marketing bacana, a minha camisa era a mais vendida sem eu jogar. Pra mim, foi muito especial também, embora não tenha tido as oportunidades que eu queria ter, só que por outro lado, eu perdi todos os patrocinadores, então, eu era o numero um de um esporte, então quando eu fui para o futebol, eu era mais um.
P/1 – Quem que te convidou do São Paulo?
R – Foi o presidente, o Presidente Marcelo Portugal Gouveia, na época. Era ele, faleceu há três, quatro anos…
P/1 – O técnico era o?
R – Emerson Leão, por isso que eu não continuei. (risos)
P/1 – Como é que foi o episódio com o Leão?
R – Não, o episódio que ele tem um histórico muito grande, de sempre escolher um atleta pra pegar no pé e geralmente, quem a torcida mais gosta e a imprensa mais quer ver jogar e na época, no São Paulo, no caso era eu, então a torcida pedia e ele não me colocava. A imprensa pedia e ele não me colocava. Quando me esqueciam, ele me colocava. Aí, quando todo mundo: “Falcão vai jogar!”, ele me tirava e eu não fiz nada pra ele, muito pelo contrário, eu não precisava passar por aquilo, que eu tinha um status que era o futsal e eu tinha todas as empresas me fazendo propostas para eu voltar e propostas irrecusáveis. Juntando tudo, mais o fato de eu não estar jogando, falei: “Não, vou voltar, vou fazer o que eu gosto” e eu fui para o São Paulo pensando no futsal, que eu gosto de jogar futsal, eu nasci pra isso. Então, eu não mudaria nada, eu teria ido igual eu fui, não me arrependo de ter ido e teria voltado igual eu voltei. Eu acho o que foi bacana, tirando o treinador, foi tudo ótimo!
P/1 – E como é que foi participar desse primeiro mundial assim?
R – Foi em 2000 na Guatemala, foi diferente, eu era um coadjuvante…
P/1 – Você já tinha saído do Brasil?
R – Não, nunca sai do Brasil, nunca joguei fora do Brasil, justamente pelos patrocinadores. Ah, pra jogar fora do Brasil, torneio, já tinha saído, já tinha jogado em outros países, mas eu lembro que esse mundial foi na Guatemala e foi bacana, me surpreendeu positivamente, só teve a frustração de não ter sido campeão do mundo, mas pra mim, foi tudo muito, muito bacana assim.
P/1 – Como é que é a relação com outros jogadores, lá fora?
R – É muito boa, é muito boa. Hoje em dia então, eles me veem como ídolo, assim, jogadores de outras seleções, quando acaba o jogo, vêm todo mundo tirar foto. Isso pra mim é o maior troféu que eu tenho, de ter o reconhecimento dos adversários, isso acontece em 80% dos jogos, aqueles adversários mais distante, aqueles que jogam sempre com você já estão acostumados, quando você pega países mais distantes assim, que vêm jogar, acaba o jogo, eles vêm tirar foto, vêm beijar, eles querem beijar, querem abraçar, querem arrancar a sua camisa. Isso pra mim, não tem preço. Então, eu procuro levar isso da forma mais natural possível que eu sei o quanto que é importante pra eles e pra mim também, porque é um reconhecimento. Então, acho que esse pra mim é o melhor troféu que tem, esse reconhecimento.
P/1 – Dessas partidas do mundial, da primeira vez que você foi considerado o melhor jogador do mundo, e da segunda, qual foi o momento mais marcante pra você?
