Do alto da torre, abriu um horizonte
Autor:
Publicado em 15/11/2021 por Danilo Eiji Lopes
Entrevista de Alexandro Rodrigues
Entrevistada por Torigoe / Daniela
19/04/2021
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número FURNAS_HV009
Transcrito por Aponte
00:13
P/1 - Me fala o seu nome completo, data de nascimento, e onde você nasceu, por favor?
R - Meu nome completo é Alexandro Aparecido Rodrigues, tenho 43 anos, nasci em 1978 e sou de Itapeva, São Paulo.
00:38
P/1 - Você nasceu em Itapeva, e então o seu pai e sua mãe, te contaram a história de quando você nasceu, do dia, como é que foi essa história?
R - Rapaz, contaram! Algumas coisas a gente sabe sim. Na realidade eu morava em Itaberá, a cidade onde é à base de Furnas hoje, da subestação Itaberá, mas eu vim nascer em Itapeva, onde eu moro hoje. Na época tinha as condições, na cidade lá era meio precária a questão de maternidade, e então a minha mãe resolveu vir para Itapeva, para me dar a luz. E na época era bem complicado, porque 40 e poucos anos atrás, as estradas pavimentadas eram poucas, então era um trajeto curto, para hoje, mas na época era distante, pelas condições das estradas rurais que existiam, e detalhe, eu morava no sítio. Na realidade, meus pais moravam onde hoje tem a linha de transmissão, a gente tem uma propriedade do lado da linha transmissão, e na época não tinha ainda, mas hoje já tem.
02:02
P/1 - Como é que é essa história deste sítio, onde você ficou seus primeiros dias? O seu pai comprou, sua mãe, da onde que é isso?
R - Na realidade, meu pai morava numa propriedade que era do meu avô, nessa época, morava lá, a gente morou lá até quando eu tinha 2 anos de idade. Depois ele comprou uma propriedade própria, no outro lado da subestação, e também por coincidência é próximo de onde passa a linha de transmissão, que vem do sentido Paraná. Que vem de Ivaiporã para Itaberá. Então eu morei lá até os 19 anos, eu vi a construção do circuito 1, que vem de Itaipu, vi não, porque na época eu era pequeno ainda. Mas do circuito 2 eu lembro, a segunda linha que saiu eu lembro. E hoje o que a gente fala com o pessoal, a gente passa, gente faz contato com os proprietários, as campanhas, para o pessoal não subir em torre, não fazer nada. Mas na época a gente não tinha esse conhecimento que tem hoje, a gente subia sim nas torres quando era moleque, e nunca imaginava que era brincadeira arriscada, era uma brincadeira muito arriscada, na época a gente era bem pequeno, ia se tornar uma profissão no futuro. Depois futuramente, essa propriedade onde eu nasci, onde eu vivi os meus primeiros dias de vida. Com o falecimento do meu avô, essa parte do terreno ficou de herança para o meu pai, que hoje ainda é nosso lá, meu pai já faleceu também, mas a propriedade ainda está lá. E pela ocasião do destino também, o circuito 3, quando construíram o circuito 3, do sistema Itaipu, ele passa bem em cima do nosso terreno. Então eu estou envolvido com Furnas, mesmo depois da aposentadoria. Vou estar ouvindo as linhas cantando seu som lá, dia e noite.
04:13
P/1 - Faz barulho as linhas, como que é isso?
R - Faz. Essas linhas de 750, ela tem um efeito corona muito grande. Então ela tem um ruído bem característico, ruído bem alto é tipo uns estalos. Fica estralando continuamente, quando você tem um tempo mais úmido, que diminui a isolação do ar, por causa da umidade, esse efeito corona aumenta. Então aumenta muito mais o barulho, e um barulho, assim, muito forte mesmo, e quem vê pela primeira vez, que não tá acostumado, acha que o negócio é muito alto, para gente está mais acostumado. Até para os proprietários, que moram próximo da linha, eles também falam que nem percebe, mas o barulho, mas quem for morar próximo da linha no começo, eles ouvem bastante o barulho, porque não está acostumado ainda.
