História de:
Elindomar Cavariani
Autor:
Museu da Pessoa
Publicado em:
08/07/2020
Nasceu em Palmeira do Oeste em São Paulo. Considera o centro rico e diverso. Presenciou o incêndio do Edifício Joelma. Ficou marcado por um sobrevivente que estava acalmando as pessoas. Vivenciou o alagamento no Anhangabaú. Considera que há falta de planejamento dos governantes. Música que representa o Centro é a de Caetano Veloso.
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Por favor, eu gostaria que o senhor falasse seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Elindomar Cavariani, nasci em 14 de setembro de 1957 em Palmeira do Oeste em São Paulo.
P/1 – Elindomar, qual é o seu centro aqui na cidade de São Paulo?
R – O meu centro aqui em São Paulo é... Ele é muito rico o centro, tem histórias, tem pessoas, tem a própria história da vida de cada um. Quando você anda na rua aqui, você é capaz de ver um universo, o simples, a mistura, a miscigenação, o sentimento, né? Há muitas vezes que as pessoas não ligam, mas toca, por mais que qualquer escalão que elas estejam e aí que começa a história de São Paulo. É a minha opinião.
P/1 – Então conta pra gente alguma dessas histórias que você vivenciou, que aconteceu com você aqui no centro da cidade?
R – Uma que me marcou muito, porque também eu estava numa idade, foi o incêndio do Joelma. Eu era office boy, tinha uns 15 anos, eu parei no Viaduto do Chá e de lá você via toda aquela imagem. Naquela época se tornou... Acho que foi um dos primeiros, né, grandes incêndios que houve em São Paulo. E você via, aquilo tinha um respaldo tecnológico pra dar sustentação naquilo que estava ocorrendo. E uma coisa que me marcou muito, que eu nunca vou esquecer na minha vida, foi um senhor de terno e gravata, todo vestido, sentado no (patamar?), né. Nesse momento eu olhei assim, ele ficou de pé e pedia calma pra as pessoas e eu fiquei assim durante mais ou menos uns 30 minutos vendo aquilo. Parei ali, esqueci até do que eu tinha que fazer. E esse homem, ele acalmava as pessoas e o mais incrível é que ele não tirou o terno o tempo todo. Então, você via aquele calor, de longe que você via as chamas, e ele de terno acalmando as pessoas. Assim, na minha época de adolescente foi uma coisa que me marcou muito e me marca até hoje, não dá para esquecer.
P/1 – E ele foi salvo?
R – Foi salvo. Eu lembro que até li no jornal no outro dia que ele havia sido um dos que se salvaram. Não se salvou só ele, né? Ele passou a calma para as pessoas para que não cometessem loucura, pois a gente não era capaz de estar lá e sentir o que é estar naquele meio. Ele não, ele foi uma luz no fim do túnel para as pessoas e me marcou muito.
P/1 – Você conseguiu “ajuntar” aí na sua resposta um grande personagem do centro da cidade e uma grande história, né? Conta uma outra história pra gente que você tenha participado ou que você tenha ouvido?
R - Que eu tenha participado? Uma recente? Há! Foi quando deu enchente no Anhangabaú onde os carros ficaram boiando, né? Então, eu tava no centro da cidade e eu vi tudo aquilo. Eu vi as pessoas, foi muito rápido quando encheu o Anhangabaú, e as pessoas desesperadas segurando no patrimônio ali, tentando se segurar, segurava carro, um tentando agarrar as outras pessoas pra sair, e vinha barco e o bombeiro não sabia o que fazia, era gritaria. Então, tudo aquilo ali, eu vi a incompetência dos nossos políticos, entre aspas, né? Porque as pessoas não... Pra ser um político tem que ser inteligente e precisa ter visão, né, futurístico, e ver uma cidade que cresce dia a dia... você ver uma mega construção daquela não ter infraestrutura “de conseguir” segurar os carros ali dentro por um tempo, onde a água pegou todo mundo e deixou... Vi gente chorando. Bem, nessa hora todo mundo fica igual, né? O médico é igual porque vai socorrer o outro que... Tem gente que tem Mercedes que vai socorrer o outro que tem Fusquinha e aí você vê naquilo ali é que as pessoas no final das contas são todas iguais. Isso daí foi o que me marcou muito e é recente, é um fato que vai ficar pra história de São Paulo também.
P/1 – Elindomar, fala pra gente agora um outro assunto, a respeito de música no centro?
R – Música? Bem, na atualidade eu acho que a música que mais marcou o centro foi a de Caetano Veloso e acho que ela nunca vai sair do seu patamar, porque a música, quando o Caetano exprime, né, onde é que ele tinha chegado e conta dentro dessa música que muita gente veio, imigrou pra cá e passou naquele lugar ali, na esquina da Avenida São João, e que você fica exuberante por ver as cores e por ver os lugares, a arquitetura, o que vem dessa cultura, né. Vê muito próximo da sociedade ali o mundo real, a realidade de São Paulo que até hoje é a mesma coisa, mas ele conseguiu com muita sensibilidade e uma clareza de espiritualidade, eu chamo. Consegui resumir essa música que pra mim já ficou na história e nunca mais sai.
P/1 – Elindomar, o que você está achando desse espaço que o Banco do Brasil restaurou e dele ter convidado o Museu da Pessoa pra fazer esse tipo de trabalho junto à população, registrar suas pequenas histórias?
R – Eu parabenizo vocês que são profissionais que estão aqui dando oportunidades pra pessoas que estejam transmitindo sua história. Isso daí vem trazer a tona a própria história de São Paulo, porque a história são as pessoas que vivem aqui e que fizeram essa cidade de alguma maneira crescer como pessoas, né, e que isso, agora que tá começando, mas isso vai repercutir muito daqui um tempo. Muitas das pessoas vão ver isso daí, vocês viabilizando pela internet isso aqui vai crescer muito e vai ser exemplificado para que a história não morra nunca, né? Porque é o que falta na gente e no país, é porque em muitas das vezes a gente esquece a história e vê ela se corroendo, sumindo e ninguém faz nada. Eu parabenizo ao Banco do Brasil e a Secretaria da Cultura, acredito que também esteja empenhada nisso, que revitalize sempre esses espaços e que dêem espaços para as pessoas serem a sua própria história.
P/1 – Muito obrigada Elindomar pela sua colaboração, se você tiver alguma coisa a mais pra acrescentar, esteja à vontade.
R – Eu vou parar por aqui. Eu agradeço.
Paulo Freire (Paulo Reglus Neves Freire)
por Museu da Pessoa
Rosaria Braga da Silva
por Museu da Pessoa
Jorge Kagnãn Garcia
por Museu da Pessoa
Paulo Queiroz Marques
por Museu da Pessoa
Milton Teixeira Santos Filho
por Museu da Pessoa
Maronil Marcos Martins
por Maronil Marcos Martins
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