Celso Von Randow nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 21 de fevereiro de 1976. É pesquisador e professor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos, na área de meteorologia, no Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST). Seus pais se mudaram para São Paulo quando tinha 4 anos, São Caetano do Sul, mas seus tios, tias e avós permaneceram em Belo Horizonte, o que os fez viajar muito para lá. Desde a infância, quis ser cientista e se imaginava de jaleco entre poções e tubos de ensaio. Fato é que se tornou o primeiro pesquisador da família. Estudou meteorologia em São Paulo e aos poucos se enveredou em uma grande área de investigação que se refere a interação da superfície atmosférica. Participou do projeto LBA (Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in the Amazon), ação internacional que lhe deu muita experiência de campo e lhe abriu novos caminhos profissionais. Seu doutorado foi sobre a Amazônia, o que lhe fez mudar para Manaus em seu último ano de pesquisa. Ao término de sua experiência no norte do país, prestou concurso no INPE e entrou para o CCST. Atualmente, investiga quais são as ações e processos que afetam a paisagem e as relações dessas intervenções nas mudanças climáticas.
Meu nome é Celso Von Randow. Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 21 de fevereiro de 1976. Eu vivi até os quatro anos de idade em Belo Horizonte, as minhas memórias são muito vagas. A minha família, os meus pais vieram para São Paulo, então, eu cresci em São Paulo, São Caetano do Sul. Mas os meus tios, tias e os meus avós continuaram morando em Belo Horizonte e região, então a gente voltava, viajava muito para lá.
Da minha infância mesmo, eu não lembro de nada, só aquelas imagens confusas de quando você é bebê, de mexer na grama do jardim, de comer formiguinha do jardim. E depois, as lembranças de viagens para visitar a família, só de final de ano, visita aos parentes. Eu gosto de Belo Horizonte, eu gosto do povo mineiro também, em geral.
Acho que fui o primeiro da família a mudar para área de Ciências. Não tive nenhuma influência de algum familiar. Eu sempre gostei de estudar, gostava de aprender coisas novas, então acho que, desde criancinha, eu tenho essa coisa de querer ser cientista. Quando naquela época de decisão do que fazer, já do Ensino Fundamental para o Ensino Médio, eu já fui fazer o curso técnico, mas não na área de Ciências. Eu sou o caçula de seis irmãos, eu sou o sexto filho, cada um foi para um lado, tem engenheiro, tem administrador, e o meu pai era engenheiro. Eu lembro que na hora de tomar a decisão, eu tinha várias… Na hora de tomar a decisão - uma das opções que eu tinha em mente era não fazer Engenharia (risos) - porque não queria que o meu pai interferisse, quisesse dar muito palpite. Aquela coisa de adolescente, né? Mas independente disso, eu queria uma coisa cientista, mesmo. Na verdade, eu tinha uma imagem de trabalhar com jaleco, trabalhar com Química, alguma coisa assim, sabe aquela coisa de Ciência, mesmo? Aquela imagem de cientista meio infantil. Agora não tem nada a ver com isso, mas idealizava isso. Então, não tive influência direta na escolha profissional, mas talvez tenha tido uma influência para não seguir uma área igual aos outros.
Eu sempre quero aprender coisas novas, entender algumas coisas. O que eu faço agora é estudar, estou tentando aprender alguns temas novos, identificar, desenvolver novos conhecimentos sobre as pesquisas que a gente faz aqui. Eu gosto de fazer o que eu faço, também gosto de passar o conhecimento para outras pessoas, como para os meus alunos do doutorado, e isso me motiva bastante, de não querer mudar muito o rumo das coisas como estão agora.
Eu me formei em Meteorologia… eu vou contar um pouco desde quando começou e como eu vim parar aqui. Eu estudei Meteorologia em São Paulo, no decorrer, apareceu uma oportunidade de fazer uma iniciação científica na área, para estudar como que a superfície atmosférica influencia na Meteorologia, influencia o clima. Então, essa grande área, a gente chama de interação da superfície atmosférica. Eu comecei trabalhando na parte de Meteorologia especificamente. Depois, continuando na linha, eu fui fazer um doutorado nessa área. Apareceu uma oportunidade, tinha um grande projeto sendo organizado na época em que eu estava quase me formando, que era o Projeto LBA, se chama Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in the Amazon, um experimento de grande escala entre a biosfera e a atmosfera na Amazônia. Era um negócio que envolvia muitos grupos de pesquisa no Brasil, Estados Unidos e Europa, era a oportunidade de trabalhar com o pessoal da Europa, eles iam montar várias torres de pesquisa na Amazônia e eu estava no começo. Legal, eu consegui trabalhar nisso, fui trabalhar na Amazônia, um pouquinho nessa parte de entender como que a floresta influencia o clima. Bom, eu fui fazer doutorado nessa área e voltei. Quando retornei, abriu uma posição também aqui no INPE, um concurso nessa área, já nesse centro que eu estou agora, que é o Centro de Ciência do Sistema Terrestre, o CCST. Eu passei no concurso e já começo o trabalho nessa linha de pesquisa de interação entre a biosfera e a atmosfera. E é isso que eu faço até hoje.
