Caio Eduardo Alves Perussi, 09 de junho de 1997, São José do Rio Preto. Mãe Eli Regina Alves Perussi e pai Flávio Eduardo Perussi. Apaixonado pelo universo dos negócios, começou a trabalhar com comércio e atendimento em lojas de tecido desde os quinze anos. Com o tempo foi prospectando clientes e fazendo contatos de fornecedores de malharia. Persistiu no sonho de ser empresário, e criou empresas na área de malharia. Hoje, é proprietário e gestor do “Rio Preto Confecções – Solução em uniformes”, especializada em uniformes, e na Coat Store– Jalecos Premium”, loja varejista em moda branca. A empresa de jalecos premium surgiu do investimento da antigo “BauebS”, grupo com 34 anos à venda, que se transformou em “Coat Store”. Venda de produtos personalizados e premium. Plano de transformar “Coat Store” em franquia. Caio sonha no sucesso profissional lançar um “holding” internacional e dar oportunidade de crescimento para jovens, à âmbito pessoal pensa em se casar e construir uma família.
Inovação nos Negócios
História de Caio Eduardo Alves Perussi
Autor: Ana Eliza Barreiro
Publicado em 10/07/2021 por Ana Eliza Barreiro
Projeto Memórias do Comércio de 2020-2021
Entrevista de Caio Eduardo Perussi - Coat Store
Entrevistado por Luís Paulo Domingues e Cláudia Leonor Oliveira
São José do Rio Preto, 12 de maio de 2021
Entrevista MC_HV075
Transcrito por Selma Paiva
Conferido por Ana Eliza Barreiro
(00:39) P1 - Caio, então, para começar, eu gostaria que você dissesse seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R1 – Meu nome é Caio Eduardo Alves Perussi, sou de 1997, nove de junho. Nascido e criado aqui em São José do Rio Preto, mesmo. Sou conterrâneo aqui da cidade.
(01:00) P1 – Legal. E qual que é o nome da sua mãe e do seu pai?
R1 – Da minha mãe é Eli Regina Alves Perussi e do meu pai é Flávio Eduardo Perussi. Não tem o Alves.
(01:13) P1 – Ah, legal. E os seus avós? Você tem contato com eles? Os conheceu? Estão vivos?
R1 – Por parte de pai eu não conheci meus avós, meu avô, perdão, só conheci a minha avó e minha avó faleceu já tem uns seis, sete anos. E, por parte de mãe, cheguei a morar com os meus avós aqui na minha cidade, três anos, só que aí, depois, eles foram para a cidade deles, voltaram para a cidade deles e a minha avó faleceu tem onze meses, por parte de mãe. Eu só tenho hoje só o meu avô vivo, por parte de mãe também, por parte de pai já faleceu.
(01:57) P1 – Sim. E, Caio, você sabe a origem deles, assim? Eles vieram de onde, assim? Tem alguma ascendência que veio lá da Itália com esse nome Perussi, né?
R1 – O meu avô por parte de pai é italiano. Meu avô é italiano, que é a origem do sobrenome Perussi, né?
(02:23) P1 – Legal.
R1 – Agora, por parte de mãe, era tudo Minas.
(02:31) P1 – Ah, tudo de Minas? Sei. Você teve, na sua infância, na sua adolescência... tudo Minas Gerais? Você teve influência dessa cultura ou mineira ou italiana na família, com relação a comida, música, alguma coisa assim? Festas italianas ou mineiras.
R1 – Tinha. Mineiro. É que é assim: (risos) a minha avó por parte de mãe cozinhava muito bem. Inclusive ela cozinhava pra fora, ela cozinhava não só pra gente. Ela trabalhava numa escola, uma cidade pequena e ela era convidada a ser cozinheira de outras... que nem festas na cidade. Tinha festa de peão na cidade, então fazia galinhada para companhias, né? Então, eu sou bem influenciado por mineiro. Um queijo, assim, não dispenso, um queijinho frito, aquela comida mineira bem básica mesmo: galinhada, assim. Mas italiana nem tanto, italiana nem tanto. Apesar que eu gostava de macarrão, que lá em casa é tradição, todo domingo tem que ter um macarrão no almoço de domingo. Pode ser o que for: churrasco, alguma coisa, mas só que tem a tradição do macarrão no almoço de domingo.
(03:43) P1 – Tem que ter um macarrão?
R1 – Tem que ter.
(03:45) P1 – Tá certo. E, Caio, você sabe como é que seu pai e sua mãe se conheceram? Eles já moravam em Rio Preto ou moravam nas cidades aí, próximas?
R1 – Não. Meu pai sempre morou no sítio, assim, sempre morou no sítio. Até os dezoito, dezenove anos, no sítio. E o meu avô decidiu vender a terra que ele tinha lá e eles vieram para São José do Rio Preto. E a minha mãe, meus avós, como eu te falei, eles sempre, sempre em Minhas Gerais, em Carneirinho. Então, a minha mãe veio para cá para estudar. Veio para cá para fazer faculdade. Aí é onde eles se conheceram.
(04:29) P1 – Certo. E eles faziam o quê?
R1 – A minha mãe não terminou, chegou quase a se formar em Psicologia e o meu pai só veio embora e começou a trabalhar. Meu pai não tem graduação, não tem ensino superior.
(04:47) P1 – E ele trabalha em quê?
R1 – Hoje meu pai é auxiliar de abastecimento de gás a granel, na Copagaz. E minha mãe é minha encarregada de produção, aqui na minha empresa. Minha funcionária.
(05:02) P1 – Trabalha com você. Muito bom. E quando você nasceu, Caio, você lembra onde que você morava aí em Rio Preto? Qual bairro que era? Como que era o bairro?
R1 – Eu morava na... quando meus pais, logo que eles casaram, foram morar no Boa Vista, né? Ali na Avenida Brasil, casa de fundo, tal. Aí, depois de uns dois anos a minha mãe engravidou de mim. Só que, quando eu nasci, meu pai já comprou uma casa e a gente foi morar no Residencial Rio Preto I. Então, eu morei, assim, alguns meses ali, quando eu nasci, na Avenida Brasil e depois a gente já mudou para o Residencial Rio Preto I, que é onde eu moro até hoje. Que é onde meu pai comprou a casa e a gente mora até hoje lá.
(05:50) P1 – Legal, Caio. E o que você lembra da sua infância? Como que foi sua infância nesse bairro aí que vocês foram morar? O que você fazia na rua, assim? Porque antigamente não tinha internet. Até que em 1997, você nasceu em 1997, já existia internet, mas o pessoal não ficava o dia inteiro...
R1 – Mas não era igual hoje, né? Cara, na minha infância, assim, meu pai sempre trabalhou fora, minha mãe sempre trabalhou fora, então na minha infância era o seguinte: eu estudava de manhã, eu tinha que dar conta do recado de manhã, porque eu estudava até meio dia e vinte, não podia repetir, não sou repetente em escola, não tenho má nota, a gente era cobrado isso. Era tipo assim: eu não tinha obrigação nenhuma, a não ser estudar. Então, a minha obrigação era estudo. E, assim, não tinha também, eu não saía muito pra rua. Eu não era que... eu só saía pra rua, eu só podia brincar na rua de sexta-feira, sábado e domingo. E com horário também. Meu pai e minha mãe sempre foram muito rígidos, eu sou filho único, mas assim, ele não... naquela época eu morava meio que perto do João Paulo ali, então, assim... então a minha mãe meio que não deixava eu meio que misturar muito as coisas e o meu foco era o estudo. Então, durante a semana era chegar em casa e, como o meu pai e a minha mãe trabalhavam, ele sempre me ensinou a trabalhar desde cedo, né? Então, eu limpava a casa para minha mãe, para ela me pagar tipo um dinheiro, pra eu comprar alguma coisa, sabe? Ela me dava um valor tipo, fazer uma limpezinha de casa: varrer, passar pano, lavar a louça, a louça que eu usava do meu almoço, só de não deixar suja, eles me davam cinquenta reais na semana, trinta, quarenta reais. Me incentivavam com isso, né?
(07:32) P1 – Muito legal. Caio, e como é que foi na escola? Você estudou aonde? E o que que você gostava, na escola?
R1 – Olha, assim, gostar de estudar, ter aquele amor por estudar, assim, pegar pra estudar, eu não tenho. Vou ser bem sincero pra você. Mas só que eu tinha que fazer o meu papel, né? Então, eu estudei sempre em escola pública, estudei no Otacílio Alves de Almeida, que é uma escola ali no bairro mesmo de casa, então estudei ali da segunda série, porque depois eu vim do... de creche, do jardim, de uma creche que eu estudava, perto do serviço da minha mãe e depois, na segunda série, entrei nessa escola e saí de lá no primeiro colegial, que era uma escola que abrangia essa... ia do ensino primário ali, fundamental, ao ensino médio. Hoje já mudou tudo, né? Então, eu saio no primeiro colegial, quando eu arrumei um serviço, que eu tinha de trabalhar período integral e ali não tinha noturno, né? Então, aí eu fui para o noturno do Andaló. Na escola, cara, eu nunca fui assim, igual eu falei, eu não sou de estudar, eu ia lá e fazia... que nem, eu sou daqueles assim: tem que fazer, eu já vou e faço logo e fico livre, você entendeu? Então, na escola eu já era desse jeito: tinha que fazer as coisas da escola, eu já fazia que, no final da aula, eu gostava de ficar de boa, batendo o meu papo, entendeu? Eu metia o pau ali nos cinquenta minutos na aula, depois ficava de boa, assim, sem dor de cabeça. E nas tarefas, nas coisas, também era assim: já chegava dentro de casa meio-dia e vinte, almoçava, assistia um Globo Esporte ali de quarenta minutinhos, já pegava e fazia a tarefa, depois já fazia minhas coisas, quatro horas da tarde já estava livre. Aí ia jogar um videogame, dormir um pouco, fazer alguma coisa. Mas eu sempre fui desses: já que tem que fazer, vamos fazer logo, ficar livre. E, graças a Deus, sempre tirei nota boa, nunca repeti. Apesar de ser escola pública, muitos pais hoje falam: “Ah, a escola pública não é boa”, mas eu sou daqueles assim: “Não é a escola que faz o aluno e sim o aluno que faz a escola”. Então, hoje eu tenho vinte e três anos, sempre estudei em escola pública e tenho duas empresas, então... meus amigos, eu tenho amigos que estudaram comigo, que foram para o caminho da droga, que desviou o caminho. Então, não pode falar, assim, ele teve praticamente as mesmas oportunidades que eu tive. Ele não pode falar: “Ah, a escola pública que me fez desse jeito”. Então, dentro da escola, por ser uma escola num bairro mais periférico, não era bairro de luxo, então era uma escola que tinha todos aqueles problemas de droga, briga, droga na porta da escola, igual todas as outras têm, entendeu? Mas só que vai da educação e vai da cabeça da pessoa. Hoje eu tenho as duas empresas, com vinte e três anos, fiz faculdade de Administração de Empresas, só que não concluí e trabalho desde os meus quinze anos. Então, tipo assim... e hoje, que nem, essa semana, segunda-feira, eu estava vendo e você tem um pessoal no Facebook, você não tem mais o contato, que é a rotina da vida de cada um. Só que eu tenho colegas meus que estão formando no Ibilce, em Letras, virando professor. Ainda até comentei que eu tenho um professor que é ali do bairro e ele comentou, falou de uma aluna lá, da Érica e ela formou no Ibilce, em Letras, dá aula de inglês, sabe? E tal, tipo assim e aí eu até comentei: “Do Otacílio para o mundo”, que a gente estudava na escola Otacílio Alves de Almeida. Então, eu acredito assim: do mesmo jeito que sai pessoas boas, também sai pessoas ruins. Aí já é desvio de caráter. Então, eu já acredito, sou mais dessa política. Hoje eu vejo, tenho minha cunhadinha que tem dez anos, que estuda em escola particular e às vezes não tem o mesmo interesse que eu tinha de fazer as coisas, se não ficar no pé: “Ah, tem que fazer, tem que fazer, tem que fazer” e tudo o mais. Na minha época a questão de internet, cara, a gente não... eu usava internet pra fazer trabalho, essas coisas, eu sempre tive. É como eu te falei: eu trabalhava meio que para o meu pai e minha mãe, assim, então eles me davam. Eu tinha videogame, tinha computador, tinha celular. Eu era uma pessoa assim: sempre tive de tudo, nunca passei dificuldade. Igual antigamente o pessoal passava dificuldade de não ter nem o que vestir, eu sempre andei muito bem-vestido, andava de tênis da Nike para ir pra escola, nunca fui de chinelo pra escola. Sempre tive de tudo, só que assim: sabendo o valor da vida, né? Sabendo... eu nunca fui assim, meu pai e minha mãe nunca me ensinaram, eles nunca me deram o peixe, mas eles sempre me deram a isca, a vara e a linha pra pescar. Então, hoje eu tenho vinte e três anos, tenho as minhas duas empresas, como eu te falei, minha mãe é minha encarregada, tenho seis funcionários, giro uma engrenagem com trinta colaboradores, então, terceiros. E é assim, cara. E hoje a gente vê que a internet ali, eu tô me expondo na internet, porque a internet é uma puta de uma ferramenta para você crescer profissionalmente e a molecada tem muita que usa para o bem, já tem gente com quatorze, quinze anos ganhando muito dinheiro com a internet, só que tem muita molecada também que usa para o mal e está perdendo tempo. Então, assim, na minha época não tinha isso. Nossa! E eu fui trabalhar com quinze anos, sempre trabalhei a vida inteira em serviço braçal. Então, se eu tivesse conhecido a internet, aprendido o que a internet pode entregar hoje, eu não tinha passado o que eu passei. Hoje eu sei muita coisa administrativamente que eu paguei pra aprender, com erros, de perder, às vezes, dez mil, vinte mil, fazendo negócios errados, tipo assim: negociação errada, má administração, porque eu aprendi na raça, assim. Entendeu? E hoje você entra na internet, você digita no Google, no Youtube, te dá tudo, né? Então, a minha infância foi basicamente assim: escola, estudar. Não tenho... tranquei no meio do terceiro ano da faculdade, porque assim: eu tenho um rapaz que é colega meu, é: “Saber na teoria é uma coisa, mas manjar dos paranauê é outra”. Tipo assim: na prática é outra coisa. Então, não tem nada igual na prática, que você envolve a emoção, que você envolve o dia a dia, estresse. Então, por isso que eu tranquei a faculdade e, assim, eu sou a favor do curso de Administração de Empresas ser implementado nas escolas, não ser faculdade. A solução do nosso Brasil vai ser quando eles implementarem isso e ter uns cinco anos que ensinar a população a cuidar do dinheiro, você entendeu? Então, investir. Então, eu acho que assim: Matemática, Português, tinha que incluir nessas matérias Administração de Empresas. Eu falo empresas, mas é administração em geral, pode ser o seu dinheiro ou o dinheiro de uma empresa. Então, eu sou dessa seguinte opinião: eu acho que esse Brasil só tem a solução disso, não são governantes, não é... é a partir do momento que vem educação na base da maioria e a maioria é a população. E a população não é educada.
