Identificação. Infância no Bairro Bela Vista em Bauru. Memórias dos avós espanhóis e italianos. Relato da imigração italiana do avô Amadeu Ferdinando Moreto. Amizades e brincadeiras na escola Professor José Aparecido Guedes de Azevedo. Lembrança da venda de chinelinhos de sua mãe, Clarice Moreto. Passagem pelo time de Vôlei BAC, treinadora Amabile. Compromisso católico na Pastoral da Juventude, a Paju, e catecismo na Igreja Santo Antônio. Adolescência, escola Objetivo e início de namoro. Primeiro emprego na Unimed aos 19. Casamento em 2000. Desafios na empresa Campneus por ser mulher, de 2000 à 2013. Tratamento cuidadoso da primogênita Maria Júlia, após descoberta de cardiopatia em 2004. Cirurgia da filha em 19 de janeiro de 2007. Desenvolvimento de síndrome do pânico e hipocondria por estresse pós-traumático e demissão. Reinvenção aos 40 anos: Faculdade de administração. Dificuldades de inserção no mercado de trabalho por preconceito etário e machismo. Admiração pela mãe e sua luta para melhorar a vida em família. Valorização das mulheres empreendedoras. Criação do Donnas Empreendedoras, rede de negócios de mulheres. Pandemia e isolamento. Perda da mãe. Desafios da nova era tecnológica nos negócios. Orgulho dos caminhos escolhidos pelas filhas Maria Júlia, 19, como advogada e Maria Clara, 14, cantora e compositora. Agradecimentos.
Donnas Empreendedoras: exemplo para todas
História de Renata Cristina Moreto Birello
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 08/03/2021 por Ana Eliza Barreiro
Memórias do Comércio 2020-2021 - Bauru
Entrevista de Renata Birello
Entrevistada por Cláudia Leonor Oliveira e Luís Paulo Domingues
Bauru, 21 de janeiro de 2021
Entrevista MC_HV001
Transcrita por Selma Paiva
Conferida por Ana Eliza Barreiro
P1 – Então, Renata, obrigada por você estar aqui!
R1 – Eu que agradeço o convite. Muito obrigada!
P1 – A gente vai começar a entrevista falando coisas meio óbvias, mas eu vou pedir pra você falar, pra gente registrar: o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R1 – É Renata Cristina Moreto Birello, eu nasci e cresci em Bauru, nasci no dia 15 [difícil compreensão de áudio] de dezembro de 1972. Hoje estou com 48 anos.
P1 – E, Renata, o nome dos seus pais e o que eles faziam profissionalmente? A atividade principal deles.
R1 – Vamos lá! Meu pai é Amadeu Fernando Moreto, foi um trabalhador desde muito cedo. Ele veio, filho de imigrantes da Itália, morou muito tempo no sítio, vieram pra cidade, ele veio já era jovem, adolescente, sempre trabalhou na indústria. Minha mãe também morou no sítio até a juventude, veio pra cidade já adolescente, jovem e sempre foi uma empreendedora, a minha maior inspiração.
P1 – A gente vai falar dela também. Como ela chama, sua mãe?
R1 – Clarice Mariano Moreto.
P1 – E o seu pai?
R1 – Amadeu Fernando Moreto.
P1 – E, Renata, o que você lembra, assim, da sua mais tenra infância? Você nasceu em Bauru, né?
R1 – Nasci.
P1 – Que bairro que você cresceu? Como é que foram suas brincadeiras, os amigos? O que você se recorda?
R1 – Eu nasci na Bela Vista e eu tive o privilégio de ter uma infância de brincadeiras de rua, muito feliz, tranquila. Brincava, na frente da minha casa tinha um terreno muito grande que, hoje, inclusive, é o UPA da Bela Vista, então era todo aquele terreno aberto, então a gente usava ali pra jogar bola, bete, andar de bicicleta, brincar mesmo. E era aquela preocupação só... A gente tinha aquele recado da mãe quando saía de casa: “Volta antes do pai chegar do trabalho”. Então, foi uma infância muito rica, de brincadeiras, de amizades, eu sempre fiz muitos amigos, sempre fui uma pessoa de fazer bastante amizade. Então, eu tive uma infância muito gostosa, mesmo. Eu tenho recordações maravilhosas da minha infância.
P1 – Quem era a sua turminha de infância?
R1 – Ixi! (risos) Grande, viu? Minha turminha de infância ali, ao redor, mesmo, da casa da minha mãe, a gente não saía de perto da casa, a gente tinha essa liberdade de brincar na rua, mas sempre muito próximo da casa da gente, então os vizinhos eram as nossas amizades dessa época. E também as amizades de escola. Eu estudei também na Bela Vista, no Professor José Aparecido Guedes de Azevedo. Tive muitos amigos ali, estudei ali até o meu oitavo ano, quando eu fui para o colégio particular, fazer um curso mais reforçado, como diziam os pais na época. Estudei no Colégio Objetivo, no meu ensino médio e é isso, as amizades que surgiam era desse círculo de escola, vizinhos, amigos, que a vida ia nos presenteando. E muitos, muitos deles eu tenho amizade até hoje.
P1 – Ai, que maravilha! Renata, do que vocês brincavam, na rua?
R1 – A minha brincadeira preferida era jogar bete, (risos) andar de bicicleta, pular corda, mãe da rua, eram essas brincadeiras. Vôlei, joguei na minha infância, no time profissional do BAC.
P1 – Ah, é?
R1 – Sim.
P1 – Então, assim, já que é uma entrevista histórica, pra entrar pra História, detalha mais pra gente o que era o BAC. Tão importante!
R1 – O BAC foi, sim, um clube muito importante na formação da minha geração. Tanto na área de lazer, como nessa parte de esporte, o BAC tinha um grupo, um time de voleibol feminino muito forte, na época. Isso eu estou falando lá por volta de 1985 a 1990, né? Tinha um time muito forte, profissional e esse mesmo time, muitas das titulares desse time, fundaram uma escolinha de vôlei infantil.
P1 – Ah, é?
R1 – É. A minha treinadora, na época, era a Amabile, uma jogadora do time, inclusive. E a gente tinha aula de vôlei de segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira, a tarde toda. Tinha o treino físico, tinha o treino prático. Era uma delícia frequentar. Joguei por muito tempo no BAC. Foi muito gostoso. Então, uma das minhas brincadeiras preferidas também era o vôlei, né?
P1 – E, além do esporte ali no BAC, você frequentava a parte social, carnaval, essas coisas?
R1 – Quem não? Quem, da minha idade, da minha geração, não frequentou as domingueiras do BAC, Cláudia? (risos) Momentos deliciosos que eram as domingueiras. Muito gostoso. Que lembrança boa dessa época! Muito bom! Carnaval não era sempre que eu podia ir, às vezes meus pais não deixavam. Mas as domingueiras, geralmente eu participava.
P1 – Que horas que acontecia? Era musiquinha, tinha dancinha? Como que era?
R1 – A domingueiras começavam por volta de umas seis horas. Eu não tenho muita recordação disso, mas devia ser por volta desse horário e eram músicas da nossa época, muita dança, passinho. Que gostosas que eram aquelas danças de passinhos, né? Que lembranças boas! Muito boas as lembranças!
P1 – Maravilha! E do tempo lá do José Aparecido, teve algum professor que te marcou mais, assim, que tenha sido mais importante na sua formação?
R1 – Sim. Tem professores que eu trago na minha memória até hoje, professores parceiros, companheiros. Professora de História, professora Minerva, professora René. Professoras mais rígidas, que me ensinaram muito a lidar com essa parte de um pouco mais firmeza que a vida, às vezes, nos cobra. Professora Marilene, de Língua Portuguesa; professora Rosa, de Matemática. Lembro deles com muito carinho, muito mesmo.
P1 – Teve algum, assim, mais especial, de lição de vida?
R1 – Eu acho que a professora Lucília, de Ciências. Ela, inclusive, foi madrinha da nossa turma de formatura. Patrona, é assim que fala, né?
P1 – Isso.
R1 – Isso. De oitava série. Porque ela tinha essa coisa com os jovens e a matéria dela era uma matéria que chamava bastante atenção, a nossa curiosidade. Então, acho que essa professora Lucília marcou muito também.
P2 – Você lembra como era o ambiente da Bela Vista, na época? Devia ser diferente de hoje, né?
R1 – Não é muito diferente, não. A Bela Vista é um bairro bem tradicional aqui de Bauru, né? E preserva muitas características ainda. Mesmo o colégio onde eu estudei, aumentou o número de salas, a gente consegue ver pelo lado de fora, mas preserva características da época ainda. O prédio, a cor, ainda guarda muito a tradição do que era. A Bela Vista tem um pouco disso, de manter um pouco essa tradição. É um bairro antigo, né?
P1 – Bem familiar ainda.
P2 – É. Familiar e comercial, um pouquinho, também, né? Tem bastante comércio.
R1 – Sim, sempre foi um bairro muito comercial. A gente encontra de tudo na Bela Vista. Tanto lojas de roupas, lojas de eletrônicos. A gente consegue encontrar diversidade, já dentro do próprio bairro, mesmo.
P1 – E a rádio era no bairro, aí, na Bela Vista? Você chegou a frequentar ali a rádio?
P2 – A PRG8.
R1 – Então, eu não me lembro da rádio. A minha mãe falava a respeito da rádio da Bela Vista, mas dessa parte eu já não me recordo tão bem, Cláudia.
P1 – Não é sua época, né? (risos)
R1 – Acho que é um pouquinho antes. Mas tem histórias.
P1 – Então, vamos recordar, assim, um pouco: você sabe como a Dona Clarice e o ‘seu’ Amadeu se conheceram e começaram a namorar?
R1 – Sei, sim.
P1 – Você pode contar?
R1 – Minha mãe contava que eles se conheceram num parque de diversões, que estavam, inclusive, na Bela Vista, eles falam que o passeio deles era a pracinha, a Praça dos Expedicionários, em frente a Rede Globo e minha mãe conta que veio um parque pra Bela Vista e ela foi, onde ela encontrou meu pai e que, segundo ela, ele deu cinco minutos pra ela dar a resposta, se queria ou não namorar com ele. Diz que ele passou por ela, falou que ela era muito bonita, que ele gostaria de namorar com ela, que ele ia dar cinco minutos e ia voltar pra saber a resposta. (risos) Acho que era pra pensar rápido, pra não dar tempo de pensar muito, viu, Cláudia?
P1 – É paixão, né?
R1 – Né? E ela aceitou, eles namoraram um tempo, meu pai também era da Bela Vista, minha mãe, então as coisas aconteceram dentro do bairro, mesmo.
P1 – Moreto é uma família italiana, né?
R1 – Sim.
P1 – Você sabe um pouco da história da família?
R1 – Então, é uma história até bonita, do meu avô Amadeu Ferdinando Moreto. Ele nos contava. O meu vô era meio difícil até da gente entender por que ele, às vezes, até falava um pouquinho meio arrastado, usava ainda muitas palavras italianas, que ele veio já jovem pro Brasil. E a minha vó também, só que a minha avó – olha que estranho! – veio da Espanha, também jovem e se conheceram aqui. Meu avô, na verdade, era de Areiópolis, uma cidadezinha pequena aqui também, perto de Botucatu. Mas era muito gostoso ouvir meu vô contar as histórias do navio, dessa vinda pra cá.
P1 – Ele gostava de contar?
R1 – A casa do meu avô na Bela Vista também, bem no Centro ali, esquina com a Auto A, Silva Jardim com a Santo Antônio. E tem uma mureta na frente da casa, grande, na área, a gente sentava naquela mureta e ele ficava falando poemas, cantando, conversando com a gente.
P1 – É mesmo?
R1 – Ele falava: “Saia longa, não deixa a saia arrastar, a saia custa dinheiro e dinheiro custa a ganhar”. Mas ele tinha um sotaque bonito, era gostoso de ouvi-lo falar: “Joguei o chapéu pra longe, pra ver onde caía, caiu no pé da menina bonita, era isso mesmo que eu queria”. (risos)
P1 – Gente, que delícia!