Tem um monte de áreas especificas ali dentro dessa grande área, tem a micrometeorologia, que estuda todos os processos de turbulência entre a biosfera e a atmosfera, o que transfere energia, transfere o carbono entre a biosfera e a atmosfera, e tem a parte de modelagem, que é a gente modelar computacionalmente toda essa coisa, toda essa pesquisa, essa maluquice. E eu trabalho nessa linha mesmo, a gente tem um modelo, que é baseado em outros modelos, um modelo norte americano, e eu e mais outras pessoas daqui, nós estamos trabalhando para aprimorá-lo para os processos tropicais. Para os processos que são mais relevantes para os brasileiros. É mais ou menos isso.
Logo depois que eu terminei o meu doutorado, eu tinha muita ligação com a Amazônia, com o pessoal da Amazônia, do INPA e, na época, eles estavam abrindo também um novo curso de Meteorologia, ia ter o concurso lá em Manaus, na Amazônia. E naquele momento, tinha uma vaga lá que era muito pra mim, era muito perfeita para eu me candidatar, e eu decidi não me candidatar para aquela vaga porque eu queria voltar para perto da minha família, para estar na região sudeste e tal. Isso foi uma coisa assim, que realmente, se eu tivesse feito, a chance de eu estar lá até hoje seria muito grande. Foi uma decisão assim: “Eu não vou fazer isso”, porque era um risco também, eu não tinha nada concreto por aqui. Mas eu tinha confiança de que iria ter alguma coisa, sabe? Eu já tinha boas conexões e eu tinha confiança de que ia ter alguma coisa legal para fazer, realmente, se eu não conseguisse logo, seria depois.
Eu morei um ano na Amazônia. Eu morei durante um ano em Manaus, na fase bem final do meu doutorado. Na verdade, durante o meu doutorado, eu fiz pesquisa de campo lá, passei uns bons tempos por lá, passava um período de dois, três meses. O meu mais longo foi um campo de uns três meses, fazendo medidas para o doutorado. Mas no último ano de doutorado, eu já tinha terminado a minha Bolsa e aí, eu fui para lá… porque a minha esposa estava lá, ela também estava fazendo doutorado, estava fazendo medidas por lá. Então, eu fui para lá e consegui ficar, a gente ficou um ano, consegui ficar trabalhando no doutorado, escrevendo o final da tese, e depois, trabalhei um pouco no INPA, nessa parte de biosfera e atmosfera lá. Foi uma experiência profissional muito boa. Havia uma deficiência muito grande de profissionais lá, então eu poderia suprir, eu poderia ajudar. Ajudei um pouco a coordenar ali na parte de suprimento de dados, mas se eu tivesse ficado lá, eu teria crescido e dificilmente eu estaria aqui. Acho.
Eu sempre tive ligação com CCST, eu fiz um monte de pesquisas no CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), que era lá em Cachoeira Paulista. Depois desse um ano em Manaus, o Carlos Nobre, que era o chefe do CCST na época, ele tinha uma posição de um contrato aqui. E ele me ofereceu. Eu lembro… lembrei uma coisa legal, quando eu cheguei, foi lá em Cachoeira Paulista, eu cheguei e tinham umas duas pessoas, dois alunos dele, que vieram falar comigo: “Você é o Celso Von Randow?”, tinham acabado de ler um artigo meu! Eu: “Pô, sou famoso aqui”, eu era famoso para aquelas duas pessoas ali. Pensei: “Nossa, que estranho”, foi meio… uma sensação meio estranha assim, porque não tinha nada demais, eu acho. Mas foi legal isso. Esse foi um dos primeiros dias que eu cheguei lá em Cachoeira. Muitas das pessoas eu já conhecia, então era um contato muito tranquilo. Vários dos que estavam lá tinham estado na época da faculdade comigo, na USP. Pelo menos, a gente já se conhecia bastante.
Durante a minha formação, eu tive contato direto com o Antônio Manzi, ele que estava em Manaus, na época em que eu estava também, nesse final de doutorado. Ele estava coordenando a LBA, e ele que conseguiu me pagar uma bolsa para eu ficar. Acabou a minha bolsa do doutorado e ele conseguiu arranjar uma bolsa para eu ficar durante um tempo lá. Eu tive uma longa parceria com ele. Na verdade, eu dediquei, na minha tese de doutorado, uma parte lá nos agradecimentos, uma parte importante, toda a minha formação é dedicada a ele. O Carlos Nobre foi assim, muito importante para eu voltar para cá, para eu ter essa oportunidade. Ele também era o coordenador do CCST e conseguiu articular o concurso e tudo mais, foi extremamente importante. Para a pós-graduação é uma outra história. Para a pós-graduação, eu não entrei de cara na pós-graduação. Quando o CCST começou, começou a pós-graduação no CCST também no doutorado e eu era um pesquisador, não estava na pós-graduação. Eu não me lembro exatamente quando eu entrei, 2010, sei lá. Eu sei que nessa época, no começo, era o Carlos que dava aula de Interação Biosfera e Atmosfera, que é exatamente esse curso que eu dou agora. Então, na época, eu já comecei a trabalhar com algumas coisas e eu me interessava em começar a trabalhar na pós-graduação, dar aula e ter alunos. Eu falei com ele, se ele precisava de ajuda ou alguma coisa. E ele precisava, sempre precisava de ajuda para fazer alguma coisa, então, ele já gostou da ideia, falou: “Excelente”. Eu comecei a dar uma parte do curso com ele. E aí foi meio natural, na verdade, depois ele… eu me confundi. Na verdade, essa disciplina, Interação Biosfera e Atmosfera, que ele dava era na Meteorologia, não tinha uma disciplina dessa no CCST, e aí ele falou: “A gente propõe essa disciplina no CCST e você já entra como docente”. Eu fiz isso. E no final, eu propus uma ementa um pouco diferente da que ele tinha na época, mas acabou juntando as coisas. Para falar a verdade, eu nem sei se essa disciplina ainda é dada na Meteorologia, eu acho que não. Eu assumi essa disciplina no CCST e estou até hoje. Mas é uma disciplina que tem poucos alunos, normalmente. Ela não é obrigatória, é optativa, e só alguns alunos que se interessam, em média tem uns três ou quatro por ano. Tem ano que tem mais, tem ano que tem menos.
