Nesta entrevista, Ruth nos conta sobre a raíz mineira de sua família e a sua infância no bairro do Butantã. Fala sobre as escolas que lá frequentou e a descoberta do handebol, coroada pela Copa Dan'Up. Sabemos também sobre sua entrada no Projeto Esporte Talento em 1995 e o aprofundamento de sua carreira no esporte, que a fez se dedicar 100% ao handebol. Depois, vemos sua saga para conciliar o esporte com trabalho e faculdade, juntamente com a volta ao PET, já como estagiária. Ruth também nos conta sobre sua entrada no SESC Catanduva e sua transferência para Campinas, como coordenadora de esportes Por fim, sabemos sobre a situação atual de sua família, seus sonhos para o futuro e como foi contar sua história.
20 Anos do Projeto Esporte Talento (PET)
E não é que dá caldo?
História de Ruth dos Santos
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 18/09/2015 por Lucas Torigoe
P/1 – Ruth, você fala pra gente o seu nome inteiro, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Ruth dos Santos, eu nasci em São Paulo, capital, São Paulo.
P/1 – Em que ano que você nasceu?
R – Vinte e oito de fevereiro de 81.
P/1 – Tá. E o seu pai, qual que é o nome dele?
R – Meu pai se chama Daniel dos Santos e minha mãe, Maria de Fátima dos Santos.
P/1 – O seu pai nasceu onde?
R – Eu tive pouco contato com o meu pai, né, quando eu nasci, a gente morou juntos ainda por dois anos e depois, eu nunca mais tive contato com ele, mas ele também é de São Paulo.
P/1 – Entendi. E a sua mãe nasceu…?
R – Minha me nasceu em Minas Gerais, Pirapetinga, uma cidade do interior de Minas e com nove anos de idade, ela veio para São Paulo.
P/1 – Tá. A família da sua mãe é de Minas, toda, então?
R – Por parte de mãe é toda de Minas Gerais.
P/1 – Você tem contato com eles?
R – Pouquíssimo contato com os meus tios, alguns tios e primos que são de Minas, né? Mas já faz anos que a gente não se vê, que a gente não se fala.
P/1 – E a sua mãe, por quê que ela veio para São Paulo?
R – Na verdade, os meus avós vieram para São Paulo para tentar uma vida melhor aqui e aí, desde então, nunca mais saíram.
P/1 – Entendi. E você sabe como que a sua mãe conheceu seu pai, lá?
R – Minha mãe conheceu o meu pai aqui em São Paulo, na época, era colégio, então no colegial, eles se conheceram. Meu pai, quando ele era mais novo, a mãe dele ficou doente e aí, ela acabou falecendo, o pai cuidou durante um tempo, o pai acabou falecendo, aí ele ficou pela guarda da tia dele, na época, e aí, teve um momento que acho que ela não tinha mais condições de cuidar e mandou para o orfanato. Então, ele praticamente cresceu no orfanato e aí, com 17, 18 anos, ele conheceu minha mãe no colégio e aí, foi quando eles começaram a namorar.
P/1 – Entendi. E nessa época que eles se conheceram, o quê que o seu pai e o quê que a sua mãe faziam?
R – Minha mãe, na época, estudava, trabalhava em casa de família, né, e o meu pai fazia algumas oficinas manuais e aí, com 18 anos que ele saiu do orfanato, que na época, até então, era até 18 anos, ele saiu e ele continuou trabalhando numa mecânica.
P/1 – E eles se casaram…
R – Aí, eles se casaram e foram morar no Butantã, próximo ao João XXIII.
P/1 – E você nasceu… você tem irmãos?
R – Eu tenho três irmãs. Na época em que eu nasci, eu já tinha uma irmã mais velha, a Ana Paula, tem dois anos de diferença e aí, foi quando eles se separaram, porque o meu pai era alcoólatra e aí, ficou insustentável durante um tempo para a minha mãe, aí ela acabou se separando dele.
P/1 – E aí, vocês foram morar onde depois da separação?
R – Aí, a gente foi morar na casa de uma amiga dela, na verdade, o meu pai batia na minha mãe, então foi por isso que ela saiu de casam, não foi nem uma separação legalizada. E aí, ela foi morar na casa de uma amiga com medo de que ele fosse atrás dela, a gente ficou, acho que uns oito meses na casa dessa amiga, meio que escondido e aí, depois, ela veio morar na casa de uma outra amiga aqui, porque a minha mãe trabalhava no Instituto Butantan já nessa época, né? Aí, ela veio morar na casa de uma amiga aqui e a gente ficou mais uns dois meses, até que a gente foi morar na casa da minha avó, um lugar mais tranquilo, mais seguro.
P/1 – E você se lembra dessa época em que vocês ficaram se mudando, ou era muito pequena?
R – Eu era pequena, eu tinha acho que uns quatro anos, quatro ou cinco anos nessa época. Eu lembro de pouquíssimas coisas, né, mas eu lembro desse medo constante que a gente tinha, eu e minha irmã, pelo menos, de encontrar com o meu pai na rua. A gente… ele nunca agrediu nem a mim, nem a minha irmã, né, mas tínhamos medo de encontrar com ele na rua e de repente, se quisesse levar a gente embora e não poder ver minha mãe mais. Então, eu lembro só dessa sensação de medo o tempo todo, assim, durante esse período, e aí, que passou quando a gente foi morar na casa da minha avó, porque aí, tinham os meus tio também na época, minhas tias e que de certa forma, suavizaram um pouquinho aquela dor, o medo que a gente tinha constantemente.
P/1 – E a sua avó mora onde?
R – Minha avó faleceu faz três anos. Ela morava também no João XXIII.
P/1 – Entendi. E é perto daqui do PET, como é que você chega?
R – É aqui no quilometro 18 da Raposo, então às vezes, eu vinha a pé, às vezes, quando eu vinha para o CEPEUSP, às vezes, eu vinha a pé, de bicicleta, de ônibus. Então é muito perto.
P/1 – Entendi. E na casa da sua avó, você ficou quanto tempo lá?
R – E aí depois, a gente passou a morar de fato com a minha avó, né, até que ela falecesse. Hoje, a minha mãe, ainda tá lá com algumas tias, né, hoje, eu já tenho sobrinhas, então as minhas sobrinhas moram junto. Então, ela não quis mais sair de lá.
P/1 – E quando você chegou, quem que tava lá?
R – Quando eu cheguei, era a minha avó, eu tinha dois tios que eram adolescentes, eram jovens na época, né, tinham 19 anos, 18, 19 anos e tinham algumas tias também que moravam todos juntos, porque meu avô faleceu também quando eu nasci, meu avô tinha acabado de enfartar. Então, também não conheci meu avô e aí, todos os meus tios moravam com a minha avó, minha avó teve sete filhos, então, moravam todos juntos com ela. Um tio meu era casado e morava em Cotia e minha mãe era… tinha acabado de casar também e morava muito próximo da minha avó. E aí, ela se mudou para uma casa, né, um pouco mais distante, então a gente via a minha avó muito de vez em quando e aí, a gente passou a ter um contato maior mesmo com ela quando a minha mãe resolveu sair de casa.
P/1 – Como é que era a casa dela?
R – A casa da minha mãe era um quarto e uma cozinha e um banheiro, um cômodo, né, com um banheiro e cozinha. Uma casa bem simples.
P/1 – E a casa da sua avó com todos?
R – A casa da minha avó era uma casa que tinham dois quartos, sala, cozinha, banheiro e tinha um quintalzão enorme!
P/1 – Vocês brincavam lá?
R – Quando eu morava com o meu pai, não, porque ele não deixava a gente sair de casa e aí depois que a minha mãe saiu de casa, né, a gente brincava. Aí, brincava no quintal, brincava na rua também, então tinham várias crianças que moravam na rua nessa época e a gente podia brincar com eles. Então, a minha mãe chegava do serviço quase todos os dias e ia brincar um pouquinho com a gente na rua.
P/1 – Isso na casa da sua avó, né?
R – Isso na casa da minha avó.
P/1 – Entendi. E como é que era a rua e o bairro, na época?
R – O bairro? Ainda são, né, várias casinhas, uma do lado da outra, e a rua… não é uma rua sem saída, mas é uma rua com pouco movimento de carros, então jogava bola o dia inteiro, tinha uma casa… tinha um terreno baldio, na verdade, que hoje construíram uma casa, mas tinha um terreno enorme e que a gente brincava de esconde-esconde ali, às vezes, à noite, a gente assava batata lá, no dia seguinte, todo mundo ficava com dor de barriga, mas a gente sempre, quase toda sexta-feira à noite, a gente ia para lá. Então, a gente brincava bastante na rua, né, e era tranquilo, ficava até mais ou menos seis e meia, sete horas, começava a escurecer, aí todo mundo entrava para dentro de casa, mas isso era todo dia, chegava da escola, ia brincar na rua e aí, depois, entrava para dentro de casa.
P/1 – Sei, fica à tarde inteira fora.
R – Ficava à tarde inteira fora.
P/1 – E você se lembra de alguma história dessa época lá que aconteceu na sua rua ou você falou esse negócio de cozinhar batata, por exemplo, mais alguma coisa?
R – Eu tenho uma vizinha, hoje eu acho que ela não encana tanto com as crianças, mas na época, ela brigava muito com a gente porque a gente jogava bola na rua e a bola ou caía no quintal da casa dela ou ficava batendo no portão e ela se incomodava com isso e ela não deixava os filhos dela brincarem na rua. E aí, teve uma vez que a bola caiu na casa dela e a gente tava com medo de pedir para pegar a bola e agente ia pular o muro pra pegar a bola escondido e aí, ela viu, aí ele pegou bola e furou a bola com uma faca na nossa frente e jogou a bola assim: “Vocês querem a bola de vocês? Então toma a bola de vocês”. E aí, depois disso, durante um tempo, pelo menos, quase todos os dias, a gente continuou a brincar na rua, né, e a gente apertava a campainha da casa dela e saía correndo, meio pra provocar. E aí, teve um dia por conta de uma briga, assim, a gente brincando mesmo, a gente tava discutindo: “Foi gol, não foi, foi ponto, não foi ponto”, aí lá acabou chamando a policia, aí ficou um tumulto e aí, a gente ficou um tempinho assim, sem brincar na rua.
P/1 – E você tinha quantos anos quando isso…?
R – Nessa época, eu tinha uns nove, dez anos.
P/1 – E você jogava junto com os meninos, também?
R – Jogava com os meninos e meninas, era uma molecada, né, e aí, todo mundo brincava junto de pega-pega, esconde-esconde, carrinho de rolimã, soltava pipa, jogava pião, jogava queimada, brincava de corda, todo mundo brincava junto.
P/1 – Sei. E essa coisa de cozinhar batatas, como é que vocês faziam?