(14:20) P2 – Caio, assim, na sua... nessa fase, assim, que você está na escola, no colégio, quais eram as brincadeiras que você gostava de fazer, assim, na rua, com seus amigos? Quem era a sua turma de amigos?
R1 – Mais era bola, bola. Eu jogava bola (risos). Meia virava bola, garrafa pet virava bola, bolinha de papel, caderno que acabava a matéria, que às vezes não ia usar mais, amassava tudo e fazia uma bola. E, claro, tinha outras brincadeiras que... era fase, né? Época de pipa. Pipa mesmo eu nunca fui fã, eu nunca fui fã, eu sempre gostei mesmo de bola. E aí a molecada, como eu morava num bairro que era, na minha época, quando eu era menor, era tipo praticamente o último bairro da cidade, o Residencial Rio Preto I. Hoje já tem outros bairros pra cima ali, né? E eu morava na penúltima rua, então tinha um pasto, naquele pasto nós colocávamos chinelo, fazia campo, ficava... ixi, final de semana esquecia nos lá naquele coiso, ficava só jogando bola. Mas andava de bicicleta, betcha eu joguei muito também. Na escola mesmo a gente brincava muito, que nem, era bola ou bola queimada, na escola, que tinha. Então, hoje tem muitas brincadeiras, hoje a criançada pega, nem, acho que bola queimada eles nem jogam mais. Então, tem outras opções, mas na minha época era isso. A gente tinha aquela turminha de colegas, né? Ou era bola de jogar futebol, ou bola queimada. E na rua era bicicleta, betcha e futebol.
(15:51) P2 – Fazia arte a sua turma?
R1 – Nossa, fazia muita arte. Fazia muita arte. Nunca dei problema pra minha mãe, assim, de ser chamada na escola, essas coisas, mais por vizinho falar: “Oh, tá fazendo bagunça aqui, tá não sei o quê”. Fazendo muita arte, muita arte. Sempre fui arteiro, sempre gostei. Susto, escondia atrás das árvores pra dar susto no povo na rua. Ixi! Tinha uma vizinha do lado, que o filho dela faleceu num acidente, na nossa idade, faleceu assim com dezesseis anos e aí a gente falava assim: “Não...” Ele era mais velho que eu, tipo assim: eu tinha oito anos, nove anos, ele já tinha dezesseis, dezessete. Ele faleceu num acidente e a gente... ela pegou um amor pela gente, assim, a gente a atazanava tanto, assim, que ela falava: “O que o meu filho não ia me dar de dor de cabeça, vocês estão me dando”. Então, tipo assim... e ela perdeu o marido também, depois. Então, foi, acabou sendo assim, sabe? E todo mundo gostava dela. A casa dela era tipo assim, de muro baixinho, sabe? Aquelas casas antigas, que tinha aquele muro baixinho, portão baixinho. Às vezes ela nem estava lá na casa, a gente estava sentado na frente da casa dela, conversando, a molecada ali. Se ela estava lá, ela participava da conversa, nós zoávamos, brincávamos. Então, fazia bastante arte.
(17:09) P2 – Como que ela chama? Chamava?
R1 – Ela chama Célia.
(17:14) P2 – Célia?
R1 – Célia. Ela chama Célia. Eu não sei o sobrenome dela. Mas ela chama Célia. Ela é aposentada pela prefeitura. Ela era assessora de um vereador aqui na prefeitura e faz muitos anos que ela está aposentada. Então, a gente até hoje tem uma relação muito boa com ela. Só que acaba vendo menos, hoje o dia a dia, a correria que eu saio. Hoje mesmo, normalmente eu saio lá de casa às cinco e meia da manhã, eu já tô saindo. A gente chega nove horas da noite, dez horas da noite. Então, é... mas ela sofreu, assim, sofreu entre aspas, porque nós a atormentávamos, de noite ligava - na minha época tinha passar trote - do orelhão para passar trote na casa dela, então... chegou num ponto que ela sabia tanto que era nós, que ela nem ligava mais, ela só ligava pra mãe, direto pra mãe: “Oh, seu filho está fazendo isso, isso e isso aqui. Chama ele, que já está tarde, que não sei quê”. E ela é muito amiga da minha mãe, de toda a galera ali da rua, que ela é uma pessoa ali que, quando fundou o bairro, surgiu o bairro, ela já comprou a casa ali e ali ficou. Então, ela conhece todo mundo.
(18:23) P1 – Sim. Caio, como é que era, assim, no final de semana, seus pais te levavam onde para passear, em Rio Preto, assim? O que tinha pra fazer naquela época?
R1 – Cara, no final de semana, eu sempre fui um cara muito família, né? Sou até hoje, namoro faz sete anos, só que eu não sou de ir em barzinhos, show, nem nada. Então, eu sou muito família. Lá em casa a gente tem, assim, até quando a pessoa não chega, não janta, entendeu? Tipo se eu e meu pai, nós vamos jantar em três lá em casa, era assim: meu pai trabalhava, meu pai chegava às vezes sete horas, nós o esperávamos pra jantar. Então, lá em casa, assim, a refeição é sagrada. Que nem, já não almoça junto, né? Mas a janta, o almoço de domingo, é sagrado. Igual eu te falei do macarrão, é todo mundo junto. Então, a gente prezava muito por esses momentos. A gente não era muito de sair, até porque mesmo... assim, meu pai não tinha carro quando eu era mais novo, sabe? Foi ter carro eu já tinha uns quinze anos, mais ou menos. Então, ou a gente ia muito, que nem, na casa da minha avó, que é essa que faleceu tem uns sete anos. Meu pai tinha essa coisa, ia almoçar com ela, ou na casa de algum irmão que coisava, né, que chamava, assim. Mas era sempre muito família, cara. A gente não era muito de tipo assim: ia no shopping, de vez em quando, que nem, eu saía muito com a minha mãe que, às vezes, para eu ir no Centro, ficava ansioso na escola, ela falava: “Ah, a mãe hoje está de folga, nós vamos no Centro comprar tal coisa hoje”. Ia pra escola já ansioso que ia para o Centro depois da aula, com a minha mãe. Só que meu pai, a rotina do meu pai é muito desgastante, né? Que nem, meu pai ele fica em casa três noites na semana. Tem semana que ele viaja. Igual, essa semana ele está em casa a semana inteira. Só que aí ele pousa uma noite fora e uma noite em casa, uma noite fora e uma noite em casa. Então, a gente preza muito por esse momento família, né? Então, hoje, cara, hoje, assim, eu acabo vivendo menos com eles, mas só que ainda a gente continua, que nem igual ontem, a gente jantou, a gente janta os três juntos. Quando a minha namorada está lá, a minha namorada também. E, assim, graças a Deus eu arrumei uma namorada também que é mais ou menos essa pegada minha, sabe? Preza muito família. Então, desde pequeno eu fui acostumando a prezar pela família. Então, a gente não tinha: “Ah, vamos sair”. Saía, que nem, ia para a casa do meu vô lá em Carneirinho, em Minas, então, tipo assim, ia na sexta-feira, pra voltar no domingo à noite. Então, meu pai pegava na sexta-feira à tarde aqui, para voltar no domingo à noite. Mas não tinha aquele negócio: “Ah, vamos...”. Até mesmo questão de condições financeiras, que a gente também não era aquelas, assim... tinha pra viver bem, mas não era de luxo, sabe? Aquelas coisas. Então, a gente era assim, era o simples, mas a gente comia bem, eu tinha tudo, não faltava nada, só que também não vivia grandes emoções, (risos) não tinha assim... era umas férias que viajava, alguma coisa. Meu final de semana, mesmo, é assim até hoje, viu? É bem família. Chega final de semana, eu, devido a correria, é família, cara, é descansar. Se eu tiver que beber alguma coisa, eu bebo com a minha família, em casa. Esse final de semana mesmo, para você ter noção, meus amigos foram para a minha casa, junto com meu pai, com minha mãe e minha namorada, mais as namoradas deles, a gente fez uma jantinha, um churrasquinho lá em casa, tem dois amigos de infância que a gente tem, então fica em casa. A gente é bem caseirão, mesmo, assim, bem família.
(21:59) P1 – Legal. Caio, e quando a sua mãe te levava lá no Centro, pra alguma loja, o que você lembra? Porque a gente está falando da sua vida e também de Rio Preto, né? O que você lembra do Centro, que era legal? Aquela rua onde fica a Kiberama, né? Eu esqueci o nome dela agora, que eu não sou daqui...
R1 – Bernardino, né?
(22:20) P1 – Bernardino de Campos, é bem legal, porque ela chega naquela praça, com aqueles prédios antigos...
R1 – Aquela praça eu tenho umas trinta fotos lá, daquilo. Ainda na época não existia celular, essa tecnologia que tem celular, mas naqueles “albinhos” lá, eu tenho foto que vai crescendo assim, dá pra ir fazendo tipo aqueles challenge [vídeo curto de antes e depois na rede social Tik Tok] (22:24), tipo cinco, seis anos, dez, vinte (risos). Depois de grande que foi parar com isso. Mas, nossa, eu adorava muito, não sei se você lembra, na Bernardino, aqui bem no começo dela, onde começava o calçadão ali, na parte de pedra, tinha um Mc Donald’s, não tinha? À direita, você descendo, aí tinha a Universo ali.
(22:55) P1 – Sim. É que, assim, eu não sou daí. Eu conheço Rio Preto, porque eu fui fazer a pesquisa aí. Então, a Rua Bernardino eu conheço, sim.
R1 – Isso. Mas, na minha época, que nem, essa Universo já fechou também, já é outro, já passou três tipos de negócio lá, hoje já, assim. Só que na minha época eu ficava ansioso, por quê? Eu ia nessa Universo e a gente, tipo assim, descia do ônibus lá no terminal, subia a pé inteirinha, para almoçar nessa Universo, comer croissant, que era muito bom o croissant deles, ali. Comia dois, três croissants, tomava um suco e depois eu gostava muito de ir numa loja de games que tinha pra baixo das lojas lívia (23:23), comprar um jogo. Eu vinha no interesse no Centro, né? Eu vinha no interesse que a minha mãe depois: “Ah, depois você vai comprar um jogo pra o computador dele”. Então, eu comprava um futebol mais atualizado, na época era o “bomba patch” ainda, né? (risos). Então, eu gostava muito e, assim, era fora da rotina, né? Porque minha rotina era chegar em casa, vir da escola, almoçar, estudar, limpar a casa. Então, era um negócio que, naquele meio período ali, eu saía da rotina e era divertido. Assim, aquele negócio de... eu sempre andei com a minha mãe de mão dada, minha mãe sempre de mão dada: “Não vai pra longe, não sai de perto”. Então, era um negócio muito gostoso e passava a tarde. Você chegava ali uma hora da tarde, quando você ia ver, já era cinco horas. Você montava no ônibus e ia embora de novo. Então, o que me marcava mesmo, no Centro ali era, com certeza, esse almoço na Universo ali, que até hoje eu falo pra minha mãe: “Nossa, falta aquele croissant”. Nunca mais achamos lugar nenhum que faz.
(24:36) P1 – Sim. Legal. Caio, você disse que começou a trabalhar com quinze anos, né?
R1 – Isso.
(24:44) P1 – O que você foi fazer? Como é que você escolheu? Ou te escolheram? Como que foi? Começou com o quê?