O CCST é uma área de pesquisa nova. O CCST é Centro de Ciência do Sistema Terrestre. É uma área que surgiu nos anos 2000, talvez um pouco antes. Surgiu da interdisciplinaridade, propôs fundir diferentes disciplinas: Meteorologia, Biologia, Ciências Sociais... porque as diferentes ciências foram identificando que muitos dos processos que acontecem no sistema terrestre tem a ver com a interação entre essas coisas, não é uma única disciplina que explica. É uma ciência nova, essa ciência do sistema terrestre, de combinar, de você tentar estudar os processos com foco em diferentes áreas. Na verdade, a gente tem pesquisadores de diferentes áreas aqui no Centro. Eu sou meteorologista, mas tem um pesquisador que é agrônomo, tem outro que é hidrólogo, tem outro que é cientista social, antropólogo, para interpretar de uma maneira conjunta. Eu estou aprendendo um monte de coisas, não sei ainda direito o que que eu faço no dia a dia, como tabular essas coisas, como trazer essas informações e entender é uma coisa que é meio nova. Na minha área, eu estou estudando essa questão de como a biosfera, como a floresta na superfície responde ao clima, ou a superfície como um todo. A paisagem não é só a floresta ou a vegetação ali, ela pode mudar com uma transformação do clima, um ambiente de floresta pode mudar se chega uma sociedade e desmata uma área e vai plantar soja ali ou vai botar uma pastagem. Então, são diferentes processos, como que isso pode… na verdade, a gente está estudando quais são os processos que afetam essa paisagem e depois, como que isso pode afetar o clima, porque se você muda a superfície, você muda muito o balanço de energia entre a atmosfera e a superfície. Você tem uma área de floresta e você desmata e coloca uma graminha ali para um pasto, a quantidade de água que evapora é diferente, é menor. A quantidade de luz que reflete, a reflexão é diferente, então isso afeta por exemplo, a produção de chuva, que pode afetar por sua vez a paisagem, de novo, como que a vegetação responde e pode afetar também a sociedade, como que o ser humano vai usar até de outra forma, então é muito complexa a interação. E eu trabalho nessa linha, de tentar modelar a vegetação em si e como que a vegetação influencia o clima. Mas aí, outros elementos dessa modelagem entram por colaboração com a pesquisa de outros cientistas. Então, existe uma colaboração com um grupo de modelagem de uso da terra, que modela a partir de diferentes bases da dados, estatística e relações entre, por exemplo, o acesso ao mercado vai modelar como que aquela célula, aquela região vai responder, vai querer… de repente, vai ser uma região mais propícia a plantar, a criar uma plantação ali ao invés de deixar uma floresta natural, deixar regenerar a floresta, coisas assim. É esse tipo de processo que a gente estuda, geralmente numa escala macro.
Aqui no CCST, nós somos felizes, conseguimos trocar informações, principalmente em projetos específicos de pesquisa. Como a gente é um centro relativamente novo, acho que a moçada também é meio jovem, então a gente tem um gás de querer trocar informações, de querer trazer coisas novas e querer crescer mais. É bem positivo.
Eu tive bastante experiência com medições, eu fiz muitas medidas lá na Amazônia da Meteorologia, a gente coloca lá uma torre meteorológica e fica medindo. A gente tem que ir muito ao campo. Para a minha pesquisa não ajuda muito, mas a experiência é muito legal, você ir para esses lugares, algumas dessas regiões são longe, então tem que pegar um barco, não dá para ir de carro, você pega um barco e vai umas duas horinhas no barco para chegar no lugar, que é uma reserva biológica. E nesse caminho, que não tem nada, é só um rio, você encontra uma casinha de um cara, um ribeirinho que vive lá, ele com as duas esposas e mais alguns filhos, que moram lá e vão de barco para a cidade, demoram uma hora, duas horas para conseguir mantimentos, sei lá. É muito legal você ver as pessoas vivendo ali, você dá um valor diferente até para … dá um valor diferente a pesquisa, você entender que não há só o nosso modelo de vida… não é só o que a gente vive aqui e acaba motivando, a minha pesquisa é para tentar melhorar… entender como que isso pode afetar o planeta como um todo, mas também no fundo, é para melhorar a vida das pessoas, uma pesquisa em benefício da sociedade. Eu acho que a vivência no campo é muito legal por causa disso, você vê as pessoas, e não é só isso, outra coisa que é importante estar no campo, você vê a dificuldade que é, o trabalho que dá coletar os dados no campo. Para quem trabalha na área de modelagem, que fica no escritório no ar condicionado, bonitinho, não dá o valor. Você trabalha está trabalhando, você tá com o seu modelo e precisa de informações, aí vem um conjunto de informações e uns buracos no meio dos dados, que você fala… o cara que tá lá fala: “Que saco, não tem… com isso não consigo rodar o meu modelo com esses buracos aqui, então não serve para mim esses dados”. Mas assim, o cara não valoriza o esforço, os pontos onde não tem buraco, essas coisas assim, que eu acho que você só ganha isso quando você vivencia, você participa do campo. Nesse ponto, acho que é legal a oportunidade que a gente tem de conseguir participar do campo, de fazer as coisas, para depois trazer não só a informação de maneira meio automática, mas de você trazer também, entender também o processo de obtenção das informações, é um trabalho que você aprende bastante.