R1 – É. E a minha avó era muito conhecida na Bela Vista, era benzedeira, minha vó Isabel Moreto. Então, muitas pessoas, até hoje, lembram dela com bastante carinho, aqui no bairro.
P1 – Que era uma referência, né?
R1 – É, ela era uma benzedeira bem conhecida.
P1 – E, Renata, na cultura da família, no jeito, na alimentação, na culinária, você reconhece, assim, esse lado italiano, espanhol? Como você reconhece?
R1 – Sim. Principalmente, eu tenho umas memórias muito boas de Natal, na casa da minha vó. Minha vó reunia todo mundo no Natal, na casa dela, em volta da mesa, uma mesa farta, bonita e a gente não podia tocar em nada enquanto não desse meia-noite, então as crianças ficavam em volta da mesa, olhando o que tinha, né? E a culinária veio: macarronada, polenta, toda essa comida gostosa da Itália. E minha vó também, da Espanha, o chouriço, essa parte mais que ela também trouxe. Mas o que prevaleceu ali, o que predominou ali foi a comida italiana, mesmo.
P1 – E no jeito de ser, assim? Você reconhece essa ancestralidade italiana?
R1 – Reconheço, sim. Muitas vezes eu me pego falando muito alto, muito rápido, né? (risos) E eu sei que isso é um pouco, já, instinto, acho que é até, né, Cláudia, bem forte, vem com a gente. Essa coisa de emoção, sangue quente, né? (risos)
P1 - Bacana! Aí você foi crescendo... Fala um pouco dos seus irmãos, irmãs...
R1 – Sim, eu tenho dois irmãos, uma irmã mais velha. Ela não gosta que fala irmã mais velha. Ela fala a primeira. (risos)
P1 – A Rose?
R1 – E o caçula, o mais novo. Eu sou o recheio da bolacha. Eu sou a do meio.
P1 – Como que eles chamam?
R1 – A minha irmã é Rosemeire e o meu irmão, Rodrigo. Uma diferença de idade grande minha pro meu irmão. Meu irmão, quando nasceu, eu já tinha oito anos. E um carinho, assim, já mais, até, um pouco maternal, vamos dizer assim. Era como se ele fosse a minha boneca. Ele nasceu um dia depois do meu aniversário e eu dizia pra minha mãe que ele era meu presente e é gostoso essa parte de infância, lembrar de tudo isso que a gente viveu juntos.
P1 – Mas com a Rosemeire você brincava mais, era mais próxima?
R1 – Com a minha irmã eu não tinha relacionamento muito bom quando a gente era criança, não, viu Cláudia? A gente brigava. (risos) Principalmente na adolescência, a gente brigava muito, mas briga de irmãos, que dali a pouco estão conversando de novo. Mas hoje eu entendo, eu ainda brinco com ela, hoje a gente tem um relacionamento muito bom. Acho que depois que a gente casou, que a gente entendeu o que é ser mãe, ser mulher, dona de casa, tudo isso, a gente se aproximou tanto, tanto! E hoje a gente tem um relacionamento muito bom, mas a nossa infância era entre tapas e beijos, viu? Principalmente adolescência.
P1 – Quando vocês foram chegando à adolescência, onde vocês saíam ali na Bela Vista? Você falou das domingueiras, mas tinha algum lugar: cinema, shopping...
R1 – Nessa minha época tinha uma coisa muito gostosa que os adolescentes faziam, que eram as brincadeiras dançantes, que era, geralmente, na casa um do outro. Com pai e mãe por perto, com tudo, mas eram as brincadeiras dançantes nas áreas das casas dos amigos e esse era um dos passeios que a gente tinha.
P1 - Também festinha de aniversário, tudo?
R1 – Aniversário, exatamente.
P1 – E vitrola, com disco?
R1 – Disco (risos) LP. Muito RPM, Titãs. (risos) Né?
P1 – Bem anos 1980, rock nacional, né?
R1 – Exatamente anos 1980, exatamente.
P1 - Que maravilha!
R1 – Mas a Bela Vista era assim, muita gente sentada na calçada de casa, na frente do portão, conversando. Esse era o nosso passeio. Às vezes tinha um amigo que tinha violão e a gente sentava na calçada. A maioria das nossas diversões eram essas.
P1 – Renata e a parte de fé, de religião? Como é que era isso na sua infância, adolescência?
R1 – Eu sempre fui muito católica, muito religiosa, muito praticante, desde pequena. A Igreja Santo Antônio tinha a Pastoral da Juventude, a Paju, era muito forte na minha época, que tinha muitos jovens participantes e eu sempre fiz parte, começando lá atrás: logo que eu fiz a Primeira Comunhão, participando do catecismo ali na Santo Antônio, já me senti muito tocada. Ai saindo da Santo Antônio, fui participar do Grupo de Perseverança, que eles chamavam, que era Francisco de Assis, o clubinho. Então, eu participei bastante. Depois... uma coisa que eu esqueci de falar dos passeios tradicionais da Bela Vista: a quermesse de Santo Antônio. Era um dos passeios mais tradicionais pra nós, a gente aguardava chegar ... pra ir na quermesse. Era muito gostoso. Mas voltando à parte religiosa eu não saí mais da igreja, depois da minha Primeira Comunhão, eu permaneci no grupinho, depois eu fui fazer Crisma, do Crisma eu entrei na Paju, que era a Pastoral da Juventude, era um grupo muito atuante. A gente saía pra rua, pedindo prendas pra ajudar as entidades. A gente fazia ações. Era muito gostoso, mesmo. Depois eu fui coordenadora de um grupo de crisma, fui catequista por muito tempo também, parei um pouquinho quando eu casei, porque aí vieram as crianças, né e a gente diminui um pouco o tempo. Não deveria, mas acaba acontecendo.
P1 – E na sua adolescência você falou que aí você foi estudar lá no Objetivo, né, um colégio pra preparar mais. E aí, assim, já vinha preocupação com profissão, essas coisas? Ou não necessariamente?
R1 – Na verdade, a nossa época era terminar o colégio e trabalhar, né, Cláudia? Eram poucas às vezes, as oportunidades pra escolher um curso, fazer uma faculdade. A situação financeira já fazia com que a gente ingressasse rapidamente no mercado de trabalho assim que terminasse o ensino médio. E foi o que aconteceu comigo: terminando o ensino médio, eu consegui meu primeiro emprego com 19 anos e fui trabalhar na Unimed daqui de Bauru, foi meu primeiro emprego de registro, porque adolescente, eu ajudava a vizinha a cuidar do filho, né? A gente estava sempre fazendo algumas coisinhas, mas o meu primeiro emprego de registro, de carteira, oficial mesmo, foi a Unimed. Aprendi muito, foi um emprego muito bom pra mim, crescimento profissional, tenho boas recordações.
P1 – Era bem diferente a Unimed naquela época, né?
R1 – Era na Gustavo Maciel, onde hoje é a farmácia da Unimed. Era ali. Trabalhava no setor de recepção, atendimento, eu e mais cinco meninas.
P1 – Acho que era bem o começo dos planos de saúde, não era?
R1 – Sim. Bem no início, mesmo.
P1 – Era um setor praticamente novo, né?
R1 – 1990. Entrei em setembro, se eu não estou enganada. Memória boa, viu, Cláudia? (risos) Ainda está boa.
P1 – Está sim. Renata, o que você fez com seu primeiro, segundo, terceiro salários? Você lembra?
R1 – Menina, lógico que eu lembro! Gastei tudo no O Boticário, produtos de beleza. (risos) Fiz um estrago!
P1 – Ou um investimento?
R1 – É, né? Quem sabe? Mas era aquela coisa de adolescente, cuidar, perfume, creme, batom, maquiagem. Tinha 19 anos, então... mas eu já tinha, também, por outro lado... esse foi o primeiro, eu lembro que foi o primeiro salário, eu fui no O Boticário, comprei um monte de coisa e depois eu saí de lá e comprei uma correntinha, pra dar de presente pra minha mãe.
P1 – Ai, que lindo!
R1 – Meu primeiro salário. E os próximos salários sabe o que eu comecei fazer? Você vai rir. Enxoval. Eu já namorava.
P1 – Você já namorava?
R1 – Já namorava. E, assim, meu namoro já era meio maduro, vamos dizer assim. Eu comecei a namorar com 15 anos, pra 16, então, a minha cabeça e do hoje meu marido, na época namorado, a gente sempre pensando em casar, então a gente começou a fazer a nossa preparação pra isso desde bem cedo mesmo.
P1 – Como chama seu marido, pra gente registrar, Renata?
R1 - Adriano Birello.
P1- O Birello vem...
R1 – Bela Vista também. O pai dele tinha, agora é ele quem toca, uma oficina de funilaria e pintura, era caminho da escola, eu passava ali pela frente, ele ficava mexendo comigo. (risos)
P1 – Foi assim que começou?
R1 – Foi. (risos) Foi assim.
P1 – Ele já trabalhava lá na oficina?
R1 – Trabalhava com o pai desde muito cedo, né? Ajudava o pai. E era meu caminho de escola, então às vezes passava por lá e ganhava uns assovios.
P1 – Mas e como começou o namoro, mesmo? Ele também te pediu em namoro? Como é que foi isso?
R1 – Na verdade, eu ficava muito brava quando eu passava lá e ele mexia, eu falava: “Acha, affs”. (risos) Quinze pra dezesseis anos, né? Aí, como eu te disse no começo da conversa, um dos passeios nossos era ficar sentada na frente da casa dos amigos, conversando e aí foi assim: eu ficava sempre numa amiga minha, que mora no quarteirão de cima – Cláudia – da oficina, a gente ficava sentada na calçada conversando e ele passava, ele tinha uma Mobilete na época. Ele subia e descia, subia, quase furava a rua, aí um dia parou, começou a conversar e aí foi indo, aquela conversa, né? Namoro daquela época era bem diferente de hoje em dia.
P1 – É.
R1 - Aí, ele ia, às vezes, me acompanhar até a esquina de casa, né, pra eu ir embora e um dia meu pai o pegou na esquina comigo, aí chegou e falou: “Os dois pra casa agora”. E a gente subiu, entrou assim, com aquele medo, meu pai falou: “Senta no sofá os dois”. A gente sentou no sofá, ele falou: “O que está acontecendo?” Aí: “A gente tá... só é amigo”. Meu pai falou: “O que é esse amigo?” Ele falou: “Não, eu quero namorar com ela, mesmo” “Tá, mas aqui, no meu sofá, no meu portão, dentro da minha casa”. Daí a gente começou a namorar e estamos até hoje. (risos)
P1 – E aí você foi fazendo o enxoval, com seu salário?
R1 – Exatamente. Minha mãe fazia também, ajudava, mas aí, também, essa época, lógico, nessa idade, a gente tem as outras vontades, né? Roupa, sapato. Era mais pra isso. Meu pai nunca aceitou que a gente ajudasse financeiramente dentro de casa, sempre foi um pai muito esforçado. Tínhamos uma condição... não era, assim, das melhores, mas nunca nos faltou nada e ele nunca nos permitiu dar dinheiro em casa, pra ajudar. Então, foi até isso que ajudou a gente construir, né, o nosso futuro, porque aí, eu e meu marido começou a fazer a nossa casa. Com uns dezenove, vinte anos, a gente já começou a pensar nisso, compramos um terreno, começamos a construir e é isso.
P1 – Que coisa boa! O que o ‘seu’ Amadeu trabalhava, Renata?
R1 – Meu pai trabalhava na Antártica, na guarda.
P1 – Onde é o Shopping Boulevard?
R1 – Onde é o Boulevard. Ele trabalhou um tempo na Tilibra, aí ele recebeu uma proposta pra ir pra Antártica. Ele trabalhou como guarda patrimonial da empresa por muitos anos, se aposentou lá e eu tenho umas lembranças boas de lá também, que às vezes a gente ia buscá-lo, parava ali na porta da Antártica, eles tinham uma caixa de... não sei, mas acho que era inox, uma caixa grande, você enfiava a mão dentro da caixa, assim e pegava um guaranazinho bem geladinho.
