Identificação e origem da família. Descrição da cidade e da infância em Santa Cruz das Palmeiras. Mudança para São Caetano do Sul. Primeiro emprego em loja de fogões. Mudança de emprego. Descrição do bonde no bairro do Brás. Paixão pelo desenho durante o período escolar. Formação em direito. Descrição do trabalho na usina de aço. Descrição do início do trabalho com apicultura e a mudança para Campinas. A apicultura e o início da loja. O livro que mudou a sua vida. Dificuldades e mudanças no comércio. Modificações na cidade de Campinas. Os tipos de abelha e as maneiras de coletar mel.
IDENTIFICAÇÃO
Sou Osvaldo Baldoni, nasci em Santa Cruz das Palmeiras, São Paulo, em 18 de maio de 1940.
FAMÍLIA
Meus pais são João Baldoni e Luiza Briaguês. Eles eram filhos de imigrantes italianos. Eu nasci numa fazenda. A minha mãe morava naquela fazenda com uma família de colonos. Se bem que, o meu avô por parte da minha mãe, não era agricultor, ele era seleiro, fazia selas, cordas, arreios. Era também capador de animais. O meu pai era da cidade próxima da fazenda, de Santa Cruz das Palmeiras. Naquela ocasião, ele trabalhava numa fábrica de tonéis, era tanoeiro. Ele foi morar na fazenda e começou a trabalhar de pedreiro lá. Logo em seguida, a minha família se mudou pra cidade. A minha primeira infância foi na cidade de Santa Cruz das Palmeiras. Era uma cidadezinha bucólica, década de 1940, tinha trenzinho Maria-Fumaça que chegava à cidade. Um ambiente muito bonito. Quando a gente chegava de trem, você avistava a cidadezinha, a torre da igreja. O trem dava uma volta em toda a cidade, depois a cidade subia. Parava na estação, que era na própria cidade. Tinha uma região de mata, onde ele fazia uma curva. E a cidade era aquilo, pracinha, a igreja, e a gente morava aí. Mas, eu morei só até os sete anos. Com sete anos de idade, minha família se mudou pra São Caetano do Sul, que é no ABC Paulista. Por causa de empregos. Tinham muitos filhos, precisavam trabalhar. Eu me criei em São Caetano do Sul. Morei também em São Bernardo do Campo, ali no ABC Paulista, até me casar. Aliás, até me aposentar eu morei por lá.
INFÂNCIA
Nesse período, até os sete anos, lembro dos amigos, dos quintais grandes, você brincava nos pomares. Eu gostava muito de ficar com meu pai. Meu pai era pedreiro e eu ficava junto com ele, brincando naqueles pedaços de tijolos. Construía castelos, coisas de criança. Eu me lembro bem dessa parte, que eu acompanhava meu pai. Quando ele saia pra fazer serviço nas fazendas, eu ia com ele na charrete. Ele ia de charrete, eu ia junto. Lembro, às vezes, até do cheiro do cavalo, aquele cheiro da manhã, daqueles aromas, da comida que a gente levava, que era um caldeirãozinho de comida para o almoço dele. E aquele cheiro da comida com cheiro do campo. Isso me vem na memória
FORMAÇÃO
Em Santa Cruz das Palmeiras, comecei a freqüentar escola, mas foi interrompido o primeiro ano, por causa da mudança. Continuei em São Caetano do Sul, na escola primária, num grupo escolar. Quando eu terminei a escola, comecei ajudando meu pai, mas era serviço leve. Meu pai não queria aquele serviço para mim.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Comecei a trabalhar com 13 anos de idade, no comércio, numa loja de fogões. Naquele tempo, se obtinha do juiz uma autorização, se autorizava o trabalho pra menores de 13 anos. Depois até foi reduzido pra 12 anos. Agora parece que é só acima de 16 anos, mas naquele tempo, com 13 anos, eu já trabalhava com uma autorização do juiz. Trabalhei nessa loja durante um ano. Quando eu completei 14 anos, eu queria carteira de trabalho, queria trabalhar de maneira mais regular e eu fui trabalhar como auxiliar de escritório, office boy, naquele tempo. Isso em São Paulo, que era encostado a São Caetano, como se fosse um bairro de São Caetano. Eu trabalhava no Brás. Foi uma vivência muito rica Eu andava pela rua fazendo serviço de bancos, pegando bonde, vai pra lá, pra repartições, aquilo foi um aprendizado, uma escola fabulosa. Que pena que hoje em dia os jovens não têm isso, essa oportunidade.
CIDADES / SÃO PAULO / SP
Pra eu ir trabalhar no Brás, era de bonde. Quando subia o bonde, que a gente ia para o centro, era bem próximo do Parque Dom Pedro, mas bem próximo mesmo. Naquele tempo, o bonde era baratinho. O pessoal subia pra Praça Clóvis Beviláqua - que é onde hoje é a Praça da Sé, aquilo ficou uma praça só - subia de bonde. Era uma distância pequena. E tinha uma subida. O chique, ou coisa, assim, era o jovem descer do bonde andando (risos). Os malandros desciam andando. Era aquela coisa, bairro de italianos, aquela italianada, pessoal com aquele sotaque característico.
FORMAÇÃO
Minha mãe queria que eu me formasse em Contabilidade, porque o meu irmão mais velho era contador. Ela falava assim: “Você vai ser contador” Eu tinha vontade de ser artista, pintor, desenhista, eu tinha uma facilidade pra fazer desenho. Na escola, eu gostava de desenhar mapas, fazia uns mapas bonitos, o pessoal elogiava. E minha mãe falava: “Não senhor Você não vai ser isso aí, nada. Isso aí é só boêmio, esses caras tudo pinguço. Você vai ser contador, vai trabalhar igual ao seu irmão.” Então, eu tive uma dificuldade, inclusive, tive dificuldade escolar nessa fase que eu estava fazendo o ginásio. Depois do ginásio, passei por um curso básico - era um curso mais simples, tinha um ano a menos que o curso ginasial - e você podia fazer depois o curso de Contabilidade. Foi uma luta. Eu não queria estudar. Eu não aceitava, mas, minha mãe insistia: “Não, você tem que estudar”. Acabei deixando o curso de ginásio e comecei a fazer curso de desenho. Cheguei a fazer desenho artístico. Antigamente, em São Paulo tinha uma escola chamada Associação Paulista de Belas Artes. Era de uma associação, mantinha um curso lá. Eu fiz o começo do curso. Depois não continuei. Estudei também desenho mecânico. Com isso não fiz o colegial. Mais tarde, quando eu trabalhava na indústria e estava numa área comercial, eu precisava ter um diploma superior. Foi aí que, depois de casado, estudei à noite, conclui o curso colegial. Naquele tempo, tinha uns exames de Madureza, umas coisas assim. Prestei os exames, prestei um vestibular para o curso de Direito e consegui entrar pra uma faculdade boa de Direito que tinha em São Bernardo do Campo. Era uma autarquia municipal, de graça, uma escola muito boa. Eu me formei em Direito, mas só que eu não tinha vocação pra Direito. Eu formei porque eu trabalhava numa empresa, numa indústria e precisava ter uma formação pra ter chance de promoção dentro da empresa. Foi assim que estudei Direito, mas nunca exerci. Cheguei até a me inscrever na Ordem [OAB]. Naquele tempo, prestei exame na Ordem, passei, recebi a carterinha de advogado. Depois daquilo continuei pagando as anuidades durante uns dois, três anos, mas nunca exerci. Acabei pedindo baixa, a mensalidade era meio alta. Hoje em dia, eu já esqueci tudo (risos). Mas, valeu muito o curso, maravilhoso. Eu acho que é muito importante pra formação da pessoa. Foi um curso que me ajudou muito.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu fui trabalhar numa usina de aço, na Aços Vilares. Trabalhei, inicialmente, na parte de almoxarifado, administração de materiais. Eu cuidava dos estoques. Em seguida, me passaram pra área de compras; me desenvolvi nessa área, cheguei a ser chefe de compras. Trabalhei 24 anos nessa empresa. Eu, que era de uma família humilde, graças a Deus, pude guardar umas economias. Eu tinha uma casa boa, paguei minha casa, tinha casa própria, uma casa relativamente valorizada, num bairro bom, e quando eu parei de trabalhar, veio a idéia de me dedicar à apicultura. A idéia era morar num sítio, viver no campo. Só que na hora do vamos ver, a família começa: “É, mas não sei o quê...” A mulher começa: “Ah, mas vai ficar longe da mamãe. Por que, não sei o que lá... Porque fica isolado.” Então, não deu certo. Nessa altura, eu morava em São Bernardo do Campo. Eu sai de São Bernardo do Campo, comprei um sítio em Itapira e passei a morar em Campinas, que era mais próximo de Itapira pra tocar o negocio de abelhas. Foi exatamente em 83 quando me transferi pra Campinas. Em 83, também, eu comprei o sítio. Comprei o sítio e uma casa. Porque eu vendi a casa que eu tinha em São Bernardo e com aquele dinheiro deu pra comprar uma casa em Campinas. Era uma casa que estava meio detonada (risos). E a minha mulher colaborou muito nessa fase, me deu todo o apoio. Graças a Deus. Entramos na casa, ficamos morando lá. Em paralelo, fazendo as reformas, as coisas necessárias que a casa precisava até ficar num ponto ideal.
MIGRAÇÃO
São 24 anos em Campinas. Teve muita transformação. Eu lembro. Parece que o pessoal andava na rua mais tranqüilo. Campinas era uma cidade mais pacata. As pessoas andavam na rua, parece que sorrindo, de bom humor, você tinha uma convivência, andando na rua, quando você ia ao comércio, fazer alguma coisa nos bancos. A gente freqüentava as praças, passava numa praça, sentava num banco, conversando, com a família e tal. Hoje em dia, já não se pode mais fazer isso.
