Luiz Gustavo Leonel de Castro nasceu em Ribeirão Preto, no dia 01 de janeiro de 1971. Sua narrativa começa sobre a saga para descobrir a história de seu avô paterno. Interesse despertado somente adulto, filho e neto embarcaram em uma extraordinária viagem para Formiga atrás de suas origens familiares. Leonel também lembra de sua infância na Avenida do Café, na Vila Tibério, com os amigos e as diárias e intermináveis partidas de futebol, onde somente se encerravam com as coléricas mães às soleiras das casas. Leonel começou a trabalhar cedo e aos 14 anos entrou como ajudante na seção de engenharia de uma empresa canadense, algo que mudaria sua vida. Tirava cópias de projetos, aprendeu a desenhá-los e foi onde começou seu interesse pela engenharia. Desse início, partiu para uma carreira na área onde sua responsabilidade foi paulatinamente crescendo. Leonel narra sobre as empresas em que trabalhou, as mudanças tecnológicas e sua descoberta pela construção civil ao acompanhar montagens de fábricas. Não demorou para empreender, inicialmente com sua família e depois sozinho; conta que seu primeiro cliente foi seu vizinho. Aos poucos, especializou-se na área de obras industriais, galpões e tornou-se um defensor das instalações pré-fabricadas na construção civil. Atualmente, é casado, tem filhos e toca sua empresa de consultoria e construção.
Luiz Gustavo Leonel de Castro. Nasci no dia 01 de janeiro de 1971, aqui em Ribeirão Preto.
Conheci meus avós maternos, sim, tive uma proximidade muito grande. Os pais da minha mãe, eu ia sempre na casa deles aos domingos e tal, era muito forte nossa relação. A minha avó materna faleceu quando eu tinha 12 anos. Então, eu convivi uma parte da minha infância muito boa com ela, inclusive, eu era o queridinho da vovó, porque eu era o neto... meu pai é o filho caçula. No final, quando ela estava mais velhinha, ela ficava nas casas dos filhos, então, ela sempre ficava mais na casa do meu pai e me agradava muito. Eu tenho muito carinho com minha avó.
Agora tem uma história, uma relação muito forte com meu avô, que eu não conheci. O pai do meu pai. José Leonel de Castro. Meu pai sempre contava que ele morreu com 50 anos, trabalhando na lavoura. Ele era de Formiga, uma cidade de Minas Gerais e tal, e a gente foi crescendo, era uma coisa distante, e a gente nunca imaginou nada... Em um determinado momento, eu comecei a ter curiosidade, passei a conversar com meu pai, e eu fiz uma viagem para Escarpa dos Lagos, que é próximo à Formiga. Eu vi a placa Formiga, estava com meu pai e falei: “Vamos lá conhecer a sua cidade”. Meu pai não voltava para lá há 70 anos, e nós fomos tentar buscar as origens dos parentes, que eu não conhecia, não tinha informação nenhuma. Na primeira viagem, não conseguimos nada, pouca coisa, saímos na cidade, passamos na praça, no clube, perguntando e levantando algumas informações. Na segunda viagem, já achamos, mas no dia de ir embora. Na terceira vez, fizeram até uma festa pra nos receber e tal, porque foi uma coisa interessante. Quando fomos, coloquei na rádio da cidade, que a gente estava procurando os parentes e aí fizeram uma festa, e então nós conhecemos o lugar que meu pai nasceu, achamos a casa, depois de muita procura, pessoas que davam informações, até um senhor que nos achou, onde é o sítio que ele morava, que eles tinham abandonado, vieram pra Ribeirão e largaram a casa, o sítio lá, porque meu avô buscava uma vida melhor por aqui. E, nisso, eu também descobri, aliás foi um pouco antes, sobre a origem do meu avô. Então, fui atrás, de onde ele está, como é que é. Ele estava enterrado em Cravinhos, o que eu já tinha informação, mas ninguém sabia onde era o túmulo e tal. Meu pai lembrava vagamente. Ele foi enterrado em 1951. Aí eu fui atrás, também na prefeitura de Cravinhos, foi difícil porque não é em sequência os túmulos. A ordem, os nomes, não tem um registro no computador sobre aquela época, onde está enterrado. Aí, fui procurando em livros e livros, e foi até interessante essa pesquisa, eu pus a mão na massa, ia na prefeitura, pegava os livros de registro lá do cemitério e consegui achar o túmulo do meu avô e meu pai realmente se lembrava do lugar e tal, mas não tinha achado porque era difícil, mesmo, a localização exata. Aí, construí um túmulo novo, reformamos o túmulo dele. Então, foi uma relação muito forte. O meu avô, para mim, sem o ter conhecido. É um exemplo, e eu já tinha essa força, essa admiração.
Hoje, tenho contato com os primos de Formiga, que são vivos, tenho um carinho muito grande. Aí, do nada – é até emocionante - em conversa com os meus primos, meu pai me fala uma coisa que ficou mais forte ainda: que meu avô vinha para Ribeirão Preto, que dá 300 quilômetros, 350 quilômetros, a pé. Vinha para trabalhar na lavoura. As roças em Formiga eram poucas. Não tinha fazendeiro que admitia colonos para fazer meeiros, né, para tocar a lavoura. E ele vinha e vinha a pé. E fez diversas safras, assim. Eram quinze dias de viagem de Formiga para a região de Ribeirão. E, em uma dessas, foi quando ele trouxe meu pai, acho que ele já tinha vindo algumas vezes, acho que quatro, cinco anos, aí veio de trem com a família e ficou, primeiro, em uma fazenda em Cravinhos, depois Serrana, até chegar em Ribeirão Preto. Aliás, ele faleceu em Cravinhos e a família foi pra Serrana, e depois, meu pai, de novo, solteiro, veio pra Ribeirão Preto, com a minha avó. Mas então tem uma forte relação.
Eu sou católico de formação, sempre tive muita fé, sempre participei até de procissão, de coisas, sempre. Continuo, ainda, tendo muita, vamos dizer, afinidade com a religião católica. Mas eu comecei, na época, a frequentar e a ler muito sobre a Seicho-no-ie. Então, a Seicho-no-ie me despertou uma coisa interessante, que é a gratidão a todas as pessoas, a Deus, a todo o universo, mas principalmente aos antepassados. Então, ficou muito forte isso em mim. Quer dizer: eu vi meus pais, com uma forma diferente e meus avós também. Então, faltava meu avô, que eu não conhecia. E foi assim que eu tive esse, vamos dizer, interesse aflorado quando nós fomos próximos a Formiga e, pra mim, Formiga... Eu já fui para os Estados Unidos quatro vezes... era mais longe. Por quê? Porque os primos não iam, nunca levaram meu pai, minha avó, que viveu muitos anos depois, nunca retornou e tal. Então, quer dizer: eu tinha aquela curiosidade. Já tinha aflorado essa gratidão pelos antepassados e aí, nessa viagem, de repente, Formiga.
Quando chegamos começamos a perguntar, colocaram o nome na rádio, aí eu parei o carro, era uma empresa de gás, que vendia gás de cozinha. Parei, comecei a conversar, ele falou: “Leonel? Tem um rapaz que trabalhou comigo aqui uma época, o sobrenome é Leonel, ele é filho do Javé”. A hora que ele falou Javé, meu pai falou: “É o nome do meu primo que eu não conheci”, porque meu pai era um pouco mais velho que eles, mas ele tinha ouvido minha avó, alguém falar em Javé. “Não, então é ele mesmo”. Legal. Então ele explicou, a gente foi na casa desse Javé e lá ele chamou algumas filhas e já era de noite, eu lembro, a gente já ia embora, e aí, vamos dizer, a gente achou o ninho. Diversos primos.
Ah, também teve um episódio quando a gente estava no hotel. Não, foi depois disso, é. A próxima eu levei meu tio, que é irmão do meu pai. E a gente ficou num hotel e outro primo, que é o Odilon, foi nos visitar no hotel, no café da manhã. Ele já sabia que a gente estava lá e foi muito interessante. Eu fui algumas vezes, graças a Deus, com meu pai, lá, inclusive dois meses antes dele morrer. Parece que foi uma despedida porque ele curtiu muito a viagem. E até hoje tenho contato com os primos.
Com a minha avó, nós convivemos. No final, ela não tinha mais a casa dela e ela ficava com os filhos. E ficava mais na casa do meu pai. Sempre estava com a gente, mas ela viajava pra casa das filhas, dos filhos. A gente conviveu bem. E da parte da minha mãe, eu convivi bastante, por quê? A gente ia aos domingos almoçar na minha avó. Todo domingo.
Minha mãe é Maria Aparecida, Cida. Ela é uma pessoa maravilhosa, um coração gigante. Ela é tímida, acanhada, sempre foi do lar, uma pessoa que nos criou. Eu lembro da minha mãe como justiça, sabe? Mais do que justiça: o que é meu, é dos outros, de todo mundo. O que é de alguém eu não quero porque eu não posso, sabe? Então, ela sempre foi muito caridosa, muito boa. Ela nunca... até não tinha, vamos dizer, vaidade alguma, sempre nos criou com muito amor, muito carinho. Minha mãe é uma pessoa muito carinhosa. Ela sempre foi do lar e ajudava, por meu pai ser caminhoneiro e tal, ficava mais com a gente, mas sempre foi uma pessoa... como se diz? Não teve boca para nada. Uma pessoa muito tranquila. Maravilhosa.
Meu pai foi caminhoneiro, a vida inteira, nos criou com o caminhão, com muita honra, nos criou com sacrifício, mas como eu falei: morava em Serrana, num sítio com os irmãos. Tinha lavoura. Aí vieram, ele se aventurou por Ribeirão, foi empreendedor na época, pegou a parte dele das terras lá e comprou um carro de táxi aqui em Ribeirão, acho que foi em 1959, não lembro, não sei o ano certo, mas tinha um carro e depois comprou um carro de praça, no ponto da Figueira, que é o ponto central, ali em frente ao Teatro Pedro II. Ficou alguns anos, depois comprou caminhão e então criou a gente assim, sempre como autônomo, por conta. Uma época ele foi construtor também. Ele construiu casas para vender. Ele construía uma casa, vendia, construía outra, a gente mudava, ele vendia. Acho que ele parou na quarta casa. Quarta ou quinta casa. Mas ele sempre foi empreendedor, eu tenho boas lembranças. Uma pessoa muito forte na minha vida, com certeza, e eu tive o privilégio de conviver muito bem nos últimos anos e, como até meu filho pequeno fala: “Papai, você não tem que ficar triste porque o vovô morreu, porque você o aproveitou ao máximo”. Então, graças a Deus, aproveitei, o levava a todos os passeios que eu ia. Tive uma proximidade muito grande, no final, vixi, principalmente, foi uma ótima companhia. Muito bom.
Eu acompanhei meu pai em muitas de suas viagens. Aprendi a dirigir caminhão muito novo. Com 14 anos eu aprendi a dirigir caminhão. Vixi, meu pai sempre foi, realmente, meu herói. Ele não viajava para muito longe. Ele fazia fretes na cidade ou regional, mas sempre a gente ia. Viagem, eu lembro de café, tinha cidades da região: São Joaquim, São Simão eu ia muito, Casa Branca, fazia diversas viagens. Eu faltava na escola e minha mãe ficava brava, mas adorava viajar com meu pai.
Minha mãe ainda é viva e eu sou o filho mais velho. Tenho dois irmãos, somos em três. Eu tenho um irmão, o segundo, é o André, que é um ano e meio mais novo, e a caçula é a Luciana, que tem quatro anos a menos. Mais nova do que eu.
Eu morei em duas casas na Avenida do Café. Ali no começo da Vila Tibério. Ali foi o meu bairro. A gente, vamos dizer, viveu bastante a Vila Tibério, tenho amigos até hoje, muito contato e tal. Meu pai construía casa, a gente morava um pouco, ele construía outra e tal... Sempre por ali, próximo à Via do Café. Então, tenho grandes relações ali na Via do Café, onde, na última casa, minha mãe mora até hoje.
Eu não sei se o meu pai comprou o caminhão... porque ele tinha caminhão e fazia casa também, né? Então eu não sei se, em algum período, ele vendeu caminhão para fazer casa. Não sei. Ali na Via do Café, na década de 60, foi implantada a USP. Lá tem o Museu do Café e o Museu Histórico de Ribeirão, que é ali, por isso que se chama Avenida do Café. Ali fazia parte da Fazenda Monte Alegre, que era a maior fazenda do mundo, cafeeira. E nós tivemos o rei do café. O terceiro rei do café é o Francisco Schmidt. Então, a sede da fazenda dele, que era a Fazenda Monte Alegre, é onde é a USP hoje. Depois que ele morreu ficou para o Estado e foi colocada lá a faculdade. Acho que primeiro foi Medicina, depois Farmácia e Odonto. Então, ali, era um bairro em expansão, realmente. Um bairro em crescimento. Tinha um prolongamento e a duplicação da Avenida do Café. Então, acho que foi logo depois disso. Tanto é que muitas ruas do bairro chamam Prolongamento de Ruas da Vila Tibério. Então, o bairro expandiu para o lado oeste, onde é a USP.
Em frente à minha casa, na Via do Café, até hoje tem ainda, um terreno muito grande, que tinha árvores, aroeiras, e a gente jogava bola lá todo dia e minha mãe ia com a cinta dez horas da noite, às vezes, buscar a gente porque a gente brincava muito ali no terreno, em frente à avenida. E eu frequentei o Botafogo também, cuja sede é na Vila Tibério, na Luiz da Cunha com a Santos Dumont. Então, a gente, quase todo dia, ia no clube jogar bola, piscina, nadar. Tenho grandes amigos até hoje. Uma infância maravilhosa.
Eu acho que nós éramos de uma classe média baixa. Eu lembro, na época, que meu pai tinha carro, uma Brasília, que eu aprendi a dirigir, né? (risos) E era um carrão, na época. Em 1978, ele tinha um carro 75. Então, quer dizer, já não era qualquer um. Nossas casas, também, graças a Deus, eram casas boas e tal. Vamos falar aqui classe média baixa, mas graças a Deus, não faltava nada, vivemos muito bem, sim.
Estudei sempre em escola pública. Tinha uma escola, Hermínia Gugliano, hoje tem segundo grau, mas era só primeiro grau. Estudei lá da primeira à oitava série, aí, no meio da oitava, eu saí para estudar à noite, quando eu comecei a trabalhar o dia inteiro. Aliás, no começo da oitava. Só comecei as aulas e já fui, em janeiro, para outra escola. Tem grupos de amigos que a gente se revê ainda. Uma escola muito tradicional. Uma escola muito boa. Foi uma fase maravilhosa. Tem histórias. Nossa!
Eu não era muito bom de futebol (risos). Isso eu não era. Mas jogava tampinha nos bancos. Jogava três... é que nem futebol de botão e os bancos ficavam lotados nos intervalos. A gente se deitava até no chão pra jogar. Todo intervalo jogava tampinha. Eu lembro que, às vezes, eu ia atrasado pra escola, não dava tempo de levar o lanche, minha mãe ia no intervalo levar lanche pra mim lá e eu ficava com vergonha (risos). Muitos amigos.
Lembro do Seu Auro, bravo pra caramba, professor do terceiro ano. A gente, quando alguém fazia bagunça, ele puxava a costeleta e levava pro castigo. A Dona Laís. E tem uma história cômica, mas (risos) um pouco trágica. Uma vez eu fui para a escola e estava com diarreia, dor de barriga. E eu pedi pra professora, Dona Laís: “Dona Laís, eu preciso ir ao banheiro”, “Agora você vai esperar porque tem que acabar a lousa e depois você vai”, “Dona Laís, eu preciso ir ao banheiro, eu preciso ir ao banheiro!” Aí não aguentei, levantei, fui andando, saiu nas calças. Aí eu fui pra casa, todo sujo, chorando. E aí trouxeram meu caderno, no outro dia. Não, eu cheguei na aula, meu caderno estava lá e tinha um recado: “Para a mãe do Luiz Gustavo: o Luiz Gustavo saiu mais cedo porque sujou nas calças” (risos). Nunca esqueço esse bilhete.
Tinha professor bravo, lá, o seu Auro, no terceiro ano. Mas eu sempre fui, graças a Deus, um aluno mais calmo, sempre me sentei na frente. E tinha briga nessa época, vixi, se alguém falasse que ia te pegar lá fora, nossa, dava muito medo, né? Eu tive umas duas, três brigas aí que eu lembre e tal, mas depois ficamos amigos e tudo.
Felizmente sempre fui bom aluno, sempre gostei, graças a Deus. Tinha facilidade de aprender e tal e sempre fui calmo, na escola. Nunca tive problema, não. Nunca fiquei de recuperação.
E fora da escola, tinha quermesse de igreja, de escola, festa junina de escola tinha muito. Tinha alguns amigos que faziam brincadeira, né? Brincadeira dançante. Sábado. Montar a festa era legal. A gente ia acompanhar. Tinha uns que levavam som, levavam luzes. Tanto é que eu gosto, até hoje, de festa, de música, de som, mas eu lembro muito de montar as brincadeiras, de acompanhar a montagem... As meninas gostavam dos Menudos, tinha que tocar Menudos. A gente ficava bravo. Mas a gente gostava das lentas, para poder abraçar as meninas. Era começo de 80, tinha A-HA, Phil Collins, Bee Gees. Músicas maravilhosas. Tinha new age.
Sei lá, eu sempre fui mais calmo. Eu gosto, até hoje, música dance eu continuo gostando. Rock também. Por exemplo: Scorpions, a gente tocava, não deixava de tocar na brincadeira, todo mundo gostava. Mas eu gosto de dance, Bee Gees, Abba... eu não lembro do nome do conjunto. Tinha músicas que a gente ouve até hoje, boas.
Eu sempre fui de namorar. Até uma certa idade. Nessa época de mocinho eu tinha namorada, comecei a namorar com 14 pra 15. Depois fui trabalhar fora com 17 e terminei porque fiquei longe. Fui pra Monte Alto. E em Monte Alto, não tive. Depois que eu fui morar em Patos de Minas que tive namorada por lá. Voltei para Ribeirão para fazer faculdade e aí fiquei um período sem namorar. Aproveitei ao máximo. Tive namoros curtos, mas aproveitei bastante. Na época da faculdade, era um período que eu não queria namorar. Não queria nada sério, eu queria curtir. E aí, depois de formado que eu conheci minha esposa que, aliás, estudou com meu irmão no ginásio. Ela é colega de escola, de sala, do meu irmão. A gente veio se reencontrar depois de muito tempo, eu já tinha me formado e aí deu certo, graças a Deus. Temos uma vida até hoje maravilhosa. Mas de novinho, eu era calmo, era tranquilo. Tive um monte de paixãozinha, mas era mais de namorar. Aí, quando eu fiquei mais velho, eu fiquei mais de balada. Baladeiro.
O meu primeiro emprego, assim, que eu tive relação de trabalho, foi o seguinte: na Via do Café montaram uma lanchonete, um trailer de lanches, de sanduíches. E eu fui lá pedir emprego, eu queria ter meu dinheiro. Eu lembro bem, estava na quinta série, tinha 11 anos. Ele falou: “Tudo bem. Que horas você sai da escola?” “Eu saio às quatro e meia” “Então você pode entrar às seis e ficar até as onze da noite?”. Eu falei: “Posso”. Minha mãe não queria deixar, meu pai também, mas foram deixando, deixaram e foi legal. Primeiro, eu atendia os carros, depois eu aprendi a fazer sanduíche, lanche e foi interessante.