R1 – É igual eu te falei: eu trabalho desde os dez, pra minha mãe e aquele dinheirinho que eu ganhava da minha mãe, às vezes eu conseguia ajuntar e fazer algumas coisas com ele. Eu comprava, ia no interesse de comprar um jogo, só, que nem, minha mãe me dava um jogo, só que eu comprava um controle, eu comprava um acessório para o videogame, comprava um negócio pra mim, sabe, que eu queria. Então, mesmo que era pouquinho, cinquenta reais, na minha época, fazia também até umas coisinhas boas, entendeu? Eu conseguia comprar umas coisinhas, ainda mais pra criança ainda. E aí eu fui pegando gosto, sabe? Aí eu comecei a juntar, aí dava, num mês lá, trezentos, duzentos reais. E aí a minha mãe trabalhava numa empresa de uniformes, inclusive o ramo que a gente atua hoje, né? Ela trabalhava numa empresa de uniformes já fazia uns seis anos e aí ela, tipo assim, às vezes apertava de serviço lá na firma e ela não tinha funcionário, às vezes, para ajudá-la. E ela falava para a patroa: “Posso chamar meu filho de quinze anos? Ele está aqui em casa”, que ela trabalhava a três ruas de casa, no mesmo bairro, três ruas pra frente de casa, entendeu? Eu descia a rua, andava três quarteirões, assim, era a firma onde minha mãe trabalhava. E a patroa falava: “Pode chamar” ______ (26:05). “Não, não. Tá em casa sem fazer nada, quatro horas da tarde, vai trabalhar”. Entendeu? E não ganhava nada, era mesmo pra ajudar minha mãe. Só que era embalar camiseta, que nem, colocar camiseta no saquinho e pregar um durex, entendeu? Servicinho tranquilo. Tirar do saco e coisar. E aí, lá, a patroa dela falou assim: “O bordado, onde a gente terceiriza o bordado” - inclusive eu sou cliente lá hoje – “o rapaz está procurando um menino dessa faixa de idade, de quinze a dezessete, dezoito anos, ali, para trabalhar das duas às seis. Meio período”. Aí, na hora eu falei assim: “Eu tenho interesse”. Minha mãe falou: “Mas como que você vai? Não é acostumado a andar de ônibus.” Eu não era acostumado a andar muito de ônibus sozinho, né? “Ah, eu me viro, vou perguntando, não sei o quê”. Aí eu fui, fiz uma entrevista lá, conversei com o rapaz, comecei na segunda-feira, trabalhei, trabalhei três meses lá. E ganhava quatrocentos reais por mês. No primeiro mês que eu ganhei quatrocentos reais, eu comprei um tênis da “Oakley”, aqueles tipo de skate, que estava na moda. Falei: “Nossa, muito bom. Muito...” Aquele negócio assim: chegou no fim de um sábado, que eu não trabalhava, naquele negócio de novo, não trabalhava, minha mãe também não, montou cedo num ônibus, oito horas, foi para o Centro, fui lá e comprei um tênis. Com o meu dinheiro, né? Aquele negócio, então. Aí no fim do mês eu fui e dei uma repaginada no guarda-roupa, fui no Centro ali e comprei umas camisetas na C&A, de vinte e nove e noventa, aquelas camisetinhas básicas. Comprei. E estava naquela época também começando paquerinha de escola, então eu não queria sair mais, assim, vestido pelo pai e pela mãe, então... aí eu trabalhei três meses. Aí, desses três meses, a patroa dela falou: “Oh, tem uma malharia” - onde eu compro hoje também, tudo nesse ramo têxtil – “que é fornecedor de malha pra gente, está precisando de um menino. Só que é das oito às seis, com duas horas de almoço, de segunda-feira à sábado”. A minha mãe me contou. Eu falei: “Não, pode falar de mim, que eu vou lá fazer”. Só que ia trabalhar período integral e ganharia mais, né? Ganharia... aí onde foi que eu entrei para o comércio mesmo, né? Quando eu entrei, porque lá atendia público, era uma loja. E eu falei assim: “Nossa, eu tenho interesse”. E fiquei três meses dentro, não tinha nem quinze anos, fui pra lá, estava prestes a completar quinze anos, que eu faço aniversário em junho e eu comecei lá em maio, se eu não me engano, que eu esperei um tempo ainda para eles me registrarem, sabe? Tipo assim: porque só a partir dos dezesseis que pode fazer até coisa assim, em carteira. Aí eu fui lá, fiz a entrevista, o patrão falou assim: “Oh, eu preciso para começar segunda-feira, você tem interesse?” Falei: “Tenho”. Mas nem conversei com o meu pai, com a minha mãe. Ele fez a proposta, eu ganhava mil, trezentos e pouco, era o piso do comércio, tinha os descontos, mais o transporte e trabalhar das oito ao meio-dia e das duas às seis. E de sexta-feira saía cinco e meia. E de sábado trabalhava. Eu falei: “Não. Pode contar comigo”. E lá era braçal. Porque eu carregava tecido, peça de tecido. A peça de tecido tem quinze quilos e a gente trabalhava com atacado, então só vendia de peça, entendeu? Então, era tipo meio que assim: um vendedor de expedição. Que o cliente chegava: “Eu quero uma peça disso, uma peça daquilo e uma peça daquilo”. Aí eu ia lá, separava, colocava no carro do cliente e passava o valor para o caixa, você entendeu? Então, meio que braçal, eu tinha que descarregar caminhão. Aí o cara falou assim: “Você acha que dá conta de carregar esses pesos e tal?” Eu falei: “Não, vou me virando”. Aí carregava já depois, no final, duas peças de quinze aqui, mais uma no braço aqui, carregava quarenta e cinco quilos na malharia. E sempre foi assim, cara. Mas aí eu aceitei a proposta e aí cheguei em casa. Minha mãe falou: “Ah, então, como é que foi lá?” Falei: “Então mãe, mas tem um problema...” - isso foi na quinta-feira mais ou menos, quinta-feira, sexta-feira - “é para eu começar segunda-feira”. Aí, no outro dia... é, foi numa quinta-feira, porque na sexta-feira eu fiz desligamento do outro. Eu cheguei e falei assim: “Eu arrumei um serviço melhor e tal, eu gostaria de ir, que vocês me liberassem e tal”. Não tinha contrato, não tinha nada, assim, não existia esse negócio de estágio, igual hoje que você tem que assinar papel, então você pode ir. Na Boa Vista, na Tiradentes, eu ia trabalhar lá na Curva da Galinha. Então, assim, eu morava no Residencial Rio Preto I, do Residencial Rio Preto I na Boa Vista era pertinho, de ônibus, tipo assim, demorava uma horinha. Eu fui trabalhar lá na Curva da Galinha, que era duas horas de ônibus, transporte público, que eu ia de transporte público. E aí eu aceitei e aí começou com um porém: eu com o primeiro colegial, não tinha vaga em escola noturna pra mim e eu tinha aceitado o serviço. Fiquei um mês, praticamente, sem estudar. Era assim: comecei na segunda-feira e tal, comecei a trabalhar, gostando, puxado, mas foi onde eu entrei para o comércio, fui aprendendo, com humildade, fui aprendendo, depois que já estava um mês, também já estava... sempre fui muito assim do comércio, de conversar, né? Minha namorada fala que eu faço amizade até com o cachorro da rua, eu converso e tal. Então, eu já fui pegando o gosto do cliente, eu sempre gostei de tratar as pessoas muito bem, então eu peguei, cara e fui embora. Aí minha mãe que começou uma briga, né? Minha mãe ia na Secretaria da Educação, pra arrumar uma vaga pra mim na escola, porque não tinha e eu querendo trabalhar e minha mãe: “Não, você vai ter que sair do serviço” e eu falei: “Não, do serviço eu não saio”. E no serviço eu enxerguei uma oportunidade muito boa porque, assim, lá era uma representação e aí tinha o dono, era tipo assim: o representante, que é uma fábrica, lá em Tietê, em São Paulo, pertinho de vocês aí, no Tietê. Às vezes vocês até conhecem, chama “Antoni Têxtil”. Uma indústria muito grande que tem aí no Tietê. Aí eles têm quarenta e poucas lojas no Brasil, espalhadas, entendeu? Pega um representante, eles bancam o custo fixo da empresa e paga a comissão para esse representante e esse representante, dessa comissão, ele tem que dividir com os salários dos funcionários que ele vai pondo. Só o funcionário que é por conta dele. E aí tinha a esposa dele, porque ele já, também, era um senhor, o filho e a nora. E era eu e mais outro menino. Então, eu enxerguei uma oportunidade e ele já estava querendo aposentar, sabe? Já era de idade, já era pastor também. Então, assim, foi muito bom pra mim também entrar ali, pela questão da minha educação, porque eu entrei numa empresa totalmente familiar e eu estava naquela época que era pra mim, assim, estava naquela época, eu estava em descobrimento, aborrecente ali, né? E eu passei por essa fase muito tranquilo, cara, porque tinha muito ensinamento, sabe? Onde que eu fui pegando gosto pelo comércio, por empresa. Eu achava assim: as pessoas que têm empresa hoje é porque ficou com alguma herança, alguma coisa. Achava assim: não é pra mim isso, né? Eu não sou filho de pai rico, então eu tenho que trabalhar para os outros o resto da vida. E não é isso, você pode ser o que você quiser. Você pode ser o que você quiser. Então, eu tinha muito isso na minha cabeça, quando eu via, eu falava: “Nossa, o cara tem uma empresa e tal”. Mais novo eu não entendia e ele foi abrindo meus horizontes, ele era um pastor super respeitoso, sabe? Converso com ele até hoje. Hoje ele vem aqui na minha empresa, chama “seu” Pedro. Assim, eu tenho um carinho muito grande por ele, por ele, pela Dona Cida, que foi quem me ensinou mesmo princípios de vida, a ser honesto, não fazer as coisas erradas. Que nem o horário, cumprir com o horário certinho. Então, eles me ensinaram muita coisa. Eles faziam uma oração na segunda-feira, hoje eu faço essa mesma oração aqui na minha empresa, com meus colaboradores. Então, tipo assim: me ensinaram muitas coisas boas. E eu passei uma adolescência assim super tranquila, que a minha mãe fala. Então, eu comecei a trabalhar, não tenho problema, nunca... não bebo, não tenho nenhum vício. Então, tipo assim, cara, foi bom. E quando eu comecei a trabalhar lá no bordado, eu comecei a sair um pouquinho à noite, sabe? Minha mãe começou a dar aquela liberdadezinha de poder chegar nove horas em casa, dez horas. Eu comecei a conhecer bebida, né? Cheguei uma vez ruim em casa, (34:05) a beber com quinze anos. Então, aí eu fui pra lá e já começou: “Isso não é certo. Você não bebe?” Falei assim: “Não. Não bebo e tal”. Então, ele foi me ensinando muita coisa, entendeu? Ele foi me ensinando muita coisa. E aí eu entrei lá pra trabalhar com quinze anos e fiquei até os dezoito. Tirei minha carta lá. Desculpa, é cliente ligando.
(34:37) P1 – A sua imagem, às vezes, está caindo. Mas voltou, já, a imagem.
R1 – É por causa que o povo fica ligando aqui.
(34:43) P1 – Ah, sei. Mas não tem importância. Nessa empresa você já aprendeu a conversar com o cliente? Já aprendeu essa parte de conversar com o cliente?