APICULTURA
A minha idéia era produção. Eu estava visando mais a produção de mel. Você tem que começar na produção e, na medida em que vai produzindo, você vai vendendo para os seus conhecidos. Porque o mel é um produto que tem certo tabu: “Mas, esse mel é puro?” (risos) Você até hoje houve o cara: “Mas, esse mel é puro?” (risos) É uma coisa que, às vezes, é até meio ofensiva. Você fala: “Pô Esse cara está pondo em dúvida minha honestidade?” Mas, a gente até compreende, é uma prática comum. O pessoal que vende na rua é uma coisa que não é mel. Quem trabalha com apicultura está vendendo um produto de qualidade e ganha um cliente pra sempre. Aquele vai ser um cliente cativo, vai indicar outras pessoas. Porque além da pureza do mel - uma questão fundamental, o óbvio - tem também outra preocupação, dependendo da responsabilidade do profissional, da qualidade do produto que você tem que colher na época certa. O mel tem que estar maduro, tem que ser um mel de boa qualidade, de sabor. Porque tem mel com um sabor que não é tão agradável. Então, se você colhe o mel e esse mel é 100% puro, mas o sabor não é tão agradável, você não pode vender como se fosse um mel normal, a pessoa não vai ficar satisfeita. A pessoa que começa a produzir tem que pensar no longo prazo. Você: “Não. Não, vou vender esse produto que não vai satisfazer.” Aquele produto, você segura, deixa pra alimentar abelhas. É um detalhe que pouca gente sabe: o apicultor alimenta a abelha pra fortalecer os enxames; tem uma época do ano, de inverno, uma época que chove muito, faltam flores e a abelha não tem néctar pra fazer mel. Essa fase começa a diminuir a população. O apicultor que faz apicultura racional tem que socorrer as abelhas com alimento artificial. Pode dar até água com açúcar. Se ele tem um mel de qualidade inferior que está guardado, ele dá aquele mel pra complementar a alimentação dela, pra não diminuir a população de abelhas. Só que nessa fase, logicamente, ele não vai produzir mel pra vender. Aliás, ele nem pode porque o enxame está fraco e não tem a parte de cima que é a belgueira. Você tira o mel excedente da abelha numa sobrecaixa que coloca na colméia quando o enxame está forte. A gente só faz isso na hora da florada, na hora que tem a florada intensiva. Aí, você põe a belgueira vazia, leva a abelha ou a florada que está no local. A abelha vai visitar o local que tem aquelas flores, vai trazer o néctar e vai produzir o mel de qualidade. Porque se você dá um alimento pra abelha também, e ela faz um mel daquele alimento artificial, o mel fica sem sabor de mel. É um detalhe que, às vezes, as pessoas, não sabem. Elas ficam sabendo que o apicultor dá uma alimentação e falam: “Pô, ele está falsificando” E, não é. A pessoa trabalhando com critério. Porque a questão de conhecer o mel é pelo sabor. A pessoa que está acostumada a consumir pelo sabor, ela já sabe. Os que compram mel na rua é porque nunca compraram um mel de qualidade. O dia em que ele comer o mel de qualidade... Se ele está habituado a comer, ele fala: “Não.” A hora que ele vê, ele fala: “Isso aqui tem um gosto de caramelo Uma coisa meio esquisita.” Então, ele rejeita.
COMÉRCIO
A gente trabalhava no apiário e eu comecei a vender para os meus amigos, ex-colegas de trabalho. Quando eu tinha mel, colocava num Opalão que eu tinha, ia pra São Caetano do Sul visitar os parentes, passava na empresa que eu trabalhei: “Oh, fulano...” E um mel aqui e outro lá. Vendia assim. Em paralelo, fui aumentando a produção. Eu consegui, em Campinas, uma autorização da prefeitura pra vender. Tinha, às vezes, umas promoções em frente à prefeitura, umas barraquinhas de mel. Depois também, numa feira de artesanato. A gente começou vendendo assim. A Casa do Apicultor surgiu só em 93. Em 93, já tinha crescido. Quando eu vendia mel na prefeitura ou nas feirinhas aqui dentro de Campinas, o meu mel era autorizado pela vigilância sanitária municipal. O pessoal fazia umas análises dentro da prefeitura e eu tinha autorização. Quando tive que abrir a loja, eu precisei de um registro do produto, pra poder vender no Estado de São Paulo inteiro, fora de Campinas. Era do serviço de inspeção do Estado de São Paulo. A gente instalou no nosso sítio uma Casa do Mel, ou seja, um estabelecimento, tinha lá os equipamentos de extrair com um acompanhamento, fiscalização da vigilância sanitária estadual que, naquela época, funcionava em Mogi Mirim. Eles faziam a nossa fiscalização lá em Itapira. Foi assim que começou.
CASA DO APICULTOR
Quando iniciei o negócio éramos eu e minha mulher vinha me ajudar. Começamos nós dois e meu filho. Meu filho sempre esteve junto comigo, o Luis Fernando. Meu negócio sempre foi junto da família. Meus filhos me ajudavam, até faziam as caixas iscas. Eram adolescentes, um tinha 16 anos e o outro tinha 13 anos. As caixas iscas, você faz uma caixa provisória que tem que ser em quantidade grande pra você colocar em lugares estratégicos pra pegar os enxames; os enxames da natureza que procuram lugar pra se alojar. Quando entra um enxame numa caixa, a gente passava depois pra uma caixa padrão. Essa caixa padrão, eu comprava de um fabricante. Até eu nunca quis fabricar as caixas porque eu tinha medo, sou meio desastrado pra trabalhar com ferramenta elétrica. Eu também tinha medo que acontecesse algum acidente com meus filhos. Então, as únicas caixinhas que fazíamos eram as caixas iscas, que eram de madeirinha mole. Naquele tempo, havia caixas de maçã que eram descartadas, umas caixas importadas da Argentina. Eram um tipo de pinus molinho, branquinho, fácil de cortar. A gente com um serrotinho cortava na medida e fazia umas caixas iscas. Cabiam quatro quadros, quadros normais do tamanho do quadro padrão da caixa de criação racional. Então, quando aquele enxame entrava na caixa, aqueles quatro quadros ficavam com abelha, a gente passava pra uma caixa padrão e começava. Meus filhos começaram me ajudando. Dei a eles essa atribuição: “Cada caixinha, vocês ganham tanto.” Era a mesada deles, um cruzeiro, um cruzado... Eu não lembro o que era... Eles me ajudavam. Quando eu comecei a ir para o campo, eu ia na fazenda colher mel e eles iam junto. Antes de vir pra Campinas, eu tinha começado a fazer apicultura num sítio de um amigo em Bragança Paulista. Ele cedeu a casa pra gente. Comecei a colocar as caixas iscas, umas abelhas lá. Um dia, nós voltamos - a gente morava em São Bernardo do Campo e era meio distante, demorava um pouquinho para voltar – e quando voltamos, tinha sido após uma florada intensiva, aquela caixa estava cheia de mel e um favo bonito, branquinho, aquele favo grosso, mel todo madurinho. Na hora que eu abri a caixa, percebi que o enxame estava forte, aqueles favos bonitos e meu filho ficou maravilhado. Naquela hora, tomou uma decisão na vida dele: “Pai, eu quero trabalhar com abelha.” Foi na hora em que ele viu aquele favo. Então, até hoje, os dois estão envolvidos com a nossa atividade. Eu tenho um que é meu sócio, que trabalha diretamente, cuida do apiário e de um entreposto que a gente tem. Eu continuo lá na loja, cuidando da Casa do Apicultor. Decidi trabalhar com apicultura depois de ler um livro que eu adquiri ou ganhei. Acho que foi até de graça, que a Secretaria de Agricultura distribuiu, em 1961. Aliás, o livro é editado em 1960. Eu tenho até hoje esse livro, eu mandei encadernar. Em 61, mais ou menos, eu adquiri esse livro e fiquei maravilhado com as coisas que eu comecei a conhecer sobre apicultura. Comecei a alimentar essa idéia. A minha mãe dizia que tinha um parente nosso de Santa Cruz da Palmeiras – por coincidência, era parente, não tinha o mesmo sobrenome, mas era um sobrenome parecido, era Bordoni, o meu é Baldoni e o dele, Bordoni – mas, era um primo da minha mãe que trabalhava com abelha, tinha aprendido com uma outra pessoa que passou pela cidade, um alemão. Eu só fui conhecê-lo mais tarde, quando já tinha me iniciado na apicultura.
DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO
A gente vendia mel na loja e as pessoas vinham, perguntavam: “Você não tem aveia?” E eu pensava: ”Poxa vida Precisaria ter esses produtos.” Em casa, a gente usava alimentação natural. Nós sempre tivemos essa busca pela qualidade de alimentação, qualidade de vida, sempre teve uma preocupação nossa. Só que não tinha espaço na loja, era muito pequena. Aí, então, veio a idéia de montar na frente, uma casa de produtos naturais. A minha mulher até concordou em ajudar, ela ficaria nessa loja de produtos naturais. A gente acabou montando outra loja chamada Alma Zen, que hoje cresceu bastante. A minha mulher continua tocando aquela loja. A Casa do Apicultor ficou com mel e produtos da abelha, cera de abelha, própolis, pólen, geléia real.
LIÇÕES DO COMÉRCIO
Crises estão sempre aí (risos). Nossa experiência é que crise é uma constante. Você não tem que se impressionar, tem que acreditar, trabalhar e não gastar tudo que ganha. Tem que guardar uma parte do que ganha. Eu aprendi na minha família. Éramos em muitos irmãos e tínhamos dificuldade, naquele tempo. Problemas, sempre houve, mas a gente foi - graças a Deus - sempre superando. Trabalhando dá pra levar a vida. Apesar das dificuldades, da burocracia, parece que aumenta cada vez mais. Parece que cada vez eles estão criando mais dificuldades (risos). Mas, dá pra levar. Essas dificuldades são permanentes.
DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO
Antigamente, o comércio era bem mais tranqüilo. Apesar de não fazer tanto tempo assim... Naquele tempo, podia estacionar os carros, era permitido. Os carros estacionavam no lado esquerdo, paravam na frente. Tinha os vizinhos, o barzinho da esquina. A gente convivia. Era uma convivência fraterna. Aliás, isso a gente tem até hoje. Parece que o pessoal antigo ainda continua. O pessoal novo. Sempre tem coisa nova. A gente sente um ambiente familiar, por isso gosta do que faz e desfruta de relações saudáveis. A única coisa que mudou - agora você não pode mais parar – foi o trânsito, muito intenso. A gente tem que ter convênio com o estacionamento. Você gasta uma nota com estacionamento.
IMPORTÂNCIA DO COMÉRCIO
Eu acho que é uma atividade necessária, uma coisa natural em qualquer comunidade. É uma necessidade da sociedade, ter pessoas que se especializam naquilo. Eu não pensei em comércio, eu tinha pensado em produção. Mas é impossível Se você está cuidando da produção, você não tem condições de poder oferecer um produto na hora que a pessoa quer, no local que seja cômodo pra ela. Então, o comércio é necessário também, além das outras atividades de produção. Enfim, das outras atividades da cadeia até chegar ao comércio.
APICULTURA
Modéstia à parte, a gente considera a Casa do Apicultor importante no âmbito nacional. Porque outra casa especializada igual a Casa do Apicultor, talvez não tenha no Brasil. Em São Paulo, que é uma grande cidade, temos lá uma Associação de Apicultores, uma associação que eu fiz o curso, que eu participo até hoje, que é a Apacame. Eles fazem uma parte de comercialização de produtos dentro da associação e dão cursos. Mas, fora da Apacame, em São Paulo, tem outros comércios em Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, não conheço. Em Juiz de Fora parece que tem uma empresa. Em Curitiba tem alguns, mas é uma coisa concentrada. Tudo isso, comércio de produtos e cursos. E uma outra vantagem da Casa do Apicultor é que a nossa equipe - nós somos três pessoas, eu e mais dois funcionários – e um deles é o Gerson – que já era apicultor – e eu conheci como cliente da loja. Depois ele começou a trabalhar pra gente, não deu certo tocar o negócio no campo e ele começou a trabalhar com a gente. Hoje ele dá os nossos cursos de apicultura. Além de atender na loja, de fazer serviço, ele dá a parte teórica do curso de apicultura. E outro rapaz que trabalha pra gente, o Hilton. Esse aí começou jovem a trabalhar, mas fez cursos de especialização de apicultura, já trabalhou nas atividades com abelhas junto com a gente pra aprender. Qualquer pessoa que vai na Casa do Apicultor tomar informações sobre apicultura, alguma dúvida, como fazer, como resolver um problema, qualquer um dos três têm condições de dar uma orientação. Nós fazemos isso com todo o prazer. Não temos restrição, quanto mais gente trabalhar nessa atividade, melhora pra todo mundo e vai melhorar pra nós. Toda hora tem gente nos visitando. Pessoas que vem buscar as coisas. Eu despacho mercadorias pra outras cidades. A minha atividade é especifica, não é em qualquer lugar que tem uma loja especializada em apicultura. Eu sou do tempo antigo. Sou mais chegado nas coisas antigas. No meu tempo de jovem existia um modernismo, o rock and roll. Eu não era desse negócio, não. Até eu falava: “Eu não sou playboy. Eu sou é malandro.” Malandro, no bom sentido. Namoradinhas, aquela coisa, nesse sentido. Eu sempre fui uma pessoa mais conservadora. Ainda hoje, eu sou um cara que não mexo com computador. Dependo de outras pessoas. Lógico, a gente tem que trabalhar com informática. Tem lá as pessoas que colaboram com a gente, que ajudam, mas eu tenho essa dificuldade. Com isso, talvez a gente não se torne um grande empresário. Conhece um assunto, no caso o mel, a apicultura, desde o inicio, da produção até a comercialização. E, em paralelo, esses produtos naturais que a gente vende também na Casa do Apicultor e na Alma Zen. Muita coisa vem do nosso sítio. A gente faz em paralelo com a apicultura, alguma coisa de plantas medicinais. Só que não temos aqui possibilidade de fazer plantio, mas das plantas nativas a gente faz coleta de folhas pra preparo de chás. A gente conhece bastante dessa coisa de ervas medicinais. Eu acho que também é importante para o conhecimento das pessoas, e até, pras outras pessoas, para o mundo. E pena que isso está se perdendo. Hoje em dia o pessoal não valoriza mais. Hoje nem tem mais a área verde, a tendência é ter tudo com asfalto e cimento. No nosso sítio, a gente tem diversidade. O nosso pomar é mesclado com plantas nativas, é misturado. Dá aquele equilíbrio necessário para também ter menos pragas. Nós não usamos nenhum tipo de agrotóxico, nada. E, não temos galinheiro, de ter galinha presa lá. Nossas galinhas são soltas. Mais galinhas da Angola, que ajudam a limpar os pastos. A gente percebe que preservando coisas naturais, você tem melhor qualidade. Por exemplo, a nossa abelha africanizada, é uma abelha que você não induz a purificação, a uma especialização da raça. A gente tem abelha produtiva. Mas, a gente não está indo fazer enxertia mecânica de abelha, através de aparelho para você procurar semens, aqueles zangões mais produtivos, raças... Aqueles que só visam produção. Você deixa ela mais natural, uma abelha mais saudável. Nessa parte dá menos preocupação, a gente acha. Por exemplo, há dificuldade em achar um pasto de mata nativa, pastagem diversificada para aquele mel silvestre. O máximo que você vai achar é um lugar para pôr eucaliptos, laranjeiras. Essas áreas estão acabando. O pessoal começa a plantar muita cana. Cana está começando a tomar conta. Tem muito desmatamento para plantio de cana. O que salva a gente é que a nossa região é montanhosa, não é própria para agricultura mecanizada. Então, lá se preserva ainda a pastagem apícula, de plantas silvestres, para mel silvestre. A espécie que a gente trabalha para produção é a abelha Europa – abelha africanizada, hoje abelha Apis Melliferas, essa é a abelha Europa. O grosso do mel que a gente comercializa é dessa abelha. A gente está fazendo um trabalho de introdução de algumas espécies de abelha que estavam em extinção: abelha mandaguari, abelha mandaçaia, agora, abelha uruçú que estamos trazendo do Norte e ela está se adaptando bem aqui. Esse aí é um esforço mais para preservar as espécies porque nós não descobrimos ainda – existe uma dificuldade em descobrir – lugares que essas abelhas produzam bem a ponto de sustentar uma produção comercial de mel. Hoje nós temos alguns amigos que tem alguns lugares propícios para produção de mel de abelha jataí. Esses locais que já são conhecidos há muito tempo, são locais em que a abelha jataí se dá bem. Regiões de mata nativa, um clima que é adequado para ela. Esses lugares não são muito conhecidos, porque a pessoa até nem divulga muito. O cara fala: “Lá é bom para abelha jataí. Um monte de gente vai querer colocar mel em volta.” Então, para abelha jataí tem alguns lugares que tem produção comercial, ainda que dê para sustentar alguns criadores. Se bem que, essas pessoas, geralmente, tem essa atividade em paralelo com uma outra atividade principal. Geralmente, um agricultor, ou, às vezes, até um profissional de outra área urbana mesmo, que ele faz aquilo no campo; ele tem mais aquelas caixas e ele tira uma produção. Porque o grande problema é o seguinte: as abelhas indígenas brasileiras, aqui no nosso continente, estão fadadas à extinção ou então não dá muita produção, porque a abelha africanizada, a abelha européia é uma abelha condicionada pela origem dela, do clima frio, a ela fazer bastante reserva de alimento. Então, ela é uma abelha muito ativa, muito produtiva. As nossas abelhas são acomodadas porque é verão o ano todo. Ela não precisa fazer muita reserva de alimento. Ela sai para trabalhar mais tarde, para coletar néctar mais tarde. Nessa altura, a abelha européia e a abelha africanizada - que é também muito ativa - já passou antes e recolheu tudo. A outra tem uma dificuldade de produção nesses meios. Então, eu não sei até que ponto vamos desenvolver e se essas abelhas vão se adaptar a competir com as abelhas européias, para poder viabilizar uma produção numa escala comercial. Apesar de a gente estar, hoje, criando matrizes dessas abelhas, fornecendo pras outras pessoas tudo que existe, até esse objetivo, até em termos de governo, tudo de preservar. Mas, nós não sabemos se isso vai compensar a produção dessas abelhas mandaçaia e mandaguari que, teoricamente, são mais produtivas que a jataí. Mas, hoje, na prática, a abelha jataí é que está produzindo mais em escala comercial. Existem várias raças de abelhas. Na Europa, em outros países, o pessoal cria as abelhas e, mais ou menos, elas não se misturam, elas se preservam. Apesar de estarem na natureza, soltas, elas se mantém; aquelas raças com pequenas variações; como sub-raças, subespécies. A espécie principal é a mesma, tudo Apis Mellíferas. Tem uma pequena diferença das abelhas que se cria na Europa: tem abelha carnica, abelha italiana, abelha alemã. Umas espécies se mantêm diferentes. Essas abelhas foram trazidas para o Brasil. Quando se introduziu uma outra espécie desta mesma raça vinda da África, não sei por que ela se misturou toda. Misturaram-se todas. Ficaram todas africanizadas. Essa abelha tem um comportamento diferente. O nosso clima favorece esse cruzamento com a abelha africanizada, que é uma abelha que cruza bem no nosso clima. Na parte sul da Argentina, a abelha africanizada não chega. Lá as abelhas se mantêm, aquelas raças originais não se misturaram com a africana. Esses méis são todos iguais. É mais a florada que vai dar diferença de sabor, e o cuidado que o apicultor tem na colheita. Ele tem que colher o mel no momento certo, deixar o mel chegar no ponto, amadurecer. E também, o manejo, como se usa fumaça para controlar as abelhas, não pode usar fumaça em excesso para não contaminar o mel, tem que usar a fumaça de forma adequada, nunca direcionada para dentro do favo. São esses cuidados que a gente procura divulgar nos cursos de apicultura.