Depois, com 12 anos, eu fiz polícia mirim, “guardinha”, que é um treinamento, hoje, seria algo como o Primeiro Aprendiz. Mas não tinha limite de idade. Acho que eu tinha 12 anos, na época. É, fiz com 12 pra 13 anos. Nesse treinamento, a gente aprende informações da cidade, como funciona, onde é a prefeitura, os locais da cidade, fórum, ir aos Bancos, datilografia, uma série de coisas. E só depois que eu entrei no primeiro emprego, vamos dizer, formal, foi a Selaria São José, com 13 anos, em um escritório. Eu era contínuo, vamos falar. Então, ajudava, ia ao banco, ia fazer cobrança. Quando podia, aprendia datilografia também porque o meu serviço era mais de rua e aí eu fui ficando no escritório e tal. Depois, com 14 anos, um primo meu trabalhava na Renk Zanini, uma indústria aqui da região, de Cravinhos, me convidou para uma vaga para ajudante na seção de Engenharia, no Departamento de Engenharia. E ali mudou minha vida. Foi o emprego que eu entrei na indústria. Com 14 anos, eu entrei na Renk Zanini. Fiz o teste, entrevista, tudo, e entrei como ajudante, eu tirava cópias de projetos, cópias heliográficas de projetos. Hoje não é mais heliográfica, e os desenhos eram na mão. Eu aprendi a copiar com nanquim, o vegetal, fazia cópias, eu fui até aprender a desenhar, me transformei em desenhista e tal. Ali é uma indústria mecânica.
Eu fiquei quatro anos e meio. Foi maravilhoso. Tenho amigos até hoje. Aliás, presto serviços para eles. Tive oportunidade de prestar serviços de obras para eles há pouco tempo. Tornou-se uma amizade muito forte, tenho muita gratidão. Foi onde começou minha vida, vamos dizer, na engenharia em geral. Era Engenharia Mecânica. Então, na época, eu falava: “Quero ser engenheiro mecânico”.
Tenho um grande amigo, até tenho tido contato com ele, atualmente. O Marcel. O apelido dele é Pinguim. Ele foi um grande apoio na empresa, me ensinou muita coisa. Pegava no meu pé e me zoava muito, né? Mas um grande amigo. Eu o considero muito. São diversas pessoas. Hoje, estou em Ribeirão Preto, em qualquer lugar que vejo alguém dessa época, da Renk, é uma delícia, sabe? É muito legal. É uma empresa, um grupo, muito organizado, muito grande. Eu posso falar: bom de trabalhar, bom ambiente de trabalho. E até hoje tenho muitos amigos e quando eu vou lá também fico conversando com todo mundo que é da minha época e tal.
Como a empresa era da área mecânica - eu estava na oitava série, hoje é nono ano - entrei para o primeiro colegial e escolhi ir para mecânica, fazer técnico em mecânica, no colégio industrial. Comecei a fazer, estava indo bem na Renk Zanini, estava tendo uma ascensão... A Renk é em Cravinhos, daqui é 20 quilômetros. Então eu ia e voltava todo dia. Era terrível porque eu tinha que acordar às cinco horas da manhã, pegar ônibus e estudava à noite. Mas é aqui na região, pertinho. E aí comecei a fazer técnico em mecânica industrial porque eu já estava trabalhando com Desenho Mecânico, queria me tornar projetista, Mecânica era a próxima etapa aí, de repente, na sala de aula, o professor falou pra mim: “Gustavo, eu quero falar com você depois, na hora do intervalo. Me procura”. Eu falei: “Tá bom”. Aí, fui falar com ele, ele falou: “Ligou aqui um pessoal diretor da Cica Produtos Alimentícios, eles estão procurando um técnico para manutenção. Só que eu falei que eu não conheço técnico formado, eu ia indicar um aluno”. Fiquei feliz porque ele falou: “Você é meu melhor aluno. Eu quero que você ligue lá e pergunte, fala que está no último ano, se pode ser”. Aí eu liguei, fiz a entrevista e entrei na Cica em Monte Alto.
Eu marquei para fazer a entrevista, liguei, só que eu não falei que eu não tinha me formado ainda. “Você é técnico?” “Sou técnico”. “Então vem cá fazer a entrevista”. Marquei, só que eu nunca tinha faltado na Renk Zanini, em quatro anos e meio. Então, quer dizer, eu tive uma decisão, uma noite terrível, que era decidir: e agora? Eu falo na Renk que eu vou fazer uma entrevista? E se não dá certo, como é que faz? Como é que eu falo? Vai prejudicar? Eu falo que eu estou doente? Falo alguma coisa? Decidi: “Não vou falar nada”. E fui. O diretor de manutenção lá, seu Maion, na época, a entrevista foi demorada e legal, ele ficou muito interessado porque a Renk Zanini é uma empresa de origem... começou com uma joint venture alemã e, na Alemanha, se segue a unidade internacional, o sistema internacional, milímetros. Normalmente, em empresas de origem americana, empresas de máquinas de manutenção alimentícia, está acostumado tudo em polegadas. Diversas coisas. A gente teve muito assunto e tal. Eu trabalhava com treinamentos, com máquinas: eixo, engrenagem, então eu conhecia bastante, ele gostou, então foi maravilhoso. Nossa, que legal. O salário ia ser quase três vezes maior, isso que na Renk Zanini eu ganhava muito bem, de todos os meus amigos, eu tinha o melhor salário. Estava indo beleza, tudo bem, tal: “Você está contratado, pode passar lá no RH, vê sua vida lá, tal, beleza”. Tudo bem. A hora que eu cheguei no RH era a hora da verdade, né? “E o seu diploma?” Eu lembro que era agosto. “Infelizmente eu estou no último ano, mas eu fiquei sabendo que tem ônibus de estudante e eu preciso terminar até o final do ano, então eu posso ir e voltar todo dia”. Aí eles falaram: “Não. Infelizmente, não”. Esse aí foi um período até interessante, porque o diretor de RH da empresa... a empresa tinha sido comprada por um grupo italiano e ele implantou um sistema interessante, que foi o trainee de nível técnico, médio. Porque, na época, se ouvia falar, começou-se a se falar em trainee, mas era só faculdade. Então, ele implantou o sistema trainee para nível técnico, para segundo grau. “Então, você não pode ser trainee, você não é formado. Você tem que ser estagiário”. Aí eles ligaram para o Doutor Maion: “Ele não é formado, ele não falou para o senhor”, “Mas ele é tão bom, quero contratar” “Ele não é formado. Só como estagiário”. Aí ele falou: “Ele aceitou te contratar como estagiário. Só que você vai ganhar X”, que era metade do que eu ganhava na Renk Zanini, e eu teria que alugar um quarto para morar. Primeiro, já era uma dificuldade porque eu tinha 17 anos e nunca tinha pegado um ônibus pra outra cidade sozinho. Quer dizer: eu era muito novo, difícil. E ganhando metade. E meu pai não tinha condições de me ajudar e tal. Então eu peguei e falei: “Então tá, então não dá”. Ixi, foi uma viagem terrível de volta. Vim chorando na viagem inteira e depois, a hora que chegou aqui na rodoviária, eu falei: “E o que eu vou falar na Renk amanhã? Não avisei nada e tal. Se eu falar que fui fazer uma entrevista e não deu certo, não sei o que... vou falar que fiquei doente e tal. Vamos ver. Amanhã vai me dar uma inspiração e eu vejo o que eu falo”. Tá bom. A hora que eu cheguei, eu lembro que eu dava um passo muito lento da rodoviária para minha casa, que é perto, mas eu ia muito triste. Poxa, que pena! Era um sonho. Eu vi a fábrica, que era uma fábrica de alimentos, a Cica, uma coisa maravilhosa, achei interessante, manutenção das máquinas, projetos de novas linhas de produção, achei interessante. A hora que eu chego na esquina da minha casa, minha mãe gritando: “Corre, corre, corre”. Eu falei: “O que é?” “Um telefone aqui, esse homem ligou, Maion ele chama, falou para você ligar qualquer hora. Pode ser até de noite, porque ele ia ficar lá na fábrica até a noite, esperando você ligar”. Na época não existia celular, né? Eu falei: “Pois, não”. Cheguei lá: “Doutor Maion, tudo bem?” “Olha, é o seguinte: dei um jeito aqui e vou assumir o compromisso por você e você vai ser contratado como técnico”. Isso era uma quinta, né? Ele falou: “Vem amanhã de novo pra fazer os exames médicos, que você começa segunda-feira”. Aí eu comecei a tremer no telefone e falei: “Mas eu tenho que falar na Renk Zanini que eu vou sair, eu nem falei que eu ia fazer uma entrevista” “Ah, é? Então tá bom, então vem segunda fazer o exame médico e já começa a trabalhar”. Então, foi maravilhoso! Aí, pra falar no outro dia, na Renk, eu fui ao Departamento Pessoal, primeiro, depois no meu gerente, que eu não poderia cumprir aviso, nada, mas ninguém imaginava porque eu era muito feliz na Renk, sabe? Era um ótimo emprego e eu gostava muito do trabalho e tal, aí, assim, foi difícil, uma choradeira danada, tal, mas eles gostavam e a maioria gosta de mim, a gente tinha um bom relacionamento e todos falaram: “Não, é melhor pra você, vai embora”. Então, aí foi essa carreira.
Fui pra Monte Alto, uma experiência nova, maravilhosa. Lembro que – Nossa Senhora! Um frio do caramba! Muito frio. Monte Alto é mais frio que aqui. Mas nossa, eu lembro cada minuto! Eu tinha 17 anos.
Havia uma pensãozinha, acho que eu fiquei um mês lá. Servia almoço também, eu saía da Cica e ia almoçar, próximo à Cica. Paguei essa pensão até... depois fui às imobiliárias, arranjei um apartamento em um predinho muito legal. Depois vieram outros colegas morar comigo, já dividi o apartamento em três, depois em dois. Eu morei lá em Monte Alto, acho, um ano e três meses. Quando eu morava em Monte Alto, eu tinha uma namorada aqui em Ribeirão e aí, na época, não conseguia voltar muito, aí precisei terminar o relacionamento porque era fábrica, às vezes, trabalhava de final de semana, e tal. E em Monte Alto, na época, esse plano de trainee, a intenção da empresa era... estava sendo construída a fábrica em Patos de Minas. E Patos de Minas era a menina dos olhos. Na época, existia no Brasil uma novidade também, que eles trouxeram da Europa, era Qualidade Total. Aí virou febre também: “Aquela fábrica tem Qualidade Total”. Igual depois começou a se falar em ISO, hoje, indústria 4.0, tem diversas, vamos falar, ondas interessantes. Então, a Cica de Patos de Minas foi construída sob as normas, as boas práticas da Qualidade Total. Todo mundo queria ir para Patos de Minas ser encarregado, ser engenheiro, ser de produção, tudo, né? E o encarregado de Monte Alto achou que ia e estava me treinando para ficar ali, mas, graças a Deus, eu que fui convidado, acredito até que isso já estava nos planos dele, me treinar em Monte Alto para ir para Patos de Minas e não o encarregado da época. Aí eu fui, eu tinha 18 anos.
Uma transferência para a fábrica nova. Eu fui na época da montagem da fábrica. Na época que o Collor tinha entrado. Em 1990, eu estava em Patos de Minas. Aí precisei voltar, não tinha dinheiro. Não existia dinheiro. Bloqueou. Os bancos não tinham condições, eu não tinha como voltar. Aí a Cica não conseguia pagar o hotel porque não conseguia transferência, depois regularizou e tal. Mas foi nessa época que eu fui, em março de 90. Inicialmente, eu montei alguns equipamentos e voltei, e depois, definitivamente, eu acho que foi em setembro. Eu nunca esqueço que, em Patos de Minas, tem uma festa que se chama Festa do Milho, em maio, maravilhosa, e eu estava prestes a ir à Festa do Milho e precisei voltar. Voltei depois da festa. Eu voltei como encarregado de manutenção. Fui registrado primeiro como técnico mecânico, depois encarregado, depois supervisor de manutenção. É. Fiquei dois anos e dois meses em Patos de Minas, foi maravilhoso, tenho amigos até hoje.
A planta industrial da CICA era interessante, muito moderna, vamos falar. Tanto a questão de resíduos, tinha biodigestores gigantes para tratar os resíduos antes de jogar, descartar. Máquinas com uma produção alta. Algumas técnicas novas. Por exemplo: o milho cozido. Eu lembro que lá nós desenvolvemos essa ideia. O milho cozido, antes, vinha a espiga, a máquina tira a palha, a despalhadeira, depois tira os grãos e aí cozinhava. O que acontecia? Perdia água e o milho é a água que ele tem dentro. É uma gelatinosa, então, perdia muito peso do grão porque, quando cozinhava, saía o leitinho do milho. Então, o que a gente desenvolveu lá? Cozinhava as espigas antes de cortar. Máquinas de embalagem também para enlatar, sistema moderno, que as fábricas de embalagem desenvolviam lá em parceria. Então, foi uma fábrica interessante. Mas o que acontece? Eu comecei a montar as máquinas, porque eu era o encarregado de montagem das máquinas, equipamentos e tal. Também aumentou meu leque de responsabilidades. Fui responsável por veículos também. Então, caminhões, máquinas, que eu não conhecia nada, assim. Conhecia... meu pai tinha caminhão, tinha noção, mas no curso a gente não via nada. E foi interessante, um conhecimento muito legal. Mas aí, eu comecei a ver, enquanto eu montava minhas máquinas, ajustava a manutenção dos equipamentos, caminhões e tal, eu via montar a fábrica. Eles estavam em final de montagem. E ali que eu me apaixonei, vamos dizer, por construção civil de fábrica.
Tinha os engenheiros da Construtora Paranasa, que fez a obra, eles iam na minha república, a gente se encontrava, fazia churrasco e tal, e eu fiquei alucinado. Achei civil mais ampla. Então, houve aquela, vamos dizer, simpatia muito grande. Falei: “A civil é mais legal, você monta uma fábrica, você é mais livre”. Apesar de que é engenharia, né? Tudo cálculo, física, mas eu comecei a gostar de fábricas, de galpões, lá na montagem da Cica, isso em 91, 90, 92. Então, fiquei com aquilo na cabeça.
Meu sonho sempre foi fazer engenharia. Sempre tive o sonho de ser engenheiro, desde novo. Eu gosto de matemática e sempre falava que poderia ser engenheiro. Mas na época, era difícil. Eu não tinha condições de fazer uma faculdade e não trabalhar. Então, não existia engenharia em curso particular. Tinha a Unimep próximo a Piracicaba e São Paulo, né? Porque São Carlos era federal ou estadual. Quer dizer: não tinha engenharia aqui. Principalmente noturno, não existia. Então, eu não tinha como fazer e pagar e tal. Mas meu sonho era engenharia. Eu queria fazer engenharia. E estava trabalhando na Cica, estava feliz, estava muito bem, fiz um ano de administração lá em Patos de Minas. Depois eu vim pra cá em outubro, não cheguei a terminar o ano. Fiz um ano de faculdade lá. Aliás, não foi administração. Foi, como chama? Ciências... não lembro. Matemática, né? Curso de ciências não lembro o nome.
Eu estava muito bem lá em Patos de Minas, estava feliz, estava crescendo a empresa, estava prestes a ter uma promoção e meu pai tinha caminhão aqui, né? Tinham roubado o caminhão dele há algum tempo. Na época, eu tinha carro e o vendi pra ele conseguir comprar outro caminhão, e ele comprou outro e tal, depois, ele tinha o carro e me deu em troca do que eu tinha vendido pra comprar o caminhão pra ele. Na época de caminhão, ele começou a carregar entulho, porque era o que ele via mais rápido, porque o caminhão era muito velho, que ele comprou, então ele carregava entulho no caminhão. E veio pra Ribeirão a primeira empresa de caçamba de entulho. De sistema de caçamba para carregar entulho, né? E ele ficou alucinado, apaixonado e tal, sabe? Ficou muito interessado, me falou e disse que queria montar uma empresa, eu achei até legal e interessante, ele foi empreendedor.
Ele conversou com meus primos, que tinham condições pra tentar ajudar em alguma coisa, porque ele queria comprar um caminhão com guincho, pra carregar as caçambas, pra ter mais coisa. Mas primeiro o seguinte: quando eu ia ter a promoção pra supervisor, esse mesmo diretor de RH que me contratou, que chamava seu Paranhos, veio de Jundiaí, que era a matriz da Cica; ele teve uma reunião comigo e com outro técnico. Eu era encarregado de mecânica industrial e de autos e tinha o outro, que era de elétrica e pneumática. Ele chegou pra mim primeiro, depois pra ele e depois para os dois juntos e falou: “Agora vocês vão ter uma promoção pra supervisor e a Cica vai começar a ter supervisores em outras fábricas, vocês vão ter uma promoção, depois vão ser gerentes de manutenção em alguma fábrica” - porque tinha um plano de carreira maravilhoso na época, eu ganhava muito bem e tal – “só que tem uma coisa: vocês vão acrescentar, mesclar. O supervisor é de todas as áreas da manutenção. Então, você vai fazer mecânica de autos, industrial, elétrica e pneumática”, e o César, que era o outro rapaz, ia fazer a minha parte também. Um de dia e um à noite, e ia trocar o turno a cada 15 dias, para aprender a área do outro e tal. Eu falei: “Para mim não tem problema. Só tem uma questão: eu faço faculdade, então eu não posso vir à noite e faltar na faculdade, pelo menos até o final do ano letivo. E eu sei porque sou chefe também, eu tenho funcionários” - na época, eu tinha 30 funcionários sob minha responsabilidade – “que existe uma lei que, quando o funcionário tem um ano letivo matriculado, não pode mudar e tirá-lo, pra perder o ano. Tem que esperar acabar aquele ano, tal. Então, sem problemas. Eu posso trabalhar de final de semana à noite e tal, mas na aula eu não posso faltar. A hora que acabar a aula a gente troca, eu posso ficar até à noite, sem problemas”. Beleza. Ele falou comigo. Aí foi falar com o César e ele falou: “Não aceito porque eu tenho filho pequeno, eu sou casado e tal. Não aceito. Aceito trocar o turno e tal”. Aí, pra mim, foi uma coisa muito difícil, foi um impacto muito grande. Uma empresa com uma grande proposta, na época era inovador esse sistema de RH. Eu lembro que os meus funcionários recebiam treinamento assim: se o cara manifestou interesse em sair da empresa, você já manda embora e libera tudo: FGTS, aviso prévio. A empresa não queria ninguém insatisfeito trabalhando ali. E com essa postura, me obrigando a trocar turno e acabar, perder o ano letivo e tal, mas tudo bem, eu falei: “Se é assim, tudo bem, beleza”. Mas fiquei triste. Aí, eu vim em uma Páscoa pra Ribeirão Preto, em um feriado de Páscoa, e meu pai me falou sobre esse sistema de caçambas de entulho e tal, que queria montar uma empresa, tinha falado com meu primo, ele ajudava no começo, avalizando, ajudar a dar entrada no sistema e tal, não sei o que e aí, do nada, eu falei pro meu pai: “Não precisa falar com o Mazinho, não”. Ele já tinha falado, né? “Quem vai ser seu sócio sou eu”. Ele quase morreu. Porque eles tinham orgulho que eu tinha um bom emprego, ganhava bem, apesar de ser muito novo e tal e falou: “Não, imagina, você está muito bem”. Eu falei: “Não, eu vou ser seu sócio e eu vou fazer Engenharia Civil, que agora tem em Ribeirão Preto à noite”, “Mas como? Não, não sei o que”. E isso foi amadurecendo. Eu voltei pra Patos de Minas na segunda-feira e pedi as contas, foi um rebuliço lá na unidade porque até o gerente me fez chantagem, o gerente da unidade, que eu não podia sair, porque a Cica tinha investido em mim dois anos, já, com treinamento, dois anos e meio, ele queria que eu continuasse e eu falei: “Eu entendo, mas a empresa não viu meu lado. Agora minha vida tomou outro rumo. Eu quero ser engenheiro. Agora, resolvi que vai ser civil porque civil eu consigo trabalhar, montar a empresa com meu pai e fazer engenharia à noite”. Eu consegui, dali uns dias, me pediram acho que dez, 15 dias, voltei, e quando eu fui fazer a matrícula para o vestibular para o começo do ano, não tinha pra noite. À noite era só no meio do ano. Só tinha de dia. “Como estudar de dia?” Tenho que trabalhar, tenho que dirigir o caminhão”, porque era eu e o motorista, Aí eu falei: “Não. Vou fazer a matrícula. Se der, vamos tentar”. Aí eu lembro que eu parava o caminhão na porta da faculdade, entrava, assistia um pouco de aula, voltava, carregava a caçamba, descarregava. Quando eu ficava muito tempo na aula, eu tinha que ficar até onze horas da noite, meia noite, descarregando entulho para fazer...
