Fredi Jorge tem lembranças de uma infância feliz. Claro que alguma coisa ficou no terreno das frustrações. Como a falta de estímulo para a música, talvez algumas incompreensões. Mas foi bom se sujar de barro; andar de BMX numa roda só; comer jabuticaba, brincar de cabana. Não demorou muito tornou-se viajante e escritor: o primeiro livro de poesia e muitas viagens astrais. A música estava no sangue, surgiu como adrenalina; de tão intensa, cansou. Quando viu tinha um filho, precisava virar o jogo, amadurecer. Descobriu encantos na serenata. E sentimentos com os quais se identificou. Construiu ali a sua história, adicionou tudo o que a sua imaginação lhe permitia e lhe pedia. Dançarinos, romantismo, poesia, bom humor, emoção. Coleciona histórias de como a música, a expressão artística se caracteriza por um poder transformador.
Programa Conte sua História (PCSH)
Fredi Jon, da arte do agito até a arte da emoção
História de Fredi Jorge Silva Oliveira
Autor:
Publicado em 00/00/0000 por Ane Alves
Programa Conte Sua História
Depoimento de Fredi Jorge Silva Oliveira
Entrevistado por Monalisa Santos e Genivaldo Cavalcante Filho
São Paulo, 01/03/2019
Realização Museu da Pessoa
PCSH _ HV735 _ Fredi Jorge Silva Oliveira
Transcrito por Liliane Custodio
Revisado e editado por Paulo Rodrigues Ferreira
P/1 – Então, Fredi, eu queria agradecer, em nome do Museu da Pessoa, por você ter disponibilizado seu tempo e ter vindo aqui hoje, neste dia chuvoso. Muito obrigada.
R – Obrigado a vocês pelo convite e também por a gente poder estar junto aqui, poder falar um pouco dessa história, que vocês vão gostar, porque tem muita coisa legal para contar.
P/1 – Com certeza. Primeiro a gente começa com essa pergunta de praxe, que é para saber o seu nome, a data de nascimento e o local de nascimento.
R – Está bom.
P/1 – Pode ir.
R – Bom, eu nasci no dia 03 de julho de 1967, eu sou Fredi Jorge Silva Oliveira, eu coloquei Fredi Jon de acordo com a numerologia, isso deu um resultado que é interessante. O meu amigo Antônio Carvalho, da Rádio Bandeirantes, falou que Fredi Jorge não era um bom nome para se colocar artisticamente, então eu acabei colocando Fredi Jon, porque dentro dos parâmetros, feitas as contas lá, o Jon dava resultado muito legal. E deu mesmo, no fim das contas.
P/1 – Mas você sabe o porquê do seu nome mesmo? Sabe por que seus pais colocaram esse nome em você?
R – Na verdade, foi uma coisa ao acaso. Porque era para eu ter sido registrado como Rogério Jorge. Chegou na hora de escrever, o escrivão falou assim: “Não, seu Jorge, Rogério não é um bom nome, não. Por que o senhor não coloca uma coisa mais artística? Vai que o menino dá certo na Arte”.
P/1 – Olha!
R – “E quem sabe o senhor coloca o nome de um artista, ou de um compositor. O que o senhor acha de Fredi Jorge? É o cara que escreve as letras para o Roberto Carlos”. Meu pai falou assim: “Espera aí, é legal esse nome aí” (risos). Levou para a minha mãe: “O que você acha, mulher, de a gente colocar Fredi Jorge em vez de Rogério Jorge?” Falou assim: “Pode ser uma boa troca mesmo”. Aí colocou Fredi Jorge - Fredi mesmo, não é Frederico abreviado, é Fredi.
P/1 – Fredi mesmo. Decidiu na hora.
R – É.
P/1 – Então... Já entrando nos seus pais, no assunto dos seus pais, você pode falar, por favor, os nomes deles?
R – Sim. Meu pai é Jorge da Assunção Oliveira e a minha mãe é Hermínia da Silva Oliveira, os dois já falecidos, em 2008.
P/1 – E você sabe a história deles? Como eles se conheceram? De onde eles vieram?
R – Olha, o meu pai veio de uma família muito simples, muito humilde também, mas é daqui. Para você ter uma ideia, eu comia na casa da minha avó, num fogão a lenha, que ela fazia as coisas todas lá; para você ter ideia de como era simples. Eu tocava a campainha do meu avô, não era com campainha normal que a gente ouve - o dlim dlom - era um sino. Eu tocava um sino mesmo, meu avô aparecia na porta e a gente entrava. Meu pai era por aí, coisas assim bem antigas, coisas de fogão a lenha, andar no chão dentro de casa, que ainda era chão rústico, de terra. A minha mãe não, a minha mãe já veio de uma família portuguesa - a minha avó tinha descendência portuguesa. A minha mãe, então, ficou muito com essa influência do meu avô também, que era português, por parte da minha mãe. E por parte do meu pai, os dois avós eram italianos e tinha alguma coisa de índio no meio, eu não me lembro de quem é. Mas assim... É muito engraçado, porque eram os opostos em casa, assim, atitude e tal. E deram certo, ficaram a vida inteira juntos. A gente só não conseguiu fazer bodas de trinta e cinco porque... Não, bodas de... É, bodas de trinta e cinco, ou um pouco mais, porque eles morreram antes. Mas estavam lá.
P/1 – Estavam juntos.
R – Estavam juntos.
P/1 – E você teve contato com os seus avós?
R – Sim. Com os dois.
P/1 – Teve? Como foi esse contato na infância?
R – A minha avó, por exemplo, a minha avó materna tinha muito ciúme da minha avó paterna, porque a minha avó paterna era benzedeira. Então, chegava gente doente na casa da minha avó, aí: “Não, o que você tem aí? Não, fique tranquila, você vai sair bem dessa”. Chegava lá, fazia umas benzeções - que hoje não tem mais isso, estão em falta essas coisas, o médico da floresta. Chegava lá, fazia lá, tal, rapidinho curava. Então, a minha avó era a sensação do bairro dela, porque ela fazia as curas lá. E o meu avô era um cara muito simples, ele falava com você, cuspia no chão, chão de terra, mas ele não estava nem aí. E o meu pai, assim... Meio que me acostumou também lá a ficar muito no receio de não acender a luz; se oferece comida, não coma. Então eu falei: “Pô, mas...”. Sabe o “não pode, não pode, não pode, não pode”? Numa família tão simples, não combina. Eu falei: “Tudo bem”. Mas a gente cresce nesse ambiente e fala: “Bom, então não é muito legal ir lá, porque eu não posso fazer nada lá mesmo”. Então não ia muito lá. E a minha avó por parte da minha mãe também já não gostava dessa minha avó porque ela era benzedeira, porque minha avó materna era cristã. Então você viu, não é? E eu cresci muito com a minha avó materna, porque era muito longe a escola em que eu estudava, aqui na Zona Oeste, aqui no... Não, Zona Sul, porque era ali, em Caxingui e Vila Sônia, já é Zona Sul. Então, eu morei muito tempo com a minha avó lá. Por causa da escola, eu fiquei muito aqui também.
P/1 – E quais eram as profissões dos seus pais? Do que eles trabalhavam? Quais eram as ocupações?
R – A minha mãe era dona de casa, ela já foi cabeleireira, já foi costureira. O meu pai teve uma oficina mecânica, mas não deu certo, porque... (risos).
P/1 – (risos).
R – O meu pai deixava as coisas assim: “Ah, você não tem grana, não tem problema, depois você paga, não sei o quê”. Todo mundo deu calote no meu pai, meu pai acabou indo à falência, fechou a oficina. E aí virou corretor de imóveis. Então, tinha hora que vendia para caramba, tal, tinha época que não vendia nada - a gente vivia assim nesses altos e baixos. Ou era pindaíba para caramba, ou era uma coisa melhor; nunca demais de bom. Mas assim... E eu sempre gostei muito de música, desde aquela época em que eu era muito pequeno. Também por essa questão toda de viver altos e baixos, eu não tive incentivo, não tive condição de ter incentivo musical: “Você vai estudar para ser isso ou para ser aquilo”. Então fiquei sempre na vontade, desde pequeno. Era por aí.
P/1 – Esse seu interesse por música desde pequeno teve alguma influência da família? De onde veio?
R – Nenhuma, Monalisa. Nenhuma. Todo mundo era contra isso. Meu pai falava assim: “Música e mulher, só faz sucesso quando é novo. Não entra nessa que é uma roubada. Você tem que ser...” – como ele falou? “Funcionário público. Você tem estabilidade, você fica lá para sempre, tem o seu salário lá, está tudo certo, não tem erro”. Então, a gente foi acostumado a criar lá nos anos 70, você engolir essas coisas, de que sempre a estabilidade você tem que preservar. Se você gosta disso ou não, isso é secundário. O negócio é estabilidade. Então, foi essa situação, desde pequeno, que eu ouvia bastante. E sim... Eu sempre gostei muito de música. Eu sempre gostei muito de música e de uma coisa que eu não entendia o que era. Eu pegava aqueles livros lá do Bhagavad Gita, esses indianos, livros tibetanos, tal, eu achava muito louco, aquela capa toda desenhada, exotérica, aquele monte de coisas, falava assim: “Nossa, que coisa louca isso, cara”. Então, eu vivia entre um mundo e outro. Eu vivia curtindo a música dentro da minha cabeça, do meu sentimento, sendo uma coisa que eu queria fazer, que era isso que eu queria fazer e não tinha como fazer. Como eu ia fazer aquilo? Eu não tinha incentivo, nem nada. E alguma coisa que me impulsionava, algo além, que depois eu vou contar por que eu comecei essa história aqui, agora.
P/1 – Então, eu queria voltar um pouquinho. Eu queria saber se você tem história sobre o dia do seu nascimento.
R – Ah, sim, tenho. Foi uma coisa meio trágica, Monalisa. Porque assim... Era para eu me chamar Pedro, porque eu ia me chamar... (risos). Tem vários nomes que eu ia me chamar. O Rogério Jorge, se tudo desse certo. Se eu nascesse na época certa, ia me chamar Pedro, porque viria perto do dia de São Pedro. E nada de eu nascer no dia de São Pedro, nada de eu nascer no outro dia, e nada no outro, no outro, no outro. Aí meus pais preocupados: “Vamos ver o que está acontecendo”. E fui meio que tirado à força. Então, eu fui nascido de cesárea, eu nasci e quase morri. Não nasci chorando, não nasci branquinho, nasci vermelho, roxo e, como te falei, cheio de placenta. E eu já estava mais para lá do que para cá. Isso porque, chegou no momento da concepção, o médico falou assim: “Olha, dona Hermínia, a gente está com um quadro meio delicado aqui. Na verdade, a gente tem aqui para dizer para a senhora o seguinte: das duas uma - ou a senhora se salva, ou o seu bebê, os dois vai ser muito difícil”. Então, minha mãe já estava prevendo que ia ficar só um dentro de casa, não dois. Eu sei que, num milagre, não sei como aconteceu, entrou um chefe de médicos lá na cirurgia, que ele assumiu o caso, que era difícil, e ele colocou ordem na casa no momento, então salvou - me salvou e salvou minha mãe. Mas, como eu te falei, como eu recebi oxigênio para nascer, então minha vista esquerda ficou deficitária. Eu tenho uns vinte ou trinta por cento só de visão esquerda, eu não tenho total visão nos dois olhos. E, como eu falei, eu não nasci normal e isso acabou acarretando uma coisa interessante: porque até os meus vinte e poucos anos, eu sonhava que estavam tirando grandes catarros de mim. Eu falei: “Mas que coisa estranha”. Até que eu contei para a minha mãe. Um dia, eu falei: “Olha, mãe, eu tenho esse sonho assim, assim”. Falou assim: “Isso aconteceu, com certeza, porque como você estava roxo, já não ia nascendo, você devia querer respirar. Então era uma forma de você entrar no mundo, você tentar respirar para o mundo, e aquilo tudo estava em cima de você, tal”. Quando eu descobri a fórmula, o porquê disso daí, eu parei de sonhar com isso. Olha que louco.
P/1 – Resolveu.
R – Você viu como a memória do parto é interessante? Você a carrega para o resto da sua vida. Se ela foi boa ou ruim, você vai descobrir no resto da sua vida, mas você carrega as sensações. E a gente sabe que a música é tão importante dentro da gente que, quando a mãe ouve a música antes de o filho nascer, tem toda uma diferença no feto. O feto tem outra recepção para o mundo, ele sente diferente, ele vibra diferente, a mãe sente diferente, porque entra na corrente celular. A música é atômica. A transformação dela é atômica mesmo, então é muito louco. E eu já tinha isso comigo, então... Por isso que eu falo: esse momento foi assim meio crucial - tudo ou nada. Eu quase não vim. Fui tirado dia três de julho, quando era para eu ter nascido em junho, lá no final.
P/2 – E você tem irmãos?
R – Eu tenho uma irmã mais nova que eu cinco anos, chama-se Roseli. Quer que eu fale dela?
P/1 – Por favor.
R – A Roseli, ela nasceu depois de cinco anos, também sempre seguindo os meus passos. A gente conversava... A gente tinha aquela coisa. A minha irmã, no começo, a gente ficava meio enciumado porque... Você era filho único, de repente tem que dividir a casa com mais um, uma atenção a mais, tal. Eu lembro que tinha um pouco disso lá em casa. Eu sei que a minha mãe vivia reclamando, porque eu gostava de zoar com a minha irmã que era uma beleza. Tudo aquilo que era de coisa ruim, eu fazia com a minha irmã (risos).
P/1 – (risos).
R – Até chegar ao quarto assim... Por exemplo, estava tudo arrumadinho, bonitinho, então eu colocava tudo de cabeça para baixo. Colocava o abajur de cabeça para baixo, as roupas todas espalhadas na casa, parecia um cenário Poltergeist, sabe? E eu fazia tudo assim, ela ficava “pê da vida”, ficava com a minha mãe, falava com a minha mãe, minha mãe vinha e me dava uma surra. Falava: “Ah, é? Então já que eu apanhei, você vai se ferrar, porque da outra vez eu vou fazer pior”. E acabava nessa coisa. Então, a gente foi criado meio aos tapas e beijos, trancos e barrancos, mas foi divertido o convívio, porque tinha essa coisa das intensidades, mas a gente... E eu zoava, ela gostava e tinha coisa que a gente fazia sem maldade também. Por exemplo, você fala hoje para uma pessoa que você vai brincar de
boneca com a sua irmã, por exemplo, e vai fazer outra boneca sair de dentro do boneco, hoje você já sabe, é assim mesmo que funciona; na época, não. Na época, era brincadeira intuitiva. E colocava um em cima do outro. Então, minha avó já achava que já existia um incesto, aquela coisa. A visão de algumas pessoas de casa... Por que minha avó falava isso? Porque minha avó foi pisoteada. Quando ela veio de Portugal para cá... Minha avó tinha uma mãe e mais outros irmãos, e a mãe dela brigava muito com ela, a jogava no chão, batia nela e pisava em cima dela. Então, minha avó foi uma pessoa que foi violentamente castigada e ela trouxe isso com ela para o Brasil. Eu vivia com ela, então eu vivia essa coisa do “tem que saber lidar, tem que saber falar”, e tal. Ela gostava de mim, a vantagem era essa. Porque ela tinha companhia, eu era bonzinho. Para ela, eu era bonzinho. Eu não era bonzinho para a minha irmã, mas para ela eu era bonzinho. Então, a gente se dava bem. Eu gostava de ver várias cenas minhas, na infância e adole scência, que era: eu poder jogar bola, me sujar todo de lama, de barro, vir para casa todo sujo, para depois tomar banho. Quando você faz isso hoje em São Paulo? Onde você tem campo em São Paulo para você fazer isso, para você se sujar? Andar de bicicleta, suar, voltar às vezes com a perna toda arrebentada porque você caiu, mas nenhum carro o atropelou. E você fez passeio ciclístico para caramba em São Paulo. Eu fiz muito passeio ciclístico em São Paulo, na época. Anos 80. Ainda era... Eram rumores de como andar em São Paulo, de bicicleta. Então, a gente pegou a Avenida Cidade Jardim ainda em construção, andando por cima dela, sabe essas coisas? Andava no passeio ciclístico do Ibirapuera também. No começo, quando eu não tinha a minha bicicleta, eu andava com o meu pai no carro. Nunca esqueço, foi um passeio ciclístico da Eletroradiobraz. Coitada da Monalisa, isso não é do tempo dela. Depois ela vai pegar no dicionário o que significa Eletroradiobraz. Você lembra que existiu? Ou mais ou menos?
P/2 – Eletroradiobraz? Eu me lembro do nome, mas não lembro o que era.
R – Era uma baleia o símbolo da Eletroradiobraz. Era um supermercado que tinha uma baleia. Aliás, uma baleia não, um elefante. A baleia era o Jumbo. Depois eles entraram em conjunto os dois, um comprou o outro, ficou Jumbo Eletro.
P/2 – E ficou só o elefante, não é?
R – É. Ficou só o elefante.
P/2 – Ficou só o elefante como logo.
R – É. Porque tinha os dois. Era a Eletroradiobraz, que na verdade virou Mesbla lá na rua do Sumidouro, na rua do Sumidouro não, quando a gente entra em Pinheiros... Como chama aquela rua principal, que a gente sai da Francisco Morato e entra em Pinheiros, ali? Que esqueci o nome. Enfim, aquela rua onde tem...
P/2 – Vital Brasil?
P/3 – Butantã.
R – Eu não sei. Sabe aquela...
P/3 – Paes Leme.
R – Não sei se é Paes Leme, mas acho que é. É aquela rua que já vem da ponte, ela emenda com a ponte assim, sabe? A gente tem o quê ali? A gente tinha várias lojas que antigamente... A Eletroradiobraz era a Mesbla. Então o que acontece? Meu pai chegava, parava o carro lá: “Vamos fazer passeio ciclístico”. Olha só, eu não tinha bicicleta, eu ia dentro do carro do meu pai, passeando, vendo os caras todos de bicicleta, andando. E eu ganhei lá, na época, uma das premiações porque eu participei. E eu participei do passeio de bicicleta sem ter bicicleta, dentro do carro, porque não tinha, não tinha dinheiro para comprar uma bicicleta. Até que lá na frente, final dos anos 70, lá para 1978... Não, 1979,1980, eu ganhei uma BMX, que era a sensação da época, parecia uma motinha, tal. Então eu comecei a andar em São Paulo, como eu te falei, nos passeios ciclísticos mesmo. E aí aprontava mesmo, porque não tinha tanto trânsito, naquela época a gente não sabia o que era trânsito. Então, você andava de bicicleta com uma roda só por um tempão, tinha aquela competição de quem andava com a roda empinada por mais tempo. Tinha competição de carrinho de rolimã. A gente brincava de cabana, de guerra de mamona, que ainda tinha muito terreno baldio, então você pegava e jogava, eu gostava de jogar na testa das pessoas para ficar a marca (risos).
P/1 – (risos).
R – Olha, era uma beleza, eu me divertia para caramba. Eu também apanhava muito, me estrepava muito, claro, mas o que é legal é isso, esse sabor da infância que você traz. Pô, você quer coisa mais gostosa? Você saber que você fez cabana de guerra de mamona, você ficou horas lá, você andar de bicicleta, você fazia o carrinho de rolimã que andava na rua, nas descidonas. Não tinha trânsito, você podia andar, e tal. Então, todos esses sabores de infância eu pude aproveitar. Você não tinha uma grana para comprar um TRX da Adidas, por exemplo, que na época era super caro, mas eu tinha amigos e brincadeiras ao meu dispor. Brincava de tanta coisa que hoje já foi esquecido, não é? No meio da rua, que você tem queimada. Pô, o que é queimada? Hoje ninguém sabe o que é queimada. Jogava bocha. Como chama aquela brincadeira que você pulava a sela? Que você fazia: um bife, uma batata? Aquelas coisas de criança. Você fazia tudo isso, isso tudo lhe dava noção espacial, dava criatividade, aumentava o seu sistema imunológico, sabe, e tudo aquilo que condiciona o ser humano a ser sadio mesmo. Amanhã, você não vai ter com facilidade uma depressão, uma síndrome do pânico, porque você está convivendo com sensações que o alicerçaram. Então, eu acho que o segredo é esse, você vivenciar para caramba isso, para que isso se construa em você.
P/1 – E, Fredi, eu queria saber se você já queria ser músico na infância, ou se você tinha um grande sonho assim: “Ah, quando eu crescer, eu quero ser isso”.