Na pesquisa que faço, não é fácil ter um resultado concreto rapidamente, de curto prazo para a sociedade. Pois se trata de um processo de mudança climática, é um processo de longo prazo. Eu sinto que a gente está contribuindo, a gente está entendendo melhor o processo, e o principal tipo de retorno que a gente recebe é quando vemos outras pessoas também usando o conhecimento produzido por nós para desenvolver cada vez mais a pesquisa. E isso, no final, o conjunto de tudo traz um benefício para a sociedade, traz o benefício para você entender os processos e dar o subsídio para tomar as melhores decisões. A gente tem uma contribuição relativamente pequena no todo, mas é uma coisa que é necessária e complementa esse mesmo todo, eu consigo enxergar um pouco o meu papel ali, naquele grande contexto. Esse projeto enorme que eu participei, o LBA, é um negócio de milhões de anos de pesquisa, mas que desenvolve um monte de conhecimento sobre a Amazônia, um monte de coisas. Eu consigo enxergar um pouco do que eu contribui ali, naquele conhecimento, sabe? Aquela coisa, aquele processinho ali que acaba explicando outra coisa, que explica outra coisa, que no final explica uma coisa muito maior e eu acho que sim, eu sinto que eu tenho retorno do que faço.
Existe um trabalho que a gente está fazendo agora, que eu considero importante crescer, que é o processo de internacionalização do departamento. É legal que o Miguel tá aqui, ele é um dos alunos, um representante internacional na pós-graduação. Tem um projeto grande em todo o CCST, e toda pós do INPE, de abrir muito mais a questão de internacionalização, de atrair estrangeiros, da gente conseguir mandar alunos também, mais do que já têm, nós temos muitos processos de colaboração, mas estamos fazendo um esforço ainda maior. Isso é uma coisa que eu que é muito legal se der certo, a gente vai crescer mais a pós-graduação. A gente está indo bem em relação a nossa pós, mas pode ser melhor ainda, nós temos uma nota, tem a nota da Capes, que a gente está na nota seis, o legal seria conseguir nota sete, que é o máximo. É muito difícil atingir, mas nesse caminho, a gente está conseguindo construir um negócio legal, para valorizar isso para conseguir isso. Se a gente conseguir isso, vai ser muito bom pra todo mundo, para os alunos da pós e para a gente também.
Microações e a atmosfera
História de Celso Von Randow
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 03/04/2019 por Danilo Eiji Lopes
Projeto Cemaden
Depoimento de Celso Vonrandow
Entrevistado por Gabriela Couto e Miguel Trejo
São José dos Campos, 26/02/2019
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV719_Celso Vonrandow
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Eu vou começar pedindo, por favor, que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R – Bom, meu nome completo é Celso Vonrandow. Eu nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 21 de fevereiro de 1976.
P/2 – Parabéns.
R – Sim, acabei de fazer 43 anos.
P/1 – Tem alguma memória em particular de Belo Horizonte, da sua infância, rapidamente, que você… que é marcante para você e que você gostaria de compartilhar com a gente?
R – Bom, eu cresci… eu vivi até os quatro anos de idade em Belo Horizonte, então, as memórias são muito vagas. Mas a minha família, os meus pais vieram para São Paulo, então eu cresci em São Paulo, São Caetano do Sul. Mas os meus tios e tias e os meus avós moravam em Belo Horizonte ainda na região, então a gente voltava, viajava muito. Então, da minha infância mesmo, eu não lembro de nada, só daquela imagem confusa de quando você é bebê, de mexer na grama do jardim, assim, de comer formiguinha, né, do jardim. E aí, depois, as viagens para visitar a família, só de final de ano, de visitar os parentes, assim. Então, eu acho que é mais ou menos isso, não tem… eu gosto da cidade, eu gosto de Belo Horizonte, eu gosto do povo mineiro também, em geral.
P/1 – Você mencionou rapidamente a família, os avós, os tios. Tem algum… a Ciência faz parte da família?
R – Não. Quer dizer, não, eu fui o primeiro… acho que o primeiro a mudar para Ciências na família, assim, né? Não tem mesmo, não tive nenhuma influência, pensando em alguma influência de algum familiar assim, eu sempre tive uma tendência de gostar de estudar, gostar de aprender coisas novas, então acho que aí, desde criancinha, eu tenho essa coisa de crescer cientista. Aí quando naquela época de decisão do que fazer, já do ensino fundamental para o ensino médio, eu já fui fazer o curso técnico, mas não na área de Ciências, mas eu sou o caçula de seis irmãos. Eu sou o sexto filho, então cada um… todos os meus irmãos, cada um foi para um lado, tem engenheiro, tem administrador e o meu pai era engenheiro. Aí, eu lembro que na hora de tomar a decisão, eu tinha várias… na hora de tomar, uma das opções que eu tinha em mente era não fazer Engenharia (risos), porque não queria… assim, que o meu pai interferisse, assim, sabe, quere dar muito palpite. Aquela coisa de adolescente, né? Mas independente disso, eu queria uma coisa cientista, mesmo. Eu queria trabalhar… na verdade, eu tinha uma imagem de trabalhar com jaleco, então trabalhar com Química, alguma coisa assim, sabe aquela coisa de Ciência, mesmo. Aquela imagem de cientista meio infantil, assim. Agora não tem nada a ver com isso, mas é isso. Daí, então não tem influência direta, não, mas talvez uma influência para não seguir uma área muito igual aos outros.