E começamos a empresa eu, meu pai e meu irmão. Meu irmão era muito novo, na época, ele era menor. Acho que ele tinha... não, ele tinha 19. Ele ainda não tinha muita prática e tal. Depois ele começou a aprender a dirigir e me aliviava. Eu conseguia assistir aula e, graças Deus, deu certo, eu terminei a faculdade, fiz até à noite administração junto com engenharia e ainda trabalhando. Eu também não acredito, até hoje. E gostava de passear, muito. Ia em festas e tal. Graças a Deus, foi um período, foi um desafio.
No começo foi um período difícil. Isso aí foi em 1992. É, 91 eu vim pra cá e em 92, 93 entrei na faculdade, no começo de 92. O Brasil estava em uma fase difícil, estava complicado, e então eu lembro que era um desafio. A gente começou com 15 caçambas e um caminhão velho. Nossa, detonado. Depois financiamos mais um. Mas sempre com dificuldade, sabe? Às vezes, ficava cinco meses, seis meses sem pagar a faculdade. Às vezes, não deixavam fazer matrícula porque eu devia da outra, mas foi um período interessante. Eu lembro que uma vez eu comprei... comprei, não, eu vi em algum lugar uma revista, não lembro o nome daquela revista, acho que é Universitária, não sei, que tem a perspectiva das profissões, para os jovens escolherem as profissões e tal. E aí tinha lá, Engenharia Mecânica, que é interessante; Mecatrônica, estava se falando em curso novo, você sai e já estava empregado e tal; Engenharia Civil, tipo assim: “Esqueça, está ruim, o Brasil está em queda, não tem perspectiva e tal”. Eu falei: “Que legal! Que curso que eu fui escolher!”. Mas, graças a Deus, foi uma boa escolha, porque me interessei cada vez mais e tal.
Eu era sócio do meu pai e do meu irmão na empresa de caçamba. Eu fazia faculdade e então me dedicava menos à empresa, porque tinha as aulas e tal. E o meu irmão sempre esteve com a gente, sempre disponível, principalmente depois que ele começou a dirigir. A gente tinha dois caminhões, depois cada um ficava com um, e aí a gente precisou colocar um motorista, porque tinha mais coisas para fazer além de ser motorista. Ou seja: eu tinha já relacionamento, por fazer faculdade, com engenheiros, construtoras e então eu fazia mais essa parte comercial, financeira, controle. Meu irmão ficou mais no caminhão. Mesmo assim ajudava, a gente colocou funcionário e foi crescendo. Quando eu me formei, aí eu peguei e falei: “Eu acho que, não por não ser justo, mas eu quero alçar voo solo e vou deixar a empresa”. Aí ficaram meu irmão e meu pai e eu fui cuidar da minha vida. Eu lembro que daí a pouco tempo montei um escritório, como autônomo, até montar minha empresa.
Eu lembro que meu primeiro cliente foi um vizinho, ele construiu uma casa nova, eu fiz o projeto pra ele e a legalização de prefeitura, planta. E tinha um amigo meu, que a gente já tinha contato desde a faculdade, o Samuel, que queria montar um escritório e me convidou pra montar com ele e tal, alugou uma casa e falei: “Quero, sim”. Foi meu primeiro escritório. Tinha a parte dele e a minha, lá no escritório. E depois, eu sempre tive algum foco, sempre quis ter empresa mesmo, construtora. No começo, eu gostei muito da área hospitalar e então eu queria fazer projetos de clínicas, hospitais, e até conheci, tinha uma parceria no escritório com uma arquiteta que fez arquitetura hospitalar e tal, mas eu vi que a área não era interessante, pelo menos na época, não gostei, e aí apareceu uma obra interessante pra fazer um projeto de um galpão, uma loja de auto peças. E aí eu achei interessante. Nossa! É uma obra grande, rápida, “simples”, sem muita frescura, e mais fácil, mais profissional. Você mexer com residências, fazia projetos de casas, tudo, mas é complicado porque você faz a planta e o projeto, para executar tem muitos detalhes, aí o proprietário quer ele mesmo comprar, não quer que você compre. Se você vai assessorar, tem que... então, quer dizer: é mais para Arquitetura essa parte de acabamento, de detalhamento e tal e eu não tinha, na época, condições e não tinha vontade, vocação para fazer, para vender casas e tal. Eu queria mais era construção, mesmo.
Gostei de galpões e fui pesquisando sistemas construtivos e, por acaso, conheci uma pessoa que veio em uma empresa que, em um período tiveram escritório aqui, a Leonard de São Paulo, de estruturas pré-fabricadas e comecei relacionamento com eles, orçamentos que apareciam, comecei, fiz diversas obras, me tornei representante deles aqui com estruturas de concreto pré-fabricados. E depois, com a minha construtora, eu comecei a pegar obra independente da estrutura. Concorrência, mas sem obra pública. Obras pra clientes empresas, indústrias e comércios. E mais galpões, obras em geral, pré-fabricadas de concreto, com metálica. Então, foi uma paixão que, desde o começo, essa obra que apareceu eu tinha, sei lá, um ano de formado, acho que um ano e pouco de formado. Não, tinha mais. Porque foi em 98 e eu me formei em 96. Tinha dois anos e pouco de formado. E aí remeteu à experiência na Cica. Então eu falei: “Nossa, é uma área interessante! Indústria, galpões e tal”. Foi interessante. O Brasil, vamos dizer na década de 2000, começo dos anos 2000, até 2010, foi um crescimento muito grande e então adquiri muita experiência, em muitas obras.
O que eu lembro, o que me marcou, e que hoje eu agradeço a Deus, é ter mantido uma postura. Nessa época, que eu peguei de melhor da economia, de 2004 a 2008, o crescimento, veio Minha Casa, Minha Vida, eu lembro que tinha uma onda muito grande de fazer casa para vender, prédio para vender, apartamento para vender. E eu nunca entrei nisso, não tinha essa vocação, não era meu negócio, e eu sempre fiquei firme em trabalhar com galpões. Foi uma escolha que até hoje foi interessante, porque a minha fascinação são os galpões. Obra industrial em geral, né? E trabalhar para empresa.
Depois o mercado diminuiu bastante, depois de 2012 já começou a cair. Em 2011 já começou a dar uma caidinha até ultimamente. Aí ficou muito ruim e diminuiu a quantidade de obras, mas eu peguei bastante volume, muito grande, bastante... Teve um período próspero, vamos falar, para ia ndústria em geral. Houve um desafio grande, porque na época, eu representava, vendia estruturas pré-fabricadas de concreto. Então, quer dizer: eu tinha que romper um preconceito, um paradigma, que era assim: caro, pesado, difícil, que não se tinha e então eu tinha que ter, vamos dizer, jogo de cintura como vendedor de pré-fabricado, com os profissionais, arquitetos: “Faz estrutura pré-fabricada, é mais rápida, fica mais sólida, a obra fica mais limpa, é mais resistente, o cálculo estrutural já vem pronto, você só faz o complemento, uma obra mais limpa, menos desperdício”. Então, quer dizer: eu peguei bastante... como é que eu posso falar?... resistência a novas tecnologias. E hoje não. Está totalmente difundido e tal.
Hoje, já se faz casa e prédio com impressora 3D. Então... eu ainda não estou nessa evolução, mas temos que migrar, sabemos que vamos ter que migrar. Tomara! O que acontece com a construção civil, principalmente industrial, é que ela fica, vamos dizer, a cargo do crescimento econômico, entendeu? Então, quanto menos movimento, vamos dizer, menor o PIB, menor é a demanda. Então, nós estamos em um patamar, hoje, muito baixo, porque o Brasil não está crescendo. Então, quando ele não cresce, as fábricas continuam onde elas estão. Elas não vão comprar ou alugar outro imóvel, a logística não precisa aumentar. Claro que sempre há movimento. Acho que, vamos dizer, o movimento do mercado não pode ser visto só como indicador do PIB porque, vamos supor: se o PIB cresce 1%, isso é uma média. Tem empresas que crescem 50% e outras que fecham, caem 100%. Então, sempre há movimento no mercado, mas muito menos do que um mercado crescendo uniformemente. Hoje, o volume do mercado diminuiu.
Eu fiz e participei de diversas obras. Várias delas eu tenho orgulho. Por exemplo: uma fábrica de detergentes, a Triex, em Sertãozinho, foi um projeto muito interessante. O terreno era acidentado e foi um desafio. Nós chegamos à solução. O sistema construtivo, também, pré-fabricado, encaixou direitinho. O escritório tinha que ser convencional. Então, eu gosto muito do desafio do projeto também, né? Porque a obra, claro, eu faço a obra conforme o projeto e executo conforme o projeto, mas eu tenho diversas, vamos dizer, situações que são desafios para o projeto. Por exemplo: aqui em Ribeirão Preto, Comercial Gerdau; a Caterpillar, Sotreq Representante; diversas obras que eu fiz o projeto. A Basequímica, uma indústria química, uma empresa de produtos químicos.
Normalmente é o seguinte - porque eu tenho a Construtora Leonel Engenharia - A gente faz projeto, execução de obras, projetos complementares, reformas de obras rápidas e tal. Então, a gente, no Marketing, você prospectando, tem que criar demanda no cliente. Mas normalmente o cliente me liga com a demanda: “Quero essa obra assim, assim, assim e tal, tal”. Agora, graças a Deus, a minha experiência é muito grande em estrutura: modulação, tamanho econômico, tamanho viável, resistência e tal, então eu tenho facilidade em dimensionar, pegar um papel e fazer. Mas alguns detalhes você tem que ver: a posição do sol, a topografia do terreno, a logística, a entrada, o sistema viário. Você vai lá e sente, realmente, o terreno. Isso é interessante: você ir ao local, ver o terreno e sentir a necessidade, a melhor solução pra aquilo.
A gente entrega a obra pronta. Acompanha, contrata, tem uma equipe. A maioria é terceirizada, mas a gente controla e assume o risco, com responsabilidade trabalhista, todos os riscos tributários, risco de acidente de trabalho, tudo. Então, a gente entrega a obra completa para o cliente. Normalmente, a gente trabalha para empresas, só para empresas. B2B. Comércio e indústria. Logística, transportadoras e tal. Então, a gente pega a obra e executa do início ao fim.
Eu sempre fui... Como posso falar?... Idealista em sistema industrializado, construção industrializada. Porque o que não fecha, o problema, é a mão de obra. A construção civil demanda muita mão de obra, inclusive, você vê que na agricultura é cada dia uma máquina mais moderna e com maior capacidade. Por quê? É uma questão até de sobrevivência, entendeu? Você ter muita mão de obra, além do risco trabalhista, risco de acidente, o custo é prazo e falta de atendimento imediato. Por exemplo: na época que estava a construção a pleno vapor, faltou mão de obra, e mão de obra de construção civil você não treina em um mês, um ano. O cara pode fazer um curso de mestre de obras. Mas ele não vai aprender a ser mestre de obras em uma escola, ele precisa de 20 anos de canteiro de obra, para ele saber o que pode dar errado, a experiência e tal. Então, quando cresce muito, você fica na mão de pessoas. Tanto é que nessa época do boom, até 2011, 2012, teve muitos problemas de obras. Incorporadoras que fecharam. Construtoras que fecharam. Por quê? Orça uma coisa, não consegue executar. Ou põe o pessoal para fazer e o pessoal faz errado, tem que refazer. Então, é complicado. Eu sempre visualizei, meu olho brilha, eu amo, construção industrializada. Sistemas construtivos. Vem a estrutura pronta, os pilares e vigas, pode ser metálico, de concreto, até madeira, tem alguns sistemas, fechamentos, paredes, não usar tijolo, tem sistema construtivo de gesso, acartonado, drywall, paredes em placas cimentícia, mesmo fechamentos isopainéis, tem de PVC com isopor dentro. Tem diversos tipos de paredes que vêm prontas, coberturas, laje pronta. Então, quer dizer: sempre fui um idealizador.
Tem uma parte interessante da minha vida, a qual eu tenho muito orgulho: eu participei muitos anos da Associação de Engenharia e Arquitetura e Agronomia de Ribeirão. Fui presidente do Conselho Deliberativo em dois mandatos, fui conselheiro e organizei, junto com o presidente na época... A Associação de Engenharia tem um papel de difusão de novas tecnologias para profissionais e estudantes. Então, foram instaladas semanas tecnológicas, conforme a área de atuação. Na época, eu idealizei a Semana de Tecnologia da Construção, englobando Arquitetura e Engenharia. Ou seja: trazer o sistema construtivo, trazer as grandes fábricas, os grandes projetistas, quem tem know how e os projetistas, para mostrar soluções: “Olha, você pode fazer essa mesma obra industrializada. Faz a obra, vai no canteiro e monta. Faz em uma fábrica e monta”. Então, esse é o futuro. Hoje, infelizmente, como a demanda diminuiu, não está tão evidente esse ganho, porque tem mão de obra mais barata, o mercado está mais parado, mas na época que estava muito crescendo, foi muito importante. Acho que está na oitava semana. Eu organizei três enquanto estive lá. E eu trazia os palestrantes; temas, vamos dizer, os mais renomados de todos, nessas áreas. Normalmente essas três áreas: metálica, pré-fabricado de concreto e a chamada construção seca, que é o gesso acartonado, parede drywall, placas cimentícias e tal. Então, quer dizer, eu sempre fui um sonhador, um idealizador, um visionário, eu sempre gostei, acho interessante, e acho que é o único futuro que nós vemos para construção: diminuir a mão de obra e transformar o canteiro de obras em um canteiro de montagem do processo.
Muda o prazo. O que acontece? É mais barato, se você comparar... com certeza é muito mais barato, se você comparar todos os insumos. Ou seja: você está fazendo uma obra comercial. Se ela demorar um ano pra construir ou demorar três meses, você vai computar prazo de aluguel que você vai parar de pagar, uma série de coisas. É mais barato se você computar o risco porque você não tem... as empresas são indústrias que montam, pessoal treinado, especializado, você tem menos riscos de acidentes. Para você regularizar uma obra com estrutura pré-fabricada, que tem um sistema construtivo que viabilize a industrialização da obra, tem 70% de desconto de INSS, que é um imposto para regularizar e você tirar certidão negativa do cartório. Então, quer dizer: tem diversos ganhos. Agora, o principal ganho é o de escala. Tem empresas que, por política, já buscam sistemas mais industrializados, para diminuir riscos, para ter um prazo mais rápido e tal, mas em termos de custo, hoje, não sai mais barato que o convencional.
Infelizmente, eu não consigo ter muita sequência com um mesmo grupo de funcionários porque as minhas obras são mais rápidas. Tipo, um galpão, são seis meses de obra, cinco meses. Quando é uma obra industrial, que tem galpão, escritório em torno, guarita, tal, é um ano. Então, quer dizer: uma incorporadora tem obra de três anos, quatro anos e sempre tem sequência de obras e tal. Agora, também, no momento da economia mais reduzida, eu tenho poucas obras e obras menores, e então não consigo ter uma equipe grande, mas eu sempre tenho, é muito importante, imprescindível na construção civil, o pessoal treinado. Os meus parceiros são sempre os mesmos, procuro uma boa relação, contratar as mesmas pessoas, e eles vão pegando o jeito. Você vai se afinando e tendo uma boa equipe de trabalho.
Eu acho que o desafio da minha carreira, trajetória, sempre foi ser empreendedor e escolher atuar nessa área empresarial. Mesmo quando não tinha nada, quando eu não tinha experiência. Eu fui muito corajoso. Hoje eu vejo, né? Não sei se eu teria tanta coragem. Tipo pegar uma obra muito grande sem ter nenhum funcionário, ter que contratar, ter que fazer e tal e, graças a Deus, as coisas foram se encaminhando, a gente vai pegando experiência, vai pegando parceiros.
Nós já tivemos acidentes, sim. Nós tivemos um funcionário que se acidentou. Infelizmente, não vou falar por culpa porque ele não fez por querer, mas por uma atitude dele. Ele foi, em um galpão muito grande, 14 metros de altura, pintor, estava pintando por fora, tudo e, na hora do almoço, ele quis adiantar, porque estava ganhando por produção e não tinha autorização pra pintar perto dos fios, que a gente já tinha solicitado pra desligar os fios de alta tensão da rua. E ele foi, sem autorização, na hora do almoço, para adiantar o serviço dele, né? E aí encostou o rolo de pintura, o cabo, no fio de alta tensão e teve um acidente sério. Não faleceu, não, mas ficou com sequelas e foi grave. Foi terrível. Graças a Deus, a gente estava totalmente correto. Ele era registrado e tinha equipamento de segurança, ele estava com cinto de segurança, com botina, com uniforme, capacete e tudo, mas mesmo assim teve uma ação trabalhista e a gente teve um prejuízo grande aí. Uma pena. Mas a gente sempre orienta e cobra a questão de segurança do trabalho, a questão de documentação, a gente preza por trabalhar corretamente.
Tem obra de 80, 100 funcionários. Infelizmente, o fator humano, você não tem 100% do controle, né? Mas a gente preza por exigir segurança, documentação, treinamento, para diminuir os riscos. E também a gente trabalha para empresa por ter, vamos dizer, essa responsabilidade, que não é nada demais, mas é compromisso com assumir os riscos e trabalhar com pessoal treinado, registrado, com nota fiscal, com tudo.