R – Olha, eu acho que a de 2008, como foi no Brasil, foi muito especial. Então, o gol que eu fiz na semifinal, que nos deu a classificação pra final foi muito bacana, desses dois mundiais, 2004 e 2008. Mas o jogo mais especial pra mim foi no ano passado, quando eu tive a paralisia facial, que eu tive a lesão na panturrilha, que eu não sabia se eu ia jogar, o treinador não confiava em me colocar pra jogar, não criticando o treinador, se eu fosse treinador, também não confiaria. Você está numa seleção brasileira, numa copa do mundo, você tem mais 15 jogadores, vai colocar um cara que está machucado, com paralisia na face? E eu lembro que contra a Argentina, estava perdendo de 2 a 0 e o tempo passando, tempo passando e quando faltavam oito minutos, quando não tinha mais saída, ele me pôs pra jogar e foi quando eu dei o passe no primeiro gol, fiz o gol do empate contra a Argentina, faltando três minutos e na prorrogação, eu fiz o gol da vitória. Então, daqui 50 anos, quando me perguntarem o jogo especial da minha vida… eu joguei pouquíssimo tempo, mas foi o mais marcante por tudo o que eu tinha passado ali em 2012, agora, com tudo que eu passei aqueles dias.
P/1 – Como é que foi que você foi que você se machucou?
R – Eu me machuquei no primeiro jogo do mundial, com dois minutos de jogo contra o Japão. E era minha última Copa do Mundo e eu queria jogar de todo jeito. Eu coloquei como meta ser a minha última Copa do Mundo, porque em 2016, eu vou estar com quase 40 anos. E eu machuquei a panturrilha é impossível você se recuperar de uma lesão da panturrilha em dez dias. Então, eu fiquei trancado no quarto e na Tailândia, internet não tinha mais o que ver, televisão não dava para assistir e até comer no quarto, eu comia, porque a panturrilha, você anda, dói a panturrilha, demora mais para cicatrizar. Então, eles me deixaram numa cama deitado, durante cinco a seis dias sem me mexer. E aquilo pra mim, foi me dando stress, que todo mundo saía pra treinar e eu ficava sozinho, pessoal voltava do treino e foi assim, foram seis longos dias, eu não saía do quarto pra nada, pra nada! Eu ia no banheiro com um pé só, comer, era tudo no quarto. E aquilo, pra mim, foi me dando um desgaste psicológico muito grande, que eu não sabia se tudo aquilo ia dar certo, ia valer a pena. Aí, começou a mexer no meu psicológico, tive essa paralisia facial, começou a doer atrás da minha cabeça, que é um nervo da face, e eu achando que era dor de cabeça, achando que era do pescoço, de ficar no computador, tal e dois dias depois, eu fui morder o café da manhã e mordi o lábio e não senti e eu já tinha tido uma paralisia facial há uns sete, oito anos atrás. Aí foi quando eu percebi que eu estava tendo de novo. E foi com tudo isso que eu fui jogar a semifinal e a final da Copa do Mundo e deu tudo certo.
P/1 – E como é que voltou? Que passou?
R – Eu tive certeza que foi psicológico e quando a gente foi campeão do mundo, conseguir jogar, e isso geralmente volta de um a seis meses, e quando acabou a Copa do Mundo, que nós fomos campeões que eu relaxei, sabe aquele “dever cumprido” interno? E isso, em uma semana, voltou naturalmente. Foi incrível assim, foi totalmente psicológico.
P/1 – Sete anos antes, você teve como? Foi como da outra vez?
R – Eu tive também, mas a outra vez não teve algo especifico do que foi, mas também deu, em vinte dias voltou, voltou rapidamente, não foi tão forte quanto essa última, foi só um inicio assim, logo eu voltei. Mas essa foi muito forte e a previsão era de três a seis meses de voltar, porque estava muito paralisado. E nesse meio tempo, quando a gente foi campeão do mundo, dez dias depois, já estava 100% normal, então foi totalmente psicológico mesmo!
P/1 – Deixa eu só voltar um pouco. Depois do Banespa, você foi pra onde?
R – Do Banespa, eu fui pra Jaraguá do Sul, Santa Catarina, onde eu fiquei lá de 2003 a 2010, foram oito temporadas.
P/1 – Como é que foi jogar lá? Morar em Santa Catarina?