R1 – Sim. Porque eu era a frente, né? Eu era a frente do atendimento. O primeiro contato com o cliente era eu. Então, como que eu posso falar? Foi ali que eu comecei a negociação, cara. Tipo assim: o cliente chegava ali e sabia o que queria, mas só que ele queria desconto, ele queria tipo... tinha as vezes... que nem, igual eu faço: se eu comprar uma peça, é um preço; se eu comprar dez, é outro preço. Então, ali que eu comecei negociação, a negociar com fábrica e tinha um funcionário lá que tinha vinte e sete anos, que era o meu parceiro, já estava lá fazia sete anos e ele não tinha essa proatividade. Então, eu pegava o telefone e ligava lá na fábrica: “Oh, tô com um cliente aqui, tô com uma cotação de quarenta peças de “PV” branco”. Na época que as escolas, época de começo de ano, pra gente que tem os uniformes para as escolas, bomba, que tem o uniforme branco, vende muito. Então, eu já conseguia preço melhor, sabe? Ia correr atrás de clientes, separar mercadoria. E chegou num ponto que os clientes chegavam lá e eu tinha quatro clientes me esperando. Eu estava atendendo u e tinha cliente me esperando, você entendeu, pra ser atendido, porque queria ser atendido por mim, você entendeu? Ou porque: “Ah, eu já tô negociando o preço com ele, já tô vendo com ele essas coisas”. Então, o pessoal já acabava me aguardando, acaba esperando mesmo e ficava cinco, seis clientes me esperando. Então, isso foi crescendo muito o olho, também, do dono lá dentro e fui mostrando o meu potencial. E aí, nisso, um cliente me fez uma proposta para ir trabalhar na empresa dele, um cliente meu. Fez uma proposta para eu ir trabalhar na empresa dele. Então, ele acabou, assim, vendo meu potencial de vendas ali e me chamou para ir trabalhar na empresa dele, comercial. Só que aí foi onde eu entrei para o ramo de vendas de uniformes. Eu já tinha a base com a minha mãe, eu era um fornecedor de malha, eu vendia tecido e com ele lá que eu fui trabalhar no comercial e que eu entrei para o ramo de uniformes. Então, que eu aprendi muito lá com ele também, só que também, tipo assim, foi curto. Foi bem curto lá, foi bem curto o meu estar lá, acho que fiquei uns seis meses, aí eu saí, que a gente teve um desentendimento. Porque, assim, eu fui pra lá bem... assim, voltando um ponto, eu tirei minha carta lá, eu estava com dezoito anos, tirei minha carta e aí, assim, eu tinha o meu dinheirinho guardado, só que só dava pra comprar um... só dava pra eu, tipo assim, comprar um carrinho só, um básico, né? Só que eu queria comprar um carrinho melhor e ter um dinheirinho para eu sair também, me soltar um pouquinho. E aí ele fez essa proposta pra mim e eu pedi desligamento lá. Com muito custo me deram, cumpri aviso, ainda esperei quatro meses de quando eu pedi que eu ia sair, mas a gente tinha umas férias no meio do ano, né? No final do ano, perdão. A semana do Natal e do Ano Novo era férias, recesso da fábrica. A gente fechava todo mundo e ninguém trabalhava. Então, eu esperei até o final do ano, pra eu sair, sabe? Para eles porem outro funcionário. Assim, hoje, se eu fechar aqui a minha empresa e chegar lá: “’Seu’ Pedro, fechei minha empresa, tô precisando voltar a trabalhar, quero voltar a trabalhar com malharia. O senhor tem uma vaga pra mim?” Com certeza ele tem uma vaga pra mim. Então, eu saí de portas abertas, pedi as contas, fiz meu acerto certinho, tudo certinho com ele e fui para essa outra empresa, que foi um outro desafio na minha vida porque, assim, eu era acostumado a ter aquela venda B2B e eu fui pra a venda, que é “business-to-business” e eu fui para a venda B2C”, que é “business-to-costumer”, que é o meu consumidor final, que eu vendia para empresas. Então, hoje eu tô no meio do processo do uniforme, eu tenho os meus fornecedores atrás e tenho o meu cliente na frente. Então, eu compro a matéria-prima, beneficio a matéria-prima e entrego o produto pronto, você entendeu? Então, eu fui para um outro desafio, cara. Tipo assim: um moleque de dezoito anos, acabado de tirar a carta. E lá eu tinha um salário fixo, mais comissão. E eu ___ (39:13) vender, cara, se eu ganho por comissão, eu já pus minha meta: eu quero tirar mil “contos” de comissão, eu preciso vender “x”. Vou correr atrás da meta. Então, eu ia, cara, eu ia muito, muito, muito. E foi bem na época que coincidiu daquele impeachment da Dilma. O impeachment da Dilma, 2014, cara, o negócio no Brasil ninguém sabia o que que ia virar, estava aquele rolo muito louco e eu chegava na empresa pra vender: “Nossa, cara, agora não. Vamos segurar, porque não sabe o que vai acontecer com esse Brasil. Não vamos gastar com uniforme, vamos segurar o dinheiro. Não sei o quê”. Mesmo assim, só que é assim: se você leva, a cada dez não, você ganha um sim e você quer ter vinte sim, faz o dobro, né? Então, cara, eu pegava num dia, eu fazia cinquenta visitas em clientes. Eu chegava com um tufo de cartãozinho assim, de cliente. Depois eu fazia relatório no meu caderno, pra ver depois o que eu tinha que ligar, o que eu conversava, sabe? E eu chegava com um tufo, um tufo, um tufo assim, muito grande de cliente. E aí fui começando a ter resultado. Aí teve o impeachment da Dilma, saiu, tal. Aí, nos últimos três meses, eu estava vendendo super bem, estava vendendo uns cem mil, noventa mil de uniforme. E eu não estava recebendo as comissões, não recebi as comissões. Porque ele falava como que eu estava recebendo o seguro da outra empresa, eu falei: “Oh, eu tenho interesse de pegar o seguro, porque ajuda a comprar meu carro, né?” Eu recebia o salário e ajudava a comprar o meu carro. E eu comprei um carro também assim, meio que nas pressas, porque eu precisava, a empresa não me dava carro e eu tinha que rodar Rio Preto, você entendeu? Então, às vezes, eu ia com o meu carro até, um exemplo, na Avenida Bady Bassitt, parava ali no quarteirão pra cima, que não tinha área azul, pegava a Bady Bassitt e ia da Bady Bassitt até a JK a pé, comércio por comércio e voltava pelo outro lado, comércio por comércio, pegava o meu carro, parava lá na Continental, parava também num cantinho lá, debaixo de uma sombra, andava tudo aquilo à pé. Então, era assim, cinquenta comércios todos os dias. Todos os dias. E quando você fala isso para um vendedor hoje, eu contrato vendedor, ele fala assim: “Impossível, como que vai em cinquenta lugares no mesmo dia?” Eu falo: “Cara, eu fazia. Eu fazia”. Os caras de hoje não entregam. Não entregam isso. E sem contar que eu fazia tudo isso e estudava à noite ainda, quando eu fui para o Antoni, eu estudava à noite. Então eu saía, tipo assim, tinha que acordar cinco e vinte da manhã, lá no bairro de casa, dez para as seis eu pegava um ônibus, aí nisso eu tinha que ter acordado, tomava banho, tomava meu café, arrumava a marmita e arrumava a roupa para ir para a escola. Aí ia para o serviço, chegava sete e quarente e cinco lá, sete e cinquenta, trabalhava o dia todo, tomava um banhozinho lá ainda na torneira, porque não tinha banheiro, na torneira do banheiro lá, sabe? Lavava, passava desodorante, lavava o rosto, trocava de roupa, pegava o ônibus, já ia pra escola e ia chegar em casa lá pelas, tipo assim, que eu saía dez para as onze da escola, chegava onze e quarenta e cinco. Aí, até você chegar, tirar a roupa, tomar um banho, jantar e ir dormir, vamos pôr assim: meia-noite, meia-noite e dez, meia-noite e vinte. E, no outro dia, cinco e vinte estava de pé de novo, descansava mesmo só no final de semana, né? E no final de semana ia fazer as coisas da escola. Como eu tinha duas horas de almoço, às vezes, trabalho, alguma coisa da escola, eu fazia na hora do almoço, né? Então, eu pegava minha hora do almoço, às vezes, quando não tinha, dava uma cochilada, dava uma descansada na hora do almoço. Mas era desse jeito. E aí, quando eu fui para Maknyl, eu fazia tudo isso e aí também eu ia para a faculdade. Eu terminei a escola com dezessete, com dezoito eu já ingressei na faculdade. No ano seguinte eu já ingressei na faculdade. Então, da Maknyl eu ia para a faculdade, cara. Da Maknyl eu já ia para a faculdade lá e também saía tarde. Só que aí, despois de um tempo, já tinha carro. Já podia acordar, tipo, entrava às oito, acordava as sete, sabe? Aí já facilitou um pouco mais. Só que no Antoni foi três anos nesse batidão. Depois na Maknyl também. Aí eu saí de lá, porque a gente fechou uma empresa muito grande aqui, na época, Furlan Auto Peças, uma empresa que você conhece, vendo lá até hoje, mas fechei e ele não quis por causa de um desconto que eu dei numas camisetas de malha fria que, assim, não era nem meu preço mínimo. Que eu tinha uma tabela de preço máximo e preço mínimo. Pra eu fechar fora do preço mínimo, eu tinha que conversar com ele, com o dono. E eu fechei dois reais mais caro que o preço mínimo. Só que ele não gostou, falou um monte lá pra mim, eu sou daquele tipo assim: eu dou respeito para ser respeitado, sabe? Nunca você vai ver eu gritando com as pessoas, xingando, coisa e tal, para as pessoas também não fazerem isso comigo. Então, lá ele gritou lá e pra mim não dá e, assim, eu sou aquele cara que vou retendo, retendo, retendo, retendo, na hora que estoura, sabe? Então, eu peguei e falei assim: “Bom, vamos parar por aqui” E já tinha aquele lance das comissões também, sabe? Das comissões. Aí eu fui trabalhar no Ceasa. Aí fiquei um mês parado, mais ou menos, aí eu fui para o Ceasa. E Ceasa é coisa doida. O Ceasa eu entrei quando tinha dezoito. Eu entrei em agosto. Não, eu tinha acabado de completar dezenove. Tinha acabado de completar dezenove. Junho, julho, agosto, é. Eu tinha acabado de completar dezenove anos, aí eu entrei no Ceasa. Fiquei no Ceasa, trabalhei até o final de 2019 no Ceasa. Aí, em vinte e oito de dezembro de 2019 eu saí do Ceasa e fiquei só com a empresa.
(45:02) P1 – E como é que veio a ideia e você falou: “Não, vou montar minha própria empresa, que eu vou trabalhar para mim mesmo”? E por que você teve a ideia desse ramo? Como que despertou? Falou: “Vou montar a empresa”?
R1 - Cara, aquele trabalho lá de trás, de prospectar clientes, cinquenta clientes. Aí a empresa não pegou e pôs ninguém no meu lugar e aí os clientes começaram a ligar lá na empresa: “Não, o cara não trabalha mais aqui, o cara não trabalha mais aqui, o cara não trabalha mais aqui”. E alguns tinham meu telefone e esses que tinham o meu telefone, me ligaram. E eu falei: “Cara, eu não tô trabalhando mais na empresa e tudo o mais, não sei quê”. Aí começou com um colega meu, eu dispensava, aí um colega meu viu e, tipo assim, que eu trabalhava no Ceasa da uma da manhã até às nove da manhã, porque o Ceasa... é uma da madrugada, que o Ceasa é de madrugada, né? E ia até as nove. Aí eu saía às nove, como eu tinha carro, eu ia pra casa, almoçava e tal, tomava um banho, dormia um pouco, lá pelas quatro horas eu ia na oficina do pai de um amigo meu, que é esse amigo que vai lá em casa até hoje, o pai dele tem uma oficina e ele trabalha na oficina. Eu ia lá, sabe? Sentava lá, tomava uma Coca, comia um pão com presunto e muçarela e aí ele via eu dispensando, sabe? Dispensando. E falou: “Por que você não começa a pegar isso daí e fabricar? Você não sabe fabricar? Tua mãe não fabrica? Tua mãe não trabalha na fábrica?”. Eles eram bem próximos, sabe? Eles conhecem minha mãe e tal. Eu falei: “É, minha mãe fabrica. Mas, ah, cara, tem de ter muito dinheiro, tem que comprar o maquinário e tudo o mais. Fazer um investimento e tal”. Um crédito inicial para o negócio, né? Aí eu já namorava nessa época, eu comecei a namorar com dezesseis anos, ali, eu namorava também só no final de semana, que eu via a namorada e tal, por causa da correria. E aí o meu sogro tem uma empresa de climatizador. Também, que tem sete anos essa empresa.
(46:49) P1 – Desculpa, eu não ouvi de que é a empresa.
R1 – Climatizador evaporativo.
(46:54) P1 – Ah, sei.
R1 – Aqueles tipo ar industrial, sabe? É mais econômico que ar-condicionado e tudo o mais. Aí ele falou assim: “Cara...”. E ele também vendo isso, eu dispensar clientes, sabe? “Não, não trabalho mais, não mexo com isso e tal”. Aí ele falou assim: “Cara, você não quer pegar para fazer os meus uniformes?” Aí ele pegou e falou assim: “Você sabe fazer as contas?” “Não, eu sei fazer as contas. Eu fazia essas contas lá no Antoni”. E eu, por conhecer algumas mãos-de-obra, aí eu fiz as contas e ele falou: “Então beleza, então. O meu pedido deu, tipo, dois mil e pouquinho e para você fabricar você vai precisar de um mil e oitocentos, de mil e quinhentos reais”. Aí eu ganharia nesse pedido uns setecentos reais, mais ou menos, de lucro. Ele falou: “Tá aqui o dinheiro. Vai lá e compra as coisas”. Então, tipo assim, eu não tinha o dinheiro, às vezes, esse valor. Pra mim, falava “mil e setecentos reais”, era mais do que eu ganhava. Eu ganhava mil e quinhentos, mil e quatrocentos. Então, eu ficava assustado, né? Então, ele me deu esse dinheiro, eu fui, comprei e comecei a fabricar. Aí, no lugar de eu começar a recusar os pedidos, eu comecei a pegar os pedidos e pedir uma entrada, que eu já pedia na outra empresa. Como é um produto personalizado, você pede uma entrada. Então, eu comecei. Eu comecei no fundo... dentro do meu quarto, aí eu comprei aquelas araras, sabe aquelas prateleiras de lata? Aí eu comprei linha, minha mãe chegava de noite e cortava pra mim. Aí eu saía do serviço lá no Ceasa e levava no silk, para o cara estampar, depois pegava, minha mãe conferia para mim e tal e colocava na costureira pra mim, ele mandava para a costureira também, que trabalhava terceirizada por peça e assim começou, cara. Aí o quarto ficou pequeno, eu aluguel um salãozinho perto do Austa [hospital particular] (48:21), de quatrocentos reais por mês. Aí o salãozinho foi ficando pequeno, eu aluguei outro de seiscentos e pouco, que era um pouquinho maior. Aí eu falei assim: “Agora eu preciso de uma funcionária”. Aí eu contratei minha mãe. Aí tirei minha mãe de onde ela trabalhava e a contratei, porque a minha mãe sabe, minha mãe é peça coringa assim, entendeu? Ela sabe um pouco de tudo. E aí ela pegou, cara, veio trabalhar comigo. Aí, tipo assim: eu trabalhava no Ceasa que, tipo assim, senão, eu precisava viver, eu tinha minhas contas, minha faculdade, eu trabalhava no Ceasa e a minha mãe abria lá, para mim, cedo. Ela ficava com a chave, ela ia lá, abria cedo, eu chegava do Ceasa, tomava um banho, almoçava e já vazava. Ia trabalhar, de novo. Aí eu ia rodar, vender, atrás de não sei o que, atrás daquilo. Aí ficava até seis, sete horas lá e levava minha mãe embora junto comigo. Então, aí ela chegava cedo, ia fazendo as coisas e eu chegava depois e ia vendendo. E assim foi, cara. Aí, depois, eu fui comprando mais coisas, comprando modelagem, comprando mesa, comprando máquina. Aí, até em dezembro de 2019, tinha uma cliente minha que eu vendia tecido pra ela, que chama Suzana Baueb, ela colocou a empresa dela, a confecção dela, de trinta e quatro anos, à venda, porque ela arrebentou, né? Aí eu conversei com ela, a gente fez uma negociação e ela aceitou que eu a pagasse parcelado. Então, tipo assim, cara, eu a pago até hoje, mas eu já tive aquele negócio rodando e eu o potencializei. Hoje eu tenho uma estrutura, pago aluguel de um prédio aqui na Redentora. Tenho uma loja de jalecos que ela vende uniformes, só que uniforme hospitalar. E eu vendia uniformes chão de pátio, que era camiseta operacional, sabe? Então, acabei abrigando outras coisas e potencializei minhas vendas. Hoje eu tenho meus funcionários, tenho cinco funcionários aqui dentro e tenho as mãos de obra terceirizadas, que são as costureiras terceirizadas que trabalham em casa, né? Bordado terceirizado. Então, hoje eu giro uma engrenagem de vinte pessoas. Então, fui crescendo aos pouquinhos também. Faz um ano, fez um ano que a gente está aqui. E teve essa pandemia, aí tive que me reinventar e tudo o mais. Aí eu fabriquei muita máscara, que a gente foi liberado a fabricar máscara, fabriquei muita máscara, graças a Deus não precisei mandar nenhum funcionário embora, não coloquei nenhum funcionário para o governo, aqueles quarenta por cento, consegui segurar a barra. E onde foi um momento de grande, assim, acho que foi o meu grande aprendizado, cara, foi durante a pandemia, que eu aprendi a delegar mais, aprendi a se reinventar. Aí é onde que eu falei, aí é onde a gente começa a aprender, né? Na prática é uma coisa e nos paranauê, quando é paranauê é outra. Porque ninguém esperava essa pandemia, ninguém esperava tudo isso que vem acontecendo. Então, tipo assim: ______ (51:33) pandemia...