No meu trabalho, acho que tudo foi uma evolução contínua. Nosso foco de atuação são empresas, principalmente galpões e, então, desde quando eu comecei, eu trago a minha experiência lá com 18 anos na Cica, vendo construir uma fábrica, tenho paixão por essa atuação. Que é o quê? Atuar no mercado industrial e comercial. Nunca atuei no residencial. Só como autônomo, fazendo projeto. Então, isso foi evoluindo. Eu tenho muita experiência em sistemas construtivos, obras industriais. Fiz também muitas obras de varejo, lojas... E sempre trabalhei sozinho. Eu acho que pesou e foi muito bom o fato de eu já ter tido sociedade com meu pai e meu irmão.
Hoje, meu irmão tem a empresa de caçamba, ele é empreendedor. Meu pai faleceu no ano passado. Agora, só tem meu irmão e ele está muito bem, tem empresa, tem atuação na área ambiental também, no local onde joga o entulho. Ele é empreendedor, ele faz casas e tal e tem meu cunhado também, o marido da minha irmã, que também montou uma empresa ambiental e de caçambas também. Fornece caçambas. Então, eu fico orgulhoso de saber que, graças a Deus, continuou, a empresa, a Limpex. Continuou até hoje. Mas é isso, desde que eu me formei, eu comecei sozinho, já tinha essa visão de não ter sócios. Não por problema, nada, mas nunca tive.
Agora, eu já tenho há alguns anos uma sócia, que é a minha esposa. Ela é minha sócia, desde antes de nos casarmos, ela veio trabalhar com a gente e ela é da parte administrativa, comanda a parte administrativa, financeira e jurídica da empresa. Eu fico com o comercial e área técnica. Então, já tem muitos anos que ela está na Leonel Engenharia e me ajuda na administração da empresa. E, há dois anos, nós temos um projeto novo. Como falei, a gente trabalha, atua, nessa área de galpões, eu tenho bastante experiência e tal e nós abrimos uma imobiliária, que chama Leonel Imobiliária. Então, na Leonel Imobiliária, ela é a CEO, inclusive na área comercial. Então, na Leonel Imobiliária, eu atuo como um consultor. Tipo assim: a empresa, o cliente está precisando de um galpão, eu ajudo a definir as necessidades, para chegar na melhor solução. Às vezes, esporadicamente, como corretor também – depois eu fiz o curso de corretor. Mas ela está à frente da Leonel Imobiliária. Então, a gente atua com locação e vendas de galpões e móveis comerciais também. E a Leonel Imobiliária, vamos dizer, capitaliza toda a nossa experiência de construção, de projetos, de licenciamento, de documentação, que a gente sempre fez para terceiros e tal, para ter, com esse know how, um diferencial no mercado.
Nós começamos, inclusive, já há algum tempo, a desenvolver uma pesquisa imobiliária específica de galpões. A gente mapeia a cidade, onde tem os galpões, a gente conhece a maioria dos proprietários de galpões, pesquisa os imóveis disponíveis e tal, tem acompanhamento disso e oferece para o cliente as opções todas. Só que Ribeirão Preto ainda não é um centro logístico... ele é um centro logístico grande, mas não se compara com outras regiões, tipo Campinas, São Paulo, Jundiaí, que têm muito mais, vamos dizer, volume de demanda de galpões. Então, o que a gente chegou a conclusão? Que a gente tem que trabalhar com imóveis comerciais também. Então, para lojas, prédios administrativos, escritórios, depósitos em geral. Então, a gente tem essa atuação e a Alice está à frente da Leonel Imobiliária com a gente.
A Alice veio trabalhar na Leonel Engenharia, pouco antes da gente se casar. E me ajudou a construir, crescer, tudo. Ela estudo com meu irmão, mas eu a conheci em um barzinho, com as amigas, muito tempo depois. Eu nem lembrava dela quando a vi, também porque eu morei fora, né? Eu morei fora, voltei, fiz faculdade, fui baladeiro na faculdade, passeei bastante, e aí que eu a encontrei, e nos lembramos, ela lembrou, eu também, mas eu não cheguei a ter contato com ela porque ela é mais nova que eu, um pouco mais nova que eu. E aí deu certo, começamos a namorar e ela veio trabalhar comigo na Leonel Engenharia, um pouco antes de nos casarmos, e há muitos anos aí, graças a Deus.
Nós tivemos três filhos maravilhosos: o João, que é o mais velho, agora está com 15. Ele vai fazer intercâmbio para o México agora, vai em agosto. Uma parte interessante que eu não contei, da minha vida. Faz 16 anos eu sou do Rotary Club e eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa instituição, onde eu entrei solteiro e agora já vou mandar meu filho pelo intercâmbio do Rotary, que é entre clubes de Rotary do mundo inteiro. Ele vai pra Cancún, no México, ficar um ano lá, como intercambiário. O Ângelo tem 12 anos, o do meio. E o Antônio é o caçula, tem nove. Então, meus filhos, realmente... Todos ótimos alunos. O Antônio é bravo, o caçula, (risos), mas eles são maravilhosos.
Eu particularmente não tive uma experiência internacional, morar fora, só viagens a passeio: Estados Unidos, Canadá, mas morar, não. Sobre meus filhos, uma coisa que eu não tinha lembrado, é o seguinte: eu tenho, faço parte do Clube do Carro Antigo aqui, chama Faixa Branca. É o Clube do Automóvel Antigo de Ribeirão Preto, eu sou do Conselho. E começou essa história com carro antigo, porque meu pai, logo que eu me formei, tal, uma época eu fiquei sem carro e meu pai sempre teve um fusquinha que ele tinha comprado de um amigo, um carro de boa procedência, mas já era antigo, ele é 63. E a gente pegava, quem precisava, o carro, para ir pra lá e pra cá e tal, eu sempre andava com o fusquinha. E aí eu fui fazer uma surpresa pro meu pai, depois que eu tinha outro carro, já tinha casado, já tinha tido meu primeiro filho e tal, e o carro do meu pai ficou abandonado muito tempo lá e, por ser antigo, uma relíquia, eu falei: “Vou fazer uma surpresa”. Então, reformei o carro. Pedi emprestado... não, falei que meu amigo ia arrumar o motor do carro e tal e peguei da casa dele e depois pintei, reformei o carro inteirinho, estofamento e tudo. Aí, a hora que eu fui entregar o carro, ele falou: “Não. Eu não sou muito cuidadoso, eu não quero, não sei o que, fica para você”. Eu falei: “Não, fiz pra você”. Aí ele falou assim: “Então” – isso foi emocionante – “faz o seguinte: vou dar o carro pro meu neto, seu filho”. Ele tinha um ano e meio, o João. “Então, o carro vai ser do João. Aí você aceita?” Eu falei: “Aí eu aceito. Então tá bom. Beleza”. Então, o João já tem esse fusquinha desde que tinha um ano e meio.
Aí nós fomos para os Estados Unidos, eu fui com a Alice e na época, eles eram pequenos, acho que o João tinha três e o Ângelo, um ou o João tinha quatro. E aí eu vi, na Hollywood Estúdios, o Herbie original, e vi que era exatamente igual ao meu. Um fusca 63, branco pérola, que é meio beginho e tal. Vim pra Ribeirão doidinho para fazer o Herbie! Isso foi em 2008. Viemos e eu comprei pela internet, pelo eBay, os adesivos e ele virou o Herbie. Daí teve uma exposição, quando o fusca fez 50 anos, no Ribeirão Shopping. Encheu de fusca lá dentro do shopping. Aí eu o levei como Herbie. Adesivado e tal. Então, é uma alegria esse carro aí, é interessante. Depois eu comprei outro, para o Ângelo. Outro fusca. Também relíquia, 1981, mas ótimo, bonito e tal. E meu pai tinha comprado outro fusca 78. E aí, antes dele falecer, ele já falou pro meu irmão e pra minha irmã: “Esse fusca é do Antônio, que é a raspinha do tacho”. Ele tinha muito carinho com o Antônio. Então, hoje, os três filhos, cada um tem seu fusca.
Aqui em Ribeirão teve a etapa da Stock Car e a gente abria a primeira volta, a gente fez diversas exposições. É uma parte interessante. Hoje eu acompanho o Clube do Carro Antigo aqui e a gente tem bons amigos no clube.
Tem tanta coisa para contar... Na hora você tem que lembrar e desenvolver. Eu estou procurando não falar nomes, senão depois fica... lembrei de uma coisa. Uma parte interessante da minha vida, que eu gosto muito, muito, muito, é a seguinte: a gente costuma fazer festas e receber muitos amigos em casa. Eu sempre gostei, como eu falei, de música flash back. Hoje é flash back, (risos) mas na época eu vivi, dos anos 70 e 80. Então, eu sempre gostei. Eu nasci no dia primeiro de janeiro, no réveillon. Então, sempre foi festa. E eu, antes, não fazia aniversário, porque ninguém ia de convidado e então sempre foi uma tristeza meu aniversário porque não podia fazer festinha, que ninguém ia. Aí, quando eu cresci, casei, falei: “Agora eu vou fazer festa e vou chamar muita gente”, e então eu comecei a fazer festa de réveillon pra 100, 150, 200 pessoas e tal e, quando eu fiz 40 anos, eu fiz a maior festa, eu chamei DJ especialista em flash back. E aí virou uma comunidade e tal. Agora a gente vai fazer a festa junina. A festa junina acho que vai ser a sexta. Festa Halloween, o réveillon, que é meu aniversário, festa a fantasia. Então, habitualmente, a gente faz festa e a minha esposa gosta também. Então, a gente recebe muitas pessoas em casa. É uma coisa que eu gosto muito, é uma parte que a gente faz com prazer, que é receber pessoas com música boa.
A festa de 40 anos foi maravilhosa, quando eu fiz 40 anos. Tinha 300 pessoas na minha casa. Meu quintal é muito grande, tem uma área boa de festas, lá. E eu tenho muitos amigos que cultivo até hoje por essas festas, sempre estão juntos, é uma delícia! É uma farra que a gente faz e conhece muita gente e proporciona alegria para as pessoas, que lembram das épocas boas e músicas boas.
Quando eu trabalhava na Renk Zanini, eu tinha 15 anos e eu precisei fazer uma cirurgia na boca, no maxilar, eu tive um problema e eu nunca esqueço o Marcel, meu amigo e todos os outros, mas liderados por ele, fizeram uma vaquinha pra mim e pagaram um valor grande que, na época, pra mim, era pesado e foi uma coisa maravilhosa.
O que mais? Esse convívio com meu pai, né? Ah, uma coisa que me orgulha também, falando em meu pai: ele, infelizmente, morreu ano passado, 15 dias antes do aniversário dele. Seria a quarta vez que eu tomei a iniciativa de fazer o aniversário dele na minha casa e chamar todos os parentes. Não iam todos, mas eram convidados. Todos os meus primos, as irmãs do meu pai, uma depois faleceu. Então, é uma reunião interessante que era no aniversário do meu pai, uma coisa muito legal, muito gratificante.
Eu lembro da eleição do Tancredo Neves. Isso eu lembro muito bem, eu estava indo para escola... não, não teve aula. Eu estava no bairro, lá na Vila Tibério, mas todo mundo vendo, era o colégio eleitoral e tal, e aquilo foi uma coisa interessante, parece que era uma etapa importante do Brasil, mas repressão eu não lembro... no Movimento Diretas Já, eu já era mocinho. Tinha 12, 13 anos. Diretas Já. Mas eu sempre acompanhei, gostava de ver. Sempre fui, vamos dizer, ativo, nessa parte porque eu sempre gostei de gente, de festa e coisa e tal, então de política, nessa época também, gostava de participar.
Hoje, graças a Deus, eu tenho três filhos maravilhosos: o João, o Ângelo e o Antônio. E hoje a gente está pensando - eu e a Alice que é minha sócia - na empresa, em preparar um futuro pra eles escolherem se vão trabalhar na empresa ou não, mas serem donos da empresa. Então, nós estamos com muitas ideias, muito planejamento, muita meta, muito objetivo sendo trabalhado, para transformar a empresa, o sonho está sendo transformar de uma forma sólida, bem organizada. Hoje, nós estamos vivendo, o mundo inteiro, uma revolução na administração das empresas, e então nós estamos buscando muita informação tipo startups, mentorias, curso de marketing, administração, financeiro. Então, nós estamos em uma constante evolução da empresa. O desafio, hoje, é a Leonel Imobiliária e o sonho de viabilizar os empreendimentos. Nosso sonho, que está prestes a se realizar, que já começamos, é o seguinte: empreender, fazer empreendimentos de galpões. Condomínios de galpões, condomínios logísticos, condomínios industriais, galpões para locação, para venda. Então, a ideia é, vamos dizer, abranger esses três lados: Leonel Engenharia, prestação de serviços, fazendo, construindo, projetando para as indústrias em geral, diretamente; a Leonel Imobiliária, com conhecimento de mercado, vendendo, alugando, administrando, apoiando os locatários e os proprietários; e a Leonel Empreendimentos, viabilizando empreendimentos de galpões para venda e locação próprios, em parceria com terceiros e tal. Então, nós estamos bastante empenhados nesse momento de crescimento, de mudança, de evolução.
Deu para lembrar um pouco da minha história. Ótimo! Tinha que lembrar de coisa mais engraçada, né? Agora, eu não estou lembrando, mas... Obrigado!
Entre a raiz e o novo, uma história
História de Gustavo Leonel
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 14/07/2019 por Danilo Eiji Lopes
ENTREVISTA DE GUSTAVO LEONEL
ENTREVISTADO POR DANILO EIJI
RIBEIRÃO PRETO, 5 DE JUNHO DE 2019
PROJETO VEDACIT
ENTREVISTA NÚMERO PCSH_HV778
TRANSCRITO POR SELMA PAIVA
P/1 – Primeiro eu gostaria de agradecer por você vir e dar sua entrevista para o Museu da Pessoa, para a Vedacit.
R – Eu que agradeço. Acho uma experiência interessante.
P/1 – Vamos lá! Leonel, primeiro eu gostaria que você falasse seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R – Luiz Gustavo Leonel de Castro. Nasci em um do um de 71, aqui em Ribeirão Preto.
P/1 – Como eu havia lhe falado antes, eu vou começar com a história da sua família. Você conheceu seus avós? Você poderia falar um pouco dos seus avós maternos, paternos? Enfim. Conta um pouco.
R – Sim. Conheci meus avós maternos, tive uma proximidade muito grande. Os pais da minha mãe, ia sempre na casa deles aos domingos e tal, era muito forte nossa relação e tal. A minha avó materna faleceu quando eu tinha 12 anos. Então, eu convivi uma parte da minha infância muito boa com ela, inclusive eu era o queridinho da vovó, porque eu era o neto... meu pai é o filho caçula, né? No final, quando estava mais velhinha, ela ficava nas casas dos filhos, né? Então, ela sempre ficava mais na casa do meu pai e me agradava muito. Então, eu tenho muito carinho com minha avó. Agora tem uma história, uma relação muito forte com meu avô, que eu não conheci. O pai do meu pai. José Leonel de Castro. Meu pai sempre contava que ele morreu com 50 anos, trabalhando na lavoura e tal. Era de Formiga, uma cidade de Minas Gerais e tal e a gente foi crescendo, era uma coisa tão distante, a gente nunca imaginou nada e tal, aí, em um determinado momento, eu comecei a ter curiosidade e tal, conversar com meu pai, eu fiz uma viagem para Escarpa dos Lagos, que é próximo à Formiga, vi a placa Formiga, estava com meu pai e falei: “Vamos lá conhecer a sua cidade e tal”. Meu pai não voltava lá há 70 anos, né e nós fomos tentar buscar as origens dos parentes, não conhecia, não tinha informação nenhuma e tal e na primeira viagem não conseguimos, conseguimos algumas... saímos na cidade, na praça, no clube, tal, perguntando e alguma informações e tal. Aí, na segunda, já achamos, mas no dia de vir embora e tal. Na terceira vez fizeram até uma festa pra nos receber e tal, porque foi uma coisa interessante. Quando fomos, coloquei na rádio da cidade, que a gente estava procurando os parentes e tal e aí fizeram uma festa, foi interessante e então nós conhecemos o lugar que meu pai nasceu, né, achamos a casa, depois de muita procura lá, pessoas que davam informações, até um senhor que nos achou, onde é o sítio que ele morava, que eles tinham abandonado, vieram pra Ribeirão e largaram a casa, o sítio lá, porque meu avô buscava uma vida melhor aqui. E, nisso, eu também descobri, aliás foi um pouco antes, sobre a origem do meu avô. Então, fui atrás e tal, onde está, como é que é. Estava enterrado em Cravinhos, eu já sabia, mas ninguém sabia onde era o túmulo e tal. Meu pai lembrava vagamente. E ele foi enterrado em 1951. Aí eu fui atrás, também, na prefeitura de Cravinhos, foi difícil porque não é em sequência os túmulos. A ordem, os nomes não têm um registro no computador, naquela época, onde está enterrado e tal. Aí, procurando livros e livros lá, foi até interessante uma pesquisa, que eu pus a mão na massa, ia na prefeitura, pegava os livros de registro lá do cemitério e consegui achar o túmulo do meu avô e meu pai realmente se lembrava do lugar e tal, mas não tinha achado porque era difícil, mesmo, a localização exata. Aí construí um túmulo novo, né, reformamos o túmulo dele e tal. Então, foi uma relação muito forte. O meu avô, pra mim, sem ter conhecido, é um exemplo e eu já tinha essa força, essa admiração. Hoje tenho contatos com os primos de Formiga, que são vivos, tenho um carinho muito grande. Aí, do nada – é até emocionante - uma história, em conversa com os meus primos, meu pai me fala uma coisa que ficou mais forte ainda: que meu avô vinha pra Ribeirão Preto, que dá 300 quilômetros, 350 quilômetros, a pé. Vinha pra fazer lavoura, pra trabalhar na lavoura. Lá não tinha. As roças, lá, eram poucas. Não tinha fazendeiro que admitia colonos pra fazer meeiros, né, pra tocar a lavoura. E ele vinha e vinha a pé. E fez diversas safras, assim. Ele vinha, eram quinze dias de viagem de Formiga pra região de Ribeirão. E, em uma dessas, foi quando ele trouxe meu pai, acho que ele já tinha vindo algumas vezes, acho que quatro, cinco anos, aí veio de trem com a família e tal e ficou, primeiro, em uma fazenda em Cravinhos, depois Serrana, até chegar em Ribeirão Preto. Aliás, ele faleceu em Cravinhos e a família foi pra Serrana e depois meu pai, de novo, solteiro, veio pra Ribeirão Preto, com a minha avó. Mas então tem uma forte relação.
P/1 – É incrível a sua história! O que despertou você ir fazer essa investigação? Foi o acaso ou você já estava pensando? Foi seu pai que começou a colocar essa questão de ir atrás do avô, do pai dele? De onde despertou isso: “Vamos procurar, vamos atrás”?