05:23
P/1 - Você ouve esse barulho desde criança?
R - Na realidade, não desde criança, porque esse sítio onde eu fui morar, quando tinha dois anos, que depois passou a linha, ele fica um pouco distante, ele não fica tão próximo, ele fica uns dois mil metros, 2 km mais ou menos da linha. Então, nessa distância, a gente não consegue ouvir esse ruído, mas esse outro sítio que depois veio de herança, do meu avô, que a linha passa em cima, esse a gente ouve muito. Só que lá não tem propriedade mais, mora ninguém mais não, nenhum dos dois filhos, não tem casa lá mais.
06:12
P/1 - E me conta como é que era essa coisa, de subir na torre quando você era criança, era uma brincadeira mesmo?
R – Então, quando saiu o segundo circuito, o sistema de Itaipu, o pessoal... Tudo curioso, eu sempre fui criado no sitio, acostumado a trabalhar com maquinário, maquinário agrícola, trator, tudo essas máquinas. Então eu sempre fui muito curioso, nessa questão mecânica. E quando montaram eu estava na casa dos meus tios, onde a linha passava muito próximo da casa. Então eu ia com meus primos, eu tinha 10, 11 anos mais ou menos, eu e meus primos, ficamos ali vendo os caras, o pessoal da construtora colocar as torres em pé. Então eles vinham com o guindaste lá, colocaram as torres em pé, colocaram os estaios, que era uma torre estaiada, antes de fazer o lançamento. Quando eles vazaram, terminaram o trabalho, fomos nós lá, subir nas torres, era a maior alegria. E na época, a gente não sabia o risco que estava correndo, subindo naquela ferragem, porque imagine, quantas pessoas treinadas, já aconteceu acidente, treinado, capacitado, já sofreram acidente em linha de transmissão. Agora, imagine nós lá subindo, na época era kichute ainda, subindo na ferragem da torre, e ir até lá em cima, era uma alegria. Hoje a gente orienta muito, as propriedades onde a gente passa, próximo da linha, quando a gente faz essas campanhas educativas. Até o panfleto nosso tem o desenho, proibido subir nas torres. Falar o porque, na realidade a gente subiu em uma torre que estava desligada, mas hoje, a linha, quando ela está ligada, ela tem indução. Então, a própria estrutura, ela dá alguns choquinhos na pessoa, quando você está subindo ali, você leva alguns choquezinhos, algumas descargas. Mas nada que vá te matar, que vai fazer nada. Mas para quem não está acostumado, você pode levar um susto, a pessoa pode levar um susto. Ela não está com equipamento de proteção para escalar uma torre. A gente faz a escalada hoje, a gente está com um cinto de paraquedista de ótima qualidade, que a empresa fornece, e a gente tem todo um treinamento, você tem os ganchos, onde você vai estar 100% do tempo atracado. Você coloca um gancho, tira, coloca outro para cima. Então sempre você vai estar com um gancho no corpo. Agora imagina uma pessoa que não tem esse conhecimento, e quanto mais ela vai subindo a torre, a indução vai ficando maior. Esse diferencial do potencial dela para estrutura vai aumentando, então muitas vezes ela pode levar a mão na estrutura e levar um choque, que é pequeno, uma descargazinha e ela levar um susto e tirar a mão, e como ela não está com o equipamento de proteção, pode acontecer um acidente. Então a gente orienta muito sobre isso aí, não ficar próximo às bases de torres, na época de chuva, quando tá dando raio. Porque o para-raios vai conduzir o raio até a estrutura e vai descarregar no solo. Então a gente faz toda essa orientação, porque a gente na época, moleque, não tinha essa orientação, até porque, era algo novo ali na região, não era algo que já estava ali, que todo mundo via aqui ali e falava: nossa, é rede de Itaipu, não chamava nem Furnas, o pessoal sempre falava que era o linhão de Itaipu. Muita gente até hoje, não conhece como Furnas, é o linhão de Itaipu.