(51:33) P1 – Mas você conseguiu passar por ela sem ter muita perda, né? De...
R1 – Cara, perdi dinheiro por, assim, às vezes, confiar nas pessoas, você entendeu? Que nem, o rapaz comprou cinquenta mil meu em máscaras, aí vinha sempre pagando certinho, no último pagamento ele falou assim: “Cara, você me dá uns cinco dias pra eu pagar?” Aí quando, sabe, o cara já veio comprando e pagando certinho, eu falei: “Não. Pode ser”. Emiti o boleto para o cara e nesses cinco dias o cara sumiu. Então, tipo assim: treze mil reais ali, que eu perdi. Por isso que eu falo: eu aprendi pagando o preço e pagando um preço alto, às vezes.
(52:14) P1 – Sim. Sim. Sim.
R1 – Então, fora outras coisinhas de uniforme, que eu tenho uma inadimplencinha aqui, que é normal do comércio, né? Daí vai pra cartório, vai essas coisas. Então, às vezes você vai aprendendo pagando o preço, né? Então hoje, hoje eu tenho: “Ah, fechei com um cliente”, eu tenho uma consulta. Como que vai ser? Se o cliente tem restrição não vende no cheque, ou não vende no boleto. É cinquenta por cento de pedido e cinquenta por cento na entrega. E antes não tinha nada disso. Então, você vai aprendendo muita coisa que não são ensinadas na faculdade, né? Que não é, tipo assim, ensinado na faculdade. Então, por isso que eu falo assim: às vezes você paga o preço pra aprender na prática, né?
(52:50) P1 – Sim. Sim. Caio, além disso, como que você escolheu os nomes, né? Porque tem o nome “Coat Store” e tem a outra empresa, né? Tem uma identidade visual atrás de você aí, “Rio Preto”.
R1 – Isso. Aqui é “Rio Preto Confecções – Solução em uniformes”. Essa daqui é a primeira, que tem cinco anos, que é a que eu comecei lá, com dezenove anos, a “Rio Preto Confecções”. Essa daqui a gente está fazendo, a gente vai transformá-la em “holding”. Que a “Coat Store” vai ser uma empresa do “Grupo Rio Preto Confecções”. Você entendeu? Porque é assim...
(53:29) P1 – Sim. Sim. Vocês vão fazer uma “holding”?
R1 – Isso. Vou transformar a “Rio Preto Confecções” em “holding”. Vai ser minha sócia. A “Rio Preto Confecções” vai ser minha sócia.
(53:43) P1 – Certo. Entendi.
R1 – E aí, o que acontece? A “Coat Store” aqui, eu tenho uma... depois eu até posso te mostrar, eu vou ali na frente e te mostro. É uma loja de moda branca, varejo. Eu vendo moda branca, varejo, pra médico e, assim, o jaleco que a gente trabalha, eu trabalho para um público premium. É “Coat Store – Jalecos Premium”. Antes, quando eu comprei a empresa, chamava BauebS. E como era um sobrenome da família e essa família, por ter outros negócios com o nome BauebS, eu quis trocar. Aí eu peguei “Coat Store”, você entendeu? Que a “Coat Store” é loja de jaleco, “coat” é jaleco.
(54:21) P1 – É. Casaco, jaleco.
R1 – Isso, exatamente. Então, por isso que eu coloquei “Coat Store”. E o meu público que eu atendo aqui, cara, é um público elite, que é médico, você entendeu? O meu jaleco mais barato aqui é de duzentos e noventa e nove. O meu ticket médio é de duzentos e noventa e nove. Então, assim, eu atendo médico, o pessoal da... eu tenho aqueles mais baratinhos, que é para estudante tipo de enfermagem, essas coisas, sabe? Só que é aquele chamariz, aquele pra vendinha diária. Mas o que me dá lucro mesmo são as vendas de jaleco. Então, aí eu tirei o “BauebS” e coloquei “Coat Store”. A gente colocou “Coat Store” e aí agora, até o final do ano, a gente tem a intenção de estar, pelo menos, com mais uma unidade da “Coat Store”. A gente está fazendo um processo de formatação, a “Coat Store” vai virar franquia. E um fornecedor homologado que fabrica... porque a “Coat Store” é fabricação própria, somos a única empresa em São José do Rio Preto que atua na moda branca, com fabricação própria. Os outros são tudo revendedores. Tem mais duas empresas que atuam no mesmo nicho que nós, só que são revendedores de marca, que nem “Aspen”, “Vest Branco”, outras marcas. Nós somos fabricação própria, a gente faz customizado, personalizado, com pedraria. Não é coleção, sabe? A gente vende jaleco caro. Então, é “Coat Store – Jalecos Premium”. Então, são jalecos premium, mesmo. É tipo assim: negócio com pedras, pedraria de pérolas, sabe? Essas coisas. Então, eu tenho jaleco de quinhentos e oitenta reais, uma peça, você entendeu? E vende. É um dos que eu mais vendo. Os que eu mais vendo é os de trezentos pra cima...
(55:53) P2 – E, Caio, de onde vem essa tendência desse jaleco com mais estilo? Da onde que vem isso, essa necessidade?
R1 – Essa necessidade é assim: é um campo que a gente conseguiu enxergar no mercado que sejam diferentes, você entendeu? Não seja apenas mais um, mas seja diferente. A outra dona da “BauebS”, a Suzana, começou com isso, começou a implementar e eu tô dando continuidade no trabalho, só que nem, eu faço isso hoje, que nem, ela não fazia com rede social, eu já faço isso hoje em rede social. Quer dizer, então, “seja diferente”. Os meus jalecos não saem daqui em sacola embalada, em sacola com o logo da “Coat Store”. Tipo: você vai comprar uma roupa lá, ou você vai comprar um brinquedo, um exemplo: um Balão Mágico na “Ri Happy”, é sacola da “Ri Happy”. O meu não, o meu sai personalizado. Um negócio, assim, individualizado. Com bilhetinho, com bombom, com cheiro, aquele negócio, assim, customizado para o cliente. Então, assim, é aquilo que a gente falou, de entregar um algo a mais. A gente não vende jaleco, eu posso falar isso, a gente vende a experiência de consumir um jaleco na nossa loja. Você entendeu? Então, a gente tem um cheirinho que é passado, o jaleco desce, todos os que vão para a loja são lavados e passados, um por um, passado em ferro ________ (57:08) engomado, com vinco, sabe? Aquelas coisas tudo, passado em vinco de alfaiataria mesmo, embalado, selado. O que é entregue na loja vai com bilhetinho, os que é na loja on line vai com um bilhetinho exclusivo para o cliente, uma experiência que a vendedora tem com o cliente. Isso aproxima o cliente da gente. A gente tem cliente que se tornou amigo. Tipo assim... como é que eu posso falar? Eu tenho cliente que chega aqui hoje e vem na produção, que entra dentro da produção. Então, tipo assim: é trazer esse público, porque muita gente não sabe como que é feito um jaleco, não sabe como que é confeccionado. Eu vou mostrar essa sensação pra eles. E acho que, com isso, a gente vai abrir um outro business. Que é, eu vou transformar, a “Coat Store” vai ter uma marca chamada “Coat Store Lavanderia”, que é especializada em jaleco. Então, tipo assim: é entregar um conforto para o meu público, que gosta de conforto, gosta de mordomia, ele gosta de ser muito bem atendido, gosta de ser paparicado. Ele gosta de ser chamado de doutor, porque o cara não estuda dez anos para ser chamado de você, então é... (risos). Eles gostam de, assim, chegar aqui na loja, que nem, a loja, a porta da nossa loja fica trancada, ela fica trancada, ela não fica aberta. Então a porta fica trancada, mas por quê? A vendedora tem a obrigação, na hora que ele estaciona na porta da loja, ela vai de encontro com ele e abre a porta para ele, você entendeu? O cliente não empurra a porta e vem entrando. Ela já começa, pega o cliente lá na porta. Então, ela abre a porta para o cliente: “Seja bem-vindo. Entra. Aceita um café? Uma água? Um bombom?” Aí começa a venda. “Seria pra você?” E é assim. E aquele negócio de fazer personalizado. Às vezes o cliente: “Eu quero que aperta dois centímetros aqui” “Tá. Você deixa aqui, tem um acréscimo de vinte reais e daqui a dois dias você pode passar aqui e está apertado para você, aqui”. Então: “Beleza, muito obrigado”. A pessoa sai feliz. Aí vem e busca e na hora que ela vem buscar o jaleco, está com a sacolinha que a menina escreve, escreveu um esse dia, que a pessoa até compartilhou na internet: “Nesse pacote contém amor”. Você entendeu? Então, aí vai um bombonzinho dentro, que ainda a gente coloca o bombonzinho “Ouro Branco”, que a nossa loja, você pode ver aqui, que é dourado, preto e branco, né? Lá embaixo também é esse cinza queimado. Aqui é meu escritório. Tá vendo? Então, é só essa parede que é cinza queimado. Então, lá embaixo também a gente tem a loja que é cinza queimado. Então, a “Coat Store” também é dessa cor. Então, a gente coloca o “Ouro Branco” por quê? Por ser moda branca, jaleco. E por a embalagem ser dourada, né? Então, tipo assim, fala com a loja, né? Então: “Ah, podia colocar um “Sonho de Valsa”, que é o mais famoso?” “Não”. Branco porque a área da saúde é branco, que eles usam roupa branca. E o “Ouro Branco” porque eles lembram da nossa loja, porque as outras lojas são azuis. A logo é azul dos nossos concorrentes e a gente é dourado. Então, por quê? Passa a sensação novamente que nós somos “gold”, somos “premium” e o bombom remete a isso. Poque o cliente olha para esse dourado e é isso. Então, a gente frisa muito nisso. Entendeu?
(01:00:10) P1 – Certo. Caio, apesar de você já ter acertado em cheio na cidade em que você está fazendo isso, porque Rio Preto é uma cidade que eu nunca vi tantos hospitais ao mesmo tempo, né? É uma cidade perfeita pra vender ______ (1:00:25), você precisa fazer propaganda, né? Como que você faz propaganda pra atrair, assim?
R1 – Cara, assim, meu posicionamento hoje, eu já começo num ponto: eu tô no meio do polo de clínicas e hospitalar. Eu tô na Redentora que aqui em volta é rodeado de clínicas. Eu faço fundo com um hospital. Sou vizinho de fundo com um hospital, cinco quarteirões pra cima eu tenho outro hospital. Tô a dez minutos do maior hospital que é o “HB”. Tô há dez minutos do maior hospital que é o “HB”. E tô a quinze minutos do outro hospital que é o “Austa”, que pega a “Andaló”, atravessa a represa ali, tô pertinho do “Austa”. Então, assim, o ponto nosso já é estratégico, é aquele negócio. Eu não saio daqui nem se o aluguel custar vinte mil, você entendeu? Nem se o prédio for avaliado em vinte mil. Se eu sair daqui, eu tenho que alugar outro aqui na região, se o dono pedir o prédio aqui. Mas já é por isso. O cara vai embora, o cara tá indo embora por causa de um plantão ou atendeu na clínica, ele vai embora, ele vai passar na frente da nossa loja, ele está passando, entendeu? Vai fazer alguma coisa aqui no bairro, ao redor mesmo, os funcionários dele estão vendo. Eu tenho cliente que vem aqui comprar jaleco de a pé, porque tá pertinho da clínica, você entendeu? Minha funcionária, às vezes, monta a malha e vai na clínica, nos laboratórios aqui perto, que tem aqui o “Hemat”, o “Tajara”, ela vai de a pé, porque a gente está perto. Então, já é um ponto estratégico. Não adianta nada eu vender um produto premium... é que é assim: você tem que estar - não é o efeito manada, só que é aquele negócio assim - onde o seu público está. Então eu, que nem, no meu caso, não adianta, eu vendo jaleco, não adianta eu fazer, ir lá e patrocinar um time de futebol.
(01:02:17) P1 – Não é o mesmo público, né?
R1 – Eu vou gastar dinheiro à toa, você entendeu? Fala: “Nossa, mas eu não vendo, não sei o quê”. Estratégia. Então, primeiro é isso: já estar onde o seu público está, ser visto onde o seu público está. Que nem, agora eu vou começar a participar de congressos. Só esperar voltar isso daí, eu vou gastar um dinheiro moado, mas só que eu vou levar um estande meu, vou montar um estande e todo congresso médico que tiver no Brasil, eu vou ter uma loja dentro do congresso.
(01:02:44) P1 – Sim.
