Muita responsabilidade!
Autor:
Publicado em 14/11/2021 por Danilo Eiji Lopes
Entrevista de Otávio Bráz
Entrevistada por Torigoe / Daniela
24/06/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FUNAS_HV015
Transcrito por Aponte
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P/1 - Qual é o seu nome completo, sua data de nascimento e cidade, por gentileza?
R - Meu nome é Otávio Sebastião Bráz, data de nascimento 20 de janeiro de 1974. Cidade de Diamantina, Minas Gerais.
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P/1 – Otávio, você sabe alguma história do seu nascimento? Seu pai e sua mãe contaram para você como é que foi? Como é que foi a gestação? Como é que foi o dia que você nasceu? Alguma coisa assim, por acaso.
R - Minha mãe, ela sempre me fala, a minha história... Na verdade assim, eu sou adotado pela minha tia, a minha mãe faleceu eu tinha 1 ano mais ou menos. Aí a minha tia, ela brigou, na verdade ela brigou mesmo, com meu pai de sangue, porque eu não sou registrado no nome dele, para ter minha me guarda ai. Então ela é minha tutora, daqui que eu chamo de mãe. Então quando ela faleceu eu tinha um ano. Então eu não tenho recordação nenhuma dela. Então eu reconheço, a minha mãe é minha tia. Que essa e minha mãe e o esposo dela que é meu pai, então é mais ou menos isso aí. A minha história começa assim. E sem trauma, sem nada.
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P/1 - Qual que é o nome da sua mãe, que é sua tia?
R – Estrelina da Paixão Chaves.
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P/1 - E o que ela te conta sobre esse caso, esse começo da sua vida? Dela brigando para ter sua guarda, como é que foi isso?
R – A nossa família é bem humilde, do interior, de Diamantina, Minas Gerais, na época. O que ela conta... É que o meu pai queria ter a guarda, como teve dos demais, só que aparentemente ele não tratava muito bem os filhos. E pelo fato de ela ter perdido a irmã dela... Daí o meu irmão, que eu tenho um irmão mais velho, já morava com a minha tia, que é minha mãe. A gente vai ficar nessa confusão, minha tia, minha mãe. Ele pediu para ela me buscar para eu ficar junto com ele. Então começou assim, ele era policial militar, na época. Ele é reformado hoje, eu não tenho muito contato. Então ela foi, brigou na justiça. Por quê? A minha sorte na verdade é que eu não sou registrado no nome dele, então eu tenho o registro da minha mãe natural, que é a que faleceu. Então com isso fica muito mais fácil. Porque a briga na justiça foi o seguinte: como é que você pode ser pai dele, se por ventura não está no seu nome. Naquela época não tinha DNA, graças a Deus, se não eu estava ferrada provavelmente. Tem essas coisas, então eu brindo muito com isso. E a vida me deu essa sorte. Então eu agradeço.
3:50
P/1 - A sua mãe acabou pegando você e seu irmão, é isso?
R – Isso! Ai o que acontece, o meu irmão já estava registrado no nome do pai e da mãe, e eu não. Então ela foi e criou a gente. Meu irmão na verdade, ele gostava muito da minha mãe natural, então ele já foi praticamente morar com a minha tia, já com uns 3 anos, 4 anos. Ela chegou, a minha mãe natural e falou para ela assim: toma esse menino aqui que ele não quer ficar comigo não. A partir dai a minha tia já pegou ele para criar e assim foi. Então ela criou a gente com muita dificuldade, igual eu falei para vocês ai. E foi praticamente todo mundo junto com ela. Porque a gente tinha uma tia, que era paralitica também, que foi morar junto com todo mundo, que na época ela morava em Diamantina também. E o meu pai aceito, porque não é fácil, naquela época ver essa galera toda junto. Então a vida da gente é isso, cada dia é um inicio.
5:38
P/1 – Então na casa onde você cresceu, era você, a sua mãe, o seu irmão e a sua tia que era paralitica, é isso? O tinha mais geste?
R – Tinha o meu pai e tinha também o meu irmão, que é meu primo, que a gente considera como irmão. Na verdade, eu até falo assim. A minha mãe ela perdeu 2 filhos, e chegaram 2. Os 2 na época, 1 foi de sarampo, que era próximo da idade do meu irmão mais velho, que eram da mesma idade. E a menina faleceu, e eu cheguei no lugar dela. Então a gente brinca com isso, a senhora perdeu 2. Ela fala assim: eles morreram, mas nunca esqueci. Eu brinco com ela, “o mãe, a senhora perdeu, mas também a senhora ganhou, se a senhora tivesse, como é que a gente ia chegar?”, e assim a gente vai brincando.
6:35
P/1 – E qual que é o nome do seu irmão?
R – Meu irmão trabalha em Furnas hoje também, e Sidney Aparecido Ferreira Lima. Ele trabalha em Furnas, ele entrou depois de mim, ele entrou em 2000, fez concurso em 2004
6:53
P/1 – Otávio, você cresceu em Diamantina mesmo?
R – Não! Igual a gente comentou, a minha mãe já morava em Belo Horizonte. Então com 1 ano, quando a minha mãe morreu, já fui para BH. Então por isso que eu falo pra você, eu não tive muito convívio em Diamantina. E eu não vou lá não é por essa questão de família não, é porque eu não gosto mesmo da cidade. Então como a nossa origem é um pouco mais para frente de Diamantina, é 50km para frente. Região de Itamarandiba, São Gonçalo do Rio Preto, a gente só passa em Diamantina. Apesar que eu tenho parentes por parte de pai, eu não tenho mais muito conta com ele. Eu tinha muito com a minha vó, com uma tia minha. Mas alguns já faleceram. Então eu só passo direto. Então eu nasci, praticamente fui criado em Belo Horizonte. Eu morei em BH até os 22 anos, até vim para morar aqui e trabalhar em Furnas. Aqui na cidade de São Jose da Barra.
7:54
P/1 – Você durante esses 22 anos em Belo Horizonte, morou sempre no mesmo lugar, no mesmo bairro?
R – Desde que eu me lembro, sempre no mesmo bairro.
8:07
P/1 – Qual que é? Como é que foi crescer nesse bairro?
R – O bairro lá é o bairro Vale do Itoba. A vida antigamente era uma vida mais tranquila, apesar de não ter muitos recursos financeiros, que era uma vida muito mais difícil. Pessoas falam que a vida hoje é difícil, tem esse momento que a gente vive hoje no país, pandemia. Mas é uma questão que você sobrevivia, mas tinha muita parte da segurança. A gente criança tinha lugar para brincar, a gente brincava de mais, entendeu. Só que eu perdi o contato com a maioria das pessoas que estão lá. Eu vou lá ver minha mãe, que minha mãe mora lá, mas o contato eu perdi. Depois, estou na empresa, vai fazer 25 anos agora, você pede o contato. Principalmente, que dos 12, até os 18 anos, a vida e trabalho e escola, a gente não tem mais aquele contato com a galera.
9:04
P/1 – E tem alguma história, alguma coisa que te aconteceu na infância que te marcou muito?
R – Não, marcar nunca teve nada que marcou. Assim, nada de violência, nada. De problema de família, graças a Deus, não. Foi tão bons momentos que a gente não tem como selecionar, entendeu. Não tem como selecionar o momento que marcou não. Eu não me lembro nenhum deles que tenha marcado assim.
9:39
P/1 – Em geral como que era Belo Horizonte na sua infância?
R – A gente, pelo fato de não ter muito recurso, então você não era muito de ficar passeando. Pai nosso era a vida da gente. Então às vezes a gente viaja para Diamantina, para ver os parentes da gente, mais no interior, na cidade de São Gonçalo do Rio Preto. Antigamente ficava uma briga, era Felizberto Caldeira, São Gonçalo do Rio Preto, eles nunca entraram muito num consenso em relação ao nome, e atualmente é São Gonçalo do Rio Preto, um bom tempo isso. Então a gente viajava para esses lugares de vez em quando, o que eu lembro era um vilarejo mais próximo. Na época tinha o trem da rede Ferroviária Federal, que era cidade de Roças Grandes, acho que nem existe mais, por esse nome. Então nossa vida era essa, e no bairro mesmo, você ficava ali brincava com os meninos, os anos foram se passando ali mesmo.
10:41
P/1 – E você gostava de brincar de que nessa época?
R – A gente brincava de tudo, nossa senhora! Mamãezinha da rua, polícia e ladrão, carrinho, bolinha de gude, bodoque, tulipa, um caninho com uma bolinha de papel para lançar no outro. De vez em quando uns faziam mais arte, colocava um espinho na ponta, menino você já viu né. Não tinha limites para brincadeiras, sempre tinha criação dentro do quintal. Bola, futebol.
11:14
P/1 – Você gosta de futebol? Seu irmão também? Vocês torcem para algum time?
R – Eu torço para o Corinthians, apesar de ter nascido em Minas Gerais, eu torço para o Corinthians. A minha paixão pelo Corinthians começou em 92, quando ele ganhou do Atlético Mineiro, dentro de casa, no Mineirão. Mas o meu irmão é Cruzeirense e o outro e meio que Atleticano. Mas a nossa família nunca foi muito esse negocio de futebol. Então talvez isso me deixou meio distante dos times de Minas. Futebol eu sou mais de zaga, meu irmão era mais ligado ao futebol, essas questões. Porque futebol é assim, ou você é bom, ou você vai para a zaga, ou então você não joga. Então o meu negocio era mais na zaga ali, na zaga eu era bom. Ai hoje eu brinco com uma galera, porque tem uma galera que era boa, ai eu até brinco com eles, falo assim: diferença nossa para vocês é o seguinte: vocês pioraram, ficaram ruins, envelheceram, e nós não, a gente continua ruim, hoje vocês estão igual a gente.
12:16
P/1 – Teve esse jogo de 92, em específico que fez você vira Corintiano, é isso? Como é que foi esse jogo? Foi na TV, no rádio?
R - Não, vi pela televisão mesmo, questão nossa, as mães da gente, eu tinha uns 15 anos na época, não deixava a gente ficar saindo não. Tinha a parte financeira também. Mas eu nunca fui muito em estádio. Eu fui em estádio, com um cunhado meu, se eu não me engano, acho que foi quando o Atlético Mineiro caiu para a série B. Foi naquele ano, ou ele caiu no próximo, naquele ano ele não caiu. Foi a primeira vez que eu fui. Mas eu acho que o estádio ainda, ele não é muito voltado para as famílias, porque você ver de tudo ali. Eu não recomendo, pelo menos naquela época, eu não voltei depois. O Corinthians ganhou de 3X2, eu acho que ele foi campeão da copa Brasil, se eu não em engano, na época. E foi a partir daí. Aí eu tiro o sarro dos Atleticanos, que os Atleticanos e os Cruzeirenses, vêm falar comigo, “pô, mais você é de BH, lá nascido, e torce para o Corinthians”. “Vocês não tem time aqui”, a gente detona eles assim.
13:36
P/1 - E até hoje você é Corintiano?
R – Até hoje eu sou Corintiano. Torço um pouco menos, porque o time está muito ruim, mas eu seu corintiano ainda.
13:45
P/1 – E aquela época o time era o que, era o Corinthians do Neto, era isso?
R – Não, na época, em 92 era o Amaral. O Amaral era um dos jogadores, o Marcelinho Carioca, o Amaral, aquela galera ali. O timão mesmo do Corinthians.
14:10
P/1 – Como é que era você na escola, Otávio?