10:08
P/1 – Me fala o nome do seu avô e da sua avó, por parte de mãe, e o que eles faziam?
R - Por parte da minha mãe, era a dona Alice e o seu José Pires Divino, mais conhecido por Sergipano, lá na região. E do lado do meu pai, era o Clecencio e... Rapaz, esqueci o nome da minha vó, faz tanto tempo que ela morreu, eu era pequeno. Eles eram todos agricultores e pecuaristas da região, moravam no sítio, trabalhavam na agricultura, criavam umas vaquinhas, uns porcos, lá na região. Então a minha família sempre foi da agricultura. E eu também, até os meus 19 anos, que eu morei no sítio, sempre trabalhei nesse meio ai de agricultura e pecuária.
11:28
P/1 - Porque que o seu avô, tinha esse apelido de Sergipano?
R - Ele veio de Sergipe, e constituiu família pra cá. Porque a região lá, até hoje ainda é, mesmo com a tecnologia, é uma região mais sofrida, mais árida. Então o pessoal sempre... Antigamente era mais ainda, o pessoal saía de lá, para vir procurar uma vida melhor aqui no sudeste. E ele veio para cá, e fez família aqui, conseguiu se dar bem aqui na região. Então por isso que ele tinha o apelido de Sergipano.
12:12
P/1 - E quais eram os avós que você tinha mais contato. Como é que você se lembra deles?
R - Os avós que eu tinha mais contato era do lado do meu pai. Eu ficava mais para o lado deles lá. Na realidade a gente morava em regiões diferentes de todos eles, o meu avô, com minha avó materna, depois de um tempo eles foram embora para cidade. Então a gente ia mais para o lado dos avós paternos, que a gente tinha o maior o contato. Só que eu tinha um pouco mais contato ainda com a minha avó, porque o meu avô também já era separado. Separou da vida minha avó, mãe do meu pai, e morava aqui em Itapeva onde eu moro hoje, então meu contato maior era com ela também.
13:10
P/1 - Você sabe como é que seus pais se conheceram?
R - Rapaz, isso aí eu vou te falar uma coisa... Eu não sei como eles se conheceram, mas com certeza deve ter sido em algum baile da vida. Porque na época, tinha muitos bailinhos, aquelas festas de quermesse, que o pessoal chamava, nas igrejas no sítio, mas pra falar a verdade, nunca tive essa curiosidade, vou até perguntar para minha mãe como que foi. Nunca tive essa curiosidade de perguntar não, mas com certeza deve ter sido alguma dessas festas, porque eles moravam em lugares bem distintos, um do outro, era distante da onde morava o meu pai, com a minha mãe. Então com certeza foi uma dessas festas que tinha, de igreja, de religião, na época, as quermesses no sítio.
14:04
P/1 - Qual o nome da sua mãe, e do seu pai completo?
R - O nome do meu pai é Felício Dias Rodrigues, da minha mãe é Zélia Divina Rodrigues.
14:18
P/1 - Quando você nasceu, então você foi morar em um sítio, foi isso?