MEMÓRIAS DO COMÉRCIO DE CAMPINAS
Eu acho que é uma coisa muito importante. Eu nem sabia que existia esse trabalho. Isso faz parte da história, da cultura. Pra gente entender o presente precisa conhecer o passado. E lógico temos que estar abertos para o futuro. Conhecer o passado, eu acho, que é importante, é fundamental. Valorizar as raízes. Acho que esse trabalho é de suma importância. Eu achei muito interessante. Não conhecia esse trabalho do Sesc. Achei uma coisa muito interessante. Muito bacana. Gostaria de conhecer das outras áreas do comércio aí. Eu vou procurar ter acesso agora. Saber como se obtém acesso. Deve ser pela internet. Vou ter que recorrer aos amigos pra imprimirem as coisas, me mostrar, colocarem na tela pra eu ver. Vai ser muito bacana. Parabéns ao Sesc e parabéns à equipe pelo trabalho.
Memórias do Comércio - Campinas (MCCAMP)
Mel campineiro
História de Oswaldo Baldoni
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 06/08/2008 por Museu da Pessoa
P/1 – Então, para começar eu gostaria que o senhor me falasse o seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Oswaldo Baldoni. Santa Cruz das Palmeiras, São Paulo. 18 de Maio de 1940.
P/1 – Tá. Qual o nome dos seus pais?
R- “É” João Baldoni e Luiza Briaguês.
P/1 - Sim. Qual a origem da sua família? Por causa do nome.
R- A origem do quê, você falou?
P/1- Da sua família.
R- De onde vieram?
P/1- Isso!
R- Eles eram filhos de italianos, de imigrantes italianos. Então, eu nasci numa fazenda, a minha mãe morava naquela fazenda, como uma família de colonos. Se bem que, o meu avô por parte da minha mãe... Ele, não era agricultor, ele era seleiro... Fazia selas... Cordas e aquelas coisas, de arreios e... capador de animais. E o meu pai, era da cidade próxima da fazenda, de Santa Cruz das Palmeiras. Meu pai, naquela ocasião, ele trabalhava numa fábrica de tonéis, era tanoeiro. E, então... Ele foi morar na fazenda e começou a trabalhar de pedreiro lá, né? “Essas são” a origem da minha família, é isso aí.
P/1- O senhor então, nasceu nessa fazenda. E como que era essa cidade, o local onde o senhor passou a sua infância?
R- Sim. Era um... Logo em seguida a minha família se mudou “pra a” Cidade. Então, eu comecei a minha primeira infância na cidade de Santa Cruz das Palmeiras. Era uma cidadezinha bucólica... Década de 1940. Tinha trenzinho maria-fumaça, que chegava “na” cidade. Um ambiente, assim, muito bonito. Quando a gente chegava de trem na cidade, você avistava a cidadezinha, a torre da igreja. O trem dava uma volta, assim, em toda a cidade, depois a cidade subia. Depois ele... Parava na estação, que era na própria cidade, né? Tinha uma região de mata, que ele fazia uma curva aí, e tal... E a cidade era aquilo, pracinha, a igreja, a praça... E a gente morava aí. Mas, eu morei só até os sete anos. Com sete anos de idade minha família se mudou pra... São Caetano do Sul, que é no ABC Paulista... Por causa de empregos, né? Tinham muitos filhos, então precisavam trabalhar... E, então, a gente foi pro ABC Paulista.
P/1- Certo.
R- Então, eu me criei em São Caetano do Sul. E morei também em São Bernardo do Campo, ali no ABC Paulista, até me casar. Aliás! Até me aposentar eu morei por lá.
P/1 - Sim! Nessa fase ainda, nessa fase antes dos... Nesse período até os sete anos que o senhor morou em Santa Cruz das Palmeiras, né? Como que era a vida ali, de criança? Como o senhor brincava? O senhor tinha amigos? Como é que era?
R- Olha, eu não me lembro... Sim! Tinha amigos, sim. Tinha amigos, quintais grandes, você brincava nos pomares, né? Eu “lembro dessa” parte, assim... E, eu gostava muito de ficar com meu pai. Meu pai era pedreiro e eu ficava junto com ele, brincando. Brincando “naquelas pedaços” de tijolos, assim. Construía castelos... Aquelas coisas, né? De criança. E, eu me lembro bem dessa parte, que eu acompanhava muito meu pai. Quando ele saia pra fazer serviço nas fazendas, eu ia com ele na charrete. Ele ia de charrete, eu ia junto. Lembro, assim... Ás vezes, até o cheiro do cavalo, do animal... Aquele cheiro, assim, de manhã... Aqueles aromas... Da comida que a gente levava que era um caldeirãozinho de comida pro almoço dele. E, aquele cheiro da comida com cheiro do campo, né? Do animal também. Pois é... Isso me vem na memória!
P/1 - E, quando que o senhor foi à escola? Nesse período em São Caetano, já? Ou o senhor começou a freqüentar a escola ____?
R- Olha, em Santa Cruz das Palmeiras eu comecei freqüentar escola, mas foi interrompido o primeiro ano, por causa da mudança, né? A gente se mudou. E, então eu continuei em São Caetano do Sul na escola primária, num grupo escolar.
P/1- Sim.
R- Eu continuei a estudar em um grupo escolar, em São Caetano do Sul.
P/1- Sim. E... Já nessa fase da Escola o senhor tinha alguma inclinação pra essas atividades, esse comércio, que o senhor desenvolveria no futuro, ou foi algo que veio depois?
R- Olha, eu acho que... Veio depois, assim... Em termos, né? Porque a gente trabalhava cedo, né? Então, quando eu terminei a escola, já comecei ajudando meu pai, que ele trabalhava de pedreiro. Mas, era, assim, serviço leve. Por que era um serviço pesado que a gente não queria, meu pai não queria aquele serviço pra mim. Então, eu comecei trabalhar com treze anos de idade no comércio, numa loja de fogões. Naquele tempo se obtinha do juiz uma autorização, se autorizava o trabalho pra menores de treze anos. Depois até foi reduzido para doze anos. Agora voltou, agora parece que é só acima de dezesseis anos, né? Mas naquele tempo com treze anos eu já trabalhava já, com uma autorização do juiz. Trabalhei nessa loja um ano e depois quando eu completei catorze anos, que eu queria carteira de trabalho, podia trabalhar, assim, de maneira mais regular e eu fui trabalhar numa... Auxiliar de escritório, assim... “officeboy” naquele tempo, né? Mas, em São Paulo, que era encostado a São Caetano, né? Então, era como se fosse um bairro de São Caetano... Então, eu trabalhava no Braz. Inclusive, foi uma vivencia, assim, muito... Muito rica, assim... Eu andava pela rua fazendo serviço de bancos, pegando bonde, vai pra lá, repartições. Aquilo foi um aprendizado. Olha, uma escola, assim, fabulosa, viu? Que pena que hoje em dia os jovens não têm isso, né? Essa oportunidade, né? Então, a gente... Livre... Andava pra tudo quanto é lado. Ééé... Enfim, tinha, assim, muita vivência.
P/1- Como que era o Braz nessa época?
R- Então, bonde, né? Bonde, tal. E a gente... Quando subia o bonde, que a gente ia pro centro, era bem próximo do parque Dom Pedro, mas bem próximo mesmo. Mas, naquele tempo o bonde era baratinho, e tal... E o pessoal subia pra Praça Clóvis Beviláqua que é onde hoje é a Praça da Sé - aquilo ficou uma praça só. Subia de bonde. Era uma distância pequena. E tinha uma subida. Então, o... Como vamos dizer... O chique, aí... Ou coisa, assim, era o jovem descendo o bonde andando. Os malandros desciam andando e tal. E a gente fazia isso aí, né? (risos) Tinha que descer do bonde andando, né? (risos). Mas, era aquela coisa, né? O bairro de italianos, aquela italianada que tinha lá, o pessoal, aquele sotaque característico. O que eu me lembro é isso aí.
P/1- O senhor falou a pouco que terminando os estudos o senhor ainda ajudava o seu pai, mas ele não queria isso pro senhor. Ele não queria que o senhor seguisse o trabalho mais pesado. Existia alguma expectativa dentro da sua família a respeito de uma carreira profissional pro senhor seguir?
R- Olha, existia... A minha mãe queria que eu me formasse em contabilidade. Por que o meu irmão mais velho era contador. Então, ela _______: “Não! Você vai ser contador!” Mas, naquele tempo... Aliás, agora aqui eu vou ter que corrigir. Eu tinha vontade de ser artista, pintor, desenhista ___________. Eu tinha uma facilidade pra fazer desenho. Na escola eu gostava de desenhar os mapas, as coisas, fazia uns mapas bonitos, o pessoal elogiava. Eu gostava... E minha mãe falava: “Não senhor, você não vai ser isso aí nada. Isso aí é só boêmio, esses caras tudo pinguço. Você vai ser contador, vai trabalhar igual o seu irmão, e tal.” E então, eu tive uma dificuldade... Inclusive, tive uma dificuldade escolar nessa fase que eu tava fazendo o ginásio. Depois do ginásio eu: “Não, é muito difícil!”. E então eu passei por um curso básico que era um curso mais simples... Tinha um ano a menos que o curso ginasial, e você podia fazer depois o curso de contabilidade. E, então... Foi uma luta. Eu não queria estudar. Eu não aceitava. Mas, minha mãe insistia: “Não, você tem que estudar”. E até acabei deixando o curso de ginásio e comecei fazer curso de desenho, cheguei a fazer desenho artístico. Antigamente, em São Paulo tinha uma escola chamada Associação Paulista de Belas Artes. Era de uma associação, mantinha um curso lá. Eu fiz um... Começo do curso. Depois não continuei. Estudei também desenho mecânico. E, com isso aí, não fiz o colegial. Mais tarde, quando eu trabalhava na Indústria e tava numa área comercial, eu precisava ter um diploma superior, tal. Foi aí que, depois de casado... Estudei à noite, conclui o curso colegial, naquele tempo tinha uns exames de madureza umas coisas assim, e... Prestei os exames... E tava preparado já, prestei um vestibular pra curso de Direito e consegui entrar pra uma faculdade boa de direito que tinha em São Bernardo do Campo. Era uma autarquia municipal de graça tudo, uma escola muito boa. Eu me formei em Direito, mas só que eu não tinha vocação pra Direito. _______ por que eu trabalhava numa empresa, numa indústria e precisava, assim, ter uma formação pra ter chance de promoção dentro da empresa. Então, foi assim, que eu estudei o Direito, mas nunca exerci. Cheguei até a me inscrever na Ordem. Naquele tempo, prestei exame na Ordem, passei e tudo... Recebi a “carterinha advogado” e tal. Aí, depois daquilo continuei pagando as anuidades uns dois, três anos, mas nunca exerci, e aí eu pedi baixa lá. A mensalidade era meio alta, né? Parei. Esqueci. Hoje em dia eu já esqueci tudo, já... essas coisas. (risos) Mas, valeu muito o curso, maravilhoso. E eu acho que é muito importante pra formação, assim, da pessoa... É um curso que me ajudou muito.