R – Rapaz do céu! O que acontece. Na escola, eu defino a minha época de escola em dois momentos aí. Do jardim, eles falavam pré primário, mas era jardim. Do Jardim até 4ª série, eu fiz em escola publica praticamente. O ensino era diferenciado, não é que o ensino hoje é ruim, mas a escola estadual, ela tem um sistema diferenciado. Ai naquela época a gente tirava boas notas. Aí depois, na 5ª série, eu consegui, minha mãe conseguiu pra mim no SESI, sistema industrial, escola SESI. Ai você tem uma diferença. Por quê? Porque muda o sistema de ensino. Não é totalmente diferente. Então eu fiz a 5ª série, consegui passar na 5ª série. Na 6ª eu fui reprovado. Ai eu repeti a 6ª série e voltei com força total, porque errar é humano, persiste no erro é burrice. Ai na 6ª série fui para a noite, tem a questão que é outro ritmo também, porque eu já trabalhava. Na 6ª eu não trabalhava não, era um outro ritmo. Comecei a trabalhar com 14 anos. Mas normalmente a gente mudava e ia para o turno da noite. Ai eu voltei de novo, arrebentando. Então eu divido a minha escola assim. Ai depois eu fiz, eu voltei para escola publica de novo, para começar o ensino médio, fiz um ano. Aí eu não queria fazer magistério, nem contabilidade, que eram os cursos que tinham. Eu já trabalhava. Comecei a trabalhar em... Primeiro eu comecei em 89, mas não com carteira assinada. Ai eles me ficharam, com carteira assinada em, se eu não em engano em 11/12/89, o meu primeiro registro em carteira, assinado. E com esse salario que eu recebia, eu comecei a fazer um curso técnico. Porque eu não queria fazer contabilidade e magistério, porque eu via que talvez o mercado. Eu via as pessoas passando dificuldade e tudo mais, ai eu não queria ser professor. Ai eu olhava as vezes os jornais, para ver o que tinha, “deixa eu ver esse aqui, esse aqui ganha bem”. Então eu fui, comecei a pagar meu curso técnico na Polimidi. Daí eu paguei uma ano na Polomidi, ai depois, minha mãe mais uma vez, guerreira mesmo. Ela conseguiu pra mim, o curso gratuito, lá no colégio técnico de Contagem. Ai com isso eu fui estudar no colégio técnico de Contagem. Ele era pago pela prefeitura de Contagem, isso curso técnico. Ele ficava num campus da PUC, lá em Contagem, na época a prefeitura pagava isso ai, eu consegui Graças a Deus. E foi o mesmo esquema, o primeiro ano eu fui pra lá, era outro sistema, daí eu fui reprovado. Reprovado o segundo ano, no terceiro ano. Porque o primeiro foi no ensino normal, na escola pública, o segundo ano foi numa escola técnica particular, que eu pagava com o meu salário. Eu ganhava um salário mínimo, e uma salário mínimo eu pagava a escola para mim poder estudar, fazer o curso técnico. Ai eu cheguei nessa escola, entre aspas, particular, que era da PUC, mas era bancada pela prefeitura. Me ferrei nesse ano, ai depois, no ano que vem, eu voltei com força total de novo, graças a Deus. E foi isso ai que me deu meu sustento, que dá meu sustento até hoje.
18:29
P/1 – Você se lembra exatamente o dia que você foi registrado na carteira né?
R – É! Se eu não me engano foi exatamente 11 de dezembro de 89. E seu eu não me engano, foi dia 21 dezembro de 92 que eu fui demitido. Então é 3 anos e 11 meses mais ou menos, isso eu não esqueço.
18:53
P/1 – Que trabalho era esse? Em qual empresa?
R – Era um deposito de material de construção, eu era fichado como serviços gerais. Fazia de tudo, trabalhava no balcão vendendo as coisas, carregava saco de cimento também, ajudava a descarregar caminhão. Não era serviço fácil não, por isso que a gente tem que dá valor, porque a gente sabe que as coisas da vida não são fácil.
19:22
P/1 – E esse emprego foi no seu bairro mesmo?
R – Foi no bairro, não ficava nem 200mt de casa. Eu tinha que conciliar, depois que eu comecei a fazer o curso técnico, até 92 era mais tranquilo. Porque a escola que eu estudava, que era Polemidi, os ônibus que atendiam o centro de BH, os ônibus passavam na porta dessa escola. Era mais ou menos próximo também da escola, eu descia num lugar e andava a pé, uns 200mt mais ou menos, 500mt para pode chegar nessa escola aí. Então era mais fácil. Nessa outra, que é o da PUC lá, de Contagem, que o pessoal chamava de unidade dos trochas, tinha essa rivalidade de escola técnica. Aí era mais complicado, tinha um ônibus que passava na porta da escola, ela passava, normalmente quando ele passava, ele passava as 17h15, meu horário de trabalho era até às 18h, então tinha que sair um pouco mais cedo. E quando ele passava, as vezes ele não passava, quebrava, alguma coisa assim. Então, ai eu tinha que pegar um outro, ai eu descia num outro ponto, ai as vezes eu andava um quilometro e meio mais ou menos para chegar na escola. E as vezes, eu passava pelo lixão, para poder estudar. Passava, via as pessoas pegando as coisas do lixo, para poder vender, no meio dos urubus, 18h da tarde. As vezes a gente ia com os colegas, porque atrasava o ônibus, ia conversando e tudo, 3 anos. A gente emociona, porque era interessante, você vê que não media esforços né. E quando terminava a escola, o que acontece, a minha aula, ela era até as 23h15 da noite. E o ônibus que passava, esse que eu falei para você, quando ele passava, ele saia de lá e passava o de 14h45. O a gente saia mais cedo, para poder pegar o ônibus, então a gente ia no retorno, ia pegar o ônibus pelo lixão, atravessava o lixão. Então às vezes a gente tinha que, “qual é a matéria, será que eu vou fazer ela agora, para não perder o ano”. Mas o ônibus nem sempre passava, então a gente já nem contava muito com ele. Então depois de um certo tempo, já ia direto. Não era fácil, mas era isso ai. Ai eu chegava em casa, as vezes 1h30, ia trabalhar no dia seguinte. Porque você tinha um objetivo, entendeu. Eu nunca fui muito de para no meio do caminho, entendeu. Sempre segui, segui em frente. Queria dar uma condição melhor para a minha família, para a minha mãe. E todo mundo foi me seguindo, porque eu fiz o curso técnico, formei em 95. Consegui, (23:45...), que é a empresa estatal, telecomunicação. Aí encerrou meu contrato com eles. Me demitiram do deposito, eu estava estudando e tudo, mas já começa ficar uma carga pesada um pouco, e a época eu estava com 18 anos mais ou menos, você começa ter a questão do exercito. A empresa tem que pagar, tinha isso, porque você ia ficar afastado e tudo. Mas eu acho assim, que foi uma boa. Porque se o deposito não tivesse mandando embora, será que eu não estaria lá até hoje. Você está entendendo. Então eu tenho uma certa dificuldade em relação a essas questões de sair do emprego. Então eu falo assim, a vida, ela sempre que me guiou, na maioria das coisas. Ai eu lembro que eu me formei e em setembro de 95, ai eu fui consegui um emprego na Toshiba, temporário. Prestar serviço para a Toshiba, eles são transformador de Contagem. Então eu já alinhei, porque eu trabalhava nessa parte de ensaio transformador. Foi meu primeiro emprego na área técnica, e foi uma maravilho, porque eu ganhava um salario mínimo, acostumado a ganhar um salario mínimo. Fui ganha 5 salario mínimos, praticamente. Não era muita coisa na época não, mas quando você sai de 1 salario para 4, da uma diferença muito grande. E a gente passa por alguns momentos de dificuldade, porque, por exemplo, o meu contrato era temporário, era de 3 em 3 meses, eu graças a Deus consegui ficar de 3 meses, estender até 7 meses. Então eu sai em setembro, porque lá a gente trabalhava por lote de produção. Ela entrava em licitações e leilões, para conseguir os transformadores, tinha todas as estatais na época, Eletropaulo, Cemig, essas questões. Então você tinha autos e baixos. Ela tinha o quadro dela fixo, não era eu, e tinha os terceirizados, como acontece em Furnas. Então ela reduzia as vezes o quadro, eu consegui ficar, graças a Deus até 7 meses. E se eu não me engano, encerrei meu contrato, acho que em março de 96.
26:19
P/1 – E daí você foi procurar emprego em outro lugar depois, como é que foi?
R – Isso! Fiquei 7 meses trabalhando na Toshiba, recebi seguro desemprego, acho que são 3 meses de seguro desemprego. Então eu estava andando no centro de Belo Horizonte, na praça Sete, ai eu vi na banca de jornal, onde passava para dar um olhada. E eu vi na banca de jornal um informe, que estava tendo, não sei nem te informar se era concurso, que era vaga. Não cheguei nem a comprar, não tinha muito dinheiro naquela época. Fui ver na banca, naquela parte que ficava pendurado, o jornal ficava lá pendurado, levantei assim para ver alguma coisinha. Ai eu vi que era lá próximo, na avenida Afondo Pena, lá próximo que eu falo, assim, uns 3, 4 quilômetros para cima. Ai eu fui, se eu não me engano, no mesmo dia, na hora eu já fui lá e fiz a inscrição do concurso na época. Você preenchia até o papel na mão, se eu não me engano eu acho que eu tenho até ele na gaveta ainda, papel de inscrição. Fiz minha inscrição para o concurso, concurso para Furnas. Aí eu volto a dizer, a questionar, se eu tivesse ficado na Toshiba, talvez eu não estaria hoje em Furnas, entendeu. Então a vida, as vezes parece que ela sorri para a gente. Às vezes você fala assim, “poxa, me ferrei”. Porque eu lembro, quando eu estava encerrando meu contrato na Toshiba na época, como era de 3 em 3 meses, eu cheguei a fazer concurso para os correios. Passei no concurso dos correios, só que nos correios eu ia ganhar menos do que na Toshiba. Eu estava na área técnica na Toshiba, eu fiquei assim, será que eu vou para os correios, será que eu fico na Toshiba. Isso eu acho que era novembro mais ou menos, 95. Ai o que acontece, eu fui e escolhi continuar na Toshiba. Então eu descartei os correios na época. E pouco tempo depois eu fui demitido da Toshiba. Contrato temporário, graças a Deus eu consegui ficar 7 meses, mesmo contrato temporário. Aí eu parei para pensar, falei assim: nossa senhora, olha a burrada que eu fiz, larguei mão dos Correios, é agora desempregado, tenho que ajudar em casa, família pobre. Aí foi quando aconteceu isso, eu passei, avistei na banca o jornal, fui e fiz a inscrição, e graças a Deus eu passei no concurso. Ai tem a trajetória minha do concurso como é que foi para chegar a empresa.
29:09
P/1 – O que era Furnas para você nessa época? Você falou que mal conhecia. Como é que era Furnas para quem era de Belo Horizonte? O que você tinha de informação?
R – Aqui em Minas Gerais, eu vou falar para você, que na época ninguém nem sabia, a não ser quem trabalhava em Furnas, o que era Furnas. Porque o que era Cemig, o que era empresa de energia elétrica de Minas Gerais. Eu fui saber que era uma subestação, no dia que eu fui me apresentar aqui, entendeu, a documentação. Porque o ônibus passava por cima da barragem, então eu vim a noite, para entregar a documentação e eu vi que se tratava de um subestação. Então a gente não sabia o que era. Porque a gente na verdade, aquela época nossa ali, a gente não preocupava muito com esse negocio, o mercado de trabalho, empresa, não. A gente queria... Se tinha que trabalhar, entendeu. Você tinha que ajudar em casa, se mante pelo menos, já estava com 21 anos, 22 anos quase. 22 anos se eu não me engano, foi em 96. A gente não tinha essa questão igual hoje, a gente vê o jovem tendo um apoio maior do pai. Essa questão, “vai escolher, tem que fazer uma faculdade”, não. Até os pais da gente cobrava, para a gente sentir essa necessidade de não estar em casa. Para ajudar, contribuir. Porque é uma boca a mais, são custos a mais, e a vida não era fácil.
31:02
P/1 – Você fez esse concurso, qual que era o cargo? E onde você iria trabalhar se você fosse aprovado?
R – Eu me lembro muito bem, o cargo que tinha lá, era eletromecânico, com formação, se eu não me engano, em eletrotécnica, ou eletromecânica, que eram os dois cursos que pediram. Só que a vaga era dividida em Minas, Rio, Goiás é certeza, e São Paulo se eu não me engano. Você não tinha a localização correta, igual passou a ter nos concursos posteriores, 2004. Então eu sabia que era para Minas Gerais, mas se eu não me engano, no edital estava escrito que você podia ser deslocado para outras áreas. Mas graças a Deus. Aí quando eu cheguei aqui na verdade, eu ia até para Itumbiara, Goiás. Eu não ia para a manutenção, que tinha vaga lá em Itumbiara, para Goiás. Aí depois, no meio do curso, que a gente faz o CTB, curso técnico básico, aqui no CTB, curso de treinamento que tinha na empresa aqui. Ai que não tinha mais vaga, eles me deslocaram para a parte operacional, para a parte da operação. No centro de operação no caso.
32:42
P/1 – Como é que foi o processo seletivo? Teve uma prova? Entrevista? Até você entregar sua documentação lá, como é que foi?