R – Então, era muito frio… geralmente, era na época do frio, nas noites de frio a gente fazia isso, cada um pegava uma batata na sua casa e aí, a gente só jogava um salzinho assim na casca dela, embrulhava com papel alumínio e espetava em uma madeira e colocava… acendia a fogueira e colocava na fogueira para assar, né, aí mal cozinhava, não acontecia… mal assava aquilo e a gente tirava e comia quase crua, mesmo. E aí, geralmente, um ficava com dor de barriga.
P/1 – Depois?
R – Depois.
P/1 – E você explicava para a sua mãe, isso aí?
R – Não, a gente acabava não falando que a gente ficava com medo de apanhar, né? (risos) Que eles falavam que não era para fazer isso, mas a gente fazia, mesmo assim, a gente fazia.
P/1 – E quando vocês estavam assando, vocês conversavam?
R – Conversava, conversava, dava risada, ficava zoando um com a cara do outro e aí, tinham umas meninas que inventavam de contar histórias de terror enquanto a gente assava batata. Eu sempre fui muito medrosa, assim, de histórias de terror e nesse momento, eu saía, falava: “Se é para contar história, então não vou ficar”, e aí, eu saía, não ficava.
P/1 – E a sua mãe, como é que ela criou você? Ela era muito brava?
R – Não, a minha mãe é uma pessoa muito doce. é uma pessoa sensacional, assim. Então, ela sempre deixou a gente à vontade para fazer escolhas, desde de que essas escolhas não interferissem na vida de ninguém, né? Então, ela entendia quando… ela confiava muito na gente, né, então: “Olha, se você tá falando que você não fez isso, eu vou acreditar em você”, e isso fazia com que a gente não mentisse para ela, porque a única pessoa que tá ali, que tá falando para você que confia em você, então tudo que a gente às vezes aprontava na rua, aprontava na escola, a gente contava para a minha mãe, né, porque ela tinha que ser a primeira pessoa a saber da verdade e isso até hoje, né?
P/1 – E como é que era com a sua irmã na época? Vocês saiam juntas, faziam as coisas juntas, ou não?
R – Do pessoal que eu andava, eu sempre fui a mais nova, né, as meninas eram mais ou menos da mesma idade que a minha irmã. Então, até os quinze anos, a gente brigava bastante, porque a minha irmã com 15 anos, não queria andar com um pirralha de 13 anos e a gente brigava bastante. Ela não tinha paciência, não queria brincar comigo, já tava namorando e eu queria jogar bola. E aí depois disso, acabou passando, porque aí eu fui fazer outras coisas e aí, fui jogar, né, e aí não tinha mais aquele tempo de convívio e aí depois de um tempinho, que a gente começou a retomar esse convívio de querer sair, de querer sair com ela, mas foi muito rápido, também. Eu acho que quando eu já tinha meus 15 anos, eu já fui sair de fato com a minha irmã, ela já tava com 17, agora, você pode, inclusive entrar em alguns lugares, matinê que tinha na época, e aí, eu ia, mas como eu não gostava muito de balada, eu ia pouco. Gostava mesmo de jogar bola, então sai super pouco.
P/1 – Entendi. Queria voltar um pouco. A gente vai voltar para essa época de matinê, que você falou e tal, mas qual foi a primeira escola que você entrou?
R – Eu estudei numa escola aqui no Butantã, mesmo, Alberto Torres, né, na infância, eu estudava na Nossa Senhora dos Pobres, que fica aqui no Instituto Butantan, que como a minha mãe trabalhava lá, era mais perto para ela deixar a gente. E aí, eu estudei no Alberto Torres, foi a primeira escola e aí, depois que a gente foi morar com a minha avó, eu passei a estudar no Guiomar, Guiomar Rocha Rinaldi, que fica lá no bairro, onde o pessoal mora até hoje.
P/1 – Você entrou em que série, lá?
R – Na Guiomar? Eu acho que estava na terceira série, na época.
P/1 – E o quê que você levou de lá?
R – Dessa escola?
P/1 – É, como é que ela era? Os professores?
R – Era uma escola muito grande, né, eu lembro que a professora que eu estudava, a Ivani. Era uma professora muito legal, era toda carinhosa. Então, eu estudei com ela desde que eu fui para a escola até a quarta série, quando eu passei para a quinta série, eram vários professores, né, e eu fiquei muito triste, eu lembro que eu chorei bastante quando eu soube que não seria mais ela que daria aula e ela veio, conversou comigo, me acalmou. E na quinta série, era uma escola que incentivava bastante o esporte, né, então tinha a professora de Educação Física, a Luciana, que a gente fazia aula com ela, mas tinha as escolinhas de esporte, então tinha handebol, tinha o vôlei, tinha basquete, e aí, eu tentei jogar vôlei um tempo e não conseguia porque eram as meninas mais velhas que jogavam e não deixavam as menorzinhas jogar. Então, eu fui tentar treinar um dia e aí, elas não deixaram e eu desencanei. E aí, eu fui jogar handebol e aí desde então, joguei durante um bom, tempo, mas comecei na escola, primeiro, na Educação Física e depois, nessas turmas de iniciação que tinham na época.
P/1 – A partir da quinta série, então?
R – A partir da quinta série, então a partir dos 11 anos, eu comecei a jogar, mesmo. Disputava, na época, tinha Copa Dan’Up. Disputei a Copa Dan’Up, daí tinham os jogos estudantis, a gente ia jogar, na época, jogava no Pacaembu. Então, ia para vários joguinhos.
P/1 – Sei e como é que começou isso, essa mudança de uma brincadeira para um esporte, assim?
R – Eu sempre gostei muito de jogar bola, né, e jogava na rua ali com a molecada, mas quando na escola, teve a oportunidade de entender um pouquinho melhor do esporte, eu falei: “Ah, ao invés de jogar na rua, eu vou jogar aqui” e aí, foi quando eu comecei a treinar na escola e a gente ia para jogos, então eu saía, já, conhecia outros lugares, ia jogar com outras pessoas. E aí, eu comecei a me interessar um pouquinho mais.
P/1 – E tinha um time de handebol feminino naquela época?
R – Na escola tinha uma equipe e aí, a gente ia disputar alguns campeonatos.
P/1 – E para onde é que vocês iam nesses campeonatos?
R – Teve um ano que a gente participou na Copa Dan’Up, né, como eu disse e era legal porque alguns jogos aconteciam no Ibirapuera, então eu lembro que o meu primeiro jogo, eu cheguei assim, aquele ginásio cheio de escolas, porque era uma em sequência da outra, né, um jogo em sequência do outro e tinham várias crianças, isso na abertura, né? E aí, teria o primeiro jogo, a gente jogou, acho que o segundo ou terceiro jogo e aí, eles davam para o atleta no final do jogo, uma camiseta: “Fera do handebol”, que era o destaque daquela partida. Eu lembro que eu ganhei a camiseta, né, aí eu falei: “Agora, eu vou treinar um pouquinho mais, né?”, e aí a gente ia jogar no Pacaembu, jogos estudantis, as vezes, tinham alguns jogos na própria escola e a gente jogava, e aí, no dia em que tinha jogo nosso, a professora ou a diretora liberava turma da sala, para todo mundo ver o jogo e torcer, então era bem legal.
P/1 – Ah legal! E você começou a ter um destaque assim, na sala por causa disso?
R – É, e aí, na verdade, como a gente treinava, então a equipe inteira, quem fazia parte da equipe, de uma certa forma era conhecido dentro da escola, então tinham algumas regalias, a gente falava. Podia às vezes, chegar um pouquinho atrasado por causa do jogo, ou sair mais cedo, porque teria que treinar ou faltar algum dia, em algum momento porque tinha jogo, então isso a gente podia fazer só porque treinava.
P/1 – E como é que funciona, para quem não conhece muito o handebol e como é que foi descobrir essas regras, então?
R – Eu comecei a descobrir, mesmo, as regras do handebol quando… porque o jogo na escola, ele se desenvolve um pouco diferente no dia a dia quando você vai para um clube, né, então alguns professores… pelo menos, na época, a professora, ela não se atentava tanto para a questão tática, então imagina, são sete pessoas na quadra, seis na linha e uma no gol e a bola estava aqui, todo mundo corria atrás da bola. E aí, ela tentava organizar, né, então formação de ataque, formação de defesa, passa a bola um na mão de um para poder arremessar, só que essa sequência, ela não acontecia sempre. Então, era um que pegava a bola e tentava resolver a situação sozinha. Era muito raro o momento em que você fazia a bola passar por todo mundo, não tinha engajamento, então não se falava em engajamento, era pega a bola, finta e vai para o ataque. Pega a bola, finta e vai para o arremesso. Então, cada um que pegava a bola fazia um pouco disso, né, pegava a bola, tentava fintar e tentava arremessar. Quando não dava, passava a bola para o colega que tava do lado, e na defesa, conseguia posicionar a defesa, mas era muito mais defesa individual, né, então não tinham posições, não tinha armador central, pivô, não, era todo mundo ali em cima, tentando fintar e tentando arremessar e na defesa, cada um ficava com o seu, então era individual. Então, era um monte de criança, são 12 pessoas correndo ali, uma com a bola e as outras correndo, tentando pegar a bola. Então, era meio desorganizado. E aí, quando a gente foi fazer o treinamento mesmo da escola, aí ela já posicionava: “Então, tem o central, tem o lateral direito e esquerdo, tem ponta, tem pivô”, mas não tinha tática, era tentar engajar, fintar para poder arremessar.
P/1 – Entendi. E você ficou nesse time, nessa escola até quando?
R – Eu fiquei até mais ou menos, uns 13, 14 anos, que foi quando eu tomei conhecimento que o Instituto Ayrton Senna ia ter o Projeto Esporte e Talento e o handebol, eles estavam fazendo peneira, na época.
P/1 – Em que ano, mais ou menos?
R – Eu acho que foi finalzinho de 94 para 95, se eu não me engano. E aí, a professora falou: “Olha, faz a peneira, tenta”.
P/1 – Ela que te falou, então?
R – Isso, ela que indicou, porque eu nem sabia, né? Ela falou: “Tenta fazer a peneira, faz a peneira e vamos ver no que dá”. E aí, eu vim fazer a peneira, era no módulo nesse dia e eu lembro que era o Kadu, o Kadu e Katia, que depois deram treino pra gente durante um bom tempo que estavam fazendo o treino e tinha a Dani, também, na época. E eles que estavam fazendo a peneira no dia e aí, depois de um tempo, eu não lembro quanto tempo foi, mas depois de um tempo foi que a gente… que eu recebi a noticia que tinha passado e que iam começar as atividades.
P/1 – Como é que foi a peneira? O quê que você teve que fazer?
R – Tinha umas atividades de drible, tinha que acertar, eles colocaram, na parede do módulo, alguns números e você tinha que arremessar e eles iam colocando, fazendo algumas anotações, onde você arremessava, eu acho, qual era a numeração, se arremessava mais no centro, se era mais nas laterais, nos cantos superiores ou inferiores. Eu acho que teve um joguinho, depois, né, então trabalharam com vários fundamentos do handebol nesse dia, então o arremesso, o drible, passe, recepção, eram vários exercícios que a gente fazia e acho que depois, teve um coletivinho, assim, no final.