R – Não. Olha, Monalisa, eu, na verdade, gostava muito de violino. Assim... Quando eu tinha meus oito, nove anos eu ficava ouvindo muito Strauss, esses caras dos clássicos, tinha muito violino, e tal. O Chopin não, porque era piano. Mas eu gostava de piano também. Falava: “Nossa, que legal”. Mas o violino me tocava para caramba. E eu falei assim: “Eu vou querer um violino, pai”. Ele falou: “Não, violino é muito caro”. Porque tudo era caro naquela época. E o meu tio não me deu, o meu pai não me deu, a minha mão não me deu, ninguém me deu, então eu fiquei a ver navios, literalmente. Falei: “Então não tem... O que eu vou fazer? Eu sou pequeno, não posso comprar, vou ficar só ouvindo mesmo”. E eu lembro que quando eu ouvia isso, eu ia para a escola infantil, na Escolinha Antônio Bento, que foi onde eu estudei desde os... Eu não sei quando eu comecei lá, eu sei que eu saí de lá em 1973, porque em 1974 eu fiz meu primeiro ano em outro lugar, então deve ter sido isso. Eu lembro que, na escolinha, eu fazia três coisas muito legais: uma era destruir todas as marias-chiquinhas das meninas que estavam lá; eu gostava de destruir para jogar bolinha de gude, porque na época era redondinha, não tinha aquela coisa de a maria-chiquinha ser Minnie, de ser Margarida não, era bolinha mesmo. Então você tirava, destruía e jogava bolinha, fazia bolinha de gude. E eu sei que elas ficavam “pê da vida” comigo. Elas andavam, eu punha o pé assim, elas tropeçavam, caíam com o rosto na lama. Era uma beleza, eu adorava fazer essas coisas. E eu sempre gostei disso. E teve uma vez que eu caí, tinha chovido muito, olha que cena interessante: eu estava naquele negócio cheio de ferro, que você fica empoleirado ali, eu lembro de que eu mexi, escorreguei, caí com a minha mão no barro. Eu fiz assim para me limpar, então eu marquei a minha professora lá longe. Ela ficou toda cheia de barro assim: tu tu tu tu. Ela ficou procurando assim, como havia vários moleques, eu fiz de conta que não era comigo. Eu falei: “Puxa, que legal, eu sou bom de pontaria”. Então eu me divertia pequeno. Uma vez me falaram assim... Minha mãe me falou assim: “O Sílvio Santos pinta a unha, põe base na unha, você pode pôr também”. Eu falei: “Sério?” Então eu pintei a minha unha assim, tal, já que ela falou que podia. Eu cheguei com a mão para trás assim para a minha professora: “Professora, é verdade que o Sílvio Santos pinta a unha?” Falou: “Não. Você está doido? Não tem nada disso, não”. “Não, mas a minha mãe falou que ele pintava a unha”. “Não, mas a sua mãe está enganada, o Sílvio Santos não pinta a unha”. Então eu falei: “Está bom professora”. Fiquei com a mão para trás. E bateu o sinal, eu fiquei na piscina de areia tentando tirar toda a base, na época, até sair tudo. E não entrava na sala, foram ver o que estava acontecendo comigo, eu estava com a mão toda gasta assim, tentando tirar a base. Esmalte incolor que ela tinha passado em mim. Então, eu fazia isso. E eu adorava sabe o quê também, gente? Aquelas histórias antigas. Tinha uns livros antigos assim do Pinóquio, A Bela e a Fera e tal, que a gravura meio que é 3D. Você fazia assim, fazia movimento nas gravuras. Vocês se lembram disso? Você se lembra disso, não é? Adorava isso. Adorava essa coisa da contação de história, quem podia ser o Forrest Gump lá do dia, sabe? Adorava isso. Ficava ouvindo aquilo com atenção, gostava daquilo, achava legal. Falava: “Putz, isso também é legal”. Sabe? E continuando na escola, que além de eu aprontar todas, eu também gostava de ser o maestro lá da bandinha que a gente criou, de sucata lá. Então a gente aprontava, tal. Mas assim... Ao mesmo tempo em que eu fui muito rebelde, eu também fui muito castigado pelos meus amigos. Tem sempre alguém que quer se destacar, então ele quer disputar território com você, quer ver quem é pior que você. E eu perdia várias vezes, por ser menor que o outro lá, então... Imagina! Eu ganhei muitas vezes, mas perdi muitas também.
P/1 – E como foi essa entrada na adolescência, pré-adolescência, seu grupo de amigos? Conte para a gente essa fase.
R – Eu era um pouco inocente. Por mais que eu fosse assim tão peralta, para você ter uma ideia, eu li num muro, eu devia estar na puberdade, entre... Sei lá se puberdade é onze para doze. É isso, Caio? Onze para doze, doze para treze.
P/3 – Puberdade? Eu acho que é entre onze e quatorze.
P/1 – Acho que até uns treze.
R – Por aí.
P/2 – É. Por aí.
R – Então, imagina, eu estava nessa época, aí eu vi lá no muro da vizinha escrito: “boceta cabeluda”.
P/2 – (risos).
R – Eu falei para a minha mãe: “Olha, mãe, tem uma boceta cabeluda ali” (risos).
P/2 – (risos).
R – A minha mãe: “Pô, mas o que você está falando? Para de falar esses palavrões, menino”. Eu falei: “Mas por que palavrão?” Eu não sabia o que era uma boceta cabeluda. E aí desenharam mesmo, tal, ali, mas eu não entendia aquilo, o que significava aquilo. Eu falei para a minha mãe, a minha mãe ainda me bateu. O pior de tudo é você apanhar sem saber por que você apanhou. Eu falei: “Eu apanhei injustamente por causa de uma porcaria de uma boceta cabeluda, que eu não sei que porcaria é isso”. Aí comecei a perguntar para os meus amigos o que era uma boceta cabeluda (risos).
P/2 – (risos).
R – Aí falaram para mim o que era, e tal. Eu falei: “Ah, então é isso. Eu apanhei por causa disso, caramba?” Eu não me conformava com isso. Bom, enfim, comecei a crescer, a gente jogava bola, tal, e eu gostava de pontaria, como eu já falei. Uma vez... Eu me orgulhei disso, olha só que imbecilidade a minha. Eu estava começando a descer um quarteirão, estava perseguindo um amigo meu, que até hoje é amigo meu, mesmo. E o quarteirão era meio grande assim, e ali, logo que ele virava ali, eu já tinha que descer para a casa dele, já era pertinho ali, só que na rua de cá. E eu estava começando a descer aqui, eu lembro bem dessa cena, eu peguei a pedra que estava na minha mão assim, mirei e pááá. Joguei na cabeça dele e acertei bem no meio assim. E eu todo contente, falei: “Puxa, acertei. Como eu sou bom de pontaria”. Eu vou para casa, todo contente. Chegou daqui a pouco, para quê, meu chapa? Chegou a mãe dele, com o garoto todo sangrando na cabeça, falou: “Dona Aduzinda” – porque a minha avó chamava-se Aduzinda – “O seu neto fez um estrago na cabeça do meu aqui”. “Mas como assim?” “Olha aqui” – o garoto chorando, mostrou a cabeça para a minha avó, todo aberto aqui, teve que levar ponto. Eu falei: “É, vó, eu acertei. Eu fui bom de pontaria, eu cheguei, mirei, acertei com tudo”. Eu levei uma surra, cara, fiquei sem sentar uns dois dias. Mas eu apanhava. E as coisas bobas de crianças, a gente tinha muito naquela época. Eu gostava muito de Yakult, então eu guardava um pouco de Yakult para depois eu comer, eu tomar. E Yakult azeda. Eu falei: “Puxa, ‘meu’, que droga, eu guardei essa droga e não funciona para nada”. Então essas coisas imbecis, naquela época a gente tinha demais isso, porque a gente não tinha informação. Hoje, qualquer coisa você sabe, as coisas mais óbvias... Naquela época, não. E tudo bem. Quem ouviu falar em lactobacilos vivos e entendeu isso nos anos 70? Ninguém. Está para descobrir alguém. Enfim, então foi por aí assim. Mas eu gostava disso. Eu jogava bola, nunca fui bom de futebol, eu sempre fui péssimo, nunca gostei de futebol, jogava porque meus amigos jogavam. Eu sempre gostei de vôlei. Vôlei eu fui bom, ganhava medalha, jogava entre colégios, tal, adorava isso. Mas futebol, eu gostava da farra, de um derrubar o outro na lama, sujar todo mundo. Sujar era comigo mesmo. Eu adorava sujar os meus amigos, os meus amigos adoravam me sujar também. Assim... A gente tinha um campinho aqui, minha avó morava aqui, então ela andava, andava lá e me chamava debaixo de chuva. E ai de mim se eu não viesse logo. Então, eu ia testando até onde ela aguentava. Eu falava: “Já vou”. Passava meia hora, nada de eu ir, ela vinha de novo lá me chamar, e de novo não. Eu: “Já vou. Já estou indo. Já estou acabando”. E se eu não fosse logo, chegasse na terceira vez que ela fosse me chamar, eu levava uma surra lá na casa dela. Então assim... Eu vivia nesse clima. Eu ficava com a minha avó, era pressionado, não podia ficar brincando o tempo que eu quisesse, porque tinha horário para voltar e tal. E tinha essa coisa, de eu gostar de me sujar. Mas era tão prazeroso viver assim. Porque na casa da minha avó tinha um quintal grandão, onde eu podia chupar jabuticaba trepado no pé, até ter dor de barriga.. Você imagina como eu comi jabuticaba.. Eu chupei muito. Então, eu chupava em dois pés: um em cima, um lá embaixo. Então era de manhã, estava tudo pretinho assim, olha que... Pode falar palavrão, não é?
P/1 – Pode.
R – Olha que “tesão” que era. Você trepava no pé, com cuidado porque estava cheio, o cachorro comia umas que estavam lá perto, e as que eu deixava cair. Ele também ficava com dor de barriga. Eu ficava lá em cima, junto com os passarinhos. Então via passarinho verde, azul, amarelo, via os sabiás, bem-te-vi, etc. Do lado deles eu comia jabuticabas, escolhia as maiores, eu comia até me empanturrar. Depois eu enchia sacolas de jabuticabas para a vizinhança, ou para a minha mãe dar para não sei quem, e tal. Mas, antes, eu queria garantir que estava bem comido, estava bem forrado. E eu enchia tudo isso. Tinha outro dia que eu fazia o lado de baixo - tinha dois pés. E eu vivi nisso. Então, era muito legal você ter essa coisa de se sujar na grama, falar com a Natureza, estar do lado das coisas. Isso era muito prazeroso. Tinha aquelas coisas de você sofrer porque o pai era assim, porque a mãe era assado, mas tinha a Natureza que compensava. Você era moleque, você era encantado com a vida. Hoje, perdeu esse encantamento. Você pode reparar como as crianças são mais reais. Não existe encantamento. Por isso que eu falo: perdeu-se o encantamento pelas coisas. E aí que eu acho que, quando você perde o encantamento, você perde um pouco da vida. Você ganha muita realidade, mas a realidade em hora errada. A criança precisa vivenciar um pouco dessa coisa que a gente vivenciou assim, meio lúdica, achar que existe mesmo, sabe? Sabe quando eu fiquei sabendo que criança não nasce... Não que eu acreditasse que nascesse da cegonha, mas eu fui saber quando já tinha a minha bicicleta BMX, eu devia ter uns doze, treze anos. Que para ter alguém você precisa transar com alguém. Eu achava que para transar com alguém, aquilo era muito radical. Puxa, transar com alguém, como que... Porque você vê a pessoa gemendo, parece que está doendo, não é? Sabe aquela coisa? Então olha só como você tem isso nos anos 70, com pouca informação. O máximo de erótico que você tinha nessa época era você ver um sala especial.
P/2 – Sala especial. Isso eu lembro.
R – Você assistiu, seu safado. Você viu.
P/1 – (risos).
P/2 – (risos).
R – Você viu (risos). É ou não é? É que você não sabe ainda o que é isso. Era um filme de pornô chanchada dos anos 70. Os grandes atores vieram de lá. Então você vê Tarcísio Meira, veio de lá... Putz, quase todo mundo veio da pornô chanchada. E você tinha assim... Era tudo muito velado, porque era censura. Na hora em que ia ser bom, em que você ia ver alguma coisa, cortava a cena. Falei: “Cara...”. E você tinha pouca informação, porque era tudo muito velado, tudo muito policiado, censurado, tal. Sabe? Então você tinha pouca informação de sexo naquela época. Por isso que eu falo, eu tive que andar de bicicleta e aí eu ouvi falar sobre transa, assim, assado, não sei o quê, não sei o quê. Eu falei: “É assim que funciona?” “É assim que funciona”. E eu descobri, com treze anos, que era assim que funcionava. Falei: “Puxa, é ...”. Literalmente.
P/1 – Pegando então nesse gancho, a gente queria saber como foi começar a paquerar, sua primeira namorada, como foi isso?
R – Olha, Monalisa, uma coisa interessante isso. Porque eu vivi uma época assim... Eu posso falar para você que eu saí um pouco do padrão. Eu, na coisa de escola, na época de escola, eu não vivia muito... Eu gostava, achava bonitas as mulheres, mas eu estava numa época em que eu comecei a fazer muita viagem astral. Então eu vivia saindo do corpo. Eu falava: “Mas que coisa. Que droga é essa? Que eu estou dormindo, daqui a pouco não estou mais dormindo. Parece que estou, eu acordo e não estou acordado”. Comecei a fazer essas viagens e começou a tomar muito o meu interesse. Eu falei: “Cara...”. Eu comecei a viajar, comecei a ver os planos, e tal, tal, tal. Depois eu conto isso. Depois, com detalhes. Eu comecei a prestar atenção nesse tipo de coisa e começou a me vir assim vontade de escrever um livro. Fiz o meu primeiro livro de poesia com dezessete para dezoito anos. Eu comecei a ver o que era um plano astral, o que era você viajar de corpo astral, o que é você abrir a mente e viajar só na mente, não estar com o corpo todo lá.
P/1 – Explica para a gente essa sensação.
R – É?
P/1 – Explica como é.
R – Muito legal. Porque... Imagina assim... Quando você sai do corpo, você começa a formigar. Quando você está sentindo que está em transição é quando você está ouvindo várias vozes falando com você, você está sentindo que está formigando e que você está saindo do plano denso. Só que, como é denso, demora mais para você sair, você tem que sutilizar aos poucos. Então eu vivia essas sensações. Eu sentia que quando eu formigava muito, eu já estava saindo do plano, do plano físico. Isso não era droga nem nada. Não, isso era coisa do dia a dia mesmo. Eu sei que eu comecei a sentir. Falei: “Que coisa estranha. Eu estou acordado, mas eu estou dormindo, eu não consigo mais me mexer”. Sair dessa coisa e não ouvir todo mundo mais, não ver tantas coisas ao mesmo tempo, porque acho que aquelas coisas que eu via eram os meus chacras em movimento, então eram cores assim, tipo azul, verde, violeta, sabe? E eu não via mais essas cores, nem ouvia as pessoas mais. E eu comecei a sentir deslocamento, sentia que eu estava indo. Falei: “Puxa, que legal!”. E comecei a ir. E tudo era mais intenso. Você já passou por isso?
P/2 – Não.
R – Você já passou, Caio?
P/3 – Eu não.
R – Você já passou, Monalisa? Então, quando vocês tiverem oportunidade, quiserem saber como funciona, essas são as sensações. E é tudo mais vivo. Essa sua camisa, por exemplo, ela teria muito mais brilho e cor do que quando você a vê pela primeira vez. Tudo. O cheiro é mais forte, as cores são mais fortes, tudo é mais intenso. Você fala: “Puxa, que sensação louca”. Quando você descobre que existe um mundo fora do seu, você não quer abandonar, você quer descobrir, é do ser humano assim, é intrínseco dele. E comecei a querer viajar sempre. Então, descobri uma fórmula. A fórmula era eu parar, descansar, pôr a cabeça e olhar para cá, até estar com o olho fechado. E ficava assim e não pensava em nada. E eu começava a sentir essas sensações. Então, eu comecei a fazer várias viagens astrais. Eu me lembro dessa cena, que eu falei que eu estava... Eu comecei a falar, não é? Mas eu estava começando a ouvir vozes...
P/2 – Desculpa só lhe interromper. Isso foi espontâneo para você?
R – Espontâneo.
P/2 – A primeira vez que aconteceu, você não sabia o que estava acontecendo?
R – Não. Primeiro de tudo eu começava a ver umas luzes nas pessoas, mas não eram coloridas, era campo de luz. Eu comecei a perguntar para o meu professor de Física o que seria aquilo Falei: “Por que todo mundo tem luz?” Ele falou: “Você está vendo luz?”. Eu falei: “Eu vejo campo de luz. Por que todo mundo tem luz?”. Ele falou assim... Ele era espírita, então ele começou a falar de acordo com o que eu entendia, como ele entendia também. Eu achei legal mas, ao mesmo tempo, eu falei para ele... “Mas eu viajo, eu faço isso, isso e isso”. Ele me explicou. E eu comecei a conhecer aquele amigo meu, o Antônio Carvalho, da Bandeirantes, que eu comecei a falar aqui, que era um cara muito amigo do meu pai. Meu pai falava assim: “Você vai se dar bem com esse cara”. Porque meu pai era corretor, queria vender coisas para o Antônio Carvalho. O Antônio Carvalho queria comprar as coisas do meu pai, começou a falar com o meu pai coisas que interessavam para mim, não para o meu pai. O meu pai não entendia nada disso. Meu pai falou assim: “Conhece esse cara, você vai gostar dele”. Ele trouxe, eu vi o cara. Como o cara me disse as coisas... Eu falei: “Puxa, é uma mente completamente maluca”. Mas maluco legal. Maluco beleza mesmo. Isso que eu queria estudar. Eu fui à casa dele, a primeira vez, para pedir um emprego na Bandeirantes, fazer qualquer coisa lá, mas desisti. O papo era tão bom, mas tão legal, que eu comecei a ouvir o cara todo fim de semana. Meu passeio era esse, eu saía de casa... Porque aí fiquei um tempo morando com os meus pais, que já era nessa época, nos anos 90, e nessa época eu conheci o Antônio Carvalho. Então eu saía todo fim de semana para bater papo com esse cara. Esse cara me contou um monte de coisa. Ele me contou como eram os mundos intraterrenos, me contou a escada de Jacó, como é feita a revolução do ser humano, a escadaria, como é para você atingir o ápice, não sei o quê. Contou-me um monte de coisa. Eu ficava alucinado, com um monte de informação. Então eu degustava aquilo. Agora eu já me perdi onde eu estava antes...
P/1 – Você estava contando...
P/2 – Que a sua adolescência foi um pouco diferente, porque você estava interessado...
R – Ah, sim, sobre as mulheres. É. Então isso tudo era muito latente em mim. Eu gostava de estar em contato, estar com as garotas, tal, mas eu estava muito mergulhado nisso. Isso para mim era mais importante, eu tinha que resolver isso. Por que eu saía do corpo? Por que eu viajava? Por que eu via luzes? Por que existe um mundo diferente, que não me contaram antes? Que mundo? Que mundo é esse? E o que acontecia toda vez? Porque cada vez é uma história. Teve uma vez que eu vi um cara que parecia o músico Al Di Meola. Para quem não conhece, o Al Di Meola é um músico com rabo de cavalo, de óculos. E, num sofá redondo, na casa dele, que tinha foto dele na parede, falou assim: “Sabe onde está seu segredo?”. Eu falei: “Não”. Vivo como a gente está conversando aqui, isso na viagem astral que eu fiz. “O seu segredo está no cotonete que coça a sua orelha. ”Eu falei: “O que o cara quis dizer com isso?” Eu comecei a me perguntar. Eu falei para o Carvalho... “Carvalho, teve isso”. Ele falou assim: “Olha, provavelmente, essas sutilezas você vai ter que ir aguçando e apurando, porque está tudo no seu ouvido, você está ouvindo tudo que tem que ser ouvido, para uma hora você trilhar a sua história”. Então é o cotonete que coça a sua orelha, você vê que é delicado, é uma sintonia fina. O rumo das coisas é uma sintonia fina. Eu sei que eram essas histórias para pior. Então, por exemplo, tinha época em que eu saía de casa assim, estava dormindo, dormindo, fazendo uma viagem astral. Eu saía para um lugar completamente doido, tipo assim, era uma favela, um monte de coisa acontecendo na favela, aquele cheiro de esgoto. Quando eu falei: “Eu não quero ficar aqui, eu quero voltar”. Eu comecei a fazer força para voltar, eu me concentrando em voltar - “eu quero voltar, eu quero voltar, quero voltar”. Você não volta conforme você quer. Eu, de tanto me forçar para voltar, eu escutava um grito: aaahhh, pum. Você volta, você encaixa de novo. Fala: “Poxa, estou de volta. Que legal. Agora não vou sair mais, vou ficar aqui”. Eu sei que começou a acontecer isso frequentemente. Mas antes de acontecer esse episódio, eu me lembro de ter ido para outro lugar, que foi o primeiro que mais me tocou, antes do Al Di Meola, esse cara que parece o Al Di Meola falar o que falou. Porque esse primeiro dia foi o começo de tudo, que eu quis para caramba sair, que era um lugar para o qual eu viajei, onde eu estava voando e tudo era um amarelo-ouro assim... Todo lugar era amarelo-ouro. E eu voava e sentia o cheiro do... Depois eu comecei a entrar nos cenários, sentia o cheiro da terra, das árvores e eu voando. Eu sentia, falava: “Nossa, que legal essa sensação de voar. As árvores são muito verdes aqui. O cheiro do vento, cara. Olha que cheiro legal, o vento tem cheiro”. Depois eu não estava mais lá voando nas árvores, eu estava voando, tipo, de uma ponte pênsil, como aquela que vai para Santos, tal. Só que estava do lado de fora. Quando me encaixei dentro da ponte, voando por cima dela, escutava o barulho do vento dela batendo nas madeiras, o cheiro do mar. Falei: “Nossa, que coisa louca”. E eu indo, aqueles cenários, muita Natureza assim, tal, até que eu encontrei de novo um amarelo-ouro, sem nada lá. E eu continuei voando por lá, falei: “E agora? Eu vou cair aonde aqui?” E eu entrei naquele cenário lá, sem nada. Quando eu voltei, quando eu entrei nesse cenário, eu estava voltando para casa. Aí, eu senti de novo, falei: “E agora? Eu não estou vendo mais nada, eu estou aqui, não sei o quê”. Eu sei que comecei a sentir essa sensação. Falei: “Poxa, que legal, eu voltei”. Mas eu não tinha percebido como era difícil voltar, porque era a primeira vez que eu tinha ido embora. Eu falei: “Puxa, muito legal viajar”. Então eu comecei a dar vazão a essa história; depois apareceu o lance que eu acabei de contar antes, conto de trás para diante. Contei do cara que parece o Al Di Meola, que, no segundo dia, apareceu assim. E fui indo. E teve um dia que eu comecei a querer escrever o meu livro de poesia, e veio que foi uma beleza. Para você ter uma ideia, eu comecei a primeira poesia do meu livro - se chama Aurorescer - conta a história de um ser que nasce com a Natureza. Eu contava assim... Eu não lembro o início da frase, mas eu lembro que era assim: “A areia ardia antes de o sol soluçar seus segredos e suplicar ao universo um espaço em seu território”. Veio um trabalho de aliteração completo. E assim para mim: “Puxa, que legal isso”. Eu comecei a pensar: não estou mais apenas fazendo viagem astral, estou me preparando para desenvolver meu livro pessoal de poesia. Então eu comecei a fazer poesia para caramba. Todo dia poesia, papapá, papapá, papapá. Então, para mim, era bom criar situações lúdicas, porque nessas situações lúdicas eu compunha. Eu tinha um caderno pequeno, eu escrevia sempre poesia lá. Daí eu tirava o que ia servir, tal. Até que... Isso já em 1983. Em 1984, na escola, eu encontrei com uma garota, ela era paraplégica e ela tinha participado da Antologia Poética do João Scortecci. Eu falei: “Pô, que legal! Não dá para você colocar uma poesia minha lá não? Não sei o quê?” “Não, mas você pode participar. A Antologia Poética são duas poesias por autor”.