R1 – Você entendeu? E na rede social hoje, cara, a gente faz um posicionamento de stories. O cliente quer saber o dia a dia. Aí, agora, a gente entra num outro conceito, que surgiu devido a pandemia, que é H2H, o que é? Humano, né? Pessoas compram de pessoas. Então, ainda mais nesse momento que a pessoa, hoje está todo mundo afastado, o stories bem falado, essa chamada de mídia, eu falando, olhando pra câmera: “Oi, pessoal, hoje está rolando uma promoção, chegou novidade aqui na loja. Entra aqui, manda um whatsapp e tal, que eu vou te atender e tal”. Chama a pessoa pelo nome: “E aí, tal”. Então, hoje a gente tem a missão de fazer por dia vinte stories, do dia a dia da loja, mostrando o dia a dia da loja. “Olha, tá saindo essa entrega. Olha aqui”. Aí é onde eu pego os meus clientes, com aquele negócio customizado. Às vezes está embalando um jaleco pra Paula de tal, fala assim: “Gente, olha aqui, a Paula acabou de comprar com a gente esse jaleco lindo, maravilhoso, que vai ficar super bem nela” e acabo divulgando a médica, entendeu? A marca nos stories. Ela vai lá e: “Pô, gratidão”. Ela reposta nos stories dela, que é onde tem amigos médicos também, você entendeu? Então, a gente trabalha muito as redes sociais, nisso. Eu não faço patrocinado, não gasto dinheiro com tráfego pago. Poderia gastar, mas eu tô estruturando a empresa ainda para o e-commerce, que aí eu vou gastar um dinheiro pesado com isso, para a gente alavancar muito mais ainda as vendas. Mas, assim, primeiro, não adianta eu vender muito, porque eu vendo, a gente tenta vender, a gente quer vender experiência. A experiência do cliente com a empresa. Então, se eu vender, eu posso vender três milhões no mês, só que será que eu tenho estrutura para atender esses três milhões?
(01:04:30) P1 – Sim. Sim.
R1 – Então, aí, às vezes eu vendo esses três milhões em um ano, aí eu começo a ficar queimado no mercado, falho. Então, é onde que acontece às vezes, você vê aí: “Nossa, bombou uma empresa aí, que estava vendendo demais, está crescendo”, só que não está preparada pra atender. Aí você fala: “Nossa, mas como essa empresa fechou? Porque estava crescendo e do nada fechou”. Por isso, você entendeu? Então, é ir estruturando, ir estruturando. A gente consegue identificar isso. Hoje, graças a Deus, por eu estar nesse meio, me lancei no mercado digital também. Caio, o Caio também. Vou vender e-book na internet, igual eu te falei, que tô aprendendo agora. E eu fiz relacionamento com outros empresários e a gente conversa muito, sabe? Então, eu tenho consultores, mentores, que me ajudam, que me dão muito feedback, que... sabe? Então: “Cara, se você vende dez mil, você tem que estar preparado para atender os dez mil. Se você quer vender quarenta, você tem que se preparar para vender os quarenta e depois vender os quarenta”. Então, eu já cheguei a passar por essa fase de vender os vinte e não estar preparado para os vinte. E, tipo assim, atrapalha, sabe? Atrapalha. Você fica num fogo cruzado, né?
(01:05:47) P1 – E esse passo que você me disse que você vai dar agora, que eu achei, assim, genial, porque congresso movimenta muita gente, congresso de Medicina, você vai se preparar para ir, né? Porque senão você vai receber milhares de pedidos, não é?
R1 – Sim. A intenção já é fazer a venda ali mesmo, entendeu? No estande. Eu tenho que fabricar, né? Eu tenho que fabricar, fazer a venda ali, só que eu já tenho que, tipo, levar que nem uns cem jalecos. Então, eu tenho que fabricar, estar estruturado para fabricá-los e depois vender. E, consequentemente, isso vai repercutir na minha venda on line também. Por que, o que acontece? O cara que comprou, às vezes eu vou lá num congresso em São Paulo, vem trezentos médicos, o que não comprou ali agora, vai pegar a informação e depois vai falar: “Nossa, eu preciso comprar um jaleco, vou entrar na internet, daquela empresa que estava no congresso lá e meu amigo comprou o jaleco deles. Deixa eu ver a empresa”. Aí vem depois e compra, você entendeu? Então, num congresso, vamos supor, de trezentas pessoas, se eu vender para cem, eu ganho dinheiro e ainda vou fazer mais vendas futuras. Então, tipo assim, eu tenho de estar muito preparado. Muito preparado.
(01:07:00) P1 – Viu, Caio, e venda por atacado, no seu ramo não existe? Tipo um hospital te ligar e falar: “Eu quero mil jalecos de uma vez só”. Existe isso?
R1 – Existe. Existe. Eu atendo a Unimed, a gente atende a Unimed. Uma vez por ano eles dão um jaleco para cada médico. Então, faz lá... isso a Unimed só a unidade Catanduva, não é a Unimed total, só Catanduva. Então, a gente fez lá para eles, o ano passado, quatrocentos jalecos. Turma de faculdade que vai se formar e a faculdade dá o jaleco. A gente faz cem, duzentos. Segunda-feira mesmo, quando me ligaram, acho que foi o... não sei se foi um de vocês que me ligou...
(01:07:41) P1 – Fui eu. Fui eu.
R1 – Foi você? Então, na segunda-feira que você me ligou, eu estava na Fundação Padre Albino, em Catanduva, para fazer jaleco para os médicos, uniformes para as secretárias, uniforme administrativo, pijama cirúrgico, que a gente fabrica também. Lá eu faço o hospital inteiro. Então, tipo assim: eu estava lá negociando essas coisas e na hora que você me ligou eu estava sentado lá, de boa, esperando o pessoal voltar do almoço, pra eu terminar a negociação, terminar o pedido, certinho. Mas aí eu fico o dia inteiro lá negociando com eles, fechando o valor, quantidade, que eles vão fazer o levantamento. Que a gente também tem essa parte: eu pego muito a dor de cabeça do meu cliente pra resolver, também muito, às vezes fala assim: “Ah, eu vou fazer o uniforme pra minha empresa. A minha empresa tem duzentos funcionários”, igual eles lá. Aí a empresa fica meio que perdida: “Nossa, eu vou fazer levantamento disso?” Às vezes a pessoa não tem habilidade. A gente tem essa habilidade já, porque isso daí é o nosso dia a dia, planilhar. Eu tenho planilha pronta pra colocar quantos uniformes, tipo assim: “Quantos funcionários você tem?” “Ah, tenho cem” “Quantos uniformes você dá pra cada?” “Ah, assim...” “O perfil de cada funcionário” “Ah, mas eu tenho funcionário que usa “PP” ao “Extra G””. Aí a empresa não quer comprar um quantidade grande, não quer que sobra. Então, a gente já faz análise, entendeu? Então, tipo assim, eu já sei. Que nem hoje eu indico muito para os meus clientes comprar dez por cento “P”, vinte por cento “M”, vinte por cento “G”, vinte por cento “GG”, sabe? Porque são as que saem mais. Então, a gente já dá essa assessoria para os clientes. Então, não só isso nos uniformes, tanto na Rio Preto Confecções, quanto na “Coat Store”. Mas tem muito, cara, tem muito essa venda, essa venda atacado. Tem muito e a gente gosta dela também. E ela também traz faturamento bom. Então, eu vou vender os jalecos, eu vendo os meus jalecos que eu vendo aqui na loja. Só que, tipo, eu vou levar os de duzentos e oitenta e nove, só que eu vou vender cem, é vinte e oito mil. Você entendeu? Então, tipo assim, às vezes dá lucro...
(01:09:47) P2 – Caio, além dessa produção de máscaras que você falou que foi autorizado fazer nesse período de pandemia, teve algum pedido mais específico, assim, dos hospitais, dessas unidades de saúde, assim, em relação à uniforme, específico para a pandemia?
R1 – O pijama cirúrgico. Aquele que o pessoal usa no... eles usam pijama cirúrgico e, por cima, usa aquele capote, aquele avental, né? Então, o hospital é obrigado a dar aquele lá, né? Então, tipo assim, a gente fabricou muito. E não só pra hospital, a gente fabrica até hoje para as clínicas, entendeu? Eu tenho uma clínica aqui em Rio Preto, entreguei para a prefeitura de Urupês, que é saúde pública, noventa conjuntos, segunda-feira, meu funcionário foi lá entregar. Nas clínicas aqui às vezes compra cinquenta, sessenta conjuntos para centro de procedimento, sabe? Tipo assim, que nem oftalmologia, que essa é uma clínica nossa que compra aqui, que a cada dois meses está comprando cinquenta, sessenta conjuntos. Por quê? Eles usam um dia e já lavam. Antes não. Antes... e outra: hoje lava com produtos mais fortes, para matar o vírus, né? Então, desgasta muito. Antigamente não se usava tanto, porque também eles trocam, tipo assim: eles entram, um funcionário entra para dar plantão de doze horas, seis horas ele tem que trocar e por um limpo. Então, tipo assim: o cara que usava um pijama num plantão, hoje usa dois. E são trinta funcionários. O que usava trinta num plantão, hoje usa sessenta. Então, desgasta muito. E vai para a lavanderia, hoje com produtos mais fortes, então está desgastando muito. Então, a Unimed de Catanduva a gente fez pijama cirúrgico, a prefeitura aqui na região a gente fez pijama cirúrgico, de Urupês, Nova Granada, José Bonifácio. Rio Preto aqui eu fiz para a “Derm”, a Clínica “Derm”, que eles são uma clínica de plástica, de procedimento... botox, plástica, sabe?
(01:11:38) P2 – Estética. Hum hum.
R1 - Estética, exatamente. Então, a gente faz muito pra eles. Para o “Grupo Cene”, a gente atende aqui, eu tô atendendo o “Grupo Cene” também, nessa parte. O “Grupo Cene”, na verdade, é que eles fazem uns uniformes para revender, né? Eles revendem, né? Então, eu tenho também essa parceria. Em Catanduva mesmo eu tenho um rapaz que compra jaleco meu no atacado, eu faço um precinho um pouquinho melhor para ele e ele vende no varejo lá, ele tem uma distribuidora de produtos hospitalares. Então, eu tenho essa parceria com ele lá também. Então, aumentou muito. Aumentou muito também essa procura. E eu fabriquei uns capotes também. Aqueles capotes de TNT, eu fabriquei também. A gente fabricou. Então, esse negócio foi muito bagunçado, mas só que, assim, tinha que ter um mínimo de estratégia para dar certo, porque assim: você poderia ganhar muito dinheiro, mas também ao mesmo tempo você poderia perder muito dinheiro. Então, assim, era num fio. Porque a máscara, você não pode vender a máscara a dez reais, você não vendia a máscara a dez reais. Você vendia a máscara para ganhar dez centavos, vinte centavos. Um cálculo errado ou um erro de produção para ir dez centavos, vai embora rapidinho, esses dez centavos se tornar dez negativos. Aí você pega um pedido de cinquenta mil máscaras, cinquenta mil máscaras a dez centavos de prejuízo, vai dar o quê? Vai dar quase dez mil reais, você entendeu, de prejuízo. Então, tipo assim: é um negócio muito no fio, sabe? A gente diria assim, é igual a gente fala: “Vender máscara é trabalhar com a faca no dente”. (risos).
(01:13:10) P2 – (risos). Diria, né, Caio?
R1 – É.
(01:13:14) P1 – Viu, Caio, no comércio, assim, o seu ramo é específico, mas como a gente também está falando da arte do comércio, o que você acha mais difícil: atender o cliente, conseguir comprar os insumos do produto que você vai fabricar, botar preço... acho que botar preço é uma arte, né? Porque você tá comprando, você tem que lucrar, você acabou de falar aí. O que é o mais difícil? É atender o cliente...
R1 – Cara, hoje... não, atender o cliente não, cara, porque o cliente continua sendo o cliente de sempre, ele não mudou, você entendeu? E hoje ele tem mais necessidade do que antigamente, nessa pandemia aí, que nem o meu tipo de negócio, mas eu vou falar um negócio geral: hoje eu sou um cara que sou carente de comprar umas... eu falo muito no ramo têxtil, porque é um ramo que eu observo muito, mas eu gosto muito de usar camiseta polo básica, sem bordado, sabe? Camiseta polo básica. Lisa. Mas não gosto de usar aquelas polo da Riachuelo, tipo assim, com listrado, sabe? Eu não gosto, meu perfil de idade. Eu gosto da camiseta básica, com um bordadinho aqui na frente, tipo a Mr Kitsch, entendeu? Só que você vai comprar uma Mr Kitsch, é oitenta “conto”. Só que você não acha uma camiseta, assim, com um pouco a menos de qualidade, que dá pra ter um valor mais acessível, de sessenta, cinquenta “conto”. Então, assim, o mercado resiste muito às coisas que podem ser melhoradas, mas eu falo assim: o cliente, em si, não é problema. O cliente é solução para tudo. O cliente é o que te traz recurso, o cliente que é a solução pra tudo. O problema é se, às vezes, está tendo problema, o problema é a empresa. Mas hoje o grande “x” da questão é o insumo. Tem lugar que eu só compro à vista, para ter prioridade, você entendeu? Porque é assim, o cara chega assim: “Eu tenho aqui”. Que nem eu uso o exemplo da gabardine branca. A gabardine branca que eu uso eu compro de uma importadora que importa da China. É uma gabardine importada, da melhor qualidade e tal. Branco, tem aquele branco ‘optimus’, que a gente fala, que é aquele branco azulado. Então, a gente compra dessa importadora e essa importadora vende nível Brasil. Aí eu falo assim, aí eu pergunto para o vendedor lá: “Tem gabardine?” “Tem, tem trezentos metros no estoque. Aqui no sistema consta trezentos metros” “Quero cem”. Pra empresa vender isso daí é dez minutos. Dez minutos. Aí o cara fala assim: “Como que o senhor vai pagar?” “Eu vou pagar em boleto”. Aí depois o cara lançou o meu pedido, só que entrou uma venda à vista. Quem tem a prioridade? O ‘à vista’. O ‘à vista’, você entendeu? Então, o cara vai e vende no ‘à vista’. Então, o motivo ainda é muito isso. Hoje, cara, tipo assim, eu vou no fornecedor buscar tecido por, tipo assim, o cara fala: “Ah, não dá para eu deixar separado aqui para ir para a transportadora”. Então eu vou lá, eu busco. Saio daqui e “pum”, vou para Presidente Prudente, São Paulo, eu busco tecido aí em São Paulo, na “MN Tecidos”. Vou para todo lugar, cara, atrás de tecido. Hoje é o insumo. E o preço, cara. Hoje você cota o negócio está, tipo, um exemplo: o metro do tecido está oito reais. Mais tarde você fecha a venda: “Cara, teve uma alteração aqui e já foi para nove e oitenta”. Já subiu um e oitenta, assim, em questão de horas. Por quê? O tecido é cotado em dólar. Então, tipo assim...