P/1 – E foi muita gente no dia?
R – Olha, tinha bastante criança na época. Talvez, acho que na minha turma, não sei, devia ter aproximadamente, umas 50 pessoas, eu acho.
P/1 – E passou muita gente?
R – Depois, eu lembro de algumas caras que voltaram, que como era período da manhã e da tarde, eu não sei se na minha turma também, alguns que passaram foram para o período da manhã, a gente tinha pouco contato com o pessoal da manhã, porque o pessoal no período da manhã eram as pessoas mais novas e ai, a gente não tinha tanto contato, porque já tinha lá seus 15 anos e então, de manhã era uma galerinha mais nova e aí a gente se achava os adolescentes, então não… não tem tanto contato com as crianças.
P/1 – Não queriam se misturar?
R – É.
P/1 – E como é que era dividido o PET na época?
R – Tinham as modalidades, então tinha o handebol, que era feminino e masculino, tinha o basquete que era só feminino, tinha o futebol que era o futebol de campo, né, que era feminino e masculino e tinha canoagem na época, que também tinham meninos e meninas. A gente tinha pouco contato com a canoagem, porque eles treinavam aqui na raia olímpica, então eram poucos os momentos em que a gente se encontrava. A gente tinha mais contato, mesmo, com pessoal do futebol, até mesmo basquete, a gente não tinha muito contato, porque como eram só meninas, então, não interagia tanto, na época. Os meninos do handebol, sim, conversavam mais com as meninas do que a gente, a gente conversava mais com o pessoal do futebol, com os meninos e com as meninas do futebol.
P/1 – Por que você acha?
R – Acho que por questão de afinidade, mesmo. E aí, na época, os treinos, às vezes, a gente fazia atividades separadas, né, meninos e meninas e às vezes, fazia atividades juntos, mistos.
P/1 – E o pessoal, quando você entrou aqui, você achou que eles eram muito diferentes, ou iguais que você ou não sei, da onde eles vinham?
R – Tinha um pessoal que vinha de tudo quanto era bairro, umas meninas e uns meninos que vinham de Taboão da Serra, Campo Limpo, tinha um pessoal de Osasco, tinham algumas meninas que eram de Diadema, Jabaquara, mas era tudo quase da mesma faixa etária e tinha um pessoal do Bonfiglioli, do Rio Pequeno, mas era uma galerinha que se identificava, sabe, não tinha essa questão social era muito próximo, acho que um ou outro que destoava um pouco, tinha talvez, um poder aquisitivo um pouquinho maior, mas que se identificavam com o grupo e conseguia… a gente conseguia se resolver e se entender ali. Então, ficava uma coisa bem equilibrada. Acho que o Kadu, a Katia e a Dani conseguiam também fazer com que essas coisas não destoassem tanto, não tivessem uma discrepância tão grande no grupo.
P/1 – E aí, você fez amigas, amigos quando você chegou?
R – Sim, sim, sim. A gente brincava que o handebol era como se fosse uma família, mesmo, todo mundo… a gente tinha brigas em alguns momentos, mas por conta de jogo, mesmo, quando jogava ou meninos contra as meninas e a gente queria ganhar deles e só perdia e quando conseguia ganhar, virava uma festa. Então, nesses momentos, criava um pouco de rusgo, um provocava o outro. Mas também era uma provocação saudável, não era uma coisa desrespeitosa, mas a gente conversava muito. Então, nos finais de semana quando não tinha treino, geralmente, a gente ia ver jogos, ou no Pinheiros, ou no Hebraica e se encontrava, passávamos uma tarde inteira juntos, então, às vezes, tinha festa na casa de alguém, a gente ia, então era um grupo bem gostoso. Todo mundo acolhia, chegavam pessoas novas, a gente tentava, minimamente, acolher. Às vezes, criava birra com alguém, mas Kadu junto com a equipe, tentavam fazer essa mediação.
P/1 – E o que mais vocês faziam para se divertir dentro e fora do PET, nessa época?
R – Então, aqui, quando dava tempo de chegar antes, porque tinha um momento em que a gente tinha um vale refeição, né, ou para almoçar ou para jantar depois da atividade e nesse momento, tentava ir todo mundo junto. Então, a gente terminava o treino, corria para tomar banho, tomava banho, se encontrava, todo mundo ia bandejar juntos. Aí depois, todo mundo ia para o ponto para ir embora. Então, era um ponto ali da Vital Brasil, que cada um pegava o seu ônibus para ir para casa, mas ia todo mundo junto. E aí, teve um tempo que a gente começou a saber que no Pinheiros e no Hebraica tinham jogos direto e aí, a gente ia também, ou ia durante a semana, quando dava, ou combinava no final de semana e aí, ia para assistir os jogos de handebol. O Kadu jogava no Pinheiros, nessa época, né, então a gente ia ou para ver os jogos dele, ou para ver os jogos das outras equipes, eram equipes todas masculinas, mas a gente ia para ver os jogos, então, do Pinheiros, do próprio Hebraica, Hebraica não, porque não tinha equipe masculina nessa época, mas São Caetano, da Metodista. Alguns desses atletas eram atletas da seleção brasileira, então a gente ia para ver, para: “Conheço fulano, vi fulano”, tal, era bem legal.
P/1 – E teve algum caso, algum namoro nessa época que você se relacionou?
R – Não era namoro, mas aquela coisa de ficar, né, tava naquele momento de ficar, então fiquei com alguns meninos do handebol, do futebol, mas a gente não queria nada sério na época, a gente queria saber de jogar bola, ficava de fato, quase o dia inteiro, se pudesse, treinando, jogando, então não tinha multa cabeça para… eu também sempre fui muito desencanada para relacionamento, então tanto é que eu fui namorar sério mesmo já muito mais velha e queria, ali, bitolada no handebol e uma coisa que também minha mãe não deixava era não estudar, então tava sempre fazendo alguma coisa, tava jogando, ou fazendo outros cursos, fazendo algumas outras coisas. E aí, não tinha muita paciência, assim, muito tato para essa questão de relacionamento.
P/1 – Entendi, então você já queria mesmo ser jogadora de handebol?
R – Eu não queria virar jogadora, mas eu queria jogar e não sabia por quanto tempo, mas eu queria jogar. Joguei por 11 anos, mas queria jogar e a hora que eu também cansei de jogar, falei: “Agora, eu quero me dedicar a outras coisas”.
P/1 – Me conta como que era, então, o cotidiano do PET, você chegava que horas? O quê que vocês faziam no treino?
R – Eu, como estudava de manhã, tive que fazer transferência do horário da escola e tive que mudar de escola por conta disso. Então, o professor dessa outra escola era o Lourival que… a escola chamava Lourival e ele sabia que eu treinava aqui e ele me dispensava um pouquinho… os professor me dispensavam uns dez minutinhos antes pra eu poder vir treinar. Então, eu saía da escola, eu não vinha almoçar antes porque não dava tempo, eu trazia alguma coisa, ou quando dava tempo, eu passava no serviço da minha mãe, que é aqui do lado, né, Instituto Butantan para almoçar com ela, aí eu vinha treinar. Então, a gente chegava, se trocava, normalmente já tinha uma galerinha ali no módulo, sentado conversando ou batendo bola e aí, começava o treino. E aí, todo mundo focava, né, não ficava aquela coisa de brincadeira, de não deixar treinar. Todo mundo focava no treino, treinava acho que umas duas horas por dia, assim eu não me lembro e aí, depois terminava o treino, geralmente, tinha um coletivo, era o momento mais esperado, o momento do coletivo e a gente fazia o coletivo, depois descia para tomar banho ou tomava banho lá em cima mesmo, nos módulos lá em cima, nos vestiários de lá e aí, ia almoçar todo mundo a pé, no bandejão aqui do CRUSP, que era o mais perto. E depois, cada um ia para casa. Às vezes, tinha testes e aí, era o dia, acho que mais chato, porque tinha que ficar correndo, tinha que fazer vários abdominais, flexão, aí a gente não gostava (risos), era muito chato. A gente curtia mesmo jogar, se fosse o treino técnico, porque aí tinha o treino técnico, parte tática, tinha o jogo para tentar aplicar, isso era muito legal, mesmo que ficasse a maior parte do tempo em fila nessa dinâmica, mas dia de teste era horrível, porque você tinha que ficar dando volta aqui nessa… no campo do CEPEUSP e vários abdominais, era os piores dias, assim, pra gente e todo mundo reclamava, na verdade. Mas quando a gente tava fazendo, a gente queria levar a sério porque a ideia era que você viesse numa progressão, né, então você tinha sempre que ter um resultado melhor do que aquele resultado que você teve. Então, se você deu dez voltas, a gente queria dar 11, 12 voltas para melhorar o resultado. A gente reclamava, mas quando fazia, a gente não ficava dando “migué”, né, a gente falava: “Vamos tentar porque eu quero melhorar o resultado que eu tive”.
P/1 – E os professores, como é que era a relação com eles?
R – A gente curtia muito o Kadu, a Katia, conversava muito mais com a Katia, o Kadu era mais sério e de vez em quando, ele soltava umas brincadeiras, umas piadas, mas a Katia era mais mãezona. A Katia e a Dani. Aí, a Dani saiu, acho que por conta da faculdade, mesmo, ela teve que sair e aí, entrou a Magda, acho que foi essa sequencia, mais ou menos. Aí, entrou a Magda, a Magda ficou pouco tempo, também, acho que não ficou nem um ano com a gente. Aí, ela teve que sair, eu não lembro se ela saiu e entrou a Janaina ou se a Janaina meio que entrou na mesma época que ela. Aí depois, entrou a Janaina. E aí, ficou mais ou menos um período que depois, eu já sai, né, porque eu fiquei, eu acho que, dois anos como educanda, porque você podia ir até os 17 anos. E aí depois, eu sai e nesse momento, a gente já tava fazendo peneiras também em outros lugares, né, então ainda quando estava aqui, fui fazer uma peneira no Jean Piaget, que era um colégio em São Bernardo do Campo, aí joguei por lá durante um tempo, aí depois, fui fazer uma peneira na Metodista, aí joguei na Metodista durante um tempo e depois, fui jogar em outros lugares. Fiquei na Metodista acho que um ano, mais ou menos e aí, quando eu comecei, mesmo, a jogar profissional foi por outras cidades, aí não tava mais jogando por São Paulo. E aí, fui jogar em Campinas, joguei em Salto, joguei em alguns outros lugares.
P/1 – E você sai do PET, como é que foi sair daqui, na época?