R – Não! Tinha o concurso publico em nível nacional. Ai teve a prova, a gente fez a prova, eu passei. Depois eu fui fazer o psicotécnico, encontrei um amigo meu, estudou comigo na época da Polimidi, só que ele era da parte de química. Ele passou na prova, mas no psicotécnico eu acho que ele ficou, porque depois eu não vi ele mais. Então eu passei no psicotécnico, nunca fui muito chegado a psicotécnico, eu acho aqueles testes deles, sei lá, muito estranho aqueles negócios, mais eu passei. Muita gente ficou. Inclusive esse colega meu, era muito inteligente, da parte química. Aí nos ficamos aguardando a chamada. Naquela época era telegrama, nem todo mundo tinha telefone. Eu ainda tinha um telefone que eu comprei para a minha mãe, quando eu trabalhava na Toshiba, o sonho da minha mãe era ter um telefone em casa, pra você não depender de um vizinho dar recado, você ter que ir no orelhão. Então eu juntei o dinheiro e comprei para a minha mãe na época, era muito caro, para você ter uma ideia, era R$2.300,00. Ai o que acontece, passei no psicotécnico e fiquei aguardando a chamada pelo telegrama. Se eu não me engano, o processo meu de psicotécnico, encerrou em abril de 96, não chegou nem a ser maio, acho que foi em abril. Foi em maio, acho que a prova foi em abril e psicotécnico em maio. Então encerrou, e eu fiquei aguardando o processo do envio do telegrama. Fiquei aguardando também como era as questões, porque tipo assim, fiz a prova e saiu a lista de quem tinha sido aprovado, “vixe, olha o meu nome está lá”. Aí depois saiu do psicotécnico. Do psicotécnico acho que não teve lista não, não to muito bem lembrado. Mas o importante e que a partir desse momento eu fiquei só aguardando o chamado pelo telegrama, para pode se apresentar, para enviar a documentação.
35:18
P/1 – E como é que foi quando você recebeu o chamado para apresentar a documentação? Você se lembra como é que foi o dia, como é que foi ler esse telegrama?
R – Eu acho que eu não estava em casa. Minha mãe que recebeu aquilo, e ficou esperando eu chegar em casa para poder falar, porque tinha um prazo. Eu não lembro aonde é que eu estava, o que eu estava fazendo. Aí na hora que ela falou comigo... E o telegrama vem muito estranho, porque era para me apresentar numa estrada sem numero, Alpinópolis – MG. Você fala assim: pô, que mundo que eu vou? Você está acostumado em Belo Horizonte, se tem nome, tem que ter número de rua e tudo. “Como é que eu faço com isso aqui”? Ai tinha um telefone para contato. Como ficou muito tempo sem ter concurso publico, acho que a própria empresa não sabia como lhe dar com isso, porque eu acho que ela que engatilhava tudo. Nós entramos em contato, ela falou: não, você vai procurar para chegar lá em Alpinópolis. Ai cheguei a ir na rodoviária de Belo Horizonte, para saber que ônibus que eu pegava, como é que era, porque eu já tinha a cidade. Pra mim saber o que eu tinha que fazer né. Ai o rapaz falou, você vai pegar o ônibus tal. Ai a partir dai ficou a preocupação, pra onde que eu vou? Vou ficar longe da minha mãe, como é que faz, né cara. Primeira vez que você vai sair para longe, esse negocio. Mas a gente tinha que seguir, porque a vida não para. Eu sabia que ali eu tinha que realmente dar o meu primeiro passo. E aquela questão também, se não desse certo eu voltava. E foi isso, aí chegou o telegrama, comprei passagem, e vim. E foram dois momentos, que um momento foi de eu apresentar a documentação e outro foi de eu vim realmente já para trabalhar. Quando eu vim trazer a documentação, foi mais cedo, eu não me lembro muito bem de ver a subestação, embora eu já sabia o que era a empresa mesmo. Eu não sei nem se eu atinei direitinho para o que era. A minha memoria fica meio vaga, se eu vim na madrugada também, já fiquei aqui para a entregar a documentação, ou se eu sai de lá umas 7h30 da manhã, que tinha um ônibus 7h30 da manhã, que é o mesmo até hoje. E cheguei parei aqui para entregar a documentação. Mas um fato que me marcou, quando eu vim para entregar a documentação, e fazer os exames médicos. Eu cheguei aqui encontrei alguns amigos, um pessoal de BH também passou no concurso. E na época eu trouxe, a gente não tinha muita condição, aí como ia ficar o dia todo, que eu fiz, eu trouxe, minha mãe fez para mim um pão de sal com carne, acho que foram 3 ou 2. E tinha o colega meu, que é o Silvio, trabalha comigo hoje, que ele não trouxe nada. Ai tinha uns outros que tinham uma condição melhor, ai eles foram almoçar. Ai esse colega meu não tinha trazido nada, “você vai almoçar”? “Não, não vou”, porque não tinha. Eu fui e dividi com ele, ele lembra disso até hoje. Eu dividi o lanche com ele. Um dia desses mesmo eu lembrei com ele, “lembra do pão de sal com carne, lá”? “Lembro”! Então é isso, essas coisas que marcam, entendeu. E assim foi. Ai eu cheguei para trazer a documentação e fiquei aguardando o exame médico, eu fiquei aguardando. Uma coisa que marcou também, por esse ponto ai. Quando a gente chegou em Passos, tinha um colega nosso, que ele ficou de um dia para o outro, muito tempo sem se alimentar. E eu não, a tarde tomei um refrigerante. O que me aliviou de não ter ficado de um dia para o outro sem dinheiro. Ele teve que ficar, eu não. Ai aqui, um colega nosso ajudou muito, porque como a gente não tinha condições de ficar muito tempo, por causa de estadia e tudo. Tinha o filho de um funcionário, que amigão nosso, que é o Marco Antônio Abirrame, o pai dele também trabalhava em Furnas, ele até faleceu sábado agora de covid, de uma hora para outra, assim, praticamente. Ele ficou doente para falecer, já era aposentado a alguns anos. Então ele falou que trazia a documentação para a gente, e o resultado dos exames para entregar aqui, porque ele conhecia tudo por aqui, a gente não conhecia. Você chegava aqui, ia num lugar, onde é que entrega? “Não, pode deixar que eu entrego para você lá”. Ele quebrou esse galhão para gente, permitiu que uma parte da gente, algumas pessoas que vieram de BH, pudessem retornar no mesmo dia. Um colega meu teve que ficar, porque ele não almoçou, não comeu nada, ficou muito tempo. Tinha essa questão também. Eu até brinco muito com o pessoal. “Tem que fazer um jejum bem feito, só que não pode ficar muito tempo, se não você não pode fazer o exame”.
41:05
P/1 – Depois disso você foi alocado para começar a trabalhar? Como é que foi?
R – Isso! Aí nos ficamos aguardando a comunicação do chamado para ir trabalhar. Ai foi isso. Eles chamaram a gente. Mandaram, nesse eu não lembro se foi telegrama, acho que foi telefone, não lembro muito bem, se foi telefone. Aí eles chamaram a gente, e eu vim para trabalhar. Aí cara, essa ai também foi legal, porque como eu tinha que estar aqui presente no dia seguinte cedo. Eu sai de BH no ônibus de meia noite, mais ou menos, eu sai acho que era meia noite, meia noite e 15. Aí eu cheguei aqui 5h da manhã, num breu danado, tudo escuro. Ai você tinha a barreira, porque aqui era uma área de segurança, tinha um sistema militar. Aí descemos a barragem, e viemos andando a pé no escuro. Aí chegamos, apresentar no lugar, falou para apresentar no hotel, onde será que é isso, viemos perguntando, não sei nem como a gente conseguiu chegar, porque a noite, procurar quem. A não, tinha os porteiros lá da barragem, na barreira de vigilância. Aí a gente chegou no hotel, e lá apresentamos, assinamos. “Tomo a chave aqui, vão deitar lá”. Barriga verde de tudo, checava a chave, não é nesse aqui não. Ai na hora que eu abri, coloquei a chave para abrir. Ai o Paraíba, que é o Alberto, colega meu também, até hoje. Ele abriu a porta, “o que foi? Esse daqui é o meu quarto”, não veio. E foi assim. E com isso a gente já fez a integração da empresa, começamos fazer o curso de treinamento, que era o CTB. 45º CTB, se tinha um número no CTB, 45º.
43:11
P/1 – Em qual empreendimento você foi trabalhar? Qual era essa barragem?
R – Então, eu vim já para trabalhar na própria Usina de Furnas, é aqui mesmo. Então eu já fui lotado para cá. Que dizer, eu vim, na verdade, para fazer o curso aqui, para onde eu ia, eu não sabia. Eu fiquei sabendo depois, que a gente fazia o curso, o CTB, que tinha as avaliações e com isso eles alocava as pessoas para as instalações, para as subestações ou usinas (44:00...). Então a gente não sabia muito bem para onde a gente ia, depois que a gente fez o CTB, que durou ai aproximadamente 4 meses, é que a gente realmente ficou sabendo para onde a gente ia. Igual eu tinha comentado, eu era para ser da eletromecânica, eu fiz duas semanas de curso de manutenção. Mas depois por função de relocação interna, de pessoas que trabalhavam na empresa, não tinha mais vaga. Eu ia para Itumbiara, em Goiás. Aí eu fui relocado também de atividade, comecei a fazer também o curso de operador, de usina de subestação e sendo se operação. Aí eu já fiquei sabendo, como eu era para manutenção e não tinha mais vaga, eles falaram, você vai trabalhar no centro de operação. Então eu já sabia que eu ia trabalhar no centro de operação aqui, na localidade de São José da Barra, que o centro de operações da regional Minas, CTLM.
45:05
P/1 – Me conta um pouquinho mais como é essa experiência do CTB? São 4 meses, vocês estudam o que? Como é que era o dia a dia com esse grupo de jovens?
R - O curso, eu não sei se eram 40 pessoas. Então você imagina só. Você é criado em casa, aquele mundinho seu ali. Aí você chega, gente de tudo quanto é lugar, Carioca, Goiano, Paulista, Mineiro, aí você fala assim: nossa senhora, como é que isso? É uma questão de adaptação. Mas pessoas como eram da mesma idade, eram muito tranquilas. E você vai se adaptando, porque você vira né cara, amigo mesmo. Porque você começar a compartilhar tudo. Então um biscoito que você tem ali, você divide com a galera, vira como se fosse uma família. Era o anexo, não era o alojamento. Era o alojamento na Alesp, tinha todo o sistema aqui, você tinha um alojamento que era indicado mais para curso, e você tinha o anexo que era aquelas pessoa que já tinham passado pelo treinamento e ficavam no anexo. Então o alojamento, ele era coletivo, o banheiro era coletivo. Então se já viu, né cara, aquele monte de homem, dividindo, acho que era uns 5, 6 chuveiros. Aí o negocio, se já viu. Época de frio os caras enchiam um balde de água, o faxineiro ficava lá. Você estava tomando aquele banho bem quentinho, tinha um cara que pegar o balde de água gelada e jogava nas suas costas, nossa senhora. Aí tinha guerra de água dentro do banheiro, no corredor. Eu lembro que o Paraíba levou um escorregão no corredor. Era um momento diferente da vida, como todos demais momentos que eu tive na vida, são coisas que marcam aí. Então a gente foi uma família, a gente fazia as festas nossas. O pessoal falou que foi um CTB diferente por causa disso, a gente fazia as festas e as pessoas iam, quem quisesse ir daqui. Então foi realmente diferente, foi uma experiência a parte, ai na vida. Eu fiz muitos amigos, alguns siaram da empresa, algum tempo depois. Outros no próprio curso já foram embora, para trabalhar em outra empresa, estatal, que era a Ceteb na época. Reginaldo, eu nunca mais tive contato com ele, gente finíssima também, acho que foi trabalhar lá em Ilha Solteira. Então foi isso ai. Aí terminamos o CTB, tinha prova de avaliação, você estudava, cara. Tinha que estudar durante o dia, 8 horas, lendo a apostila, estudando, professor falando na sua cabeça. Depois do CTB você estudava para fazer a prova, porque você podia ser reprovado. Você ter restrição na sua pauta, ninguém queria. E graças a Deus aí, todo mundo foi aprovado.
48:23
P/1 – E você foi alocado para operação mesmo?
R – Isso! O CTB se não me engano, terminou no finalzinho de fevereiro. Em março, ai você tinha a parte dos estágios comprovatórios na empresa, que era fazer parte da manutenção. A gente viajou nas instalações da nossa área, para poder conhecer, fazer serviço de manutenção também, para acompanhar o serviço dele. E depois eu fui, já direto para trabalhar no centro. O centro na verdade, de operação, que eu trabalhar nele hoje, e que fez essa parte da gestão do estágio, foi ele que marcou os períodos que a gente tinha que estar em cada local lá. Fazendo parte de manutenção também, para conhecer o que as pessoas faziam de manutenção, como era o processo deles de trabalho. E se eu não me engano, eu fui para começar realmente a trabalhar, no turno de operação, eu trabalhei uns 4 meses mais ou menos em turno. Se eu não me engano, eu acho que foi em julho, alguma coisa assim. Por quê? Porque na divisão, entraram 12 funcionários de uma vez só, porque estavam aposentando 12. Eu acho que foi o primeiro desligamento grande, depois de 91. Foi um dos primeiros que teve que saiu muita gente. Foi quando começou ter os planos de desligamento, PDV, que era chamado. Entraram 12 pessoas. Sai 12, de uma equipe de 24, 25, então é metade. Então você tinha que ser treinado. E como tinha aquela mudança da reforma de previdência da época, governo Fernando Henrique Cardoso. Então as pessoas estavam com medo, como todo mundo fica numa reforma de previdência. Então alguns adiantaram a aposentadoria deles, para sair. Eu lembro que ficou talvez uns 2 aí, para dar um apoio maior ai com a gente.