R – Pra mim, profissionalmente, acho que foi o meu ápice, porque São Paulo você tinha aquela coisa de você sair de casa, você pega um trânsito, você demora uma hora e meia pra chegar no lugar, você tem que ficar no lugar e você chega na sua casa nove horas da noite e em Santa Catarina, eu morava do lado do ginásio, era uma cidade de 150 mil habitantes, em dois minutos eu estava no treino, acabava o treino eu voltava pra casa, almoçava, descansava, ia pro treino da tarde, cinco minutos depois eu estava em casa. Então, era outra vida. Então o meu lado profissional foi assim, foi aonde eu me firmei de vez e comecei a ganhar títulos nacionais e internacionais pelo clube, a cidade respirava aquele time.
P/1 – Que cidade que era?
R – Jaraguá do Sul
P/1 – Jaraguá do Sul
R – Santa Catarina do lado de Joinville, ali. E foram oito anos fantásticos, assim, meus filhos nasceram em São Paulo, mas cresceram lá, praticamente nasceram lá. Então, pra mim, profissionalmente, foi fantástico, assim, eu só sai em 2005, fui para o São Paulo, fiquei cinco meses e voltei para Jaraguá do Sul. Mas esses oito anos que eu estive lá foram fantásticos.
P/1 – E depois?
R – Aí, 2010 tivemos o anúncio que o time ia acabar, foi muito triste, que eu tinha toda a minha estrutura lá, estava fazendo a minha casa, eu tinha um complexo grande lá de negócios.
P/1 – Que negócios?
R – Eu tinha um centro esportivo, tinha um estacionamento coberto pra mais de 100 carros, tinha fisioterapia, squash, campo de futebol, dois restaurantes, tudo no mesmo ambiente e eu tinha acabado de fazer aquilo e eu soube que o time ia acabar. Aí, foi quando eu tive que desfazer de tudo depois. E em 2011, eu fui pra Santos.
P/1 – Deixa eu só voltar, quando que foi o seu primeiro empreendimento, que você começou a aplicar o seu dinheiro do futebol?
R – Empreendimento mesmo foi esse, foi lá em Jaraguá, porque o dinheiro estava vindo, eu sempre investi em imóveis em São Paulo.
P/1 – Sempre em imóveis em São Paulo?
R – Sempre em imóveis e sempre em São Paulo. Apesar que eu tive um empreendimento lá em Balneário Camboriú também, mas sempre em São Paulo, sempre em São Paulo e esse foi em Jaraguá, porque falei: “Vamos morar aqui…”, porque a minha intenção era morar lá, eu estava fazendo a minha casa lá, eu parei a minha casa, o empreendimento inaugurou, foi quando eu soube que o time ia acabar, porque eu queria morar lá e depois, dar sequência num negócio meu, eu fiz um belo negócio assim, e aí, veio aquele frustração de tudo.
P/1 – Você chegou a perder dinheiro?
R – Perdi! Perdi dinheiro, porque eu tive que fechar, porque eu tinha muitos funcionários, eu tive que arcar com as dispensa deles, tive que cumprir tudo direitinho, mas eu precisava fechar, porque aquilo eu tinha que estar perto, não adianta deixar na mão de alguém, porque era uma coisa muito grande. Mas hoje, se valorizou, tem propostas de venda, então, o que eu perdi, veio na valorização, mas na época, eu perdi mesmo pra deixar tudo em ordem e sair sem essa preocupação, foi quando eu fui pra Santos em 2011.
P/1 – E como é que foi essa ida pra Santos?
R – Pra mim foi legal, foi triste pelo fim de uma história, que tinha um ginásio fantástico, a cidade respirava aquilo lá em Jaraguá. Em Santos, fui jogar num time de camisa, no time do meu coração, eu sou santista e fui jogar no time que eu torço. Então, o Neymar deu muita força, ia em todos os jogos…
P/1 – O Neymar ia te ver?
