História de:
Jair Delcorso
Autor:
Isabella Delcorso
Publicado em:
07/03/2019
Capítulo 5 - ADOLESCÊNCIA
Quando iniciei a terceira série ginasial, meus pais mudaram-se pra cidade, pois meus irmãos também precisavam de curso ginasial, e que meu pai vendera lá na vila a nossa padaria, e comprou um bar na cidade, e voltamos a viver em família total novamente. Já era adolescente e estudava, jogava bola quase que diariamente, e a noite disfrutava da deliciosa vida daquela época: cinema, bailinho, namoricos e pra que mais?
Todo final de semana fazíamos um bailinho no Kai-kan animado à vitrola, com discos. E lá que rolava os namoricos, às vezes mais constantes, às vezes de uma noite, mas geralmente o pessoal tinha os seus namoricos. Eu era meio safadinho, dava sopa, ia no cinema, sentava com uma, com outra, o cinema era uma grande diversão e, às vezes, era uma maneira de passar pelas meninas e pedir pra guardar o lugar. Aí, quando apagava as luzes, sentava perto das meninas, e a hora que terminava o filme tinha que separar logo.
Às vezes tinha show no cinema, e um dos que mais marcou foi a Elisete Cardoso, que foi lá na nossa cidade. E ela era bonita, de cabelo bem penteado, e às vezes duplas caipiras, mas o local dos shows, o palco do show, era o cinema, porque lá o cinema tinha uma tela grande, mas depois se enrolava a tela e virava um palco, para os shows, comícios da cidade.
E tinha o footing, que é o passeio na rua dos jardins, onde os homens ficavam de lado e as moças desfilavam pra lá e pra cá, e trocando olhares, mexendo com um, com outro....
Piqueniques que eram sempre em conjunto, com bastante gente, os homens ficavam encarregados da condução e bebida, refrigerantes, essas coisas, e as mulheres, encarregadas dos salgados, dos lanches que eram feitos geralmente em beiras de rio, onde havia possibilidade de nadar. Tinham alguns locais que eram mais apropriados pra nadar, entrar na água e ir na beira do Tietê.
Às vezes, em festas na fazenda, a gente sempre ia, porque ia todo mundo junto no mesmo caminhão.
Em 1951 terminei o curso ginasial, para alegria total de meus pais. Era uma glória para eles que sempre viveram somente para os filhos, com dedicação total. Quando começamos o ano letivo da quarta série ginasial, e aí já era no ginásio estadual de Cafelândia, logo no segundo ou terceiro mês de aula, nosso diretor, professor Mário Leandro, convocou uma reunião entre os alunos e alguns professores para discutir sobre a formatura no final do ano letivo. A nossa seria a primeira turma de formandos daquela escola. No ano anterior, já fora criado um grêmio estudantil para aglutinar mais alunos e professores. Por votação entre os alunos e mestres, elegeu-se uma diretoria da qual eu fui escolhido presidente. Por unanimidade, o grêmio passou a chamar GLECA (Grêmio lítero-esportivo Castro Alves).
Era manifestado, mas proclamado nas reuniões as datas cívicas, históricas e religiosas de cada mês. Eram nessas reuniões que lembrávamos das datas. Tinham efemérides cívicas e religiosas, não eram datas, eram efemérides. Na reunião da nossa classe para discutir a colação de grau, foi eleita uma comissão para cuidar de toda a movimentação, principalmente a aquisição de fundos financeiros para custeios das festividades, de modos que não pesasse para os formandos, pois a maioria não teria condições para arcar com a parte financeira. Foram escolhidos cinco alunos: três meninas e dois rapazes – eu e um colega, e três professores.
Bailes, shows, miss estudante, miss Cafelândia, foram empreendimentos que trabalhamos para arrecadar fundos para patrocinar a festa de fim de ano, coroada com um concorridíssimo baile no clube da cidade, animado por uma excelente orquestra, vinda da cidade de São Paulo. Minha madrinha de formatura foi a professora Isabel, a Belinha... Que saudade!
E que sequência gostosa: trabalhava no banco naquela época, um emprego tão importante para uma cidade do interior, estudava à noite e sobrava algum tempo para ajudar meu pai nos serviços do bar, e proporcionar uma folga, para que ele e minha mãe fossem ao cinema ao menos uma vez por semana. Esse primeiro ano de nova vida transcorreu tranquilo e sumamente prazeroso.
A normalidade de um viver descontraído e alegre foi parcialmente ofuscado no início do ano seguinte. A vida profissional de meu pai não andava muito bem e ele resolveu liquidar a firma que possuía, e veio para São Paulo, para como tantos outros brasileiros, tentar a vida na cidade grande. Minha responsabilidade aumentou um pouco, junto à minha família. Felizmente, meu ganho como bancário que já me proporcionava o custeio de meus estudos e da minha própria manutenção foi suficiente para pagar o aluguel de uma casa para onde mudamos, e proporcionar os custos da nossa subsistência. No final de 1953, meu pai já havia equilibrado sua mudança aqui pra São Paulo e, minha mãe e meus irmãos vieram se juntar a eles. Foram morar no bairro da Casa Verde. Fiquei lá pelo interior novamente na casa de alguém.
Nessa época já estava com convocação oficial para fazer o serviço militar e seria complicado deixar o emprego e vir para cá. Morei mais 6 meses num quarto cedido pela família Vendramel e, novamente, tomando as refeições na casa de meus tios João e Dionísia. Tinha 18 anos. Os seus filhos, meus primos, já haviam crescido, evidentemente, mas ainda adolescentes, os mais velhos, não trabalhavam, ninguém trabalhava. Meu tio continuava caminhoneiro, e nessa época, viajava quase que o tempo integral pelas estradas desse Brasil imenso. Muitas vezes faltava até o mínimo necessário para as refeições completas, mas nunca ouvi minha tia reclamar o mínimo contra ao marido, dizia sempre: “se Deus quiser, um dia vai melhorar”. E melhorou. Os filhos se tornaram adultos, trabalhadores honestos e amigos, e continuam hoje quase todos, avós, unidos e felizes. São lições que a vida nos passa gratuitamente e que nos serve de exemplo. Os bons, para ser limitados, e os negativos para nos servir de alerta.
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