P1 – Ah, é?
R1 – É. (risos) Os funcionários tinham bem na guarita ali, de entrada. E era muito gostoso. Conheci a fábrica, a gente tinha esse privilégio, de estar um pouco ali, mais perto.
P1 – Podia fazer visitas, tudo?
R1 – Pena que acabou, né, Cláudia? Era tão gostoso!
P1 – É. (risos) Mas é que hoje está tão no meio da cidade, né, Renata?
R1 – É. Não dá, mais, né?
P1 – Como a cidade cresceu também, né?
R1 – Cresceu.
P1 – Quando vocês compraram terreno, vocês compraram também na Bela Vista?
R1 – Adivinha que não? Lógico, né? (risos) Um pouquinho mais na parte de cima, porque a Bela Vista já não tinha tantos terrenos, na época. Tinha um pouquinho mais recuado, mas eu falo que a Bela Vista agrega toda a redondeza. Tudo vira Bela Vista.
P1 – Ali pra cima, né? Da Nuno de Assis pra cima.
R1 – Da Nuno de Assis, se você pegar lá a parte do Alto Alegre, tudo se chama Bela Vista. Eu moro um pouquinho mais perto do Parque União e é conhecido como Bela Vista, né?
P1 – É. Você quer fazer alguma pergunta, Lu?
P2 – Sim. Vocês já caíram direto no mercado de trabalho? Ou pensaram assim: “A gente pode ter uma carreira acadêmica?” Eu sei que era difícil na época, mas na escola vocês deviam – você e o namorado – ter alguma matéria que vocês gostavam mais. Você não pensou em seguir uma carreira acadêmica, antes?
R1 – É, o meu marido, na verdade, seguiu a carreira do pai, né? Ele, desde muito cedo, foi trabalhar com o pai, se identificou com o ofício e até hoje ele trabalha na oficina. Eu tive, sim, vontade, sonhos, mas era um pouco mais difícil. Eu queria, na época, eu cheguei a pensar em fazer Odontologia, Direito, mas eu já fui direto pro mercado de trabalho mesmo, com 19 anos, logo que eu terminei o ensino médio.
P1 – Começou na Unimed... desculpa, Lu, pode ir. Desculpa.
P2 – Você teve oportunidade de escolher o ramo do comércio ou foi porque você conseguiu o emprego da Unimed, mesmo?
R1 – Não. Eu fui porque eu consegui o emprego da Unimed, mesmo. Era um emprego, na época, considerado muito bom e não foi escolha, não. Assim, dizer. Foi a oportunidade, mesmo, que surgiu.
P2 – Legal.
P1 – Mas aí, assim, quanto tempo você ficou na Unimed, como você encaminhou sua carreira?
R1 – Aí eu fiquei na Unimed um ano e meio, eu acredito, mais ou menos. Logo que a Unimed trocou a forma de atendimento, né, porque a gente emitia guia de consulta. O meu trabalho era emitir guia de consulta. E aí, quando chegou um pouco mais a parte de informática, naquela época, vamos dizer assim, as consultas passaram ser diretas nos consultórios médicos, com a carteirinha, né? Não tinha carteirinha, quando começou essa outra parte, a gente teve o desligamento. Nós éramos em cinco e só precisou ficar duas. Foram três desligamentos no mesmo mês. Aí eu fiquei um tempinho desempregada e logo depois eu entrei pra trabalhar no Sindicato dos Comerciários. Aprendi muita coisa ali dentro. Trabalhei com o Benone, com o Cabelo...
P1 – Com o Benone?
R1 – Sim, acho que eu entrei em 1993, em 1995... bom, e fiquei até quando eu casei. Fiquei um bom tempo, mais de cinco anos no sindicato e vi muita batalha ali acontecer, pela classe comerciária.
P1 – Era uma época, você está falando dessa batalha pela classe comerciária, vamos tentar detalhar um pouco. Era o que, anos 1980, meados dos anos 1980?
R1 – Não, já era mais, já. Já era 1995, mais ou menos.
P1 – E quais eram os desafios?
R1 – Na verdade, eu fiquei lá, acredito eu, que foi de 1995 a 2000. Eu casei em 2000. 1995 a 2000 eu fiquei no sindicato.
P1 – Mas quais eram os desafios dos comerciários? Por que é uma batalha?
R1 – Naquela época, principalmente. Eu não sei se hoje ainda continua. Eu acredito que hoje ainda continua sendo uma batalha, mas era a carga horária do comerciário, a dificuldade de escala, os direitos trabalhistas serem respeitados, principalmente o das mulheres. Muito abuso de poder. A parte que era mais complicada ali, naquele momento.
P1 – E o que você fazia, exatamente, ali, Renata?
R1 – O atendimento prévio, mesmo. Então, vinha primeiro pra mim as reclamações, aí eu via pra onde ia direcionar, essa parte ficava comigo.
P2 – E você saiu de lá por quê? Foi quando você casou?
R1 – Quando eu marquei o meu casamento. Esse é um preconceito também que a mulher sofre no mercado de trabalho, né? Quando você marca o casamento, quando a pessoa percebe que você vai entrar numa maternidade, muitas de nós temos o desligamento, por conta desse medo, vamos dizer assim, que o empregador tem, de perder o tempo da gestação. Logo que eu marquei meu casamento, eu recebi o comunicado do desligamento do sindicato. Embora fosse sindicato, eu também passei por isso, (risos) né?
P1 – E como você se organizou?
R1 – Então, na verdade, foi assim: o meu casamento estava marcado pra maio e eu fui desligada em fevereiro. Eu falei: “Eu não vou, muito em cima, realmente, do casamento”. Eu esperei meu casamento acontecer e quando foi em junho – eu casei em maio – eu já estava empregada numa outra empresa, completamente fora de tudo que eu já tinha trabalhado na vida, um novo desafio e eu fui trabalhar na Campneus, uma empresa de vendas de pneus e eu fui contratada como a primeira televendas, na época, pra trabalhar no setor de atacado. O que eles chamavam de setor de atacado era venda de pneu de linha pesada, de caminhão e implementos agrícolas. E no atacado a gente vendia somente pra empresas grandes, transportadoras, usinas e revendas. Então, esse era meu trabalho: vender no atacado pneu de caminhão e de implementos agrícolas. Um trabalho completamente dominado pelos homens, (risos) eu cheguei lá como mulher e sofri muito preconceito no começo, porque as pessoas falavam: “O que uma mulher entende de pneu de caminhão?” era muito, aprender muito pra ter propriedade pra falar a respeito e realmente senti na pele um mercado completamente machista, dominado pelos homens, que mulher não entende de carro, imagina de pneu! Era isso o que eu ouvia. (risos) Em 2000. E eu trabalhei lá até 2013, 13 anos nessa empresa, consegui, vamos dizer assim, me tornar ali uma referência em venda de pneu, de conhecimento mesmo e isso me trouxe uma satisfação muito boa, porque não só na parte profissional, mas essa parte de quebrar um pouco de paradigma, de que é pra homem ou pra mulher. É pra quem se prepara. O mercado é pra quem se prepara, pra quem estuda, conhece, né? Independente do seu sexo, né? É por competência, né? Não é se é mulher ou se é de homem, né?
P2 - Viajar também? Você saía da cidade pra vender em outra cidade?
R1 – Não. O meu era só por telefone, mesmo. Era só telefone. Meu trabalho era televendas, mas na época que eu entrei, era até muito engraçado: tinham três vendedores externos que faziam a região e eu brincava com eles, eu falava: “A hora que você chegar lá, eu já passei por onde você vai”. Quando eles chegavam, eu já tinha ligado em todas as empresas, já tinha vendido pra todas. Tanto é que foi uma coisa que acabou, com o tempo não precisou mais vendedor externo, precisou de mais uma televendas, que foi treinada por mim e a gente fazia todo esse trabalho, realmente, por telefone. Tinha um vendedor de suporte, que a gente chamava, porque às vezes precisava, fazia uma presencial, pra examinar um pneu ou pra tirar alguma dúvida mais técnica. Mas as vendas se tornaram praticamente 100% por telefone.
P1 – Por isso que você fala que você chegava antes.
R1 – Eu chegava antes.
P1 – Você fazia a venda pelo telefone e o outro vendedor ia presencialmente.
R1 – Estava na estrada, ainda. (risos)
P1 – Renata, como você se apropriou desse mundo, assim, desse conhecimento específico da área, do ramo de atividades, mesmo, de pneus pra implemento agrícola. Assim, primeiro seria bacana até você conceituar pra gente o que é implemento agrícola, pensando que a gente está trabalhando com uma entrevista pra vários públicos.
R1 – Na verdade, assim: pneus pra trator – implemento agrícola – máquinas de colheitadeiras, todas que usam pneus pra agricultura, a gente que vendia também.
P1 – Onde que você foi aprendendo?
R1 – Então, olha, o primeiro dia me disseram assim, no trabalho: “Cola naquele vendedor ali, que ele vai te ensinar tudo”. Eu colei nele, ele olhou pra mim e falou assim: “Não espere isso de mim”.
P2 – Vai roubar meu emprego, né? (risos)
R1 – “Não espere que eu te ensine nada”. Falei: “Tá bom, não precisa ensinar, vai fazendo aí, que eu vou ficando do lado, olhando, só”. E eu tive muita dificuldade, não tinha conhecimento, mas aí a Pirelli tinha muitos cursos, né, pra gente, on line também, presenciais e eu assistia todos. Principalmente os que ela disponibilizava na plataforma on line, eu assistia, lia, conhecia, buscava conhecimento, principalmente conhecimento técnico mesmo porque, às vezes, o meu atendimento era praticamente todo feito por telefone, mas às vezes, principalmente de sábado, baixava um caminhoneiro lá na loja, né? E aí, às vezes, eles vinham e perguntavam: “Que pneu você indica?” - por exemplo – “eu viajo pra Belém com carga seca” “Tem um estudo aqui, mostrando que tal pneu é com tal desenho, pra esse tipo de solo, pra essa temperatura que você roda, vai dar um resultado melhor”. Então, às vezes eles torciam o nariz e falavam: “O que essa menina está falando? Entende de pneu nada”, mas depois, com o tempo, eles acabavam percebendo que, realmente, o que eu estava falando tinha embasamento, conhecimento, propriedade, porque eu procurava conhecer, porque o bom vendedor é isso: você precisa conhecer o seu produto, pra poder vendê-lo. Então, é por isso que eu fiquei lá bastante tempo, fiz bastante...
P1 – E o que seu marido falava? Aproximou um pouco a área, né?
R1 – É, acabou aproximando um pouco a área, né? (risos) Nosso mundo ficou uma pouco... mas ele achava, também, muito engraçado uma mulher saber de pneu. Às vezes a gente estava em um ambiente familiar e alguém falava do pneu do carro, mesmo: “Será que está careca? Chama a Renata pra olhar, ela sabe. Será que o pneu desagregou?” “O que é desagregar? Ô, Renata”. (risos) Ficava, até, engraçada essa parte, né? E ontem ele chegou e falou pra mim: “Acho que o pneu do carro desagregou”. Eu falei: “Essa parte agora já não me interessa mais. Vai na concessionária, eu não quero mais, (risos) já passou, já foi”.
P1 – O que é desagregar o pneu, Renata? (risos)
R1 – Dentro do pneu tem uma carcaça e na carcaça nos pneus radiais ela é feita de aço. Então, às vezes acontece, com alguma pancada ou infiltração de água, ela desagrega, entorta, sai e você acaba perdendo o pneu, mesmo que a borracha dele esteja boa, mesmo que ainda seja um pneu novo, se a carcaça desagregar, você perde o pneu. Não tem aproveitamento, mais.
P1 – Esse é o termo correto: desagregar?
R1 – É. (risos)
P1 – Maravilha! Você ficou até 2013, você estava falando.
R1 – Sim.
P1 – Mas, assim, nesse meio tempo, você casou e teve as meninas, né? Você tem duas meninas?