R – A gente não queria se desvincular do PET, então, a gente saiu mas na época, acho que foi o Kadu, ou… não me lembro se foi o Kadu ou se foi a Katia que falou: ‘Olha, vocês podem voltar de vez em quando para treinar”, e a gente vinha de vez em quando para treinar, para ajudar, às vezes a gente tumultuava e quando a gente tumultuava, eles chamavam a atenção: “Olha, tem que vir para ajudar, para somar”, e a gente vinha de vez em quando, mas quando começou a tomar… porque quando eu sai, eu tava jogando no Piaget e lá, o treino era muito puxado, então, primeiro que a distancia já era muito grande, né, saía daqui de São Paulo para ir para São Bernardo do Campo e ficava perto da Avenida Rudge Ramos, então era muito longe, pegava vários ônibus para ir e vários para voltar, era bem cansativo, não treinava todos os dias, né, mas os dias que não treinava, ao invés de vir treinar, as vezes, preferia ficar em casa dormindo, descansando um pouco. E aí, o treino era muito puxado, então o Jorge, que era o técnico dessa equipe, ele pegava muito assim, às vezes, quando tinha… a gente viajou para o sul para jogar, para participar de alguns torneios e eu lembro que teve um dia que a gente ficou o final de semana inteiro no colégio, dormindo no colégio, né, treinando. Então, acordava de manhã, tomava um café da manhã, treinava e tinha uma pausa para o almoço, descansava um pouquinho e treino à tarde. Então foi assim, eu acho que durante uns dois, três dias direto. Então, era bem cansativo e aí, nesse momento, não fazia mais nada, né, estudava e treinava e aí depois que eu sai de lá, fui treinar na Metodista, que também era longe, sair daqui para ir lá perto do Baeta, o treino, às vezes, era no Baeta ou na faculdade Metodista, mesmo, onde a gente treinava e por conta dessa distancia, era estudar e jogar, estudar e jogar, não fazia muito outra coisa. E nessa época da metodista foi quando eu entrei na faculdade, né, e aí eu comecei a fazer estágio aqui no PET com o handebol na época, só que eu fazia de manhã, né? E aí, como eu estudava próximo a Alphaville, então eu fui morar com a minha tia nessa época, em Cotia, porque era mais perto e aí, eu acordava cedo, seis horas da manhã, vinha para o estágio, aí saía daqui, passava no serviço da minha mãe, almoçava rapidinho, ia para São Bernardo do Campo, treinava, saía de lá, rapidinho também e ia de trem para o Tamboré para ir para a faculdade. E aí, eu aguentei essa dinâmica, acho que uns cinco meses. Aí, eu falei para o Cubano, que dava treino para mim, lá na época, eu falei: “Olha, eu vou parar porque eu não tô dando conta”. E aí, eu sai da Metodista, parei de jogar, profissionalmente, e foi quando a Janaina, na época, ela havia dito pra mim que o Mackenzie ia dar bolsa de estudo para quem fizesse parte da atlética e quem jogasse. Aí o procedimento era o mesmo, né, tinha que fazer peneira, comprovar que não tinha condições de pagar a faculdade, na época, de fato, eu não tinha condições, e aí, fui fazer a peneira, na verdade, foi um jogo, não foi nem uma peneira, foi um jogo e aí, eu entrei jogando, era o jogo dos calouros e aí, eu joguei e nesse dia, o diretor da atlética veio falar comigo: “Então, você tem interesse?”, eu falei: “Super tenho interesse em ser bolsista”, e aí, três meses depois, eu paguei a faculdade por três meses, minha tia pagou, na verdade, que eu não tinha condições. Minha tia pagou a faculdade por três meses e foi quando eu consegui a bolsa e aí, eu jogava pela faculdade e tinha a bolsa de estudos.
P/1 – Mas você entrou em Educação Física?
R – Em Educação Física.
P/1 – Que ano foi isso, mais ou menos?
R – Dois mil, 2001, mais ou menos.
P/1 – Entendi. E como é que é o esporte universitário?
R – Olha, no começo, a gente jogava muito pela FUPE, né, pela Federação Universitária. Eu jogava lá perto da Rodoviária Tietê, tinha uma sede com várias quadras, campo e lembro que na faculdade, eu treinava sábado, eles treinavam durante a semana, mas como eles treinavam na Consolação, a gente não conseguia vir para cá para treinar. Então, eu estudava, no sábado, eu treinava na Consolação, junto com as meninas que eram da Pedago, que estudavam já no campus da Consolação e aí, domingo, quase todo domingo tinha jogo. Então, ia para o Tietê, para FUPE para jogar. Chegava lá por volta do meio-dia, para ver uns outros jogos anteriores e jogava e ficava o resto do dia lá, vendo os jogos. Então, todo final de semana, ou eu ia treinar, ou eu ia jogar. E aí, eu já não tinha mais finais de semana, né, então estava sempre com essa questão do handebol. Depois de um ano da faculdade, em um jogo em Santa Barbara, de handebol, né, handebeat, eu conheci a Jaqueline que era uma técnica da equipe de Campinas que ela disse: “Vai fazer um treino lá em Campinas”, eu falei: “Tá bom”, e aí, eu fui fazer um treino e ela: “na verdade, eu gostaria que você jogasse pela equipe”, aí expliquei para ela que eu morava em São Paulo, que eu estudava, que eu trabalhava, ela falou: “Olha, o final de semana que você puder, você vem, treina com a gente e joga”. E aí, eu treinava de manhã lá em Campinas, vinha para São Paulo, treinava aqui com a faculdade e no domingo, tinha jogo. E às vezes, domingo, eu jogava em Campinas também, ou durante a semana. Então aí, ficou muito mais corrido. E com a faculdade, a gente tinha alguns campeonatos que eram fora, mas aí, por ser da faculdade, todo mundo sabia e liberava e às vezes, por conta do trabalho, ficava um pouco mais difícil, mas compensava, dava para negociar e Campinas, a gente participava muito de regionais, jogos abertos, a liga do interior que eles chamam, tinham os jogos que eram também em finais de semana e eu tentava conciliar, às vezes, não jogava em Campinas, mas jamais deixava de jogar pela faculdade, que era por onde eu tinha bolsa de estudo.
P/1 – Era obrigatório?
R – Era obrigatório jogar. Então, ficou nessa, às vezes, eu jogava dois jogos num final de semana, quatro jogos, porque eu jogava dois no sábado e dois no domingo, então era bem cansativo, mas era um ritmo que eu gostava. E quando a técnica de Campinas propôs que eu fosse para lá, morar numa república com outras meninas, estudar por lá e trabalhar, eu falei: “não, não quero porque a minha vida está em São Paulo”, eu ainda estava estudando aqui, era bolsista, falei: ‘não vou trocar o certo por algo que eu não sei se de fato, é’. E aí, eu sai de Campinas e fui jogar em Salto, que era uma cidade perto também. Aí era mais tranquilo, porque não tinha a obrigatoriedade de treinar, a gente só precisava se concentrar uma semana antes dos regionais ou dos abertos. Então, era muito mais tranquilo. Aí, depois tudo isso foi cansando, assim, de ter que me responsabilizar, me comprometer a sair daqui, ir para outra cidade para jogar sem criar vínculos, aí foi quando eu decidi parar de jogar. E aí, fui só trabalhar mesmo. Aí comecei só trabalhar.
P/1 – Nessa época do Mackenzie, você trabalhava onde?
R – Trabalhei um período aqui no PET, né, primeiro com handebol, com o pessoal da manhã, com handebol e depois, fui convidada, quando parou essa divisão de grupos, de modalidades e passou a ser faixa etária, e aí, eu trabalhei com o Peteleco, com os menorzinhos, na época.
P/1 – Entendi. E você ficou quanto tempo como educadora aqui no PET?
R – Eu acredito que dois anos, mais ou menos. Aí eu sai daqui e fui fazer estágio no Alphaville Tênis Clube e aí lá, eu trabalhava com uma equipe de iniciação também, mas não de handebol, de iniciação esportiva.
P/1 – E como é que você viu, assim, essa volta do PET? O quê que você sentiu quando você voltou, assim?
R – Foi bem legal, primeiro, eu fui bem recebida, na época, a Fátima, que era professora do handebol da manhã, foi com quem eu trabalhei durante um tempo, e ela me acolheu bastante assim, ia me dando uns toques, porque uma coisa é você ser atleta, você tem um conhecimento de atleta e aí, quando você vai para a faculdade, quando você vai estudar um pouquinho mais, se aprofundar naquilo, é um outro olhar diferente, então ela ia dando toques, vários toques para mim, tal e aí, depois que eu fui convidada para trabalhar no Peteleco, era uma outra questão totalmente diferente, que eram várias modalidades esportivas que a gente apresentava para as crianças e com outro olhar, né, porque você vai falar do desenvolvimento da criança, acho que na época, a molecada devia ter seis anos, seis, sete anos, eram muito novos e o handebol, eles já eram um pouco mais velhos, né, tinham seus 11, 12, 13 anos, então era um pouco diferente, inclusive, o jeito de se trabalhar. Então foi um desafio para mim muito grande trabalhar no Peteleco, mas a Paula e a Juliana estavam sempre ali presentes, dando toques e tinham os encontros de formação que ela fazia com a gente, comigo e com o André que era o estagiário também do peteleco, dando vários toques para a gente, trazendo um pouco de referência, de estudo, aproveitando inclusive esse momento em que eu estava estudando, né, para dar esse tom de como trabalhar com crianças. Então, na verdade, foi o próprio projeto que ensinou a trabalhar com o esporte, porque a faculdade, de uma certa forma, ela não te dá muito isso, né? Ela vem muito numa teoria, e a prática é no dia a dia, de você conseguir trabalhar e enxergar de que forma você aplica aquele conteúdo. Então, ter feito parte aqui do… trabalhando com esporte aqui fez com que por mais que eu fosse trabalhar com treinamento em algum momento, não fosse aquela coisa tão maçante, né, do treinamento, somente. Você trabalhava outras coisas além da ideia de ensinar o esporte, que foi o que a gente… que foi essa trajetória de ter feito parte do projeto. Por mais que a gente trabalhasse com… eu fazia parte do handebol, não era só o handebol, se falava, não deixava de trabalhar o handebol em nenhum momento, mas vários outros valores e conteúdos eram inseridos no trabalho do handebol que fazia com que a gente não viesse só para cá com essa ideia de que quero ser uma atleta de seleção, tanto é que daqui, acho que pouquíssimos tinham esse interesse, em fazer parte da seleção. Rinha acho que mais por aquela coisa do estimulo, a gente tava muito perto, ali, de vários atletas que eram da seleção, quando ia ver jogos, então isso estava muito próximo, mas a gente tinha vários outros interesses por conta acho que disso, o Kadu sempre estimulava, também, o fato de estudar, a Katia a mesma coisa, então: "O esporte já tá dando certo, mas se você não quiser virar um atleta e aqui não tem essa obrigatoriedade, você pode fazer várias outras coisas na sua vida com tudo isso que você tá tendo de oportunidade aqui”. E acho que foi o que cada um fez, né, eu tenho poucos contatos com alguns ainda daquela época, mas os que eu tenho contato, cada um foi fazer uma coisa diferente, tem gente que tá formada em Educação Física, tá trabalhando com handebol, ainda, mas trabalha com outras coisas, teve gente que já foi para outras áreas. Tem uma colega nossa que hoje é policial, então assim, foram fazer várias outras coisas e todo mundo deu certo, de certa forma assim, todo mundo acabou fazendo as suas escolhas e correndo um pouco atrás daquilo que acredita, né?