P/1 – Por autor.
R – E era um composé de gente. “Por que você não participa no outro ano?” “Ah, legal”. Então eu me preparei para, no ano seguinte, escrever e colocar lá. E eu coloquei. Para mim, foi uma felicidade, eu com dezesseis, quinze, dezesseis anos, escrevendo poesia, para estar junto com gente de cinquenta e poucos, sessenta anos, e gente escrevendo poesia. E eu achei legal aquele mundo. Falei: “Puxa, que legal, no meio de gente pensante, gente inteligente, gente que cria, gente que está num outro nível”. Então, eu saí muito daquele perfil. Você concorda? Porque na escola é o trivial, mas eu estava fazendo viagem astral demais, estava compondo coisa para caramba. Como eu tinha cabeça para falar: eu vou querer sair com essa garota? Eu estava em outro momento. Até que, em determinado momento, eu falei assim: “Eu vou participar desta Antologia Poética”. E participei. Fiz uma, depois fiz outra, ainda assim, nessa outra que eu fiz, de 1986, eu também fiz o meu livro de poesia sozinho, e quem trabalhou na parte de correção foi um japonês, professor de Português. Um japonês professor de Português (risos).
P/1 – Professor de Português (risos).
R – E ele fazia haicais, que eram poesias de três linhas. Aprendi a fazer haicai com ele também. E ia. Então, eu vivia numa atmosfera muito diferente. Eu ia para casa, com um mundo que me cercava, que era muito diferente daquele que eu via ao meu redor. Até que, ‘meu’, como eu falei, eu já tinha a minha bicicleta, vivia com os meus amigos, mas o meu mundo era muito diferente, muito particular nessas coisas. Até o ponto de eu intensificar mais essas coisas e, como eu falei, eu comecei a viajar muito e sair fora. Falei: “Não quero mais agora... Eu estou indo a lugar muito ruim, não quero mais ir lá”. Eu cortei isso. Falei: “Espera aí, então eu tenho que saber uma hora de parar com isso’. E parei. De que forma? Eu comecei a sentir que eu tinha que me mexer. Se eu me mexesse, eu parava com isso. Eu tensionava o meu corpo, eu parava com as viagens astrais. Então eu descobri a fórmula de parar com isso. Eu comecei a fazer com bastante frequência e eu consegui. Eu consegui interromper as minhas viagens astrais. Já estava resolvido isso. Mas antes de chegar a esse ponto, eu tive outras experiências dentro disso. E teve uma que foi muito interessante, porque eu consegui sentir uma coisa que as pessoas tanto falam. Como um corpo não cabe no outro? Cabe. Eu senti a matéria dentro da matéria. Como funciona essa coisa da matéria dentro da matéria? Tempo e espaço, matéria dentro da matéria. Eu estava na cama, dormindo, eu senti que estava indo embora e que ia bater a cabeça na parede. Pus a mão na cabeça, assim, voltei levemente e atravessei a parede. Falei: “Agora eu vou atravessar a parede, eu vou querer sentir como é matéria dentro de matéria”. E senti. Eu falei: “Nossa, é só uma...”. Parece que é uma coisa meio sombria, meio gelada, mas é normal. E fui embora mais uma vez. Eu estava voando, sempre ia voando. E tinha gente atrás, que eu não sabia quem era, e ia voando. E pousei. Como o Ultraseven, Ultraman. Pousando, falei: “Puxa, que legal é pousar como um super-herói, um...”. Eu não sei como chama isso aí. É super-herói da época, não é?
P/2 – Era.
R – Que legal. Porque a minha referência era isso, Superman... Superman. Mas era Ultraman, Ultraseven, enfim, esses caras dos japoneses. E eu pousei mesmo. Na hora em que eu pousei, encheu de criança ao meu redor. Eu falei: “Escuta, vocês não estão com medo de me ver pousando aqui, não? Não é sempre que eu pouso aqui, mas eu estou pousando. Vocês não estão com medo de mim, não?” Falaram: “Não, a gente não tem medo de você, você já faz parte dos nossos sonhos”. Eu falei: “ Eu venho para cá mais do que eu imagino”. E eu não sei o que eu faço lá. Mas todos os meus lugares de viagem astral são muito arborizados, são de casas térreas, com muitas plantas, com muita Natureza ao redor. E tem essas crianças que, de vez em quando, alguma coisa rola, que eu não sei o que eu faço, falo, ou eles me ensinam alguma coisa por lá. E virava e mexia eu estava voando, indo para lá. E aí, enfim, depois que eu conto tudo isso que eu falei que comecei a sentir, eu bloqueei as minhas viagens astrais e depois dificilmente eu saía. Aí já bem mais tarde, só para encerrar esse papo da viagem astral eu, mais tarde, bem mais tarde mesmo, já estava tocando, já não estava mais em escola nenhuma, já estava tocando na noite. E eu resolvi um dia fazer uma viagem astral, assim: “Ah, está cedo para eu ficar acordado mesmo, já fui ao banheiro, tal, mas vou ficar um pouco mais aqui. Se hoje pintar de sair, de viajar, eu vou”. Está bom, fiquei ali. E não deu outra. Comecei a sentir a mesma coisa. Falei: “Hoje eu estou livre. Vamos lá. Vamos que vamos. Hoje eu vou me divertir”. Aí, foi diferente. Eu estava lá, a mesma coisa, eu ouço muita gente falando comigo, bá bá bá, cores, sons, aí eu vejo as cores dos chacras, tal, tal, tal, daqui a pouco eu sinto que estou indo embora. Aí eu curto: “Ah, que legal”. Mas aí eu sinto que estou fora da cama, eu atravesso a parede. Aí eu falei: “Puxa, já não estou mais nessa parte. Onde eu estou?”. Eu vejo que existe um lugar escuro, que tem uma montanha enorme assim, muito bonita, com um lago assim, caindo como se fosse uma prata indo para o lago, e aquilo deixa um colorido especial, uma coisa exuberante, e eu curtindo aquilo. Antes de continuar, entra a diferença do que eu vou falar: quando você se emociona com isso e volta, é sonho, mas também não tem essa intensidade toda. Quando você continua nessa emoção, de tão nítido, tão claro, tão vivo e mais do que o real, é viagem astral. Que te deixa meio sem saber, sem se mexer, tal. Eu continuei, curti aquilo, saí daquele plano, já não estava mais naquele plano, eu estava em outro plano, eu lembro. Já faz tempo isso, mas eu lembro, eu estava num lugar negro assim. Aí eu olhei para baixo, puxa, adivinha o que eu vi lá embaixo... Tempo para você: tutú, tutú...
P/2 – Planeta Terra.
R – Planeta Terra. Ponto para os homens. É isso aí.
P/1 – (risos).
P/2 – (risos).
R – Eu vi o planeta Terra. Depois eu vou fazer a pergunta para vocês, vamos ver se vocês vão acertar também. Eu venho: “A Terra é igualzinha ao que falam lá”. Tem aquela aura azul, os continentes marrons, esverdeados, igualzinho.. Eu pergunto para você: se a Terra está lá, o que eu vi à minha direita?
P/1 – Marte? Sol?
R – Não. Do lado da Terra tem o...? A...?
P/3 – A Lua.
R – A Lua. Está bom. Adivinhou todas, hein, Monalisa? Eu falei: “ Eu vou ter que descobrir se eu estou mesmo viajando, ou se é de verdade isso tudo aqui. Porque eu vou ter que descobrir: se a Terra está lá, a Lua está por aqui”. Quando eu olhei para a direita, eu vi a Lua. Aquele amarelo gigante do meu lado, com uns buracões. Eu falei: “Ah, agora eu entendo o que chamam de cratera da Lua. Olha isso, cara”. Eu vi a Lua daquele jeito, amarelona, é bem amarela mesmo. Mas, daqui a pouco, já não vejo mais a Terra, eu já não vejo mais a Lua, e começa a ficar tudo escuro. Não vejo mais estrela, não vejo mais nada. E agora? Para onde eu estou indo? Eu lembro que estava indo de um jeito, eu falei: “Bom, eu não sei para onde eu estou indo, mas eu vou curtir porque eu estou viajando, eu tenho que aproveitar. Não é toda hora que eu embarco para esse lugar”. E eu indo lá. Daqui a pouco... O que você acha que eu vi à minha esquerda? Você sabe?
P/3 – Não
P/1 – Vou tentar.
R – Vai, tente adivinhar.
P/1 – Outro planeta.
R – Não. Não. Não tinha mais nada lá, estava tudo deserto, não tinha mais nada. Arrisca um palpite.
P/3 – Deus.
R – Não (risos). Não, mas era alguma coisa....
P/3 – Não sei, alguma coisa maior assim.
P/1 – O Diabo?
R – Não. Também não era. Sabe?
P/2 – Não faço ideia.
R – Eu também não sei, mas era um ser azul marinho, que parecia um boneco Playmobil. Assim, grande, do nosso tamanho, a mão era amarelo-ouro, com os dedos compridos. E a outra mão era uma máquina. Eu falei: “Poxa, parece que tem...”. Eu peguei na mão dele assim, parece que era uma máquina do tempo. Tinha uma forma meio esquisita, eu peguei, comecei a olhar para a mão dele, falei: “‘Meu’, que mão estranha. De onde você vem?”. Comecei a procurar lá, para ver se é made in Plutão, made in Marte, made in Júpiter, de algum lugar ele tinha que vir. Imagine se eu escrever aqui. E eu ali. Eu sei que eu fiquei um tempo nisso, peguei na mão dele. Eu lembro que, depois, eu só senti que estava me desgrudando da mão dele, senti que tinha que voltar. Porque isso é uma coisa intuitiva, que não dá para falar. Eu falei: “Bom, mas...”. Eu demorei muito para chegar lá, porque era do denso para o sutil. Agora eu estou no caminho contrário, estou no sutil para o denso. Então, eu fui como um tiro: pouff. Rapidinho para lá. Quando eu senti que estava na cama, falei: “ Já estou voltando?” A mesma coisa, vozes, não sei o quê, tal, tal, tal. E eu faço assim para voltar, eu me concentro e falo: “Vou voltar, vou voltar, vou voltar”. E eu tento procurar o tranco da volta. E eu sinto o tranco da volta: pah! Mas você até se mexe. E o coração começa a pulsar de novo. Porque é sempre assim: você está fora do corpo, quando você tem o encaixe, a pulsação aumenta, tudo aumenta. Eu falei: “Que viagem incrível que eu fiz. Que legal”. Eu vi um ser de outro planeta mesmo, toquei no cara. Mas o que é aquilo que eu vi? Tudo bem, essa pergunta ficou. Mas o que eu mais me admirei não foi isso, foi o que eu trouxe da viagem. Eu fui tocar na noite daquele dia, e as outras noites - porque eu tocava praticamente todo dia - e eu tocava e ficava numa alegria tão imbecil, tão absurda, parecia que eu tinha acabado de (...). Sabe quando você (...) e fica naquele estado pleno, de satisfação? Fiquei assim, cara. Eu ficava horas assim. Eu fiquei uma semana e meia assim. E ninguém consegue entender isso. Como você vai explicar um negócio desse para os outros? Eu fiquei nisso. Eu falei: “Agora, então, entendo que existe uma outra energia tão intensa do outro lado”. Mas você tem que ter a sorte de encontrá-la, porque não é qualquer um. Como eu fui encontrar isso? Por que eu estou encontrando isso? Por que eu fui até lá? São respostas que eu nunca tive, mas isso me levou a fazer o programa que hoje eu tenho, chama Tocando Oculto, e outro que se chama Papo de Esquina e Você, que depois eu conto. E eu achei tão incrível, porque essa foi minha última viagem consciente que eu fiz, onde tive essa experiência. Bom, depois que eu acabei com essa coisa das viagens astrais, naquele primeiro momento que eu comecei a ver, falei: “Não, espera aí, vamos interagir com o mundo que está aí”. Então eu me divertia, era para fazer campeonatos de escola, essas olimpíadas de escola, eu falei: “Eu não corro nada, mas eu vou me divertir”. Eu não corro nada, mas eu fiquei lá na corrida, todo mundo corre assim, pá, e eu corria ao contrário, para sempre estar na frente deles, depois eu voltava. Aí eu voltava, estava na frente, porque eu corria um pouco para trás até eles virem aqui; quando eles estavam aqui, eu corria na frente, eu fazendo assim, todo mundo: “Aeee”.
P/1 – Muito bom (risos).
R – Eu sempre ficava na frente. Eu ficava sempre na frente de todo mundo. E todo mundo tirava, rachava o bico, tal, tal. Então, eu sempre me divertia com essas coisas. Porque eu não era bom mesmo nessas coisas, a única coisa que eu achava que valia a pena levar a sério era o vôlei, que eu trazia medalha para a escola. Mas era aquela época da jornada nas estrelas, lembra? Você chegou a pegar essa época com o Bernardinho? Com o Bernard, aliás?
P/2 – Sim. Sim. Eu era bem pequenininho, mas eu me lembro disso.
R – Você lembra, Caio?
P/3 – Lembro. Bernard, não é?
R – Você lembra dele?
P/3 – Lembro. Super.
R – Era um cara que era conhecido pela jornada nas estrelas, que você pegava a bola... Que já não existe mais isso no vôlei, ele pegava a bola assim, jogava. Agora você pega a bola, joga, todo saque é de cima. Antigamente não, você pegava... Tinha esse daí e tinha outro que você jogava assim, depois você dava...
P/2 – Por baixo.
R – Por baixo. É. Que agora não existe mais.
P/2 – Eu cheguei a jogar assim.
R – É, não é? Então... Eu fui o campeão de perder bola na escola, porque jogava tudo em cima do telhado: uma num telhado, a outra no outro telhado. (risos).
P/1 – (risos).
R – Então a bola sumia na escola.. E essas coisas me divertiam. Você vai descobrindo certas coisas... Uns amigos de escola perguntaram: “Bom, você não quer fumar um baseado, tal?” Eu comecei a fumar também com eles. Eu falei: “Pô, mas isso não faz muito parte de mim, eu já estou louco de natureza, vou ficar mais louco ainda?” Mas resolvi entrar na história. E eu descobri que isso me fazia mal, porque me aguçava mais ainda essa clara audiência. Então, eu escutava cada história... Podia escrever um livro com esses canais abertos. O problema é que eu não conseguia mapear para voltar para casa. Eu falei: “Como eu volto para casa?” Então, eu não conseguia achar o caminho de volta. Eu fazia caminho em círculo e não saía do lugar. Eu começava a mapear e... Esquece. Você mapeia e esquece, é memória de peixe. Sabe o que é memória de peixe? Memória de peixe é isso, o peixe está aqui: “Para onde eu estou indo? Ah, não sei, então eu vou voltar”. Os peixes são assim. Eu estava nessa. Eu estava nessa onda de peixe. Eu falei: “Quer saber de uma coisa? Eu vou parar com isso”. Eu não estava muito avançado, mas eu estava muito além. Então eu falei: “Eu vou parar”. Eu fiquei pouco tempo nisso aí. Meus amigos continuaram, foram para outras mais pesadas, e tal. Então, quando você está com banda, é tudo isso que rola mesmo. Enfim, eu vivia assim, essas situações me permeavam. Sempre o atual... O atual, o antigo, o real e o surreal ao mesmo tempo. Essa coisa de gostar de coisas assim vintage também. Falei: “Puxa, que legal isso”. A gente também gosta disso. Você tem isso, você tem aquela questão toda de você saber que existe algo, que você consegue não comprovar, que você viveu, que está aí. Eu fazia a pergunta: o que eu tenho que fazer com tudo isso? Que à toa não chega para você. À toa não é. Nada é à toa. Às vezes, você tem aqui um bate-papo, como vocês fazem sempre, de repente vocês podem abrir algum insight de alguma coisa que alguém vai falar, que vai mudar a vida de vocês. Aí entra aquela história da teoria do caos, que é exatamente isso. Alguma coisa no percurso do caminho te faz mudar a direção radical. Isso é muito louco. A vida é cheia disso. Então, eu falei assim: eu vou querer descobrir ainda o que eu vou ter que fazer. E eu estava no colégio. Depois comecei a sair dessa história, comecei a tocar na noite com os meus amigos também, tocando, fazia jazz, MPB, não sei o quê. E eu gostei da música. Eu era desafinado que era uma coisa só. Era muito ruim. Mas eu tocava bem instrumento. Meu pai comprava uma viola para ele e um violão para mim, então a gente fazia umas duplas, fazia umas coisas legais. E eu comprei, quer dizer, eu troquei depois esse violão, que já estava meio empenado, por outro instrumento, acho que foi uma gui... Não, foi um... Meu pai me deu um teclado da Hering, que quando eu virava assim, virava um ventilador. Era a ventoinha que fazia barulho. Então, imagina, você estava com calor, virava assim, eu refrescava, voltava a tocar: tá tá tá, tá tá tá, depois, shhhuuu, tá tá tá (risos).
P/1 – (risos).
P/2 – (risos).
P/3 – (risos).
R – Era uma piada. E era o órgão da Hering. Começou a ficar velho, começou a ficar barulhento, aí eu troquei por uma guitarra. E uma guitarra também que era uma guitarra... Pior guitarra que existe, guitarra tonante. Era horrível naquela época, mas até era melhor que muitas guitarras atuais. Eu troquei depois essa guitarra - porque não me adaptei muito, não achei muito legal - por um contrabaixo que a banda comprou. Comprou contrabaixo, comprou guitarra, não sei o quê, eu troquei. Eu fiquei com o contrabaixo e a guitarra ficou para outro cara. E foi assim por muitos anos na noite. Então, eu comecei a gostar do contrabaixo, que eu queria tocar bateria, aprendi um pouco de bateria, mas quem comprou bateria foi outro cara. Então eu fiquei só com as baquetas da minha aula (risos). Falei: “Então eu não tenho escolha, vou ficar no baixo mesmo, está tudo montado”. E eu gostei do contrabaixo, que é um casamento perfeito com a bateria. Então eu toquei, saí daquela banda, entrei em outra, fiz banda para valer à noite, tocava de tudo um pouco, tal, tal, tal. Depois eu tive várias bandas ao mesmo tempo: banda de country; depois banda de sertanejo, que também tocava country; depois banda que tocava Gipsy Kings; depois flashback; e tudo ao mesmo tempo. Eu falei: “Vamos lá, porque quem vive da noite tem que ser assim”. Então eu tocava nos bares lá na... Como fala? Interlagos. Que eram na época bem agitados. Então era um ‘pool’ de bares assim perto. Eu tocava num horário X aqui; depois, no intervalo desse, eu ia para esse; depois eu ia para esse. Fazia, às vezes, os três ao mesmo tempo. Então, eu fazia a primeira entrada... Eu não comia, para na segunda entrada estar neste. Era até assim, era Coração Brasileiro, Redondinhos, nem existe mais essas coisas. Coração Brasileiro acho que não existe. Redondinho, e tinha mais outro que eu não lembro, mas eu lembro que fazia três entradas. A primeira; a outra primeira aqui; a outra primeira aqui. A outra segunda aqui; a outra segunda aqui; a outra segunda aqui. Ficava a noite toda tocando. Então, eu comia pouco nesse tempo. Eu ganhava uma grana boazinha. E eu ficava nisso. Depois eu ia tocar em outro pessoal. Então, a música era uma coisa meio mágica, que você movimentava aquele som que você gostava de tocar, com pessoas com as quais você gostava de aprender, e ouvi-las também. Então era uma alquimia louca essa. Alquimia sonora e alquimia energética. Eu falei: “Pô, é legal isso”. E eu comecei a fazer isso virar minha vida.