R1 – Pra você ter uma ideia, voltando lá naquele preconceito que as pessoas têm, ainda, com a maternidade, eu entrei na Campneus em junho de 2013 - 2013, não, de 2000, 2013 foi quando eu saí - em junho de 2000, em janeiro de 2001 eu descobri que eu estava grávida da minha primeira filha e eu trabalhei até a última semana do meu nono mês, até uma semana antes da minha filha nascer, não perdi um dia de trabalho. Eu só me afastei na minha licença-maternidade, uma semana antes do nascimento dela, teve os quatro meses de licença e voltei tudo, fazendo meu trabalho, de forma normal. Depois fiquei grávida da minha mais nova, em 2005, a tive também trabalhando, voltei pro trabalho e, em 2013, quando eu me desliguei, tem uma outra historinha pra contar pra vocês, (risos) que aí começa a nascer a história do Donnas, né?
P1 – É, mas fala pra gente o nome das meninas e o dia que elas nasceram.
R1 – Maria Júia Moreto Birello, minha mais velha, a minha primeira, com 19 anos hoje. Nasceu em 2001, setembro. Hoje está com 19 anos. Estudante de Direito, no segundo ano, pretende ser juíza e a gente vai dar todo esse apoio pra ela. A Maria Clara Moreto Birello, minha caçula, hoje com 14 anos, ela é de ‘fevelelo’, como ela dizia quando era pequenininha. (risos) De fevereiro, agora mês que vem faz 15, cantora, compositora, agora no dia 29 desse mês ela lança uma música autoral, que vai estar em todas as plataformas aí da música, já tem 35 composições e é cantora de ‘sofrência’.
P1 – Ela tem esse apelido, né?
R1 – Conhecida como a Princesinha da Sofrência. (risos)
P1 – Por quê? Explica pra gente de onde surgiu esse apelido da Maria Clara.
R1 – Porque a referência dela é a Rainha da Sofrência, Marília Mendonça. (risos) Ela é a mini cópia aí, que canta e compõe o mesmo estilo da Marília Mendonça, né, que é conhecida como a Rainha da Sofrência, então ela vem como a Princesinha da Sofrência.
P1 – Como começou a carreira dela, Renata? Como é que tem início? Tão interessante, tãonova, né?
R1 – É muito interessante isso tudo, né? Eu falo: se a gente tiver a sabedoria... eu falo que acho que uma das coisas mais principais numa mãe é ter a sensibilidade de descobrir quais são os talentos dos seus filhos e apoiá-los. Se a gente tiver atenta. Porque às vezes nem a própria pessoa, criança ainda despertou, mas a gente, com o olhar de mãe, consegue identificar os talentos. A minha mais velha, desde pequena, um senso de justiça fora do normal. Eu já sabia que ela ia pra esse lado antes mesmo dela saber. No oitavo ano dela eu fui chamada no colégio, porque ela fez um abaixo-assinado pra colocar ar-condicionado na sala de aula. E fez todo mundo assinar e foi levar o abaixo-assinado e virou aquela polêmica e depois a escola entendeu que era uma benfeitoria, que ela estava lutando pelos direitos dos amigos, não só pelos dela e ela tinha argumento, então ela tinha esse senso de justiça e eu só identifiquei, apoiei, hoje ela sabe o que ela quer e está indo. A Maria Clara foi da mesma forma, era caneta, virava microfone desde pequena, ela cantava o dia inteiro. Você a levava numa loja de brinquedo, pra ela escolher, ela vinha com um violãozinho. Se ela não viesse com um violãozinho, ela vinha com um pianinho, era sempre um brinquedo musical e ela cantava desde a época do infantil, da escolinha, era ela no meio da turma, cantando. E a composição também sempre foi muito presente, mas era assim: ela inventava musiquinha pro gato, pro cachorro, colocava as bonecas todas no chão da sala e subia no sofá, como se fosse palco, pra fazer show. Sempre, desde sempre. E quando ela foi alfabetizada, com seis anos, quando ela conseguiu pegar uma caneta e um papel na mão e escrever, ela já começou a escrever música, Cláudia. Tenho música dela aqui com oito anos, eu tenho guardado aqui até hoje, que ela já estava escrevendo. E cantando.
P1 – Ai, que graça! E aí vocês começaram a apostar numa carreira, também?
R1 – Na verdade, foi uma coisa muito natural. Depois eu vou entrar nesse assunto da minha doença, que é onde me trouxe pro Donnas e, nesse período que eu fiquei, digamos assim, afastada do mercado de trabalho, sendo mãe em período integral, eu coloquei as duas pra fazer aula de violão. A Maria Clara tinha, na época, cinco anos, quando ela começou a fazer aula de violão. E uma habilidade, uma facilidade pra aprender, que o professor disse que era fora do normal. Tanto é que, com sete, eu precisei tirá-la da aula e ela, até hoje, tira notas musicais simples de música, de ouvido. Ela toca sozinha, vamos dizer assim. Ela reconhece as músicas e toca o que você pedir pra ela. Então, é Dom e aí ela começou a escrever histórias que ela ouve. Outro dia o professor, na sala de aula, contou, comentou que havia largado da namorada, que ele estava muito triste naquele dia de aula, porque ele tinha acabado um relacionamento e acabou desabafando dentro da sala de aula, ela chegou em casa e fez uma música com a história do professor. Não pode contar as coisas pra ela, viu, Cláudia, vira música. (risos) E são músicas, histórias de coisas que ela ainda não viveu.
P1 – Que ela ouve.
R1 – Relacionamentos, traições. Não viveu nem com ela, nem com o círculo familiar aqui, nem meu, nem meu marido, nem minha filha. Histórias que ela, realmente, vê em novela, em filme, escuta falar e vira música. Dom. Dom, mesmo, de Deus. (risos)
P1 – Graça, né? E a Maria Júlia, lá no Donnas, acaba sendo também seu braço direito, né?
R1 – Sim. Ela trabalha comigo essa parte mais burocrática, dos contratos, que já é uma coisa que ela gosta bastante, nessa parte de cuidar mais desses detalhes burocráticos. Ainda está aprendendo aí um pouco, também, do que vai ser o trabalho dela lá na frente, né?
P1 – Maravilha! Vamos retomar pra sua carreira, então.
R1 – Vamos embora!
P1 – Você está ali na Campneus, você ficou até 2013...
R1 – Então, Cláudia, na verdade, o que aconteceu? Pra eu comentar a respeito de como nasceu o Donnas, eu tenho que entrar, um pouco, numa situação pessoal que eu vivi, com a minha saúde e com a saúde da Maria Júlia, minha filha.
P1 – Você conta aquilo que você acha pertinente contar, tá?
R1 – É que não tem como falar do nascimento do Donnas, sem passar por essa minha transição de vida.
P1 – Sim.
R1 – Então, vamos lá! Quando a Maria Júlia tinha três anos de idade, ela tinha acabado de fazer três anos, nós, infelizmente, descobrimos uma cardiopatia nela, numa consulta de urgência, por conta de uma dor de ouvido, o pediatra suspeitou que tinha alguma coisa estranha no coraçãozinho dela, aí a gente foi procurar se informar, fazer os exames e descobrimos que ela tinha uma cardiopatia de... Bem grave (51:22). Como eu escutei do médico no dia que ele atendeu minha filha, ele disse pra mim: “Mãe, você quer salvar a vida da sua filha? A leva pra uma grande capital, um local que tem uma estrutura, um hospital de referência, porque ela tem um probleminha bem complicado no coraçãozinho”. Tinha três aninhos. Isso foi por volta de 2004. Eu trabalhava, né? A gente tinha que levá-la pra São Paulo todo mês. A primeira consulta que nós a levamos no Incor e o Incor nos recomendou fazer uma cirurgia, mas de alto risco, tradicional. Minha filha sofria de C.I.A. Eles falam Comunicação InterAtrial. O coração da gente tem dois átrios, e ela tinha, na parede que separa esses dois átrios, um buraco, segundo eles, do tamanho de uma moeda de um real. No coração de uma criança de três anos, é praticamente do tamanho do coração, quase, né, vamos dizer assim. Então, o sangue venoso misturava com o arterial e ela tinha um trabalho dobrado do pulmão, do rim e aí, o risco de ter alguma complicação em algum outro órgão era muito grande. Só que eles mesmos, lá no Incor, disseram que ela não suportaria a cirurgia, que seria de grande porte, existia uma possibilidade muito grande dela não resistir, passar por toda aquela cirurgia. Então, a gente voltou pra Bauru desesperados, sem saber o que fazer e, quando eu voltei pra São Paulo, num outro hospital, no Dante Pazzanese, que também é referência cardíaca, mas mais focado em infantil, encontrei uma médica que estava trazendo uma técnica nova dos Estados Unidos, que eles ainda estavam aprendendo, pra trazer pro Brasil, onde não abriria o peito, eles fariam através de cateter a cirurgia e colocariam uma prótese de titânio que, na verdade, nem seria ela que fecharia esse buraco, vamos dizer assim. Como ela é uma prótese peneirada, ela iria fazer com que o próprio organismo criasse uma epitelização em volta da prótese, então conforme o coração cresce, essa pele cresce junto, a prótese acaba sendo absorvida pelo tecido cardíaco e fecha aquele buraquinho e ela ficaria curada pra sempre, essa prótese não precisaria ser trocada. Seria definitiva. Só que ela não tinha calibre de veia, com três anos, pra entrar essa prótese. Então, a gente precisou aguardar dois anos. Então, durante dois anos, eu a levava pra São Paulo todo mês, pra gente ver como estavam os outros órgãos, olhar o coraçãozinho, aquela esperança de que ia fechar sozinho. Todo mês a gente ia pra São Paulo. Nessa época eu trabalhava naquele meu emprego, continuei produzindo, fazendo meu trabalho normalmente, com essa preocupação que eu tinha com ela. Quando foi em 2006, ela estava com cinco anos, não deu mais pra esperar, a médica nos chamou, falou que ela já estava tendo complicação no pulmão e no rim e precisava interferir realmente de forma urgente e fazer a cirurgia. A cirurgia dela foi feita em 19 de janeiro de 2007. Hoje, há 14 anos, eu estava dentro de uma UTI, cuidando da minha filha. Há 14 anos, no dia de hoje, eu estava dentro da UTI.
P1 – Exatamente 14 anos!
R1 – Exatamente 14 anos! E ela passou por essa cirurgia, a gente sabe que foi um milagre, porque foi tudo muito difícil: porque ela estava com os órgãos comprometidos, baixo peso, mas Deus é maravilhoso, poderoso, incrível, é o Deus do milagre e Ele me deu esse presente, me dando de volta a segunda vez a minha filha pra mim. Ela nasceu de novo nesse dia. Aí ela passou pela cirurgia e, enquanto essa prótese não criasse essa pele em volta, existia o risco dela cair e a própria prótese cortar o coração. Então, foram mais dois anos de São Paulo, de cuidar, de não deixar cair, de não deixar chorar, de não deixar passar nervoso, de não ir pra escola pra não correr risco. Então, foram dois anos muito críticos. Quando ela teve a primeira alta em dezembro de 2012, que a levei no hospital em dezembro de 2012, aí perceberam que a pele já estava pronta, que ela já podia ter vida normal, podia ir pra escola, estava tudo legal, então em janeiro – essa alta veio em dezembro e isso é pra sentir como que é uma mulher, uma mãe que realmente suporta tudo pelo filho, enquanto precisa e a hora que passa que a gente lembra que a gente existe – eu estava trabalhando em janeiro de 2013 e, no meu trabalho eu tive um... eu não sabia o que era, mas eu simulei um infarto. Eu tive uma crise de pânico. Foi um estresse pós-traumático, como os médicos diagnosticaram, depois de tudo que aconteceu e, por conta do estresse pós-traumático, eu desenvolvi uma síndrome do pânico e eu tive uma crise dentro do meu ambiente de trabalho, onde eu simulei um infarto, minha pressão chegou a ir pra vinte, eu fiquei internada três dias, como se eu realmente estivesse infartando, fiz todos os exames, até descobrir que realmente era um problema psicológico. Infelizmente eu desenvolvi a síndrome e eu passei dois anos da minha vida trancada dentro de casa, tendo crises de pânico diariamente.