P/1 – Vamos então para o nosso tema e você falou a frase: “Agora não tem nada a ver com isso”. O que é hoje aquilo que te faz levantar da cama, a sair?
R – Bom, ainda tem… não tem nada a ver não, né? Tem muito a ver com aquela coisa de querer aprender coisas novas, de querer entender algumas coisas. Então, no que eu faço agora é muito de tentar… de estudar umas coisas que eu tô aprendendo, de identificar, desenvolver novos conhecimentos sobre as pesquisas que a gente faz aqui. Então, eu acho que o que me faz… acho que é mais ou menos isso, eu curto, eu gosto de fazer o que eu tô fazendo, tenho também uma coisa que é legal de fazer, que é de passar também o conhecimento para outras pessoa, então tenho uma parte de ter alunos de doutorado, tenho a oportunidade de passar bastante coisa, né? Acho que isso me motiva bastante, de não querer mudar muito assim, o rumo das coisas que estão agora.
P/1 – Vou pedir só por gentileza para você contar um pouco o que é que você faz agora. Então, hoje no…
R – Então, eu sou… eu me formei em Meteorologia… acho que eu vou contar um pouco desde quando começou e como eu vim parar aqui, né? Eu estudei Meteorologia em São Paulo e aí, no decorrer, apareceu uma oportunidade de fazer uma iniciação científica na área de estudar como que a superfície atmosférica influência na Meteorologia, influência no clima. Então, essa grande área, a gente chama de interação da superfície atmosférica. Eu comecei trabalhando na parte de Meteorologia especificamente. Aí, continuando a linha, eu fui fazer um doutorado nessa área, apareceu uma oportunidade, tinha um grande projeto sendo organizado na época que eu tava quase me formando que era o Projeto LBA, chama Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in the Amazon, um experimento de grande escala entre a biosfera e a atmosfera na Amazônia. Então, era um negócio que envolvia muitos grupos de pesquisa no Brasil, Estados Unidos e Europa e aí, tinha a oportunidade de trabalhar com o pessoal da Europa que eles iam montar várias torres de pesquisa na Amazônia e aí, eu tava no começo, legal, eu consegui trabalhar nisso, eu fui trabalhar na Amazônia um pouquinho nessa parte de entender como que a floresta influencia o clima. Bom, aí eu fui fazer doutorado nessa área, voltei. Quando voltei, abriu uma posição também aqui no INPE, um concurso nessa área, já, nesse centro que eu tô agora, que é o Centro de Ciência do Sistema Terrestre, o CCST e bom, eu gosto do que eu faço. Então, já consegui… passei no concurso e já trabalho nessa linha de pesquisa de interação entre a biosfera e a atmosfera. E é isso que eu faço até hoje. Tem um monte de áreas especificas ali dentro dessa grande área, uma delas é… tem muito a micrometeorologia que estuda todos os processos de turbulência entre… que transfere energia, transfere o carbono entre a biosfera e a atmosfera e tem a parte de modelagem, que é a gente modelar computacionalmente toda essa coisa, essa maluquice. e eu trabalho nessa linha mesmo, de… a gente tem um modelo já que usa… que é baseado em outros modelos, mas é baseado num modelo americano, mas a gente já… eu e mais outras pessoas daqui, a gente tá trabalhando em aprimorar ele para os processos tropicais, assim. Para os processos que são mais relevantes para os brasileiros, assim. Mais ou menos isso.
P/1 – Ainda nessa trajetória até aqui, né, até chegar na CCST, tem alguma memória marcante assim, de algum acontecimento, de algum evento que foi fundamental na sua decisão de vida para o dia de hoje?
R – Tem uma… não sei se… tem numa coisa, um acontecimento logo depois que eu terminei o meu doutorado, eu tinha muita ligação com a Amazônia, com o pessoal da Amazônia, do INPA e aí, na época, eles estavam abrindo também um novo curso lá de Meteorologia, ia ter o concurso lá em Manaus, na Amazônia. E naquele momento, tinha uma vaga lá que era muito pra mim, sabe, era muito perfeita para eu me candidatar e eu decidi não me candidatar para aquela vaga porque eu queria voltar para perto da minha família, para estar na região sudeste e tal. Então isso foi uma coisa assim, que realmente, se eu tivesse feito, a chance de eu estar lá até hoje seria muito grande. Então, foi uma decisão assim: “Eu não vou fazer isso”, porque era um risco também, eu não tinha nada concreto aqui. Mas eu também tinha confiança de que iria ter alguma coisa, sabe? Que eu já tinha boas conexões aqui. E eu tinha confiança que ia ter alguma coisa legal para fazer, realmente, se eu não conseguisse logo, seria depois.
P/2 – Celso, como foi essa experiência na Amazônia? Você tem alguma lembrança, algumas situações, de trabalho ou não? Enfim… você chegou a morar ali?