P/1- Dando prosseguimento à trajetória profissional do senhor... O senhor foi “officeboy” no Braz e etc. e tal, e se estabeleceu ali na área de São Caetano mesmo. Onde o senhor foi trabalhar?
R- Isso. Eu fui trabalhar numa usina de aço. “Aços Villares”. Eu trabalhei inicialmente na parte de almoxarifado, era na parte de administração de materiais. Então, eu cuidava dos estoques, e em seguida me passaram pra área de compras... Passei a trabalhar na área de compras. E, eu me desenvolvi nessa área, cheguei a ser chefe de compras. E, foi assim. Eu trabalhei 24 anos nessa empresa.
P/1- Então, o senhor já tinha uma pequena experiência no comércio numa fase mais jovem. E aí, que o senhor teve um contato mais amplo e se desenvolveu de vez com uma área que tinha contato com o comércio?
R- Exatamente. Então, nessa empresa, eu que era de uma família humilde... Graças a Deus, pude, assim... Guardar umas economias, né? Então, vamos supor... Algumas pequenas economias: tinha uma casa boa, paguei minha casa, tinha casa própria... E uma casa até assim, relativamente valorizada, né? Era um bairro bom, e tal. E, então quando eu parei de trabalhar que veio a idéia de me dedicar à apicultura, eu pensei... A idéia era a gente morar num sitio... Era viver no campo. A idéia era viver no campo. E, então a... Só que na hora do “vamo ver”, a família então: “É, mas não sei o que...”. A mulher começa: “Ah, mas vai ficar longe da mamãe. Por que, não sei o que lá... Por que fica isolado.”. Então, não deu certo... Nessa altura eu morava em São Bernardo do Campo. Eu sai de São Bernardo do Campo, comprei um sítio em Itapira e passei a morar em Campinas, que era mais próximo de Itapira pra tocar o negocio de abelhas, né?
P/1- Isso, por volta de quando?
R- De 83. Foi, exatamente, em 83 quando me transferi pra Campinas. E em 83 também, eu comprei o sítio. Comprei o sítio e uma casa. Por que eu vendi a casa que eu tinha em São Bernardo e com aquele dinheiro, deu pra comprar uma casa em Campinas... Que até era uma casa que tava meio detonada, assim... (risos). Não é uma casa. (risos). E a minha mulher colaborou muito nessa fase, me deu todo o apoio. Graças a Deus. E, a gente foi, né? Entramos na casa, ficamos morando lá. E, em paralelo fazendo as reformas, as coisas necessárias que a casa precisava até ficar num ponto ideal... Que com isso, eu pude comprar, né? Com aquele dinheiro eu pude comprar a casa mais o sítio.
P/1- Então, já são mais de vinte anos aqui em Campinas?
R- Sim. Estamos em 2007.... Vinte e quatro anos aqui em Campinas.
P/1- Era muito diferente quando o senhor chegou? O senhor sentiu alguma tranformação da cidade?
R- Olha, bastante. Muita transformação, né? A gente lembra, né? Parece que o pessoal andava na rua mais tranqüilo. Não sei, a gente que vinha de fora... De São Paulo... Que a gente tava lá naquela Grande São Paulo. Campinas era uma cidade mais pacata, viu? As pessoas andavam na rua parece que sorrindo de bom humor, sabe, você tinha uma convivência, assim... Andando na rua, quando você ia no comercio, fazer alguma coisa nos bancos... A gente era assim. E, depois, a gente freqüentava as praças, né? Você passava numa praça, sentava num banco, conversando, com a família e tal. Hoje em dia, já não se pode mais fazer isso, né?
P/1- Nesses vinte e quatro anos, o senhor já veio pra desenvolver a atividade comercial do senhor. Como era o comércio nessa época, o senhor sentiu transformação do comercio também?
R- Veja só... A minha idéia era, produção. Eu tava visando mais a produção de mel. Se bem que na parte de apicultura, o que acredito até hoje: que ainda você tem que começar na produção. E vendendo... Na medida em que vai produzindo, você vai vendendo pro seus conhecidos. Por que o mel é um produto que tem um certo tabu (risos): “- Mas, esse mel é puro?”. Você até hoje houve aí o cara: “-Mas, esse mel é puro?”. (risos). É uma coisa que, às vezes é até meio ofensiva. Você fala: “- Pô! Esse cara tá pondo em dúvida minha honestidade”. Mas, a gente até compreende... É uma pratica comum aí, né? O pessoal que vende na rua é uma coisa que não é mel, né? Então, quem trabalha com apicultura... Ele vendendo um produto de qualidade, ele ganha um cliente pra sempre... Aquele vai ser um cliente cativo, vai indicar outras pessoas. Por que além da pureza do mel (uma questão fundamental, o óbvio)... Mas, tem também uma outra preocupação dependendo da responsabilidade do profissional, da qualidade do produto que você tem que colher na época certa, o mel tem que “ta” maduro... Tem que ser um mel de boa qualidade, assim... De sabor. Por que tem mel um sabor... Não é tão agradável. Então, se você colhe o mel e esse mel é 100% puro, mas o sabor não é tão agradável, você não pode vender como se fosse um mel normal. Por que a pessoa não vai ficar satisfeita. E então, a pessoa que começa a produzir... Ela tem que pensar no longo prazo. Você: “-Não. Não, vou vender esse produto que não vai satisfazer”. Então, aquele produto você segura, deixa pra alimentar abelhas. Por que um detalhe que pouca gente sabe: O apicultor alimenta a abelha pra fortalecer os enxames. Por que tem uma época do ano, de inverno, uma época que chove muito. “Falta flores” e a abelha não tem néctar pra fazer mel. Essa fase começa a diminuir a população. Então, o apicultor que faz apicultura racional, ele tem que socorrer as abelhas com alimento artificial. Pode dar até, água com açúcar. Se ele tem um mel de qualidade inferior que “ta” guardado lá, ele dá aquele mel pra complementar a alimentação dela, pra não diminuir a população da abelha. Só que nessa fase, logicamente, ele não vai produzir mel pra vender. Aliás, ele nem pode... Por que o enxame “tá” fraco e não tem a parte de cima que é a (belgueira ?), por que você tira o mel excedente da abelha numa sobre-caixa que coloca na colméia quando o enxame “ta” forte. Então, a gente só faz isso aí na hora da florada, a hora que tem a florada intensiva. Aí, você põe a (belgueira?) vazia, leva a abelha ou a florada que “tá” no local que vem... A abelha vai visitar o local que tem aquelas flores, vai trazer o néctar e vai produzir o mel de qualidade. Por que se você dá um alimento pra abelha também, e ela faz um mel daquele alimento artificial, o mel fica sem sabor de mel, também. É um detalhe que, às vezes, as pessoas, assim, não sabem. Ás vezes, elas ficam sabendo que o apicultor dá uma alimentação, falam: “-Pô, ele dá_______”. E, não é. A pessoa trabalhando com critério... Por que a questão de conhecer o mel, é pelo sabor, né? A pessoa que “tá” acostumado consumir, pelo sabor ela já sabe se... Então, os que compram mel na rua aí, é por que nunca compraram um mel de qualidade. Por que o dia que ele comer o mel de qualidade... Se ele “tá” habituado a comer, ele fala: “-Não...”. A hora que ele vê, ele fala: “-Isso aqui tem um gosto de caramelo! Uma coisa meio esquisita...”. Então, ele já rejeita.
P/1- Sim. E quando foi fundada a Casa do Apicultor?
R- Até eu gostaria de contar a história, assim, mais ou menos. A gente trabalhava lá no apiário e tal, e eu comecei a vender pros meus amigos, ex-colegas de trabalhos. Então, quando eu tinha mel colocava num “opalão” que eu tinha, ia lá pra São Caetano do Sul visitar os parentes, passava lá na empresa que eu trabalhei: “-Oh, fulano...”. E um mel aqui e outro lá... E vendia assim. E, em paralelo foi aumentando a produção. E aí, eu consegui em Campinas uma autorização pra vender, na prefeitura. Tinha lá uma promoção, umas feirinhas, umas coisas. Depois eu consegui uma autorização pra vender numas barraquinhas. Tinha às vezes umas promoções em frente a prefeitura, umas barraquinhas de mel. E depois também, numa feira de artesanato. A gente começou vendendo assim. A Casa do Apicultor surgiu só em 93. Em 93 que já tinha crescido. Ah, veja só! Quando eu vendia mel na prefeitura ou nas feirinhas aqui dentro de Campinas, o meu mel era autorizado pela vigilância sanitária municipal... O pessoal fazia umas analises lá dentro da Prefeitura... Alguma coisa assim. Então, eu tinha autorização da Prefeitura. Quando eu tive que abrir a loja eu “precisei um” registro do produto, né? E o registro pra poder vender no Estado de São Paulo inteiro, fora de Campinas, eu tinha que ser estadual... Era do serviço de inspeção, o do Estado de São Paulo (“-Como que era?”)... O (SISP?). Aí a gente instalou no nosso sítio, uma Casa do Mel, ou seja, um estabelecimento, tinha lá os equipamentos, isso aí tudo, com um acompanhamento fiscalização da vigilância sanitária estadual que naquela época funcionava em Mogi Mirim, eles faziam a fiscalização nossa lá em Itapira.