P1 – É mesmo?
R1 - Uma síndrome chamada de hipocondria, eu tinha medo de doença. Então, tudo que eu ouvia na TV, ouvia falar que estava tendo, que alguém tinha tido, eu simulava e vivia os sintomas. Então, foram dois anos muito difíceis da minha vida, eu perdi o emprego, lógico. Na primeira crise de pânico, quando eu voltei da minha licença, eu já recebi minha carta de demissão, escutei do gerente aquela linda frase de que eu não seria mais competente como teria sido até aí, porque eu estava doente e fiquei desempregada e doente durante dois anos. Mas nesse período eu comecei a desenvolver uma coisa que estava trancada dentro de mim há muitos anos e eu cresci nesse meio, eu vivi nesse meio, mas de alguma forma, as situações do dia não me levaram a desenvolver isso, como ele me perguntou agora há pouco, se tinha sido por opção ou necessidade o primeiro emprego, aí sim agora veio por opção. O que aconteceu? Eu percebi que eu estava desempregada, eu tinha medo de voltar pro mercado de trabalho tradicional e voltar a ter crise de pânico e comprometer uma empresa, não era o que eu queria, não queria comprometer nenhuma empresa, então, quando os medicamentos começaram a fazer efeito, quando eu comecei a conseguir sair de volta pra rua, conviver com pessoas, eu tive a brilhante ideia de aí, então, retomar a minha vida como se eu tivesse lá os meus 19 anos. E eu fui fazer o quê? Eu fui fazer a minha faculdade. (risos) Com quarenta anos. Eu fui fazer a minha faculdade de Marketing e lá eu descobri uma paixão imensa pela reestruturação empresarial, organização, essa parte de consulta organizacional mesmo. E, dentro da faculdade, ali, eu fui convidada por um consultor de empresa, pra trabalhar com ele. Eu ainda não estava 100% curada, né, mas era pra aprender com ele e aí eu fui vendo essa parte de reorganizar uma empresa, como também estava acontecendo dentro de mim, de eu me reorganizar. Então, acho que a paixão foi por isso, porque estava acontecendo em mim essa coisa de me reorganizar, de me reencontrar e eu descontava nas empresas, porque eu reorganizava as empresas junto com ele, né, a gente ia cuidando dessa parte. E aí eu fui conhecendo essa parte do empreendedorismo. E esse consultor foi embora pra São Paulo, só que antes dele ir, ele me apresentou um grupo que tinha aqui em Bauru, chamado BNI, que inclusive é um grupo internacional de networking. E aí eles faziam uma coisa bacana, que era essa troca de indicação, essa ajuda mútua. Era um grupo misto, homens e mulheres, donos de empresa, um apoiando a empresa do outro. Só que quando ele foi embora, o grupo também acabou. E eu continuei trabalhando com consultoria. Só que a maioria das pessoas que me procuravam pra consultoria era mulheres. E essas mulheres sempre me pediam referências, de indicações de outras profissionais. Por exemplo: você está numa empresa, você sugere que a pessoa abra uma janela, pra ela poder ver o pátio, a produção. Fica mais fácil pra você ver a produção. “Re, legal, eu vou fazer isso. Você conhece uma arquiteta, pra me indicar?” “Não, eu não conheço”, “O seu escritório de contabilidade precisa ver isso” “Você conhece um escritório de contabilidade, pra me indicar?” “Não, eu não conheço”. E aí, nesse momento, eu lembrei daquele grupo, eu falei: “Espera aí, por que não montar, então, um grupo com pessoas que eu conheço, que eu confio, que eu posso indicar, pra essas meninas para as quais eu estou trabalhando?” E foi onde começou a surgir o grupo Donnas. Veio dessa necessidade, a princípio, pro meu trabalho, mas também com esse olhar de falar: “Espera aí, tem gente que eu posso ajudar, indicando. Então, ter esse grupo, essa rede, esse fortalecimento pra criar essa estrutura vai ser uma coisa benéfica pros dois lados. Ninguém perde”. Na verdade, num grupo de networking, ninguém perde. Todo mundo consegue ser beneficiado. E aí onde começou a surgir e aí veio, junto com isso, a minha recordação por tudo que é o empreendedorismo feminino, né? Eu montei um grupo só de mulheres, eu quis que o meu grupo de referência fossem mulheres, pra realmente apoiar o empreendedorismo feminino, pra poder fortalecer essa troca de indicação entre mulheres, essa sororidade que se fala tanto hoje, só que na prática, já desde quando a gente montou. A intenção principal era essa. E aí tem a minha referência do que é o empreendedorismo feminino, porque eu fui criada por uma empreendedora. Minha mãe, como eu disse no começo da entrevista, sempre trabalhou por conta, né? Quando eu era bem pequena, minha mãe costurava pra fábrica de calçados e vinham trazer os moldes dos calçados, pra ela costurar em casa. E depois ela começou a trabalhar sozinha. Ela fazia chinelinhos de parto. Então, ela vendia tanto na casa dela, como também revendia pra algumas lojas de Bauru. Muitas lojas de Bauru também vendiam o trabalho da minha mãe. E o que é o empreendedorismo feminino hoje, no meu ponto de vista? É isso, né? Essa mulher que às vezes está dentro de casa, como eu precisei ficar, sem uma referência de mercado de trabalho, de retornar, que nem às vezes algumas com crianças pequenas, outras com crianças doentes, outras com dificuldades diversas, vamos assim dizer e ela acaba se inventando ali, dentro das suas paredes de casa. Algumas começam pela culinária, vão fazer doce; outras costumam ir pra costura; outras, para o artesanato, mas o empreendedorismo feminino nasce dentro da casa da gente, muitas vezes, na maioria das vezes. Aí eu venho pra minha infância e me recordo: a minha mãe fazia chinelinho; a vizinha de muro fazia coxinha, pra vender nos bares da Bela Vista; a vizinha de baixo vendia Avon; a vizinha da frente fazia marmitex, comida caseira. Então, esse mundo, quando eu adoeci, que eu saí do mercado tradicional de trabalho e eu comecei a olhar, eu falei: “Espera aí, existe um mundo que precisa de apoio, que são essas mulheres, que muitas delas, como o exemplo da minha mãe, sabiam produzir, sabiam confeccionar o seu produto, mas não sabia vender”. Eu sabia, né? Eu fui aprender isso, mas não sabia onde vender, como buscar. Então, a rede do Donnas é pra trazer o apoio pra essas mulheres, nessa hora também. E aí nasceu o grupo, acabou se tornando o meu principal trabalho. As consultorias ainda acontecem, ainda faço algumas consultorias, ainda gosto disso, mas eu quis me aprofundar mais nessa parte de, realmente, dar esse resguardo, esse apoio para as empreendedoras, para as mulheres, que às vezes se afastam do mercado de trabalho, por alguma situação, como aconteceu comigo e depois não conseguem voltar, porque quando eu, vamos dizer assim, me curei da minha síndrome do pânico, quando eu retomei, eu tinha mais de quarenta anos, o mercado de trabalho não aceitava mais. Independente de eu ter uma nova formação, de eu ter uma experiência boa. E muitas mulheres passam por isso: às vezes elas se afastam por conta da maternidade ou por algum outro motivo e quando elas querem retornar o mercado de trabalho, elas não são mais aceitas. Existe, infelizmente, esse preconceito. E aí elas precisam se reinventar e muitas aí, na verdade, não é nem se reinventar, é renascer de uma vontade que elas tinham lá atrás, que elas não puderam desenvolver, como responde a pergunta do Luís, que não era por opção, escolha, era o que tinha, vamos dizer assim e aí, quando você se reencontra, vai por necessidade ou por amor, vai realmente no que é do seu coração. E tem muitas mulheres que passam por isso.
P1 – Sim.
R1 – Voltam pra sua verdadeira vocação, pro seu verdadeiro amor, pro seu verdadeiro trabalho, às vezes por uma situação assim.
P1 – Da situação pessoal, da necessidade de resolver a situação pessoal, muitas vezes financeira, ela reinventa e se torna... o empreendedorismo está, um pouco, latente, ali, mas ela assume, desabrocha.
R1 – O que acontece? O que eu vejo, muitas vezes: existe uma interpretação errada do que é o empreendedorismo. Muitas vezes as pessoas acreditam que uma empreendedora é uma empresária bem sucedida, dentro de um...
P1 - ... terninho?
R1 – Terninho, né? (risos)
P1 – Está na capa da Exame, né?
R1 – É. Muitas vezes dentro de um terninho, pegando um avião aqui e descendo lá. Não vou dizer que elas também não sejam empreendedoras, mas o que realmente é o empreendedorismo feminino? O que realmente sustenta 53% dos empreendimentos comandados por mulheres, dentro do Brasil? Elas estão sujas de farinha, dentro de casa e ainda cuidando dos seus filhos. Elas estão com as unhas sujas de tinta, fazendo seus artesanatos e, ao mesmo tempo, mamadeira. Essas são as empreendedoras que movimentam a economia do Brasil. São essas mulheres que precisam de apoio, de ajuda, de incentivo, se unir, trocar experiências, indicações, carteira de clientes, coisas que elas não sabem fazer, que o networking vai ensinar. Então, esse é o verdadeiro empreendedorismo feminino. É aquela segunda renda necessária. Falo assim que o que me traz na minha lembrança o porquê eu falo que o empreendedorismo precisa mudar a vida de alguém, mas principalmente ele precisa mudar, primeiro, a vida da sua família, do seu círculo. Que foi o que a minha mãe fez dentro da casa dela. Como eu disse lá atrás, no começo da entrevista, nós tínhamos uma condição que não faltava nada. Não éramos ricos, ohhhhhh, mas nunca faltou nada dentro da nossa casa. Porém, tudo que eu precisava ou eu queria, a mais, que muitas vezes, para o pai, é luxo, não precisa disso, eu recorria à minha mãe. E era o dinheiro do chinelinho que ela fazia, do empreendedorismo dela, que ela satisfazia essas minhas vontades. Então, é esse empreendedorismo que muda o mundo, porque muda uma pessoa, muda a condição da sua família, ajuda a você sair daquela mesmice, fazer um pouquinho a mais ali dentro. Isso é o verdadeiro empreendedorismo feminino, que vai transformando o seu meio, pra depois transformar a sociedade, entende? Ontem à noite eu estava deitada na minha cama e eu perdi a minha mãe faz nove meses, agora dia 18 desse mês completou nove meses que eu perdi a minha mãe e ontem bateu uma saudade forte dela, sabe? E aí eu estava deitada na cama e eu estava lembrando quantas vezes eu chegava, assim e falava: “Mãe, queria comprar um sapato assim, assim e assado” e ela falava assim pra mim, baixinho, às vezes, porque o pai da gente fala assim: “Mas você tem dois pares lá novinhos, pra que mais?” e a mulher entende a necessidade da mulher, né? E aí eu ia nela e ela falava: “Espera, que a semana que vem a mãe vai entregar um chinelinho e a mãe compra pra você”.
P1 – Que graça!
R1 – Aí, ontem à noite, eu deitada pensando, falei assim: “Quantas coisas o empreendedorismo da minha mãe proporcionou a mim e me fez uma pessoa melhor! Se me fez melhor e faz o meu vizinho melhor, faz uma sociedade melhor, entendeu? Não importa que é pouco!” A empreendedora não precisa ser aquela empresária que está na capa da Forbes. Não precisa. Ela tem que estar na capa da memória do seu filho, na mudança de vida dentro daquela casa. Essa é a empreendedora que muda o mundo. É essa, ela está mudando o mundo dela. Se ela muda o mundo dela, ela muda o mundo inteiro!
P1 – Ela põe pra circular uma série de coisas no entorno dela.
