História de:
Onaldo Segundo Pereira de Queiroz
Autor:
Museu da Pessoa
Publicado em:
25/02/2021
Infância em Paraíba. Trabalho na Aché Laboratórios Farmacêuticos na Paraíba e no Rio Grande do Norte. Amigos. Histórias interessantes e engraçadas. Histórias com médicos e colegas. Situações inusitadas. Viagem a Mossoró.
Projeto Aché
Depoimento de Onaldo Queiroz
Entrevistado por Immaculada Lopez
Recife, 22 de janeiro de 2002
Realização Museu da Pessoa
Entrevista ACHE_CB117
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Juliano de Lima
Revisado por Júlia Teixeira Reis
P – Onaldo, eu queria perguntar o teu nome completo, data e local de nascimento.
R – O meu nome completo é Onaldo Segundo Pereira de Queiroz. Data de nascimento é 14 de maio de 1969. E eu sou natural de Patos, na Paraíba.
P – Está certo. E você trabalha no Aché [Aché Laboratórios Farmacêuticos] em Natal, Rio Grande do Norte?
R – Isso.
P - Muitos anos de Aché, não? Quer dizer, quatro anos de Aché?
R - Quatro anos de Aché.
P – E boas histórias nesses quatro anos, não é?
R – Com certeza. [risos]
P – Queria que você escolhesse algumas histórias para contar para a gente que mostre como é essa aventura de ser propagandista.
R – Está jóia. Eu tenho duas histórias bastante interessantes, né? A primeira é que quando eu trabalhava na Paraíba, um dos dias que estávamos trabalhando, eu e um colega chamado Marques, a gente sempre fazia o giro praticamente junto porque era uma região muito perigosa. Tinha muito assalto. E a gente gostava de andar sempre dois ou três fazendo a região. Aí um dia nós chegamos, e era época de política. Lá a política é muito acirrada e tudo. Nós chegamos na casa de um médico chamado doutor Pedro. Gente muito boa. Quando ele não estava no hospital ele nos recebia em casa. Poderia ir a qualquer hora. E sendo Aché, o médico “acheano” é demais, né? Aí eu fui com o Marques lá. A gente chegou, ele não estava no hospital e a gente foi na casa dele. Época de eleição, apuração de votos. Quando a gente chegou na casa dele o rádio estava muito alto. A gente começou a gritar: “Doutor Pedro! Doutor Pedro!” E nada, ninguém escutava. A gente olhava pela brecha da porta assim, via que realmente tinha gente em casa. “Mas, doutor Pedro está aí. O carro dele está aqui. Ele só pode estar em casa. É porque o rádio está muito alto e ele não consegue escutar.” Aí a gente passou bem uns dois, três minutos gritando e nada. Aí o Marques é um, tem a voz bem grossa [risos] e tudo. Olhou assim para mim e disse: “Pode deixar que eu vou resolver o problema.” Aí chegou lá na chave-geral da casa do médico, abriu a porta da chave-geral, né, que sempre fica no terraço [risos]. Aí deu na chave-geral e desligou. Quando desligou, aí eu gritei: “Doutor Pedro!” Aí só vi quando ele disse: “Ô, espera um momento.” Olhei para Marques, aí Marques “pá” na chave de volta, né, ligou. Aí, doutor Pedro saiu de lá de dentro, só de camiseta e bermuda. Disse: “Olha, tudo bom?” “Tudo bom.” “Pode entrar.” Quando entrou, eu disse: “E aí, doutor Pedro? Tudo bom? Como é que estão as coisas?” Aí, ele disse: “Rapaz, mais ou menos.” Eu vi que ele estava meio assim, chateado. Eu digo: "Eita, o que será que foi, doutor Pedro viu alguma coisa?”[risos]. Aí eu disse: “Mas o que foi que houve, doutor Pedro?” Eu até brinquei: “O que é que está faltando para eu deixar sobrando?” Aí, ele disse: “Não rapaz, é porque olha, eu vou dizer uma coisa a você: morar em cidade de interior é horrível.” Aí, eu disse: “Por que, doutor Pedro? Cidade tão calma, tão tranqüila como essa?” Ele disse: “É não, rapaz, essas queda de energia é imoral, é direto. Você viu aí? Caiu a energia agora, fazia 2 horas que eu estava no computador fazendo um trabalho importantíssimo e acabei perdendo o trabalho todinho. Essa queda de energia realmente é horrível.” [risos]. Aí eu comecei a rir, o Marques também começou a rir e a gente olhando para ele e ele começou a rir também, sem entender nada, sem saber de nada. E a gente ocasionou tudo. Aí a gente saiu [risos]. Essa realmente foi uma das comédias, né?
P – Que cidade foi? Você lembra o nome?
R – A cidade é Conceição do Piancó. A terra de Elba Ramalho, né? Elba Ramalho, Zé Ramalho.
P – E em que época foi? Você lembra?