R - Sim. Meus pais já moravam no sítio e quando eu nasci, cheguei da cidade e fui direto para o sitio. Cheguei na cidade, que era um município de onde a gente morava, que era Itaberá, direto pro sitio. Na época, pouco se ia pra cidade, como eu disse, hoje as distâncias são pequenas, 10, 11 km, pra ir para a cidade de carro e moto. Antigamente isso daí era bem distante, porque às condições também de vida no sítio, era bem mais sofrida, as condições econômicas tudo mais, e o pessoal também não ligava muito de ir para cidade, não é que nem hoje, que todo mundo quer estar na cidade. Antigamente o pessoal, quando tinha que ir para cidade, reclamava. Pessoal gostava era do sítio mesmo. E os sítios antigamente, os bairros, eram muito movimentados. Então as pessoas só iam para as cidades era para fazer a compras mesmo, como diziam, as compras do mês! Ir pra cidade, fazia a compra do mês e comprava algumas coisas. Ir no banco, mas o resto, você tinha tudo nos bairros. Porque os bairros tinham uma grande concentração de pessoas, depois que começou a ter o êxodo rural, que o pessoal começou a ir embora para cidade. E cada bairro, antigamente chegava o final de semana, sábado depois do almoço, domingo era futebol, era os bailinhos. Então era muita reunião, era missa, depois tinha o futebol de domingo, então era uma reunião muito grande de pessoas ali os bairros. Hoje em dia, eu ando muito para o sítio, só vê as taperas, como diz o pessoal, aquelas casas velhas, os lugares onde tinham as casas. Mas você não vê mais ninguém morando em sítio quase não. Esses times de futebol que tinha, os times de várzea que chama, antigamente em um bairro, tinham 2, 3 times de futebol, hoje você não consegue formar um time de botão lá no sítio.
16:36
P/1 – Então a sua infância foi muito nessa vida do sítio né? Como foi essa infância pra você?
R - Foi! Minha vida foi no sítio, não era fácil, não foi fácil. Porque, eu falo sempre com meus meninos… Hoje é muito diferente do que na minha época, como eu morava no sítio, no sítio era daquele jeito na época, você aprendeu a andar, você tá fazendo alguma coisa no sítio. Você está lá fazendo o mínimo que seja, você está fazendo. Você está tratando, como diz o pessoal, das galinhas ali no terreiro, você tá varrendo o terreiro, você tá catando ovo. Então você começa a trabalhar muito novo, muito cedo. Começa a andar, uma coisinha você está fazendo já. E eu estudei no sítio até a quarta série, na época era 4ª série que falava, estudei no sítio lá, e a escola era dentro do nosso sítio, só que uns 2 km de distância. Então eu fazia todo esse percurso de manhãzinha a pé, ia para escola, e era aquela escola que tinha as 4 séries, como se dizia, dentro da mesma escolinha. Escolinha de madeira era aquela carteira antiga ainda, que sentava de dois, em dois, e o colega que estava nas costas, escrevia no encosto da carteira da gente, quando você queria sacanear o colega, pra fazer uma brincadeirinha, ele escrevendo, você dava uma balançada assim, ele já riscava tudo lá atrás. Então era legal, era bem bacana, era muito rígido, levei muita reguada na cabeça. Porque eu era meio peralta na época, era meio agitado, só que sempre fui muito educado. Tem professora minha, dessa época, que até hoje eu tenho contato, encontro com ela na rua, a gente conversa e tal, era bem legal. Só que era muito sofrido, porque você andava tudo isso, como passava a estrada por dentro do nosso sítio, quando eu ia para escola, a hora que saia da escola ali, pelo meio-dia, eu não chegava em casa, quando eu já estava ali no segundo, terceiro ano, eu não chegava em casa, já ficava no meio do caminho trabalhando. Então trabalho, desde