50:37
P/1 – E como é que foi o seu primeiro dia de trabalho?
R – Você está falando no centro de operação? Como eu já estava na empresa, praticamente acompanhando os processos de manutenção. Eu não consigo nem separa muito, porque eu já ia um pouco no centro, pra lá, pra ver para onde eu ia deslocar e tudo. Mas é um sensação diferente, porque quando você trabalha numa empresa estatal, é diferente um pouco de uma empresa privada, em relação a estrutura. Eu trabalhei na verdade, na Toshiba, que tinha um pouco de hierarquia. Ai o meu primeiro emprego era deposito, não tinha muito essa questão. Você chegava para trabalhar e vamos metendo bronca, era muito pequena, você sabia quem era o chefe e o 2º chefe. Na Toshiba você já tinha o seu supervisor, sabia quem era o seu gerente de área, diretor de área, tinha estrutura maior, mas diferente de Furnas. O que eu posso falar de quando eu comecei no centro de operação, e parte de ser apresentado as pessoas, porque eu fui apresentado para o pessoal que já estava no comercial, que era definitivo, que era se segunda a sexta-feira. E para as equipes temporal, que elas mudavam a cada 6 horas, a cada 8 horas, que dizer. O turno era de 8 horas na época, só que era no regime de escala 3X2, você trabalhava 3, folgava 2. Então a cada 3 dias mudava, quem estava no turno da manhã, quem estava no turno da tarde. Então era a questão que eu vi diferente, porque eu nunca tinha presenciado uma escala de revezamento. Vi como é que era. Participava realmente do turno. Talvez o que eu consiga diferenciar muito é o primeiro dia do turno, em escala de revezamento. Que ai eu comecei, se eu não me engano, no turno da tarde, que começava as 14h30 e ia até as 22h30. Que é a primeira vez realmente que eu trabalhei em turno de revezamento, foi em Furnas, tarde, noite, de manhã. E assim foi sucessivamente. Até que os 12 saíram e precisavam de pessoas no turno, tanto quanto no comercial. E eu optei por ir para o comercial, graças a Deus, também fui escolhido, porque eram 12, tinha bastante gente que queria ir para o comercial. Alguns queriam turno, porque trabalha 3, folga 2, as vezes você fazer sua gestão de vida, ter mais tempo de folga, porém você ficar restringido ai, o seu sábado e domingo, porque não é sempre que você vai ter. Dai no comercial, estou praticamente até hoje, faço escala de revezamento ai, dev vez em quando. Quando eu estou no plantão eu dou uma apoio aí.
53:42
P/1 – Quais eram suas funções quando você começou no centro de operações. Qual que é a função do centro de operações, que parte ela toca?
R – Eu trabalho no centro de operação Minas, que ele mudou de nome, era centro operacional regional Minas, passou a ser centro de operações Minas. A função de um centro de operação, como diz, e centralizar as atividades relacionadas a operação do sistema elétrico de Tobias, no sentido de coordenação e intervenções de manutenção. Seja, conhece outras empresas, internamente todas as instalações nossas, porque existem equipamentos que você faz fronteira com outras instalações, até mesmo de Furnas, uma linha de transmissão, que ela tem 2 extremidades e o meio. Então uma linha de transmissão ela pode ser ligada numa estação de Furnas ou num estação de Furnas de uma outra empresa, que fica as vezes, 70, 100, 200km de distancia. Bem como na parte ai, o centro também ele é responsável pela parte de normatização, de elaboração de instruções por serviços operativos para as instalações seguirem, naquelas divisões mais sistêmicas, ou procedimentos locais, que possam afetar a operação de sistema de uma instalação. Quando fala afetar a operação de sistema de uma instalação, está voltado para afetar o sistema elétrico, o SIN, sistema interligado nacional. Também, ele faz a parte ai de analise da operação, da área das instalações onde a gente supervisiona e controla. No sentido de você verificar se os procedimentos que foram adotados, ou que estão sendo seguidos, eles estão realmente em conformidade e podem continuar sendo adotados. Para evitar uma falha. Ou uma falha de procedimento, ou até mesmo, melhorar o procedimento. A função dele é essa, coordenação de intervenção de manutenção, parte de normatização, elaboração de sistema de operação, para serviços colaborativos, a parte de operação. E também a parte de recomposição do sistema elétrico. Quando é recomposição de sistema elétrico, na verdade, é quando você tem uma perturbação. Quando você tem desligamento de equipamento simples, ou não. Quando o pessoal fala o apagão, inclusive. A função nossa, do centro, é isso. É supervisionar e controlar as instalações sobre a sua responsabilidade, no nosso caso, a área Minas. Então as usinas e subestações, que estão na área Minas, que são de concessão de Furnas área elétrica. O centro de operações está ligado ao departamento de operação de sistema, DOS, que antes era DOB, agora é DOS. O DOS ele possui 4 centros de operações regional. Que é centro de operações Minas, centro de operação São Paulo, centro de operação Goiás e centro de operação Rio, localizado em Jacarepaguá. E também tem o centro de operação do sistema, que é o CTOS, que é o caso do Felipe ai, que me indicou para essa entrevista. O departamento de operação de sistema, ele está vinculado a superintendência de operação de sistema, que é a SO. Que está ligada a diretoria de operação, a DO. Então o organograma nosso encerra ai.
58:19
P/1 – É muita coisa, é muita responsabilidade. E você pelo que eu entendi está envolvido diretamente com a prática, no campo da ação da empresa. Como é que é esse dia a dia? Como é que e os problemas, os desafios que aparecem para você?
R – O que acontece, quando eu falo coordenar intervenção, ela está ligada, não apenas a pegar um pedido, um plano de ação para ser feito, e mandar, coordenar aquilo no dia seguinte, “vai ser feito assim”. Mas ele está ligado também, a segurança do pessoal que vai estar trabalhando. Então quando chega um pedido para mim, para a gente lá no centro, que eu estou na parte de intervenção hoje. Mas quando eu estou de plantão, eu dou apoio em outras áreas também, porque os problemas chegam até a gente. Então uma intervenção na verdade, quando você vai liberar um serviço, para a manutenção, para coordenar ele, você coordena com a IDS, para que a IDS autorize você a executar aquele serviço, se é com desligamento, se é sem desligamento. Mas você faz também, o centro de operação nosso, nos somos có responsáveis em garantir a segurança pro pessoal fazer aquele serviço. É realmente garantir, seja de forma remota, através de documentos, de procedimentos, documentado, escrito. De que aquele equipamento que ele me pediu, que ele tem que estar desligado, seja desligado. Se aquele equipamento que ele me pediu, que tem que estar desligado, isolado, realmente vai estar isolado, não apenas desligado. E com isso você tem procedimentos, o que é o campo seu de isolação para atender aquilo, para evitar de ter uma acidente. Num caso um serviço, ondo o caboclo vai fazer, o responsável por manutenção vai trabalhar, num equipamento energizado. E que por ventura, se houver indenização, não pode ser reenergizado, ligado novamente, isso ai é muito sério. Talvez as pessoas já tenham visto alguém trabalhando numa linha, com uma roupa especial, que dentro do potencial, às vezes não é desligado e nem desergenizado. Então se o equipamento vim a desligar e a gente religar, a pessoa morre. Então você tem um procedimento para garantir isso. E a pessoa morre mesmo. Através de bloqueios você evita que aquele equipamento, ele seja religado, sem a autorização do responsável pelo serviço. Que você usa ai no caso, bloqueios, e também você desliga, você utiliza, na verdade você impede o religamento tanto manual, quando automático. Então o religamento manual é através de comandos, então você sinaliza eles. O automático, você desliga os dispositivos que possa promover o ligamento automático daquele equipamento, que seria ai o religador automático. O religador automático é um dispositivo, que em caso de desligamento, ele vai religar aquele equipamento automaticamente após de determinado tempo. Tem uns que é 1 segundo, tem uns que é 5 segundos, 1 minuto, 3 minutos. Então a intervenção, ela é isso. E você, não apenas pegar um documento e achar assim, está ali pronto, então está pronto. Não, você tem que analisar ele para você garantir tudo isso. E quando você envolve uma outra empresa, a medida de ligação, você tem que fazer essa mesma coordenação para a outra empresa. Para que ela garanta para você, os procedimentos para que aquele equipamento não seja religado sem autorização. E para isso existem normas que você tem que seguir. Existe a comunicação verbal da operação, que é uma norma também, que trata da forma de comunicação verbal da operação. Ela deve ser feita de forma clara, eficiente, evitar gírias, ou repetição, para que as pessoas entendam normalmente o que você está falando, para que seja seguido, para evitar falhas. Como já aconteceu no passado, pessoas que perderam membros. Tem um rapaz que perdeu a perna, tem também o rapaz que perdeu o braço, que é o Marinho, teve uma falha na comunicação.
1:03:22
P/1 – Como é que é isso?
R – Uma falha de comunicação.
1:03:30
P/1 – Se você puder me dar um exemplo? Até comentar um caso que aconteceu, não de acidente, nem nada. Mas como que é feita essa comunicação?
P/1 – Então, a gente divide uma intervenção, em 3 momentos. O momento da coordenação, para a liberação daquele documento, ou seja, ele está aprovado, preparado para ser executado. A execução em si, que são os operadores que executam em tempo real. E depois de executado, a parte de analise daquele documento, para saber se ele foi feito corretamente, se ele não contrario nenhum procedimento. A manutenção, ela quer fazer um serviço, ela vai e pede, através dos aplicativos, um documento para a gente. Eu pego aquele documento e analiso ele para saber o que eu tenho que fazer com ele. Quais órgãos eu devo informar, operar. Quais são os pontos de isolação, os bloqueios que eu tenho que conferir, ou pedir para que sejam incluídos. Então, o que diferencia a gente, na verdade, é que a gente, o centro, em relação a equipamentos, não nossos do nosso prédio. Porque a gente tem os equipamentos nossos também, no nosso prédio. A gente parte, a gente garante para a empresa. Eu falo assim: a gente faz garantia a legalidade para a empresa. Porque a partir do momento que você cumpri as normas da empresa, ou faça as pessoas cumprirem ela. Você está garantindo a parte legal da empresa. Para que a empresa não receba um processo. Como já teve acidentes. Quando você tem um acidente, as pessoas vão procurar a documentação para saber, o que houve, se aconteceu tudo correto ou não. Então quando a gente segue a norma, a gente garante isso para a empresa, de que ela não falhou naquele documento. Pode acontecer as vezes, pode acontecer. Às vezes, com processo de analise da operação, isso é até barrado. Porque às vezes você tem um quase acidente, você tem um incidente, e um acidente, são coisas diferentes. Então a gente garante essa questão. Então a coordenação é isso, é a execução, depois que o documento está aprovado, preparado para ser executado, que existe uma conferência de assinaturas, que o plantonista também confere. Por exemplo, eu pego o documento, coordeno ele, faço plantão conferindo. O plantão confere, a partir dali ele está pronto para ser executado. Ele vai para a sala de controle, e em tempo real, o pessoal faz a coordenação dele para a execução. Então a manutenção chama para iniciar o documento, e a partir dai, os operadores nosso, do centro de operação. Ele vai fazer os procedimentos, junto com os demais órgãos envolvidos para permitir o inicio dos trabalhos. Porque eu tenho o inicio dos documentos que é uma coisa, e eu tenho o inicio dos trabalhos. O documento é uma coisa, o trabalho é outra. Então a gente coordena essa parte, para garantir a segurança do pessoal que vai trabalhar. A parte de isolação e bloqueio de dispositivos aí, para garantir a segurança.
1:07:21
P/1 – Então quando está ocorrendo o trabalho de operação na torre, na linha. Você ou alguém do centro de operações fica com eles lá, no telefone, no rádio, conversando?