(01:16:41) P1 – É um perigo.
R1 – É um perigo. E aí você tem que correr um trabalho... que nem, igual, eu tô fechando essa venda lá no Padre Albino, lá o orçamento, que eu estava somando aqui ontem, já deu trinta e oito mil o pedido. E aí eu vou comprar matéria-prima para tudo isso. Então, que nem, eu já passei o valor, já está fechado o valor. Eu tenho que saber o preço máximo que eu posso pagar, para eu não tomar prejuízo. Será que eu vou conseguir achar tecido? Às vezes pode ser que o cara chegue aqui pra mim hoje e fale assim: “Cara, ultimamente teve um reajuste aí, o tecido teve um reajuste de quinze por cento”. Ele já comeu quinze por cento da minha margem, a mais, do que eu cotei com ele, você entendeu? Então, eu acho que o insumo hoje está um grande problema. Formação de preço eu nem falo assim, porque tem que cobrar um preço que você tem que ganhar dinheiro, você tem que... é igual aquela outra dona lá, a Suzana, ela falava assim: “Eu não me preocupo com quem vende barato, eu me preocupo com quem vende caro. Quem vende barato, daqui a um ano, dois anos, vai fechar”. Tipo assim: que tem, eles falam assim, um jaleco que custa duzentos e o outro está vendendo por cinquenta, alguma coisa tem. Aí você vai ver o cara: compra no mesmo lugar que você compra, fabrica praticamente... você sabe quanto que é o custo, você entendeu? Então, tipo assim, não tem como. Então, ou ele está tomando prejuízo ou ele está abraçando o prejuízo. Se ele abraçar o prejuízo...
(01:18:06) P1 – Ele quebra.
R1 – Quebra. Então, tipo assim, eu aprendi isso com ela. Eu falava assim: “Nossa, mas o cara lá está fazendo tal preço. Tem que cobrir o preço. Tem que achar matéria-prima mais barata.” E ela falava assim: “Não, Caio. Não vai nessa, preocupa com quem vende caro. E quem vende barato você deixa por conta da natureza”. Ou o cara uma hora vai começar a vender o mesmo preço que o teu, ou infelizmente ele vai fechar. Não é agourando, você entendeu? Não é julgando, falando, mas é porque, assim: é insustentável, cara. É insustentável, não tem como. É igual eu peguei hoje e fiz uma reunião hoje cedo com os meus funcionários. Eu falei assim: “Eu não tenho condição de todo mês eu ficar investindo vinte mil reais, tirando vinte mil reais. Nem tenho renda pra tirar de outro lugar. Minha renda sai daqui de dentro”. Você entendeu? Eu vou investindo e tirando um pouquinho, investindo e tirando um pouquinho, investindo e tirando um pouquinho. Mas agora de eu pegar e falar assim: “Não, isso daqui não está me dando lucro, eu vou ficar pondo vinte mil reais todo mês aí dentro, pra cobrir caixa”. Eu não dou conta. Eu fecho a empresa, então. Uma hora, se o cara ficar fazendo isso, é melhor ele parar. É melhor ele ficar com esse dinheiro guardado lá e o cara fica sem dor de cabeça ainda, né?
(01:19:08) P1 – Caio, você já falou um pouquinho sobre o que eu vou perguntar, sobre ideias que você tem pra fazer no futuro, mas eu queria que você falasse mais um pouquinho assim, seus sonhos para o futuro. O que você sonha que a sua empresa, por exemplo, pode chegar em outras cidades. Você já vende para outras cidades, mas, sei lá, abrir filiais em outros estados...
R1 – É que é assim: o que eu vendo para outras cidades é dentro do estado. Então, eu quero, meu sonho, é ter uma franquia de moda branca, né? Meu sonho é franquear a loja e vender franquias dela a nível Brasil, cara. Meu sonho é chegar e, tipo, eu vou por uma... e, assim, é amanhã, cara. Que nem, quero, sei lá, quando a gente fala em ganhar muito dinheiro, mas é ser próspero. Ter a liberdade financeira. Não quero ganhar muito dinheiro, passar em cima das pessoas e perder valores. Eu sou daquela seguinte opinião: eu valorizo as pessoas e uso as coisas. Então, assim, eu quero ser um empresário bem reconhecido. Quero ser um empresário, quero ter o sucesso, eu tô em busca do sucesso. Tenho vinte e três anos, tenho todo o potencial para chegar nisso. Hoje eu consigo dar um pouquinho de condição melhor para o meu pai e para a minha mãe. Eu consigo ajudá-los hoje. Então, é meu sonho, mas só que tem mais coisas, né? Que nem, dar uma casa para o meu pai e minha mãe. Eles moram na casa própria deles, é uma casa muito boa, com piso e tal, tudo normal. Só que a minha mãe tem vontade de morar num condomínio. Então, eu vou realizar esse sonho dela. Tô vendo pra comprar a minha casa, né? (risos) Então, agora, sete anos de namoro, a gente está vendo pra casar então, essas coisas. Então, eu tô comprando uma casa básica, mas também meu sonho é morar numa casa de condomínio. Meu sonho é ter uma “BMW” do ano. Então, assim, se for pra eu sonhar pouco, cara, eu não trabalho para os outros e nem levanto da minha cama, pra eu assumir a responsabilidade que eu assumo hoje, você entendeu? Então, assim, eu levo sustento para mais de vinte famílias, cara. Voce entendeu? Eu tenho uma responsabilidade muito grande nas minhas costas. Eu tenho pessoas que trabalham para mim, que tem filhos pra criar. Então, a responsabilidade é minha. O dinheiro é programado aqui de dentro, é eu que pago, cara. Na sexta-feira você pagar o salário de um funcionário, o cara vir: “Oh, obrigado”, ao receber o holerite. “Nossa, vou comprar um leite pro meu filho, vou comprar uma fralda”, sabe? É muito gratificante isso. Eu fico muito feliz, então você poder dar uma oportunidade. Que nem, eu peguei funcionário aqui, eu tenho funcionário que estava passando dificuldade, está há dois meses aqui comigo e é um puta de um funcionário, você entendeu? Então, voltando assim para o sonho, cara, é meu sonho crescer, ser grande, sabe? E transformar isso daqui em uma franquia de, no mínimo, cinquenta lojas. O objetivo é, em dois anos, ter cinquenta lojas dentro do Brasil. E, quem sabe, transformá-la numa holding internacional. Porque, lá nos Estados Unidos, cara... eu faço pesquisa de mercado, porque é assim, todo mundo fala: “Chega primeiro nos Estados Unidos e depois de uns três meses vem para o Brasil, né? Aí depois, no segundo tempo, estoura aqui o Brasil”. Então, tipo assim, igual o Iphone: estourou primeiro lá, depois de muitos anos estourou aqui no Brasil. Hoje é febre. Então, todo mundo fala que os Estados Unidos, realmente e China estão dez anos na nossa frente. Se eu for lá, com vinte e três anos, lá para os Estados Unidos, eu tomo vacina, já.
(01:22:35) P1 – É. É.
R1 – Se eu for pra passear. Lá está sobrando vacina, entendeu? Beleza, mas isso não vem ao caso. Só para você ver que é um país que está muito à frente do Brasil: economicamente, estrutura, de funcionário, tecnologia, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo. Então, cara, eu vou pesquisando muito lá. Que nem, eu digito no Google “loja de jaleco nos Estados Unidos”. Aí abre lá e você traduz, o Google te dá tudo hoje, cara. Então, você vai... eu vou pesquisar algumas coisas na internet e falo: “Cara, eu faço melhor e os cara racham de ganhar dinheiro lá. Cara, não tem os tipos de jalecos que eu tenho aqui e os cara racham de ganhar dinheiro lá com jaleco básico”. O jaleco básico que eu vendo aqui a oitenta e nove e noventa, eles vendem lá, tipo assim, convertendo, a cento e oitenta. Lá só usa o básico. Aí eu tenho médico que vai daqui pra lá e fala: “Ah, eu fui tentar achar, comprar jaleco lá, não compra. Não acha”. Quem quer ter um jaleco importado. Então, tipo assim...
(01:23:33) P1 – Tem mercado.
R1 – É, e outra: o meu público, Luís, é tipo assim, um público que pega o avião aqui no final de semana e vai pra Disney, entendeu?
(01:23:45) P1 – Sim. Sim.
R1 – Até por isso que é Coat Store. Então, é agasalho e jaleco em inglês. Porque meu público é um público premium. Sabe falar inglês. Eu tenho médico aqui que, meu pai do céu, se você parar aqui na frente da minha loja, você vê “BMW” aqui. Eu acho que é por isso que eu tenho o sonho de ter uma, porque “BMW” é mato aqui na porta da minha loja, entendeu? Então, tipo assim: carro “Mercedes”, nossa, aquele “Chrysler”. Existe três aqui em Rio Preto. Um é a dona da Itamarati, a esposa do dono da Itamarati, que faleceu, tem todos os ônibus da Itamarati, os ônibus circulares. Um é dela. Um é de uma cliente minha que o marido dela é cirurgião plástico, ela é médica também, um é dela, cliente que vem aqui. Então, tipo assim, cara, então tem dinheiro, cara. Um povo tem dinheiro. O banco do carro sai ar-condicionado, regula, deita, inclina, dirige, tem sensor e tudo o mais. Então, o meu público é um público que tem dinheiro. E aí você vai, o cara vai lá fora: “Ah, vou comprar jaleco nos Estados Unidos. Vou levar e vai revolucionar isso lá no Brasil, né?” Isso é feedback de cliente, cara. O cara chegar e falar: “Não, isso daqui é roupa para secretária, isso daqui é roupa para dona de casa”, que eles falam lá, né? Aquelas babás que cuidam lá, que lá é muito amor. Então, cara, não tem, não tem. Então, tem necessidade do mercado lá. E assim, cara, aquele jeitinho brasileiro, de criar, aquele jeitinho industrializado, tem coisa ali que não tem como ser industrializado, cara. É feito na mão, com capricho. Então, sabe, é um negócio assim feito com amor mesmo, sabe? É a experiência. Isso, no meu sonho, cara, são cinquenta lojas dentro do Brasil, que aí eu já tenho pontos estratégicos, né, também porque senão fica um do lado do outro. Mas o máximo de cinquenta lojas no Brasil e aí, depois, na hora que eu tiver essas cinquenta lojas, aí eu vou pra fora. Vou para os Estados Unidos, pôr pelo menos duas lojas lá. Só que aí nós temos que estar com a “holding”, com a “holding” internacional. Aí, tipo assim: é projeto para trinta anos. Para daqui uns trinta anos. Só que tem de ser planejado hoje, já feito hoje. Começa a ser construído hoje. Senão, não tem como pular a ponte.
(01:26:00) P1 – Sim. Mas acho perfeitamente... o teu ramo é muito interessante, porque em todos os lugares tem médicos, todos os lugares tem hospital, então você já está com...
R1 - Hum, hum. Exatamente.
(01:26:16) P1 – Caio, você tem mais alguma coisa que a gente não perguntou, que você gostaria de falar? Porque, às vezes, a gente percorreu quase a sua vida inteira, mas |às vezes tinha alguma coisa que você fala: “Pô, eu gostaria de falar aquilo e eles não perguntaram”. Tem alguma coisa?
R1 – Cara, que é assim: uma coisa que eu gostaria de falar, que depois isso daí vai ser publicado, mas só que é para o pessoal mais novo do que eu, que está no mercado, cara. Infelizmente é um público que não está interessado, um público que não está muito a fim, cara. E é igual eu te falei: eu achei que eu não poderia também. Eu achei que eu não era merecedor. Eu achei que eu nunca poderia ter o que eu tenho, sabe? Não tenho muito, mas o pouco que eu tenho é muito do que a sociedade tem, entendeu? Então, hoje poder ter uma condição assim, não sou: “Ah, sou rico?” Não. Mas eu levo uma condição de classe média alta, você entendeu? Então, eu não passo vontade das coisas, eu tenho minhas coisas, só que é para a juventude, cara, porque eu contratei dois jovens aqui e não têm interesse. Dei oportunidade de crescer na empresa, igual me deram. Assim: eu quero dar essa oportunidade para esses jovens, quero dar essa oportunidade igual me deram, porque foi difícil na minha época, não era toda empresa que contratava um moleque de quinze anos, não é toda empresa que contra uma pessoa de dezesseis anos. E eu falei assim: “Do jeito que me deram essa oportunidade, me deram essa força, eu quero dar para as outras pessoas também”. Só que eu dei oportunidade e não foi correspondido, você entendeu? Então, é para a juventude que está vindo, cara, abraçar as oportunidades. Trabalhar não é vergonha, estudar não é vergonhoso. Se você não gosta de estudar, então vai trabalhar igual eu fiz, vai aprender na raça, vai aprender na dor. É um caminho mais sofrido, só que eu não gosto de estudar e hoje, cara, que eu tenho vinte e dois, vinte e três, né? Vou fazer vinte e quatro o mês que vem. Com vinte e três anos que eu fui ler o meu primeiro livro inteiro na minha vida.