P/2 – Isso você tinha quantos anos, mais ou menos?
R – Olha, eu comecei a pegar nisso em 1988. Não,1989,1990. Eu trabalhava no...
P/2 – Você já tinha saído do ensino médio, não é? Você já tinha saído.
R – Já. Já. Eu tinha que sair em 1986, acabei. Em 1987 eu comecei a trabalhar no Banco Bradesco. Em 1988 eu comecei nas bandas, depois eu fiquei na noite tocando, aí não deu mais tempo para parar, tocava muito, sempre. Então aí que está o lance que era legal. Porque você vai conhecer gente, você viaja bastante, você faz um monte de coisa, vivia naquela adrenalina. Meu pai sempre falava: “Música e mulher só faz sucesso quando é novo; você tem que pegar em outra coisa”. E aí eu vivia de encrenca com o meu pai. Mas eu gostava. E eu não sabia muito bem por que eu tinha que tocar, mas eu tinha que tocar. Enfim, fiquei nesse lance muito tempo. Isso foi em 1988. Aí, em 1990, eu entrei numa banda que o cara foi me buscar no Bexiga para tocar flashback, tocava de tudo um pouco. A gente tocava de domingo a... Aliás, a gente tocava de segunda a domingo. Não, espera aí, de segunda a domingo não, de terça a domingo. Só descansava às segundas. Depois teve uma vez que teve que tocar também às segundas; então eu ficava um tempo de segunda a segunda tocando. E é legal, mas, às vezes, o tempo... Começou a encher o saco. Mesmo assim a gente viajava muito, tal, tal, tal. Eu falei: “Poxa, é legal isso. Mas tem que fazer alguma coisa nova, tem que pegar...”. Eu resolvi fazer um trabalho próprio, então peguei trabalhos autorais, de músicos que queriam fazer alguma coisa autoral. Eu tive uma banda autoral bacana, que se chamava Cabeça de Santo. Na verdade, era Degrau, depois virou Cabeça de Santo. Depois eu tive outra banda que era também muito legal, não sei o quê, depois eu tive o Links, que foi projeção de 1994, que era um conjunto super estruturado. Assim... A gente tinha um vocal que parecia muito com o Bruce Dickinson. E a gente tinha... Os músicos eram de renome no mercado. E a gente já conhecia outros músicos de longa data. Eu ouvi aquela música Salem, das Bruxas de Salem, da rádio, da 97, na época tinha a Rádio 97 também. Lembra-se da 97?
P/2 – 97.
R – Eu falei: “Caramba, eu vi isso na rádio 97”. E quem diria, eu fui tocar com o guitarrista dessa banda, que era o Harpia, que era o Flávio Gutok. Grande guitarrista, fera. O cantor parecia o Bruce Dickinson; o batera, com dois bumbos, parecia um maluco tocando; e o apelido dele é Xepa, porque ele trazia tudo, como aqueles avestruzes, o cara trazia tudo para ir comendo, blublublu, blublublu. Desaparecia. Até teve uma competição no Toninho Freitas, aqui em cima, na Doutor Arnaldo. Quem conseguisse comer dois sanduíches que eles faziam, ganhava o terceiro. Ele quase conseguiu, mas era impossível comer três, porque um já era impossível. Ele conseguiu dois, porque era gigante. Cara, era uma coisa absurda. E eu comia um dividido em dois, três, e ele comeu dois. Não conseguiu o terceiro. Se ele não conseguiu, tenho certeza de que ninguém conseguiu. Por isso que ele fazia promoção, não eram bobos, não é? Não eram bobos de fazer. Enfim... E ficamos nisso. O Links foi legal, porque foi uma banda de gente muito bacana, a gente lançou o disco em 1994, que teve até a participação do Pixinga no contrabaixo, teve a participação de outros caras bacanas... Tibério na batera, que era tudo gente famosa da época lá dos anos 70, dos anos 80, que eram músicos da trupe mesmo, do hard rock. E a gente então participou do lançamento em São Paulo, a gente começou a tocar bastante no Bexiga, depois a gente saiu para São Carlos, fomos para Bauru, enfim, saímos bastante de São Paulo. E a gente resolveu, depois de tanto tempo, fazer o segundo disco. Falamos: “Então, vamos lançar o segundo disco, tal, vai ser legal”. E a gente teve aquele episódio que eu contei já na entrada, do segundo disco, que a gente tinha que tocar na Feira da Música, e aí o cara recebeu dos japoneses aquele convite e a gente não foi. E isso nos frustrou muito. A gente gravou no Estúdio Bebop, então eu gravava de um lado, daqui a pouco eu ia tomar café, estava o Toquinho tomando café, aí estava outro grupo. E assim ia, que era um superconjunto. Aliás, era um super estúdio. E ficava aqui em Pinheiros, era Bebop. Ele ficava numa travessa perto já da Faria Lima. Esqueci o nome daquela rua, mas, enfim, perto do Habib's que tem na Faria Lima. E aí a gente ficou nessa. E qual é o lance? Enquanto a banda existiu, o Links, a gente tocava em rádio, a gente saía de casa ouvia a rádio tocando: “Puxa, olha que legal, a nossa música. Vamos ter que vender muito agora o nosso disco, e tal, e fazer muito show, porque a banda está tocando”. E teve muito lance assim... A gente saiu na ____01:02:17____, saíram matérias da gente na ____01:02:19___, na Rock Brigade. A gente saiu num pôster na Dínamo, que eu mandei para vocês verem. Então a gente estava no mercado, a gente estava agitado no mercado. A banda tocava em rádio, saía bastante material da gente em revista, em pôster. O que a gente não conseguia fazer foi TV, porque TV não tinha espaço naquela época para fazer... Você fazer um Raul Gil tocando hard rock? Não tinha. Vai fazer Sílvio Santos? Ou era Sílvio Santos, ou era o Bolinha, ou era Raul Gil. Você vai fazer esses programas populares? Não consegue fazer com banda assim. Enfim, então a gente ficou refém um pouco do que a gente já tinha, que era rádio e revistas e jornais. E, na época, tinha uma coisa que era legal, que não sei se ainda existe, que é o fanzini. Tem fanzini ainda?
P/2 – Fanzini. Eu não sei...
P/1 – É difícil, viu?
P/2 – É. Hoje em dia é mais difícil. Naquela época tinha bastante.
R – Caixa postal. Quer falar com a banda? Escreva para a caixa postal papapá, papapá. Puxou.
P/2 – E nessa época já tinha MTV, não tinha? Não aconteceu nada de vocês conseguirem...
R – Não.
P/2 – Não?
R – Na MTV, não. A gente pagou para o Morcegão para a gente poder fazer na 89. Dei um vídeo cassete para o cara. A gente ficou na programação da 89 uns três ou quatro meses lá. Mas era assim... Jabaculê, não tinha muito que... Mas era um cara superbacana. Ele viajou junto com a gente também, e tal. Enfim, eu sei que essa história toda de jabaculê era uma coisa comum, ainda é comum. A gente tinha que lidar com isso. E a gente fazia muitas rádios, a gente saía para isso mesmo em São Paulo, fazia ao vivo aqui, outro ao vivo ali, outro ao vivo acolá. Pagar... Então a gente tinha que estar sempre alimentando uma mídia viva, que queria o seu, sempre; queria grana sempre para alimentar isso. Não tem essa coisa de ser bom. É sonho de quem pensa que tem que ser bom e já basta. Eu fico imaginando esse monte de programa que existe aí - o The Four, o The Voice, o não sei mais o quê, tal, os caras bons que saem de lá vão para onde? Sobrevivem disso, será? Fazem alguma coisa? Porque não tem mais aquela coisa... O cara saía do festival e virava um nome, estava no mercado. Isso sempre foi e sempre será uma jogada de marketing, para chamar a atenção da galera e tal. Não acredito que isso vá virar, vá mudar o... Porque a mídia tem, sim, condições de pegar essa gente muito boa que está aí e fazer deles grandes artistas. E a gente ser reconhecido lá fora pelos grandes nomes que temos, não essas porcarias que a gente vê a mídia soltando por aí, que acham que fazem alguma coisa; no entanto, estão fazendo apologia a um monte de coisa. Não estou sendo discriminativo, ao mesmo tempo, estou. Porque o funk, por exemplo, você potencializa as crianças a entrarem na sexualidade logo pequenas. E os bailes funks estão aí para provar isso. E você tem isso repercutindo no mundo. Tem o DJ não sei o quê, tem não sei o quê. Cadê os nomes? Cadê os grandes nomes da MPB? Tem músicos geniais, tocam muito o instrumento, cantam muito. Aí, disputam tão poucos, que poderiam estar aí vendendo o seu... Tem espaço para todo mundo. Mas, enfim, cada um arranjou o seu espaço. Sorte daqueles que conseguiram um espaço sem ter talento nenhum, também tem essa. Mas, enfim, então essa...
P/2 – Vocês conseguiram gravar o segundo disco? Desculpa.
R – Gravamos. Gravamos.
P/2 – Gravaram, lançaram?
R – Mas não lançamos não.
P/2 – Não lançaram?
R – Não lançamos. Ficamos um pouco nessa coisa de ficar descontentes com a questão e a gente ficou meio que desestimulado em lançar. A gente até gostaria de ter lançado, porque ficou tão bom. Ficou, realmente, uma qualidade primorosa. E cada um gastou uma grana boa para fazer isso. Mas é o que eu falei: a gente fica meio à mercê e tal, então fica difícil. Mas, enfim, a gente então... Saindo dessa questão toda do rock, eu achei assim: bom, vamos tocar então com aquilo que dá dinheiro. Porque a gente estava ganhando dinheiro, mas a banda começou a ficar desestimulada e tal. Os músicos, por exemplo… Como o guitarrista, que acabou tocando com o Rick e Renner. Eu quase fui também, na época. Mas o único cara que não saiu da banda foi o baixista, então eu fiquei sem lugar. O outro continuou trabalhando na Xerox do Brasil, outro trabalhou também na polícia, não sei o quê, tal. E eu fiquei na noite, como eu já estava na noite, tocando aqui, dali, acolá. E eu comecei, então, a fazer de todos os gêneros um pouco, mas eu comecei a me cansar. Falei: “Isso aqui enche o saco. É bom, mas também não é”. Porque você fala: “Pô...”. Tem hora que você não gosta de tocar e tem que tocar. E fiquei tocando. E, enfim, eu nessa bronca toda, teve uma época que foi crucial, que eu estava ganhando muito mal. A gente tocava na Confraria da Cerveja, às terças-feiras. A gente só tocava às terças-feiras uma entrada. A banda, eram cinco ou seis. E eram bons nomes na época, porque de lá saíram o baterista, que é o atual do Lobão, toca muito, o Juninho; o tecladista, um grande amigo também, o Adriano Grimberg, que toca com todo mundo ainda no cenário, um tecladista, toca blues, muito bom; o guitarrista, que tocou depois no Rick e Renner, depois ele tocou só com o Leonardo - que é o Márcio Alves. São todos amigos meus até hoje. O que acontece? Então, a gente viu que esse cenário... E tinha o William Lee, que, na verdade era o cantor na época, que foi aquele músico de rua. Lembra que tinha um músico em São Paulo que ganhava dinheiro tocando na rua? Aqui no centro de São Paulo? Você não ficou sabendo dessa história?
P/1 – Não vi, não.
R – Ele até morreu de câncer. Morreu de câncer no pâncreas. Teve uns caras do sertanejo que tentaram ajudar, colocá-lo no hospital antes de ele morrer, mas não deu certo. Ele morreu uns dois anos atrás. Enfim, era um cenário bacana, músicos bons e tal, mas a gente ganhava muito mal. Falei: “Preciso sair dessa”. Aí, descobri que ia ser pai, por um acidente de percurso. Eu falei: “Agora eu estou ferrado, preciso resolver essa história”.
P/2 – Você não estava mais no banco? Isso tinha sido só lá atrás?
R – É. No banco, eu fiquei de 1988... Porque em 1987 eu fui aprovado, mas em 1988 eu comecei a trabalhar e fiquei até 1989, 1990. Fiquei acho que um ano ou dois só no banco. Eu descobri que lá não era o meu lugar. Enfim. E, naquela época, era indecente. Porque assim... Você imagina se é pensado um negócio desses: eu levava um malote cheio de cheques, que já eram compensados, em vez de levar de táxi eu levava de ônibus, porque eu ganhava todo o dinheiro do táxi. Então, o dinheiro que ficava do táxi ficava para mim - ida e volta. Mas, na época, não tinha muito o que roubar, porque já estavam compensados. Não tinha como roubar aqueles cheques, já estavam com o carimbo do banco. Então, eu deixava lá, depois eu ia embora, era na Santa Cecília. Aí eu fiquei fazendo isso, tal, quando vencia o prazo de entregar tudo. Imagina, cara, você vai pensar em cheque, compensação de cheque? No mundo de hoje não tem mais nada a ver. Os computadores, aquela lentidão toda. Agora é tudo mais dinâmico. Tem até os computadores quânticos; na época, eram os “lentiuns” (risos). Eu fico dando risada desse mundo antigo. E eu participei disso. Eu falei: “Puxa...”. O banco não fazia mais parte de mim; eu saía, então, a toda hora para descontrair. Porque eu não aguentava o clima do banco, saía para tomar uma cerveja e tocar violão, na Clodomiro Amazonas, com os meus amigos. E foi aí que a gente começou a amadurecer a ideia da banda, fizemos a banda, eu comecei a tocar com eles, depois eu comecei a fazer isso profissionalmente. E aí segui o percurso que eu já te contei.
P/1 – Fredi, eu tenho uma pergunta. Eu queria saber se teve algum show que lhe marcou muito, que você lembra.
R – Ah, teve vários.
P/1 – Ou algum dia que você tocou na noite que você lembra.
R – Putz, tem muito, viu, Monalisa? Só que como são sempre muitas histórias, eu sou muito ruim. Eu tenho memória de peixe. Eu contando para vocês, eu acabo me lembrando das coisas, mas, realmente, para lembrar assim é mais difícil um dia em especial. Teve um dia que eu saí de São Paulo e eu fiquei saindo de São Paulo, tocando todo dia. E todo dia ficava com uma mulher diferente. Então, eu não dormia. Eu tocava na quinta-feira, ficava com a mulher e ia tocar na sexta. Depois eu ficava com outra mulher, também não dormia e ia para o sábado. Chegou um dia, um domingo, que foi o último dia, eu já estava que não aguentava mais. Eu tocava assim, estava meio grogue já. Eu tocava e não via a hora... Eu fui para casa rastejando. Eu saí e entrei, coloquei o meu carro na garagem e subi engatinhando a escada de casa e eu dormi, assim, acho que umas dezesseis horas. Pô, eu não dormi quinta, não dormi sexta, não dormi sábado. Era um zumbi mesmo. Ainda bem que, naquela época, eu era mais jovem, aguentava o tranco. Hoje, impossível. Então assim... Essas loucuras eu gostava de fazer, sabe? Era festa aqui, festa acolá, então você vai. E o músico, sabe como é, tudo é diversão, vale a diversão com um, vale a diversão com outro, e vai lá. Então assim... A música me fez acordar para um lado que, na minha adolescência, eu não estava acordado, que era o papo das mulheres. Eu comecei a me envolver com mulher mesmo, assim, para caramba. Quando eu já estava com uns dezoito anos. Imagina? Uma namorada, ficar com a mulher, tal. Então eu comecei a descobrir que era bom. Eu saía para tocar, achei bacana essa garota, então me envolvia com essa garota. Depois pintava outra, ficava com a outra. Quando eu ia ver, estava cheio de mulher. Eu falei: “Ah, agora eu estou vendo que é legal mesmo ter várias mulheres, não sei o quê”. Estava descobrindo tudo, era novidade. E fiquei nisso um tempo. Até depois, em 1995, o meu filho nascer. Então eu fiquei assim um tempão, muito na farra. E era uma farra assumida, eu gostava dessa farra. Depois é que eu falei: “Bom, eu poderia ter morrido de Aids agora. Vou parar com isso, porque eu podia ter embarcado e não embarquei”. Eu comecei a me policiar. Falei: “Espera aí, vou sair com a mesma mulher”. Mas eu saía, porque eu queria levar a sério. Eu juro que eu queria levar a sério, mas alguma coisa me impedia de levar. Eu falei: “Não, mas eu preciso mudar isso”. Eu descobri outra coisa importante: que o pensamento escraviza. E se você não tomar cuidado, você fica escravo disso, escravo do sexo. Qualquer coisa o escraviza - o vício, o sexo. Um costume que você alimenta, ele cria vida e você fica escravo dele. E eu comecei a cortar essa escravidão. Falei: “Pô, é legal ter? É. Mas vamos maneirar. Tem que maneirar, bá bá bá”. Então, quando eu começava a namorar sério, eu partia para amenizar, falava: “Não, espera aí, vamos ter que levar a sério, isso aqui não é assim”. Até o momento em que eu comecei a ficar mais maduro, depois de eu ver de uma forma diferente. Isso já tinha se passado mais de dez anos. Aí, as coisas mudaram para mim. Mas assim... Até porque eu entrei na serenata e comecei a mudar a postura de vida. Olha que interessante que foi: aquele momento em que eu ganhava pouco com a banda de country, que eu tocava na Confraria da Cerveja, me fez acordar para outra realidade. Falei: “Espera aí, você já tem um filho, você ganha muito mal, você precisa virar o disco, você precisa virar o jogo, vai ter que ir atrás de outro trabalho, cara, não é assim”. Isso tudo eu falando comigo. Comecei a ligar nas Revistas Veja São Paulo para alguma coisa que fosse legal. E liguei para os Trovadores, meus concorrentes, para ver se eu podia trabalhar com eles, fazer serenata: “Ah, sim, a gente vai procurar uma vaga para você aqui, depois a gente lhe chama”. Eu estou até hoje esperando a vaga. Mas também ganhei um bom concorrente depois disso. Enfim, aí eu fui nessa. Eu comecei a ver que, a partir da ideia de que estava ganhando mal, estava com uma banda trabalhando pouco e queria mudar de rumo, comecei a despertar para a ideia de “por que não fazer serenata?” Eu descobri... Porque aí eu conheci um cara, chamava Rudifran Pompeu, que é o cara que hoje é presidente - acho que ainda é presidente - da Companhia de Teatro de São Paulo. E, na verdade, ele era o ator e eu era o músico, porque o músico dele tinha ido para a Europa e eu fiquei no lugar do músico. E eu comecei a ver que, se eu tocava, às vezes, a noite inteira para agitar uma galera que era só adrenalina, daqui a pouco eu estava entrando na casa de uma pessoa, com uma roupa diferente, aquela pessoa começava a chorar, começava a se emocionar, começava ser diferente. Eu falei: “A música tem outro sentido. Não é aquele sentido que eu pensei”. Isso é legal. É bacana isso. E eu quis fazer com ele, mais. Eu fiquei criando coragem. Comecei a ganhar primeiro entendimento de como fazia, por que se vestia assim, bá bá bá, bá bá bá, entendendo a logística. Até o tempo de falar assim: “Espera aí, então eu acho que vou montar a minha história. O que você acha Rudi?”. Deu-me maior força, falou: “Não, pô, se você montar sua história, você, com certeza, vai fazer muito mais dinheiro do que você tocando na noite por aí”. Isso foi em 1997,1998. E, rapaz, não deu outra. Eu comecei a entrar de cabeça nisso, fiquei tocando para caramba. Então eu vivia vendo gente se transformar nos ambientes onde a gente tocava. Falei: “Agora eu entendi a força da música, e o que a música muda em você”. E a música muda mesmo, porque quando eu fazia rock, hard rock, tinha outra vibração, outra energia, aquilo tinha uma expansão louca, diferente, por isso que você era sexual, você tinha uma coisa de vibrar o chacra sexual mais forte. Quando você começa a entrar para o campo da serenata, é outro gênero de música, outra história de vibração, outra história mexendo com você. E eu me encantava, me emocionava com a história das pessoas. Eu falei: “Puxa, é isso que eu quero fazer”. Aí eu me encorajei, me encorajei, me encorajei, então eu trabalhava com o Rudi no Companhia de Atores - porque ele tinha uma empresa que se chamava Companhia de Atores - e fazendo a minha história, que ainda não tinha nome. Eu coloquei de Serenata e Companhia. Então eu comecei a curtir isso. Falei: “Puxa, que legal”. E eu comecei a me envolver para caramba com isso e comecei a descobrir uma coisa que eu não descobri em mim, quer dizer, umas três dúzias, porque eu descobri que eu poderia ser um bom vendedor. Eu estava na pindaíba, tinha que fazer virar aquela coisa, então eu comecei a pensar em que produto, como eu vou vender meu produto. Eu precisei buscar marketing sozinho. Como se faz marketing? Ninguém sabe para me ensinar. O que você tem para oferecer para o mercado? Pô, naquela época você ainda tinha que ter um computador e ter pelo menos um fax para você começar. E eu não tinha nada. Eu só tinha o papo de vendedor, que eu comecei a descobrir que tinha. E eu falei: “Bom, então espera aí, vou juntar uma grana, ver o que eu posso tirar de grana para comprar o básico”. Então, eu me lembro de ter comprado um MD, na época, aquele Minidisc. Vocês se lembram do Minidisc, não é?