cedo mesmo. Na minha época, foi quando se iniciou o transporte público, para levar o pessoal do sítio para cidade, para estudar. Então quando eu passei da quarta para quinta série, eu comecei a viajar do sítio para cidade, e na época nem eram veículos da prefeitura, público, era tudo contratado, que era o início mesmo disso. Eu lembro que na época, eu viajei de rural, que o pessoal locava pra prefeitura, DKV, hoje ninguém conhece o que é um DKV, viajei de Toyota Bandeirante, então, nossa, era muito doido na época. E era divertido, porque a gente era moleque, e nessa Rural mesmo, a gente ia sentado lá atrás no chiqueirinho, lá atrás onde hoje é o porta-malas, tinha um banco de madeira, as meninas iam no banco, porque a condução ela ia passando, passava próximo do nosso sitio, eu tinha que fazer esse mesmo percurso dos 2km, porque ela vinha até a escola só, onde eu estudava. Então só que daí, eu tinha que levantar mais cedo, porque ele chegava na escola, na cidade, tinha que entrar 7h10, se eu não me engano na época. Então era 6 e pouquinho, eu já tinha que estar lá em cima, já tinha que ter feito aquele percurso e estar esperando ela lá. E aí, na época, ainda existia o cavalheirismo, os moleques iam tudo lá no banquinho seco lá atrás, e as meninas iam no banquinho normal, de estofado. E na época, até essa questão de segurança veicular, não tinha nada, quantas vezes nós tivemos que empurrar, chegar na escola lá tudo cheio de barro, porque tinha que empurrar. As estradas eram ruins, dias de chuva, imagina o capiauzinho do sítio, quase não ia para cidade, imagina chegar lá na cidade, a molecada tudo mais esperta, e eu lá meio capiauzão ainda. No começo eu sofri um pouco. E essa questão de bullying que o pessoal fala hoje, na época era o que mais tinha, cara. E muitas vezes é o que faz a gente forte, as pessoas brincam e você tem que aprender a se defender também. Não seja certo, mas você tem que aprender a se defender, tem que aprender a entrar muitas vezes na zoação do pessoal. Porque senão você ficava doido, na época, era bacana, mas mesmo assim era bem sofrido. E foi assim, até fazer o colegial. Depois da oitava série, eu passei a estudar à noite, eu passei a trabalhar o dia inteiro, daí a gente chamava de perua (Kombi), já passava na porta de casa para buscar. Aí aumentou o trajeto, passava pra pegar um pessoal que morava lá na parte de baixo de onde eu morava, e passava pegando na porta de casa. Só que aí eu estudava à noite, trabalhava o dia inteiro, chegava em casa quase meia-noite. E no outro dia cedo, tinha que estar em pé de novo, para a batalha. Então era corrido o negócio.
22:13
P/1 - Você tem irmãos?
R - Tenho 1 irmão só. Ele é cinco anos mais novo que eu.
22:21
P/1 - E como é que foi crescer com esse irmão?
R - Era legal, era muito bom. Porque um era colega do outro. Como a nossa casa era um pouco afastada dos vizinhos, o tempo que a gente tinha para brincar, a gente brincava junto no sítio. A gente brincava de bola, esconde-esconde, subir nas árvores, andar pelo meio do mato. Então a gente era bem parceiro, tinha uma diferença, como ele era cinco anos, mais novo que eu, então eu já tinha mais responsabilidades. Então o tempo que ele tinha de brincar, nessa época, era maior do que o meu, porque eu tinha que trabalhar, tinha que estudar. Quando ele estava com cinco anos, eu já estava com 10 anos. Então tinha um pouco essa diferença sim, mas era bem legal e a gente brincou muito, se dava muito bem. Ele era meio bravo na época, quando era mais moleque, mas a gente se dava bem sim.
23:23
P/1 - E como era sua casa? A primeira casa que você se lembra, você pode descrever ela para a gente?