R – É, o Neymar ia me ver, depois a gente ia pra casa dele, ou ia pra minha casa, a gente tinha essa relação, como eu tenho até hoje, muito bacana, falo pra ele que ele é o meu irmão mais novo. Então, a aceitação foi muito legal, só que tem os gestores lá em cima, que no final do ano, resolveram acabar com o futsal e com o futebol feminino. E aquilo foi uma frustração pra torcida, pra nós também, eu tinha contrato de dois anos, financeiramente, pra mim foi legal, porque eu tinha mais um ano de contrato, eles tiveram que arcar com a multa. Mas, tem coisa que não é dinheiro, é satisfação, eu estava numa cidade fantástica, quando eu podia eu ia ver jogo deles na Vila Belmiro, quando eles podiam, iam ver os meus jogos, depois a gente ia jogar futevôlei, a gente ia um pra casa do outro, era uma relação muito legal e isso acabou em um ano, foi muito frustrante realmente, eu tive dois anos de muita frustração. Como eu falei, financeiramente, foi bom, porque eu tinha mais dois anos de contrato em Jaraguá e eles tiveram que arcar com aquilo. Em Santos, eu tinha mais um ano de contrato, eles tiveram que arcar com aquilo. Mas, a satisfação pessoal dos seus filhos estarem adaptados na escola, você estar adaptado na cidade, isso tudo não tem dinheiro que pague. E de novo: “Pra onde que eu vou agora?”, Então, acabei ficando desempregado, que o time acabou, foi quando eu vim parar aqui em Orlândia.
P/1 – Como foi o convite pra vim pra cá?
R – Aqui já tinha um time bem falado, assim, não era nenhum investimento absurdo, mas também não era dos menores. Era um time organizado, um time de um dono só, uma empresa sólida, que é a Intelli, um italiano que é apaixonado pelo futsal, ele senta no banco junto com o treinador, eu nunca vi um empresário, dono do time, sentar no banco. Você faz gol, ele dá cambalhota, sabe? É uma figuraça! E ele é apaixonado e com a minha vinda, nós fomos campeões brasileiro, foi o primeiro título nacional aqui. Então, pra ele, assim, pra cidade, todo mundo falava: “Orlândia”, ninguém sabia onde era. Então, acho que pra cidade foi muito bom, pra mim, também foi legal. Eu escolhi vim pra cá, porque ele me fez o convite, e mais dois convites que eu tinha, mas pelo histórico dele, desse empresário, eu queria uma coisa sólida, que eu tinha tido duas decepções, dois times que tinham acabado. E aqui, realmente é muito sólido, é uma cidade pequena do lado de Ribeirão Preto, tem um ginásio acanhado, mas hoje é a principal equipe do país. Então, ele investe alto, ele gosta e eu vim parar aqui. Estou aqui já há um ano e meio e está sendo muito bacana.
P/1 – Quando que começou o patrocínio dos Correios para a Seleção Brasileira de futsal?
R – Dos Correios foi em 2004, que eles acabaram entrando no futsal e eu acho que 2005, eu fiz o primeiro trabalho com os Correios, eu passei a todo ano, fazer uma propaganda para os Correios, não tinha contrato fixo, agora que eu tenho um contrato fixo com os Correios. Então, a minha relação com os Correios já tem sete, oito anos e a relação dos Correios com o futsal tem há nove anos.
P/1 – Qual que é o papel que você vê dos Correios nessa relação? A importância desse patrocínio?
R – Os Correios eles olham muita coisa social, eles não olham só no que vai aparecer pra eles aparecerem, eles olham o geral. Então, os Correios, para o lado do esporte, é muito importante, porque nenhum esporte tem a força do futebol, ainda mais aqui no Brasil. No Brasil o carro-chefe é o futebol, depois vem os outros esportes. Então, os Correios para a manutenção da estrutura que a gente tem no futsal, de ter um centro de treinamento, de ter jogadores de ponta, é importantíssimo. Assim, como eles fazem muita coisa social, eles me apoiam em projetos das minhas escolinhas, então, eu vejo os Correios como parceiro de verdade, que a gente está junto aí esse tempo todo, um casamento perfeito. Então, eu tenho orgulho de fazer parte dessa marca.