P/1 – E por quê que você acha que teve essa mudança no modo de trabalhar de quando você era educanda e quando você era educadora? O quê que mudou?
R – Olha, eu acho que quando você é educanda, você não tem muita preocupação… a gente não tinha muita preocupação, então a única preocupação que a gente tinha era de vir aqui treinar e também se não quisesse vir treinar, tumultuava o dia inteiro, logico que seria chamada a atenção, mas a gente não tinha nenhuma responsabilidade, tinha assim, um pouco de responsabilidade coletiva de respeitar, você tá vindo aqui, fulano também tá vindo treinar, então respeita, se você não quer treinar, ok, fica sentado num canto, observa, tenta ajudar, mas não atrapalha o seu colega. Isso é uma coisa. Então isso, essa escolha não interferia tanto na escolha do outro, a não ser que você entrasse, de fato, na quadra para tumultuar um jogo, mas não interferia tanto a sua escolha de não vir, talvez. Isso enquanto educanda, mas enquanto educador, essa postura não dá, né, esse descomprometimento porque você tá falando diretamente no desenvolvimento de alguém, então a sua conduta, a forma como você vai trabalhar, como você vai abordar, como você vai falar, como você vai explicar uma atividade, tudo isso implica diretamente no exemplo que você tá passando para o outro, que era um pouco do que o Kadu, a Katia faziam isso com a gente, então eles eram as referencias pra gente ali. E aí, quando você vem para cá nessa postura de educadora, a ideia é seguir um pouco isso, né, você ser referência para alguém, uma referência positiva, na verdade para aquelas crianças que estavam ali ouvindo aquilo que você tinha para falar.
P/1 – Mas digo no projeto, o projeto em si mudou, você acha de quando você saiu e voltou?
R – Teve essa mudança, né, essa quebra de… trabalhava-se a modalidade esportiva e aí, depois, teve essa mudança de trabalhar com faixas etárias ao invés de trabalhar uma única modalidade, explorar várias outras. No inicio, eu estranhei um pouquinho, né: ‘poxa, eu sei o handebol, não entendo do futebol, não entendo de outras modalidades’, e o Peteleco tinha esse trabalho, de trabalhar com várias outras modalidades esportivas. Mas aí, foi nesse momento em que a Paula e que a Ju: “Calma, né, você não precisa mostrar a modalidade propriamente, dita, porque eles estão no inicio do processo de desenvolvimento e a ideia é a gente trazer vários jogos para eles esportivos, ou brincadeiras que vão trabalhar os gestos motores”, e aí, são brincadeiras que eu brincava na rua, então, a própria queimada, às vezes, o futebol, que a gente joga o futebol na rua, jogos que envolviam o arremesso, o ter que passar, ter que receber, tudo isso já estava no universo de algumas brincadeiras, então foi muito mais fácil entender a proposta e conseguir contribuir com a equipe.
P/1 – Mas o objetivo era diferente, você acha, nessa mudança?
R – O objetivo… a essência do projeto era a mesma, né, era trabalhar os valores através do esporte, a metodologia, talvez, a estratégia era diferente, então ao invés de você trabalhar somente com handebol, você trabalha com handebol, com vôlei, com basquete, com a natação, trambalhava com várias… com o futebol, trabalhava com várias modalidades esportivas e o Peteleco tinha, trabalhava vários: tênis, então eu aprendo algumas coisas do tênis por conta disso, também. Algumas modalidades… umas artes marciais, então eles tinham aula de judô, tinham aula de natação, eles usavam a piscina, então eram vários… era de uma forma muito de brincadeira, através da ludicidade, mesmo, que a gente mostrava várias modalidades e eles conseguiram vivenciar várias coisas, que na minha época, não porque eram modalidades mais pré-determinadas, né, era o handebol, ou você tinha a possibilidade de fazer o basquete, ou a canoagem, ou o futebol, então era isso, a gente não explorava muito além disso, a não ser através de um aquecimento: “Vamos jogar um futebol hoje no aquecimento?”, isso sim, mas se talvez o Kadu viesse com uma proposta: “Olha, hoje a gente não vai jogar handebol, a gente vai jogar futebol”, talvez, a gente reclamasse, com certeza, reclamaria, né? E para o Peteleco, não, na verdade, não só para o Peteleco, todos os outros grupos etários que vieram com essa nova mudança tinham o mesmo trabalho de você, de fato, trabalhar várias modalidades esportivas. A única diferença era que come cava de uma forma muito lúdica até mostrar o jogo, propriamente, dito. Mas eles conseguiam passar por várias modalidades, seja o grupo mais avançado que se tinha, passava por tudo.
P/1 – E além disso, teve o acompanhamento de outras áreas, dos professores?
R – E aí, nessa época em que teve a mudança dos grupos etários, um pouco no finalzinho que eu estava ainda no handebol, foi quando o Zé… na verdade, entrou antes do Zé, se eu não me engano, era Mauro o nome dele, que era um psicólogo e quase ninguém queria conversar com ele, porque tinha uma visão bem distorcida assim: “O quê que o psicólogo tá fazendo aqui?”, e aí ia conversar e geralmente, quem conversava com ele eram os educandos que mais davam problemas ou tinham alguns problemas, a gente falava: “não, não quero conversar com o psicólogo”, então a gente não tinha tanta proximidade com ele, mas era um cara bacana, assim. A gente conversava de uma maneira muito mais informal, mas acho que se algum momento chamasse para conversar num canto, a gente: “Ih, alguma coisa aconteceu”. E talvez, pela abordagem que se tinha, não sei. E aí, depois entrou o Zé para trabalhar e era uma coisa mais de… era muito mais tranquilo com o Zé, sabe, a gente ria, brincava bastante com o Zé, enchia bastante o saco do Zé. Era diferente. Acho que talvez, porque ele usou um pouco do esporte para tentar se aproximar, então ele jogava, aí a galera curtia e o desafio maior era tentar: “Então, vamos jogar, Zé, vamos fazer um desafio”, e através disso, ele foi cativando e a gente conversava e às vezes, ele ia puxando algumas coisas, e sem perceber, a gente ia falando e ele ia dando uns toques e tal. E quando virou o grupo etário, isso já estava mais presente nos grupos, todo o acompanhamento de outras áreas, né, nas atividades, eu só não me recordo quais eram todas as áreas que tinham, mas tinham já alunos estagiários de várias outras áreas, que não somente da área de esportes. Então tinha uma galera de psicologia, se eu não me engano, durante um tempo, teve um acompanhamento também de nutricionista, mas acho que não era em todos os grupos, mas enfim, aí virou um trabalho um pouco maior com várias outras disciplinas envolvidas, várias outras formações envolvidas.
P/1 – E deixa eu te fazer uma pergunta que a gente não fez para ninguém, assim, mas você se lembra da Remédios, na época, o que ela fazia, qual que era o trabalho dela aqui?
R – A Remédios, ela… acho que sempre trabalhou na secretaria e eu lembro que a gente aprontava bastante (risos) e ela que dava um toque. Na verdade… porque na época que tinha o bandejão, a gente encontrava muito pouco com a Remédios. Passamos a… eu passei, pelo menos, a ter mais contato com a Remédios quando a gente perdeu o convenio, acho que com o Coseas e passaram a trazer lanche para cá, então a gente vinha para cá, tinha uma bolacha, tinha um leite e a gente descia, todos os grupos desciam para tomar o lanche aqui e aí foi quando a gente começou a ter mais contato… eu, pelo menos, passei a ter mais contato com a Remédios. Então ela tava sempre ali, a gente tomava um lanche, bagunçava bastante no momento do lanche, então pegava a bolacha do outro, ficava aquela coisa de correria ali dentro e aí, ela conversava bastante com a gente. Eu tive, mais ou menos, acho que um ano de contato com a Remédios enquanto educanda, né, e aí depois que eu vim fazer estágio aqui, foi quando eu me aproximei muito mais dela, porque aí ela dava uns toques, então quando eu chegava mais cedo, por exemplo, ficava um pouquinho mais, ela me falava um pouquinho da dinâmica do que ela fazia: “Então, eu faço isso, atendo telefone, faço não sei o que”, aí eu passei a entender melhor o que, de fato, a Remédios fazia. Não era só um trabalho de secretaria, né, ela faz bastante coisa aqui, então ela cuida de muita coisa aqui e ela tem essa característica de um pouco de mãezona de todo mundo, né, então ela conversava também com quase todos os educandos e a molecada ia lá, sentava com ela e conversava. Alguns chamavam de mãe, e sentava no colo e ela dava puxão de orelha quando precisava, dava puxão de orelha, então ela sempre foi assim. E aí, ainda enquanto educadora que eu tinha acabado de sair daqui, então eu às vezes, vinha com uma mentalidade de educanda, às vezes, ainda e bagunçava às vezes, ainda quando eu era educadora e quem me dava puxão de orelha, de vez em quando, ou era a Remédios, às vezes, o Zé falava: “Olha, isso não dá mais, agora você não é mais educanda”, aí foi quando eu fui me ajeitando e entendendo essa passagem do processo de educanda para educadora.
PAUSA
P/1 – Onde é que vocês faziam esses lanches?
R – Os lanches?
P/1 – É.
R – No final do corredor, tem um espaço maior, próximo aos vestiários lá no fundo e aí, a gente organizava um lanche, né, na época, quando era educanda, os educadores faziam isso, então eles colocavam lá… antes, na verdade, cada grupo recebia um pacote fechado de bolacha, um copo de leite e algumas bolachas salgadas, então a gente sentava e ficava comendo e trocava, esse lance de trocar bolacha. E aí, teve um tempo que um pacote de bolacha é muita coisa, né, então era dividido e aí, você passava, eles colocavam as bolachas em alguns Tupperwares e você passava e pegava a sua bolacha, seu leite, o leite já vinha dividido, pegava sua bolacha, seu leite, bolacha salgada e sentava e comia. Quando eu passei a ser educadora, os grupos faziam isso, então pelo menos ia um representante de cada grupo para fazer essa divisão e a distribuição dos lanches, então a gente separava também nesses balcões, né, separava, na época, tinha frutas também, então separava lá maçã, uma banana, mexerica, a bebida, as bolachas e aí, a gente distribuía isso para as crianças que passavam comendo, também. Cada um sentava numa mesinha e fazia o seu lanche. Na época em que eu tava no handebol, sentava meio que só os adolescentes e os grupos que tinham crianças ficavam um pouquinho mais afastado, então às vezes, a gente fazia uma mesa enorme, assim, com o pessoal do handebol, futebol, a gente, como eu disse, tinha mais contato com o futebol, então fazia uma mesa grande, ficava ali conversando, comia e ficava conversando um bom tempo e aí, depois, ia embora. Teve um tempo que eles começaram a colocar algumas mesas de jogos, então tinha tênis de mesa e a gente, às vezes, ficava jogando ali, depois que terminava o lanche. E tinha essa… sempre teve essa questão do: “Olha, você comeu, mas sujou, sei lá derrubou ou o achocolatado, ou alguma coisa, vem, passa lá, limpa”, então, pegava o pano, limpava, acabava organizando o espaço, não deixava tudo para o educador no final.