R – Nos momentos de execução em tempo real de manutenção, é: o inicio do documento. Que é o seguinte: eu quero iniciar um documento. Ele fala o nome da estação e numero dele. E a partir daquilo ali, a gente já sabe, olhando no sistema, se aquilo é um documento que precisa só de desligar o equipamento, se é de desligar e isolar, sé é para bloquear o ligamento dele, que é um trabalho em potencial. Ou se apenas um documento, sem desligamento, mas que tem um ponto de interferência. Com risco de interferência, risco de desligamento, tem que desligar o LA, só por causa de intervenção, causa aquela necessidade de desligar o LA, mas sem afetar a segurança do pessoal. Então a manutenção entra em contato com a gente e pede o inicio. A gente pega o documento, e pede as estações, que são empresas envolvidas, para executar os procedimentos para atender o documento. A partir do momento que aqueles procedimentos, a gente recebe um feedback da estação, ou da outra empresa. E pede o inicio também para o INS, porque o INS tem que autorizar quando evolve o INS. Quando cai na rede de operação, que é o INS e falta rede de operação quando envolve o INS. Imagina que aqueles procedimentos operativos, eles estão confirmados junto com a gente. Então vamos lá, “abrir disjuntor da linha 3446”. O operado confirma: aberto tal hora. Anoto a hora que a gente abriu e a hora que ele confirmou comigo. Primeiro eu ligo para a Cemig, peço para ela abrir a linha, anoto o nome do operador da Cemig, a hora que ele emitiu, a hora que ele confirmou que a Cemig abriu. Depois eu peço para o operador da minha instalação, dou ordem para ele, para ele abrir o disjuntor, anoto a hora, ele me confirma. Depois eu vou fazer o que? A parte de isolação. Eu emito uma ordem de manobra, eu peço a empresa para isolar a linha, “linha Furnas de circuito 2”. Ela vai, recebe essa OM. Eu emito também uma OM para o meu operador, para ele isolar a linha de circuito 2. Depois eles me confirmam aquela manobra. Essa confirmação que dizer que está isolado. Ai eu parto para o próximo ponto, se for uma linha isolada, aterrada. Então tem que aterrar agora. Eu vou emitir uma OM, tanto para empresa, para a Cemig, quanto para o operador, para eles aterrarem a linha. Eu tendo a confirmação, que aquele equipamento está aterrado, que a condição está atendida. Isolado e aterrado nos extremos. O documento ele já está pronto para ser liberado para a manutenção, para que seja iniciados os serviços, que é manutenção do TP.... E assim vai, entendeu. No final é o mesmo processo, a manutenção informa para a gente, através da estação. A estação liga para a gente, informa que todos os documentos foram encerrados, todos os serviços foram encerrados. E que a gente pode iniciar. Já libera equipamento para operação. O equipamento e liberado para iniciação. E os procedimentos para normalizar o equipamento podem ser iniciados. O que é? Agora é o inverso. Eu emito as manobras para eles retirarem o aterramento, concluiu? Eu emito a manobra para tirar eles retiraram as isolações, concluiu? Eu emito as manobras para eles poderem energizar a linha, os equipamentos, e fechar a linha do outro extremo, e encerrar o documento. Eu encerro o documento com as outras empresas e junto com a INS ai. O processo desse documento está encerrado.
1:11:36
P/1 – Então esse é o lado de mais intervenção do seu trabalho no centro. E ai tem a parte de normatização ainda né? Como é que funciona isso? Vocês atualizam os processos, é isso?
R – Isso! Vou pegar só um pouquinho a parte de intervenção. Não vou falar do acidente em sim, mas de uma falha de comunicação que aconteceu e que pode acontecer. Que é aquele caso que eu comentei com você. A gente tinha uma intervenção, na época eu ainda não trabalhava aqui ainda não. Que era uma intervenção, no sistema, na estação de VHF. Na alimentação para a estação de VHF. Então você tinha o que? Uma linha 3.8 que saia da usina e chegava nessa estação de VHF. Então tava o documento preparado para ser iniciado, tudo aprovado, tu preparado para ser iniciado. Nesse dia, o que acontece. Estava fora também, a comunicação VHF. Então tem uma estação de VHF, e eu tenho a comunicação VHF. O que acontece. O cara da manutenção que ia trabalhar, ele ligou para a sala de controle, perguntou o seguinte: o VHF já está fora? Só que ele estava falando do documento que ele queria trabalhar. O operador que atendeu ele, falou assim: o VHF está fora. Só que o operador entendeu que era a comunicação VHF. Ai na hora que ele encostou lá, 3.8. Ele se queimou, ele perdeu membros ai, acho que a perna foi amputada, e uma parte do braço, alguma coisa assim. Então você vê, o que uma falha da comunicação, o que leva. Se tivesse tratado, queria iniciar o documento tal. “Ok”” “Olha, tá isolado”? “Tá”! Só para a gente remeter a questão da segurança de uma intervenção. A normatização da empresa, tem vário módulos, dentre eles, eu tenho a norma de Furnas, que é uma norma que vale ai para a parte de operações, sistema elétrico de potencia, que ela dita os procedimentos, que é para intervenção. E eu tenho a norma que é de comunicação verbal de operação, para evitar falha na comunicação, contra os acidentes. Eu tenho identificação de equipamentos, você identifica eles. Isso ai tem uma comissão, que é a CNO, que trata de isso ai. De criar, atualizar esses procedimentos ai. E o centro, a gente tem um integrante que faz parte da comissão de normas também. E a gente tem o que. A normatização também, de instruções de operação. As instruções de operações, elas estão num nível inferior a norma, mas a norma contempla ela, que existe questões de operações, que devem ser elaboradas. Essas instruções de operações, elas ditam procedimentos em relação a instalação. Ela pode ser, uma instrução de operação 402, que operação da estação. Ai se divide em setor de 500, 300, 45, 108, as estações possuem esses setores, de 500KW, 345KW de potencia. Ela dita, por exemplo, ela descreve, orienta os operadores em relação a questão, se a máquina pode operar, compensado o ciclo, ou não, se o disjuntor tem proteção de baixa pressão, de ar comprido, de baixa pressão, se não tem, o procedimento que é adotado ali no caso. Ela fala sobre a questão de restrição de equipamento. O que a instalação tem de serviço auxiliar, de supervisão, como que é a supervisão. O ligador automático, se tem ou não, quais equipamentos que tem, se estão habilitados ou não. Então você vai destrinchando isso ai. Ai você tem, operação estação, se tem a 403 que e proteção e desbloqueio, são proteções que acuam de desarmam os bloqueios, impeditivos de equipamento. Aí você não pode religar ele sem autorização da manutenção. Você tem que ter uma autorização da manutenção para religar, o operador tem que ter. Você tem os limites dos equipamentos que trata qualquer corrente máxima dele, pressão máxima. E as demais aí, que é configuração da instalação em relação a base de equipamentos e habilidade de operações ai. Então é basicamente isso ai. Aí você tem o que. O que eu falei para vocês, a 402, operação da estação final 2. O 4 indica, o regional Minas. Então o meu regional, toda 4 é dele. Ai você tem a 3, que outro regional, eu acho que é Goiás. Ai você tem a 5, que eu não sei qual regional. Então você tem essa divisão também. Porque se não você poderia ter 4 outra coisa em outra regional, para não confundir.
1:17:00
P/1 – Otávio, qual que você diria, que é a especificidade da região Minas dentro do sistema Furnas? Tem alguma dificuldade especifica, ou uma facilidade especifica nessa rede? Como é que está estruturado ai? Como é que você vê a regional, comparando com outras regionais?
R – Como os nossos procedimentos são praticamente todos normatizados, e aqueles que não são, mesmo que seja provisório, a gente cria ele. Então a gente não tem muita dificuldade. A dificuldade maior é quando você entra num outro equipamento, você tem uma instrução de operação nova para aquele equipamento, que foi alterada em função daquele equipamento. Uma subestação nova que vai entrar, igual (1:17:55..) aqui, quando eu falo aqui, é aqui de mineiro, porque é longe pra caramba. É perto de BH. Então são essas adaptações, faz parte do processo em si de adaptação. Como é normatizado, nossos procedimentos, então fica muito mais fácil de você, inclusive barrar qualquer situação que fuja do que está normatizado. Porque quando está normatizado, você não pode infringir, porque você vai estar contrariando as regras da empresa. Pode ir para um conselho de ética, ouvidoria. Então a gente tem essa vantagem, diferente de outras áreas, de outras divisões, de manutenção, de estudo da empresa, que normalmente não é normatizado. Então eles ficam até em conflitos internos, porque vem uma pressão para fazer uma coisa, o cara fica ali. Então a nossa sorte é essa. Até porque, a gente é uma ação muito sensível na empresa. Porque uma intervenção que eu coordeno, ela pode gerar desconto de receita da empresa, que é a chamada parcela variável, ou seja da transmissão que é a parcela variável, seja da relação que é desconto de geração. Então você tem prazo a cumprir. Você tem que entrar num prazo X, se você não entrar naquele prazo, você pode não ter desconto. Se você entrar num prazo inferior, você pode ter um desconto, que ele vale 10 vezes, a cinquenta vezes, 150 vezes. Às vezes 5 vezes. Então por isso que tem que ser normatizado, que qualquer um que tenta tirar essa normatização ai, burlar ela, agente fala: isso não é possível não, tem que seguir. E às vezes vem. Porque as vezes as pessoas são novas, as vezes troca uma gerencia e a pessoa não conhece muito bem o processo. E isso afeta a receita da empresa. Porque igual a gente estava comentando, é dinheiro, é muito dinheiro. Ali se você pagar o minuto 150 vezes, uma receita de um minuto que você recebe, tem que pagar 150 vezes para você. Entrou errado, fez um cadastro errado. Então como é normatizado, fica muito mais fácil. As áreas são passiveis de erro, a parte de analise de operação, que a gente tinha comentou, ela é justamente para evitar que aquele erro, aquela falha se repita. Ou até mesmo evitar que o próprio incidente, ele venha a provocar uma falha. Que pode levar inclusive a morte de pessoas, como aconteceu, a uns 3 anos atrás em Marimbondo. Então a função é essa.
1:20:57
P/1 – Nesse caso especifico que você acabou de comentar, como é que foi? Você estava acompanhando em Marimbondo?
R – A Usina de Marimbondo ela é nossa. O que acontece. Existia uma obra de uma outra empresa, onde o equipamento dela, passava sobre as nossas linhas. Na verdade tinha um seccionamento para uma subestação. Era uma questão nesse sentido ai. Mas o foco em si, o que acontece. Às vezes as empresas, elas contratam as pessoas, terceirizam, e são pessoas que não tem o conhecimento, às vezes da vivência, em relação ao sistema elétrico de potencia. Então a pessoa não sabe que ela está sobre um campo elétrico, aquele campo elétrico sobre um monitor que além de fases, se eu não me engano, que aquele condutor está sobre um campo elétrico e ele vai ter um tensão induzida. O que eu me lembro, até mesmo uma noticia que saiu no jornal, que foi até um primo que faleceu, que contou. Que ele falou o seguinte: era para estar desligado, não era par ter tensão. Você lembra que eu comentei com você. Você pode ter o equipamento desligado, ou ele desligado isolado, ou ele desligado aterrado. Então o que acontece, equipamento, ele estava isolado, o pessoal de linhas também, existe um procedimento, para você colocar um cabo térmico, retirar um cabo térmico. Se você aterra uma linha, sem ela está no chão, aquele cabo solto no chão, você não vai estar aterrando a linha, na verdade você vai estar se aterrando pelo terra. Então a corrente vai passar pelo seu corpo primeiro, para ir para o terra. Essa caso de Marimbondo, não foi isso. Na hora que ele foi fazer um procedimento com o cabo terra, aí infelizmente ele se acidentou. Mas talvez, se ele tivesse uma experiência maior, se ele fosse de Furnas talvez, talvez isso não teria acontecido. E isso gera problemas, tem que paralisar o serviço. Era um serviço que era isento, ele teve que ser prorrogado, essa prorrogação a empresa falou que ia ressarcir Furnas, mas eu não sei se ele ressarciu, porque são milhões. Mas são questões assim, se você adota os procedimentos, não acontecia. Teve procedimentos, mas era uma empresa, terceirizada, foi contratada para o serviço, não era de Furnas, só estava na área de Furnas, no bloqueio de Furnas, porque a nota nossa pedia. Mas ai também, Furnas entra por quê? Porque era o documento dela. Então tem a questão legal, até onde vai o respaldo de Furnas nisso? Até onde vai a responsabilidade de Furnas nesse documento. Na hora de uma ocorrência com um civil, que a medicina legal vai lá, eles vão apurar tudo.
1:24:22
P/1 – Quais foram os dias mais críticos, os mais marcantes que você passou na sua função, no centro de operação, que você lembra?