P/1- Sim.
R- Ah, você me perguntou como começou, né? Então, foi assim que começou.
P/1- Sim. Então, foi bem gradativo mesmo, né? Começou de uma produção pequena. Ela foi aumentando. Vendendo aos amigos, barraquinhas, feiras... E o senhor chegou na Casa do Apicultor.
R- Exatamente.
P/1- Quando o senhor abriu o comércio, ele provavelmente já era um comércio pequeno também, não era um comércio de grande porte. Trabalhavam quantas pessoas?
R- Eu. E minha mulher vinha me ajudar. Começamos nós dois e meu filho. Meu filho sempre teve junto comigo, o “Luis Fernando”. Por que o meu negócio sempre foi fruto da família. Ah... Eu contei que os meus filhos me ajudavam, até faziam as caixas (iscas?). Não sei seu eu contei lá fora, que quando eu montei o apiário, os meus filhos começaram a me ajudar. Eram adolescentes: um tinha dezesseis anos e o outro tinha treze anos. Então eu pegava... Por que as caixas (iscas?)... Você faz uma caixa provisória que tem que ser em quantidade grande pra você colocar em lugares estratégicos pra pegar os enxames, os enxames da natureza que procuram lugar pra se alojar... Se alojam nessas caixas aí. E quando entra um enxame numa caixa a gente passava depois pra uma caixa padrão. Essa caixa padrão, eu comprava de um fabricante. Até eu nunca quis fabricar “a caixas”, por que eu tinha medo... Eu, meio desastrado pra trabalhar com ferramenta elétrica. E eu tinha medo também, que acontecesse algum acidente com meus filhos, né? Então, únicas caixinhas que a gente fazia eram as caixas (iscas?), que era madeirinha mole. Naquele tempo tinha caixas de maçã que eram descartadas, umas caixas importadas da Argentina. Eram um tipo de pinos molinho, branquinho, fácil de cortar. A gente com um serrotinho cortava na medida e fazia umas caixas iscas - que a gente chama... Cabiam quatro quadros, quadros normais do tamanho do quadro padrão da caixa de criação racional. Então, quando aquele enxame entrava naquela caixa, aqueles quatro quadros, lá, ficavam com abelha... A gente passava pra uma caixa padrão e começava. Então, naquela ocasião os meus filhos começaram me ajudando, que eu dei pra eles essa atribuição: “-Olha, cada caixinha aí vocês ganham tanto”. Era a mesada deles... Era um cruzeiro, um cruzado... Eu não lembro o que que era... Coisa, assim, né? E eles me ajudavam. Quando eu comecei a ir pro campo, eu ia na fazenda colher mel... Eles iam junto. Aliás, até um detalhe que eu esqueci de contar... Antes de vir pra Campinas, eu tinha começado a fazer apicultura num sitio de um amigo que era em Bragança Paulista e ele cedeu até a casa pra gente e tal. Eu comecei a colocar as caixas (iscas?) lá, umas abelhas lá. E o meu filho mais novo... Bom, aquilo foi o começo, a gente nunca tinha colhido mel. Então, você colocou, instalou as caixas e tal... Aí, um dia nós voltamos - a gente morava em São Bernardo do Campo, e ainda era meio distante a gente demorava um pouquinho pra voltar... Quando nós voltamos, então tinha sido após um florada intensiva, aquela caixa tava cheia de mel e um favo bonito, branquinho, aquele favo grosso, assim... Mel, sabe, todo madurinho. O mel maduro quando “tá” cheio a abelha ___________ já tava no ponto. Na hora que eu abri a caixa – eu percebi que o enxame tava forte e tudo- aqueles favos bonitos. Me filho ficou maravilhado, naquela hora tomou uma decisão na vida dele, ele falou: “-Pai, eu quero trabalhar com abelha”, na hora que ele viu aquele favo. Então, até hoje os dois estão envolvidos com a nossa atividade. Eu tenho um que é meu sócio que trabalha diretamente, hoje ele cuida do apiário e cuida também de um entreposto que a gente tem. Eu continuo lá na loja, cuidando da Casa do Apicultor.
P/1- Só voltando um “tiquinho” antes nessa fala do senhor. O senhor falou que saiu da indústria, queria deixar essa vida de barulho, pó da indústria, da indústria do aço pra uma vida mais equilibrada e tranqüila, no campo. Quando que deu esse estalo de ser justamente a apicultura?
R- Olha, antes... Bem antes. Depois de um livro que eu adquiri ou ganhei. Acho que foi até de graça, que a Secretaria distribuiu em 1961. Aliás, o livro é editado em 1960. Eu tenho até hoje esse livro, eu mandei encadernar e tudo. Em 61 mais ou menos eu adquiri esse livro e comecei e fiquei maravilhado com as coisas que eu comecei a conhecer sobre apicultura. Então, comecei a alimentar essa idéia. Era nessa área de apicultura, mesmo... Tinha que ser isso aí e não sei por quê. Por que na minha família não teve, né? Aliás, a minha mãe dizia que tinha um parente nosso de Santa Cruz da Palmeiras – por coincidência, era parente, não tinha o mesmo sobrenome, mas era um sobrenome parecido. Era Bordoni. O meu é Baldoni e o dele, Bordoni. Mas, era um primo da minha mãe -, e ele trabalhava com abelha e tinha aprendido de uma outra pessoa que passou pela cidade, um alemão. Então, a única relação que tinha com abelhas era esse parente distante que eu também... Eu só fui conhecê-lo mais tarde quando já tinha me iniciado na apicultura.
P/1- Agora “dá” um salto um pouco pra adiante denovo. A Casa do Apicultor começou com o senhor, a esposa e os filhos ajudando...
R- E um filho meu... Só que naquela ocasião quem me ajuda lá... Então, era mais minha mulher e eu que ficávamos lá.
P/1- E hoje em dia, tem alguém que ajuda na loja? Quantos funcionários são? O senhor saberia dizer?
R- Tem. Aliás, eu até quero complementar isso aí... É... A gente vendia mel na loja. As pessoas “vinham lá” e “falava”: “-Poxa, você não tem aqui aveia? Como mel com aveia”, por exemplo, assim. Aí então, eu falava:”-Poxa vida! Precisaria ter esse produtos”, que a gente usava em casa alimentação natural. Nós sempre tivemos essa busca pela qualidade de alimentação, qualidade de vida, sempre ___ uma preocupação nossa. Só que não tinha espaço na loja, era muito pequena. Aí, então, veio a idéia de montar na frente uma casa de produtos naturais. A minha mulher até concordou em ajudar, ela ficaria lá nessa loja de produtos naturais. A gente acabou montando uma outra loja chamada “Alma Zen” que hoje cresceu bastante. A minha mulher continua tocando aquela loja. E, voltando na Casa do Apicultor... Ficou só a parte de apicultura e mel, né? Mel e produtos da abelha. Então, são cera de abelha, própolis, pólen, geléia real... Eu vendo até (apitoxina?) que é o veneno da abelha que tem um uso terapêutico pra tratamento de inflamações, processo inflamatórios, é um tratamento tradicional – desde a Antigüidade se usava isso aí, existe até uma terapia com picadas de abelha. Mas, nós trouxemos uma técnica... Meu filho quando esteve no México, ele teve contato com algumas pessoas que haviam aprendido essa técnica em Cuba. Por que o Governo Cubano estimulou essas medicinas alternativas - os laboratórios aqui parecem que não dão apoio pra isso- mas, em Cuba essa parte é bem desenvolvida. Eles trouxeram essa tradição da Rússia, que já tinha uma tradição muito grande em usar o veneno da abelha pra cura de reumatismo, esses processos inflamatórios. O meu filho com esse contato que ele com essa estada no México, ele trouxe pra gente a técnica de fazer isso aí, né? Inclusive nós até, acabamos junto com uns amigos desenvolvendo um aparelho de extração do veneno da abelha sem sacrificar a abelha, por que antigamente, você sacrificava as abelhas pra tirar o veneno delas. Hoje tem um aparelhinho simples que eu vendo lá na minha loja que você pode tirar o veneno da abelha, deixa secar numa placa de vidro, raspa aquilo e o veneno seco da pra gente fazer uma pomada. Essa pomada é muito eficiente pra esses problemas inflamatórios. E a gente faz isso aí, mas é de uso doméstico, restrito, por que não é um produto, assim, autorizado à comercialização, não pode ser comercializado.
P/1- O senhor teve toda uma trajetória até chegar na Casa do Apicultor, abrir a outra loja de produtos naturais... Houve alguma dificuldade, houve algum problema? Eu imagino que toda a história da gente, a gente passa por problemas difíceis também, teve algum momento assim?
R- Olha. Problema sempre tem, viu? Por que as crises estão sempre aí, né? (risos) E a nossa experiência é que crise é uma constante. Você não tem que se impressionar, tem que acreditar, trabalhar e não gastar tudo que ganha. Tem que guardar uma parte do que ganha. Isso aí é uma coisa que... Eu acho que eu já vim dessa coisa... Eu aprendi da minha família, que a gente era com muitos irmãos e tinha dificuldade naquele tempo, assim. Problema, sempre houveram, mas a gente foi... Graças a Deus, sempre superando tudo. E olha, não “tamos” assim, numa situação cômoda que dê pra desfrutar, digamos assim, de mordomia, nada. Mas, olha.... Graças a Deus, a gente continuando trabalhando como a gente trabalha dá pra levar a vida. E olha... “tá” dando pra sobreviver. Apesar, das difuldades. Por que dificuldades têm, e parece que “tá” piorando, né? A burocracia, problemas aí... Parece que aumenta cada vez mais. Parece que cada vez eles estão criando cada vez mais dificuldades, aí pra você (risos). Mas, dá pra levar. Essas dificuldades são permanentes.
P/1- Como era o comércio quando o senhor se estaveleceu ali, na Casa do Apicultor? Como era as pessoas em volta... Como era a relação com elas?