R1 – Exatamente. E aí, o que eu tenho no nosso grupo, hoje? Tenho, desde as grandes empreendedoras, que têm clínicas conceituadas e tenho aquela que confecciona artesanato dentro da casa dela. E eu vejo as duas com o mesmo olhar, de potencial de mudar o mundo. Porque elas estão mudando, primeiro, o mundo da casa delas. E aí ela vai mudar um ser humanozinho (ser humaninho*), que vai também ser melhor lá fora depois. Então, hoje, o Donnas vem pra trazer esse apoio à mulher empreendedora, que muitas vezes não se vê como empreendedora. Ela se acha assim: a segunda renda da casa, meu bico, um dinheirinho extra, mas muitas vezes esse dinheirinho extra é o que mais conta na vida dos filhos.
P1 – Faz a diferença.
R1 – Faz a diferença de pagar um curso. A minha mãe me pagou curso na minha adolescência. Pagar uma natação pro seu filho. Pagar uma escola de inglês que, às vezes, se você tirar do orçamento do chefe da família, não vai dar. Mas ela, ali, com seu docinho, bordado, com seu extra, consegue. E aí ela está mudando a história do filho dela. E, se ela muda a história do filho dela, ela muda a história do mundo, concorda?
P1 – Super. (risos)
R1 – Então, isso, é essa a paixão que eu tenho pelo empreendedorismo, pelo trabalho da mulher. Só que eu precisei passar pela dor, porque eu não via isso. Isso estava dentro de mim, porque eu tinha referência da minha infância. Só que o mercado de trabalho me colocou numa coisa CLT, carteira assinada, 13º, férias. É isso que você precisa. Dia de semana corrido. Quantas vezes, Cláudia, eu não tinha realmente tempo de participar de uma reunião de escola da minha filha. E como eu fui perceber isso depois, que isso é uma das agis*(01:15:43) que eu tenho hoje, sendo empreendedora, do meu horário e que eu posso participar. “Re, mas você não tem férias”. (risos)
P1 – Será que você não tem férias?
R1 – Eu posso ter.
P1 – “Re, você não tem 13º” “Tenho. Eu aprendi fazer a minha gestão, porque o 13º CLT também é tirado de você durante o ano e por que você não pode aprender fazer uma gestão financeira e se programar pra ter um 13º no final do ano, você mesma? Então, são coisas que a gente não foi criado, não aprendeu a fazer. E é essa falta que eu vejo, de apoio pra o empreendedorismo feminino. Pra ajudar essas mulheres a ter esse reconhecimento do que elas fazem. Não são bicos, uma coisinha. Não. Elas representam 53% dos empreendimentos do Brasil.
P1 – É muita coisa!
R1 – Não é pouquinho. Só que, na cabeça de muitas, esses 53% são as que estão lá na mídia. Não. Não são só elas. Nós também. Dentro de casa, fazendo a marmitinha fit, que agora o pessoal... está ajudando muito as mulheres, essa nova onda de marmitas fit. Eu conheço várias, várias mulheres que estão sustentando famílias dessa forma. Então, isso também é capa de revista, mas não aparece, né, Cláudia?
P1 – (risos) Não.
R1 – Infelizmente, ainda não.
P1 – Deixa eu perguntar pra você: tem esse momento que você tem essa percepção e, nesse momento de mudança da sua vida, você tem a consultoria e começa a pensar o Donnas. Como é que você estruturou o Donnas como rede, né? O bacana do Donnas é que é uma rede também. Mas como você foi estruturando? Por quanto tempo você ficou estruturando? A história do Donnas agora.
R1 – Na verdade, quando eu comecei, eu falei assim: “Não, eu vou colocar o negócio pra rodar, né?” Estava dentro da minha cabeça, aí você fala: “Mas será que vão me apoiar nisso? Será que, realmente, vão querer participar disso, como que eu faço?” Aí, primeiro, eu fui nas pessoas com quem eu tinha mais conhecimento, falava, apresentei a ideia pra algumas amigas, falei: “Eu trabalho com consultoria, sempre me pedem indicação de profissionais de diversas áreas e eu quero montar uma rede, pra que eu possa indicar e que também vocês possam, uma indicar a outra”. Me veio, na época, muito forte, a música do Roupa Nova, Dona: “Dona dos seus ideais, de sonhos tão reais”. E quando a gente também fala a respeito de uma lojinha, uma não sei o que, a gente fala: “Quem é a dona?” Então, meu grupo vai chamar Donnas e eu vou reunir mulheres, pra gente entrar nesse mesmo propósito, de uma ajudar a outra nessa troca de indicação, nessas parcerias. E aí começou com algumas amigas. Quando eu vi, eu tinha dez. Dessas dez, cada uma chamava mais uma ou duas, tinha vinte. E em menos de um ano a gente chegou a ter oitenta meninas dentro do nosso grupo.
P1 – Nossa!
R1 – Oitenta Donnas! Depois, oitenta, pra mim, estava um pouco pesado comandar, (risos) controlar, porque não é fácil lidar com a mulherada também, né gente? Vamos lá! (risos) Muito, né? Aí, eu reduzi pra cinquenta e poucas e a gente fez um trabalho bacana e a gente foi tocando dessa forma. Me falta braços pra montar um segundo Donnas. O Donnas tem, hoje, já, patente, registro e a nossa próxima intenção é transformá-lo em franquia e poder levar esse projeto e esse propósito pra todas as cidades de Bauru (São Paulo*), porque as mulheres precisam se reunir, por que o que é a base principal do nosso grupo? Que os meus clientes também se tornem clientes da minha outra amiga e da minha outra participante do grupo. E as clientes dela também se tornem minhas clientes. E assim a gente faz essa rede crescer cada vez mais e uma ajudar a outra cada vez mais. E é isso. (risos)
P1 – O que eu gostaria que você falasse é a questão dos segmentos, como você organiza, como você convida? É indicação?
R1 – Então vamos lá: sempre, pra vir pro Donnas, a gente pede que seja indicada por alguma outra Donna. Ou, muitas vezes, eu, vendo pelas redes sociais, reconheço uma empreendedora com potencial pra ser Donna, porque tem que ter essa vontade de querer ajudar a outra. Acho que o requisito principal pra você ser uma Donna, é você querer também ajudar outra mulher. Então, às vezes, dentro das redes sociais, eu identifico alguém, chamo no privado e faço o convite, pergunto, mas dentro do nosso grupo, nós temos apenas uma representante de cada segmento e isso é o que realmente ajuda o grupo a se fortalecer. Nós não temos duas fazendo a mesma coisa, pra não ter aquela concorrência interna, vamos dizer assim. Por que, o que acontece? Vamos supor: eu tenho uma nutricionista e uma personal trainer. É lógico que uma vai indicar o trabalho da outra pras suas clientes correspondentes, certo? Só que se eu tenho duas nutricionistas e essa personal indica só uma, a outra nutricionista não vai indicá-la, porque é recíproco, não é? Então, por isso, uma só de cada, pra que a gente possa, realmente, ter essa troca de indicação, sem causar aí uma situação constrangedora dentro do grupo. Então, sempre uma representante de cada segmento.
P2 - Legal. O que mais...
P1 – Fala, Lu.
P2 – Não, eu ia perguntar: eu sei que são muitas, mas o que mais tem, as especialidades? Agora você deu exemplo, né?
R1 – Infelizmente, o nosso grupo teve uma redução bem drástica agora, na quarentena... não, pandemia. Algumas, infelizmente, tiveram seus negócios fechados; algumas tiveram que parar e ir pro mercado de trabalho CLT; outras tiveram que sair, até mesmo por conta de economia. Então, a gente teve uma redução bem significativa nesse período. Uma coisa que nos deixa triste, né? Mas temos segmentos diversos. Hoje, nós temos dentro do grupo, nós estamos com quarenta meninas. Trinta e oito, quarenta meninas. Médicas, dentistas, manicure, temos artesãs, doceiras. Todas são importantes. Moda masculina, designer de sobrancelha, arquiteta, advogada, todos os empreendimentos. Não existe um empreendimento que não seja interessante pra estarem aqui no Donnas. Todas são necessárias. Todas são importantes. Todo serviço é necessário. Do mesmo jeito que eu preciso de uma ginecologista, eu preciso de uma manicure, (risos) entende? Não tem a diferença. A gente precisa de todos os serviços. Todas são importantes. Não existe um segmento que não seja importante. Todos são. Eu preciso da marmita, eu preciso da advogada, eu preciso no meu dia a dia, de tudo. Então, todas são bem vindas no grupo. Todas são necessárias no grupo. Todas. Todos os empreendimentos. Todos os segmentos. Todas as mulheres. (risos)
P2 – Legal.
P1 – Como é que, antes da pandemia, estava, assim, a operacionalização? Você tinha uma reunião mensal? Vamos falar antes e depois da pandemia.
R1 – Nosso grupo estava super ativo, super ativo, super ativo. A gente vinha numa pegada bem gostosa, as meninas se conhecendo. A gente tinha, na época, duas reuniões mensais: uma reunião de network, que a gente chama de apresentação mesmo, do serviço, onde uma Donna tem tempo, dentro da reunião, pra falar sobre o seu trabalho, pra mostrar seu produto, pra que as outras conheçam e possam indicar. Então, nós tínhamos duas reuniões: uma de network, de apresentação e uma outra reunião, que a gente chama de Capacitadonna. Que é uma reunião que vem trazer um conteúdo, pra ajudar essa Donna, que nem eu disse lá atrás, a ver o negócio dela como, realmente, um empreendimento, uma empresa, né? Então, no Capacitadonnas, a gente tem uma palestra que vai falar sobre diferença de MEI, ME, dessa parte burocrática. A gente tem uma reunião do Capacitadonnas, que vai trazer informação a respeito de direito do consumidor e a gente sempre usa as próprias Donnas, pra fazer o Capacitadonnas. Então, a advogada do grupo vai lá fazer um treinamento falando a respeito de como é que você vai conhecer quais são seus direitos, deveres, quais são os direitos do seu cliente, os deveres dele. Na outra reunião, a gente vai levar a menina que representa o segmento de escritório de contabilidade, pra ensinar como é, qual é melhor você escolher, se é MEI ou ME. Numa outra a gente vai levar nossa consultora financeira, pra falar a respeito de como você vai cuidar do seu dinheiro, como você vai fazer um caixa dois, como você vai fazer sua reserva pra 13º, pra você ter umas férias. Então, o Capacitadonnas serve pra isso: pra ajudar as Donnas a se capacitarem nos seus negócios, no seu trabalho. Eu me formei como coach também, há uns dois anos, eu fiz um treinamento de coach. Então, eu trago muito, também, pra elas, alguns treinamentos falando a respeito de autoconhecimento; gestão de tempo; gestão da emoção, que é tão necessária pra mulher. Então, trago isso também, pra elas, dentro do Capacitadonnas. Então, nosso grupo estava nessa pegada gostosa, de ter reunião pra conhecimento, pra network, pra mostrar trabalho, produto. Tínhamos acabado de fazer, no mês de março...
P1 – Comecinho de março, né? Sorte, né, Renata?
R1 – Ainda bem que foi no começo, porque deu tempo. A gente fez o evento de Dia das Mulheres, lá na Casa do Médico. Um evento lindo, com várias palestras das Donnas, mostrando o conhecimento delas pra sociedade e pra ajudar a comunidade também. Trouxeram os seus produtos também, pra mostrar, que a empreendedora é aquela que vende docinho também, que vende os artesanatos. Trouxemos vários temas interessantes pra sociedade, falamos sobre violência doméstica, com a nossa advogada. Falamos sobre o cuidado da saúde da mulher, com a ginecologista do grupo. Falamos sobre vários temas. Não me lembro tudo. Um sábado inteiro.
P1 – Ali naquele evento, deixa eu te perguntar, que eu acho muito interessante como você estrutura as áreas afins, os debates das áreas afins. Foi quando eu conheci o Donnas, perto do Dia das Mães, ali, que era o cuidado com a criança, na nutrição, no levar. Essas áreas correlatas que conversam e convergem e podem trabalhar juntas. Você incentiva muito isso, né?