R – Eu comentei com você, a relação do primeiro dia do turno, quando foi o meu primeiro dia no turno, “como é que vai ser”? Primeira vez que eu faço turno. Depois marcou muito quando eu fui escolhido para ficar no comercial, que era minha opção ficar no comercial. Quando eu fui escolhido para ficar no comercial, eu falei: nossa, que maravilha! Então a minha vontade foi atendida. Em relação a procedimentos, a questão de serviço e documentação. As questões que marcam a gente é quando você tem um acidente. Eu presenciei um rapaz correndo, o serviço era aqui dentro da usina, o amigo dele se acidentou e ele também, ele não morreu, mas o amigo dele morreu. Então você fica sempre assim, pô, será que o documento que eu coordenei esta ali? Não, ainda não tinha chegado na gente. Porque ali vai ser montado. O rapaz morreu no ultimo, ele veio desde... essa ai era a Furnas Pimenta. O rapaz veio fazendo travessia em linha, desde Pimenta, sem acontecer nada, a empreiteira. Chegou aqui no final, acidentou aqui dentro. Então você fica pensando, pô, quando tem um acidente, que envolve algum serviço que você coordenou, um documento que você participou da coordenação, você fica preocupado para saber se você fez a coisa certa, se você não falhou naquilo. Porque não é fácil. Imagine só você ter alguém que morreu. Isso pode acontecer. Então a gente sempre tenta cercar. As vezes tem uma visão de que área quer trabalhar, do que realmente ela precisa me pedir, são coisas diferentes. O serviço que ela quer fazer é uma coisa, o que ela precisa me pedir é diferente. O equipamento envolvido naquele serviço, porque as vezes ela vai fazer o serviço num equipamento, que faz parte do outro equipamento. Ela não pode medir aquele equipamento que ela vai trabalhar ali, tem que medir o equipamento que está junto (1:27:08...), faz parte, aquele disjuntor faz parte. Então a gente tenta está sempre com as coisas operativas, seguindo norma. Porque é o que eu falo para o pessoal, tem que ler a norma, para os centros operativos, que ditam as regras e as diretrizes, para você se proteger. Porque ao mesmo tempo que você se protege, você também protege a vida das pessoas e da empresa. Porque se você fez cumprir a norma, se eu fiz fazer cumprir a norma da empresa estabelecida. Se esta estabelecido lá, primeira coisa, eu fiz cumprir aquilo, então eu me protegi e protegi a empresa. Aí o problema vai ser com outro que não fez cumprir. A que ele trabalhou na parte da manhã num equipamento, chegou na hora do almoço e subiu em outro. Isso já aconteceu, é suicídio se morrer. Então se segue um procedimento, é muito difícil ter um acidente. Um acidente na verdade, a gente fala que é uma sombra, acidente nunca ele é do zero, é uma coisa que vai acontecendo ali, é uma soma de fatores. Que já poderia ter sido visto anteriormente, e que não foi visto, e que ocasionou aquilo. Que dizer, o rapaz achado que não era para ter tensão que estava desligado, e tomar um choque. Então é um soma. Então quando tem um acidente, igual aconteceu em Marimbondo. Quando aconteceu aqui, não tinha documentação com a gente ainda, não ia ser coordenado, não ia conectar o equipamento na nossa subestação, ele estava só preparando a obra até chegar. Então quando acontece, igual aconteceu em Maribondo, você fica, perai, deixa eu ver se é da tropa. Não é cooperado meu. Se comportou em tempo real, será que ele fez a coisa certa, ou não, pera ai. O que a norma diz. Realmente o acidente, a gente fica muito preocupado. O restante é adaptação, porque as coisas mudam. A empresa adquire equipamento novo, esse equipamento novo, ela fez uma concessão para instalar o equipamento. Então você tem que estar se adaptando a isso. Não igual o deposito, que chega só prego, eu ia lá e vendia, vendia um saco de cimento. Eu não precisa ler, o que é isso aqui? O que eu tenho que fazer? Não, eu vendia, o preço é isso, era só manual. É diferente.
1:49:44
P/1 – É um trabalho de conduzir as pessoas direito né. Quase como se vocês fossem anjos da guarda deles né?
R – É isso ai! O pessoal deposita confiança na gente né. Até mesmo por quê? Porque é a gente que garante, se você escrever alguma coisa errada no documento, aquilo com certeza vai passar. Então na verdade, a gente garante a nossa segurança, você garante a segurança daquele que vai executar aquele documento, e a segurança do cara que esta executando o serviço. Se você pensar bem, o cara está trabalhando num equipamento, em que ele não quer que o equipamento venha religar. De repente está trabalhando 20 pessoas, e as 20 pessoas morrem. Tem um colega meu, que está trabalhando aqui com a gente 12 anos, que ele era de linhas. Depois que ele veio trabalhar aqui ele falou: não sabia que ia ser desse jeito não, eu confiei em vocês assim? Que dizer, uma falha num procedimento, pode matar uma equipe. Não só de Furnas, como de outra empresa. Que as vezes pede para a gente fazer o documento, para a gente bloquear, isolar aquele equipamento para ela. Então e uma garantia mutua aí, uma cumplicidade. E não se pode permitir pessoas desonestas, pessoas que querem passar o rodo, porque não pode, você está trabalhando com vidas de pessoas. Igual equipamento, equipamento você tem que verificar.
1:31:35
P/1 – Como é que é a sua relação, e a relação de operações com o pessoal que está lá no campo? Você tem amigos que estão em linhas, que fazem a manutenção, conversa com eles? Como é essa relação?
R – É uma relação muito boa. Porque o seguinte, eu sou um cara muito extrovertido. Mas ao mesmo tempo, é o seguinte: eu sigo o que a empresa descreve. Então é aquele ditado, amizade, amizade, negócios a parte. Então eu brigo quando tem que brigar, porque as vezes tem que dar uma distração também, porque a pessoa as vezes está naquele momento de raiva dela, ele errou, falhou, porque perdeu o prazo, “porra cara, mas de novo”. “Não esquenta a cabeça com isso ai não”. Porque quando as pessoas mexem com segurança, você não pode deixar as pessoas mais nervosas, porque ele pode cometer uma falhar maior. E o que eu falo, o que aconteceu, o erro, já aconteceu, você não recupera aquele erro mais. Então você tem que ver o lado bom. O que é o lado positivo, é você coordenar, “vamos reprogramar isso ai, cancela esse documento, vamos fazer outro”. Eu tenho um convívio muito bom, graças a Deus, com as pessoas. Eu até hoje na empresa, eu tive, acho que 2 desentendimentos até hoje. Um deles, corrigimos na hora, porque dois carneiros de chifre não bebe água na mesma cumbuca, porque ela é pequenininha. Dois carneiros de chifre, não vai dar certo. E ele entendeu meu ponto de vista, porque eu tenho que fazer cumprir a norma, Na hora ele começou, tem que fazer, “não, não posso fazer”. “Tem que fazer”. Viramos amigos, ele faleceu num acidente também, um tempo atrás, o cara que mais cuidava de segurança dentro da empresa, cuidava a fio, uma vacilada, subiu numa escada, caiu, morreu. E o outro, esse a gente nunca mais voltou a se falar, porque, o que acontece, eu nunca posso usara o meu tempo de casa, para pode fazer a pessoa cumprir alguma coisa. Então a nossa desavença foi essa, porque eu falei com ele que ele estava fazendo a coisa errada. Ele me falou assim, que trabalhava na empresa a 20 e tantos anos, eu não gostei daquilo, falei com ele, “então te ensinaram errado, vou te ensinar fazer certo”. Por quê? Porque você tem que impor o seu limite, o limite estabelecido pela empresa, porque eu penso assim, a gente sempre aprende. O dia, a vida, minha mãe fala o seguinte: quando a gente era muito arteiro, você não vai aprender comigo não, mas na vida, a vida vai te ensinando. A vida é a maior escola que a gente tem, então cada dia você está aprendendo. Então eu nunca posso, espero, usar o meu tempo de casa, para poder pressionar o outro, eu tenho que pressionar o outro e normas, procedimentos que a empresa exige. E isso vale para qualquer um, eu trato o pessoal da limpeza assim, os meus colegas de trabalho assim, o meu gerente assim, meu chefe de departamento assim, superintende, diretor, presidente, se vier a conversar comigo. Porque nos somos passageiros, a empresa fica. O meu sogro trabalhou na empresa em 91, ele já passou por lá, e a empresa continua. Um dia vai ser eu, vai ser você, a empresa vai continuar se Deus quiser. Então é ela que tem que continuar. Eu penso assim, então eu sofri esse dois passes, também me marcaram. Porque 1 o cara entendeu, e ficamos amiguíssimos, era o jeito dele, a gente tem que entender que as pessoas são diferentes. Mas eu estou para trabalhar com as pessoas que tem na empresa, a empresa não é minha. As pessoas falam até, não gosto daquele ditado, “a empresa é nossa”. Não, a empresa não é nossa, porque o que é meu, eu faço o que eu quero, seu eu não quiser trabalhar num dia eu não trabalho, se eu não quiser aquele equipamento, como meu carro, ele é meu, faço com ele o que eu quero. Seu eu quiser da manutenção eu dou, se eu quiser eu limpo, agora se ele é meu, eu tenho que cuidar dele. Então eu estou na empresa pra seguir o que ela definiu para mim, e eu tenho que fazer com que as pessoas sigam também.
1:36:55
P/1 – E que amizades que você fez que te marcaram mais?
R – Os que aposentaram, e difícil eu falar, porque eu sou um cara que eu faço as amizades, sou colega muito fácil, entendeu. Porque a gente não vive sozinho, tem coisa que tem que estar sempre conversando, você tem que saber disseminar o seguinte: tem que estar sempre aberto ao dialogo. As pessoas que se fecham para o dialogo, não tem jeito, se deixar queima tudo. Então se eu for citar para você algum amigo, eu posso deixar muitos fora. Eu tive amigos meus, no convívio da empresa, que faleceu inesperadamente, sem esperar. Trabalhava na empresa, as vezes você perde o contato, vou ligar, tem que ligar para conversar, saber noticia, já morreu, faleceu. Então não posso ser injusto aqui, porque tem muitos amigos. Eu tenho muitos colegas, e cada um tem sua história, cada um tem a sua parte engraçada. Tem outro que mais afoito, tem outro que é mais moderado, você está entendendo. Então é ser injusto, mas eu posso falar para você o seguinte: eu tento plantar uma semente, porque eu não sei amanhã, quem vai estar acima de mim. Você já parou para pensar, as vezes um rapaz que entrou comigo, fez estagio comigo, ele amanhã pode ser um superintende de departamento. E ele fala assim, aquele cara lá é uma nada, aquele cara não serve, você esta entendendo. Mas a gente tem que fazer, seguir, o que a empresa define para a gente, o que ela determinou, você tem que fazer seguir. Aquilo que você acha que está normatizado, normalmente ela não vai infringir momento algum o código de ética. Talvez por falta de conhecimento, aquilo que pode afetar, que alguém esta pedindo para você fazer, para afetar o seu diploma, a sua carreira. Aí você tem que parar, porque está normatizado e você vai direcionar, isso aqui está fora do quadro de ética. Porque as vezes as pessoas, igual a gente comentou anteriormente, elas não sabem para onde vai aquilo que está sendo pedido para ela fazer, e que ela te pede, daquilo que provavelmente pode ser feito, quem vai delimitar isso é você, com o que você conhece de normas, de lei, “isso aqui não pode, isso aqui é código de regras, isso aqui é ouvidoria”. Porque não é assim. Então é isso, é plantar a semente, eu acho que o principio é esse. As pessoas que não estão abertas ao dialogo, você tem duas alternativas, você fecha o dialogo para ela, cumprimenta só, não tem o convívio direto com o seu. E se for trabalhador da empresa, ai você tem que usar um dialogo a força, ai você usa o seu gerente. E assim que funciona. E assim a gente vai cada dia da empresa, tocando, mas graças a Deus, nunca. Mas facilita muito você ter o conhecimento do seu processo, você conhecer as normas, quando a pessoa questiona, você fala a norma da empresa não permite isso. Ai ele fala: manda por escrito isso, “ta aqui! Na norma está escrito, está falando que você não pode fazer isso”. Então isso facilita muito. Eu falo para as pessoas, tem que querer, porque é a sua defesa e a defesa da empresa. Quando você lê a norma, ou lê uma instrução dela, você está defendendo, não só você, a empresa também. Porque o que ele escreveu, quer que você cumpra, então é basicamente isso ai. Eu tenho muitos colegas, inclusive eu indiquei alguns, não sei para quem foi que eu indiquei. Eles na verdade são dois irmãos que trabalham em Furnas e o pai deles trabalhou. Eles devem ter muito mais história para contar.