P/1 – Como é que foi essas propagandas que você disse que começou a fazer para os Correios?
R – Putz, eu já fiz várias! Eu fiz uma que era com o Giba na época da Copa do Mundo, que eu roubava a bola dele, ele roubava a minha bola. Tinha uma propaganda que eu estava com a bola de vôlei e ele com a de futsal, eu fui dar um chapéu nele, ele deu uma cortada em mim, essa propaganda acho que ganhou naquele ano a melhor propaganda do ano. Aí, teve agora, essa do final do ano e esse ano que bombou muito na TV, que encerra assim: “Só Sedex é Sedex, só Falcão é Falcão”, eles fazem uma comparação, que os dois são incomparáveis e aquilo pra mim foi fantástico, eles mostraram eu treinando, subindo escada, eu correndo no porto lá em Santos, então foi uma propaganda que rodou bastante, pra mim foi bem legal, principalmente essa comparação do final. Então, a minha história com os Correios é bem bacana!
P/1 – E o patrocínio pra você, você disse que eles apoiam suas escolinhas, quando que você começou esse projeto das escolas?
R – Eu tenho, hoje virou sistemas de franquias, eu me organizei no passado para que virasse franquias, devido ao número de procuras sobre a Escolinha do Falcão, e eu me organizei e desde janeiro deste ano, eu comecei com franquias de escolinha. Então hoje, eu tenho uma franquia minha. E eu coloquei uma meta para o meu escritório de 30 franquias até o final do ano. Hoje, nós temos 42 em sete meses, a gente deve encerrar o ano perto das 50.
P/1 – Quando que você começou esse projeto? Quando que você criou a primeira escola?
R – Eu tive em 2010, 2011, nós tínhamos algumas escolinhas, mas era aquela coisa: “Pô Falcão, eu quero abrir uma escola sua” “Não, pode abrir”, eu vi que começou a tomar uma proporção muito grande, eu fechei todas, 2012 eu me organizei tudo pra isso, e a partir de janeiro desse ano, virou um sistema de franquia mesmo. Então, foi tudo planejado pra que fosse um sucesso e hoje, a gente analisou tudo, que é bom pra mim, mas o que é que é bom pro franqueado, como é que ele vai se sentir bem pra não fechar, como é que ele vai se dar bem também. Então, a gente analisou tudo isso, se colocou no lugar deles também e hoje, é um sucesso! E os Correios dá apoio.
P/1 – Mas tem um método? Tem um público?
R – Tem um método. A gente tem um método de trabalho, a gente analisa onde que vai ser aberto, se tem condições de atender o público dentro das nossas exigências, a gente exige que tenham professores formados, a gente mostra que é uma escolinha de futsal, não é um time de futsal, então, o menino que vai lá pra praticar o esporte, e aquele menino que é muito bom, o tratamento é igual, então, ninguém pode se sentir diminuído. Aí, aquele menino que tem um diferencial vai ser indicado para os times, para os clubes. Então, é uma escolinha, então aquele menino que não sabe chutar uma bola, que está lá pra praticar o esporte e aquele menino que é muito bom, tratamento é igual: exigência de nota, como vai na escola, a gente tem que mostrar para os pais que tirar o menino da escolinha não pode ser uma punição, a escolinha não é uma punição, é um algo a mais. Então, eu entendo que o esporte e educação andam juntos. Então, não adianta o menino ir mal na escola: “Você não vai mais treinar”, não, a gente mostra que nós também ali, cobramos isso das crianças. Então, isso é muito importante e tem sido um sucesso.
P/1 – E quando que os Correios começou a patrocinar essa sua atividade?