R1 – Então, foi uma dificuldade que eu percebi quando... é que quando você sente na pele, você, por identificação, sabe o que o outro está passando, né? Como eu passei por algumas dificuldades, quando eu vim pro empreendedorismo, quando eu comecei a trabalhar por conta, uma delas, foi até por isso que eu fui buscar essa ajuda da neurociência, no meu treinamento de coach, PNL, pra conhecer um pouco mais essa parte, porque a mulher acaba se cobrando muito, a gente é muito crítica com a gente mesma e quantas eu ouvia falar assim: “Eu estou dentro de casa, às vezes e não tenho tempo pros meus filhos. Aí eu vou dormir, falo: ‘Poxa, o dia passou e eu nem dei a atenção que eu podia’”. Então aí, vendo essa dor, identificando essa dor comum, na maioria das mulheres, eu trouxe a palestra de gestão de tempo pra auxiliá-las a dividir seu tempo, porque quando você está no mercado de trabalho lá fora, você cumpre o horário. Quando você está fazendo o seu trabalho dentro de casa, muitas vezes você não tem o seu horário, você vai direto, né? E aí não, não é o correto. Você tem que ter um profissionalismo também de ter o seu horário, pra entrar no seu ambiente de trabalho. Às vezes eu brinco com as meninas e olha que as minhas meninas são grandes, eu falo: “Estou indo trabalhar”. Vou sentar, pode ser na mesa da cozinha, mas é meu trabalho. Eu estou trabalhando. De tal hora a tal hora eu estou trabalhando. Porém, de tal hora a tal hora eu sou mãe, eu sou dona de casa. Eu tenho que ter o meu tempo pra isso também. Então, identificar essas dores que as empreendedoras têm, é uma paixão minha, pra poder também ajudá-las a curarem isso, a superarem essa parte, que são várias, né? “Olha, às vezes eu tenho dificuldade na parte da gestão financeira” “Espera aí, vamos arrumar alguém, vamos conversar, vamos sentar aqui, vamos fazer uma gestão, fazer divisão disso”. Então, identificar essas necessidades, essas dores, pra poder trazer ajuda pra elas, né?
P1 – Maravilha! E você usa muito as redes sociais, né?
R1 – Então, eu deveria usar um pouco mais. (risos) Eu me cobro, às vezes, ainda, um pouco, a respeito disso. Acredito que eu tenho conteúdo e conhecimento pra ajudar mais pessoas através da rede, mas ainda sinto um certo bloqueio em mim. É algo que eu estou trabalhando e preciso superar, pra poder atingir mais pessoas, mais mulheres. Eu uso a rede hoje com as Donnas, levo o conteúdo delas, mas eu acredito que a gente sempre pode melhorar, né, Cláudia? E eu preciso trazer um pouco mais do Donnas pra dentro das redes sociais, principalmente agora na pandemia, deu pra identificar essa necessidade, viu?
P1 – Mas tem estruturas: o Indica Donnas, a Visita Uma a Uma. Fala dessas estruturas que você tem dentro da rede.
R1 – A gente tem o que faz com que a gente alinhe um pouco e aproxime um pouco mais uma da outra. Então, o que é o Donnas? Vamos lá! O dia a dia do Donnas: então, toda segunda-feira nós temos um grupo no whatsapp, onde ficam todas as Donnas e toda segunda-feira eu faço uma sugestão de visita uma a uma. Então, pelo menos uma vez por semana, uma Donna tem que visitar uma outra Donna. Conhecer de perto o ambiente de trabalho dela, o produto dela, o serviço dela, pra que possa indicar o trabalho dela. E aí a gente também pede que essa Donna vá na rede social e indique a outra e a outra indique a uma, né? Uma indicando a outra. Então, aí, a gente faz essa indicação na rede: “Olha, eu indico essa Donna, essa Donna faz tal coisa, esse tal produto, essa é a página dela”. Nos stories, no feed, como a Donna preferir, mas sempre fazendo essa troca de indicação pro seu núcleo de convivência, que é, sempre, diferente uma da outra. Por isso que agrega mais cliente. Você vai expandindo. Eu vou falar do trabalho da Cláudia, pra pessoas do meu convívio, pras minhas vizinhas, pros meus familiares, pros meus amigos, que não são vizinhos, amigos ou familiares da Cláudia. Então, eu possibilito que ela tenha mais pessoas conhecendo o trabalho dela. E o mesmo jeito ela vai fazer comigo: vai falar sobre o meu trabalho pras vizinhas, pros amigos e os familiares. Então, essa é Uma a Uma, que a gente faz toda semana. E tem a troca de indicação nas redes sociais: uma compartilhar o story da outra, comentar no post da outra. É o que vai fazendo o network acontecer. Criamos o Compre das Donnas no Instagram e lá a gente coloca, todos os dias, os produtos e serviços das Donnas. Então, o Compre das Donnas é uma vitrine, só de produtos e serviços de Donnas.
P1 – Renata, você acaba trabalhando - eu acho que indiretamente, mas eu quero saber de você – com a questão da autoestima?
R1 – Da mulher? Lógico! Quando você empodera uma mulher, a autoestima dela também levanta. Quando você fala pra ela que ela é necessária pra economia do Brasil, não tem como ela não se sentir poderosa! Mostra pra ela que ela muda o mundo, não tem como você não aumentar a autoestima dela. É automático. Só que, às vezes, ela não tem essa visão. Ela acha que o que ela faz é pouco. Ela acha que o que ela faz é só ali, pro ambientezinho dela. E, na verdade, não é, porque é dali que sai tudo, né?
P1 – Gira toda uma economia.
R1 – Exatamente. E uma transformação de vida. Ela transforma a vida dos seus filhos, dos seus familiares, ela traz uma condição melhor, ela está transformando o mundo. Então, quando você consegue fazer a mulher tomar consciência que ela tem esse poder; que ela faz isso; que ela é, sim, uma força da economia, você está aumentando a autoestima dela, a empoderando. Você está fazendo ela se reconhecer como uma peça fundamental pra sociedade. E isso, automaticamente, faz a autoestima mudar e uma mulher com a autoestima lá em cima, (risos) fica muito mais poderosa ainda, né? (risos)
P1 – Você acha que a gente precisa falar de mais alguma coisa, Renata, que ficou faltando? A gente já falou: a Maria Júlia te ajuda muito, está sempre presente nas reuniões presenciais, né?
R1 – Sim. Bom, eu falo que o maior presente que eu tive, que eu reconheço hoje, foi ter oportunidade de criar duas mulheres. Eu falo pra elas, todo dia, aqui em casa: “Eu sou tão feliz, de saber que a minha geração vai ter sequência por vocês, que vocês vão continuar podendo ajudar mulheres depois”. Falo pra Maria Júlia: “Você, com o curso que você está fazendo, com a opção profissional que você escolheu, vai poder ajudar muitas mulheres”. Falo pra Clara: “Você vai ajudar, através da sua música, também, muitas mulheres a se reconhecerem nas suas histórias, nas suas superações”. E isso é o importante. Isso é valorizar a mulher: valorizar seu talento, seu dom.
P1 – Como que o Ricardo vê tudo isso, seu marido?
R1 – Meu marido, como ele vê tudo isso? (risos) Ele é minoria aqui em casa, né? (risos)
P1 – Total.
R1 – Ah, ele admira. Ele vive dizendo que admira essa reviravolta que, muitas vezes, sabe o que acontece, Cláudia? Às vezes a gente leva um pé na bunda, como aconteceu comigo, no meu trabalho. O que eu ouvi quando eu fui demitida, que essa doença, esse problema meu não tem cura, é uma doença psicológica, você pode ter recaída qualquer hora, então você nunca mais vai ser competente, você vai ser dependente o resto da vida, você não serve mais pra nós. Então, muitas pessoas, numa situação dessa, realmente se isolam da vida. Acreditam nisso e realmente morrem, por si. E pra mim aconteceu um pouco ao contrário, eu falei: “Quê! Como assim? Não. Espera aí, eu posso começar de novo, não me interessa que eu tenho quarenta anos, eu vou voltar pra faculdade, eu vou trabalhar com o que eu gosto, eu vou fazer o que eu quero, eu vou ajudar pessoas, eu vou olhar pras mulheres que passaram ou estão passando ou vão passar pelo que eu passo, pelo que eu passei e eu preciso ajudá-las a se reinventarem, eu preciso dizer pra elas que elas podem fazer o que elas sabem fazer virar um negócio rentável. Ninguém contou isso pra elas. Mas dá. Dá pra contar que o pouco, que você acha que é pouco e que você sabe fazer, pode se transformar na economia da sua família. Tem histórias de empreendedoras, eu fico apaixonada pelas histórias que eu escuto dentro do grupo. Tem histórias das meninas que passaram... tanto é que o grupo Donnas virou livro, né?
P1 – Livro! (risos)
R1 – Aconteceu que primeiro eu fui convidada pra escrever um livro, contar a minha história – que é esse - e aí, quando eu comentei das histórias que tinha dentro do Donnas, houve interesse de contar a história de cada uma dessas mulheres, porque tem história, por exemplo, de uma delas, que o marido não a incentivava abrir o negócio dela, falava que não, que ela tinha que trabalhar fora, que tinha que ter dia pra ganhar dinheiro, tal, tal, tal. Ela insistiu, começou o trabalho dela. O trabalho dela virou, primeiro, um a mais, como chama, dentro de casa, esse a mais superou a renda do marido, se tornou a economia principal dentro de casa, o marido, infelizmente, foi demitido da empresa e hoje trabalha pra ela! Entende? Coisa que ele não apoiava, achava que não era trabalho. Então, tem histórias de superação maravilhosas dentro do grupo! E quando uma delas conta isso numa reunião, incentiva todas as outras. Nas nossas reuniões tem o momento de cada uma falar sobre a sua história, sua trajetória, exatamente pra isso, pra incentivar a outra, que está começando, que está passando por um momento de dificuldade, a falar: “Não, espera aí. Ela começou...” Tem uma Donna dentro do nosso grupo, que abriu a primeira ótica dela com dois mil reais. Consegue? Entende? Conseguiu fazer uns bem bolados consignados, tinha o dinheiro só do primeiro aluguel, enfiou a cara e hoje marido e os dois filhos trabalham com ela. Isso é incrível de você ver! Então, quando você olha pra isso realmente com um olhar de apoio, cara, tem tudo pra dar certo, né?
P1 – É.
R1 – É só acreditar, fazer acreditar.
P1 – Agora, assim, a gente está vivendo... teve a reunião do Donnas ali dia oito de março, foi o último grande evento de Bauru, eu diria, quase. (risos)
R1 – Foi.
P1 – Por causa da pandemia, mas a pandemia também acho que trouxe muitos desafios e aprendizados, né? O que você percebe, em termos das mulheres empreendedoras, que você já comentou que muitas delas tiveram que encerrar o negócio, dar um tempo, até afastando do Donnas, mas quais são, no seu olhar, os principais aprendizados, lições da pandemia, em termos de mulheres empreendedoras?
R1 - Muitas delas tiveram a oportunidade de ir pras redes sociais, coisa que ainda não faziam. Acho que a pandemia forçou a gente a ir pro mercado digital, né e isso foi positivo. Porque eu falo que tem coisa que a gente só vai meio que na marra, né, Cláudia? (risos) E aí foi bom, porque muitas delas acabaram desenvolvendo essa outra habilidade, que é a venda on line, o mercado digital. Outra coisa que a gente aprendeu na pandemia é que a união, muitas vezes, não precisa ser física, não precisa estar perto. E principalmente essa troca de indicação que está sendo feita através das redes sociais, dos stories, é uma coisa que mostrou que a gente pode estar unida, mesmo de longe. Se apoiando e se incentivando, mesmo de longe. Fizemos as nossas reuniões on line. Não é a mesma coisa? Não é. Não temos em frequência? Não tem. Porque a mulherada gosta de estar junto, né?
P1 – Tomar café...
R1 – ... bater um papo, que as nossas reuniões eram regadas disso, né? Tem, lógico, a intenção principal, que é o network e tudo, mas não deixa de ter também aquele momento de interação...
P1 - ... da alegria...
R1 - ... convivência, socialização, mesmo.