P/2 – Lembro. Super.
R – Tocava muito em rádio, inclusive, era tudo com Minidisc. Eu me lembro que aquele Minidisc, eu consegui comprar um, já usado, e troquei por um computador, que, na verdade, era o Pentium II. Só tinha o Pentium III. Um, dois e três. Eu comprei o Pentium II, que a gente chama de “lentium”. Imaginem vocês o que era um computador que o espaço físico do HD era quatro gigas. Pensaram nisso hoje? É um absurdo. Nem ‘pen drive’ tem quatro gigas mais.. Mas era a sensação, porque o Pentium III era o último, então o Pentium II não era tão ruim. Eu falei: “Pô, legal, então eu já consegui agora comprar um computador, não estou no zero”. Eu falei: “Essa droga desse MD me deu sorte, vou comprar mais um”. Comprei um MD. Cheguei lá na Santa Efigênia, comprei um MD mais simples, tal, e fiz um rolo com esse MD. Peguei um fax, que eu precisava de fax, e peguei outro MD. Eu falei: “Agora, eu vou vender esse MD, vou comprar um MD novo”. Eu me montei. Comecei a me montar em cima disso. Eu falei: “Puxa, que legal”. Consegui fazer bons negócios com a minha lábia de vendedor, consegui comprar as coisas básicas para trabalhar e comecei a trabalhar com isso. Eu falei: “Agora eu sei. Agora eu posso imaginar uma coisa lúdica com a música, que eu já estou descobrindo como é, porque eu já estou com o Rudifran e fazendo isso já há uns cinco, seis anos. Dá para fazer então história pessoal. O que eu vou mudar? O que eu vou acrescentar? Eu bolei um monte de coisa para fazer. Aí comecei a fazer. Falei: “Isso é diferente no mercado”. Só que eu não vou me vestir só daquele jeito, vou me vestir de outras coisas. Então eu levava, às vezes, para uma serenata, uns dançarinos para dançar junto com a gente, levava telegrama animado. Então a gente zoava para caramba com o pai dela, por exemplo, que estava fazendo aniversário; depois a gente entrava para fazer uma serenata de carinho lá para ele, contar coisas emocionantes deles e tal, e transformava aquele ambiente. Primeiro era um kkkkk, daqui a pouco todo mundo começa a se concentrar nas coisas que estão contando ali, que quase ninguém sabe, que são tocantes, e transforma o ambiente. Eu falei: “Eu quero mais”. Eu quero entrar mais na vida das pessoas. Então, eu comecei a fazer isso. Eu comecei a procurar empresas para fazer isso. A gente mexia no histórico da empresa, por exemplo: “Olha, você está encarregado de dar um Sipat aqui, vai fazer um Sipat aqui, segurança do trabalho, vamos criar uma performance. Então eu criava uma performance legal, a tal ponto de aquilo ser marcante para a empresa. Então, daqui a pouco a gente fazia ali, fazia acolá, tinha muitas empresas que, naquela época, ainda tinham qualidade de vida, que hoje não tem mais, a gente aproveitava esses momentos, ficava o dia inteiro tocando nas empresas. Tinha a Klabin, por exemplo. Eu cheguei a tocar no prédio dela lá no Centro, a manhã inteira de um dia, e a tarde toda do outro dia aqui na Vila Olímpia - porque ela tinha três prédios. Ficamos o dia inteiro tocando. Eu chegava sem dedo em casa. Ficava o dia inteiro, mas era gostoso, cara, era legal. Eu comecei a incorporar coisas. Por exemplo, eu comprei uma flor mágica - o Rudi também fez mágica. Então eu falei: “Puxa...”. A gente fazia parte do Terças Mágicas, no Crowne Plaza. Eu comprei uma flor mágica, falei: “Vou colocar essa coisa na serenata”. Como funcionava? Eu falava uma frase do Carlos Drummond, ou do Vinícius de Moraes, sei lá, então acendia, por exemplo... Como é? Foi em 2003, imagina. Agora eu não estou lembrando a frase que eu falava, exatamente. Mas eu sei que acendia, eu tinha acendido já a tocha com gás e vinha com a tocha falando essa frase. Eu acabava de fazer a... Tem até isso na internet. Acabava de fazer, jogava para cima assim, ela virava uma flor, a tocha. Todo mundo batia palma, eu colocava a flor aqui, depois eu dava a flor - outra flor, claro, para o homenageado. Então, ficou uma coisa diferente, sabe assim? Incorporava. Eu chegava para homenagear fulano de tal, não chegava só para cantar. Enquanto eu cantava, a cantora vinha por trás cantando e jogando pétalas de rosa. Eu falei: “Quero mais”. Pensava no que podia ser mais. A gente contava a história do sujeito da empresa. Peguei cada história. Teve um que a gente foi lá para os guardas lá no Batalhão Tobias de Aguiar, que era um cara complicado lá, e o cara era todo atrapalhado. O cara colocava a meia de uma cor, depois colocava a meia da outra, o sapato de uma cor, não prestava atenção. A gente começou a contar as coisas que a família falou para a gente contar. E o cara dirigia o carro, várias vezes o cara dirigia o carro, o banco dele ia para trás, ele ficava com as pernas pedindo socorro para cima assim: “Socorro!”. E o cara era um complicado dentro do batalhão lá. E dava muita mancada, era muita coisa engraçada. Tinha outros superiores, falaram: “Não. Não. Vocês não podem contar isso, vocês vão acabar com o cara aqui dentro”. Então, a gente ficou sabendo de histórias das pessoas que quase ninguém sabe, porque a gente era obrigado a contar, mas tinha um limite para contar. Eu fiquei sabendo de cada uma... A gente quase foi assaltado também. Os caras viram a gente... A gente estava cantando assim, na janela lá em cima, os bandidos passaram: “Olha, vamos levar o violão do fulano, não sei o quê”. Falou: “Não. Não. Deixe-o aí cantar o amor dele aí. Deixa aí, a gente tem outro pela frente. Vamos lá”. Assim. Então a gente se livrou de umas coisas... E história não falta. Lá no Minuto Serenata, quem depois quiser acessar, é o www.serenataecia.com.br, tem o Minuto Serenata. A gente fez vinte e oito historinhas narradas, com uma música de fundo, com as fotos, ilustrando o que a gente está contando. Tem histórias emocionantes para caramba e tem histórias muito divertidas. E estão lá para quem quiser ver. Eu falei: “Tem que fazer algo diferente do que está aí”. Porque contar por contar, narrar um texto, já fiz também no site, não cria nenhum impacto. Mas você ver uma história narrada com foto, animada, com... Tem umas músicas de Charles Chaplin no fundo, sabe, aquelas histórias bem... Umas músicas de 1920? Assim... Enquanto você narra, a história divertida está passando embaixo. Então eu falei: “Puxa, isso é legal, é bem vintage mesmo”. A gente está lá, então coloco coisas engraçadas, tem cachorro... Tem muita foto de cachorro lá fazendo careta, elefante, não sei o quê, essas coisas que eu junto nas fotos. Então, anima, prende o sujeito para curtir a sua história. E eu acho que a criatividade - ainda bem que eu sou canceriano - porque a criatividade sempre foi inerente a mim. Então eu tinha que bolar alguma coisa para ser diferente, eu criei um figurino que era diferente, falei: “Não vou só vestir um chapéu e um colete”. Não. Porque a gente sabe que nos anos 20, nos anos 30, tinha gente que ia para as festas de casaca, de cartola, de conjunto fashion, um monte de coisa bonita, por que eu tenho que me vestir no básico? Não. Eu vou colocar o melhor das festas. Que foi o que a gente fez. Então, fazia isso. Eu comprei uma cartola que a minha cara era essa na serenata - era cartola e casaco, nos primeiros anos. Depois eu comecei a comprar outras roupas. Então, eu me divertia. Tinha festa dos meus amigos, eu não ia, falava: “Não, eu quero viver mais. É muito legal isso aí. Eu tenho que pegar mais histórias, tal”. Aí: “Você não vai vir à festa?” “Não”. Então eu comecei a curtir durante tantos anos essa atmosfera da serenata, que me envolvia. Que eu fiquei longe do social, dos meus amigos. Falei: “Isso vai custar um preço para mim, porque eu vou ficar cada vez mais isolado, a turma não vai mais se lembrar de mim”. Mas os meus amigos eram legais. Então eu queria namorar uma garota que trabalhava lá na TAM: “Olha, você vai ter que fazer lá na TAM para mim”. Aquele monte de gente na fila do guichê assim, e a gente cantando a serenata lá, todo mundo parava assim, tal, ficava olhando, tal, esquecia da fila, depois batiam palma, falavam: “Eeee, não sei o quê. Casa! Casa!”. Falei: “Puxa...”. E a menina sem graça, vermelha, não sabia onde punha a cara. Sabe? Então você pega uns episódios assim. E tinha cara que não deixava, você tinha que sair escondido, depois você entrava por um lugar que ele não via e você dava o drible no cara para o cara poder... E aí você estava já em outro lugar. E eu cansei de fazer isso, driblava as pessoas para poder fazer o recado. E tem cara...
P/1 – Não podia entrar?
R – É. Para poder entrar. Tinha lugar que não podia entrar, mas eu tinha que driblar, porque eu falava: “Não, eu tenho que fazer essa droga”. E tinha coisas que eram legais, que assim... Tinha caras que compravam... Teve vários caras, mas um deles, ele comprava sempre para a namorada nova, então a gente tinha que dar o recado dele para a namorada. Não sei se ele não era bom, ou se ele era picareta, o que era, que estava sempre me ligando: “Fredi, olha, aquela lá não deu certo, mas eu tenho mais uma aí no pedaço, eu quero que você vá lá”. E me comprava sozinho, não me comprava nem dupla e nem trio. Então, eu era testemunha ocular das histórias dele, assim, em tempo integral. E, cara, eu cansei de fazer serenata para as mulheres dele, então eu fazia na USP - lá na biblioteca da USP - fazia no salão de cabeleireiro no Morumbi, a mulher saía correndo, que não queria mais saber de ouvir a voz dele, que falasse dele. Eu saía correndo atrás dela, até ela se esconder dentro do banheiro. Eu falava: “Não, mas eu preciso dar o recado”. Falava: “Preciso te dar o recado, ‘meu’. O cara está aí”. “Não, mas eu não quero saber desse cara, esse cara fica aí querendo arranjar as coisas com serenata. Fala para ele que ele está enganado, não é assim que funciona, não. E mande-o... Eu não quero mais ver você atrás de mim” (risos).
P/1 – (risos).
R – Eu já estava umas três vezes atrás dela, porque a primeira não deu certo, a segunda não deu certo, a terceira... Enfim, eu sei que essa daí que eu estou contando agora, foi a última, porque antes dela teve umas dez pessoas e cada uma num lugar diferente, numa situação diferente; às vezes ele estava junto, outras vezes ele não estava. Eu sei que nenhuma deu certo. E essa aí, que eu achei que não ia nunca dar certo mesmo, desapareceu do mapa. Daqui a pouco ele me liga, fala: “Fredi, você pode vir aqui no meu condomínio, tal, não sei o quê?” “Tudo bem”. Já fazia tempo que ele não me ligava. Quando ele me ligou, eu fui lá, quem era? Era essa mulher, que se casou com ele, que teve um filho dele, que deu certo a serenata, depois eles se acertaram. Não tinha dado certo àquela hora, depois eles conversaram lá, trocaram ideia, não sei o quê. Falou: “Olha, Fredi, foi graças à sua insistência. Viu como deu certo? Uma hora ia funcionar. Eu falei para você que uma hora ia funcionar”. Esse foi um caso. Está cheio de caso. Teve uma vez que um cara foi pego num motel com outra mulher pela mulher dele, que ela colocou um detetive. Eu falei: “E agora, cara, como eu vou arrumar a minha história?”. Eu comecei a bolar um jeito para ele, para ele mostrar para ela que ela valia a pena. Então eu comecei a bolar, mirabolar as coisas lá. Eu sei que fizemos de tudo para que ela entrasse em contato com ele e voltasse a ser de novo... Voltassem os dois. Eu não sei o que deu, mas ela caiu umas duas lágrimas; agora, se foi de raiva dele, ou se foi tocada por ele, eu já não sei. Então assim... Essas histórias são cotidianas, é num parque, é numa praça, é num... Olha, motel, bordel, velório. O que não falta é história. Dentro do ônibus. A gente errou um dia o caminho, o dia da serenata ia ser lá em Pinheiros, eu troquei a data, era uma semana antes... Era uma semana depois que a serenata ia valer, naquele dia não tinha serenata ali. Mas eu fiquei ali, tinha uma serenata próxima, mas não era aquela que eu imaginei que fosse. E fiquei ali. Falei: “ Não é mais aqui. E agora, cara?” A outra serenata, a gente ia sair daqui e ia para lá para frente, em Perdizes. Era de Pinheiro para Perdizes. “Então vou ficar perdendo um pouco o tempo aqui, passando o tempo aqui” – falei para o meu músico, o flautista. E ficamos na praça Benedito Calixto. E enquanto a gente ficou na praça ali, começou a imitar os caras, assim, os caras da rádio, TV: “Ah, você quer dar uma entrevista, não sei o quê?”. A gente dava entrevista. “Você não quer vir no nosso ônibus, que depois a gente vai fazer não sei o quê, não sei o quê?” “Está bom”. A gente passeava lá um pouquinho, voltava. Então aí começou a pintar essas coisas, a gente começou a dar entrevista lá enquanto passava o horário para chegar ao lugar. Então pintava essas coisas assim de monte, porque a gente na época estava fervilhando as histórias. E isso acontecia... Então eu me encantava tanto com isso e era tão gostoso saborear isso. Falei: “Poxa, ‘meu’...”. Não é só falar de amor para alguém, é você fazer tanta diferença. Você vai no dia que a mãe vai dar à luz, você sai vestido de anjo dentro de um guarda-roupa, o violão guardado em outro lugar. Eu fui também já o anjo da guarda. Não parece que eu fui, mas eu já fui. E eu vesti aquele anjo que eu tinha, aquela roupa, e eu contava a história do bebê. Então, tem uma serenata que fala sobre a origem do nome, o significado do nome, a missão do signo na Terra, o anjo da guarda dele, o signo atlante dele e o deus egípcio do dia em que ele nasceu, porque é tudo correspondente. A mãe adorava essas coisas diferentes. A gente ficava ali, eu saía de debaixo da cama, de dentro do guarda-roupa. Eu fui escondido já em lugares assim que você nem imagina. E em velório, que é uma... Puxa, você não tem o que falar, cara. A menina falava assim: “Fredi, eu...” – ela trabalhava na Abril – “Eu não tenho cabeça. Porque meu pai morreu, meu pai queria muito uma serenata e não conseguiu, em vida. Eu tenho que dar isso em morte para ele, me ajuda”. Ligou-me um dia antes. Eu tive que criar uma estrutura para falar: “Não, vamos fazer isso, isso, isso”. E fui no dia seguinte.
P/2 – Como as pessoas reagiram?
R – Então... Mas aí que é o problema, porque você não tem o que falar. “Olha, é um prazer estarmos aqui. Esperamos voltar a vê-los em outra ocasião como esta.” Jamais. Você fala: “Puxa, não tem o que você falar, não tem para quem você olhar”. Para quem você olha, está acontecendo alguma coisa - ou alguém está chorando compulsivamente de um lado, já teve gente que desmaiou do nosso lado quando ouviu as músicas. E agora? Você olha para a esquerda, está o morto lá, você olha para a frente, para a direita, tem gente desmaiando, gente chorando para caramba. O que a gente vai fazer? O cara está de olho fechado. Você não tem o que fazer. Eu sei que foi um inferno as vezes que foi. Foi muito ruim. Eu sei que essa menina deu uma pirada, depois ela pediu demissão de onde ela trabalhava, mas ela adorou a serenata. Falou: “Nossa, Fredi, você conseguiu passar o recado que eu jamais imaginei que eu poderia passar um dia para o meu pai, que eram as músicas que ele queria”. E o recado, que eu falei para ela, eu fiz para tocar. Falei: “Vamos fazer como se o morto agradecesse a presença dos vivos aqui”. Então a gente fez isso também. E ela também... Porque para ele já não fazia sentido, mas dele para os outros fazia. Agora, imagina, como a gente teve que alimentar situações. É o que eu falo: é em velório, é em bordel. Em bordel. Já imaginou uma serenata em bordel? Puteiro? Em motel. Ih, cara, então essas coisas que eu estou te contando está tudo lá no nosso site. Imagina, a mulher quer homenagear o marido com todas as pompas e circunstâncias. O marido fala: “Não, amor, você gastou os tubos no ano passado para mim neste motel, você colocou tanta coisa lá. Mas se você tivesse me comprado dois pneus novos para minha moto, eu teria ficado mais feliz”. “Aí, Fredi, por essas e outras, ele vai ganhar os pneus da moto dele esse ano. Só que quem você vai ver no motel vai ser o meu amante, que você vai conhecer”. E eu conheci o amante dela.
P/2 – (risos).
R – Escrito com pétalas de rosa: eu te amo fulano de tal. Que eu nem lembro mais o nome dele. E eu que ajudei a mulher a procurar motel, porque em São Paulo não dá para você ficar indo a motel a torto e a direito, fazendo serenata. Porque as pessoas não deixam. Mas eu encontrei dois em São Paulo que dava para fazer. E eu fui em um deles lá, eu encontrei mesmo, não tem que ser contra isso assim. Imagina, já teve gente de fazer, como eu te falei, de fazer para fulana, para ciclana, aí a mulher também gostou da ideia, manda para o ciclano. Então, é aquela música do Chico Buarque: Pedro que amava Paulo, Paula que amava toda a quadrilha. Sabe? Porque uma passa para o outro, que vai gostando e você vai descobrindo... Então eu descobri o mundo GLS, que queria homenagear todo mundo lá, uma roda de adolescentes GLS; descobri os médicos também, que fazem essas festas homéricas deles aí, querendo fazer homenagens coletivas, farras coletivas. E tem de tudo que você imagina e que você não imagina. Tem de tudo. Tem para todos os gostos. Então assim... Essas coisas que a gente vive, é lógico que ficam no nosso universo, ficam para a gente poder... Até se alguém quiser escrever um filme e colocar esse... Eu tenho três roteiros prontos, podem procurar, que já vai ser um grande prato para o pessoal aí. Porque é legal. A realidade do ser humano, que você não conhece, é muito legal. Isso é verdade. Você tem que conhecer. Eu falo: “Puxa...”. O mundo virtual está aí, as pessoas ficam todas no celular, tal, mas tem muita coisa que você não sabe que está além do virtual, mesmo no real, está muito além do virtual. E tem grupos de serenata, como a gente, que vive ainda no virtual. Hoje mesmo, eu já te falei, a gente vai sair daqui, vai homenagear um cara numa churrascaria, em trio, e o cara tem setenta anos, ele escolheu outro lugar para ser homenageado, porque naquele lugar primeiro tinha uma escola de samba que ia lá. A gente não ia poder fazer uma serenata com uma escola de samba do lado, não ia combinar, e nem ele sabe disso. Então tem muita coisa assim, sabe? A gente é pego de surpresa, tem que modificar isso, modificar aquilo, tal. Bom, se eu for contar aqui, depois de vinte anos, tem história que não acaba mais. Você imagina quanto tempo eu vou levar aqui para contar isso.
P/1 – Eu queria saber duas coisas em relação a isso.
R – Ok..
P/1 – Se tinha música que as pessoas pediam em comum, alguma música que você tocou muito, e eu queria também saber qual foi a grande lição, o grande impacto que essas histórias dessas pessoas tiveram na sua vida.
