História de:
Juninho
Autor:
Instituto Lina Galvani
Publicado em:
08/11/2018
Acrísio da Silva Rocha Júnior, conhecido como Juninho, é nascido e criado em Serra do Salitre (MG) e conta sobre os ensinamentos que herdou de seu pai.
Sou Acrísio da Silva Rocha Júnior, o Juninho. Sou nascido e criado em Serra do Salitre (MG) e vou te contar sobre os ensinamentos que herdei de meu pai. Um caminhão Ford, de 1930, original das calotas ao motor, dá as boas-vindas a quem entra no restaurante Botequinho, em Serra do Salitre, Minas Gerais. O espanto inicial fica completo quando os clientes descobrem que o buffet da autêntica comida mineira é montado sobre a carroceria do veículo. Era justamente esse efeito surpresa que eu imaginava quando idealizei a decoração da casa, inaugurada em 2012. Não foi fácil convencer o Acrísio-pai, entusiasta dos carros antigos, a ceder o possante. Mas o orgulho de ver os filhos preservando suas memórias falou mais alto.
Herdei de meu pai essa veia saudosista. Cresci ouvindo os poemas de cordel que o patriarca escreve até hoje e relatos sobre os antepassados, contados em longos dedos de prosa. Bons trechos dessa história estão eternizados no Botequinho. O Ford 38 é apenas a entrada de um passeio pela memória familiar. Decoram o espaço a sanfoninha do avô, a máquina de costura da tetravó, uma chapeleira centenária de madeira maciça, a moto Vespa de 1961 (o primeiro transporte motorizado que meu pai comprou na vida) e mais um sem-fim de objetos garimpados entre parentes e amigos.
Outras lembranças invisíveis, apenas eu consigo enxergar. Da amoreira, laranjeira e abacateiro que eram palco de brincadeiras nesse mesmo terreno que hoje sustenta o galpão. Fui criado ao lado e aqui era meu mundo, a terra de minhas fantasias de criança. Fico feliz de ter essas raízes e hoje ganhar a vida no mesmo local.
Filho de Serra do Salitre, acompanhei as transformações que a cidade viveu nas últimas décadas. O Cerrado sendo preenchido pelas plantações de café, o crescimento da produção de queijo, o agronegócio e a mineração. Assim como meu pai, um visionário que chegou nessas terras nos anos 70, antecipando o boom da cafeicultura, eu me preparo para um futuro promissor para a cidade. É com esse pensamento em mente que, sempre que viajo pelo Brasil e o mundo, coleto referências para elaborar planos futuros e aprimorar meu negócio, como aconteceu com o Botequinho, inspirado nos bares-museu que conheci no México.
Em 2015, descobri que essa mesma esperança no desenvolvimento de Serra do Salitre era compartilhada por muitos moradores e lideranças da cidade. Ele foi convidado a participar das reuniões que deram origem à Agenda de Futuro do município, um documento elaborado pelo Instituto Lina Galvani, com base nos sonhos e opiniões da população. Junto a quase uma centena de pessoas, ajudei no processo de identificar os principais desejos da comunidade e imaginar formas de promover o desenvolvimento local de uma maneira sustentável.
Durante as rodas de conversa e atividades desenvolvidas, sugeri um caminho que acredito ser essencial para o município: o investimento em turismo. Temos a produção de queijos, um clima favorável e a tradicional gastronomia mineira. É um potencial incrível para ser trabalhado. Por tudo o que vi em minhas andanças pelo mundo, sei que, à reboque do turismo, vem crescimento, geração de empregos, lazer, capacitações e novas possibilidades de geração de renda. Fora que, como ninguém viaja triste, os visitantes trazem uma energia muito boa para as cidades e elevam a autoestima dos moradores.
As ideias brotam quando começo a falar do tema. Imagino a formação de grupos de doceiras para vender seus quitutes numa feira, uma rota sobre a cultura cafeeira, passeios pela linha de produção dos famosos queijos locais e o seu maior sonho: a criação de um festival gastronômico. De certa forma, contribui para preparar o município para explorar todas essas possibilidades, como membro participativo das reuniões da Agenda de Futuro e também como jurado do edital, que selecionou cinco projetos sociais que receberam o apoio do Instituto Lina Galvani.
Sei que será um longo caminho até ver meus sonhos para o turismo em Serra do Salitre realizados. É preciso a mobilização de todos, melhorar os serviços e criar uma estrutura para receber bem os visitantes. A força para não desistir da empreitada vem do principal ensinamento que ouvi de meu pai: "trabalhem que vocês conseguem". Desde menino, aprendi com ele o valor do esforço. Nas férias, enquanto os amigos brincavam, eu o meu irmão ajudávamos na fazenda. Quando tínhamos na faixa dos 20 anos, recebemos do nosso pai apenas 30% do valor necessário para montar uma autopeças e um Passat 79 para não ficarmos a pé. "O resto vocês correm atrás, ele nos disse". E nós seguimos a preciosa lição. O resultado está no sucesso do Botequinho, onde o Ford 1930 do Seu Acrísio dá as boas-vindas aos visitantes.
Parisio Silva
por Museu da Pessoa
Paulo Cipassé Xavante
por Museu da Pessoa
Belísia Barreto Mourey (Dona Bela)
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