R – Eles apoiam desde o inicio do ano, eles dão um auxilio da marca estar junto, nenhum apoia financeiro, nada disso, mas de carregar a marca junto com o Falcão, já que nós somos uma parceria, temos essa parceria também. Então, eles apoiam, eles abrem as escolinhas deles, eu também participo. Quando eu abro as minhas, eles também estão junto comigo. Então, realmente, a gente tem essa ligação completa, assim!
P/1 – Os Correios têm escolas de futsal?
R – Os Correios inaugurou uma no ano passado em Brasília, eu estive junto, coisa para crianças carentes mesmo e sempre que eu posso a gente está junto. Não é nem pelo patrocínio, nem por isso, se eu não fosse patrocinado, eu iria da mesma forma. Em algumas coisas que eles fazem também, dentro do esporte de vários ramos, eu tenho certeza que eles fariam também, independente de serem patrocinadores ou não. Então, tem muita coisa que ninguém sabe, mas que eu já vi os Correios fazer para crianças carentes, para lugares pobres, uma série de coisas assim, que realmente fazem a diferença de ser uma marca diferenciada.
P/1 – Falcão, quando que você começou com esse apelido “Falcão” e por quê?
R – Meu pai tinha um apelido, quando eu era criança, o meu pai parecia muito com o ex-jogador Falcão, jogando e fisicamente, meu pai jogava nada profissional era na várzea em São Paulo, o pessoal apelidava ele de Falcão. E quando eu era criança, eu acompanhava ele, me chamavam de Falcãozinho: “Falcão e Falcãozinho”. Então, o meu pai era muito conhecido nesses campeonatos não profissionais que tinham em São Paulo. E acabou ficando pra mim, Falcão, e pra mim foi importante, porque é um nome forte, pra minha profissão faz muita diferença.
P/1 – Desde pequeno?
R – Desde pequeno.
P/1 – Você já era chamado de Falcãozinho?
R – Desde os sete, oito anos, era Falcãozinho e quando eu fui para esse clube Guapira, com 12 anos, foi justamente um amigo do meu pai, que já chegou lá me apresentando como Falcão. Então, ali ficou.
P/1 – Falcão, deve ter várias coisas, claro, que a gente não falou, a gente deu uma pincelada até pelo tempo, tem alguma coisa que você acha importante deixar registrado, que a gente não tocou, assim, um fato da sua história?
R – Da minha vida profissional?
P/1 – Da sua trajetória.
R – Acho que entra o lado dos meus filhos também, que pra mim foi muito importante.
P/1 – Quando que você teve o primeiro filho?
R – Eu tive o meu primeiro filho em 2002, no final de 2002, o meu filho nasceu no mesmo dia que eu soube que o meu pai estava com câncer. Não, meu filho nasceu na sexta–feira, no domingo era um domingo de eleição, foi outubro de 2002, eu fui com a minha mãe, eu fui levar a minha mãe em casa, que eu ia levar ela pra votar, minha mãe abriu os exames, descobrimos que o meu pai estava com câncer, meu pai tinha 48 anos. E ali, pra mim, passei um período muito complicado, porque em janeiro de 2003, eu fui pra Santa Catarina e eu já sabia da doença do meu pai e eu não sabia se eu ia ver o meu pai de novo. Aí, eu jogava e vinha pra São Paulo. Então, aquele ano, eu ganhei pra pagar as minhas viagens, que eu vinha pra São Paulo, eu tinha que voltar, eu não sabia se ia ver ele de novo. Então, passei um ano bem difícil ali, e o meu filho, ali, em Jaraguá era um suporte, então a gente tinha ele ali, eu ia pra São Paulo, e saber que o meu filho não ia ter o avô, porque a gente já sabia que o caso do meu pai era irreversível. Aí, em 2005 veio o Luigi, que foi quando eu fui pra São Paulo, a Tatiana engravidou, minha esposa engravidou, acabou nascendo no final do ano de 2005, mas pra mim, profissionalmente também, me ajudou muito, me motivava muito, porque eu saía de casa pra jogar e eles estavam ali e eu perdi muito o tempo deles também, porque eu viajo muito, tenho a Seleção Brasileira, tenho patrocinador, tenho o meu clube. Então, dificilmente, eu fico na minha casa. Mas sempre com a vontade de render melhor, pra ganhar melhor, pra dar o melhor pra eles. Então eu acho que pra mim, isso sempre foi muito importante.