R – Eu morei um ano. Eu morei durante um ano em Manaus, na fase bem final do meu doutorado. Na verdade, durante o meu doutorado, eu fiz pesquisa de campo lá, então passei uns tempos lá, passava um período de dois, três meses. O meu mais longo foram uns três meses lá, fazendo medidas do doutorado. Mas no último ano de doutorado, eu já tinha terminado a minha Bolsa e aí, eu fui pra lá… porque a minha esposa tava lá, ela também tava fazendo doutorado, tava fazendo medidas lá. Então, eu fui para lá e consegui ficar, a gente ficou um ano lá, consegui trabalhando no doutorado, mesmo, escrevendo o final da tese lá e depois, trabalhando um pouco no INPA, nessa parte de biosfera e atmosfera lá. Então, foi uma experiência profissional muito boa também, que eu tava… tinha uma deficiência muito grande de profissional lá, né, então eu poderia suprir, eu poderia ajudar. Ajudei um pouco a coordenar ali a parte de suprimentos de dados, mas se eu tivesse ficado lá, eu teria crescido lá e dificilmente eu estaria aqui, eu acho.
P/1 – Bom, e gora no CCST, você se lembra do seu primeiro dia aqui como funcionário do CCST?
R – Então, eu sempre tive muita ligação aqui, então é difícil eu dizer qual que é o primeiro dia, que na verdade, eu fiz um monte de pesquisas no CPTEC, que era lá em Cachoeira Paulista. Quando eu fiz: depois desse um ano em Manaus, aí apareceu… aí, o Carlos Nobre que era o chefe do CCST na época, ele tinha uma posição de um contrato aqui. E aí, ele me ofereceu. Aí, eu lembro… lembrei uma coisa legal, quando eu cheguei, foi lá em Cachoeira Paulista, eu cheguei e aí, tinham umas duas pessoas, dois alunos dele que vieram falar comigo: “Você é o Celso Vonrandow?”, tinham acabado de ler um artigo meu, sabe? Aí, eu: “Pô, sou famoso aqui”, eu era famoso para aquelas duas pessoas, ali, né? Falei: “Nossa, que estranho”, foi meio… uma sensação meio estranha assim, porque não tinha nada demais, assim, eu acho. E aí, foi legal isso aí, né? Esse foi um dos primeiros dias que eu cheguei lá em Cachoeira. Mas muitas das pessoas eu já conhecia, então era um contato muito tranquilo, assim. Vários dos que estavam lá tinham estado na época da faculdade comigo, na USP, sabe? Pelo menos, a gente já se conhecia bastante.
P/1 – E você citou o professor Carlos como alguém que participou desse processo. Tem outras pessoas que foram importantes na sua história e na sua relação hoje com o fato de você estar aqui no Centro e na pós-graduação?
R – Então, na própria formação, durante a formação, eu tive contato direto com o Antônio Manzi, que ele que tava lá em Manaus na época que eu tava também nesse final de doutorado. Ele que conseguiu… ele tava coordenando a LBA lá, e ele que conseguiu me pagar uma Bolsa para eu ficar lá. Acabou a minha Bolsa do doutorado e aí, ele conseguiu arranjar uma Bolsa para eu ficar durante um tempo lá. Então, com ele tive parceria durante muito tempo. Na verdade, eu dediquei na minha tese de doutorado, uma parte lá nos agradecimentos, uma parte importante lá, toda a minha formação é dedicada a ele. O Carlos Nobre foi assim, muito importante para eu voltar para cá, para eu ter essa oportunidade. Ele também era o coordenador do CCST e conseguiu articular o concurso e tudo mais, então foi extremamente importante. Aí, para a pós-graduação é uma outra história, né? Para a pós-graduação, eu não entrei de cara na pós-graduação, quando o CCST começou, aí começou a pós-graduação no CCST também no doutorado e eu era o um pesquisador, não tava na pós-graduação. Aí, eu não me lembro exatamente quando eu entrei, 2010, sei lá. Eu sei que nessa época, no começo, era o Carlos que dava aula de Interação Biosfera e Atmosfera, que é exatamente esse curso que eu dou agora. Então, na época, ele… eu já comecei a trabalhar com algumas coisas e aí, eu me interessava em começar a trabalhar na pós-graduação, dar aula e ter alunos. E aí, eu falei com ele, se ele precisava de ajuda ou alguma coisa. E ele precisava, sempre precisava de ajuda para fazer alguma coisa, então ele já gostou da ideia, falou: “Excelente”, então eu comecei a dar uma parte do curso com ele, até. E a, foi meio natural assim, na verdade, depois ele… aí, eu me confundi. na verdade, essa disciplina Interação Biosfera e Atmosfera que ele dava era na Meteorologia, não tinha uma disciplina dessa no CCST e aí, ele falou: “A gente propõe essa disciplina no CCST e aí, você já entra como docente”. Aí, eu fiz isso. E no final, a gente acabou… eu propus uma ementa um pouco diferente da que ele tinha na época, mas acabou juntando as coisas, então não sei… para falar a verdade, eu nem sei se essa disciplina ainda é dada na Meteorologia, eu acho que não, eu acho que eles já… é depois que entrou no CCST… aí eu assumi essa disciplina no CCST e aí, tô até hoje. Mas é uma disciplina que tem poucos alunos, normalmente, né? É uma coisa que não é obrigatória, é optativa e só alguns alunos que se interessam que fazem, então em média assim, tem uns três ou quatro por ano, assim. Tem ano que tem mais, tem ano que tem menos, assim.
