História de:
Olívia Freitas
Autor:
Olívia Freitas
Publicado em:
26/07/2015
O vídeo "Haiti, a viagem", narra a história da relação da jornalista Olívia Freitas com o Haiti. Abordando desde o "descobrimento" dela com a temática, em 12 de janeiro de 2010, dia em que o país foi atingindo severamente por um terremoto, o início da faculdade de jornalismo, a primeira reportagem com imigrantes haitianos em São Paulo até os bastidores da esperada viagem à capital Porto Príncipe, em março de 2015. A história foi contada durante a formação StoryA em digital storytelling oferecida pelo Museu da Pessoa, de 16 a 19 de julho de 2015, com financiamento do Erasmus Mundus Fund.
Meu nome é Olívia e essa é minha história…
Ela começou em 12 de janeiro de 2010, inconscientemente. Naquele dia aconteceu uma das maiores tragédias deste século, um terremoto muito forte atingiu o Haiti. Mais de 200 mil pessoas morreram e outras 1,5 milhão ficaram desabrigadas.
Na época, eu era operadora de telemarketing e vendia assinaturas de um grande jornal. Fiquei muito chocada com as notícias e fotos que vinham do Haiti. Dá uma sensação de impotência. Depois de algumas semanas da tragédia, o fato já não interessava mais a mídia.
Entrei no curso de jornalismo. Em 2012, fiz um curso de jornalismo em situações de conflitos armados, e nessa época, o fluxo imigratório de haitianos estava começando a se intensificar em São Paulo, conversei com quatro deles para escrever uma matéria. Aquilo me marcou. Dali em diante, continuei a ler, pesquisar e fazer reportagens sobre o Haiti.
O trabalho dos militares brasileiros na Minustah, Missão da ONU no Haiti, acabou virando o tema do meu TCC, escrevi um livro. Eu vinha tentando ir para o Haiti, conseguir uma viagem. Então, eu ficava sempre no 'pé' do Ministério da Defesa para tentar ir ao país.
A viagem ia acontecer em junho, mas teve a Copa e a segurança no país precisou ser reforçada. Algumas vezes eu tive o alarme falso da viagem. E nada da tal viagem.
Quando foi 2 de março deste ano, de manhã, vi o DDD 61 no meu celular, que é de Brasília, não sei o que era, mas eu senti, tive a certeza que era uma boa notícia. ‘Alô, Olívia. E aí, ainda quer ir pro Haiti?’, disse o coronel. Tive que correr contra o tempo, foram uns 15 dias para preparar tudo, conversar com o chefe, criar e as pautas, marcar entrevistas, falar com os haitianos aqui.
Uma das minhas principais pautas no Haiti era reconstruir histórias de famílias que estão separadas, dos que vivem aqui para trabalhar e dos que estão sendo beneficiados com isso por lá.
Dos haitianos que entrevistei em São Paulo, a Abel foi uma que me marcou muito. Ela tem no braço até hoje cicatrizes de quando ficou soterrada no terremoto. Mas não é por isso, como a maioria do povo haitiano, que ela deixa de exibir um sorriso no rosto. Mas isso some quando ela fala dos dois filhos, de 8 e 12 anos, que não vê há três anos. A Abel não consegue trazê-los para cá para por uma série de burocracias do consulado, de documentos que não têm.
Então, eu desembarquei no Haiti em uma terça-feira, na quarta fui para rua. Por mais que você lê, se informe--fiquei três anos fazendo isso, mas pisar e sentir o cheiro do lugar é outra coisa. É intenso. Mas essa é a função do jornalismo, comunicar. A gente não muda o mundo.
Então, chegou o dia de conhecer os filhos da Abel, que vieram de longe, oito horas de viagem. Acho que nunca vou esquecer do olhar vazio e triste da Marthilinda, do choro dela ao falar da mãe. Um choro que se encontrou com o da mãe, sem saber.
No jornalismo, a gente não deve se envolver com as histórias, o que não é fácil, somos humanos. Voltei. Escrevi as reportagens. E a Abel ficou bem feliz com o meu trabalho, uma semana depois o consulado chamou seus filhos para agilizar o visto. Mas ainda não deu certo, ela teve problemas com os documentos.
Depois do Haiti, as coisas mudaram. Em toda reportagem, a gente amadureci profissional e pessoalmente um pouquinho, mas essa foi um 'poucão'. Hoje, eu reclamo menos da vida, do transporte lotado… admiro ainda mais o povo haitiano, amo mais minha profissão e tenho a certeza do quão importante ela é para a sociedade.
Ah, o Haiti, você sai do Haiti, mas o Haiti não sai de você. E eu quero voltar.
Odilson de Souza Lima (Seu Amazona)
por Museu da Pessoa
Hana Sukerman
por Museu da Pessoa
Parisio Silva
por Museu da Pessoa
Francisca Azevedo de Almeida (Célia)
por
Antonio Calcagniti
por Museu da Pessoa
Mauirá Zwetsch
por Museu da Pessoa
Museu da Pessoa está licenciado com uma Licença
Creative Commons - Atribuição-Não Comercial - Compartilha Igual 4.0 Internacional