P/1 – Legal. E a gente sabe que o PET tem muitos parceiros, né, como que era a presença desses parceiros no dia a dia de vocês? Quais que você se lembra, assim?
R – Olha, eu não lembro tanto de parceiros, eu lembro que a gente tinha, sempre teve uma parceria com a faculdade de Educação Física, não sei se ainda tem e em alguns momentos, a gente ia para lá para fazer alguns testes. Tinham alguns encontros do instituto, eu lembro que teve o… o Cesinha que era do handebol, ele foi uma vez para alguma cidade, não me recordo, porque tinha um evento e ele foi lá fazer um depoimento também, né, falar um pouquinho sobre a experiência dele no projeto. Então, eu não me recordo muito desses parceiros aqui, mesmo nas Olipets, quando tinham as Olipets, eu não me recordo muito, mas eu sei que tinham alguns eventos em que eles estavam presentes, mas eu não recordo tanto desses parceiros. Desses momentos assim, desses encontros, nessa dinâmica do dia a dia. Na época em que eu era do handebol, pouquíssimas vezes, a gente descia para cá, a gente começou a entrar… entrava muito mais lá no modulo e a gente passou a descer mais para cá quando tinha, quando a gente passou a fazer o lanche aqui. Mas mesmo assim, não era uma coisa que eu tinha contato, eu via isso muito. Não me recordo.
P/1 – Entendi. Conta pra gente como é que eram essas competições aqui no PET?
R – Antes da própria Olipet, a gente fazia alguns jogos amistosos, né, com alguns colégios ou com alguns projetos de handebol, na época. Então, eles vinham para cá e a gente passava quase o dia inteiro só jogando lá no módulo. E aí, na Olipet acontecia da mesma forma, mas tinha uma abertura, então fazia-se uma abertura com as instituições e depois, fazia vários jogos, eram vários jogos ao longo daquele mês ou daquela semana. E aí, isso com os grupos, depois, etários, foi crescendo um pouquinho mais, então a Olipet hoje acho que dura uns dois meses, mais ou menos, se for pegar o trabalho de todos os grupos etários e as modalidades. Então, você tem os jogos do Peteleco, né, não sei nem ainda se é dessa forma, acredito que sim, mas tem os grupos dos mais novos, tem uma galera meio intermediaria, tem o grupo dos mais velhos e aí, eles vão jogando vários jogos, né, porque são várias modalidades esportivas. O Peteleco são várias vivencias, os menores, são várias vivencias, então um dia eles têm para explorar várias atividades, né, eles ganham passaporte, tem um mapa, eles vão passando por várias coisas e vão explorando todos esses gestos motores desses esportes, que é bem interessante e aí, os jogos, conforme a faixa etária vai aumentando, tem momentos que eles vêm para jogar só o vôlei, só o futebol, só o handebol, são várias modalidades diferentes, também.
P/1 – Você tem alguma história do Olipet que você viveu, que marcou você, assim?
R – A história que eu lembro… é que eu não peguei muitas edições, assim, da Olipet, enquanto educanda, né, mas eu lembro que em uma dessas, a gente ganhou um dos jogos que a gente considera mais importante, porque era uma equipe que também treinava o handebol, então era o pessoal do Jean Piaget nessa época e as meninas treinavam, né, e quando a gente tinha jogos lá em cima, lá no módulo, a gente não jogava, porque você tem o módulo e você tem o toldo que divide em duas quadras, e a gente jogava na quadra oficial, em alguns momentos, a gente jogava na quadra oficial, então pra gente era: “Nossa, vamos jogar na quadra oficial”, e aí o outro grupo, se não tava jogando ficava torcendo. Então, era um momento que a gente tinha para mostrar um pouquinho do trabalho que foi feito e eu lembro que foi um jogo bem difícil, assim, bem disputado e aí, no final, acho que uma coisa bem suadinha, um ponto, no máximo, dois, não foi uma diferença tão elástica, assim, a gente conseguiu ganhar de uma equipe que era melhor de equipe assim, que a gente considerava do campeonato, porque as meninas já disputavam, inclusive, campeonato paulista, né, tinham noção muito maior do que a gente. Mas a Kátia sempre falava: “Dá para ganhar o jogo, não pode perder a cabeça, sem saber o que tá fazendo, tem que trabalhar em equipe, não dá para ser fominha nesse momento”, e aí a gente conversava bastante assim, nos intervalos o jogo, eu lembro que nos jogos, lembro que a gente falava: “Tá dando certo isso, vamos fazer isso. Olha, isso não tá dando certo”, ia dando alguns toques, e a gente aceitava numa boa, assim. Então, foi o jogo que eu acho que a gente mais curtiu foi jogar contra o Jean Piaget.
P/1 – Legal. E você tinha o quê? Dezessete anos, na época?
R – Acho que eu tinha já uns 16, 17 anos, mais ou menos.
P/1 – Entendi. Vamos para frente agora um pouco na linha do tempo, depois que você terminou a faculdade, o quê que você foi fazer?
R – Depois que eu terminei a faculdade, eu fiz uma entrevista para um projeto também que na época, acho que depois de um bom tempo, ele veio para cá para o CEPEUSP, que foi a Associação do Esporte Solidário, e eles treinavam aqui, os grupos etários já eram divididos por grupos etários, mas trabalhavam com atletismo, então eles treinavam aqui e se concentravam aqui, também. Então, às vezes, o ponto de encontro era por aqui, tinham grupos que já eram mais lá para cima, tomavam banho por aqui, o lanche era por aqui e aí, nesse momento, a gente dividia, né, alguns educadores da Associação juntava com os do projeto para fazer essa distribuição do lanche para as crianças, alguns eventos, a gente fazia em conjunto. Então, eu comecei a trabalhar na Associação e eu ficava com o grupo do desportivo, que chamava na época, que eram os adolescentes. Então, eu vinha pra cá também e desenvolvia as atividades aqui, participávamos da Olipet, por mais que fosse só o atletismo, mas participava da Olipet, porque a ideia era mostrar um pouquinho essas outras modalidades para o grupo dos adolescentes.
P/1 – Você tá até hoje lá?
R – Não. Eu trabalhei na Associação acho que por dois anos, dois anos e meio e teve um período que eu falei: ‘Vou prestar concurso, quero tentar outras coisas”, e aí eu lembro que eu prestei um concurso do estado para dar aula no estado, prestei um concurso da prefeitura, fiz um concurso também da Fundação Casa e teve um processo seletivo do SESC, que um colega meu, que dava treino comigo na Associação, inclusive, que ele comentou: “Você conhece o SESC?”, falei: “Não, não conheço” “Vai ter um processo seletivo, presta”, e aí eu prestei muito assim, desencanada, mesmo, porque nem conhecia, falei: “Não”, e aí fui passando várias etapas, várias etapas, várias etapas, foi quando me ligaram e falaram: “Olha, você passou já na última etapa e a gente tá oferecendo uma vaga para você em Catanduva”, aí eu falei: “Posso te responder amanhã?”, nem conhecia a cidade, nunca tinha ouvido falar. Nessa época, minha avó estava doente, então, eu tava meio que querendo ficar em São Paulo, mas ao mesmo tempo, eu tava querendo sair, fazer outras coisas e aí, eu conversei com a minha mãe na época, ela falou: “Olha, Ruth, se é para trabalhar, eu acho que nada impede, nada te segura aqui. Você não tá indo para jogar, para uma coisa incerta, é algo que você tá indo para trabalhar, você vai ter uma estabilidade, você vai construir a sua vida por lá, se você quiser, bora tentar”. E aí, eu falei: “Então eu vou tentar”. Aí eu liguei para o rapaz na época e falei: “Eu aceito”, e eu tive, acho que um mês, morava com a minha mãe, então eu tive um mês para construir a minha casa, assim, para ir para uma cidade em que eu não conhecia ninguém, não conhecia nada. Eu tive dois dias para ir para a cidade mesmo para conhecer, procurar algum lugar para morar e aí, eu fui para lá um dia, são seis horas de viagem, eu lembro que eu fui para lá, nessa época, eu tava na Associação ainda, eu informei que eu me desligaria, né, e eu sai daqui era uma quarta-feira à noite, eu trabalhei nesse dia, sai daqui quarta-feira à noite, fui para a rodoviária Tietê, Barra Funda porque o ônibus saía de lá e fui para Catanduva. Cheguei lá, acho que seis horas da manhã e aí, fui fazer alguns exames médicos já, aproveitando que tava na cidade, fiz alguns exames admissionais, né, que precisava e aí, dei um pouco voltas em alguns bairros lá, próximo da unidade para ver se eu conseguia algum lugar para morar e aí, algumas cidades do interior são legais, porque as pessoas param para conversar com você ou para te dar algumas dicas, mesmo se elas não te conhecem. Eu lembro que eu fui num conjunto de prédios lá, era como se fosse Cohab aqui, CDHU aqui. E procurei em vários e não vi nada que eu gostasse. E aí, eu já tava descendo para ir procurar em outros lugares, uma senhora passou: “Você que vai morar aqui?”, falei: “Não, eu só estou vendo, vim conhecer, eu não moro aqui, moro em São Paulo”, expliquei um pouquinho pra ela e nisso, ela assim, me chamou para entrar na casa dela, não me conhecia: “Vem cá, toma uma água. Eu conheço uma moça que acabou de sair daqui, eu conheço a dona do apartamento, eu vou ligar para ela te mostrar o apartamento dela”, eu falei: “Obrigada”, aí ela ligou, passou o telefone para mim, conversei com a moça, aí ela falou: “Olha, o apartamento tá reformado, porque uma moça acabou de sair, eu pintei tudo, tá reformado, se você quiser…”, eu falei: “Eu topo” “Então você precisa voltar no sábado, porque é quando eu posso te mostrar, você volta aqui no sábado, eu te mostro e aí, se por você tudo bem, a gente fecha negocio”, eu falei: “Tá bom”. Voltei para São Paulo, isso na quarta-feira, mesmo, voltei para São Paulo, e aí falei para minha mãe, aí ela falou: “Então eu vou com você no sábado”, aí a gente voltou para Catanduva no sábado, a dona do apartamento tava lá esperando, minha mãe olhou, também gostou, era um lugar tranquilo, era um bairro… porque lá é muito tranquilo, na verdade, uma cidade segura e o bairro era bem tranquilo, ficava bem próximo da unidade que eu ia trabalhar, a pé, daria dez, quinze minutos e aí, a gete fechou negócio, ela já tinha levado o contrato no dia, a gente assinou, que era com ela mesma, a proprietária e aí eu assinei contrato com ela e a minha mãe falou: “Agora, você precisa comprar as coisas, porque você não tem nada”, e aí, correr atrás de fogão, pelo menos o básico, para eu entrar em casa, né, fogão, uma geladeira, uma cama e uma TV e aí, depois aos poucos, eu fui comprando outras coisas para o apartamento e aí em Catanduva, eu fiquei dois anos e meio e no finalzinho de 2011, para o começo do 2012, me ligaram de Campinas… na verdade, não ligaram nem direto para mim, eu tinha vindo para São Paulo para fazer um treinamento, porque é muito frequente a gente vir para São Paulo para fazer alguns treinamentos, eu tinha vindo para cá…
P/1 – Pelo SESC?