R - Foi em 1999. Eu já tinha um ano de Aché, um ano e poucos. Pouco tempo, dois, três meses. Era eu e o Marques. Que nós também entramos até juntos.
P – No começo você fez o interior da Paraíba, depois o interior do Rio Grande do Norte.
R – Exatamente. E hoje eu faço só o interior do Rio Grande do Norte. Alguma parte, né, do interior do Rio Grande do Norte e faço Natal.
P – Alguma história boa do Rio Grande do Norte? A outra que você ia contar?
R – A outra, tem uma de Mossoró, né? A de Mossoró foi, também, excelente. Porque a gente estava visitando Mossoró e tinha alguns colegas de outros laboratórios. Aí, tem o doutor Clélio, que é uma pessoa muito boa de Mossoró. É um médico também conceituado. O consultório dele é cheio. E a gente sempre deixa para visitar o doutor Clélio 11 e meia, meio-dia, né? Porque é a hora que ele está terminando os pacientes. E a gente entra e fala com ele. E ele coloca todos os representantes de uma vez. Só tem esse horário. Ele não atende fora desse horário, que é muito lotado. Aí, a gente entrou e quando entrou, ele estava muito estressado. Porque o Clélio é muito estressado. E rapidinho assim. E ele foi dizendo: "Olha, hoje eu estou muito estressado, deu muita gente. Por favor, seja breve aí. Vocês sabem, o que vocês falam aqui, os produtos que vocês me propagam eu prescrevo.” E realmente, ele é um grande prescritor de produtos médicos. Aí, chegou o colega de outro laboratório e começou a fazer a propaganda para ele, né? Fazia pouco tempo que tinha conhecido o doutor Clélio. Nós não, a gente já visitava fazia um ano e pouco. Já conhecia tudo de doutor Clélio. E doutor Clélio é muito brincalhão. Aí, ele disse: “Vai meu amigo, ligeiro, vá rapaz. Que eu estou apressado.” Aí, o cara começou: “Não, doutor Clélio, tudo bem? Eu estou trazendo um produto ao senhor para tratar, como o senhor sabe, esse nosso produto trata infecções urinárias...” Aí, o doutor: “É, eu já sei. Eu já conheço e prescrevo.” “Não, doutor, eu queria só destacar o seguinte, doutor, tem aparecido muita incidência aqui.” Aí, o doutor Clélio disse: “Meu amigo, aqui só o que acontece é incidência de infecções urinárias. Tem demais. Essas meninas hoje em dia não tomam cuidado, não tem precaução nenhuma.” Foi explicando. Aí, o cara se empolgou. Quando o cara se empolgou, aí disse: “Não, doutor, olha, eu mesmo sei isso que o senhor está dizendo. Eu mesmo já me deparei com muitos casos assim. Olha, um dia desses mesmo, eu estava em um carnaval fora de época e fui me servir desses banheiros públicos. Doutor Clélio, quando eu entrei, eu olhei assim, eu não tive coragem de me servir desses banheiros públicos. Porque estava lá o vaso sanitário, rapaz, repleto de urina. Tudo melado, e tal. Aquela coisa que não dá vontade nem de você se servir. Aí eu fiquei olhando assim, doutor, aí disse: “Rapaz, eu não vou me servir desse banheiro não, porque de repente eu estou aqui urinando, as bactérias, porque aqui é um local cheio de bactérias. Pode ser que elas migrem daí do vaso sanitário para meu corpo.” Aí, o cara se empolgou demais. Não existe isso. Aí, doutor Clélio foi se levantando, olhou assim e disse: “O que, meu amigo? Espera aí. Pare. Como é a história, meu amigo? Olha, eu já ouvi muita coisa nessa vida, viu? Mas piracema de bactéria, eu nunca vi.” [risos] Aí eu não consegui, eu fiquei, eu peguei minha pasta e disse: “Doutor Clélio, eu vou aqui fora e volto.” Ele disse: “Não, faça logo a sua propaganda.” Eu digo: “Com essa, eu não agüento. Mas fazer propaganda com uma graça dessa que o senhor fez agora?”[risos]. Porque, realmente, era uma piracema de bactéria. As bactérias voltando.
P – Muito bom. Muito obrigada pela participação no projeto.
R – De nada.
P – Espero que a gente tenha oportunidade de conversar com mais tempo.
R – Com certeza. Para mim foi um grande prazer.
P – E essas histórias entraram para o nosso acervo. Agora, para a história mesmo.
R – Que maravilha. Com certeza. Exatamente, uma das coisas importantes para nós “acheanos” é isso: fazer parte do Aché. Com certeza.
P – Muito obrigada.
R – De nada.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
Belísia Barreto Mourey (Dona Bela)
por Museu da Pessoa
Natalia Theil
por Museu da Pessoa
Luiz William Labate Galluzzi
por Museu da Pessoa
Milton Teixeira Santos Filho
por Museu da Pessoa
Neuza Guerreiro de Carvalho
por Museu da Pessoa
Maria de Lourdes Pimentel Sampaio
por Museu da Pessoa
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