P/2 – Posso fazer uma pergunta de leigo? Primeiro pra você explicar um pouco assim o que é o CCST, as disciplinas que são dadas, como funciona. E eu queria saber m pouco da prática do seu trabalho. Você falou que é pesquisador e cientista. Como que funciona ir para o campo e pegar as amostras de análise via o quê? Por exemplo. Como que você faz essa tabulação, me fala um pouco do seu trabalho.
R – Bom, o CCST é uma área de pesquisa nova. O CCST é Centro de Ciência do Sistema Terrestre. É uma área que surgiu nos anos 2000, assim, talvez um pouco antes no mundo que é um pouco… surgiu de interdisciplinaridade, de fundir diferentes disciplinas: Meteorologia, Biologia, Ciências Sociais, porque aquilo foi… as diferentes ciências foram identificando que muitos dos processos que acontecem no sistema terrestre tem a ver com a interação entre essas coisas, não é a disciplina só que explica. Então, isso é uma ciência nova, essa ciência do sistema terrestre, de combinar, de você tentar estudar os processos com foco em diferentes áreas, assim. Então, na verdade, a gente tem pesquisadores de diferentes áreas aqui no Centro. Eu sou meteorologista, mas tem um pesquisador que é agrônomo, tem outro que é hidrólogo. Aí, tem outro que é cientista social, antropólogo para interpretar de uma maneira conjunta, né? E eu tô aprendendo um monte de coisas, não sei ainda direito o quê que eu faço no dia a dia eu sei, mas como tabular essas coisas, como trazer essas informações e entender é uma coisa que é meio nova, ainda. Na minha área, eu tô estudando essa questão de como que a biosfera, como que a floresta superfície responde ao clima, ou a superfície como um todo, a paisagem não é só a floresta ou a vegetação ali, que ela pode mudar com uma mudança do clima, mas uma paisagem, um ambiente de floresta pode mudar se chega uma sociedade e desmata uma área e vai plantar soja ali ou vai botar uma pastagem. Então, diferentes processos, como que isso pode… na verdade, a gente tá estudando quais são os processos que afetam essa paisagem e depois, como que isso pode afetar o clima, porque se você muda a superfície, você muda muito o balanço de energia entre a atmosfera e a superfície. Você tem uma área de floresta e você desmata e coloca uma graminha ali para um pasto, a quantidade de água que evapora é diferente, é menor. A quantidade de luz que reflete, a reflexão é diferente, então isso afeta por exemplo, a produção de chuva que pode afetar por sua vez, de novo, como que a vegetação responde e aí, pode afetar também como que a sociedade, como que o ser humano vai usar até de outra forma, então é muito complexa a interação e a gente… eu trabalho nessa linha de tentar modelar a vegetação em si e como que a vegetação influencia o clima. Mas aí, outros elementos dessa modelagem entram por colaborações com outros cientistas. Então, tem uma colaboração com um grupo de modelagem de uso da terra, que modela a partir de diferentes bases da dados, estatística e relações entre por exemplo, o acesso ao mercado vai modelar como que aquela célula, aquela região vai responder, vai querer… de repente, vai ser uma região mais propicia a plantar, a criar uma plantação ali ao invés de deixar uma floresta natural, deixar regenerar a floresta, coisas assim. Então, esse tipo de processo assim, a gente tem que estudar, geralmente numa escala macro.
P/3 – E como funciona trocar informações entre os diferentes pesquisadores e as diferentes áreas aqui no CCST?
R – Aqui no CCST, a gente é feliz assim, a ponto de conseguir conversar. A gente vê outro grupos com vários problemas de diálogo, né? Eu acho que a gente é bem feliz assim, de trocar informações, principalmente em projetos específicos de pesquisa. Como a gente é um centro relativamente novo, acho que a mocada também é meio jovem assim, então a gente tem um gás assim, de querer trocar informações, de querer trazer coisas novas e querer crescer mais. Então, é bem positivo, eu acho.
P/2 – Tem um objeto em comum, né, uma área por exemplo, uma macro, né? Desses trabalhos de campo, você se lembra de alguma situação que você vivenciou, que foi marcante? Descoberta relação com as pessoas, com a comunidade? Eu não sei… teve alguma situação que foi reveladora, enfim? Que tenha sido marcante?