R – Eu achei uma coisa interessante o seguinte: eu sou católico de formação, sempre tive muita fé, sempre participei até de procissão, de coisas, sempre. Continuo, ainda, tendo muita, vamos dizer, afinidade com a religião católica. Mas eu comecei, na época, a frequentar e a ler muito sobre a Seicho-no-ie. Então, a Seicho-no-ie me despertou uma coisa interessante, que é a gratidão a todas as pessoas, a Deus, a todo o universo, mas principalmente aos antepassados. Então, ficou muito forte isso em mim, entendeu? Quer dizer: eu vi meus pais, com uma forma diferente e meus avós também. Então, faltava meu avô, que eu não conhecia e tal. Então, eu tive esse, vamos dizer, interesse aí que foi aflorado quando nós fomos próximos a Formiga e, pra mim, Formiga... eu já fui para os Estados Unidos quatro vezes... era mais longe. Por quê? Porque os primos não iam, nunca levaram meu pai, minha avó, que viveu muitos anos depois, nunca retornou e tal. Então, quer dizer: eu tinha aquela curiosidade. Já tinha aflorado essa gratidão pelos antepassados e aí, nessa viagem, de repente, Formiga, entendeu?
P/1 – Quem foi a peça chave que te deu esse... você falou que foi uma vez, não conseguiu, na última você conseguiu alguém, mas estava indo embora. Você encontrou um colega do passado ou foi um parente? Como foi isso aí?
R – O encontro com a família?
P/1 – Não. Porque você falou que você achou uma pessoa ali, mas estava indo embora.
R – Sim.
P/1 – Como foi? O que vocês estavam fazendo? Conta um pouquinho.
R – Ah, foi maravilhoso!
P/1 – Como foi? Porque você falou: “Chegamos na cidade...”. Começou por onde, né?
R – Não conhecia, começamos a perguntar, colocaram o nome na rádio, aí eu parei o carro, era uma empresa de gás, que vendia gás de cozinha, né? Parei, comecei a conversar, ele falou: “Leonel? Tem um rapaz que trabalhou comigo aqui uma época, ele é sobrenome Leonel e tal e ele é filho do Javé”. A hora que ele falou Javé, meu pai falou: “É o nome do meu primo e tal, que eu não conheci” porque meu pai era um pouco mais velho que eles, mas ele tinha ouvido minha avó, alguém falar em Javé. Não, então é ele mesmo. Legal. Então ele explicou, a gente foi na casa desse Javé e lá ele chamou algumas filhas e tal, era de noite, eu lembro e tal, a gente ia embora e tal, e aí, vamos dizer, a gente achou o ninho. Aí diversos primos. Ah, também teve um episódio quando a gente estava no hotel. Não, foi depois disso, é. A próxima eu levei meu tio, que é irmão do meu pai. E a gente ficou num hotel e outro primo, que é o Odilon, foi nos visitar no hotel, no café da manhã e tal. Ele já sabia que a gente estava lá e tal. Foi muito interessante. Eu fui algumas vezes, graças a Deus, com meu pai, lá, inclusive dois meses antes dele morrer. Parece que foi uma despedida porque ele curtiu muito a viagem e tal e foi muito interessante. E até hoje tenho contato com os primos.
P/1 – Muito bom. Esse é o avô por parte de pai, né?
R – É.
P/1 – E a avó? A esposa, a mãe do seu pai.
R – Convivemos. No final ela não tinha mais a casa dela e ela ficava com os filhos. E ficava mais na casa do meu pai. Sempre estava com a gente e tal, mas ela viajava pra casa das filhas, dos filhos e tal. A gente conviveu bem.
P/1 – E do outro lado?
R – Da minha mãe eu vivi bastante por quê? A gente ia aos domingos almoçar na minha avó. Todo domingo.
P/1 – Que era quem mimava?
R – É. Não. A que mimava mais era a vó Chica. Eu lembro que ela recebia aposentadoria, eu ia com ela no Banco, comprava um monte de bala, presente, brinquedo, sabe? Era puxa saco minha avó Chica, nossa! Muito carinhosa. Tenho muitas lembranças boas.
P/1 – E seus pais? Nomes, o que eles faziam? Conta um pouquinho dos seus pais.
R – Minha mãe é Maria Aparecida, Cida. Ela é uma pessoa maravilhosa, um coração gigante, né? Mas ela é tímida, acanhada, sempre foi do lar, uma pessoa que nos criou. Eu lembro da minha mãe como justiça, sabe? Mais do que justiça: o que é meu, é dos outros, de todo mundo. O que é de alguém eu não quero porque eu não posso, sabe? Então, ela sempre foi muito caridosa, muito boa. Ela nunca... até não tinha, vamos dizer, vaidade alguma, sempre nos criou com muito amor, muito carinho e tal. Minha mãe é uma pessoa muito carinhosa. Ela sempre foi do lar e ajudava, por meu pai ser caminhoneiro e tal, ficava mais com a gente, mas sempre foi uma pessoa... como se diz? Não teve boca pra nada. Uma pessoa muito tranquila e tal. Maravilhosa. Meu pai foi caminhoneiro, né, a vida inteira, nos criou com o caminhão, com muita honra, nos criou com sacrifício, mas como eu falei: morava em Serrana por último, com sítio, com os irmãos. Tinha lavoura. Aí vieram, ele se aventurou por Ribeirão, foi empreendedor na época, pegou a parte dele das terras lá e comprou um carro de táxi aqui em Ribeirão, acho que foi em 1959, não lembro, não sei o ano certo, mas tinha um carro e depois comprou um carro de praça, então, no ponto da figueira, que é o ponto central, ali em frente ao Teatro Pedro II. Ficou alguns anos, depois comprou caminhão e então criou a gente, assim, sempre como autônomo, por conta. Uma época ele foi construtor também. Ele construiu casas pra vender. Ele construía uma casa, vendia, construía outra, a gente mudava, ele vendia. Acho que ele parou na quarta casa. Quarta ou quinta casa. Mas ele sempre foi empreendedor, eu tenho boas lembranças. Uma pessoa muito forte na minha vida, com certeza e eu tive o privilégio de conviver muito bem nos últimos anos e, como até meu filho pequeno fala: “Papai, você não tem que ficar triste porque o vovô morreu, porque você o aproveitou ao máximo”. Então, graças a Deus, aproveitei, o levava a todos os passeios que eu ia. Tive uma proximidade muito grande, no final, vixi, principalmente, foi uma ótima companhia. Muito bom.
P/1 – Você o acompanhava nessas viagens de caminhão? Ou já foi, ia, ajudava no trabalho?
R – Sim. Muito. Aprendi a dirigir muito novo caminhão. Com 14 anos eu aprendi a dirigir caminhão. Vixi, meu pai sempre foi, realmente, meu herói, né?
P/1 – Você chegou a acompanhar uma viagem dessas?
R – Ele não viajava muito longe, né? Fazia fretes na cidade ou regional, mas sempre a gente ia. Viagem, eu lembro de café, tinha cidades da região: São Joaquim, São Simão eu ia muito, Casa Branca, fazia diversas viagens. Vixi. Faltava na escola, minha mãe ficava brava, mas adorava viajar com meu pai.
P/1 – A sua mãe ainda é viva?
R – Sim.
P/1 – Tem irmãos?
R – Sim. Eu sou o filho mais velho. Tem dois irmãos, somos em três. Eu tenho um irmão, o segundo, é o André, que é um ano e meio mais novo e a caçula é a Luciana, que tem quatro anos a menos. Mais nova que eu.
P/1 – Me conta um pouco dessa infância, Ribeirão Preto, vocês moravam onde? Bairro...
R – A gente foi criado, morei em duas casas na Avenida do Café. Ali no começo da Vila Tibério. Então, ali foi o meu bairro. A gente, vamos dizer, viveu bastante a Vila Tibério, tenho amigos até hoje, muito contato e tal. Vivemos na Vila Tibério ali, como eu falei. Meu pai construía casa, a gente morava um pouco, ele construía outra e tal...
P/1 – Mas sempre no bairro?
R – É. Sempre por ali, próximo à Via do Café. Então, tem grandes relações ali na Via do Café, onde, na última casa, minha mãe mora até hoje.
P/1 – Era um momento do mercado ali? O que foi essa aventura ali? Não sei se foi uma aventura, mas esse empreendimento. Era de parar o caminhão, é isso? Pra...
R - ... fazer casa? Sim, vender um caminhão...
P/1 – Era um momento que estava crescendo a cidade? É isso? O que...
R – Eu não sei se ele comprou o caminhão... porque ele tinha caminhão e fazia casa também, né? Então eu não sei se, em algum período, ele vendeu caminhão pra fazer casa. Não sei. Não, ali na Via do Café, na década de 60, foi implantada a USP. Não sei se você conhece. Tem o Museu do Café e o Museu Histórico de Ribeirão, que é ali, por isso que se chama Avenida do Café, né? Ali fazia parte da Fazenda Monte Alegre, que era a maior fazenda do mundo, cafeeira. E nós tivemos o rei do café. O terceiro rei do café é o Francisco Schmidt. Então, a sede da fazenda dele, que era a Fazenda Monte Alegre, é onde é a USP hoje. Depois que ele morreu ficou para o Estado e foi colocada lá a faculdade. Acho que primeiro foi Medicina, depois Farmácia e Odonto, tal. Então, ali, era um bairro em expansão, realmente. Um bairro em crescimento. Então, tinha um prolongamento e a duplicação da Avenida do Café. Então, acho que foi logo depois disso. Tanto é que muitas ruas do bairro chamam Prolongamento de Ruas da Vila Tibério. Então, o bairro expandiu para o lado oeste, onde é a USP.
P/1 – E como foi essa infância na década de 70? Como era o bairro? O que vocês faziam?
R – Em frente à minha casa, na Via do Café, até hoje tem ainda, um terreno muito grande, que tinha árvores, aroeiras e a gente jogava bola lá todo dia e minha mãe ia com a cinta dez horas da noite, às vezes, buscar a gente porque a gente brincava muito ali no terreno, em frente à avenida. E eu frequentei o Botafogo também, né, que o Botafogo, a sede, é na Vila Tibério. Na Luiz da Cunha com a Santos Dumont. Então, a gente, quase todo dia, ia no clube jogar bola, piscina, nadar. Tenho grandes amigos até hoje e tal. Uma infância maravilhosa.
P/1 – Vocês eram uma classe média, assim?
R – Acho que média baixa, né? Eu lembro, na época, meu pai tinha carro, uma Brasília, que eu aprendi a dirigir, né? (risos) Que era um carrão, na época. Em 1978 ele tinha um carro 75. Então, quer dizer: já não era qualquer um. Nossas casas, também, graças a Deus, eram casas boas e tal. Vamos falar aqui classe média baixa, mas graças a Deus não faltava nada, tal, vivemos muito bem, sim.
P/1 - E escola, você lembra? Tem memórias da escola?
R – Escola pública, sempre. Lembro, claro.
P/1 – Estudou onde? Como era?
R – Tinha uma escola, Hermínia Gugliano, hoje tem segundo grau, mas era só primeiro grau. Estudei lá da primeira à oitava série, aí, no meio da oitava, eu saí pra estudar à noite, quando eu comecei a trabalhar o dia inteiro. Aliás, no começo da oitava. Só comecei as aulas e já fui, em janeiro, para outra escola. Tem grupos de amigos que a gente se revê e tal. Uma escola muito tradicional. Uma escola muito boa. Foi uma fase maravilhosa.
P/1 – Você lembra de algum causo dessa época, da escola? Lembra de algum professor? De alguma história que você lembre com afeto?
R – Tem histórias. Nossa! Eu não era muito bom de futebol. (risos). Isso eu não era. Mas jogava tampinha nos bancos. Não sei se você lembra. Jogava três... é que nem futebol de botão e os bancos ficavam lotados nos intervalos. A gente deitava até no chão pra jogar. Todo intervalo jogava tampinha. Eu lembro que eu, às vezes, ia atrasado pra escola, não dava tempo de levar o lanche, minha mãe ia no intervalo levar lanche pra mim lá e eu ficava com vergonha (risos) que ela ia. Muitos amigos.
P/1 – Lembra de algum professor? De alguma situação em sala?
R – Sim. Lembro do seu Auro, bravo pra caramba, professor do terceiro ano. A gente, quando alguém fazia bagunça, ele puxava a costeleta e levava até pro castigo. A Dona Laís. E tem uma história cômica, mas (risos) um pouco trágica. Uma vez eu fui pra escola e estava com diarreia, dor de barriga. E eu pedi pra professora, Dona Laís: “Dona Laís, eu preciso ir no banheiro” “Agora você vai esperar porque tem que acabar a lousa e depois você vai” “Dona Laís, eu preciso ir no banheiro, eu preciso ir no banheiro” Aí não aguentei, levantei, fui andando, saiu nas calças.
P/1 – Nossa!
R – Aí eu vim pra casa, todo sujo e tal, chorando. E aí trouxeram meu caderno, no outro dia. Não, eu cheguei na aula, meu caderno estava lá e tinha um recado: “Para a mãe do Luiz Gustavo: o Luiz Gustavo saiu mais cedo porque sujou nas calças” (risos) Nunca esqueço esse bilhete.
P/1 – Nossa, outra escola, outra época! Tinha castigo na escola também?
R – Tinha. Tinha professor bravo, lá, o seu Auro, no terceiro ano. Mas eu sempre fui, graças a Deus, um aluno mais calmo, sempre sentei na frente.
P/1 - Tinha briga nessa época ou não?
R – Tinha. Vixi, se alguém falasse que ia te pegar lá fora, nossa, dava muito medo, né? Eu tive umas duas, três brigas aí que eu lembre e tal, mas depois ficamos amigos e tudo. Não tem...
P/1 – Na normalidade e tudo bem.
R – Claro!
P/1 – Era um bom aluno?
R – Sim, graças a Deus.
P/1 – Gostava?
R – Sim, sempre gostei, graças a Deus. Tinha facilidade de aprender e tal e sempre fui calmo, na escola, né? Nunca tive problema, não. Nunca fiquei de recuperação.
P/1 – E fora da escola, a parte lazer, clube etc... tinha, um pouco mais velho, a sair? O que tinha nessa diversão? Vamos pensar na adolescência.
R – Eu gostava. Tinha quermesse de igreja, de escola, festa junina de escola tinha muito e tal. Tinha alguns amigos que faziam brincadeira, né? Brincadeira dançante. Sábado. Montar a festa era legal. A gente ia acompanhar. Tinha uns que levavam som, levavam luzes e tal. Tanto é que eu gosto, até hoje, de festa, de música, de som e tal, mas eu lembro muito de montar as brincadeiras, de acompanhar a montagem, que eu nunca...
P/1 – Você lembra qual era o som, na época, ali, que estava fazendo sucesso?
R – As meninas gostavam dos Menudos, tinha que tocar Menudos. A gente ficava bravo. Mas a gente gostava das lentas, pra poder abraçar as meninas. Era começo de 80, tinha A-ha, Phil Collins, Bee Gees. Músicas maravilhosas.
P/1 – Essas influências vinham, assim... veio punk pra cá, veio umas coisas assim. New age, a galera.
R – Tinha new age, tinha sim.
P/1 – Tinha uma influência?
R – É. Sei lá, eu sempre fui mais calmo. Eu gosto, até hoje, música dance eu continuo gostando, às vezes. Rock também. Por exemplo: Scorpions, a gente tocava, não deixava de tocar na brincadeira, todo mundo gostava e tal. Mas eu gosto de dance, né? Bee Gees, Abba... eu não lembro do nome do conjunto. Tinha músicas que a gente ouve até hoje, boas.
P/1 – Teve várias namoradas, poucas namoradas? Tinha liberdade pra isso? Como era?
R - Eu sempre fui de namorar, assim. No começo. Até uma certa idade. Então, nessa época de mocinho e tal eu tinha namorada, comecei a namorar com 14 pra 15. Depois fui trabalhar fora com 17 e terminei porque fiquei longe, né? Fui pra Monte Alto, tal. Aí, em Monte Alto, não tive. Depois que eu fui morar em Patos de Minas tive namorada lá. Voltei pra Ribeirão pra fazer faculdade e aí fiquei um período sem namorar. Aí aproveitei até o máximo. Namorei namoros curtos aí, mas aproveitei bastante. Na época da faculdade e tal era um período que eu não queria namorar. Não queria sério, eu queria curtir. E aí, depois de formado que eu conheci minha esposa que aliás, ela estudou com meu irmão no ginásio. Ela é colega de escola, de sala, do meu irmão. A gente veio se reencontrar depois de muito tempo, eu já tinha me formado e aí deu certo, graças a Deus, temos uma vida até hoje maravilhosa, né? Mas de novinho era calmo, era tranquilo e tal. Tive um monte de paixãozinha e tal, mas era mais de namorar. Aí, quando eu fiquei mais velho, eu fiquei mais de balada. Baladeiro.
P/1 – Você falou de trabalho, que você começou. Qual foi seu primeiro emprego?
R – Olha, o primeiro emprego, assim, que eu tive relação de trabalho, foi o seguinte: na Via do Café montaram uma lanchonete, um trailer de lanches, de sanduíches. Aí eu fui lá pedir emprego, que eu queria meu dinheiro. Aí eu lembro, estava na quinta série, tinha 11 anos. Ele falou: “Tudo bem. Que horas você sai da escola?” “Eu saio às quatro e meia” “Então você pode entrar às seis e ficar até as 11 da noite?”. Eu falei: “Posso”. Minha mãe não queria deixar, meu pai e tal, mas foi deixando, deixaram e foi legal. Primeiro eu atendia os carros, depois eu aprendi a fazer sanduíche, lanche e foi interessante.
P/1 – Era conhecido da família, assim?
R – Não. Era uma pessoa de fora.
P/1 – Um cara de 11 anos aqui batendo...
R – É. 11 anos. Depois, com 12, eu fiz polícia mirim, que é guardinha, que é um treinamento. Uma sociedade civil que dá um treinamento pra, vamos falar hoje, Primeiro Aprendiz. Mas não tinha limite de idade. Acho que tinha 12 anos, na época. É, fiz com 12 pra 13 anos. Nesse treinamento a gente aprende informações da cidade, como funciona, onde é a prefeitura, os locais da cidade, fórum, ir aos Bancos, datilografia, uma série de coisas. Aí eu entrei no primeiro emprego, vamos dizer, formal, foi a Selaria São José, com 13 anos, em um escritório. Então, era contínuo, vamos falar. Então, ajudava, ia ao Banco, ia fazer cobrança. Quando podia, aprendia datilografia também porque o meu serviço era mais de rua e aí eu fui ficando no escritório e tal. Aí, depois, com 14 anos, um primo meu trabalhava na Renk Zanini, uma indústria aqui da região, de Cravinhos e me convidou porque ia ter uma vaga lá pra ajudante na seção de Engenharia, no Departamento de Engenharia. E ali mudou minha vida, eu acho. Foi o emprego que eu entrei na indústria. Com 14 anos eu entrei na Renk Zanini. Fizemos teste, entrevista, tudo, entrei como ajudante, tirando cópias de projetos. Cópias heliográficas de projetos. Hoje não é mais heliográfica. E os desenhos eram na mão, eu aprendi a copiar com nanquim, o vegetal, fazia cópias, eu fui até aprender a desenhar, me transformei em desenhista e tal. Ali é uma indústria mecânica.
P/1 – Ficou um tempo ali?
R - Fiquei quatro anos e meio. Então, foi maravilhoso. Tenho amigos até hoje. Aliás, presto serviços pra eles. Tive oportunidade de prestar serviços de obras pra eles há pouco tempo. Então, foi uma amizade muito forte. Tenho muita gratidão. Foi onde começou minha vida, vamos dizer, na Engenharia em geral. Era Engenharia Mecânica. Então, na época, eu falava: “Quero ser engenheiro mecânico”.