R- Era bem mais tranqüilo. “Apesar que”, não faz, assim, tanto tempo, né? Mas naquele tempo, podia estacionar os carros, era permitido. Os carros estacionavam no lado esquerdo, paravam lá na frente... Tinham os visinhos, o barzinho da esquina... A gente convivia. Tudo era, assim, uma convivência fraterna. Assim, com os vizinhos. Aliás, isso a gente tem até hoje, viu? Parece que o pessoal antigo ainda continua... O pessoal novo... Sempre tem coisa nova. A gente sente um ambiente familiar, por isso que a gente gosta do que faz... Por que a gente desfruta de relações saudáveis. A única coisa que mudou: agora você não pode mais parar... Um trânsito muito intenso e tal... A gente tem que ter convênio com o estacionamento... Você gasta uma nota com estacionamento lá, né? Coisas assim...
P/1- Por conta disso, quem o senhor citaria, ali do comércio... Por que como a gente “tá” trabalhando nesse projeto de Memórias do Comércio é importante resgatar o máximo possível de pessoas, pra que contem a sua história... Que outros comércios o senhor recomendaria, que viria á mente?
R- Olha, um comércio que “tá” desde que eu me instalei lá... Em frente ali. É um sebo, o (Sebo Lojão?)... O senhor Vitor que é o proprietário. A loja que eu estou instalado hoje, quem me transferiu aquele ponto foi o... ali “é” de uma livraria, a (Livropel?). O Carlinhos, o Carlos. Eu não me lembro o nome completo dele... Mas o Carlos, ele tinha mantido naquele lugar, que eu peguei essa loja aí em 93... Ele ficou lá parece que uns dezoito anos com uma livraria também, naquele mesmo lugar. E hoje, ele “tá” em outro local continuando com o mesmo negócio de livraria. Chama (Livropel?) e é o Carlos. É uma pessoa interessante, __________________________.
P/1- O senhor acha que o comércio é importante pra cidade de Campinas?
R- Eu acho que é uma atividade, assim, necessária. É uma coisa natural, né? Você acaba... Isso aí faz parte, né? Eu acho que em qualquer comunidade, né? Então, eu acho que... É uma coisa, assim... É uma coisa tão natural. É uma necessidade da sociedade, até, ter as pessoas que se especializam naquilo. Por que a minha idéia incialmente: “-Não, eu não quero.” Eu não pensei em comércio, eu tinha pensado em produção. Mas... É impossível. Se você “tá” cuidando da produção, você não tem condições de “tá” podendo oferecer um produto na hora que a pessoa quer, no local que “seje” cômodo pra ela. Então o comércio é necessário também, além das outras atividades de produção. Enfim, das outras atividades da cadeia até chegar o comércio.
P/1- E como o senhor enxerga a Casa do Apicultor, o armazém, dentro da história ali de Campinas? Por que já faz alguns anos que o senhor “tá” aqui.
R- Você sabe que... Modéstia parte a gente considera a Casa do Apicultor importante no âmbito nacional, viu? Por que uma outra casa especializada com a Casa do Apicultor, talvez não tenha no Brasil. Em São Paulo que é uma grande cidade temos lá uma Associação de Apicultores, uma Associação que eu fiz o curso, que eu participo até hoje, que é a (APACAME?). E eles fazem uma parte de comercialização de produtos lá dentro da Associação, que é uma coisa em paralelo... E também dão cursos. Mas, fora da (APACAME?), em São Paulo tem outros comércios assim, em Belo Horizonte... No Rio de Janeiro não conheço... Em Juiz de Fora parece que tem uma empresa... Em Curitiba tem alguns lá... Mas, uma coisa assim, tão concentrada. Tudo isso, comércio de produtos e cursos... E, uma outra vantagem da Casa do Apicultor: que a nossa equipe hoje, nós somos lá em três pessoas. Eu e mais dois funcionários. Um deles é o Gerson, apicultor... já era apicultor. Eu o conheci com cliente da loja. Depois ele começou a trabalhar pra gente, não deu certo ele tocar o negócio no campo e ele começou a trabalhar com a gente. Hoje ele dá os nossos cursos de Apicultura. Além de atender na loja, de atender serviço, ele dá a parte teórica do curso de Apicultura. E um outro rapaz que trabalha pra gente, o (Hilton?). Esse aí começou jovem a trabalhar com a gente, mas fez cursos de especialização de Apicultura, já trabalho “na atividades” com abelhas, junto com a gente junto com a gente, justamente para aprender... E hoje qualquer pessoa que “vai na” Casa do Apicultor tomar informações sobre Apicultura, alguma dúvida, como fazer, como resolver um problema... Qualquer um dos três tem condições de dar uma orientação. E, nós fazemos isso aí com todo o prazer. Não temos, assim... A gente abre tudo... Não temos restrição. Por que às vezes a pessoa fala: “-Ah, não vou querer vender o curso.”. Não, eu quero dar informação. Quanto mais gente trabalhar nessa atividade, melhora pra todo mundo e vai melhorar pra nós, né?
P/1- Agora saindo um pouco desse campo e indo pra relação com a Cidade de Campinas. O senhor era de uma cidade de interior, depois o senhor foi lá pro ABC Paulista e do ABC Paulista, o senhor veio pra cá. O senhor sentiu alguma diferença nesse tramite dessas três cidades? Por que afinal de contas, são três momentos diferentes da vida do senhor. Como era a Cidade de Campinas naquela época e como o senhor vê a Cidade de Campinas hoje?
R- Bom... Eu tive assim, um choque muito grande quando eu cheguei em Campinas por que a gente se mudou pra cá no final de ano e eu lembro que a gente tava assim, meio deslocado. Final de ano e tal. Essa época de festas... Falei pra minha mulher: “-Ah, não tem problema. Nós vamos...”. Procuramos um restaurante. Num dia de passagem de Natal... De Ano Novo... Não sei o que... E você não acha restaurante aberto! Não sei... Lógico, devia ter alguns assim, restritos. Mas, a pessoa de fora andando pela cidade. Eu não via nada aberto. Uma dificuldade, uma coisa. (risos) Então, eu tive esse choque. E uma outra coisa também: um pessoal mais, assim... Conservador. A gente tava habituado no ABC que via gente de tudo quanto é lado, né? “Pessoas de tudo quanto é”.. Culturas... Níveis, assim... De pessoas de tudo quanto é... Aqui, não: o fulano é de fora, não conheço e tal. Essa pessoa não é conhecida. Era uma certa dificuldade de ser aceito, assim... em grupos. Parece que a sociedade mais fechada, né? Hoje não é mais assim. Hoje só “tá” aberta, por quê? Por que a sociedade cresceu, as indústrias “tão” aí. “Tão” vindo levas de imigrantes. Essa coisa aí... Eu tive essa percepção quando eu mudei pra cá.
P/1- O senhor falou agora dessa questão que Campinas “tá” crescendo... No nossos estudos aí do Projeto, a gente vê que é a segunda maior região metropolitana do estado. “Tá” “logo logo” batendo com São Paulo. O senhor tem relação com essas outras cidades da Metro-Campinas? Como o senhor percebe essas outras cidades no entorno de Campinas?
R- Como a gente tem uma atividade centrada em Campinas, de Apicultura, que abrange o Estado de São Paulo, fora de São Paulo, Minas também. Eu percebo assim... normal, assim... Pessoal de fora... Tem toda hora gente visitando a gente. Pessoas que vem buscar as coisas. Eu despacho pra outras cidades mercadorias. Então, é normal. Por que a minha atividade é especifica, né? Como eu falei, não é em qualquer lugar que tem uma loja especializada em Apicultura, né?
P/1- Como o senhor vê essa iniciativa do SESC Campinas em coletar histórias de vidas do comércio?
R- Eu acho que isso aí é uma coisa muito importante. Eu nem sabia que existia esse trabalho. Aliás, eu acho que... (risos) isso aí faz parte da história, né? Pra você conhecer. Cultura. Então, chega uma hora que você pode, digamos, ter acesso a uma publicação dessa daí. E: “-Poxa, olha como que foi. Olha isso daí. Olha como começou... Aquilo foi assim, foi assado...”. Então, pra gente entender o presente precisa conhecer o passado, né? E, olha: “ _______ temos que “tá” abertos pro futuro”, né? O conhecer o passado, eu acho, que é importante, é fundamental. Valorizar as raízes. Acho que esse trabalho é de suma importância.
P/1- Como o senhor vê o comércio do Estado de São Paulo hoje? Mesmo sendo de uma área específica muito _________ o senhor tem correlações, né?