R – Eu tive bastante experiência… foi legal de fazer essas… eu fiz muitas medidas lá na Amazônia da Meteorologia, a gente coloca lá uma torre meteorológica e fica medindo. A gente tem que ir muito no campo. Então, informação para a minha pesquisa não muito, mas vivência é muito legal de você ir, algumas dessas regiões são meio longe, então tem que pegar um barco, não dá para ir de carro, você pega um barco e vai umas duas horinhas no barco para chegar no lugar que é uma reserva biológica. Mas aí, nesse caminho que não tem nada, é só um rio, aí tem uma casinha de um cara, um ribeirinho que vive lá, que ele com as duas esposas dele e mais alguns filhos moram lá e eles vão de barco para a cidade, demoram uma hora, duas horas para conseguir mantimentos, sei lá. Acaba sendo legal você ver as pessoas vivendo ali, você dá um valor diferente até para … dá um valor diferente de você entender que não é só a vida… não é só o que a gente vive aqui e acaba motivando, até… bom, a minha pesquisa é para tentar melhorar… entender como que isso pode afetar o planeta como um todo, mas também no fundo, é para melhorar… em beneficio da sociedade, assim. Então, eu acho que é… vivência de você estar no campo é muito legal por causa disso, você vê… e não só de ver as pessoas, mas outra coisa que é importante é estar no campo, é muito importante para você ver a dificuldade que dá, o trabalho que dá coletar os dados no campo. para quem trabalha na área de modelagem, que fica no escritório no ar condicionado, bonitinho, assim, não dá o valor assim. Você trabalha lá, você tá com o seu modelo e precisa de informações, aí vem um conjunto de informações e aí vem uns buracos no meio dos doados que você fala… o cara que tá lá fala: “Que saco, não tem… com isso não consigo rodar o meu modelo com esses buracos aqui, então não serve para mim esses negócios”, mas aí, o cara não valoriza o esforço, os pontos onde não tem buraco, essas coisas assim, que eu acho que você só ganha isso quando você vivência, você participa do campo mesmo. Então, nesse ponto acho que é legal a oportunidade que a gente tem de conseguir participar do campo, de fazer as coisas para depois, trazer não só a informação de maneira meio automática, mas de você trazer também, entender também o processo de obtenção das informações, é um trabalho que você aprende bastante com isso, eu acho. Não sei se ficou claro, mas enfim…
P/1 – Eu acho que já meio que indo assim, para as perguntas finais, você falou uma palavra “motivação”, né, e aí, você trouxe a motivação como algo, como motivação para você passar o conhecimento para as outras pessoas, gerar novos conhecimentos e depois, você mencionou de novo, a coisa de como aquilo que você faz gera um beneficio, você devolve isso para o planeta, né? Você acredita que dentro… vou perguntar diferente, como é que você enxerga a contemplação daquilo que te motiva dentro do espaço que você tá, né? Você concretiza os seus desejos motivacionais aqui hoje no Centro, no seu trabalho, no seu dia a dia, com os seus alunos?
R – Você pergunta assim, se eu vejo retorno para mim mesmo, é isso?
P/1 – É, se a motivação que te trouxe até aqui se concretiza com uma realidade. Você enxerga isso, se sente contemplado naquilo que te motiva?
R – Bom, se eu entendi direito, eu acho que sim. Eu acho que principalmente, pelo… a pesquisa que a gente faz é meio… não é tão fácil ter um resultado muito concreto rápido, assim, de curto prazo para a sociedade. Mas é um processo de mudança climática, é um processo de longo prazo. Então, a gente vai… eu sinto que a gente tá contribuindo, a gente tá entendendo melhor o processo, o principal tio de retorno que a gente recebe é associado a por exemplo, a você… você vai desenvolvendo a ciência, vai desenvolvendo o conhecimento, vai publicando algum artigo e aí, você vê daqui algum tempo, outras pessoas também usando esse conhecimento para desenvolver cada vez mais, aquela coisa. E isso, no final, o conjunto de tudo traz um beneficio para a sociedade, traz um beneficio para você entender os processos e dar o subsidio para tomar as melhores decisões. Então, eu sinto que sim. Quer dizer, a gente tem uma contribuição relativamente pequena no todo, mas é uma coisa que se você… que precisa, todo mudo… não se é isso que você perguntou, mas eu consigo enxergar um pouco o meu papel ali naquele grande contexto, assim. Então, você vê, esse projeto enorme que eu participei, o LBA, é um negócio de milhões de anos de pesquisa, mas que desenvolve um monte de conhecimento sobre a Amazônia, um monte de coisas. Eu consigo enxergar um pouco do que eu contribui ali naquele conhecimento, sabe? Aquela coisa, aquele processinho ali que acaba explicando outra coisa, que explica outra coisa, que no final, explica uma coisa muito maior e eu acho que sim, eu sinto que eu tenho retorno, se é que isso, mais ou menos, né?
P/1 – E tem algum grande desejo, algum sonho pra pós-graduação hoje, para o Centro? Se você pudesse com a varinha de condão, o que você faria?
R – Tem um trabalho que a gente tá fazendo agora que eu acho que é importante para crescer, que é um processo de internacionalização. É legal que o Miguel tá aqui, que é um dos… um representante internacional na pós-graduação. Tem um projeto grande em todo CCST e toda pós do INPE de abrir muito mais a questão de internacionalização, de atrair estrangeiro, da gente conseguir mandar alunos também mais do que já tem, já tem muito processo de colaboração, já. Mas a gente tava fazendo um esforço… porque abriu um edital, teve uma oportunidade da Capes, abriu para fazer isso, mas isso motiva legal pra gente trazer, a gente tá trazendo várias coisas nesse projeto e eu tô trabalhando muito nesse negócio. Isso é uma coisa que eu acho que é legal se der certo, a gente vai crescer mais a pós-graduação e além disso, a gente tem… eu acho que a gente tá indo bem em relação a nossa pós, mas pode ser melhor ainda no nível… gente tem uma nota, tem a nota da Capes, que a gente tá na nota seis, o legal seria conseguir nota sete, que é o máximo. É muito difícil atingir, mas nesse caminho, a gente tá conseguindo construir m negócio legal para valorizar isso para conseguir isso. Se a gente conseguir isso, vai ser muito bom pra todo mundo, para os alunos da pós e para a gente também, né? Então, acho que no geral, é isso. Nada muito mais assim, nada muito mais sonhador, não. Acho que só isso se conseguirmos, já é muito legal.
P/2 – Obrigado Celso.
R – Nada.
FINAL DA ENTREVISTA