R - A primeira casa que eu morei eu não lembro, porque eu tinha 2 anos só, quando a gente se mudou. Mas era praticamente a mesma casa, porque na época, como era casa de madeira, quando você mudava, você desmontava a casa e montava em outro lugar. Então foi a mesma casa que a gente morava quando eu tinha 2 anos, para o outro sítio. Mas era uma casa bem legal, uma casa bacana, uma casa gostosa, a gente cuidava muito bem dela, mesmo sendo uma casa de madeira. E por incrível que pareça, eu era muito craque de cuidado, principalmente do piso, porque era esquadro envernizado, e minha mãe gostava de deixar aquilo lá brilhando. Então eu ajudei muitas e muitas vezes a minha mãe, e na época, dizia passar uma cera, passar o escovão, e depois modernizou, era aquela enceradeira, mas passava escovão, deixava brilhando, arrumava, cuidava, eu gostava muito. Quando chegava a época de pintar a casa, de ajudar a fazer isso, na época, as casas pouco tinham banheiro, com vaso sanitário, essas coisas. Lá a gente já construiu tudo isso aí, mas na época a maioria era tudo privada, como se dizia, então era bem legal. Era uma casa bem cuidada, a gente cuidava bem dela, detalhe, não tinha energia elétrica, na época. Lá não tinha energia elétrica, passava uma linha lá, que na época eu nem sabia qual era a tensão. Hoje eu sei que é 750, 800 mil volts, que passa próximo lá. Mas a gente não tinha energia elétrica no sítio. Para você ter uma ideia, até quando eu saí do sítio, que eu fui morar na cidade, que eu trabalhei num outro serviço, um ano e meio antes de entrar em Furnas, não tinha energia elétrica lá ainda. Então televisão, era a televisão preto e branco ligada na bateria de trator, iluminação era a gás, água, tomei banho naquele inverno da época, lá que era de trincar, geada, ou se tivesse muito frio, aquecida no fogão a lenha, ou tomava banho na água gelada. Então nessa época era bem sofrido, e poucos lugares tinham energia elétrica. No sítio do meu tio, puxaram energia elétrica, mas como era uma concentração de casas maior, mais próximas, eles fizeram na época lá, uma cooperativa entre eles, e todo mundo pagou e conseguiu puxar, conseguiu fazer instalação elétrica. Lá onde a gente morava, como os vizinhos eram mais longe e o ponto de energia mais próximo, era muito longe, a condição financeira não dava. Na época, não tinha esses financiamento pelo governo, como se teve um tempo atrás, luz para todos. Essa democratização da energia, na época não tinha isso não, se quisesse, teria que fazer uma instalação particular, e era muito cara, era muito cara mesmo, o ponto mais próximo, se fosse distante como era lá no nosso, não tinha condição, de ter essa energia elétrica. Mas era um lugar legal, tenho umas lembranças muito boas de lá. Tinhas as partes sofridas, mas é de onde a gente traz muito aprendizado, da minha infância graças a Deus, a gente trouxe muito aprendizado, muita valorização. A gente dá muito valor ao trabalho, muito valor à família, aos amigos também.
27:34
P/1 - Tem alguma história, ou histórias, que você viveu na sua infância que te marcou até hoje?
R - Rapaz, eu acho que toda minha infância ela marcou bastante. Mas história específica assim, que mais marcou, foi na época que a minha avó, a mãe da minha mãe, morreu. Porque minha mãe era muito apegada com ela, então minha mãe sofreu muito nessa época, isso aí é o que marca um pouco mais a vida da gente. Mas muita coisa marcou. Eu falo muito com as pessoas, que todo mundo tem momentos na vida difícil, tem os bons, tem os médios e tem ruins, momentos ruins da vida, que são bem sofridos, mas desses momentos, que eu acho que a gente tem que tirar força, tirar aprendizado, para muitas vezes, você não cair mais em um momento igual aquele, não passar um momento igual aquele. Então nada que se passa na vida da gente que é ruim, é em vão, sempre a gente tem que tirar aprendizado desses momentos. Porque quando a vida da gente está tudo fluindo muito bem, a gente mais aproveita do que aprende, quando está tudo bem na sua vida, saúde, família, trabalho, tudo mil maravilhas, você curte aquele momento, aquele momento passa como um momento de lazer, de você curtir, de você flutuar. Quando você tem um momento ruim, aí que a gente para, para refletir. Aonde eu errei, o que eu posso melhorar, para que não aconteça mais isso. Então eu tenho minha opinião, a gente deveria refletir sim nos bons momentos também, mas é pouca gente que faz isso. Porque você não está sentindo na pele algo, então quando você sente na pele, que você começa a refletir, e tem que tirar aprendizado, você não pode deixar os momentos ruins da vida passar em vão. Você tem que tirar aprendizado desses momentos, porque se não, vai ser em vão, você vai errar novamente, e não vai servir de nada aquele mau momento, que a pessoa passa.