P/1 – Vendo a sua trajetória, se você tivesse que mudar alguma coisa, você mudaria alguma coisa?
R – Nada! Nenhuma escolha. Eu acho que eu fiz todas as escolhas certas, no momento certo. Como eu falei até do São Paulo, que muita gente acha que eu sou frustrado por aquilo, muito pelo contrário, eu precisava passar por aquilo, a aceitação que eu tive só não foi de uma pessoa, que foi do treinador. Até hoje, faz oito anos, todos os dias, pelo menos, três, quatro, cinco pessoas me perguntam a mesma coisa ou me falam a mesma coisa: “Eu tenho raiva do Leão, por sua causa, poxa poderia ter dado certo”… uma série de coisas em cima daquilo, então eu acho que ficou aquela dúvida em todo mundo e todo mundo vai morrer com essa dúvida e eu também. Mas eu faço o que eu gosto e a aceitação do público que eu tive no mundo inteiro, jogando futsal, pra mim já estou muito satisfeito.
P/1 – No seu universo, assim, quando você era pequeno, ou agora, você recebe, manda carta? Você teve alguma relação com carta?
R – Recebo bastante! Hoje, as redes sociais eliminam um pouquinho isso, porque a pessoa ao invés de te mandar uma carta, vai te mandar um recado no Twitter, no Instagram, mas há uns anos atrás, até quando eu estava no São Paulo, eu recebia muita carta de fã. E depois que começou as redes sociais.
P/1 – Vinha carta pelos Correios?
R – Vinha, vinha! Chegava lá no São Paulo. Quando eu joguei em Jaraguá do Sul, chegava lá em Jaraguá do Sul.
P/1 – Você lia essas cartas?
R – Lia todas! Sempre li todas. Falar que eu respondia, realmente eu não respondia, porque eu nunca respondi nem e-mail. É um erro meu mesmo.
P/1 – O que vinha escrito?
R – Tudo de fã, mas no final, sempre pedem alguma coisa, uma camisa, tudo, mas o carinho assim, de todo lugar do Brasil e do mundo era absurdo, era absurdo! E hoje com as redes sociais, eu vejo uma aceitação muito grande, eu sempre entro depois, eu sempre demoro a aceitar uma rede social, mas eu vejo hoje, o Instagram, eu estou há quatro meses, cinco meses, com 150 mil seguidores do mundo inteiro, o Twitter, a mesma coisa. Então, dentro da relação minha com o futsal, eu tenho, um exemplo, 150 mil seguidores no Instagram, o segundo jogador de futsal que mais tem, tem quatro mil. Então assim, é muita distância. Então, eu consegui conquistar isso num esporte que não é tão divulgado. Então, o Falcão tem uma percentual de mais de 60% da mídia de um esporte. Então, é muita coisa, pra mim, é muito bom. Para o esporte, não é tanto, porque eu vou parar de jogar já, já. Vou jogar mais dois ou três anos, então a gente torce para que apareça mais alguém aí que chame a atenção do público e dê sequência no esporte.
P/1 – Quais são os seus planos, hoje e para o futuro?