1:41:06
P/1 – Você lembra de algum caso, alguma história que você da risada?
R – Caso é o que não falta aqui. A gente tem uns casos que foram repassados para a gente, por pessoas que já saíram. As vezes um cara tem um apelido. Mas porque ele tem esse apelido? “É por causa disso aqui”. Então tinha o caso do Garça. “Por que o apelido dele é Garça”? Dizem que ele encontrou uma garça caída na subestação, na área verde da usina, ai ele foi trazer ele para casa, escondido no ônibus, para poder cuidar dela. Ai o que acontece, no meio do caminho, ela saiu do saco e bateu asa no meio do ônibus, “olha a garça, olha a garça”, o cara pega o apelido de Garça. A gente tem um fato interessante, uma vez minha mãe ligou, o telefone é gravado, o que o rapaz atendeu, que o rapaz é da limpeza, ele atendeu. Eles são pessoas muito simples, o rapaz da limpeza da época, inclusive ele faleceu também. Ai ele atendeu, quem pegou essa ligação, foi um colega meu que faz parte de analise de operação, que ele escuta gravação. Ele pegou assim... Aí minha mãe ligou, o rapaz foi e atendeu, ai ele falou assim: alô. Ai minha mãe: bom dia. Ai ele falou assim: bom dia. Ai ela falou assim: Bom dia, gloria a Deus. “Gloria a Deus”. “Quem está falando”? “Belmiro”. Ai ela falou assim: meu filho está ai? Ai ele foi e perguntou: quem é seu filho? “Meu filho é o mais pequeninho, mais falante”. Ai ele pensou, “é o Gonzaga, não é”? Só que não era o Gonzaga. Mas são muitas histórias, muitas. De casos, que tipo assim, as vezes de trabalho mesmo, que marcam a gente. Teve um colega meu, que você ia perguntar as coisas para ele, ele falava assim: Uai então. Ai você não sabia se ele estava te respondendo, ou se era para você continuar perguntando. A gente usa isso, as vezes a gente esta numa reunião nossa aqui, alguém está em dúvida, “uia então”. Vamos parar ou vamos continuar o assunto. Mas tem muitas, muitas histórias. A maioria é graças a Deus, boas.
1:44:03
P/1 – Tem alguma que você viveu na pele e gosta de lembrar? Que você conta para o pessoal?
R – Não! Tem uma cara, que foi uma pegadinha que eles fizeram. Porque estagiário é complicado, pessoal tinha esse costume aqui. As vezes, as sextas-feiras, nem todas, uma vez por mês, tinha que pegar o ônibus, ia para BH. Eu estava fazendo estágio na divisão, eu levava aquelas bolas (1:44:32...), aquelas quadradinhas, não sei se você lembra. Eu deixei ela no chão, na divisão lá, ai terminou o expediente, ai fui, peguei ela, coloquei no ombro, e segui. Peguei o ônibus, fui lá para BH. No ônibus eu vi que o negocio estava pesado, foi pesando, pesando. Aí na hora que eu cheguei me BH, que eu fui abrir, o pessoal tinha colocado uns tijolos embrulhado em jornal. Era costume deles fazer isso. Eu achei que alguém depois ia falar. Eu não falei nada, fiquei quieto, você acha que eu sou bobo, fiquei quietinho. Então essas questões ai. E as vezes as pessoas vão passando isso, porque fizeram com ela, e vão passando para o outro. Mas nunca teve nada de sair no tapa, brigar, porque são sempre brincadeiras saudáveis. Novos tempos também. Hoje às vezes as pessoas tem que tomar cuidado, porque esta todo mundo com os nervos a flor da pele. Mas eram coisas saudáveis, eu acho que o estagiário, pelo fato dele estar mais submisso, não da muito poder para ele falar muita coisa. Eu não falei nada, acha que eu sou bobo, Cheguei como não tivesse nada, tranquilo, tranquilo.
1:45:59
P/1 – Você já ouviu algum tipo de história de fantasma, de espirito, essas coisas. Ou já viu acontecer, já sentiu alguma coisa desse tipo?
R – Então, a gente as vezes ouve falar do pessoal, mas o emocional das pessoas são complicadas né. Existem casos que comentam na divisão nossa, as vezes o caboclo escuta um barulho, “parece que era um vulto”. Mas muita coisa, pode ser vento, tem árvore, tem tudo. Às vezes pode ser uma porta que bateu, uma janela, uma fresta de vento que passou. Mas tem os casos, tem muitos que eles contam. Às vezes o pessoal que morreu soterrado na galeria lá, para construir o conduto forçado, o canal de desvio. Mas é, eu acho que a gente tem que ter medo dos vivos, dos mortos, já foram. Se tiver que ter medo, tem que ter medo dos vivos. Os mortos, tem que rezar para eles. Mas tem os casos que as pessoas falam.
1:47:40
P/1 – Você pode contar um para a gente?
R – Então, o pessoal da sala de controle nossa, que era o falecido Sr. Belmiro, que alguém, não sei qual operador falou, que ouviu um barulho, na hora que olhou lá para cima viu uma sombra, ele ficou meio assim. Mas vais saber, barulho. Não tem jeito. A gente fica meio assim, será que o caboclo está querendo fazer medo nos outros. Porque tem disso também, fazer medo. Mas acho muito difícil que o Sr. Belmiro tenha feito, seu Belmiro era gente fina de mais. Mas ele gostava muito da empresa, nossa. Era apaixonado, que ele trabalhava na parte da limpeza. Ele começou como topografo na empresa, depois mudou, foi trabalhar em outra empresa, depois voltou cuidando da parte da limpeza.
1:48:48
P/1 – Você mora em vila de Furnas?
R – Isso! Aqui na Vila da Usina de Furnas, que é um antigo acampamento dela. É o antigo acampamento, aqui na Usina de Furnas mesmo. Que ela foi emancipada, a empresa foi e abriu as vilas, vendeu as casas, foram todas as casas vendidas, praticamente quase todas, e foi emancipada. Eu moro na vila mesmo.
1:49:33
P/1 – E como é morar nessa vila? E um pouco diferente de morar em cidade mais antiga, tipo Belo Horizonte? Como é que é o dia dia? Como é que é a vizinhança?
R – Morar no interior, já é diferente de morar em cidade grande. Quando eu cheguei aqui, que era vila mais fechada, era totalmente diferente, o acesso nela era controlado, você não podia fazer tudo que você queria. Para você mexer numa coisa na sua casa, como a empresa te dava concessão daquela casa, para você morar nela, se tinha que pedir autorização para mexer com tudo. Era tudo controlado. Hoje não, hoje você tem um aspecto da vila, é como se fosse um bairro do interior, cidade do interior. A casa ainda tem um estrutura como se fosse da empresa, a parte da obra civil em sim, continua, umas modificadas, mas outras coisas como se fosse cidade do interior, mesma coisa.
1:50:42
P/1 – E a sua vizinhança também é formada por funcionários de Furnas?
R – Atualmente, não muito. O que acontece, muitos venderam as casas, outros alugaram. É logico que tem um contingente bom de pessoas aqui, que já são aposentados e tudo. Aqui vizinho meu, que já foi funcionário da empresa, nesse pedaço aqui, deve ter umas 6 pessoas nesse quarteirão, o restante são todos pessoas de fora.
1:51:25
P/1 – Você sente que esses aposentados sentem saudades de Furnas, falam muito da empresa?
R – Sentem né, porque são pessoas que viveram ali 35 anos. Tem gente que trabalhou na empresa 40 anos. O Cordeiro que era motorista, foi 42 ou 45 anos trabalhando em Furnas. É uma vida né. Não tem como você não lembrar. Alguns as vezes, saiu um pouco magoado. Magoado assim, talvez porque não pode comprar a casa aqui. A maioria criou a sua família através da empresa. São pessoas que começaram na empresa e continuaram nela até aposentar, que uma coisa melhor do que isso. Quantas pessoas hoje a gente vê no Brasil, que estão passando fome, miséria, desempregado. Você não tem uma garantia que você vai ficar 1 anos, 6 meses, 4 meses. Imagina só, você continuar nela como estatal, você ficar ali 30, 35 anos. Então você criou a sua vida. Por mais que tem pessoas que saíram magoadas. E o que eu falo, você para para pensar, como é que está lá fora? “Eu estou bem”. Como é que está lá fora, como é que está os outros? E quando reuni os grupos também, eles contam os casos, histórias deles, como é que era, é interessante. Porque a gente aprende muito com os antigos, sabe como é que era, como é que funcionava. Eu conheço casos de pessoas da época, que pessoas, ou elas almoçavam ou elas jantavam. Teve gente que desmaiou. Porque era o regime da época. Pessoas aposentadas, já a bastante tempo. Por mais que você tinha uma estabilidade, também tinha essa questão da diária, as vezes um para uma cidade, mas nem sempre dava, porque era caro. Mas a maioria, todos que eu converso, inclusive esse que chegou para dar essa diária que desmaiou. Eu não sei quem falou que era pouco a diária, mas tinha o salario também. Ele agradece muito, ele trouxe o executor daqui. Pó, se ele tinha essas dificuldades, mesmo trabalhando em Furnas, para almoçar, para jantar, sei lá. Imagina só as pessoas que não trabalhavam na empresa. Que era muito mais difícil. O desemprego no passado era muito grande. Então quando você trabalhava numa empresa igual era Furnas, você tinha uma estabilidade, você ganhava casa. A empresa nossa, ela dava casa, dava os lençóis, tinha gente que vinha trocar a lâmpada. Eu penso assim, cara. A empresa me paga, eu tenho que sobreviver com o que ela me paga. E assim eu vou me adequando.
1:54:52
P/1 – Você é casado, você tem filhos?
R – Eu sou casado, mas eu não tenho filhos não. Minha esposa trabalhou em Furnas também, na empreiteira, como telefonista durante um tempo e depois ela foi absolvida, não no quadro de Furnas, mas na empreiteira, ele foi secretária. Na verdade, ela é filha, meu sogro trabalhou em Furnas também, em 84, 86.
1:55:34
P/1 – E qual que é o nome dela? Como é que você conheceu ela?
R – O nome dela é Nilza Aparecida da Silva Rodrigues. A Nilza eu conheci ela aqui mesmo, no acampamento. Como ela era telefonista, né cara, você liga, atende. As vezes começa assim, como esses namoros, dentro de ônibus, assim que começa. Praticamente a gente conheceu, e começar a namorar, e ai foi, seguiu o barco, em alto mar. E graças a Deus, sem muita onda, só as marolinhas.
1:56:18
P/1 – Mas você conheceu primeiro a voz dela, depois que conheceu a pessoa, é isso?
R – Foi, foi, isso ai! (risos) Primeiro foi a voz. Porque as vezes você vê, mas não atina. O que acontece, eu estudava durante o dia, a noite ficava no anexo, as vezes ia com um colega lá para o clube. E sempre via todas as pessoas. Eu vim para cá em outubro de 96, fui ter mais contato com o pessoal daqui, a partir de outubro de 97, mais ou menos. Porque eu viajava para BH, viajando a trabalho. Então foi mais ou menos isso ai. E foi mais ou menos a época que eu conheci ela, dezembro mais ou menos, mas oficialmente, por telefone não.
1:57:25
P/1 – Mas como é que foi? Você ligava, ouvia, conversava um pouco com ela, gostava da voz. Marcou um dia, é isso?
R – O que acontece, a gente chamava na central telefônica, ai ela pedia o numero para ligar, porque era elas que tinham que discar lá, fazer a ligação. Aí eu estava numa festinha um dia, que o pessoal fazia, ai eu fui e vi ela. Ai eu comecei, aquela é a Nilza telefonista, foi assim que começou, entendeu? Tanto é que eu conhecia ela como telefonista, muita gente até conhece ela como isso, telefonista. Essa história ai foi assim. A gente estava dançando, comecei a dançar com ela. Depois a gente já se encontrou em outras festas de amigos da gente, de aniversário e tudo, começou assim. Ai nos grudamos e estamos grudados
1:58:22
P/1 – E você tem seu sogro e seu irmão em Furnas, é isso?
R – isso! Meu sogro trabalhou. Meu irmão, ele entrou, ele fez concurso, aquele concurso de 2002. Ele entrou, ele é mais velho que eu, se eu não me engano, ele entrou, foi chamado em 2006. Ele trabalha no polo lá de Itabirinto. Então hoje ele reside em BH, mas ele não entrou direto para lá não, ele foi como operador para Mascarenhas de Moraes, para a usina de Mascarenhas de Moraes, ali perto de Franca. Depois ele foi trabalhar em Cótia e depois ele foi lá para região de BH, trabalhar em Itabirinto, com essa questão de telecomando. Então eles ficaram nesses pontos ai. São operadores itinerantes.