P1 – E tem a exposição dos produtos, de muitas delas, né?
R1 – Tem.
P1 – Então, você pode comprar, conhecer o produto da outra.
R1 – Exatamente. A gente incentiva, realmente, dentro da reunião, que leve os produtos, porque às vezes você tem um aniversário naquela semana, um presente pra alguém, você já tem ali na mão, porque a intenção principal é essa: além de indicar, consumir dentro do grupo, pra fortalecer mesmo o nosso...
P1 - ... negócio, ali, né? Fortalecer os negócios.
R1 – É, nossos negócios. Exatamente. Então, o incentivo é que sempre compre ou utilize os produtos e serviços dentro do grupo.
P1 – Você acha que, então, o digital foi o caminho, assim?
R1 – Foi um aprendizado que nós tiramos da pandemia: que a gente precisa se fortalecer um pouco mais no digital também, né? Também.
P1 – Maravilha! Você acha que ficou faltando alguma coisa que eu não tenha perguntado, Renata? A gente está há quase duas horas conversando.
R1 – Jura que passou tudo isso? Eu nem senti. (risos)
P1 – É. (risos)
R1 – Falou de tudo um pouco, né, Cláudia? O grupo é complexo, as ideias vêm todos os meses, aí eu vou acrescentando coisas que eu acho que precisa, é um grupo em construção, não é um projeto fechado, formalizado, pronto. Não. É um grupo aberto, de cabeça boa, que aceita sugestão, que agrega, que traz novas ações todo o tempo, que aceita dicas das meninas, dicas de fora, sempre atento a melhorar. Tem intenção, uma vontade muito grande de ter apoio pra fazer uma plataforma de estudos pra elas, de forma digital, cursos, treinamentos. Eu gostaria muito de trazer isso pras Donnas. Eu acredito que isso ajudaria muito, ter treinamentos pra elas, on line, pra elas poderem assistir e aprender, no horário que elas podem. Que a gente sabe que o empreendedor, muitas vezes, tem que fazer os seus horários diferentes um do outro, né? Então, tem planos, projetos aqui dentro dessa cacholinha, que não para de pensar, principalmente de madrugada e coisas que eu quero, ainda, fazer por essas meninas, que eu tenho vontade de trazer pro nosso grupo. E aumentá-lo cada vez mais, aumentar essa rede, aumentar nossa força, apoiar essas mulheres, ajudar essa economia. É isso.
P1 – Não vou nem perguntar qual é o seu sonho pro Donnas, que você já falou. Agora, e na vida pessoal, qual é o seu sonho?
R1 - Hoje os meus sonhos são os sonhos das minhas filhas, vamos dizer assim. Que a gente começa a reviver toda essa... é uma fase gostosa demais quando a gente vê os nossos filhos direcionando o seu futuro, o seu profissional, sua vida, né? E hoje é ver, realmente, minha filha mais velha ser juíza, como ela fala. Formada, defendendo, talvez, quem sabe, o direito das mulheres, provavelmente. Ver minha filha cantando, levando a música dela pra alegrar corações, trazendo alegria pras pessoas. É esse meu sonho: vê-las casarem, ver os netos. Ver essa geração da minha vida indo pra frente. E o reconhecimento do mercado pra essas mulheres que, muitas vezes, são pouco vistas, né? E que realmente transformam o mundo. Esse é um dos meus maiores sonhos também: ver o reconhecimento do empreendedorismo feminino real, esse, da farinha, sabe? Da cara suja de tinta, de farinha, de mão na obra. Ver o reconhecimento dessas mulheres, que transformam vidas dentro de casa e, dessa forma, transformam o mundo.
P1 – Acho lindo! E tem uma coisa que ficou interessante, né, porque a sua irmã, a Rose, está no grupo também. Você falou que vocês acabaram se aproximando muito e ela é uma das Donnas, né?
R1 – Ela é. E o empreendedorismo dela nasceu de um, vamos dizer assim, incentivo meu. Eu falo: “Incentivar o empreendedorismo, às vezes, até a gente faz sem perceber, né?” A minha irmã estava desempregada, na época e quando a minha filha foi fazer um ano - a minha irmã sempre teve habilidades manuais: pintar, mas, assim, trabalhava modelo CLT, professora e aí o meu sobrinho nasceu, ela pediu demissão pra ficar um tempo, mais, com ele e não conseguiu voltar pro mercado de trabalho – eu queria uma lembrancinha de biscuit e eu falei pra ela: “Você tem tanta habilidade manual, por que você não faz lembrancinha da Maria Júlia?” Ela falou: “Mas eu não sei, teria que fazer um curso”. Eu falei: “Vamos fazer o seguinte? Eu pago o curso e você faz as lembrancinhas pra mim, não me cobra, tá bom?” “Tá bom”. Ela fez o curso pra aprender e fez as lembrancinhas do aniversário da minha filha. Com as lembrancinhas do aniversário da minha filha ela começou a pegar encomendas das pessoas que estavam na festa, aí ela começou a trabalhar com biscuit, fez outros cursos, foi aperfeiçoando e hoje está aí, vive do artesanato dela, são peças lindas de topo de bolo, de biscuit. Você já consumiu, né, os produtos dela.
P1 – Já. (risos)
R1 – Você também é uma Donna. E enche o coração de orgulho ter você junto com a gente.
P1 – Ai. (risos)
R1 – E é isso. (risos)
P1 – É muito bom, muito bom. Lu, você quer fazer alguma pergunta? Ficou faltando?
P2 – Não. Eu queria dizer que eu achei excepcional e emocionante a história toda, sabe? Eu achei uma das histórias mais legais que eu já li, de tudo, do Memórias do Comércio. Eu achei muito legal.
R1 – Poxa, que legal ouvir isso! Obrigada, de verdade. É de coração. Sabe o que acontece, Luís? Quando a gente faz um trabalho de coração, quando a gente faz por amor, quando a gente usa a vida da gente também, pra ajudar a vida de outras pessoas, todo mundo ganha, né?
P1 – Todo mundo ganha. É um ganha-ganha, né?
R1 – Tão bom!
P1 – E, assim, nesse módulo, Renata, a gente está dando muita visibilidade pras mulheres. O Sesc fez questão de ter o Donnas, mas, assim, tradicionalmente, os outros módulos, a presença dos homens é muito grande. Então, assim, nesse módulo, tanto em Bauru, como em Ribeirão, como em Rio Preto, a gente está aumentando muito a visibilidade das mulheres, tentando trabalhar nesse sentido. A nossa equipe também está bem mista, né? Você está vendo aí, acompanhando, a gente tem a Érica, a Daiana, a Ana Elisa...
R1 – Eu apoio as mulheres - mas eu sempre falo, a Cláudia já deve ter visto em alguma apresentação, algum treinamento ou alguma palestra minha – mas vocês, homens, são indispensáveis pra nossa vida.
R1 – Mas os meninos, aqui, todos, têm alma feminina, viu?
R1 – Vocês são muito importantes pra nós. É de verdade. Eu quero ajudar as mulheres a encontrar o lugar delas, mas em momento nenhum o de vocês é menos merecedor. Vocês também são importantes pra gente. Mesmo porque, o empreendedorismo feminino é tão importante, porque ele está no lugar da família também, né? Não tira a mulher de perto dos filhos, não tira a mulher de perto do marido, ajuda que ela continue também nessa função de mãe, de esposa, de dona de casa. Se ela consegue se organizar, ela consegue cumprir tudo isso. E ela só acrescenta, né? Não tira. Só põe mais. E o homem, pra nós... vocês têm um papel fundamental, principalmente quando vocês conseguem nos apoiar e ver a importância disso, porque o que faltou, lá no passado, esse passado mais machista, era ver a importância que a mulher dá, em se sentir útil. Não que a gente não se sinta útil sendo mãe, esposa, dona de casa. É que a mulher tem tantas habilidades, que a gente quer se sentir útil também nessa outra parte, profissional. Eu me sinto realizada como mãe, como esposa, como dona de casa, mas me falta também me sentir realizada na sociedade. E aí é o meu trabalho que vai me realizar na sociedade. E quando eu tenho o apoio do meu marido pra isso, por isso que vocês são tão importantes, aí eu me sinto completa. Aí a mulher realmente se sente completa. Então, olhem pra suas mulheres com esse olhar de que elas são, sim, felizes sendo mães, sendo esposas, sendo donas de casa, mas elas também precisam se completar sendo profissionais, de alguma forma, contribuindo pra sociedade. E tendo o apoio de vocês tudo fica muito mais fácil. Por isso que vocês são tão importantes pra nós também.
P2 – Obrigado!
P1 – Nossa, Renata, com essa fala, a gente encerra a sua entrevista. Eu agradeço demais a sua participação. Eu tinha certeza que ia ser muito bacana e realmente foi, então, em nome do Museu da Pessoa, do Sesc Bauru e do Sesc São Paulo, eu agradeço demais, demais, demais, foi muito lindo, viu? Obrigada, mesmo!
R1 – (risos) Eu agradeço o convite, eu me sinto lisonjeada em poder representar o empreendedorismo feminino e representar essas mulheres tão importantes pra sociedade. Fico muito feliz do Museu da Pessoa e do Sesc estarem com esse olhar tão carinhoso, voltado pra essas mulheres, muitas vezes escondidas aí dentro das suas casas, mas contribuindo pra economia brasileira.
P1 – Maravilha! Então, obrigada, viu?
P2 – Obrigado!
R1 – Eu que agradeço. Qualquer coisa é só chamar.
P1 – Espera aí, faz aí, vou tirar um print de tela, Renata. Volta. Ela saiu?
R1 – Não, estou aqui.
P2 – Não. Está esperando a foto.
P1 – Faz o coraçãozinho, eu vou tirar um print de tela. Quer abrir, Érica? Daiana. Vocês querem abrir a tela? Wiliam está aqui também. Vocês querem abrir? A Daiana. Érica, quer abrir?
R1 – Tudo bem, Daiana? Tudo bem, Érica? Vocês estavam escondidinhas aí? Wiliam.
P3 – Oi.
P1 – É.
P4 - Linda sua história, viu? Parabéns!
R1 – Obrigada!
P5 – Linda. Incrível, mesmo.
R1 – Obrigada, meninas!
P1 – Deixa eu ver, eu vou tirar um print screen, então. Vai lá! Deixa eu ver se ficou bom. Espera aí que eu vou jogar no word e ver se ficou bom. Espera aí.
R1 – Tá.
P1 – Tem que saber se ficou boa a foto. Todo mundo bem na foto. Eu gostei, mas eu vou tirar mais uma.
P3 – Por favor.
R1 – Eu vou arrumar o cabelo, então.
P1 – Ai, eu também, né?
P3 – Eu também.
P2 – Beleza.
P1 – Fala aí. A Renata tem que falar, pra vir pro meio. Espera aí que está a Daiana. Fala aí, Renata, pra você vir pro meio.
R1 – Oi. Estou falando. Vamos lá! Vamos fazer uma foto bem bonita aí.
P1 – Agora, sim. Você sabe que é tão interessante... ai, ficou ótimo, eu vou te mandar depois.
R1 – Quero essa foto. Eu quero.
P1 – Tenho certeza. (risos) Gente, então, obrigada todo mundo, equipe, Tiago super parceiro nosso aqui, que a gente não conhece pessoalmente, a equipe toda: Wiliam, Daiane, Érica, Lu, super obrigada, tá? E obrigada, Renata, foi um imenso prazer!
R1 – Quem sabe, a hora que tudo isso passar, estivermos vacinados, (risos) possamos marcar um café todo juntos.
P1 – Com certeza.
P4 – Por favor.
R1 – Vamos marcar, quero muito. Cláudia, faça essa ponte aí com todos, pra gente tomar um café todos juntos, tá bom?
P1 – Vamos, sim. Vai ter muito desdobramento esse projeto, tá? Obrigada, Renata! Obrigada, equipe! Tchau, tchau!
R1 – Eu que agradeço mais uma vez. Obrigada a todos! Tchau!
P1 – Vou te mandar a foto.
R1 – Manda, sim. (risos) Tchau.