R – Eu tenho bastante planos assim, eu não quero viver essa vida que eu vivo, de falar que eu vou ser treinador de um clube, porque a minha rotina vai ser a mesma e essa rotina eu não quero mais, de ficar o ano inteiro fora, viaja, perde datas. Eu quero estar ligado ao esporte, de repente alguma coisa na Seleção Brasileira, aquela coisa mais esporádica, você vai lá, tem a Seleção Brasileira, aqueles dez dias, acabou, você volta pra sua casa e você está envolvido no esporte da mesma forma. Eu tenho a intenção de fazer também jogos exibição pelo Brasil, alguma coisa “Falcão Futsal Show” e ser contratado, uma forma de ganhar dinheiro e continuar jogando, é uma forma de negócio também, fazer cinco, seis jogos por mês, visitar os interiores, nada daqueles jogos profissionais. Minha ideia é que jogue o prefeito da cidade, que joguem os empresários da cidade, pra que seja um jogo exibição, que o pessoal vai querer ver. Esse é um plano meu, que eu vou ter um escritório só pra isso. Fora o esporte, já estou no ramo da construção, já tenho alguns parceiros que a gente faz algumas coisas relacionadas a prédios, coisas de médio padrão, alto padrão, pra vender. Então, eu já tenho algumas coisas por fora já, direcionando um pouquinho pra Sorocaba, que é a cidade que eu vou morar depois que eu parar de jogar.
P/1 – Quais são os seus sonhos?
R – Na verdade, o meu sonho sempre foi a minha casa do meu jeito, a gente sempre se adapta ao lugar que você está. Então, você está aqui, mas aqui não é a minha casa, é uma casa que o clube aluga pra mim, pra eu poder morar, pra poder jogar. Então, atleta não tem a sua casa e a minha casa do meu jeito, meu apartamento do jeito que eu sempre escolhi entrega esse ano, lá em Sorocaba, que é a cidade que eu escolhi pra morar. São Paulo, eu acho que é muita loucura morar lá, mas eu também não quero estar longe de São Paulo. Então, eu escolhi Sorocaba, porque eu tinha uma casa de campo lá, acabei conhecendo a cidade, fazendo muitos amigos e escolhi morar lá. Então, o meu plano é morar na minha casa, do meu jeito, o jeito que eu escolhi e isso vai se realizar agora e curtir, continuar no esporte, viajar um pouquinho, estar mais presente na vida dos meus filhos, ver o meu filho jogar tênis, jogar futebol, eles: “Pô pai, você vai no meu jogo?” “Não vou, vou estar viajando” “Pô, tem a final do tênis, você vai?” “Não vou, vou estar viajando”. Então, eu perco muitos momentos legais assim, que não tem mais volta, então os meus planos é jogar mais três anos, exatamente, no máximo, terminar em final de 2016, mas já com uma segurança por fora, então tudo que eu conquistei com o esporte, eu consigo fazer coisas com o nome que eu conquistei, que muito atleta não consegue, atleta de futebol, parou de jogar e não tem um chamariz muito forte pra fazer um centro de treinamento. E eu, com o meu nome, no meu esporte, eu consigo ter franquias de futsal, eu consigo fazer os jogos de exibição, então tudo isso eu consigo fazer, mas o outro lado, porque parar não deve ser fácil, então você tem que já estar municiado de coisas para fazer, porque você de repente acordar e aquela rotina que foi a sua vida inteira, você não tem mais, não deve ser fácil! Então, eu vou ser muito jovem pra vida, e muito velho pra um atleta. Então, você tem que parar, você é obrigado a parar, o atleta tem prazo de validade e o meu está chegando ao fim, então eu quero curtir esses últimos três anos da melhor maneira.
P/1 – E o que é que você acha dessa experiência de você contar a sua historia de vida para o Museu da Pessoa?
R – Eu acho muito legal, porque vocês tratam justamente em cima disso, como você falou, é um museu, vai estar ali sempre e eu fico feliz de fazer parte disso, de ser uma das pessoas escolhidas e pra mim foi um prazer muito grande ter participado e eu quero esse material pra avaliar tudo o que eu falei (risos).
P/1 – Ah, você vai ganhar a cópia. Obrigada Falcão.
R – Imagina, obrigado vocês.
FINAL DA ENTREVISTA