R – Ótima pergunta a sua. Eu acho assim... Tem muitas músicas em comum: Como é Grande o Meu Amor Por Você, básica, para todo mundo serve. Se Todos Fossem Iguais a Você; Eu Sei Que Vou Te Amar; Tudo Que Se Quer, tema do Fantasma da Ópera; Modinha, mais antiga um pouco; Fascinação. Então assim... Tem canções básicas, que funcionam para todos os momentos. Velha Infância e tal. Se modificou? Sim. Porque eu aprendi a ver o mundo como um flash e como um sopro, hoje você está, amanhã você já não está aqui. A gente homenageou hoje, mas não lhe garante que amanhã você esteja com a gente. Isso eu já pude comprovar muitas vezes, me falaram assim: “Fredi, sabe que aquela sua serenata para a minha mãe foi a melhor coisa que ela já recebeu em vida? E ela disse isso até hoje. E eu digo até hoje, mas ela partiu a semana passada. Ela ficou todo o santo ano dizendo isso, desde que nós fizemos a serenata, já faz oito anos”. Essa semana passada, eu recebi uma ligação de uma pessoa... Olha que interessante essa história: é uma babá que cuidava de uma garota excepcional, com síndrome de Down. E ela gostava tanto da criança que parecia mais do que filha até. Então ela montou toda uma estrutura para homenagear a criança nos nove anos de idade, num buffet, que tinham comemorado para ela, que montaram para ela. E nós fomos lá fazer essa homenagem e tal, a gente fez umas músicas que podiam funcionar, eu bolei mais ou menos uma coisa para falar, que fosse impactante. E a música das duas era Amor I Love You, que a menininha amava de paixão, naquela época. Hoje essa mulher me liga, que eu falei semana passada, ela me liga e me fala: “Fredi, eu já comprei alguns trabalhos de você, e não sei se você lembra, mas eu sou aquela babá que tinha uma menina com síndrome de Down, tal”. Falei: “Lembro. Inclusive, você foi inspiração para uma das histórias para a gente, animadas, tal”. Ela ficou toda contente, falou: “Pois é. Agora está fazendo dez anos”. Dez anos depois, está fazendo maioridade. Quer dizer, não chega a ser dez, são nove anos. “Está com maioridade, está fazendo dezoito anos, e está esperando alguma coisa que eu faça para ela. E você não sabe, todo santo dia ela fala da bendita serenata. Pelo menos umas duas vezes, ou três vezes por semana, ela quer que eu assista ao filme da serenata. Depois de quase dez anos. Fredi, eu não sabia o quanto isso causou de bom para ela”. Eu falei: “E a gente ficou mais feliz ainda de saber da senhora, que isso foi bom, que teve esse resultado”. Imagina se não tivesse esse feedback, de que a serenata pudesse tocar uma menina com síndrome de Down; depois de nove anos, todo dia, toda hora, ela quer lembrar aquilo que foi dito, que foi cantado. Agora que fiz diferente com ela, falei: “Olha, agora você vai ser... O que você acha de ser uma integrante? Você pode se vestir como a gente, colocar a roupa de seresteira, você lê as mensagens que tem para ela, intercalando com as músicas e, no final, a gente a chama para cantar Amor I love You com vocês, com você”. A gente canta e toca e ela canta e toca com a menina. E ela adorou. Então assim... Vai ser uma homenagem integrativa mesmo, do contratante com a gente. Para a gente é legal, porque... Olha, você aguça a sua criatividade, você permite que a pessoa extravase a sua emoção e que ela dê espaço para a emoção dela. E aí você sente o resultado, do quanto isso comoveu o outro homenageado - não só o contratante, mas o homenageado, principalmente. Então essa coleção de histórias de agradecimento é o que nos enriquece. E é isso que eu te falo, hoje, o que é a vida para mim? Hoje é isso. Eu sei que o importante é este momento com você aqui. É o mindfulness, sabe assim? Você concentra tudo no agora, porque esse é o importante. Porque este momento, ele é especialíssimo, ele não vai se repetir mais. Ele está com toda energia concentrada agora e tudo aquilo que eu já fiz está de novo vindo à tona, porque eu estou narrando isso, mas está num tempo real, está naquele momento, com energia. Depois que ele passar deste momento, que eu estiver em casa de novo, já não vai ser mais isso. Já estamos cada um na sua história, você está na sua casa, ele na dele, você na sua, eu na minha, cada um com o seu mundo em paralelo. Enquanto a gente está aqui, a gente comunga da mesma energia, do mesmo mundo em particular. Isso é belíssimo, isso é muito legal. Essa disposição que vocês têm, inclusive, de poder buscar e ser o grande ouvido do mundo, das pessoas aqui, é algo raro, nobre e essencial. As pessoas precisam de um ouvido. Hoje mais do que nunca. Por que você acha que as pessoas estão depressivas? Por causa disso. São muito pouco ouvidas, são muito pouco questionadas. É um ouvido de alguém assim, Nossa, aquilo é especialíssimo para quem está do outro lado. Fala: “Nossa, ele está me dando ouvido”. Aquilo vai ser bom porque vai ser especial para fulano e ciclano, mas já é agora para mim, porque alguém me ouviu. Então, isso que vocês estão fazendo, parabéns à iniciativa aqui do Museu da Pessoa e a quem bolou essa estratégia. E também a vocês todos que fazem parte dela, porque isso que vocês fazem é nobre e especialíssimo. É uma dádiva ao ser humano isso. Não só alimenta o ego dele, mas também vocês fazem um trabalho terapêutico. Enquanto o cara fala, o cara se conhece, o cara se expõe, o cara sabe se ele é alguma coisa de verdade, ou se ele pode ser. Porque eu não acredito que, nunca, alguém não seja nada, mas ele pode ser. Então ele começa a falar, ele começa a se descobrir, fala: “Poxa vida, é mesmo. Eu estou aqui, não na minha verdade, mas eu estou contando. Isso podia ser de verdade na minha história”. E outras tantas formas de a pessoa pensar e sentir isso. Entendeu? Então eu quero parabenizar vocês todos como equipe, a casa como estrutura e dar esse meu parecer exatamente dizendo obrigado pelo espaço, em nome de todo mundo que veio aqui, com certeza, que talvez não tenham feito isso, mas eu digo, porque vale a pena a gente poder ter uma estrutura onde as pessoas querem conhecer os outros universos. Vocês saem do ambiente comum, onde hoje é o selfie, você vê que o selfie é o carro-chefe da grande demonstração do individualismo. Eu, tudo sou eu. São os meus amigos, mas sou eu, eu estou na frente. Então, esse trabalho de vocês é o contrário. Vocês fazem o caminho contrário do selfie, vocês dão espaço para o outro ainda se mostrar mais e vocês não estarem nessa mesma vibe. Por isso que é legal. É nobre.
P/1 – A gente agradece.
P/2 – A gente agradece.
R – Imagina.
P/1 – E, principalmente, eu acho que este trabalho que a gente faz tem muito a ver com o trabalho que você faz, porque você também está levando, está mudando a vida das pessoas com o seu trabalho.
R – É.
P/1 – Eu queria perguntar para você um pouco mais da cultura do seresteiro, que você fala. Porque eu acho que é uma coisa assim muito rara e que as pessoas não conhecem tanto. Então, conte um pouco para a gente o que é este mundo.
R – Então... Quando a gente fala um pouco sobre serenata e seresta, a gente tem que remeter lá para o começo dos anos 1900, porque foi quando começaram as histórias... Porque isso já vem de antigamente, desde 1500, 1600, já tinha os trovadores, que faziam música dentro da Corte, tal, para ilustrar um momento ou outro. Mas quando a gente fala sobre isso no começo do século passado, aí você se lembra de pessoas que tinham que beber nos bares e se encorajar com amigos para conseguir tocar para a sua amada. E ainda era um momento de amor platônico, como eu falei para vocês. Porque não existia uma coisa tão declarada, era todo mundo muito tímido. Então, as pessoas bebiam para se encorajar, juntamente com amigos, para fazer. Porque nem sempre todos sabiam tocar violão. Se ele já era um cara tímido, tocar violão e cantar, para ele era um sacrifício. Então, ele se encorajava bebendo - quando não sozinho - com amigos. Todo mundo chegava embaixo da janela e cantava lá, fazendo sua seresta. Quando as pessoas conseguiam entrar na casa, então virava uma serenata. Uns dizem que é assim que funciona: quando você fala em serenata... Ou melhor, quando você fala em serenata, é algo fora. E quando você fala em seresta, é algo dentro - uns defendem esta ideia. Outros defendem a ideia de que serenata e seresta, o que diferencia é o sentimento envolvido: quando é romântico, é serenata; quando não é, é seresta. Então, fica um pouco espalhado, sem saber o sentido real do que é o quê. Mas, dentro do perfil do que é o sentimento, é alguém que realmente vai cantar o seu amor para a amada, custe o que custar. Custe um balde de água gelada na cabeça, custe tomate, custe laranjada, custe o que custar. Hoje em dia, com toda essa parafernália de tecnologia, as coisas mudaram muito, então a gente vai fazer uma serenata onde as pessoas estão conectadas com a web, em suas casas, onde for, no seu terceiro lar. A gente faz serenata aqui que a pessoa lá no Japão acompanha com as webcams. A gente fez um caso desse aqui numa rádio, onde a gente foi às oito da manhã fazer para um japonês que era programador de uma rádio; estava no ar, inclusive. A gente entrou com ele no ar, e ele não entendeu nada, mas estava sendo observado pela webcam no Japão. Todo mundo, às oito da noite, sentou em frente para assistir à serenata e o que a gente ia dizer. Porque uma menina gostava do cara, mas o cara era casado. Então, a ideia era falar que aquela serenata era de amigos, eram fãs dele no Japão. E a gente não traiu a confiança, não é? E dali saíam, depois, entrevistas com a gente, tal. Mas a ideia foi essa. Todo mundo pegou a gente no ar, entrando em cena, vendo o cara se emocionar ao vivo e a cores. E isso é que é legal, você sai do ambiente comum, você sai do... Você quebra padrão. O grande lance é quebrar padrão. Você sai do tradicional, convencional, o engravatado, o chapado, e abre as portas para o que pode ser. Você vai bolando, vai criando situações. Hoje em dia você vê quanto não tem... Você tem aqueles efeitos mobs, que as pessoas estão espalhadas num lugar, daqui a pouco todo mundo se junta para fazer uma parada. Tem esses telegramas animados, que vendemos muito também, que são animados, são engraçados, são personagens que se vestem ou de anjo, ou de drag queen, ou de amante nordestino, ou de executivo gay, seja lá o que for. Para entrar nas empresas, brincar com as pessoas, dar seu recado e criar outro clima. Mudar e quebrar o padrão. Então a gente gosta disso, de poder experimentar o lúdico em cena, junto com o vintage e com o atual. Porque você entra numa reunião onde está todo mundo super atualizado ali, com seus gráficos virtuais, não sei o quê. Aí, você vem com uma forma vintage de dar o seu recado; de repente, está até gravado, os caras passam depois lá você com o recado de alguém de longe, passando na sua reunião.. Olha, uma ideia para vocês colocarem também em cena aí. Você vê que quebrar padrão, eu acho que é uma coisa que motiva sempre. Você não pode ficar depressivo com isso. Entendeu? Por mais que você tenha suas perdas familiares, problemas financeiros, não sei o quê, quando você vai, e vai vendo que isso funciona, é muito estimulante. Quando eu comecei a fazer, no final de 2000, em agosto de 2000, eu comecei bem cru a minha história pessoal, embora eu já tivesse... Bem cru, bem cru não, porque eu já tinha acompanhado o Rudifran. Eu já peguei uma boa bagagem. Mas eu estou dizendo assim... Eu tendo que criar, tendo que executar, tendo que tirar música que eu nunca toquei na minha vida, tendo que criar um monte de coisa. Mas depois, quando começou, em 2001, 2002, eu comprei a minha casa em 2004, num bairro muito bom, no Butantã, e mobiliei. Trabalhei para caramba. Eu tinha um carro, que eu mantinha comigo, que era um Gol, um Gol quadrado ainda, que a minha violinista, que hoje está tocando com uma banda conhecida aí no mercado, falou que se arrepiou. Quando ela foi me visitar, ela viu aquele carro, falou assim: “Arrepiei-me, cara. O carro existe”. Eu falei: “Como eu vou vender esse carro, se ele me deu tudo que eu tenho?”. Até que o roubaram. Fui à feira. Quem disse que tem um seguro para um carro 1994, mosca branca, a álcool, 1.6? Não tem. É mosca branca. Roubaram-me, levaram embora, fiquei só com o outro lá. Mas depois eu vendi o outro também, já comprei... Mas assim... Você vê que é estimulante, porque você vê que a sua obra - que você criou sozinho - você tem que pensar no produto, tem que desenvolver o visual, tem que pensar no conteúdo, tem que aprimorar com os seus músicos, e isso tudo lhe deu a sua casa. Trabalhei muito e ainda continuo trabalhando. São outros tempos, tal. A gente vivia de guia para cima e para baixo, hoje a gente... O Waze fazendo tudo para a gente. Enfim, os tempos mudam, a gente cresce com a cidade, a gente vê a cidade se transformando. Onde a gente emocionou algumas pessoas nos anos 2000, já não existe mais o bairro inteiro, se transformou o bairro inteiro. Tinha padaria, não tem mais, agora tem um conjunto de prédios; daqui a pouco aquela menina que era adolescente se casou, tem filho e já está morando fora. E você toca no casamento dela depois. Nossa, cara, e você faz parte das histórias. E você está saudável, aí eu me sinto o próprio Highlander. Falo: “Puxa...”. Parece que você faz uma encarnação sem desencarnar e continua na outra, como a gente conversou antes, e está tudo aí. O mundo em que você foi criado, que foi construído para você, que vivenciou, ajudou a construir, nada dele mais existe, nem valores pessoais... Os meus continuam íntegros comigo, mas estou falando da sociedade, as brincadeiras, os cenários. Mudou o cenário, composição orgânica. Muda o orgânico, porque você jogava bola e bebia água da torneira para matar a sua sede. Hoje você não pode mais beber água da torneira. Você pegava abacate na casa do vizinho, você trepava, você vai saber, depois você jogava pedra lá para encher o saco da vizinha. Hoje você não vai. Hoje a vizinha te mata. Você jogava bola... Então assim... É um cenário que já foi. Acabou. Você continua mais num outro mundo que você conheceu, da música, que também já não existe mais. Depois você entrou pelo da serenata, que hoje ainda se transforma. As pessoas, você conhece as pessoas pela família, pelos valores, porque aquilo foi importante. Então você vai colecionando uns flashtimes assim: “Poxa vida, meu pai falou isso, papapá, papá. Minha mãe então disse isso, isso, isso”. Você vai vendo aquela coleção de rostos, coleção de histórias, você fala: “Puxa, que legal, você fez parte disso”. Você passou pelo mundo, você viu que foi alguém útil para este mundo. Você não passou por passar; você aprendeu, como todo mundo, o que é bom, o que é ruim, depois você vai mudando de valor. Porque a verdade é sempre assim, ela é sempre passageira. A sua verdade funciona até hoje. Amanhã, se você descobrir algo novo, ela pode deixar de ser verdade, pode ser passado seu, aí você traz outra verdade para a sua vida, aquela sim é a sua verdade. E assim vai. É sempre mutante. Mas enquanto ela existe, essa concepção de vida que eu trouxe para mim, ela é bárbara, porque me faz um cara legal. Vocês olham para mim, vocês sabem que eu sou feliz. Eu não sou um cara mal realizado no que eu faço, um cara triste com o que eu vivo. Pelo contrário, acho que a música é .... Eu não gosto do Guitar Hero, mas eu toco Guitar Hero; precisa tocar, vamos tocar. Mas o que é legal é construir esses mundos paralelos. Enquanto está todo mundo construindo tecnologia, a gente está construindo histórias de almas. Isso é importante. E vai indo nesse cenário, nesse mosaico. E sem poesia, eu estou falando a real, isso é real. Então... Pontes, quantas pontes? Eu sei que essa coisa de pessoas que estavam longe, se aproximaram, famílias também que estavam com tanta coisa na garganta para falar e o pai... Sabe? Tendo que ouvir aquilo, transformou o ambiente todinho da casa com os amigos. A gente que passou muito por isso. Empresas que estiveram com a gente, oferecendo um trabalho carinhoso. Como você vai acreditar que a música não é transformadora? Ela é. Em qualquer lugar, a música transforma. Você vai ver antes e depois faz um teste. Faz o teste no ambiente antes da música, depois introduz a música e sente o resultado. Tem um trabalho... Não sei se vocês acompanharam, de um cara chamado acho que Henry, Harry ou Henry, que o cara tem um... Como chama aquela doença que a pessoa fica inerte, ela fica imóvel? Esqueci o nome dessa doença.
P/2 – Alzheimer ou Parkinson? Eu sempre confundo as duas.
R – É. É uma dessas duas aí. Exatamente.
P/2 – Tem uma que, realmente, uma hora você para.
P/1 – É?
P/2 – Você não consegue mais engolir, você não consegue mais...
R – É. Ela fica travada mesmo. Mas esse caso do Henry, ou do Harry, não lembro...
P/2 – Acho que é Parkinson, que você começa a perder a coordenação motora...
R – Fica parado, não é?
P/2 – E tem uma hora que você perde toda...
R – Então, o que aconteceu com essa pessoa? Foi muito interessante isso, até coloquei no ‘site’ da gente. Tiveram a ideia de colocar um fone de ouvido com as melhores músicas que marcaram a infância dele e adolescência.
P/1 – Ah, eu vi.
R – Você viu isso? É legal ou não é?
P/1 – Lindíssimo. Lindíssimo.
R – Bacana ou não é, Monalisa? Então, o cara viveu. Você já viu essa história?
P/2 – Não.
R – O cara, no momento em que estavam tocando as músicas dele, com o fone, ele se transformou, não foi? Você já viu isso, Caio?
P/3 – Eu não vi.
R – Depois você passa para ele. Até me arrepia isso aí. Porque é transformador. O cara viveu tudo de novo, com as músicas que ele ouvia. Então ele cantava... Você o viu cantar? Papapá, papapá, papapá, papapá. Aí, tirou o fone, ele... puff.
P/1 – Eu acho que ele tinha Alzheimer, porque ele tinha perdido toda uma memória da vida.
P/2 – Ah, tá.
P/1 – E aí colocaram para ele as músicas da adolescência, da infância dele, ele lembrou, tipo...
P/2 – E ele lembrou. Então era a par…
P/1 – Recuperou até uma vitalidade.
R – Exatamente. E o interessante é que você prova isso com essa doença. E estão querendo trazer essa história para o Brasil, não sei se vão chegar com tempo, mas isso é interessante porque mostra o poder da música nas pessoas. Porque música, como eu falei, é celular, ela é atômica, ela mexe com os chacras da gente. Por isso que quando você ouve certa música, você tem que prestar atenção que chacra está vibrando. Cada chacra tem um potencial na sua vida, abre algumas sensações, algumas emoções, e tal. Quando você vê isso acontecer nos pastos, você vê o gado ouvindo música - que eu já vi também - os caras tocando trompete, sax, tal, vem um monte de vacas ouvir aquelas músicas, vem um monte de vacas. E depois começam a perceber que as vacas dão mais leite, e quando matam alguma a carne é muito mais macia, porque elas relaxaram. Fizeram isso com as vacas, deu super certo; fizeram com os búfalos - tinha um que era encantador de búfalo. O cara, por acaso, começou a tocar sax na casa dele, no sítio dele, e havia os búfalos ao redor. E os búfalos começaram a ficar mansos. Como búfalo é manso? E ele percebeu que havia conseguido ser o amansador de búfalo, ficou famoso na cidade. Você tem isso, você tem lá nas plantas, nas plantações. Começaram a colocar música clássica espalhada, com caixinha de som, na plantação de uva. Toda a plantação, durante um ano, foi trabalhada com música clássica. Resultado: eles conseguiram provar que as uvas cresceram com mais força e mais saborosas; nos pés, a cor do vinho era muito superior e adotou-se, então, a postura de que era importante ter a música na fazenda. Mudaram depois de situação, falaram: “Vamos fazer o seguinte, vamos testar para ver se a música é boa mesmo. Vamos colocar Led Zeppelin”. Eu sempre gostei muito do Led Zeppelin quando era moleque, mesmo depois de velho. Aí, colocaram no vinhedo: morreu. Morreu. Elas não gostam de heavy metal. (risos).
P/2 – (risos).
P/1 – (risos).
R – Morreram essas uvas. Fizeram isso com banana também, com música clássica - a banana também cresceu que foi uma beleza. Então, você viu que colocaram música na vida, tudo ficou mais florido.
P/2 – Altera.
R – Altera.
P/2 – Altera alguma coisa, para melhor ou para pior.
R – Para melhor ou para pior, mas que altera, altera.
P/1 – Sim.
P/2 – Altera.
R – Você viu que mais do que ser humano. E fizeram outro teste também, fizeram um teste com uma planta, onde o ser humano colocava as emoções dele na planta assim. Está tudo bem aí? Vocês querem que eu pare?
P/2 – Não.
P/3 – Não. Não. É que o Júnior pediu para eu avisar quando fosse quatro horas da tarde...
P/2 – Para você...
R – Ah, não, eu estou de olho aqui.
P/1 – Ah, então, perfeito.
R – Eu estou monitorando aqui.
P/2 – Não, é que a gente não pode olhar. Você imagina o entrevistador tirando o celular para olhar a hora.
R – É. Eu vou falar: “Pô, você não vai querer mais me entrevistar? Eu vou embora dessa droga então aqui” (risos).
P/1 – (risos).
P/2 – É, então... Eu só pedi para ele me cutucar quando desse, para você não perder o horário.
R – Não. Não. Tudo bem. Está legal. Eu estou de ouvido aqui. Então, o que acontece? Você vai vendo que a música, ela tem essa finalidade que é tão bacana, é tão construtiva, você fala: “Puxa, eu provei isso nos lugares em que eu toquei”.
P/1 – E em você mesmo.