R- Olha! Eu tenho um pouco de dificuldade... Eu sou do tempo antigo. Não sei, eu sou mais chegado nas coisas antigas. Então, no meu tempo de jovem, naquele tempo já existia um modernismo do Rock and Roll, não sei o que... Eu não era desse negócio, não. Até eu falava, assim: “- Eu não sou playboy. Não me chama de playboy. Eu não sou playboy, eu sou é malandro”. Malandro no bom sentido. Lógico, no bom sentido. Era aquele malandro que... Tal... Namoradinhas... Aquela coisa assim, nesse sentido. Então, eu sempre fui uma pessoa mais conservadora. Ainda hoje, eu sou um cara que não mexo com computador. Dependo de outras pessoas (risos). Lógico, a gente tem que trabalhar, né? Informática, tem lá as pessoas que colaboram com a gente, que ajudam. Pessoas _____: “-O fulano, me aí tal assunto.” Poxa, seria maravilhoso se eu pudesse pesquisar, né? Internet... Os assuntos aí... Tudo. Mas, eu tenho essa dificuldade. Então, hoje que eu vejo de ruim no comércio é que “tá” tudo assim, né? Você não tem mais aquele negocio de ter... Por exemplo, “as pessoa” que gosta de ir na Casa do Apicultor conversa comigo e mesmo as pessoas que trabalham com a gente são dessa formação... Essa coisa que a gente tem lá. Então, bate um papo... Fala... Coisas assim... Dão uma dica e tal. E fora disso aí você vai num lugar, hoje em dia, autoserviço: “- Oh, Você tem que pegar o “troço” lá”. Passar no caixa lá... E se perguntar alguma coisa, a pessoa vai falar: “- Não, mas olha, aqui a leitura deu tal coisa”. É isso aí, né? Não sabe nada... Então, a gente tem essa coisas assim, essa abertura pro um leque grande... Com isso aí, talvez a gente não se torne um grande empresário. Nunca, nós vamos ser um empresário médio pra pequeno, mas a gente tem – eu acho assim – uma possibilidade de ter uma vivência mais rica... Você participa de muitas coisas, de um processo inteiro. Como por exemplo, a gente conhece um assunto, no caso o mel, a Apicultura, desde o inicio, da produção até a comercialização. E, paralelo as esses produtos naturais que a gente vende também na Casa do Apicultor, na (Alma Zen?), que a gente comercializa... Muita coisa vem do nosso sítio. A gente faz em paralelo com a Apicultura, alguma coisa de plantas medicinais. Só que não temos aqui possibilidade de fazer plantio, mas das plantas nativas a gente faz coleta de folhas pra preparo de chás. A gente conhece bastante também, “dessa coisa de” ervas medicinais. Eu acho que também é importante pro conhecimento das pessoas, e até, pras outras pessoas, pro mundo, né? E pena que isso aí, “tá” se perdendo. Por que hoje em dia o pessoal não valoriza mais: “-Ah, aquilo lá...”. Hoje nem tem mais a área verde, a tendência é ter tudo asfalto e “assimentado” só. E a produção naqueles plantios intensivos que é uma coisa só, você não tem aquela diversidade. No nosso sítio a gente tem diversidade. O nosso pomar lá, é mesclado com plantas nativas, é misturado... Então, dá aquele equilíbrio necessário pra também, não ter menos pragas... Nós não usamos nenhum tipo de agrotóxico, nada. E, não temos galinheiro, de ter galinha presa lá. Nossas galinhas são soltas. Mais galinhas da Angola, que ajudam a limpar os pastos.
P/1- Nessa última fala o senhor falou que a relação que vocês mantém dentro da Casa do Apicultor, no (Alma Zen?), ela ainda é muito do comércio antigo, ela é muito pessoal... (o entrevistado concorda). E por outro lado, o senhor falou também que o sítio do senhor é produzido de uma maneira bem à antiga, vamos dizer assim... bem natural (o entrevistado concorda), sem agrotóxico. Então, vocês têm uma noção muito próxima de todo o processo da produção do mel, da criação das abelhas. Houve – por curiosidade minha agora – alguma transformação de processo, tecnológica, alguma coisa que vocês desenvolveram, descobriram pra fazer melhoria dentro desses processos, da criação do mel e “etc. e tal”?
R- Não, a gente percebe que preservando aquelas coisas naturais, você tem melhor qualidade. Por exemplo, a nossa abelha africanizada, é uma abelha que você não induz a purificação, a uma especialização da raça. Dizendo só uma coisa... Eu tava dizendo... Produção, por exemplo... A nossa abelha, ela produz. A gente tem abelha produtiva. Mas, a gente não “tá” indo assim, pra fazer enxertia mecânica de abelha, através de aparelho pra você procurar semens, aqueles zangões mais produtivos, raças... Aqueles que só produzem visando produção. Você deixa ela, assim, mais natural, né? Isso aí é uma abelha mais saudável. Nessa parte dá menos preocupação, a gente acha. Não sei se eu respondi. E uma preocupação que a gente tem também, é com esses plantios intensivos. Então, você tem, por exemplo dificuldade em achar um pasto de mata nativa, pastagem diversificada pra aquele mel silvestre, né? O máximo que você vai achar, é um lugar pra _______ eucaliptos, laranjeiras e tal. “Tá” acabando essas áreas, assim. E agora o pessoal começa a plantar muito... Cana. Cana, “ta” começando a tomar conta e tal. Então, “tá” tendo muito desmatamento pra plantio de cana. O que salva a gente, a nossa região que é montanhosa... Ela não é própria pra agricultura mecanizada. Então, lá se preserva ainda... Mais assim pastagem (apícula?), de plantas silvestres, pra mel silvestre.
P/1- Uma outra curiosidade minha também (risos) – é que o assunto chamou muita atenção – é... Vocês trabalham com quantas espécies de abelha?
R- Olha, a espécie que a gente trabalha pra produção é a abelha europa – abelha africanizada, hoje abelha (apismeliferas?), essa é a abelha europa. O grosso do mel que a gente comercializa é dessa abelha aí. A gente “tá” fazendo um trabalho de introdução de algumas espécies de abelha que estavam em extinção: abelha (mandaguari?), abelha (mandassaia?), agora, abelha (Uruçú?) que “tá” trazendo do Norte e ela “tá” se adaptando bem aqui. Esse aí é um esforço mais pra preservar as espécies por que nós não descobrimos ainda - se tem uma dificuldade em descobrir – lugares que essas abelhas produzam bem a ponto de sustentar uma produção comercial de mel. Hoje nós temos alguns amigos nossos aí, que tem alguns lugares propícios pra produção de mel de abelha (jataí?). Esses locais que já são conhecidos a muito tempo são locais que se dão bem a abelha (jataí). Regiões de mata nativa... Mas um clima, assim que é adequado pra ela. Então, esses lugares assim, não são muito conhecidos, por que a pessoa divulga muito, né? Por que se o cara falar; “-Lá é bom pra abelha (jataí?). Um monte de gente vai querer colocar mel em volta. O lugar não se torna ruim, né? (risos). Então, ra abelha (jataí?) tem alguns lugares que tem produção comercial, ainda que dá pra sustentar alguns criadores. Se bem que, essas pessoas, geralmente, tem essa atividade em paralelo com uma outra atividade principal... Geralmente, um agricultor, ou ás vezes até, um profissional de outra área urbana mesmo que ele faz aquilo no campo mesmo, ele tem mais aquelas caixas lá e ele tira uma produção. Por que o grande problema é o seguinte: as abelhas indígenas brasileiras, aqui no nosso continente, tão fadadas a extinção ou então não dá muita produção por que a abelha africanizada, a abelha européia é uma abelha condicionada pela origem dela, do clima frio, a ela fazer bastante reserva de alimento. Então, ela é uma abelha muito ativa, muito produtiva. E as nossas abelhas são acomodadas por que é verão o ano todo, e tal... Ela não precisa fazer muita reserva de alimento. Ela sai pra trabalhar mais tarde, pra coletar néctar mais tarde. Nessa altura, a abelha européia e a abelha africanizada, que é também muito ativa... Ela já passou lá e recolheu tudo. A outra tem uma dificuldade de produção nesses _____________. Então, eu não sei até que ponto vamos desenvolver e se essas abelhas vão se adaptar a competir com as abelhas européias, pra poder viabilizar uma produção numa escala comercial. Como eu falei... Apesar da gente “tá” hoje criando matrizes dessas abelhas, fornecendo pras outras pessoas tudo que existe, até esse objetivo, até em termos de governo, tudo de preservar. Mas, nós não sabemos se isso aí vai compensar a produção dessas abelhas (mandassai?) e (mandaguari?) que teoricamente são mais produtivas que a (jataí?), né? Mas, hoje na prática a abelha (jataí?) é que “tá” produzindo mais em escala comercial.
P/1- Quando o senhor fala abelha africanizada, o que o senhor quer dizer especificamente? Ela foi adaptada?
R- Não, é o seguinte: é que existem várias raças de abelhas. Então, na Europa, em outros países, o pessoal cria as abelhas e mais ou menos elas não se misturam, elas se preservam, né? Apesar de “tarem” na natureza, soltas, elas se mantém aquelas raças com pequenas variações, seriam como que subraças, subespécies. A espécie principal é a mesma, tudo (Apis Melíferas?). Tem uma pequena diferença das abelhas que se cria na Europa, tem abelha (carnica?), abelha italiana, abelha alemã... Umas espécies lá, se mantém diferentes. E essas abelhas foram trazidas pro Brasil. Quando se intruduziu uma outra espécie desta mesma raça vinda da África, não sei por que ela se misturou toda... Se misturaram todas. Aqui “ficou tudo africanizada”. Essa abelha tem um comportamento diferente. O nosso clima aqui favorece esse cruzamento com a abelha africanizada, que é uma abelha que se cruza bem no nosso clima. Na Argentina, na parte sul da Argentina, a abelha africanizada não chega... A Africana não chega. Lá as abelhas se mantêm, aquelas raças originais, né? E lá não misturou com a Africana.
P/1- Agora uma outra pergunta, muito de amador, mesmo: Tem diferença de sabor de um mel?
R- Não. É mais a florada, né? Esses méis são todos iguais. É mais a florada que vai dar diferença de sabor, e o cuidado que o apicultor tem na colheita. Ele tem que colher o mel no momento certo, deixar o mel chegar no ponto, amadurecer. E também, o manejo como se usa fumaça pra controlar as abelhas, não pode usar fumaça em excesso pra não contaminar o mel, tem que usar a fumaça de forma adequada, nunca direcionada pra dentro do favo. Tem gente aí, infelizmente... Os caras jogam fumaça e então, acaba alterando o sabor do mel. Então, são esses cuidados todos que a gente procura divulgar isso aí, nos cursos de Apicultura.
P/1- A última pergunta: O que o senhor achou de participar desse projeto? (O Projeto Memórias do SESC).
R- Eu achei muito interessante. Não conhecia esse trabalho do SESC. Achei que é uma coisa muito interessante. Olha... Muito bacana isso aí, viu? Gostaria de conhecer das outras áreas do comércio aí. Eu vou procurar ter acesso agora... Saber como que a gente obtém acesso... Deve ser pela internet, né? Pra gente saber isso, é... Vou ter que recorrer aos amigos pra me imprimirem as coisas, me mostrarem lá... Colocarem na tela, “pra mim ver lá”. Vai ser assim... Muito bacana. Parabéns ao SESC e parabéns a equipe aqui, pelo trabalho.
P/1- Igualmente. Obrigado!