P/1 – Você lembra de alguém, de alguma situação nessa empresa?
R – Na Renk Zanini?
P/1 – Alguém que te ensinou. Eu não sei. Alguma situação?
R – Sim. Tenho um grande amigo meu. Até tenho tido contato com ele atualmente. O Marcel. O apelido dele é Pinguim. Que foi um grande apoio, me ensinou muita coisa. Pegava no meu pé e me zoava muito, né? Mas um grande amigo. Eu o considero muito. Diversas pessoas. Hoje estou em Ribeirão Preto, qualquer lugar, vejo alguém da época da Renk, é uma delícia, sabe? É muito legal. É uma empresa, um grupo, muito organizado, muito grande. Eu posso falar: bom de trabalhar, bom ambiente de trabalho. Então, até hoje tenho muitos amigos e quando eu vou lá também fico conversando com todo mundo que é da minha época e tal.
P/1 – E você quis sair daqui? Como foi?
R – Sim. Como era da área mecânica e eu estava na oitava série, que hoje é nono ano, entrei para o primeiro colegial, eu escolhi ir pra mecânica, fazer técnico em mecânica, no colégio industrial aqui, técnico. Comecei a fazer, estava indo bem na Renk Zanini, estava tendo uma ascensão...
P/1 – Você tinha que ir pra lá? Como era?
R – Não. A Renk é ali em Cravinhos. Daqui a 20 quilômetros. Então eu ia e voltava todo dia. Era terrível porque eu tinha que acordar às cinco horas da manhã, pegar ônibus, tal e estudava à noite, né? Mas é aqui na região, pertinho. E aí comecei a fazer técnico em mecânica industrial porque eu já estava trabalhando com Desenho Mecânico, né, queria me tornar projetista, Mecânica era a próxima etapa aí e, de repente, na sala de aula, o professor falou pra mim: “Gustavo, eu quero falar com você depois, na hora do intervalo. Me procura”. Eu falei: “Tá bom”. Aí, fui falar com ele, ele falou: “Ligou aqui um pessoal diretor da Cica Produtos Alimentícios, eles estão procurando um técnico pra manutenção. Só que eu falei que eu não conheço técnico formado, eu ia indicar um aluno”. Fiquei feliz porque ele falou: “Você é meu melhor aluno. Eu quero que você ligue lá e pergunta, fala que está no último ano, se pode ser”. Aí eu liguei, fiz a entrevista e entrei na Cica em Monte Alto. Marquei pra fazer a entrevista, liguei, falei, só que eu não falei que eu não tinha formado ainda, né? “Você é técnico?” “Sou técnico”. “Então vem cá fazer a entrevista”. Marquei e eu nunca tinha faltado na Renk Zanini, em quatro anos e meio. Então, quer dizer, eu tive uma decisão, uma noite terrível, que era decidir: e agora? Eu falo na Renk que eu vou fazer uma entrevista e não dá certo, como é que faz? Como é que eu falo? Vai prejudicar? Eu falo que eu estou doente? Falo alguma coisa? Falei: “Não vou falar nada”. Fui. O diretor de manutenção lá, seu Maion, na época, a entrevista foi demorada e legal, ele ficou muito interessado porque a Renk Zanini é uma empresa de origem... começou com uma joint venture alemã e, na Alemanha, se segue a unidade internacional, o sistema internacional, milímetros. Normalmente, em empresas de origem americana, empresas de máquinas de manutenção alimentícia, está acostumado tudo em polegadas. Diversas coisas. A gente teve muito assunto e tal. Principalmente trabalhava com treinamentos, com máquinas: eixo, engrenagem, então eu conhecia bastante, ele gostou, então foi maravilhoso. Nossa, que legal. O salário ia ser quase três vezes mais e na Renk Zanini eu ganhava muito bem, de todos os meus amigos eu tinha o melhor salário, né? Estava indo beleza, tudo bem, tal: “Você está contratado, pode passar lá no RH, vê sua vida lá, tal, beleza”. Tudo bem. A hora que eu cheguei no RH era a hora da verdade, né? “E o seu diploma?” Eu lembro que era agosto. “Infelizmente eu estou no último ano, mas eu fiquei sabendo que tem ônibus de estudante e eu preciso terminar até o final do ano, então eu posso ir e voltar todo dia”. Aí eles falaram: “Não. Infelizmente não”. Esse aí foi um período até interessante, que o diretor de RH da empresa... a empresa tinha sido comprada por um grupo italiano e ele implantou um sistema interessante, que foi o trainee de nível técnico, médio, entendeu? Porque, na época, se ouvia falar, começou-se a se falar em trainee, mas era só faculdade. Então, ele implantou o sistema trainee para nível técnico, né? Pra segundo grau. “Então você não pode ser trainee, você não é formado. Você tem que ser estagiário”. Ah é? Aí eles ligaram para o Doutor Maion: “Ele não é formado, ele não falou para o senhor” “Mas ele é tão bom, quero contratar” “Ele não é formado. Só como estagiário”. Aí ele falou: “Ele aceitou te contratar como estagiário. Só que você vai ganhar X”, que era metade do que eu ganhava na Renk Zanini. Eu teria que alugar um quarto pra morar. Primeiro já era uma dificuldade porque eu tinha 17 anos e nunca tinha pego um ônibus pra outra cidade sozinho. Quer dizer: era muito novo, difícil. E ganhando metade. E meu pai não tinha condições de me ajudar e tal. Então aí eu peguei e falei: “Então tá, então não dá”. Ixi, então foi uma viagem terrível de volta. Vim chorando na viagem inteira e depois, a hora que chegou aqui na rodoviária, eu falei: “E o que eu vou falar na Renk amanhã? Não avisei nada e tal. Se eu falar que fui fazer uma entrevista e não deu certo, não sei o que... vou falar que fiquei doente e tal. Vamos ver. Amanhã vai me dar uma inspiração e eu vejo o que eu falo”. Tá bom. A hora que eu cheguei, eu lembro que eu dava um passo muito lento da rodoviária pra minha casa, que é perto, mas eu ia muito triste. Poxa, que pena! Era um sonho. Eu vi a fábrica, que era uma fábrica de alimentos, a Cica, uma coisa maravilhosa, achei interessante, manutenção das máquinas, projetos de novas linhas de produção, achei interessante. A hora que eu chego na esquina da minha casa, minha mãe gritando: “Corre, corre, corre”. Eu falei: “O que é?” “Um telefone aqui, esse homem ligou, Maion ele chama, falou pra você ligar qualquer hora. Pode ser até de noite, porque ele ia ficar lá na fábrica até a noite, esperando você ligar”. Porque na época não existia celular, né? Eu falei: “Pois não”. Cheguei lá: “Doutor Maion, tudo bem?” “Olha, é o seguinte: dei um jeito aqui e vou assumir o compromisso por você e você vai ser contratado como técnico”. Isso era uma quinta, né? Ele falou: “Vem amanhã de novo pra fazer os exames médicos, que você começa segunda-feira”. Aí eu comecei a tremer no telefone e falei: “Mas eu tenho que falar na Renk Zanini que eu vou sair, que eu nem falei que eu ia fazer uma entrevista” “Ah, é? Então tá bom, então vem segunda fazer exame médico e já começa a trabalhar”. Então, foi maravilhoso! Foi interessante. Aí, pra falar no outro dia, na Renk, eu fui no Departamento Pessoal, primeiro, depois no meu gerente, que eu não poderia cumprir aviso, nada, mas ninguém imaginava porque eu era muito feliz na Renk, sabe? Era um ótimo emprego e eu gostava muito do trabalho e tal, aí, assim, foi difícil, uma choradeira danada, tal, mas eles gostavam e a maioria gosta de mim, a gente tinha um bom relacionamento e todos falaram: “Não, é melhor pra você, vai embora”. Então, aí foi essa carreira.
P/1 – Você mudou de cidade?
R – Fui pra Monte Alto, uma experiência nova, maravilhosa.
P/1 – E aí, você lembra do primeiro dia lá em Monte Alto?
R – Nossa Senhora! Um frio do caramba! Muito frio. Monte Alto é mais frio que aqui, né? Mas nossa, eu lembro cada minuto!
P/1 – E você era novo, ainda?
R – É. 17 anos.
P/1 – E aí? Como foi chegar lá, longe de casa? Você ficou onde? Morou onde? Como foi?
R – Tinha uma pensãozinha, acho que eu fiquei um mês lá, né? Servia almoço também, eu saía da Cica e ia almoçar, próximo à Cica. Paguei essa pensão até... fui nas imobiliárias, arranjei um apartamento em um predinho muito legal. Depois vieram outros colegas morarem comigo, já dividi o apartamento em três, depois em dois. Eu morei lá em Monte Alto acho que um ano e três meses, é. Quando eu morava em Monte Alto eu tinha essa namorada aqui em Ribeirão e aí, na época, não conseguia voltar muito, aí precisei terminar o relacionamento, porque era fábrica e então tinha, às vezes, final de semana, trabalhava e tal. E em Monte Alto, na época, esse plano de trainee, a intenção da empresa era... estava sendo construída a fábrica em Patos de Minas. E Patos de Minas era a menina dos olhos. Na época existia no Brasil uma novidade também que eles trouxeram da Europa, era Qualidade Total. Aí virou febre também: “Aquela fábrica tem Qualidade Total”. Igual depois começou a se falar em ISO, hoje indústria 4.0, tem diversas, vamos falar, ondas interessantes. Então, a Cica de Patos de Minas foi construída sob as normas, as boas práticas da Qualidade Total. Todo mundo queria ir pra Patos de Minas ser encarregado, ser engenheiro, ser de produção, tudo, né? E o encarregado de Monte Alto achou que ia e estava me treinando pra ficar ali, mas graças a Deus eu fui convidado, acredito que até que já estava nos planos dele, me treinar em Monte Alto, pra ir pra Patos de Minas e não o encarregado da época, né? Aí eu fui, eu tinha 18 anos.
P/1 – Uma transferência interna, então?
R – É. Pra fábrica nova. Então, fui na época da montagem da fábrica. Na época que o Collor tinha entrado, em 1990, eu estava em Patos de Minas. Aí precisei voltar, não tinha dinheiro. Não existia dinheiro. Bloqueou, os Bancos não tinham condições, eu não tinha como voltar. Aí a Cica não conseguia pagar o hotel, porque não conseguia transferência, depois regularizou e tal e então foi nessa época que eu fui, em março de 90. Aí foi uma época inicial que eu montei alguns equipamentos e voltei e depois, definitivamente, eu acho que foi em setembro. É. Porque eu nunca esqueço, que em Patos de Minas tem uma festa que chama Festa do Milho, em maio, maravilhosa e eu estava prestes a ir à Festa do Milho e precisei voltar. Voltei depois da festa. Aí depois eu voltei como encarregado de manutenção. Fui registrado primeiro como técnico mecânico, depois encarregado, depois supervisor de manutenção. É. Fiquei dois anos e dois meses em Patos de Minas, foi maravilhoso, tenho amigos até hoje.
P/1 – Era realmente revolucionário?
R – A fábrica?
P/1 – Qual era a diferença? Você lembra disso? O que era?
R – A planta industrial era interessante, muito moderna, vamos falar. Tanto a questão de resíduos, tinha biodigestores gigantes pra tratar os resíduos antes de jogar, descartar. Máquinas com uma produção alta. Algumas técnicas novas. Por exemplo: o milho cozido. Eu lembro que lá nós desenvolvemos essa ideia. O milho cozido, antes, vinha a espiga, a máquina tira a palha, a despalhadeira, depois tira os grãos e aí cozinhava. O que acontecia? Perdia água e o milho é a água que ele tem dentro. É uma gelatinosa, não lembro o nome que, se perder com a água, então perdia muito peso do grão porque, quando cozinhava, saí o leitinho do milho, né? Então, o que a gente desenvolveu lá? Cozinhava as espigas antes de cortar. Máquinas de embalagem também pra enlatar, sistema moderno, que as fábricas de embalagem desenvolviam lá em parceria. Então, foi uma fábrica interessante. Mas o que acontece? Eu comecei a montar as máquinas, porque eu fui encarregado de montagem das máquinas, né? Equipamentos, tal. Também aumentou meu leque de responsabilidade. Fui responsável por veículos também. Então, caminhões, máquinas e tal. Que eu não conhecia nada, assim. Conhecia... meu pai tinha caminhão, tinha noção, mas no curso a gente não via. E foi interessante, um conhecimento muito legal e tal. Aí eu comecei a ver, enquanto eu montava minhas máquinas, ajustava a manutenção dos equipamentos, caminhões e tal, eu via montar a fábrica. Então, eles estavam em final de montagem. Então, ali que eu me apaixonei, vamos dizer, por construção civil de fábrica. Tinha os engenheiros da Construtora Paranasa, que fez a obra, então eles iam na minha república, a gente se encontrava, fazia churrasco e tal e eu fiquei alucinado, entendeu? Achei civil mais ampla. Então, houve aquela, vamos dizer, simpatia muito grande, entendeu? Falei: “A civil é mais legal, você monta uma fábrica, você é mais livre”. Apesar que é engenharia, né? Tudo cálculo, física e tal, mas eu comecei a gostar de fábricas, de galpões, lá na montagem da Cica, isso em 91, 90, 92. Então, fiquei com aquilo na cabeça.
P/1 – Você chegou a fazer cursos, essas coisas? Você fez Engenharia depois, como que você fez?
R – Foi assim: meu sonho sempre foi fazer Engenharia. Sempre tive o sonho de ser engenheiro, desde novo, né? Uma coisa que eu sei porque eu gosto de Matemática também e sempre falava que poderia ser engenheiro. Mas na época era difícil. Eu não tinha condições de fazer uma faculdade e não trabalhar. Então, não existia Engenharia curso particular. Tinha a Unimep próximo a Piracicaba e São Paulo, né? Porque São Carlos era federal ou estadual. Então, quer dizer: não tinha Engenharia aqui. Principalmente noturno não existia. Então, eu não tinha como fazer e pagar e tal. Mas meu sonho era Engenharia. Eu queria fazer Engenharia. E estava trabalhando na Cica, estava feliz, estava muito bem, fiz um ano de Administração lá em Patos de Minas. Eu vim pra cá em outubro, não cheguei a terminar o ano. Fiz um ano de faculdade lá. Aliás, não foi Administração. Foi, como chama? Ciências... não lembro. Matemática, né? Curso de ciências não lembro o nome. E estava muito bem lá em Patos de Minas e tal, estava feliz, estava crescendo a empresa, estava prestes a ter uma promoção e meu pai tinha caminhão aqui, né? Tinham roubado o caminhão dele há algum tempo. Na época eu até tinha o carro, vendi, pra ele conseguir comprar outro caminhão, comprou outro caminhão e tal, depois ele tinha o carro e me deu em troca do que eu tinha vendido pra comprar o caminhão pra ele e, na época de caminhão, ele começou a carregar entulho, porque era o que ele via mais rápido, porque o caminhão era muito velho, que ele comprou e tal, então ele carregava entulho no caminhão. E veio pra Ribeirão a primeira empresa de caçamba de entulho. De sistema de caçamba pra carregar entulho, né? E ele ficou alucinado, apaixonado e tal, sabe? Ficou muito interessado, me falou e tal, que queria montar, eu achei até legal e interessante, ele foi empreendedor. Tinha falado com meus primos e tal, que tinham condições, pra tentar ajudar alguma coisa, porque ele queria comprar um caminhão com guincho, pra carregar as caçambas, pra ter mais coisa. Mas primeiro o seguinte: quando eu ia ter a promoção pra supervisor, esse mesmo diretor de RH que me contratou, que chamava seu Paranhos, veio de Jundiaí, que era a matriz da Cica e teve uma reunião comigo e com outro técnico. Eu era encarregado de mecânica industrial e de autos e tinha o outro, que era de elétrica e pneumática, né? Então ele chegou pra mim primeiro, depois pra ele e depois para os dois juntos e falou: “Agora vocês vão ter uma promoção pra supervisor e a Cica vai começar a ter supervisores em outras fábricas, vocês vão ter uma promoção, depois vão ser gerentes de manutenção em alguma fábrica” - porque tinha um plano de carreira maravilhoso na época, eu ganhava muito bem e tal – “só que tem uma coisa: vocês vão acrescentar, mesclar. O supervisor é de todas as áreas da manutenção. Então, você vai fazer mecânica de autos, industrial, elétrica e pneumática” e o César, que era o outro rapaz, ia fazer a minha parte também. Um de dia e um à noite, então ia trocar turno a cada 15 dias. Pra aprender a área do outro e tal. Eu falei: “Pra mim não tem problema. Só tem uma questão: eu faço faculdade, então eu não posso vir à noite e faltar na faculdade, pelo menos até o final do ano letivo. E eu sei porque eu sou chefe também, eu tenho funcionários” - na época tinha 30 funcionários sob minha responsabilidade – “que existe uma lei que, quando o funcionário tem um ano letivo matriculado, não pode mudar e tirá-lo, pra perder o ano. Tem que esperar acabar aquele ano, tal. Então, sem problemas. Eu posso trabalhar de final de semana à noite e tal, mas na aula eu não posso faltar. A hora que acabar a aula a gente troca, eu posso ficar até à noite, sem problemas”. Beleza. Ele falou comigo. Aí foi falar com o César e ele falou: “Não aceito porque eu tenho filho pequeno, eu sou casado e tal. Não aceito. Aceito trocar o turno e tal”. Aí, pra mim, foi uma coisa muito difícil, foi um impacto muito grande. Falei: “Uma empresa com uma grande proposta, na época era inovador esse sistema de RH”. Eu lembro que os meus funcionários recebiam treinamento assim: se o cara manifestou interesse em sair da empresa, você já manda embora e libera tudo: FGTS, aviso prévio. A empresa não queria ninguém insatisfeito trabalhando e tal. E com essa postura, me obrigando a trocar turno e acabar, perder o ano letivo e tal, mas tudo bem, eu falei: “Se é assim, tudo bem, beleza”. Mas fiquei triste, né? Aí eu vim em uma Páscoa pra Ribeirão Preto, em um feriado de Páscoa e meu pai me falou sobre esse sistema de caçambas de entulho e tal, que queria montar uma empresa, tinha falado com meu primo, ele ajudava no começo, avalizando, ajudar a dar entrada no sistema e tal, não sei o que e aí, do nada, eu falei pro meu pai: “Não precisa falar com o Mazinho, não”. Ele já tinha, até, falado, né? “Mas quem vai ser seu sócio sou eu”. Ele quase morreu, né? Porque eles tinham orgulho que eu tinha um bom emprego, ganhava bem, apesar de ser muito novo e tal e falou: “Não, imagina, você está muito bem”. Eu falei: “Não, eu vou ser seu sócio e eu vou fazer Engenharia Civil, que agora tem em Ribeirão Preto à noite” “Mas como? Não, não sei o que”. Aí foi amadurecendo e tal. Aí eu voltei pra Patos de Minas na segunda-feira, pedi as contas, foi um rebuliço lá na unidade porque até o gerente me fez chantagem, o gerente da unidade, que eu não podia sair, porque a Cica tinha investido em mim dois anos, já, com treinamento, dois anos e meio, ele queria que eu continuasse e eu falei: “Eu entendo, mas a empresa não viu meu lado. Agora minha vida tomou outro rumo. Eu quero ser engenheiro. Agora, resolvi que vai ser civil porque civil eu consigo trabalhar, montar a empresa com meu pai e fazer Engenharia à noite”. Eu consegui, dali uns dias, me pediram acho que dez, 15 dias, voltei e quando eu fui fazer a matrícula para o vestibular para o começo do ano, né, não tinha pra noite. À noite era só no meio do ano. Só tinha de dia. Então, pra mim: “Como estudar de dia? Tenho que trabalhar, tenho que dirigir o caminhão” porque era eu e o motorista, né? Aí eu falei: “Não. Vou fazer a matrícula. Se der, vamos tentar”. Aí eu lembro que eu parava o caminhão na porta da faculdade, entrava, assistia um pouco de aula, voltava, carregava a caçamba, descarregava. Quando eu ficava muito tempo na aula eu tinha que ficar até 11 horas da noite, meia noite, descarregando entulho pra fazer e começamos a empresa eu, meu pai e meu irmão, né? E meu irmão era muito novo, na época ele era menor. Acho que ele tinha... não, ele tinha 19, é. Ele ainda não tinha muita prática e tal. Depois ele começou a aprender a dirigir. Então, ele me aliviava. Eu conseguia assistir aula e graças Deus deu certo, eu terminei a faculdade, fiz até à noite Administração junto com Engenharia e ainda trabalhando. Eu também não acredito, até hoje. E gostava de passear, muito. Ia em festas e tal. Graças a Deus foi um período, foi um desafio.