1:59:21
P/1 – Você já acabou coordenando ele direta ou indiretamente?
R – Você fala se eu acabei influenciando ele?
1:59:32
P/1 – É, também! Mas eu digo no próprio centro de operações?
R – Já! Fiz com ele direto, me chamar não. Mas documentos com o nome dele, que ele ia trabalhar, já, isso ai sim. Uma vez ele me chamou para falar assim comigo, que estava para mim, dai eu falei: blz! Porque a pessoa liga para mim e fala o seguinte: manda whatsapp, que agora é whatsapp, teletrabalho né. Quando eu não estou presencial e teletrabalho, então as pessoas, “eu estou te mandando documento tal”. Então com isso ai cara, é muito difícil eu fazer um contato novo. Só se tiver alguma dúvida mesmo, baseado no que ele me manda, eu já sei o que eu tenho que fazer. Eu já tenho que coordenar. Baseado, eu já sei também, se ele tem que fazer alguma mudança, eu devolvo o documento para ele fazer as mudanças necessárias, para retornar para mim, para eu poder dar seguimento na coordenação do documento.
2:00:39
P/1 – Ai em tal dia você estava lá e veio e era do seu irmão?
R – Você fala em relação ao documento dele? Que ele pediu. Era, eu estava lá, estou sabendo que ele estava no polo, as vezes você tem um supervisor, mas nem sempre ele vai estar lá. Ai eu sabia que ele estava lá, ele foi e me ligou, falando: tem um documento para você ai. Mas eu já tinha conversado antes também, quando ele era de Mascarenhas, quando ele operador, que ele ligava para saber de alguma manobra, porque como ele era operador, para saber se o documento estava aprovado, não era dele, mas era de outro cara. Eu já tinha feio outros contatos. E com certeza, cara. Ele veio para Furnas, porque eu vim, não foi por indicação nem nada, ele fez o concurso. Mas eu ajudei ele muito, na parte de estudos, que era voltado para o que pedia, a parte de coordenação de intervenção, inercia e tudo. Que caia na prova. Eu influenciei ele muito também em relação ao curso técnico de eletrotécnica. Ele era mais velho que eu, mas quando eu comecei a fazer o curso técnico, ele começou comigo, porque ele já era formado em contabilidade, e escritório, essas questões administrativas. Ai a gente foi junto na Polimique para estudar. Ele pagava também. Ai depois, a gente foi estudar em Contagem, eu acho que ele foi junto comigo, mas para ele não deu certo. Mas o importante disso, é o seguinte, ele parou, porque ele casou e tudo, parou. Depois eu falei: porque você não termina esse curso técnico, termina ele. Ele falou assim: vou ver aqui. Ele concluiu o curso técnico dele, em outra escola, é onde ele foi trabalhar como técnico na Spal, na Coca-cola, lá em BH. Conseguiu na Brahma depois, concurso técnico na Brahma, como eletrotécnico, ele trabalhava na filtração. E com isso, cara, ele conseguiu fazer a inscrição dele em Furnas. Se ele não tivesse estudado, ele não teria feito a inscrição de Furnas, não teria passado no concurso. Então é o que eu falo para você. Eu falo muito para o meu sobrinho, porque eu tenho sobrinhos que eu ajudo, falo assim: vocês tem que seguir. Eu paguei escola para eles, para os dois. Tem o sobrinho meu que está com depressão, eu falo para ele assim: vocês tem que desgarrar como eu desgarrei. Você tem que conquistar o seu. Eu vou ajudar vocês aqui, porque eu não sei o futuro de amanhã, porque vocês não podem depender da gente, já tem 20 anos, já está trabalhando, a outra está ficando emocional e tudo, com a pandemia está difícil. Mas é tipo assim, eu fiz isso para eles, para poder mudar a vida deles, assim como eu mudei a minha. Eu acredito nisso, para que eles possam mudar, não quero que eles passem fome. Porque nos não somos eternos, eu falo para eles. O que eu fiz para eles é porque eu passei por isso. Eu sei que não é fácil. Eu dou apoio hoje, ela voltou a fazer o curso técnico, problema emocional dela passar, com estresse, depressão. Ela voltou a fazer o curso de meio ambiente, ela é inteligente. “Meu computador não serve”. “Mas como você não viu isso antes”. Porque a gente está apertado também, um computador hoje, um laptop é R$4.000,00. Mas como é que você faz? É a oportunidade que você tem de ajudar. Talvez seja o inicio para ela mudar. Ela é formada em biologia. Ela não deu sorte, estava trabalhando em uma escola em Contagem, na secretária, mas é coisa de tipo assim, você não pode ficar dependente de um serviço. Então talvez esse seja o ponto de partida, para ela poder realmente começar uma via nova. Então nisso acreditei, nisso incentivei ela, para que eles não passem dificuldade. Eu acho assim, talvez ela começando, fazendo isso, ela consiga fazer, o irmão dela deslanchar. E hoje é isso. Então hoje eu ajudo eles, ajudo minha mãe, com alimentação, ela é aposentada é tudo. A vida é isso.
2:07:00
P/1 – E o que você pensa do seu futuro? Tem alguma coisa que você sonha em fazer?
R – Então, o futuro da gente é uma situação complicada, porque o futuro não está nas mãos da gente. Você tem que fazer a sua parte, para o seu futuro. O que eu acho é que a gente tem que estar sempre preparado. Eu fiz um curso técnico, me formei em curso técnico. Eu fiz tecnologia da informática em 2003, depois eu fiz engenharia elétrica em 2013, me formei em 2013. A gente nunca sabe o que o mercado quer. O que eu sempre me preparei muito na empresa é saber o que a empresa quer que eu faça. Você tem que conhecer isso aqui, tem que conhecer a nota de operação. Que é isso que vai ditar as suas regras. Eu não fiz curso de inglês, eu até comecei a fazer, mas tive que parar. Porque o inglês não é o meu forte, eu acho que tinha que começar mais lá, desde criança, hoje é mais difícil, não sou muito novo também. E acho assim, pela minha função que eu exerço, vai ser muito difícil eu precisar conversar com alguém em inglês. Porque a estrutura da empresa, tem o meu gerente, ainda tem o chefe de departamento, o superintendente, tem o diretor. Então eu acho que é muito difícil. Mas a gente não sabe o dia de amanhã. A privatização da empresa foi aprovada na câmera, aprovou no senado também. Então a gente não sabe o que vai virar. Então, o futuro ele é muito incerto. Aquilo que eu falei para você do meu sogro, ele trabalhou, acho que o meu sogro trabalhou em Furnas, acho que 32 anos direto. É uma coisa, que é tipo assim, você já tem que levantar as mãos para o Céu, porque você teve um emprego interruptor, saia de Furnas se você quisesse. Dos 25 anos que eu tenho de casa, até hoje, a pessoa só saia da empresa se ela quisesse. Se ela roubasse alguma coisa, ou se ela quisesse, fora isso não, você tinha um emprego garantido, por mais que tivesse dificuldade e tudo. Para frente, é só o futuro, o que eu sei é que eu tenho que estar preparado. Ajustar as minhas constas, as minhas finanças, procurar entender o que a empresa vai querer. Isso que é o principal. E por isso a gente tem que fazer com que as pessoas, nossos dependentes, caminhe por conta própria. Porque é um mundo que a gente não sabe ainda. E o futuro é assim. Eu não sei se eu vou estar vivo até amanhã. Não tem garantia. Eu ate já comentei, quando você sabe que as pessoas estão com câncer, ela esta desanimada e tudo, eu sempre falo assim com ela: olha só, o médico falou para você que você vai morrer quando? Porque quantas pessoas acordaram hoje, que dormiram ontem. Pensando que ia levantar hoje e trabalhar, tomar café, trabalhar e tudo. Mas elas já não acordaram vivas. Quantas pessoas saíram para trabalhar e não voltaram para casa, porque morreram num transito, morreram num acidente. Então, pertence a Deus. A vida pertence a Deus. Então é uma forma de tirar a pessoa desse, “eu vou morrer”. Todo mundo vai morrer, mas só deus sabe o momento. E o futuro é assim. Eu não posso preocupar com o ano que vem, seu eu não sei se eu vou estar vivo amanhã. Eu não posso me preocupar em ponto de atrapalhar, eu tenho que me preocupar com o que me compete. Tentar ver a transformação da empresa, para onde ela está caminhando, o que eu posso fazer para ficar mais técnico do que eu sou atualmente, para que eu possa entender ela. Mudança de área, para onde eu poderia ir. Mas o resto, não tem como. Preparar as finanças, você não pode estar endividado. Não tem jeito, a gente só vive com dividas, mas tem que se preparar nesse ponto. Porque como eu vou me preparar para o ano que vem, seu eu não sei se vou estar vivo amanhã. Se a gente estiver vivo ano que vem, está bom de mais. Eu graças a Deus tomei a vacina, que eu tenho diabete, aquela diabete mais simples, eu tomei a vacina semana passada. Mas eu tive essa doença ano passado, quando decretaram lockdow, eu já estava com ela. Então eu sempre alertei as pessoas do meu convívio, isso não é brincadeira. Porque ela não é uma gripezinha. Tem hora que eu acho que eu tive moderado. Meu irmão teve a uns 30 dias atrás, ele ficou ruim. Eu achei que ele ia internar e intubar. Mas eu falei pra ele: você tem que se cuidar. “Mas isso tá ai”. Você tem que tomar as suas precauções. Porque o vírus está ai. E morreu 500 e tantos mil. Furnas tem o protocolo dela, se você seguir aquilo ali, dificilmente você vai pegar. Eu tive um colega meu que morreu de covid, ele trabalhava com a gente lá. Eu vi o sofrimento da esposa dele por telefone, ela mandava mensagem para a gente. Não é fácil, você ver a pessoa ali, como se estivesse morrendo afogada, sem conseguir respirar. Que dizer, o que adiantou para ele o amanhã, se ele não esta vivo hoje. Você não pode querer deixar problema para os outros, para os pais, para as mães. Eu acho que é assim, faz a sua parte, é isso. O futuro só a Deus pertence.
2:13:49
P/1 – E o que você achou de contar um pouco da sua história para a gente hoje?
R – É uma parte interessante, porque é a primeira vez assim, que eu falo, não para amigo de trabalho, sobre essa questão. Eu não sou muito de falar essa parte minha, de nascença, porque é um fato que não me deixa triste, mas como não deixa recordações. Porque eu não lembro muita coisa, em relação a mãe natural e tudo, essas questões. Eu lembro depois. Mas em relação ao fato da minha tia ter lutado pra mim ter, para ter minha tutela. Porque ela teve que brigar na justiça, a ação dela com o advogado, foi o patrão dela na época, é um doutor lá em Diamantina, ajudou muito também, não lembro o nome dele. Fala com a gente ainda. Então e coisa que emociona a gente por causa da batalha. Mas essa história que eu contei hoje, na verdade, ela é para fazer parte de Furnas. Ela é a minha história na empresa, é a minha vida contada na empresa. E que é uma parte de mim, são 25 anos. Eu fiquei mais tempo aqui em Furnas, do que fora dela. E são 25 anos, não é pouca coisa. Então tem muita história, tem muitos fatos. Então é uma coisa interessante. E tem gente que tem muito mais história, fatos, casos, que os pais trabalharam, a dificuldade que teve. As diferenciações que existiam, são pessoas que contam casos, histórias. E é isso, a vida.
2:15:54
P/1 – É isso então Otávio, é a vida mesmo. Obrigado pelo seu tempo. Obrigado pela história. Foi uma honra poder integrar sua história com o arquivo de Furnas. Tenho certeza que vai ficar muito bem guardado. Agradeço muito a tua presença.
R – Eu gostaria de deixar registrado, que eu tenho que agradecer muito as pessoas que me ensinaram a trabalhar na empresa. Pessoas que já aposentaram, pessoas que já morreram. O que eu sou hoje na empresa, eu agradeço a eles. Fora muitos, eu não vou falar nomes, porque eu seria injusto com todos que me ensinaram. Então, o que eu sou hoje, meu conhecimento profissional que eu tenho, eu tenho que agradecer essas pessoas que me ensinaram, a todas elas.
2:17:26
P/1 – Com certeza! E a gente vai precisar conversar depois para você indicar algumas pessoas.
R – Pode deixar, eu passo o nome para vocês. Pessoas aposentadas, eles vão gostar muito, que são pessoas mais antigas. E que são pessoas que vão contar a história de como começou.