R – Pelo SESC e aí, quando eu voltei para a unidade, o gerente me chamou na sala e falou: “O quê que você aprontou, Ruth?”, falei: “O quê que eu aprontei? Que eu me lembre, nada, mas não sei, vamos lá, fala o que aconteceu”, ele falou: “Olha, ligaram para você de Campinas…”, nisso, eu já tinha recebido alguns convites tanto para voltar para São Paulo, né, como para ir para Campinas, mas era como monitora, mesmo. Ele falou: “Olha, te ligaram de Campinas de novo, só que dessa vez não é para ser monitora, é para você assumir a coordenação desportiva”, e eu fiquei feliz, mas ao mesmo tempo eu fiquei bem nervosa, porque Catanduva é uma unidade pequena, a cidade é uma cidade pequena de 130, acho que no máximo, mil habitantes. Então, a unidade é bem pequena, bem concentrada, inclusive, a minha escolha de sair daqui e ir para lá foi por conta disso, né, ‘talvez, por eu não ter conhecimento nenhum de SESC, uma unidade menor, acho que uma dinâmica menor, fica mais fácil trabalhar e entender’, pensamento totalmente equivocado, né, porque lá o movimento… não é tão grande como na capital, mas a intensidade de atividades e a programação é a mesma, né, as atividades que acontecem por aqui, acontecem por lá, mas de acordo com o porte da unidade e Campinas é uma unidade muito grande e na verdade, tem uma unidade e tem um galpão enorme que é uma das maiores salas de ginástica que tem em Campinas e aí, eu fiquei com bastante receio em relação a isso, eu falei: “Puxa, mas um desafio bem maior, imagina aqui, a gente tem mil alunos, 1500 alunos, lá os caras lidam com quatro mil alunos”, ele falou: “Mas Ruth, acho que se veio o convite é porque talvez, eles enxerguem que você esteja preparada”, e aí, eu fui para a unidade para conhecer primeiro, para conversar com o gerente e aí, eu voltei também com a minha mãe, ela falou: “Tenta, se não der certo, pelo menos, você tentou”. E aí, eu aceitei o convite, fui para a cidade, mesma coisa, toca… e em Catanduva, eu morava numa casa e eu ia sair de lá para vir morar numa quitinete em Campinas, que o aluguel é muito mais caro, né, então… em Catanduva, eu morava numa casa que era enorme, as casas são muito grandes lá, então eu morava numa casa enorme, com quintal e aí, eu tive que vender algumas coisas porque não tinha como entrar com nada na quitinete, eu levei fogão, geladeira, cama, máquina de lavar e sofá, só, tive que vender todo o resto que eu tinha. Daí eu vendi e fui para Campinas. E aí, no ano passado, no finalzinho do ano passado, eu tava voltando de férias, eu falei: “Ah…”, que o aluguel é muito caro na cidade, falei: “Nossa, o dinheiro que eu to gastando na verdade, no aluguel, acho que dá para comprar um apê e pagar a prestação de um apartamento”. Aí eu fui pesquisar, pesquisei, andei, andei, andei e encontrei um apartamento que tava assim, num valor quase dado, falei: “Eu vou arriscar também e vou tentar, porque eu não sei quanto tempo eu vou ficar aqui na cidade e pelo menos é algo que é meu, se eu sair daqui, eu vendo, eu alugo, eu faço alguma coisa”, foi quando eu me mudei para onde eu tô agora, mas eu acabei comprando, eu falei: “Vou arriscar, vou tentar alguma coisa”.
P/1 – Tá pagando ainda?
R – Tô pagando ainda e vou pagar durante m bom tempo, ainda (risos).
P/1 – E como é que é o SESC Campinas?
R – Cara, é uma unidade enorme e tudo acontece ao mesmo tempo naquele lugar, assim, impressionante. As pessoas falam que a unidade fica um pouco escondida, que não tem tanto público, eu como trabalho com esporte, pra gente, nunca para. Então, sete horas da manhã tem atividade esportiva acontecendo e 21 e trinta, às vezes, 22 horas, a gente tá saindo de lá porque ainda tem público jogando bola. Pessoal do artístico reclama um pouquinho, porque às vezes, faz show e a galera não conhece, não vai para o show, ou às vezes, não tem publico, mas para atividade esportiva, meu, quase 24 horas tem gente lá jogando, se inscrevendo para fazer curso, indo reclamar de curso que não tá bacana, ou reclamar porque a gente tirou tal curso e gostaria que o curso voltasse. De vez em quando, a gente leva alguns atletas, também para algumas atividades, então a gente tem uma parceria muito bacana com a secretaria de ensino da cidade, com as cidades do entorno, que a gente coordena no dia do desafio, então é uma dinâmica para o esporte, uma dinâmica muito interessante. Eu acho que favorece. E Campinas tem vários esportes de potencial para práticas do esporte. A prefeitura, no meu entendimento, já fez um trabalho muito melhor, mas tá com uma equipe, agora, que parece que vai mudar um pouco, então, incentiva bastante o esporte e a cidade compra um pouco isso, sabe, essa ideia. Então, na verdade, quem não tá no SESC fazendo atividade, se você vai no Taquaral, as pessoas estão caminhando, estão correndo, estão pedalando, estão fazendo várias coisas, lá. Às vezes, eu vou para a Barão Geraldo e Barão Geraldo, se você vai lá para perto da Unicamp, também, a galera tá correndo, tá pedalando, agora com essa questão do slackline, você vê um monte de gente com as fitas de slack nas arvores, então é uma cidade que respira um pouco o esporte, a atividade física. Então, acho que favorece. Então, 24 horas, sempre tem alguém jogando bola e você passa em alguns campos, tem campo lotado, mais para o período da noite, né, que acho que a galera trabalha de manhã, mas eu tenho gostado bastante e é um desafio, na verdade, né, que não para, é uma unidade que tá sempre tentando rever algumas coisas na parte de esportes, tenta trazer coisas diferentes, é uma dinâmica louca, assim, cansativa, às vezes, né, porque a gente trabalha muito, muito, muito.
P/1 – E como é que é Campinas?
R – Olha, a cidade em si, eu não gosto muito, porque diferente de Catanduva, que você sente um acolhimento quando você vai para lá, em Campinas, eu não sinto muito isso, eu sinto que é uma cidade bem bairrista, sabe? Quem é de Campinas conhece um pouco de tudo e as pessoas envolvem, quem não é de Campinas… olha que é uma cidade universitária e vem gente de tudo quanto é lugar, mas eu não sinto que a cidade tá tão disposta a abraçar quem vem de fora, tanto é que o meu núcleo de amizade em Campinas é muito pautado em quem é do SESC. Pouquíssimas pessoas que eu conheço que não são funcionários do SESC. Em Catanduva, durante pelo menos três meses, o vinculo de amizades que você tem, o vinculo de afeto que você tem, mas depois desses três meses, eu já tava andando com gente de tudo quanto era lugar da cidade, pelas amizades, que você conhece um e vai conhecendo, vai conhecendo. Então, eu conhecia muito mais gente que não era do SESC do que… e eu fui para Campinas com um pouco dessa mentalidade, né, de não ficar só nesse ciclo de amigos de trabalho, porque eu acho que não é saudável, porque querendo ou não, você sai, as pessoas falam de trabalho e você tá ali no seu momento de lazer, você quer descansar, você quer tomar uma cerveja, você quer fazer qualquer outra coisa, e as pessoas estão falando de trabalho e eu queria explorar um pouco mais a cidade e sair desse ciclo, mas em dois anos e meio, praticamente, tá bem difícil, bem complicado.
P/1 – Entendi. E voltando um pouco, como é que… sua família hoje, você disse que tem mais irmãs, né?
R – Então, depois que a minha mãe saiu da casa do meu pai, acho que quatro meses depois, ela descobriu que tava grávida e aí, nasceu a Elaine, a gente continuou morando na casa da minha avó e aí, depois, minha mãe teve um segundo casamento, não casou, oficialmente, mas foi morar com… não chegaram a morar juntos, mas ela começou a namorar um rapaz, o Amilton e depois de três, quatro anos deles se relacionando, ela teve a minha irmã, minha irmã caçula, hoje, que é a Bruna, e eu lembro que na época, eu e as minhas irmãs ficamos bem tristes, chateadas, porque a gente não queria mais ninguém, três é muita coisa, né, ainda mais para irmãs que brigam e tal. E aí, a gente ficou bem esperançosa, porque na minha família só tem mulher e eu lembro que os primeiros exames pré-natais que a minha mãe fez, o médico: “É menino”, a gente tava super feliz que seria um menino: “Primeiro menino na família, depois de tanto tempo”, e aí quando nasceu, não era o Bruno, que a gente tinha dado o nome, seria a Bruna (risos), a gente ficou meio sem entender, mas ok. E aí, nasceu a Bruna e depois de um tempo, minha irmã engravidou, a mais velha, né, a Paula, ela tinha 17 anos na época e o primeiro filho dela, na verdade, nasceu prematuro e faleceu, era um menino, aí a gente ficou bem triste ai, depois, ela teve um outro filho, que na verdade, é a minha sobrinha, que é a Paloma, que é a mais velha e depois de um tempo, ela teve a Carol, que é a caçulinha, hoje. Já tem 11 anos. E aí, nesse período, aconteceu uma coisa triste que o marido dela foi assassinado, né, então, ela morava com ele, aí ela voltou para a casa da minha mãe também e até mesmo para ficar mais perto e a minha mãe ajudar no cuidado das meninas. Então, hoje, elas ainda moram com a minha mãe, né, a minha irmã e as minhas duas sobrinhas.
P/1 – Não tem nenhum homem, mesmo, então, né?