R – É. Comigo mesmo. Porque, com a música, quando eu tocava heavy metal, era aquela folia, aquela energia. É um pulando... Aqueles lances que pulavam um em cima do outro, tal. Mas quando você faz serenata, você vê as pessoas se sensibilizarem com a música, porque fez parte da história da vida da outra, ou porque é a música do filho, seja lá o que for. Você fala: “Pô, eu fui testemunha viva de uma coisa que eu nunca fui incentivado a fazer, fiz aos trancos e barrancos”. Desde o instrumento, porque eu tocava violão, passei para o contrabaixo sozinho, depois fui para o violão de novo, para fazer serenata. E hoje eu estou aí, com a minha trupe, fazendo e mudando ambientes por onde a gente passa e dando um grande sabor para a vida. Eu falei... Então é esse... Respondendo à sua pergunta, “o que transformou em você?”, tudo. Porque hoje, como eu te falei, a gente sabe que a música transforma a gente por dentro; então, se eu tivesse que vibrar o chacra hoje, com certeza não seria mais o básico, que é o sexual. A gente está em outros chacras, mais superiores. Porque você sente mais amorosidade. Você sente mais amor às pessoas. E eu sempre fui um pouco egoísta nisso. Eu sempre sou egoísta e teimoso. Eu achava que nunca seria assim como a gente acha que é. Até hoje eu sou assim no Tocando Oculto, que depois eu vou falar. Mas eu falo: “Não, mas não tem como não perceber que é verdade, porque é. Você está lá, está tudo acontecendo, as pessoas falam sobre isso com você, você percebe que muda mesmo, você também se muda com isso, a engrenagem das pessoas é diferente com você. Você é tratado como um filho querido: “Ah, vem cá tomar um vinho conosco. Senta aí, tal, vem comer um negócio com a gente”. Outro dia, recentemente, a pessoa fechou a porta: “Não, vocês não vão embora agora, está muito escuro. Vocês dormem aqui. A gente faz a cama para vocês, vocês tomam o café da manhã, amanhã vocês vão embora”. A mulher nunca me viu na vida, quer que eu durma na cama dela lá, na cama da... Então você vê como são as coisas, você vê que você desperta um carinho e agrega um valor sentimental que você jamais esperava ter nas pessoas. Isso é comovente, não é, Monalisa?
P/1 – Com certeza.
R – Isso é fantástico. Qual outra profissão te dá isso? Viver de música já é um desafio no Brasil, viver de Arte. Então, viver de Arte com essas emoções todas plantadas aqui, plantadas ali, isso é que eu acho legal. E contar isso aqui, neste espaço, também é super gratificante. Uma coisa é você fazer um vídeo lá no escritório falando do Dia das Mães, Dia das Mulheres, não sei o quê. Outra coisa é você falar sobre vida, sobre relação, sobre mundos paralelos, tudo aqui num contexto como esse. É outra história de pôr o nosso mundo para fora.
P/1 – Fredi, a gente está caminhando para o final da entrevista, então a gente quer saber sobre as suas atividades hoje em dia. Justamente que você ia chegar na parte de contar seus projetos atuais.
R – Ah, sim. Sim. Então... Além de fazer parte da Serenata e Companhia, onde a gente faz todo o tipo de ambiente, eu também tenho um trabalho que desenvolvo na internet, no YouTube, que é o programa Tocando Oculto e o programa Papo de Esquina e Você. O Papo de Esquina e Você, que eu faço com a Marta Corrêa. O Tocando Oculto é sozinho. E o que é legal em tudo isso? Porque, por exemplo, eu sempre falei... Eu tenho uma necessidade de conhecer o outro mundo, que eu precisava contar sobre ele e eu não sabia de que jeito ia começar com isso. Eu conheci um senhorzinho, que ele é amigo daquele cara que eu contei lá atrás - o Antônio Carvalho, da Bandeirantes - que é fantástico, tal, tal, tal. Depois, quem quiser saber sobre ele, só entrar Antônio Carvalho Filho, Rádio Bandeirantes, você vai ver lá o Conversinha ao Pé do Ouvido, que ele falava todo dia na rádio, vai ver fotos comigo. E ele era amigo de um cara, que foi meu professor depois, chamado Adhemar Ramos. Foi até legal, porque naquela época o meu tio queria apresentar um amigo dele para mim e eu queria apresentar o meu amigo para ele, para o meu tio. E a gente marcou, depois de tanto se falar, para se apresentar. E os dois, tanto o Carvalho como o Adhemar, também eram amigos entre si. E aí então, o amigo do meu tio, que era o Adhemar Ramos, ficou super amigo meu depois. E o Antônio Carvalho acabou sendo amigo, que na verdade era amigo do Adhemar Ramos e eu não sabia. Então, naquele primeiro momento em que a gente juntou todo mundo, viu que todo mundo era meio que comum na amizade, porque ele falava muito bem do cara para mim: “Olha, você precisa conhecer o Adhemar Ramos, ele trabalha comigo lá, tal, tal, tal, e o cara é incrível. O cara fala de cada coisa que eu nunca vi igual, não sei o quê”. E eu falava a mesma coisa do meu amigo, do Antônio Carvalho, para ele: “Você é quem precisa conhecer o meu amigo. O meu amigo é fantástico, e bá bá bá, e bá bá bá”. No fim, os dois falavam a mesma coisa, porque estudaram no mesmo lugar, davam aula no mesmo lugar.
P/1 – Eram amigos.
R – E eram da mesma filosofia. Então, a gente começou a se embrenhar um pouco mais nesse contexto. Eu falei: “Puxa...”. Então, antes de morrer, o Adhemar Ramos... Eu falei para o meu amigo Carlos Torres: “Você que tem uma câmera aí, vamos fazer umas gravações desse cara? A gente podia colocar qualquer assunto para ele falar, ele sabe de tudo mesmo. E a gente vai gravando. Vamos gravá-lo aí”. “Está bom, vamos lá”. Ele era amigo dele também. A gente chegou, marcou com o Adhemar - o Adhemar conhecia o Carlos Torres e me conhecia. “Então vamos marcar. Vamos marcar uma entrevista.” Marcamos na casa dele. Ficamos gravando várias coisas lá. Ficamos gravando sobre o lado oculto das pirâmides do Egito; falamos sobre a vida oculta de Jesus Cristo; falamos sobre Helena Blavatsky; enfim, todo mundo que quiser ouvir esses temas, estão todos na internet. E achei que era muito legal poder fazer um Big Brother com o Adhemar Ramos. Enfiei umas câmeras 24 horas na casa dele. Ele vai ao banheiro? Põe lá uma câmera para ele falar enquanto vai ao banheiro. Ele vai comer? Põe outra câmera para comer. Eu falei: “Puxa, podia fazer isso direto com o cara, o cara sabe falar de tudo, é uma enciclopédia viva”. E onde estivesse, tinha assunto. Mas não dava para fazer isso. Então, a gente tinha que se contentar com o máximo de tempo que a gente podia ter com ele, de história. Aí a gente então gravou, gravou, gravou, gravou. E a gente começava a comer também na casa dele, ele começava a contar os bastidores, eu falei: “Puxa, o bastidor é que eu tinha que gravar”.
P/1 – (risos).
P/2 – (risos) Eram melhores do que estava sendo gravado.
R – Sempre é melhor. Você pode reparar: vai acabar a gravação aqui, nós vamos falar de coisa que vai... “Puxa, isso podia ter entrado, droga!”. Enfim, a gente começou a ver: “Ah, isso funcionou”. Todo mundo queria muito ouvir o Adhemar Ramos falando, tal, tal, tal. E tem cada história do ‘balacobaco’ mesmo, que ele falava; estudava umas coisas do além, tal, era um cara super-respeitado. Enfim, ele morreu em 2012, uma semana depois de a gente ter ido lá. Eu falei: “E agora? Foi embora o cara que a gente gostava tanto de gravar, que todo mundo cobrava tanto, que era tão legal”. E começaram a me cobrar: “Poxa, não tem mais ninguém para vocês entrevistarem? Vocês faziam tão legal, não sei o quê, não sei o quê”. Eu comecei a ver outras pessoas que eram legais também, e levei. Falei: “Então vou gravar”. Não tinha nem título. Nem era o programa Tocando Oculto, era bate-papo comigo lá. A gente foi, gravou então o Nilton Schutz, é um grande amigo também, sabe demais de astrologia e de muitas outras coisas, um ocultista de mão cheia. Depois eu fiz com a Cristina Cairo, fiz com várias pessoas da Ufologia que são bárbaras, têm um trabalho muito bacana, da Ciência, da Tecnologia, enfim, gente boa... Tem muita coisa. E tem um amigo meu, inclusive, que recentemente tem feito bastante coisa comigo, que é feiticeiro mesmo. É um dos poucos que existem no Planeta que têm a tradicional... Ele conhece tudo muito a fundo assim. Ele conhece todas as magias do Egito, como funcionam, o que eram as magias que existiam lá, enfim, um cara com quem eu aprendi muito. E eu comecei a falar: “Agora entendi um pouco o que é esse trabalho de levar conhecimento para as pessoas. E vamos continuar gravando”. Então, até hoje eu gravo gente bacana, que acho que tem muita coisa para dizer. E ponho lá no programa. Eu não fico preocupado porque: “Ah, porque o canal do fulano tem cinquenta mil views, ele tem cem mil views, trezentos mil views”. Eu acho que quanto mais número de views, pela proporção, menos as pessoas ouviram direito. Porque quanto mais você ouve profundamente, mais difícil é entender certas coisas ali. Não é para todos que aquilo ali acontece. Nos outros canais tem quinze minutos, vinte. No meu tem uma hora, duas horas, às vezes, de conteúdo. Porque eu quero que aprofunde o assunto. Falo: “Não, conta aí. Vamos falar sobre o lado oculto da Segunda Guerra Mundial e vamos falar sobre tudo isso”. Coloco lá. Então, o cara fala duas horas e pouco de assuntos de tudo que você imagina. Agora nós vamos falar sobre o lado oculto de Hitler - no próximo que a gente vai fazer. Tem história para caramba sobre isso aí. Aí fala sobre o lado oculto também, sobre os estudos que se faziam através dos discos voadores, desde não sei quando. Essas coisas sempre me fascinaram. Eu falei: “Puxa, que legal. Hoje eu estou perto de pessoas que sabem o que estão falando”. A gente fala: “Nossa, que mundo maluco”. Eu já tinha um mundo maluco quando eu comecei a me descobrir, que eu sabia que estava num outro planeta quando eu fazia as minhas viagens astrais. Agora os caras me dizem aí de espécies que estão aqui no planeta com a gente. Já estão catalogadas na Rússia, já estão catalogadas nos Estados Unidos, que estão dentro dos ambientes governamentais, estão no meio da gente e estão vivos - metade seres humanos, metade ETs. Então, um monte de coisa. Que você fala: “O mundo nunca vai ser só do ser humano”. Até porque o ser humano, por melhor que seja, ele é muito básico para criar coisas. Ele mais destrói do que cria, basta a gente ver o que está sendo feito por aí. A gente vê, fala: “O mundo não é nada daquilo que a gente vê, que a gente ouve”. Cada vez eu aprendo mais e cada vez sei menos. E vejo que nada é aquilo que a gente acredita que é, sempre estão escondendo algo da gente. Falo: “Poxa vida, a gente acha que é aquilo e aquilo na verdade não é aquilo; tem algo muito maior atrás daquilo”. Aí, basta a gente saber disso para nos confortar, porque aquilo que, realmente, está atrás disso, é muito maior e perigoso. Você vai e chega lá, você é alvo. Então assim... Você vê que existem... Eu descobri, falei: “Poxa, que legal”. Isso tudo eu descubro com as pessoas que eu vou entrevistando, mas que eu vejo que não dá para falar. Você até pode falar um pouco, mas quando você fala muito você acaba se tornando alvo. Eu falei: vou fazer outro programa, com a Marta agora, fazer com outra pessoa... Ela foi convidada. Ela que, inclusive, me convidou: “Para falar sobre o que você quiser, Fredi”. Porque eu fui dar entrevista lá sobre serenata, ela adorou, falou: “Nossa, que bacana, rendeu um belo papo”, que legal, não sei o quê. “A gente precisava fazer um programa juntos”. Aí, ela me convidou: “Por que a gente não faz aqui então? Porque a gente pode colocar um nome, a gente vai entrevistando as pessoas”. Eu falei: “Por que a gente então... Vamos bolar aqui um Papo de Esquina e Você, por exemplo”. Porque o programa dela se chama Esquina da Cultura. Como é dentro do Esquina da Cultura, que é semanal - o nosso é mensal, está uma vez por mês ali - então pensei: “Esquina não, mas Papo de Esquina, porque é dentro do papo, dentro da Esquina da Cultura”. Eu coloquei, ficou legal, mas lá a gente só entrevista gente da área... Porque eu resolvi diferenciar um pouco... Da área da Medicina. Então, eu trago muita psicóloga, psicoterapeuta, gente da área de.... Sei lá, outros conteúdos dentro da área mais convencional, sem misturar com metafísica. E então ficou dentro desse perfil. E estamos fazendo aí. Assim... Você vê que é uma coisa minha. Não estou visando lucro com isso, não estou visando... Eu estou visando passar conhecimento, tipo assim, você deixou algum legado. O cara que foi lá, por exemplo, o João Baldan - amigo meu, também, o último que a gente entrevistou - ele falou sobre medicina chinesa, sobre a importância dos sentimentos ligados aos órgãos vitais do corpo. Quando você está triste, você tem que ver que órgão está sofrendo com isso, que elemento você tem que trabalhar para você melhorar a qualidade do seu órgão. São assuntos riquíssimos, são coisas da Medicina, coisas que estão aí para as pessoas. Eu falei: “Isso não pode ficar parado, tem que divulgar - quanto mais, melhor”. Porque uma vez que a Medicina convencional não quer lhe curar, porque não é importante para ela... Porque se ela lhe cura, você não é mais interessante para ela, se você morre também não, então você tem que ficar eternamente doente, isso é o praticado. Mas não, a gente tem uma proposta de levar conhecimento, vamos deixar ir. Então assim... Você vê que eu, dentro do meu trabalho musical, toco de tudo também, não só serenata. Faço música ao vivo nas festas, tal, faço formatura, faço casamento, faço de tudo. Mas, dentro do universo da música, tem esse outro universo de conhecimento que eu não posso ficar quieto. Por que você acha que eu comecei com tudo isso lá atrás? Não é para ficar quieto. Porque eu sou um cara inquieto. Mas, se já está desde aquela época é porque tem que ser feita alguma coisa. Se alguma coisa lhe incomoda - eu penso assim - se alguma coisa lhe incomoda, é porque ela está ali, está sendo tocada e você precisa descobrir e trabalhar. Não é porque você deixou de pensar sobre o assunto que ele está resolvido. Às vezes, está adormecido. Mas você tem que trabalhar aquilo. Por isso que várias terapias... As pessoas fazem terapia para quê? Ah, tem um resquício de algum problema, não sei o quê, não vai jogar embaixo do tapete, é só postergar o problema. Tem que trabalhar aquilo. Eu vejo da mesma forma isso: se tem uma coisa que você gostou do ocultismo lá atrás, talvez tenha me levado hoje para abrir esse espaço e falar sobre isso no meu canal, meu programa Tocando Oculto. E para falar sobre Ciência e tal, no Papo de Esquina e Você. Então assim... Enquanto eu estiver ativo, estiver saudável, eu vou fazendo isso. Eu vou tocando aqui, cantando ali, fazendo uma apresentação aqui, acolá, dos entrevistados. E levando conhecimento. E, ao mesmo tempo, fazendo sapateado. Porque eu quero, também, fazer música cantando e dançando, como nos musicais. Então, eu estou no segundo ano de sapateado para ver se eu amanhã faço parte lá do pessoal da terceira idade já com algum agregado a mais.
P/1 – Muito bom, Fredi. Você quer fazer uma pergunta?
P/2 – Eu quero fazer uma pergunta. No meio dessa questão toda, como foi ser pai para você?
R – Foi uma barra, cara. Foi uma barra mesmo, porque assim... Eu fui uma pessoa um pouco sonhadora e um pouco fora da realidade em muitas coisas, inclusive nesse aspecto. Porque eu imaginava que ia ter um filho de uma mulher que eu amasse, que eu me envolvesse com ela, que eu tivesse um histórico. Porque eu queria ter uma família. E esse sonho foi destruído a partir de uma ideia de que eu tinha muitas mulheres. Falei: “Bom, é acidente de percurso por tesão”. E ela, por ter falado que ia ser diferente o ano dela, não sei o quê, tal, e que também não precisava me preocupar porque ela já havia tentado todos os lances para ser mãe, tal, eu não precisava me preocupar... Então eu acabei entrando nessa, eu fiquei desprevenido, eu fiquei à mercê da sorte. E a sorte acabou sendo para o lado dela. Então ela, realmente, foi mãe. Ela queria tanto ser mãe, e tal. E o meu filho está aí. Não posso reclamar dele não, e nem dela. Ela é uma pessoa fantástica, nunca me encheu o saco, sempre que tinha alguma crise, alguma coisa, perguntava para mim: “Vamos falar com o Vitor? Vamos não sei o quê, não sei o quê?”. Eu conversei muito com ela. A gente nunca ficou junto depois disso, mas eu sempre falei muito com ela. Que é importante essa troca de... E o meu filho também nunca foi um garoto que me deu problema, foi sempre legal, sabe? Acho que já veio com uma bagagem assim para fazer uma coisa maior. Então, mas assim... Você me perguntou o que eu senti. Eu me senti invadido. Parece uma coisa boba de falar, uma coisa meio... Mas é engraçado. É violentado mesmo. Porque não era para eu fazer isso desse jeito. Não era para ser assim. Cadê aquele lance que eu queria tanto? Não era assim, cara, que eu queria construir uma família. Era aquela visão platônica do canceriano. Por que eu vivi tantas ideias? Eu construí uma ideia platônica. Quando você não tem um relacionamento por um bom tempo, você vai construindo formatos de modelos. E eu construí um formato para mim, uma falsa crença, que um dia ia me casar, ser fruto de um relacionamento que eu amasse, e aí ia ter uma família legal lá. Construí uma falsa crença, mas foi a crença que eu achei legal na época. Quando eu senti o impacto da dureza da realidade, eu falei: “Puxa...”.
P/2 – Ficou frustrado.
R – Fiquei frustrado. Falei: “Não era para ser assim o negócio”. E aí mexeu um pouco também com essa coisa de não ficar com todo mundo. Mas é engraçado, quando você está no mundo, quando você é expectador e não o personagem, você vê tudo com outros olhos. Quem é personagem não consegue ver maldade nisso, não consegue ver falsidade, não consegue ver nada disso de que a gente está falando aqui. Quando você fala sobre muitas pessoas e tal, com as quais ao mesmo tempo você está se relacionando, com todas elas eu gostei de me envolver; tinha um porquê de me envolver. Eram especiais, de alguma forma, para mim. Então, como você vai explicar isso? Ah, pô, você é um sacana, você fica traindo fulano, você fica com ciclano. Não. Só que eu sei o que é para mim. Só que eu não vou ficar querendo explicar para fulano e beltrano, porque cada um tem uma maneira de ver isso aí. Então, seria uma grande inocência minha querer explicar a minha forma de ver, para as pessoas que estão lá. Então assim... Quem construiu um mundo, como eu construí, não vai poder ver o mundo diferente depois de uma sequência dessas, tão perto uma da outra. Eu construí com a ideia de que ia ser uma coisa construída pela família, pelo amor, todo mundo unido, tal, tal. Mesmo que depois eu tenha despertado isso mais tarde com as pessoas que me rodearam, tal, sempre teve o lado do canceriano mesmo, de se envolver, de cuidar, de proteger, não sei o quê. É lógico que depois, com muita gente, isso vira meio bagunçado. Depois você vai vendo que vira vício, aí você vai... Aí que está... Vai intensificando a coisa, vai densificando. O sexo deixa de ser só uma coisa normal, começa a virar vício, começa a potencializar; então, você começa a entrar num lado mais de densidade. Quando eu descobri a densidade que estava lá... Porque aí eu já comecei a entrar em outras histórias... Posso contar aqui rapidinho?
P/1 – Pode. Claro.
P/2 – Pode.