(01:28:21) P1 – Olha!
R1 – Com vinte e três anos nunca peguei um livro e li um livro inteirinho. Sempre começava e parava. Sempre começava e parava. E hoje eu peguei o gosto, olha lá o tanto de livro que eu tenho lá na minha coisa. E é tudo aqueles... não sei se vai dar pra você ver, só que é tudo dentro do empresarial.
(01:28:41) P1 – Sei. É da sua área. (risos).
R1 – É na minha área, exatamente. Então, cara, é assim: conhecimento está muito fácil hoje. Hoje você... então, eu vim do Ceasa, trabalhava de madrugada, debaixo de chuva, debaixo de chuva. Eu trabalhava debaixo de chuva. Duas horas da manhã, chovendo e eu estava trabalhando debaixo de chuva. E, assim, eu tenho foto minha (risos) molhado, mandava para a minha mãe, para o meu pai, às vezes. Natal mesmo, eu virava a noite lá. Virava a noite, tipo assim: entrava dia vinte e três para trabalhar e saía dias vinte e cinco. Ou no dia vinte e quatro, duas horas antes do Natal. Tomava um banho e ia para o Natal, você entendeu? Então, faz parte do processo. Só que a garotada, hoje, quer o quê? Farra. Quer o quê? Quer curtir o final de semana. E o final de semana acaba, né? Tua vida não. Tua vida vai acabar, só que você tem muito chão pra lenhar, ainda. Então, eu dei oportunidade...
(01:29:38) P2 – Caio, e dessas leituras que você faz, assim, quem que te inspira? Quem que é o empresário brasileiro, assim, que te inspira? Ou estrangeiro, assim? Quem que você tem como inspiração?
R1 – Deixa eu até pegar aqui. Esse cara aqui. Esse aqui é o Dary Avanzi.
(01:30:06) P2 – Dary Avanzi?
R1 – Isso. Ele que me ensinou o que é “holding”. Esse aqui é um manual de motivação diária, mas só que você vê o conteúdo dele, ele faz live no Instagram dele, de empreendedorismo. Ele tem uma empresa que atua em três continentes. E hoje eu tenho o prazer - o cara é multimilionário, o cara, assim... - do cara vir tomar café aqui comigo, na minha empresa. E me ensinar. Ele que me ensinou o que é uma “holding”, ele que me ensina sobre um pouco de investimentos, me dá alguns conselhos. O primeiro livro que eu li foi esse daqui, do Caio Carneiro.
(01:30:41) P1 – “Seja Foda!”. (risos)
R1 – “Seja Foda!”. E está até nas minhas coisas que eu tenho, “Seja Foda!”. E esse daqui, eu não tenho o primeiro dele que eu li, que é o Michael Gerber, ele tem vários livros, esse daqui é “Sua Ideia Vale um Negócio”. Ele tem “O Mito do Empreendedor”, que é onde ele ensina a delegar, onde ensina... ele fala todo o processo, cara. De falido a milionário, você entendeu? Então, o “Sua Ideia Vale um Negócio”, porque você tem, às vezes, uma ideia muito boa, mas só que, às vezes, não é um negócio lucrativo, igual o McDonald’s. O McDonald’s, não sei se você já assistiu o filme “Fome de Poder”, mas o filme “Fome de Poder” não... muito anos. Quando comprou, o que dava dinheiro para o McDonald’s não eram os lanches, o lanche não era o negócio do McDonald’s. O que dava dinheiro para o McDonald’s era o aluguel do terreno onde era feita a franquia. Então, se for ver, o McDonald’s é o quê? É uma hamburgueria. Mentira, o McDonald’s era uma imobiliária. Hamburgueria era fachada, que vendia o lanche, mas só que o que ele ganhava dinheiro, ganhava dinheiro mesmo, era com o aluguel dos terrenos para as franquias. Mas hoje... pode até ser isso daí e assim: quem fundou o McDonald’s não é o dono do McDonald’s hoje, né? Não é o que transformou o McDonald’s em tudo isso. Então, são dois irmãos que ficaram pra trás lá na primeira franquia do McDonald’s. Então, desenvolveu todo o negócio e pôs na mão de uma pessoa e essa pessoa tomou a franquia deles num aperto de mão, entendeu? Então, assim, sabe, cara, então é o conhecimento, sabe? Então, às vezes, eu tenho o meu negócio, então, às vezes, o meu negócio não é vender jaleco, mas sim vender a experiência para o meu cliente. Então, eu tenho que vender uniforme, eu não vendo uniforme, eu vendo solução em uniformes. Então, tem que entregar uma solução para o cliente. E é isso: é falar da venda, fazer a venda, sem ser a venda, entendeu? Sem falar do produto e do valor. Eu gosto de fazer vendas, eu estudo muito vendas também, eu tenho... hoje o livro que eu estou lendo é “O Segredo do Lobo de Wall Street” e aí é pra venda. Então, ali ensina que a gente tem três pessoas: primeiro você se vende, depois você fala do seu produto e a última coisa que você vai falar é o preço. E eu faço isso: a última coisa que eu falo é o preço do meu produto. Nem preço, o valor do meu produto. “Ah, mais o teu é dez reais mais caro” “Então, só que o meu vai passado, o meu vai com cheirinho, vai com ajuste, vai em embalagem individual. Você não vai ter problema, eu venho aqui tirar a medida, eu fico aqui, planilho, te ajudo em tudo”. Você entendeu? Então, é isso daí que a gente fala hoje. E as minhas leituras, cara, é tudo nessa parte aí institucional. “Pai Rico, Pai Pobre” também. Mas só que o Dary, para mim, cara, é assim: era uma pessoa que eu não imaginava, é uma cara que tem muitos seguidores nas redes sociais, um cara famoso, multimilionário, mas só que ele quebrou também, ele quebrou uma época. Então, por isso que ele começou a se expor, porque ele se reergueu e ele tem uma empresa que atua em três continentes. Ele tem uma empresa que atua aqui no Brasil, na Europa e na Argentina, acho, no Uruguai. Ele tem a “holding” que atua em diferentes continentes, em diferentes países.
(01:34:10) P2 – Caio, e assim, com tanta responsabilidade e tão novo como você é, com tanta responsabilidade, o que você faz nas horas de lazer, assim? Eu sei que está no meio da pandemia, mas o que você gosta de fazer para relaxar? Para dar uma desanuviada do dia a dia?
R1 – Eu estava... eu jogava bola, né? Rachava no final de semana, aí veio a pandemia e aí virou bike. Eu comprei uma bicicleta, pra fazer trilha de bicicleta. E é igual eu falei pra ele: no final de semana, assim, eu tiro pra jantar com os amigos ali, com a família. Vou assistir um jogo, um futebolzinho que a gente gosta, torcer para o Palmeiras e tal. (risos) Palmeirense (risos), então a gente assiste um jogo, passa um nervoso, mas o final de semana também eu uso pra trabalhar, às vezes. Pra trabalhar, pra estudar. Eu estudo, vou criar alguma... desenvolver alguma coisa. Mas o que eu gosto mesmo de fazer para relaxar é jogar uma bola e uma, a gente fala assim, aquela conversa de besteira com os amigos no final de semana, aquela resenha, né? (risos).
(01:35:15) P2 – (risos) Almoça com os amigos, né? Maravilha!
R1 - É, porque é tipo assim: aí você não fala de empresa, você não fala de serviço, porque é assim, eu tenho a minha mãe, minha mãe trabalha comigo e aí, às vezes a gente vai embora e chega lá em casa já começa a falar: “Não, vamos virar a chave? Vamos virar a chave? Não vamos falar da empresa agora não? Não vamos falar de serviço agora não?” Então é... só que, dependendo das amizades que você tem, porque eu tenho outros amigos que têm empresa, acaba se tornando meio que um laço, você convida é quem você faz amizade. E aí você vai ver seus amigos, às vezes acaba virando um assunto de conversa, só que aí é um interesse de conversa gostoso, porque aí é você trocar experiência, um “networking”: “Ah, eu faço tal coisa lá na minha empresa que dá certo, que dá isso e isso”. Aí você fala: “Nossa, verdade, eu posso adaptar isso pra minha empresa”. O cara, às vezes, tem uma oficina, uma autopeça. Eu tenho um amigo meu que tem loja de pedraria, né? Que pedraria que a gente fala é pedra pra acabamento, sabe? Aquelas pedras ferro, chama pedregal. Então, lá é uma outra realidade, o dele é construção civil. Então, tipo assim, às vezes eu pego muita ideia com ele, ele pega comigo, como posicionar, sabe? Porque o produto dele não tem como ser vendido on line, então, tipo assim: como é melhor posicionar no presencial? Porque hoje o on line está muito forte. Então, eu até o ajudei com uns negócios de... ele começou a vender pedra pra enfeite. Pra... que nem, tem gente que tem bonsai em casa, tem aqueles bonsaizinhos, cactozinhos. Ele começou a vender na internet aquilo lá. Eu falei assim: “Faz os pacotinhos, já com pesinho e tal, você divide por quilo e tal”. Um negocinho que você vende baratinho e, assim, um negócio que às vezes ele não tinha e que hoje gera uma receita pra ele aí, na semana, de três, quatro mil reais. Se for ver, já livra a conta de água, às vezes energia, algum custo fixo. Então, a gente acaba tendo... eu gosto muito dessa conversa, desse... e jogar bola. Na hora que voltar, a gente... nossa Senhora, eu quero voltar a jogar bola, que faz dois anos que está parado e um esporte, que eu gosto muito de esporte. Eu gosto muito de esporte.
(01:37:15) P1 – Aí em Rio Preto você torce para o América ou para o Rio Preto?
R1 – Eu torço para o Rio Preto. Aqui em Rio Preto eu torço para o Rio Preto, sou rio-pretinho. É que eu sou palmeirense, é verde e branco já, então já... e o Rio Preto eu tenho amigos que trabalham, que já trabalhou lá, como professor de educação física, fez estágios, às vezes alguma coisa e amigos que jogaram. Que nem, a molecada que chegou a jogar lá e a gente acaba tendo uma certa amizade, mas eu torço pra eles, até porque o Rio Preto era mais fácil de eu ir, tipo assim: eu estava meio que indo para o Centro mesmo e já ia na Copinha lá assistir e por ser um time mais que leva o nome da cidade mesmo também, né? Não é nem questão assim, porque não é nem bem disso, mas carrega o nome da cidade.
(01:38:10) P1 – Sim. Eu achei bonito o estádio. Eu gosto de estádio pequenininho, que nem o do Juventus, né?
R1 – É, fica do lado de um shopping. Tipo assim: bem numa área bem nobre da cidade. E é um estádio pequeno, acanhadinho mesmo, a gente só precisava ter uma administração melhor nele ali.
(01:38:28) P1 – Caio, eu gostaria de te agradecer muito pela entrevista, foi muito legal...
R1 – Eu que agradeço.
(01:38:35) P1 - ... foi uma entrevista única, porque você é muito novo ainda, você explicou direitinho, assim, o trajeto de sucesso, acho que você acertou no alvo mesmo. Em Rio Preto tem muito hospital. Eu nunca vi tanto hospital junto como eu vi aí e eu te desejo toda a sorte do mundo!
R1 – Obrigado.
(01:38:56) P1 – E nosso fotógrafo em Rio Preto vai te ligar, porque agora ele não está indo por causa da pandemia, mas daqui há umas semanas, para combinar contigo de fazer uma sessão de fotos aí, com você, sua mãe ou os funcionários, aí na empresa, para poder compor o nosso acervo, tanto da exposição, quanto do livro que vai sair. E ele entra em contato com você. Tá bom?
R1 – Combinado. Combinado.
(01:39:27) P2 – Caio, eu também agradeço a entrevista e tudo, mas eu vou fazer uma última pergunta, pra gente encerrar. Você é muito novo, mas você tem uma trajetória riquíssima, já. É como o Luís Paulo falou, né? O que você achou de ter dado essa entrevista contando a sua trajetória, a sua história, para ficar registrada para a posteridade?
R1 – Ah, achei uma oportunidade única, né? Tipo assim: às vezes as pessoas acabam menosprezando a gente jovem, você entendeu? Muitas vezes as pessoas falam assim: “Nossa, mas...”. Hoje, como eu me exponho, às vezes a pessoa fala assim: “Mas também é de herança. É herança, é negócio que vem de família, veio dos seus avôs, dos seus pais, você tá assumindo agora?” “Não, é construído de mim, a partir de mim”. Então, eu achei muito legal essa oportunidade e depois, na hora que sair lá, eu vou querer usar como “storytelling” também. Até mesmo para ganhar rede social, né? Então, a gente... eu já estava pensando em fazer uma “storytelling”, então eu achei muito bacana. Uma oportunidade única. Então, eu gostei muito, fiquei muito feliz e agradeço pela oportunidade.
(01:40:30) P1 – Tá bom, então, Caio.
(01:40:31) P2 – Maravilha! Obrigada!
(01:40:33) P1 – Muito obrigado.
R1 – Obrigado vocês.
(01:40:35) P2 – Eu vou pedir só para o Caio, eu vou pedir para o Caio, videomaker, desligar a gravação...