R – Nenhum homem. As minhas primas tiveram filhos, então tem dois menininhos, mas a gente não tem muito contato, assim, tem contato, se vê, mas não é a mesma coisa como se fossem seus sobrinhos, né? Então, tem os meninos, eles são novinhos, hoje, mas a gente tem pouquíssimo contato. Eu tenho menos ainda, né, dificilmente, quando eu venho para São Paulo, eu vou na casa das minhas primas, mas quando eu venho para cá, eu fico mais na casa da minha mãe, porque às vezes, eu consigo vir uma vez por mês, às vezes, depois de dois meses, eu consigo vir para cá, então quando eu venho, eu fico o maior tempo possível com ela, com as minhas irmãs e com as minhas sobrinhas. E aí, o que a gente tenta fazer é encontros na casa da minha mãe para que todo mundo possa ir e eu consiga ver, minimamente, todo mundo, porque senão, não dá tempo. Minhas primas moram distantes, eu tenho algumas tias que também não moram tudo aqui, próximas, Butantã, João XXIII, moram no Tatuapé, moram em Cotia, então é um tempinho que se tem, aí eu prefiro ficar mais na casa da minha mãe, mesmo.
P/1 – E com relação ao PET, você ainda tem amigos, hoje?
R – Eu tenho contato com a Patrícia que passou pelo PET, né, acho que ela deve… acho que ela chegou em 96, em 97, mais ou menos, não foi desde o inicio. O David, converso muito raramente pelo facebook, o Cesar, a gente também se encontrou quando eu morava aqui em São Paulo ainda, em alguns momentos e em algumas baladas e a gente tinha contato ainda, se conversava, mas ele muda direto, também, muda celular e muda de casa, então, perdi o contato. A única pessoa que eu consigo falar, mesmo, bem frequentemente, tanto é que hoje, eu tava conversando com ela, um pouco antes de vir para cá, é com a Patrícia. E os outros, acompanho pelo facebook.
P/1 – A vida deles, né?
R – A vida, aí vem mensagem, às vezes, responde alguma coisa. Na época da faculdade, eu tinha mais contato com alguns que não estudavam na mesma faculdade, mas por conta dos jogos universitários, viajava direto e acabava encontrando, encontrava com alguns meninos que passaram pelo handebol. Tinha um pessoal que morava perto da casa da minha mãe, então na época, encontrava com um ou outro lá no bairro, mesmo. Mas depois, eu comecei a perder contato com alguns.
P/1 – E hoje, assim, você prática esporte? Joga handebol?
R – Nunca mais joguei handebol, depois de um tempo, eu fui me arriscar a fazer Jiu-Jitsu, fui fazer artes marciais, continuei fazendo academia e esse ano, eu tô um ano bem relaxada, assim, eu tô parada, não tô fazendo nada, mas pretendo voltar, até mesmo por conta de alguns gastos a mais que eu tive, né, finalzinho do ano passado, eu falei: “Bom, eu vou…”, de vez em quando, eu vou fazer uma caminhada, fazer algumas coisas para não ficar parada, mas de atividade, mesmo, de estar fazendo… não tô e a ideia é retomar no final do ano algumas coisas. Já descobri que em Campinas tem alguns grupos de handebol na Unicamp, só que os horários também não consigo conciliar os horários, eu trabalho da uma às dez, então eles treinam à tarde, treinam à noite, fica inviável.
P/1 – E você viu que no ano passado, a seleção foi campeã, né?
R – Feminina foi campeã, esse ano também, ganharam os jogos Panamericanos, né, acho que nas olimpíadas, ano que vem, também não vai ser muito diferente, assim, elas estão com uma equipe muito boa, muito forte, então… espero que o masculino também consiga, né, que não ganhou ainda, estão apostando mais no feminino agora, porque já vem numa crescente de jogos ganhos, de ter uma representatividade, mas não chega nem ser triste, o ruim é que o Brasil ainda não dá essa possibilidade de crescimento, tanto é que várias meninas no Brasil estão sem equipes, estão sem clubes para jogar, muitas meninas não jogam mais no Brasil, jogam na Europa, jogam em outros lugares, em junho, a gente fez uma atividade lá, né, em Campinas e a gente levou duas meninas, a Dionísia e a Mariana Costa que são da seleção, a Mariana não foi porque tá machucada e elas falaram que tá bem difícil, assim, viver do handebol aqui no Brasil, já era difícil, por mais que elas tivessem ganho a medalha, ainda hoje em dia, não tem clube que tá investindo, que tá com dificuldade de investir na modalidade, e aí, pra mim, é uma modalidade que na escola, estimula muito, então é triste saber que você consegue uma medalha importante e não só para o seu pai, mas você consegue uma medalha importante, uma representatividade importante e aí, quando você chega no seu país para jogar, não tem condições, não te dão condições, não te dão nenhum suporte, nenhum subsidio, nenhum acompanhamento. Então, espero que mude, né?
P/1 – Uma questão mais reflexiva, assim, o quê que você acha que o PET representa na sua vida, na sua trajetória?
R – Olha, acho que todo subsidio, toda, na verdade, essa noção de que forma você trabalha com o esporte, não falando só do esporte, mas te trazendo uma visão de vida, de mundo, uma noção de relações, de comportamento, tudo isso foi acrescido com o projeto. Minha família sempre trouxe isso, mas através de um trabalho especifico de uma modalidade esportiva, nunca tinha sido apresentado, então essa questão desse posicionamento de você respeitar o seu adversário, não enquanto inimigo, mas enquanto alguém que tá te dando a possibilidade de jogar junto com você e de construir algo de uma maneira coletivamente respeitando essa pessoa, respeitando a individualidade dela, respeitando que cada um tem seu tempo, tudo isso, o esporte, ele… não é um forçar, mas ele faz com que você trabalhe isso, ainda mais o coletivo, né? Então, imagina um monte de adolescente aqui, cada um com uma realidade, uma história de vida, um interesse, um desejo, valores diferentes e juntou tudo isso numa mesma panela e não explodiu, assim, e deu certo e deu um caldo bom. Então, foi um trabalho que acho que todo mundo que saiu daqui e sente saudades e se você vir fotos, às vezes, acompanha fotos, falam: “Poxa, que saudades, aquela época, a gente era muito feliz”, e era isso mesmo, né, porque você vinha aqui, você esquecia muita coisa que já tinha se passado lá fora e aí, você vinha para se dedicar a alguma coisa e por mais que tivessem esses valores e objetivos totalmente diferentes, na quadra, era como se tivesse tudo equalizado, assim, você não percebia inclusive essas diferenças de gênero, do fato de um ser negro, o outro ser branco, o outro ser amarelo, questões de orientação sexual, não tinha nada disso, tava todo mundo ali e todo mundo recebia o mesmo respeito, a mesma atenção, a mesma orientação, tudo muito junto, tudo muito conjunto. Então, acho que isso, de uma certa forma, deu… reforçou tudo aquilo que a minha família sempre falou, sempre trouxe e é algo que eu pude levar em qualquer outro espaço que eu fosse, então, se eu fosse a uma escola, em um clube, jogando ou trabalhando, no meu ambiente de trabalho, hoje, então, se eu vou falar de esporte, eu não vou falar de exclusão: “então, eu quero os habilidosos”, não, de que forma você consegue enxergar o potencial em cada um, porque é isso que se fazia na época, né? Se eu tivesse, talvez, iniciado em um clube que não tinha essa… porque eu já passei por vários outros clubes que é isso, se você joga bem, você tá dentro, se você não joga bem, você nem apareça. E aqui, não, teve uma peneira? Teve uma peneira, mas acho que essa não era a condição para você estar aqui, então, independente se você tinha habilidade ou se você não tinha, você estava ali e eles enxergavam o potencial em cada um que tava ali e aí, hoje, trabalhando com esporte, a ideia é essa, né, é você levar o potencial… tirar o potencial de cada um, né, e não desacreditar em quem talvez, não tenha tanta habilidade, muito pelo contrario, é acreditar que se ela não tem habilidade para o esporte, ela tem habilidade para outras coisas, né? Então, em algumas atividades que a gente fazia: “Eu posso não ter habilidade para o handebol, mas eu tô falando de uma Olipet, por exemplo, tem uma galera que pode filmar isso, que pode fazer entrevista , então, era um pouco disso que ia acontecendo nessas dinâmicas e se a pessoa não quisesse: “Não, eu gosto de treinar, mas eu não gosto de jogar” “Aí de que jeito você consegue ajudar o seu colega?” e era todo mundo se ajudando, todo mundo fazendo de uma forma que todo mundo se sentisse bem confortável aqui e não quisesse sair porque foi excluído pelo grupo, muito pelo contrário, saía por várias outras escolhas da vida, seja para estudar, ou para começar a trabalhar, por uma necessidade, mas não porque: “Eu vim aqui e não me senti acolhido ou não me acolheram”, não, então acho que esse jeito de lidar com o ser humano, sabe, de te olhar e pegar aquilo que tem de melhor e tentar trabalhar o que não é tão legal e falar: “Não, tá vendo? Você é capaz de fazer, bora lá fazer”, então acho que é isso que me trouxe, que me cativou e que fez com que eu continuasse e depois, não quisesse sair e depois, voltasse de novo e depois, quisesse continuar. Então, acho que foi um pouco isso.
P/1 – E qual que é o seu sonho hoje para a sua vida?
R – Olha, eu pretendo trabalhar com esporte sempre. Hoje, trabalhando no SESC, eu tenho a possibilidade de trabalhar com várias outras coisas, que não somente o esporte, né, pretendo continuar morando no interior e galgar outras posições dentro da própria instituição, né, eu acho que eu tô num momento bacana de aprendizado, de aprender um pouco disso tudo, né, então eu quero… na verdade, o céu é o limite, enquanto eu tiver possibilidade de crescimento, eu vou buscar, eu vou buscar esse crescimento. Então, eu vivo hoje sabendo que amanhã a possibilidade pode ser totalmente diferente, eu posso estar num cenário totalmente diferente. E aí, eu não sei muito onde chegar com tudo isso, mas eu sei também, que não tem um limite para tudo isso, né, então eu tô um passinho de cada vez, um passinho de cada vez.
P/1 – Legal. Como é que foi contar a sua história?
R – Tem algumas coisas que são um pouco dolorosas, né, de você recordar algumas coisas que você deixa ali no cantinho, embaixo do tapete e só levanta de vez em quando, só para saber que tá ali, mas isso não é tão confortável, vamos se dizer assim, mas é legal você pegar uma trajetória inteira e ir relembrando de coisas, enxergando que tudo tem um motivo, tudo tem um porque de ser, um porque de estar, é gostoso você relembrar de coisas que você nem lembrava mais, de bagunças que você fez, de situações da sua vida que fizeram parte e que às vezes, se você não conta, você vai esquecendo de detalhes, então é legal poder recordar, é legal poder compartilhar, que se você não faz isso, também, no momento em que você não estiver mais aqui presente, se você não levou isso para alguém, isso morre com você, né? Então, a ideia é que tanto as boas historias, como as histórias não tão bacanas assim, que fiquem, que elas continuem, que elas deem continuidade de alguma forma.
P/1 – Tá certo, Ruth, obrigada, viu?
R – Nada.
P/1 – Foi ótimo, o Museu e o PRODHE agradecem.
R – Eu que agradeço pelo convite.