R – Então, havia mulheres que eu guardava o cheiro delas. Eu tinha camisetas de todas elas. Então aquilo, eu as limpava e guardava o cheiro da fulana, fazia amor com a ciclana, guardava o cheiro da ciclana, sabia cada uma que tinha um cheiro. É lógico que, na minha cabeça, aquilo ia ficar por muito tempo. Mas não, o cheiro desaparece. Como você pode ter esse cuidado de saber sobre o cheiro de cada um, porque o cheiro é uma coisa que, para mim, era vivo, e com maldade? Não era com maldade, aquilo era de verdade, sabe? Aquilo era legal. Mas era um momento difícil de falar sobre isso, porque as pessoas tinham outra maneira de ver isso. Eu não, já fazia viagem astral, sabia que o mundo não era nada disso que as pessoas estavam vendo aqui, tinha muito mais. Então, eu vivia uma coisa, um plano diferente. Ainda vivo esse plano diferente. Mas eu tento me encaixar dentro do que as pessoas estão vendo aí. Não vou julgar, porque cada um tem a sua maneira, mas eu tento colocar para a pessoa entender que pode ser assim também, por que não? Vamos pensar se isso não pode servir, assim. Não dá para você ser pretensioso nos dias de hoje, falar que você está certo ou que você está errado. Quem sou eu para fazer isso? Do universo construído depois de não sei quantas encarnações, milhões e milhões de encarnações, hoje vocês estão aí fazendo o que fazem. Tanta bagagem. Se você acessar o seu ponto bindu, que vai ter o registro de tudo que você já foi, você vai ter flashes nos seus sonhos: poxa, eu vivi num passado assim, assado. Você vai encarar nos seus sonhos vivências e não simples sonhos do que você já foi. Para você, parece ser sonho, mas foi vivência. Então, você é milenar. Todos somos milenares hoje aqui. É muita pretensão que eu vou ter ao falar que você está certo, você está errado. Entende? Não dá. Não tem como. Então, é isso. Acho assim... Eu tenho passado por um testemunho nesse meu histórico que eu resolvi para mim, que me enche muito de orgulho por isso; por poder encontrar um pouco dessas coisas que eu vivi, que eu experimento, e fazer alguém melhor, sempre. Porque acho que esse é o caminho, a importância da vida, de você estar aqui. Aquilo tem que ser bom para você, tem que lhe fazer bem, de algum jeito. E o bem também é relativo, porque o bem para você, de repente, é você ganhar muito dinheiro, não é você construir uma vivência evolutiva, histórico evolutivo. Mas para mim foi isso: eu construí um histórico. Eu falei: “Foi legal por isso, conheci melhor aquilo”. Gosto dessa coisa de me sentir envolvido com tudo isso, tendo a minha história... Eu tenho a história do meu filho, tenho a história da minha profissão, eu tenho a minha namorada, não sei o quê. Tudo isso eu tenho hoje. Amanhã eu não sei, porque amanhã ninguém sabe o que é, mas enquanto tem, ela é forte, ela é intensa, ela é verdadeira. Amanhã, sabe-se lá o que vai fazer, mas hoje tem que ser vivido. Então, acho que isso é a relação que eu aprendi, sabe, você ser de verdade agora. Amanhã, você não sabe se vai ser, mas hoje você tem que ser. Então é isso. Algum recado, se eu quisesse dar algum recado depois, passar, seria esse, eu acho. Sabe? Faça o que é você. Você vai descobrir o você amanhã melhor, todo dia. Então, seja você, que você vai ser feliz; porque você vai descobrir que você não é o que você acreditou ser, você é muito mais do que isso que lhe colocaram para ser. Só que, aos poucos, é que você vai tirando esses véus, e aí você fala: “Poxa vida, quanto mais eu sei, menos eu sei, mas eu gosto do que eu sou”. Porque você está se tornando claro, está se tornando transparente, você está sendo vivo para você. Então, acho que esse é um recado legal de você todo dia... Não interiorizar a máquina, mas conhecer o ser - ser o espelho do seu ser. Você olhar para o espelho, falar: “Agora eu já sei melhor quem eu sou. Ontem eu tinha ideia, mas hoje eu já sei, e tal”. Todo dia um pouquinho mais de você. Acho que esse é o recado que as pessoas deveriam buscar e tentar entender: quem é você? E quanto mais você virtualiza, quanto mais você se interioriza, menos você sabe. Aí explica o porquê de essas pessoas hoje estarem tão depressivas, tão isoladas, terem dificuldade de se falar. Por que tantos valores perdidos? Eu acho que tem um pouco disso, as pessoas procuram muito buscar o tempo com alguma coisa que abstraia, não que lhe pergunte, mas que lhe abstraia. Não quem é você, por que você tem barba, o que o levou a criar barba. Não é isso que as pessoas fazem com você, você notou? Vocês fazem com a gente, que é legal, mas as pessoas não se fazem essas perguntas, porque tem muita coisa que, na hora, que você pega a resposta, choca. Fala: “Não. Eu não estou pronta para receber essa resposta”. Então, quando você descobre e acha que é o momento, está na hora. Tudo tem o seu momento. Ah, então está na hora de eu descobrir isso de mim. Então está! Então, agora vamos mais um pouquinho. Vamos mais um pouquinho. Tudo bem, vá no seu tempo, o importante é ir. O importante é seguir, e ir. Bom, então acho que eu já respondi às suas perguntas. Tem mais alguma coisa?
P/1 – A gente ainda tem uma pergunta. A gente queria saber se você tem um grande sonho ainda na vida.
R – Eu tenho.
P/2 – Além do sapateado.
P/1 – É (risos).
R – Ah, sem ser sapateado (risos).
P/2 – Esse você já está a caminho.
R – É. No sapateado eu estou porque eu estou insistindo lá, mas não é o meu grande sonho. O meu grande sonho talvez fosse fazer um filme sobre essa história da serenata, ser até ator nessa história também. Realizar esses livros que eu tenho na cabeça, contar essas histórias para o público. Eu queria que esse universo de cada um, intrínseco ao ser humano, que é super bonito, ele viesse à tona. Porque as pessoas estão um pouco em... Eu estou sentindo que, com todo esse cenário político, todo esse mundo violento, tal, a mídia está colocando muito nas pessoas que a gente está... Que a espécie está errada. Deus errou na formação da gente, a gente está descambando mesmo para lá como espécie. E, na verdade não, a gente está aí para ganhar uma experiência nova. E eu acho que essa história de um filme pode ser isso, ele pode mostrar que o ser humano, no íntimo, ele é muito bacana, sim. Talvez ele precise de motivação, talvez ele precise destruir algumas crenças também, sei lá. Mas o importante é mostrar que ele é lindo, como essência, porque ele é. Ele é bacana mesmo. E essas coisas são motivadoras; por isso a gente fala: “Ah, vamos fazer um livro para a terceira idade, porque a terceira idade absorve como nunca essas coisas, sabe? Pulam junto, cantam junto, dançam junto, querem tirar foto, são tietes. É um público maluco, isso é muito legal”. Quando eu faço lá para a terceira idade é assim... Muito legal. Muito legal. A gente por muito tempo foi muito... A gente fazia parte cultural do Itaú Viver Mais, que é um público da terceira idade - acima de cinquenta e cinco anos - então, por muitos anos a gente faz assim a parte da música. Eu faço um repertório legal, vestido a caráter, com a roupa de serenata, levando a minha trupe comigo e fazendo um passeio no tempo. A gente toca de tudo. E o pessoal dança, curte, bate palma, interage, não sei o quê. Eu falo: “Poxa, que legal”. Você fala: “Que bacana as pessoas se motivarem”. Aquilo já valeu o dia delas, pronto, vão para a casa diferentes. Vão para casa mais animadas, aquilo já valeu a pena, já soltou os morcegos, tal, interagiu, tal, tal. Aí eu vou, vejo uma menina de nove anos, como eu falei lá, curte para caramba a nossa história. Falei: “Poxa...”. Aí, a mãe de outra menina, adolescente, de quinze anos, que não fez festa, gosta muito de uma música X Y Z e faz uma serenata para as amigas que estão junto com ela. Falei: “Mas não funciona”. Funciona. É motivador. Muitos jovens hoje nos motivam. Quando a gente pensa que está perdido o negócio, que é só mais a terceira idade, não, muitos jovens sabem o valor da cultura, do que é bom, do que pode ser tocante. Se eles estão perdidos no mundo deles lá é porque aquilo é o mundo atual deles, mas não significa que aquele seja só aquele mundo. Se você mostrar outros mundos pode ser legal, por ser libertador inclusive. Só que ele tem que ser estimulado, o pai tem que ter essa noção, para estimulá-los, porque tem muito mais pela frente. E nem sempre o pai sabe disso, a mãe sabe disso, porque está em tempo integral trabalhando, tem pouco interesse, não está muito a fim também de saber. Enfim, então o meu sonho é esse, sabe? De a gente poder fazer alguma coisa mais grandiosa, a gente poder levar esse trabalho para Dubai, fazer lá para os Emirados Árabes, para o pessoal da Europa também, que são brasileiros na Europa. Quem sabe quem estiver assistindo aí pode gostar dessa ideia e levar a cultura brasileira com muita música. Porque a gente não faz só música, a gente faz música, faz poesia, conta um pouco das histórias da serenata, então vira um bate-papo. A gente pode criar vários... Não tem limite para criar. O tema está aí. “Ah, eu quero que vocês pulem do andar, tocando, de paraquedas e roupa serenata”. Tudo bem, a gente pula tocando de seresteiro. Acabou. Vamos de asa delta tocar, fazer serenata, tudo bem. Sabe? Vamos fazer isso num prédio lá de fora, todo mundo lá como marionete. Vamos. Se for legal, se for uma proposta que tem um agregado de valor legal, vamos fazer. Então, tudo está aí. Está na mão da gente fazer o que nós vamos fazer, mexer com o ser humano, potencializar o que há de melhor nele; a gente tem a música para isso. Agora, as ideias vêm de vocês também.
P/1 – Fredi, nossa última pergunta é: como foi para você reviver essa história hoje?
R – Ah, foi bacana, porque eu não esperava. Eu falei: “Deixa o papo acontecer lá na hora, que lá na hora eu vou...”. Mas para mim é legal, porque assim... É uma viagem no tempo, você vai na sua memória afetiva, vai lá atrás resgatar tudo isso. Vocês são super legais. Todos vocês que eu conheci aqui têm uma energia muito boa e estão no lugar certo para isso.
P/1 – Que bom.
R – Vocês têm, assim... Eu já falei isso, eu repito, vocês têm alguma coisa muito nobre, que é o grande ouvido, a grande escuta. Desde o Caio lá atrás, que está só ouvindo, vendo a câmera, a vocês que estão aqui na frente, fazendo esta entrevista, estas perguntas e respostas aí, tudo isso é marcante. Então isso nos conforta, quem está aqui passando o recado, porque é gostoso você poder sentir que alguém está lhe ouvindo, falando da sua história. Porque, às vezes, você pensa que a sua história é boa só para você. De repente, não. De repente, sua história pode ser legal para outros que estão ouvindo do outro lado. E, às vezes, eu fico pensando aqui com os meus botões, ou com a minha garota, ou com os meus amigos, como a gente está em relação a tudo isso no mundo de hoje. Mas eu faço uma conversa mais com os meus botões, penso eu. E hoje eu estou levando essa conversa para não sei quantas pessoas. E isso é legal - porque como eu falei - você transfere a memória afetiva lá da infância para a atualidade, você mexe com os seus antigos sentimentos de novo, você consegue perceber se aquilo que você fez é uma coisa ruim ou se é legal. Tem gente que vai saber que é uma coisa ruim, mas não vai falar. E tem gente que fala: “Puxa, é legal para caramba mesmo”. Então, você se descobre. Eu acho que é uma grande descoberta. É uma terapia. Eu acho que, disfarçadamente, o Museu da Pessoa é um lugar terapêutico.
P/1 – (risos).
R – Não sei se vocês concordam comigo. Vocês concordam?
P/1 – Sim.
P/2 – Eu concordo. Acho que tanto para quem é entrevistado, quanto para quem vai ler as histórias depois também.
R – É. É verdade.
P/2 – O pessoal acaba descobrindo que sempre tem aquele momento em que alguma coisa não dá certo, aquelas coisas que você pensa que você poderia ter feito e não fez.
R – Exatamente. Exatamente.
P/1 – A gente se vê no outro.
P/2 – E se vê no outro.
R – Exatamente. É verdade. É verdade mesmo. E aqui eu coloquei o que eu lembrei... Eu coloquei para vocês. Mas acho que o que eu coloquei foram as coisas mais importantes, que mexeram e que mudaram em mim - o que eu fui e o que eu sou. Porque nesse nosso percurso ocorreram altos e baixos, claro, muitas histórias. Por exemplo, o ano de 2008 foi o ano em que eu mais ganhei dinheiro, mas foi o ano em que eu mais perdi pessoas especiais. Eu perdi em maio aquele amigo meu, que era um segundo pai para mim, que é o Antônio Carvalho, que eu conheci quando eu ainda tinha dezessete anos; eu perdi o meu pai em setembro, a cinco dias do aniversário dele; e perdi a minha mãe logo depois, em novembro, dia dois de novembro, Dia de Finados. Então, você imagina... Olha a carga emocional que eu precisei trabalhar comigo para chegar ao Dia das Mães e ler uma poesia de Mário Quintana, que fala sobre mãe. Acho que vocês já sabem qual é, não é? E fala de pai. Imagina? Você vai ter que ir a uma escola falar sobre isso. Tem a poesia do Mário Quintana que a gente adaptou, acho que tem uma frase ou outra que foi adaptada, que acho muito bonita, que fala assim: “Mãe, são três letras apenas as desse nome bendito. Também o céu tem três letras e nele cabe o infinito. Para louvar nossa mãe todo o bem que se disse, nunca há de ser tão grande como o bem que ela nos quer. Palavra tão pequenina, bem sabe os lábios meus, que és do tamanho do céu e apenas menor que Deus”.
P/1 – Lindo.
P/2 – É, para você deve ter sido difícil fazer algo assim em seguida.
R – É. Foi difícil. Foi difícil. Você tem que falar sobre mães, pais, você tem que arranjar jeito de fazer isso. E aí, como você vai fazer? E isso tudo é de verdade, porque você sente na pele o que é um pai, o que é uma mãe, você foi criado por eles. E foi uma boa infância. Não apanhei, não fui violentado, vivi uma infância legal. Então, você sabe o peso que tem uma frase dessas. E, na verdade, o Mário Quintana foi feliz, porque ele colocou... Penso eu, acredito eu... Ele colocou pai e mãe não só como conteúdo de letras, mas como essência de valor. “Porque és do tamanho do céu” – porque mãe tem três letras, céu também tem três letras – “E apenas menor que Deus” – Deus tem quatro letras. Então assim... É bem forte o conteúdo disso. E você tem que fazer isso no Dia dos Pais, no Dia das Mães, e você fala: “Poxa, por mais que você tenha diferenças, por mais que você tenha não sei o quê, nada disso importa”. Porque o conteúdo, o que eles te deram, só eles sabem o peso que tiveram... Só eles sabem a força que tiveram que mobilizar para você chegar lá onde você chegou. Então assim... É um trabalho que, além de tudo, é emocionante o tempo todo. Hoje em dia, eu já não tenho essa vibração toda. Porque, na verdade, eu estou contando aqui, estou me lembrando de tudo isso ao mesmo tempo. Mas no dia da serenata, quando a gente vai fazer, existe uma coisa que eu tento sempre levar, que é importante, que é o conteúdo de ser divertido... Ser emocionante, mas ser divertido, porque assim... Se você interage ao mesmo tempo em que você faz as coisas, você deixa... A emoção está viva, está presente ali. A música é importante, o texto é importante, mas a música seguinte pode ser mais animada, ela pode ser interativa, todo mundo cantar junto, pode ser uma música mais animada que fala sobre vida, sobre alegria, como O que é, o que é? do Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha...”. É uma música que a gente faz muito em serenata, a gente vai fazer hoje. É Preciso Saber Viver, Dancing Days, do Lulu Santos. Então, a gente faz coisas assim que vão deixar o clima ser emocionante, o texto tem que ser impactante, e tem que ser uma coisa alegre, Porque o cara vai embora daquela festa, daí fala assim: “Puxa, que legal, eu ganhei uma homenagem, ganhei uma serenata legal, com os caras vestidos lá com uma roupa maluca, uma roupa diferente. E falaram umas coisas legais para mim, mas foi divertido também”. Então você tem tudo. Você tem a emoção, tem as palavras dos outros por você - porque você é a ponte delas - aí tem a interatividade, você deu o recado. Quando que num trabalho, você, em vinte minutos, ou trinta minutos, tem choro e... Você tem lágrimas e sorriso ao mesmo tempo? Não é difícil? Você tem, nos primeiros momentos, as pessoas se emocionando, depois elas cantando junto, sorrindo, batendo palma. Então, essa dica não é para qualquer um que eu vou dar. O concorrente pode ser até que demore um tempo para perceber, mas se você coloca essa fórmula, você eterniza o momento do cara. Porque ninguém gosta de estar o tempo todo pilhado na emoção. E também se você coloca uma serenata muito alegre, que não faz sentido ser emocional, não vai agregar nenhuma lembrança amanhã. No entanto, se você faz os dois ao mesmo tempo, você tem o resultado. Então, a gente busca, desta forma, fazer o resultado. E, graças a Deus, eu gosto da trupe, acho muito legal, minha trupe toda é muito bacana. Eu agradeço a todo mundo que está comigo desde sempre, porque em 2000 eu comecei, mas em 2001 estava o Pratinha ensaiando, estava e não estava comigo, porque já estava com os meus concorrentes, aí depois ele resolveu comprar briga. Falou: “Vamos estar juntos”. Até hoje está junto. De 2002 para cá, eu tenho a Rosana desde 2003; o Paulo sempre comigo, desde 2001; o André; o sobrinho dele também está até hoje. Olha, então é uma trupe... Ah, tem o Halem, um percussionista que tem um projeto maravilhoso, que eu acho que vou ter que convidá-lo para vir aqui também para falar do projeto dele, que é projeto para crianças carentes, é o Pratati Catatum. É um projeto que ele alimenta. Ganhou até um prêmio agora este ano. Então assim... É gente muito legal assim, gente que... Puxa, a gente fala sobre vida, sobre alegria, e a gente testemunha junto uma história dos outros o tempo todo. Olha que legal. Vocês são parceiros, vocês três são parceiros, fazem a mesma coisa, de outra forma. Então aqui: “Pô, hoje eu fiquei ouvindo um cara chato falar um bocado de coisa lá”. Daqui a pouco fala: “Pô, o cara era divertido. O cara só faltou virar de cabeça para baixo, plantar bananeira lá”. Todos vocês da equipe testemunham sempre as pessoas, de algum jeito; então, vocês vêm as realidades. E a gente meio que a mesma coisa, de um jeito ou de outro. Só que leva para uma diferença de levar música, e a ponte de alguém. Hoje vai ser a ponte da família em relação ao cara. Eu vou ter que cantar o hino do Corinthians hoje lá, porque o cara é corintiano roxo (risos).
P/1 – (risos).
R – Eu não estou nem aí, mas eu também não sou corintiano. Mas tem isso também, você tem que agradar, às vezes, gregos e troianos. Então assim... Você vê que todo dia é um desafio, fala: “Puxa, o que eu vou fazer?” Agora, semana que vem, eu vou fazer um ambulatório. Oito anos de um ambulatório no Carandiru, nós vamos fazer lá aniversário de oito anos, que a pessoa vai bancar sozinha. Então, a gente vai fazer coisas que vão... Eu até sugeri para ela como fazer, e aí ela adorou a ideia. Você vê que você entra na intimidade, você busca o porquê das pessoas, você entra na intimidade, aí você dá aquele recado. Porque aquele recado fica importante, vai fazer diferença. Aí a pessoa gosta: “Não, é legal!”. Primeiro assim... Primeiro que a pessoa... Você já ouviu a pessoa, depois você conseguiu entrar no que ela queria. Não vou vender um trabalho plastificado: “Olha, você escolhe o repertório um, dois, três ou quatro”. Não, isso não importa. Ela quer que toque lá. A gente vai percorrer andar um, andar dois, andar três, e tem que tocar as pessoas. Então, você vai buscando a forma da pessoa, como a pessoa... Porque é terapêutico também. Como a pessoa quer tocar o outro? Então a gente tem essa coisa da… Como vocês têm da escuta, eu também tenho que ter, embora eu fale muito (risos). Porque hoje é minha vez de falar muito. Mas eu também sou um cara que eu “ovo” muito, ouço muito, eu “ovo”. Eu ouço para caramba também. Então, a pessoa: “Olha, eu preciso disso, disso, disso e disso”. Eu olho assim, falo: “Ih, essa pessoa está na contramão”. Eu tenho que saber, sutilmente, colocá-la na direção. Porque se ela está fazendo daquele jeito, ela vai estragar tudo que ela está planejando fazer. Então, você tem isso, tais cuidados, cuidados de lapidação. Aí, a pessoa tem que entrar na sua, tem que entender o que você está dizendo. É difícil também. Tem alguns momentos que são difíceis. E tem momentos... A maioria das vezes é fácil, é legal. Tem gente que eu fui tocar lá no hotel, que eu peguei o cara nas últimas, antes disso lá. Uns três anos atrás, na última, na cama, eu falei: “O cara já morreu”. A família veio se despedir dele na cama, a gente fez uma última serenata para ele. Daqui a pouco, eu estou no Sofitel, que agora virou Mercury - Dia dos Pais - daqui a pouco, quem eu encontro? A filha dele, que nos contratou. Falou: “Oh, Fredi, você está por aqui? Que legal lhe ver aqui, tal, Dia dos Pais, não sei o quê”. Eu me lembrava dela de algum lugar. “Então... Você fez para o meu pai, você lembra? Meu pai estava nas últimas. Olha, meu pai agora está comendo com a gente”. O cara escapou da morte, o cara está vivo.
P/1 – Nossa!
R – E foi comer lá. Entendeu? Então a gente acaba sendo... A gente vê uma coisa ou outra acontecendo. Então assim... A gente vê uns testemunhos super emocionantes de um lado, aí eu falo... Eu fico meio prolixo, porque eu estou voltando às cenas que já contei, mas só para ilustrar que isso tudo é sempre assim, motivador. A gente é alegre, a gente é para cima, a gente tem essa energia para gastar, para criar situações por causa de tudo isso que eu acabei de contar. Tudo isso é motivador.
P/1 – Fredi, muito obrigada. O Museu te agradece imensamente.
R – Imagina.
P/1 – Porque a tua história é lindíssima.
R – Obrigado. Obrigado mesmo.
P/1 – Muito obrigada mesmo.
R – Obrigado você, querida.
P/1 – Muito obrigada.
R – Imagina. Obrigado você.
P/2 – Muitíssimo obrigado.
R – Obrigado você também, querido.
P/2 – Foi uma grande história.
R – É? Gostaram? Obrigado.
P/2 – Muito.
P/1 – Muito. Muito obrigada.
R – Valeu, Caio. Obrigado.