P/1 – E como foi esse começo? Foi crescendo? Começou com um caminhão e virou dois? Como que é? Conta um pouquinho.
R – No começo foi um período difícil. Isso aí foi em 1992. É, 91 eu vim pra cá e em 92, 93 entrei na faculdade no começo de 92. O Brasil estava em uma fase difícil e tal, estava complicado e então eu lembro que era tipo um desafio. Então, a gente começou com 15 caçambas e um caminhão velho. Nossa, detonado. Depois financiamos mais um. Mas sempre dificuldade, sabe? Às vezes ficava cinco meses, seis meses sem pagar a faculdade. Às vezes não deixavam fazer matrícula porque eu devia da outra e tal, mas foi um período interessante. Eu lembro dessa área que uma vez eu comprei... comprei, não, eu vi em algum lugar uma revista, não lembro o nome daquela revista, acho que é Universitária, não sei, que tem a perspectiva das profissões, para os jovens escolherem as profissões e tal, das carreiras, né? E aí tinha lá Engenharia Mecânica, que é interessante e tal; Mecatrônica, estava se falando em curso novo, você sai e já estava empregado e tal; Engenharia Civil, tipo assim: “Esqueça, está ruim, o Brasil está em queda, não tem perspectiva e tal”. Eu falei: “Que legal! Que curso que eu fui escolher!”. Mas, graças a Deus, foi uma boa escolha, porque me interessei cada vez mais e tal.
P/1 – Quando você terminou, você continuou com as caçambas? Cresceu esse trabalho? Como foi?
R – Foi assim, por exemplo: eu era sócio do meu pai e do meu irmão na empresa de caçamba. Eu fazia faculdade e então me dedicava menos à empresa, porque tinha as aulas e tal. E o meu irmão sempre com a gente, sempre disponível depois que ele, como eu falei, começou a dirigir e tal e a gente tinha dois caminhões, depois cada um ficava com um e aí depois a gente precisou colocar um motorista, porque tinha mais coisas além de ser motorista. Ou seja: eu tinha já relacionamento, por fazer faculdade, com engenheiros, construtoras e então eu fazia mais essa parte comercial, financeira, controle. Meu irmão ficou mais no caminhão. Mesmo assim ajudava, a gente colocou funcionário, foi crescendo e tal. Quando eu me formei, aí eu peguei e falei: “Eu acho que, não por não ser justo, mas eu acho interessante, eu quero alçar voo solo e vou deixar a empresa”. Aí ficaram meu irmão e meu pai e eu fui cuidar da minha vida. Eu lembro que daí a pouco tempo montei um escritório como autônomo e tal e alcei como autônomo, até montar a empresa e tal. Então, deixei a empresa.
P/1 – Como foi formado em Engenharia, abriu um escritório pra você, trabalhou em casa? Começou com um telefone? Como que foi isso aí?
R – Eu lembro que meu primeiro cliente foi um vizinho, ele construiu uma casa nova, eu fiz o projeto pra ele e tal e legalização de prefeitura, planta e tinha um amigo meu, que a gente já tinha contato desde a faculdade, o Samuel, que queria montar um escritório e me convidou pra montar com ele e tal, alugou uma casa e falei: “Quero, sim”. Foi meu primeiro escritório. Tinha a parte dele e a minha, lá no escritório e tal. E depois, eu sempre tive algum foco, sempre quis ter empresa, mesmo, construtora. No começo eu gostei muito da área hospitalar e então eu queria fazer projetos de clínicas, hospitais e tal e até conheci, tinha uma parceria no escritório com uma arquiteta que fez arquitetura hospitalar e tal, mas eu vi que a área não era interessante, pelo menos na época, não gostei e aí apareceu uma obra interessante pra fazer um projeto de um galpão, uma loja de auto peças, né? E aí eu achei interessante. Nossa! É uma obra grande, rápida, “simples”, sem muita frescura e mais fácil, mais profissional. Você mexer com residências, fazia projetos de casas, tudo, mas é complicado porque você faz a planta e o projeto, pra executar, tem muitos detalhes, aí o proprietário quer ele mesmo comprar, não quer que você compre. Se você vai assessorar, tem que... então, quer dizer: é mais pra Arquitetura essa parte de acabamento, de detalhamento e tal e eu não tinha, na época, condições e não tinha vontade, vocação pra fazer, pra vender casas e tal. Eu queria mais era construção, mesmo. Gostei de galpões e fui pesquisando sistemas construtivos e, por acaso, conheci uma pessoa que veio em uma empresa que, em um período tiveram escritório aqui, a Leonard de São Paulo, de estruturas pré-fabricadas e comecei relacionamento com eles, orçamentos que apareciam, comecei, fiz diversas obras, me tornei representante deles aqui como estruturas de concreto pré-fabricados, né? E depois, com a minha construtora, eu comecei a pegar obra independente da estrutura. Concorrência, mas sem obra pública, né? Obras pra clientes empresas, indústrias e comércios. E mais galpões, obras em geral, pré-fabricadas de concreto, com metálica. Então, foi uma paixão que, desde o começo, como eu te falei: essa obra que apareceu eu tinha, sei lá, um ano de formado, acho que um ano e pouco de formado. Não, tinha mais. Porque foi em 98 e eu me formei em 96. Tinha dois anos e pouco de formado. Então, me despertou e aí remeteu à experiência na Cica. Então eu falei: “Nossa, é uma área interessante! Indústria, galpões e tal”. Foi interessante. O Brasil, vamos dizer na década de 2000, começo dos anos 2000, até 2010, foi um crescimento muito grande e então adquiri muita experiência, em muitas obras.
P/1 – Eu ia lhe perguntar isso, né? Porque foi um boom na construção civil de novo, né?
R – É.
P/1 – E você pegou esse boom, conseguiu?
R – Sim, graças a Deus.
P/1 – Tem alguma experiência que você teve? Conta um desafio aí. Conta uma obra ou, enfim, conta um causo aí que você: “Puxa, essa aqui foi incrível, essa aqui foi difícil”.
R – De construção, você fala?
P/1 – É, da experiência do trabalho.
R – Entendi. O que eu lembro, o que marcou, hoje eu agradeço a Deus, é o que eu quis e acho interessante ter tido essa postura, foi que nessa época que eu peguei de melhor: 2004, 5, 6, 7 e 8, assim, o crescimento, aí veio Minha Casa, Minha Vida, eu lembro que tinha uma onda muito grande de fazer casa pra vender, prédio pra vender, apartamento pra vender. E eu nunca entrei, não tinha essa vocação, não era meu negócio e então eu sempre fiquei firme em trabalhar com galpões. Então, foi uma escolha que até hoje foi interessante, que é minha fascinação são galpões. Obra industrial em geral, né? E trabalhar pra empresa. Aí o mercado diminuiu bastante depois de 2012, já começou a cair. 11 já começou a dar uma caidinha, até ultimamente aí ficou muito ruim e diminuiu a quantidade de obras, mas eu peguei bastante volume, muito grande, bastante... um período próspero, vamos falar, pra indústria em geral. Houve um desafio grande que era eu, na época, representava, vendia estruturas pré-fabricadas de concreto. Então, quer dizer: eu tinha que romper um preconceito, um paradigma, que era assim: caro, pesado, difícil, que não se tinha e então eu tinha que ter, vamos dizer, jogo de cintura como vendedor de pré-fabricado, com os profissionais, arquitetos: “Faz estrutura pré-fabricada, é mais rápida, fica mais sólida, a obra fica mais limpa, é mais resistente, o cálculo estrutural já vem pronto, você só faz o complemento, uma obra mais limpa, menos desperdício”. Então, quer dizer: eu peguei bastante... como é que eu posso falar?... resistência a novos...
P/1 – A uma nova tecnologia.
R - ... novas tecnologias. E hoje não. Está totalmente difundido e tal.
P/1 – Imagino, inclusive, que deve ser uma coisa semelhante ao 3D aí. Que tem com essas impressoras 3D, dessas coisas de construção.
R – É.
P/1 – O pessoal fica olhando e fala: “Opa. O que é isso?”, né?
R – É. Inclusive vai ter, já tem 3D pra construção civil, mesmo.
P/1 – Exato.
R – Faz casa e prédio, a impressora 3D. Então... eu ainda não estou nessa evolução, mas temos que migrar, sabemos que vamos ter que migrar, né? Tomara! O que acontece com a construção civil, principalmente industrial, é que ela fica, vamos dizer, a cargo do crescimento, entendeu? Então, quanto menos movimento, vamos dizer, menor o PIB, menor é a demanda. Então, nós estamos em um patamar, hoje, muito baixo, porque o Brasil não está crescendo, né? Então, quando ele não cresce, as fábricas continuam onde elas estão. Elas não vão comprar ou alugar outro imóvel, a logística não precisa aumentar. Claro que sempre há movimento. Acho que, vamos dizer, o movimento do mercado não pode ser visto só como indicador do PIB porque, vamos supor: se o PIB cresce 1%, isso é uma média. Tem empresas que crescem 50, outras fecham. Caem 100, entendeu? Então, sempre há movimento no mercado, mas muito menos do que um mercado crescendo uniforme. Então, hoje, o volume do mercado diminuiu.
P/1 – Qual que é a obra que você participou, que você tem aquele orgulho, que aquela assinatura ali você fala: “Essa aqui...” Conta um pouco, conta um causo dessas experiências que você teve aí.
R – Fiz diversas obras.
P/1 – Tanto as que deram certo e as que não deram. Conta algumas histórias aí.
R – Tem diversas obras que eu tenho orgulho. Por exemplo: uma fábrica de detergentes, a Triex, em Sertãozinho, foi um projeto muito interessante. O terreno era acidentado e foi um desafio e tal. Nós chegamos à solução. O sistema construtivo, também, pré-fabricado, encaixou direitinho. O escritório tinha que ser convencional. Então, eu gosto muito do desafio do projeto também, né? Porque a obra, claro, eu faço a obra conforme o projeto e executo conforme o projeto, mas eu tenho diversas, vamos dizer, situações que são desafios para o projeto. Por exemplo: aqui em Ribeirão Preto, Comercial Gerdau; a Caterpillar, Sotreq Representante; diversas obras que eu fiz o projeto. A Basequímica, uma indústria química, uma empresa de produtos químicos.
P/1 – Descreve um pouco como é o seu trabalho, assim. Você chega em um lugar, está lá o terreno. É isso daí? Daí você tem que pensar o que você vai fazer? Como funciona? Conta um pouco.
R – Normalmente é o seguinte: porque eu tenho a Construtora Leonel Engenharia. Então, a gente faz projeto, execução de obras, projetos complementares, reformas de obras rápidas e tal. Então, a gente, no Marketing, você prospectando, tem que criar demanda no cliente. Mas normalmente o cliente me liga com a demanda: “Quero essa obra assim, assim, assim e tal, tal”. Agora, graças a Deus, a minha experiência é muito grande em estrutura: modulação, tamanho econômico, tamanho viável, resistência e tal, então eu tenho facilidade em dimensionar. Então, pegar um papel e fazer. Mas alguns detalhes você tem que ver: a posição do sol, a topografia do terreno, a logística, a entrada, o sistema viário. Você vai lá e sente, realmente, o terreno. Isso é interessante: você ir no local, ver o terreno e sentir a necessidade, entendeu? A melhor solução pra aquilo.
P/1 – E você toca também na obra, ali, com o pessoal? Tem uma equipe de confiança? Como é que é?
R – Sim. Nós somos uma construtora, né? Então, a gente entrega a obra pronta. Acompanha, contrata, tem uma equipe. A maioria é terceirizado, mas a gente controla e assume o risco, com responsabilidade trabalhista, todos os riscos tributários, risco de acidente de trabalho, tudo. Então, a gente entrega a obra completa para o cliente. Normalmente a gente trabalha pra empresas, só pra empresas. B2B. Comércio e indústria, mais. Logística, transportadoras e tal. Então, a gente pega a obra e executa do início ao fim.
P/1 – Qual é a parte mais difícil do trabalho?
R – Olha, eu sempre fui... como posso falar?... idealista em sistema industrializado, construção industrializada. Porque, o que não fecha, o problema, é a mão de obra. A construção civil demanda muita mão de obra, né? Inclusive você vê que a agricultura é cada dia uma máquina mais moderna e com maior capacidade. Por quê? É uma questão até de sobrevivência, entendeu? Você ter muita mão de obra, além do risco trabalhista, risco de acidente, o custo é prazo e falta de atendimento imediato. Por exemplo: na época que estava a construção a pleno vapor aí, faltou mão de obra e mão de obra de construção civil você não treina em um mês, um ano. O cara pode fazer um curso de mestre de obras. Mas ele não vai aprender ser mestre de obras em uma escola, entendeu? Ele precisa de 20 anos de canteiro de obra, pra ele saber o que pode dar errado, a experiência e tal. Então, quando cresce muito, você fica na mão de pessoas. Tanto é que nessa época do boom, até 2011, 12, teve muitos problemas de obras. Incorporadoras que fecharam. Construtoras que fecharam. Por quê? Orça uma coisa, não consegue executar. Ou põe o pessoal pra fazer e o pessoal faz errado, tem que refazer. Então, é complicado. Então, eu sempre visualizei, meu olho brilha, eu amo, construção industrializada. Então, sistemas construtivos. Vem a estrutura pronta, os pilares e vigas, pode ser metálico, de concreto, até madeira, tem alguns sistemas, fechamentos, paredes, não usar tijolo, tem sistema construtivo de gesso, acartonado, drywall, paredes em placas cimentícia, mesmo fechamentos isopainéis, tem de PVC com isopor dentro. Tem diversos tipos de paredes que vêm prontas, coberturas, laje pronta. Então, quer dizer: sempre fui um idealizador. Inclusive, vamos dizer, uma parte interessante aí da minha vida que eu tenho muito orgulho: eu participei muitos anos da Associação de Engenharia e Arquitetura e Agronomia de Ribeirão. Fui presidente do Conselho Deliberativo em dois mandatos, fui conselheiro e organizei, junto com o presidente na época... a Associação de Engenharia tem um papel de difusão de novas tecnologias para profissionais e estudantes e tal. Então, foram instaladas semanas tecnológicas, conforme a área de atuação, né? E, na época, eu idealizei a Semana de Tecnologia da Construção, englobando Arquitetura e Engenharia. Ou seja: trazer o sistema construtivo, trazer as grandes fábricas, os grandes projetistas, quem tem know how e os projetistas, pra mostrar soluções: “Olha, você pode fazer essa mesma obra industrializada. Faz a obra, vai no canteiro e monta. Faz em uma fábrica e monta”. Então, esse é o futuro. Hoje, infelizmente, como a demanda diminuiu, não está tão evidente esse ganho, porque tem mão de obra mais barata, o mercado está mais parado, mas na época que estava muito crescendo, foi muito importante e tal. Acho que está na oitava semana. Eu organizei, enquanto estive lá, três, né? E eu trazia os palestrantes; temas, vamos dizer, os mais renomados de todos, nessas áreas. Normalmente essas três áreas: metálica, pré-fabricado de concreto e chama construção seca, que é o gesso acartonado, parede drywall, placas cimentícias e tal. Então, quer dizer, eu sempre fui um sonhador, um idealizador, um visionário, que eu sempre gostei, acho interessante, que acho que é o único futuro que nós vemos pra construção: diminuir a mão de obra e transformar o canteiro de obras em um canteiro de montagem do processo.
P/1 – Porque diminui mesmo a mão de obra?
R – Com certeza.
P/1 – Diminui o material? É mais barato?
R – Prazo. O que acontece? É mais barato, se você comparar... com certeza é muito mais barato, se você comparar todos os insumos. Ou seja: você está fazendo uma obra comercial. Se ela demorar um ano pra construir ou demorar três meses, você vai computar prazo de aluguel que você vai parar de pagar, uma série de coisas. É mais barato se você computar o risco porque você não tem... as empresas são indústrias que montam, pessoal treinado, especializado e tal, você tem menos riscos de acidentes e tal. Pra você regularizar uma obra com estrutura pré-fabricada, que tem um sistema construtivo que viabilize a industrialização da obra, tem 70% de desconto de INSS, que é um imposto pra regularizar e você tirar certidão negativa do cartório, né? Então, quer dizer: tem diversos ganhos, né? Agora, o principal ganho é o de escala. Então, quando o mercado, realmente, a mão de obra encarece, não tem prazo e tal, aí o preço começa a cair muito, entendeu? Então, começamos a chegar em um período desses. Hoje acredito que não. Tem empresas que, por política, já buscam sistemas mais industrializados, pra diminuir riscos, pra um prazo mais rápido e tal, mas em termos de custo, né, hoje não sai mais barato que o convencional.
P/1 – E as dificuldades dessa condução da obra, ter uma equipe bem preparada... você tem alguns personagens aí que você trabalha sempre? Como que é?
R – Ah, com certeza. Infelizmente, eu não consigo ter muita sequência porque as minhas obras são mais rápidas, entendeu? Tipo um galpão são seis meses de obra, cinco meses. Quando é uma obra industrial, que tem galpão, escritório em torno, guarita, tal, é um ano, entendeu? Então, quer dizer: uma incorporadora tem obra de três anos, quatro anos e sempre tem sequência de obras e tal. Agora, também, no momento da economia mais reduzida aí, eu tenho poucas obras e obras menores e então não consigo ter uma equipe grande, mas eu sempre tenho, é muito importante, imprescindível na construção civil, o pessoal treinado. Então, os meus parceiros, sempre os mesmos, procuro uma boa relação, contratar as mesmas pessoas e ele vão, já, pegando o jeito. Você vai se afinando e tendo boa equipe de trabalho.
P/1 – Você está há quantos anos, já, na construção civil?
R – Eu me formei em 96, né? Então, são 23 anos.
P/1 – 23 anos! E, nesses 23 anos, vamos lá, um causo, uma situação que seja marcante na profissão, aí. De uma construção, um cliente ou conheceu um pré-fabricado, não sei, alguma situação que você fale: “Isso aqui eu preciso registrar”.
R – Eu acho que o desafio da minha carreira, trajetória aí sempre foi ser empreendedor e escolher, como eu te falei, atuar nessa área empresarial. Então, mesmo quando não tinha nada, eu não tinha experiência. Então, eu fui muito corajoso. Então, eu reputo que eu tive bastante... hoje eu vejo, né? Não sei se eu teria tanta coragem. Tipo pegar uma obra muito grande sem ter nenhum funcionário, ter que contratar, ter que fazer e tal e, graças a Deus, foram as coisas encaminhando, a gente vai pegando experiência, vai pegando parceiros.
P/1 – Já teve problemas de acidentes em uma obra sua?
R – Já.
P/1 – Ou de embargo, sei lá.
R – Sim. Nós tivemos um funcionário que se acidentou. Infelizmente, não vou falar por culpa porque ele não fez por querer, mas por uma atitude dele. Ele foi, em um galpão muito grande, 14 metros de altura, pintor, estava pintando por fora, tudo e, na hora do almoço, ele quis adiantar, porque estava ganhando por produção e não tinha autorização pra pintar perto dos fios, que a gente já tinha solicitado pra desligar os fios de alta tensão da rua. E ele foi, sem autorização, na hora do almoço, pra adiantar o serviço dele, né? E aí encostou o rolo de pintura, o cabo, no fio de alta tensão e teve um acidente sério. Não faleceu, não, mas ficou com sequelas e tal e foi grave. Foi terrível. Graças a Deus a gente estava totalmente correto, né? Ele era registrado e tinha equipamento de segurança, ele estava com cinto de segurança, com botina, com uniforme, capacete e tudo, mas mesmo assim teve uma ação trabalhista e a gente teve um prejuízo grande aí. Uma pena. Mas a gente sempre orienta e cobra a questão de segurança do trabalho, a questão de documentação, a gente preza por trabalhar correto.
P/1 – Eu fico imaginando que não deve ser fácil trabalhar com 50 funcionários ali.
R – Tem obra de cem, de 80. Infelizmente o fator humano, então você não tem 100% do controle, né? Mas a gente preza por exigir segurança, documentação, treinamento, pra diminuir os riscos, né? E também a gente trabalha pra empresa por ter, vamos dizer, essa responsabilidade, que não é nada demais, mas é compromisso com assumir os riscos e trabalhar com pessoal treinado, registrado, com nota fiscal, com tudo e então...
P/1 – A Leonel, hoje, é um desdobramento daquele autônomo recém-formado ou você passou por várias coisas, saiu, voltou pra empresa, não sei o que ou foi um caminho contínuo pra chegar na Leonel Construtora?
R – Sim. Acho que foi uma evolução contínua, como eu te falei: a gente, nosso foco de atuação são empresas, principalmente galpões e então, desde quando eu comecei, eu trago a minha experiência lá com 18 anos na Cica, vendo construir uma fábrica, então tenho paixão por essa atuação aí, entendeu? Que é o quê? Atuar no mercado industrial e comercial, né? Nunca atuei no residencial. Só como autônomo, fazendo projeto, como eu te falei, né? Então, isso foi evoluindo. Eu tenho muita experiência em sistemas construtivos, obras industriais. Fiz também muitas obras de varejo, lojas...
P/1 – Já teve sociedade?
R – Não. Com outra pessoa, não.
P/1 – Sempre foi você sozinho?
R – É. Eu acho que pesou e foi muito bom o fato de eu já ter tido sociedade com meu pai e meu irmão e eu falei...
P/1 – E foi pra frente lá?
R – Sim. Hoje meu irmão tem empresa de caçamba, ele é empreendedor. Meu pai faleceu o ano passado, né? Agora só tem meu irmão e ele está muito bem, tem empresa, tem atuação na área ambiental também, no local onde joga o entulho. Ele é empreendedor, ele faz casas e tal e tem meu cunhado também, o marido da minha irmã, que também montou uma empresa ambiental e de caçambas também. Fornece caçambas. Então, eu fico até orgulhoso de saber que, graças a Deus, continuou, né, a empresa, Limpex. Continuou até hoje. Mas então, desde que eu me formei, eu comecei sozinho, já tinha essa visão de não ter sócios. Não por problema, nada, mas nunca tive. Agora, eu já tenho, há alguns anos, uma sócia, que é minha esposa, entendeu? Então, ela é minha sócia, desde antes de nos casarmos, ela veio trabalhar com a gente e ela é da parte administrativa, comanda a parte administrativa, financeira e jurídica da empresa. Eu fico com o comercial e área técnica. Então, já tem muitos anos que ela está na Leonel Engenharia e me ajuda na administração da empresa e tal. E, há dois anos, nós temos um projeto novo, né? Como eu te falei: a gente trabalha, atua nessa área de galpões, eu tenho bastante experiência e tal e nós abrimos uma imobiliária, que chama Leonel Imobiliária. Então, na Leonel Imobiliária, ela é a CEO, inclusive na área comercial. Então, na Leonel Imobiliária, eu atuo como um consultor. Tipo assim: a empresa, o cliente está precisando de um galpão, eu ajudo a definir as necessidades, pra chegar na melhor solução e tal. Às vezes, esporadicamente, como corretor também, que também, depois, fiz o curso de corretor. Mas ela está à frente da Leonel Imobiliária. Então, a gente atua com locação e vendas de galpões e móveis comerciais também. E a Leonel Imobiliária, vamos dizer, capitaliza toda a nossa experiência de construção, de projetos, de licenciamento, de documentação, que a gente sempre fez para terceiros e tal, pra ter, com esse know how, um diferencial no mercado. Nós começamos, inclusive, já há algum tempo, desenvolver uma pesquisa imobiliária específica de galpões, entendeu? Então a gente mapeia a cidade, onde tem os galpões, a gente conhece a maioria dos proprietários de galpões, pesquisa os imóveis disponíveis e tal, tem acompanhamento disso e oferece para o cliente as opções todas. Só que Ribeirão Preto ainda não é um centro logístico... ele é um centro logístico grande, mas não se compara com outras regiões, tipo Campinas, São Paulo, Jundiaí, que têm muito mais, vamos dizer, volume de demanda de galpões, né? Então, o que a gente chegou a conclusão? Que a gente tem que trabalhar com imóveis comerciais também. Então, pra lojas, prédios administrativos, escritórios, depósitos em geral. Então, a gente tem essa atuação aí e a Alice está à frente da Leonel Imobiliária com a gente.
P/1 – Leonel, eu estou indo pra uma parte mais de conclusão da nossa conversa aqui, você casou, tem filhos?
R – Ah, essa é a melhor parte, né? (risos). Sim, como eu falei: a Alice veio trabalhar na Leonel Engenharia, pouco antes da gente casar. E me ajudou a construir, crescer, tudo.
P/1 – Você falou que ela era uma conhecida do seu irmão, não é isso? Estudou lá.
R – Isso. Mas eu a conheci em um barzinho e tal, com as amigas, muito tempo depois. Eu nem lembrava dela quando vi, no começo, tal, porque eu morei fora, né? Então, eu morei fora, voltei, fiz faculdade, fui baladeiro na faculdade, né, passeei bastante, tal, aí eu a encontrei e tal e lembramos, ela lembrou, eu também, mas eu não cheguei a ter contato com ela porque ela é mais nova que eu, um pouco mais nova que eu. E aí deu certo, começamos a namorar e então ela veio trabalhar comigo na Leonel Engenharia um pouco antes de casarmos e há muitos anos aí, graças a Deus, tivemos três filhos maravilhosos: o João, que é o mais velho, agora está com 15. Ele vai fazer intercâmbio para o México agora, vai em agosto. Uma parte interessante que eu não contei, né, na minha vida, que há 16 anos eu sou do Rotary Club e então eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa instituição, onde eu entrei solteiro e agora já vou mandar meu filho pelo intercâmbio do Rotary, que é entre clubes de Rotary do mundo inteiro, ele vai pra Cancún, no México, ficar um ano lá, como intercambiário. O Ângelo tem 12 anos, né? O do meio. E o Antônio é o caçula, tem nove. Então, meus filhos, realmente...
P/1 – Todos estudando, bons alunos?
R – Ótimos alunos. O Antônio é bravo, o caçula, (risos) mas eles são maravilhosos.
P/1 – Você teve uma experiência internacional, morar fora também?
R – Não. Só viagens a passeio: Estados Unidos, Canadá, mas morar, não. Sobre meus filhos, uma coisa que eu não tinha lembrado, é o seguinte: eu tenho, faço parte do Clube do Carro Antigo aqui, chama Faixa Branca. É o Clube do Automóvel Antigo de Ribeirão Preto, eu sou do Conselho. E começou essa história com carro antigo, porque meu pai, logo que eu me formei, tal, uma época eu fiquei sem carro e meu pai sempre teve um fusquinha que ele tinha comprado de um amigo, um carro de boa procedência, mas já era antigo, ele é 63, né? E a gente pegava, quem precisava, o carro, pra ir pra lá e pra cá e tal, eu sempre andava com o fusquinha. E aí eu fui fazer uma surpresa pro meu pai, depois que eu tinha outro carro, já tinha casado, já tinha tido meu primeiro filho e tal e o carro do meu pai ficou abandonado muito tempo lá e, por ser antigo, uma relíquia, eu falei: “Vou fazer uma surpresa”. Então, reformei o carro. Pedi emprestado... não, falei que meu amigo ia arrumar o motor do carro e tal e peguei da casa dele e depois pintei, reformei o carro inteirinho, estofamento e tudo, né? Aí, a hora que eu fui entregar o carro, ele falou: “Não. Eu não sou muito cuidadoso, eu não quero, não sei o que, fica pra você”. Eu falei: “Não, fiz pra você”. Aí ele falou assim: “Então” – isso foi emocionante – “faz o seguinte: vou dar o carro pro meu neto, seu filho”. Ele tinha um ano e meio, o João. “Então, o carro vai ser do João. Aí você aceita?” Eu falei: “Aí eu aceito. Então tá bom. Beleza”. Então, o João já tem esse fusquinha desde que tinha um ano e meio.
P/1 – Meia três?
R – Meia três. Aí nós fomos para os Estados Unidos, eu fui com a Alice na época, eles eram pequenos, acho que o João tinha três e o Ângelo, um ou o João tinha quatro e aí eu vi, na Hollywood Estúdios lá, o Herbie original e vi que era exatamente igual o meu. É um fusca 63, branco pérola, que é meio beginho e tal. Vim pra Ribeirão doidinho pra fazer o Herbert, o Herbie, né? Isso foi em 2008, é. Viemos e eu comprei pela internet, pelo eBay, os adesivos e virou o Herbie e teve uma exposição, quando o fusca fez 50 anos, no Ribeirão Shopping. Então, encheu de fusca lá dentro do shopping. Aí eu o levei como Herbie. Adesivado e tal. Então, é uma alegria esse carro aí, é interessante. Depois eu comprei outro, para o Ângelo. Outro fusca.
P/1 – Relíquia também?
R – É. 81, mas ótimo, bonito e tal. E meu pai tinha comprado outro fusca 78. E aí, antes dele falecer, ele já falou pro meu irmão e pra minha irmã: “Esse fusca é do Antônio, que é a raspinha do tacho”. Ele tinha muito carinho com o Antônio. Então, hoje, os três filhos, cada um tem seu fusca. Começou com essa..
P/1 – Vocês já foram lá pra Interlagos, fazer aquele encontro?
R – Ainda não, mas aqui em Ribeirão teve a etapa da Stock Car e a gente abria a primeira volta, a gente fez diversas exposições. É uma parte interessante. Hoje eu acompanho o Clube do Carro Antigo aqui, tal, a gente tem bons amigos no clube.
P/1 – Muito bom! Tem alguma história que eu não perguntei, que você fala: “Puxa, isso aqui eu também queria falar”. Uma viagem internacional, uma experiência, o dia do casamento... não sei. Qualquer coisa que você queira. Um desafio profissional...
R – A Alice falou alguma coisa pra eu não esquecer. Deixa eu ver.
P/1 – Era de Formiga.
R – Ah, a história do meu avô!
P/1 – Isso ela falou: “Não esquece isso”. Está registrado. Mas não sei, alguma viagem, uma questão familiar na juventude, trabalho, enfim, alguma coisa que a gente não perguntou, que você...
R – Tem tanta coisa, cara. Na hora você tem que lembrar e desenvolver, né? Dá um tempinho, pra eu tentar, porque senão eu esqueço, depois, de alguma coisa. Deixa eu ver.
P/1 – Não citei tal pessoa.
R – Lembrei! Não, eu estou procurando não falar nome, se você percebeu, senão depois fica... lembrei de uma coisa. Pode falar? Está gravando? Uma parte interessante da minha vida, que eu gosto muito, muito, muito, é a seguinte: a gente costuma fazer festas e receber muitos amigos em casa. Eu sempre gostei, como eu falei, de música flash back. Hoje é flash back, (risos) mas na época eu vivi, dos anos 70 e 80. Então, eu sempre gostei. Eu nasci no dia primeiro de janeiro, no réveillon. Então, sempre foi festa. E eu, antes, não fazia aniversário, porque ninguém ia de convidado e então sempre foi uma tristeza meu aniversário porque não podia fazer festinha, que ninguém ia. Aí, quando eu cresci, casei, falei: “Agora eu vou fazer festa e vou chamar muita gente” e então eu comecei a fazer festa de réveillon pra cem, 150, 200 pessoas e tal e, quando eu fiz 40 anos, que eu fiz a maior festa, eu chamei DJ especialista em flash back. Todas as festas são flash back, né? E aí virou uma comunidade e tal. Agora a gente vai fazer a festa junina. A festa junina acho que vai ser a sexta. Festa Halloween, o réveillon, que é meu aniversário, festa a fantasia. Então, habitualmente, a gente faz festa e a minha esposa gosta também. Então, a gente recebe muitas pessoas em casa. É uma coisa que eu gosto muito, é uma parte que a gente faz com prazer, que é receber pessoas com música boa.
P/1 – Teve alguma dessas que você lembra e fala: “Nossa, esse ano aconteceu tal coisa”?
R – A festa de 40 anos foi maravilhosa, quando eu fiz 40 anos. Tinha 300 pessoas na festa.
P/1 – Em casa?
R – É, na minha casa, é. O quintal, meu, é muito grande, tem uma área boa de festas, lá, né? E, como eu te falei, tem muitos amigos que cultivo até hoje por essas festas, sempre estão juntos, é uma delícia! É uma farra que a gente faz e conhece muita gente e a gente proporciona alegria pras pessoas, que lembram das épocas boas e músicas boas, né? É isso aí. Deixa eu ver se eu lembro mais, engraçado...
P/1 – Alguma viagem? Alguma situação com os parentes? Não sei. Pode também ser coisas que não sejam tão legais, mas que, enfim, é a sua história de vida, né? Se quiser deixar registrado, falar, um acidente, não sei.
R – Depois você vai editar?
P/1 – Tem a íntegra e o que vai ser editado é aquele videozinho.
R – Quando eu trabalhava na Renk Zanini, eu tinha 15 anos e eu precisei fazer uma cirurgia na boca, no maxilar, que eu tive um problema e eu nunca esqueço o Marcel, meu amigo e todos os outros, mas liderados por ele, fizeram uma vaquinha pra mim e pagaram um valor grande que, na época, pra mim, era pesado e foi uma coisa maravilhosa.
P/1 – Solidária, né?
R – É. E surpresa, depois de eu ter feito a cirurgia e tal. O que mais? Esse convívio com meu pai, né? Ah, uma coisa que me orgulha também, falando em meu pai, é: ele, infelizmente, morreu ano passado, 15 dias antes do aniversário dele. Seria a quarta vez que eu tomei a iniciativa de fazer o aniversário dele na minha casa e chamar todos os parentes. Não iam todos, mas eram convidados. Todos os meus primos, as irmãs do meu pai, uma depois faleceu. Então, é uma reunião interessante que era no aniversário do meu pai, uma coisa muito legal, muito gratificante.
P/1 – Você viveu um pouco da ditadura, né? Isso chegou em você, de alguma maneira? Esse período.
R – Eu era muito novo, né? Eu lembro da eleição do Tancredo Neves. Isso eu lembro muito bem, que eu estava indo pra escola... não, não teve aula. Eu estava no bairro, lá na Vila Tibério, mas todo mundo vendo, era o colégio eleitoral e tal e aquilo foi uma coisa interessante, parece que uma etapa importante do Brasil, mas repressão...
P/1 – Você lembra do movimento Diretas Já, aquela coisa?
R – Sim. Eu era mocinho. Tinha 12, 13 anos. Diretas Já. Mas eu sempre acompanhei, gostava de ver. Sempre fui, vamos dizer, ativo, nessa parte porque eu sempre gostei de gente, de festa e coisa e tal, então de política, nessa época também, gostava de participar.
P/1 – Agora, seus planos, sonhos... qual é o sonho que te move hoje? O que é?
R – Olha, graças a Deus, eu tenho três filhos maravilhosos: o João, o Ângelo e o Antônio. E hoje a gente está pensando, que a Alice é minha sócia, né, na empresa, em preparar um futuro pra eles escolherem se vão trabalhar na empresa ou não, mas serem donos da empresa. Então, nós estamos com muitas ideias, muito planejamento, muita meta, muito objetivo sendo trabalhado, pra transformar a empresa, o sonho está sendo transformar de uma forma sólida, bem organizada. Hoje nós estamos vivendo, o mundo inteiro, uma revolução na administração das empresas, né e então nós estamos buscando muita informação tipo startups, mentorias, curso de marketing, administração, financeiro. Então, nós estamos em uma constante evolução da empresa. O desafio, hoje, é a Leonel Imobiliária e também o sonho é viabilizar empreendimentos. Nosso sonho, que está prestes a se realizar, que já começamos, é o seguinte: empreender, fazer empreendimentos de galpões. Condomínios de galpões, condomínios logísticos, condomínios industriais, galpões pra locação, pra venda. Então, a ideia é, vamos dizer, abranger esses três lados: Leonel Engenharia, prestação de serviços, fazendo, construindo, projetando para as indústrias em geral, diretamente; a Leonel Imobiliária, com conhecimento de mercado, vendendo, alugando, administrando, apoiando os locatários e os proprietários; e a Leonel Empreendimentos, viabilizando empreendimentos de galpões pra venda e locação próprios, em parceria com terceiros e tal. Então, nós estamos bastante empenhados nesse momento de crescimento, de mudança, de evolução.
P/1 – Maravilha! Paulo, alguma pergunta? Tudo bem? Leonel?
R – Não. Beleza.
P/1 – Você gostou de contar um pouco sua história?
R – Sim.
P/1 – Deu pra lembrar um pouco?
R – Deu. Ótimo! Tinha que lembrar coisa mais engraçada, né? Agora eu não estou lembrando, mas...
P/1 – Ah, mas tem umas partes boas. É isso. A nossa vida é aquilo que a gente conversou, né? Tem coisas, tem a profissão... então, em nome do Museu da Pessoa, da Vedacit, muito obrigado!
R – Opa, obrigado vocês!