30:15
P/1 - Como é que era o seu dia a dia quando criança, como era com seus pais?
R - A gente no sítio acordava bem cedo, como eu disse, tinha que ir pra escola e tinha que ir a pé. Pra ir era um morrinho, mais ou menos, pra chegar lá, uns 2 km e pouco. Então acordava bem cedo, pra entrar na escola 7 e uns quebradinhos. No sítio eu não lembro muito bem, mas na cidade era 7h10. Então acordava bem cedo pra ir pra escola, e também dormia cedo, até porque não tinha energia elétrica, era antena a gás, então tinha que ter uma economia naquilo. E também cansava, porque era bem agitado. Quando eu comecei a estudar na cidade, tinha que levantar mais cedo ainda. Até tem um caso, quando eu comecei a fazer o curso técnico, quando eu terminei a oitava série. Quando eu terminei a oitava série, eu prestei vestibulinho pro Centro Paula Souza, que é a Etec aqui em São Paulo, e entrei fazendo metalurgia, só que o que acontecia. Como eu morava no sítio e o curso era a noite, eu trabalhava até o meio-dia, um pouco mais. Ai eu pegava carona nessa condução, que ia levar os alunos que tinham ido estudar na cidade, para o sítio, pegava condução quando ela voltava pra cidade, ia pra casa do meu tio, ficava no meu tio até às seis da tarde. Quando eu ia pegar a condução de Itaberá, para Itapeva, onde a escola é até hoje, e eu me formei em eletrotécnico. Então eu fazia esse percurso, ia pra cidade, chegava lá duas e pouco da tarde, ficava até seis horas, pegava o ônibus que ia pra Itapeva, depois 11 e pouco pegava o ônibus de volta para Itaberá, chegava lá meia-noite, meia-noite e pouco. Só que no outro dia, eu tinha que levantar 5h30 da manhã, para pegar carona com essa perua, que ia buscar os alunos de manhã. Então 5h30 tinha que estar lá no ponto, e tinha que levantar antes, eu ia dormir meia-noite e pouco, e 5h30 tinha que estar lá. Daí eu chegava lá no sítio, seis e pouco da manhã, já ia direto trabalhar, e daí eu pegava e trabalhava novamente, até meio-dia e pouco, e fazia esse roteiro todo dia. E chegou um ponto, que eu não estava aguentando mais, porque trabalhava em um serviço puxado, exaustivo. E ainda não dormia quase nada, e lá de vez em quando, eu perdia o horário, tinha que fazer esse percurso de 10, 11 km da cidade até o nosso sítio, tinha que fazer a pé, eu tinha que fazer a pé esse percurso, chegar lá e trabalhar, dentro de um horário que desse para trabalhar ainda, se perdesse a condução, ia chegar lá 7h, 7 e pouco, e trabalhar, e depois voltar. Chegou uma hora que eu não aguentei mais, voltei a fazer o primeiro colegial na época, na cidade lá mesmo, porque não deu para fazer nessa época mesmo, era muito chato, levantava muito cedo, dormia mal e o trabalho era exaustivo.
34:01
P/1 - Como era esse trabalho? Era junto com teu pai, tua mãe? O que você fazia? Você falou que os seus pais trabalhavam na agricultura e na pecuária, certo?
R - Positivo! A gente cultivava arroz, feijão, milho, na época soja, quase não se tinha. Quase ninguém cultivava soja na época. Hoje, praticamente, é só soja a agricultura aqui na região, depois vem alguma coisa de milho, feijão vem pouco, mas na época era muito feijão, arroz e milho. Quem não cultivava... Daí criava porco, criava galinha para vender, também tirava leite para vender, tinha um caminhão do laticínio que buscava lá, e era sofrido. Porque a lavoura de feijão, ela é uma lavoura bem ingrata, em um curto espaço tempo, ela fica cara para produzir. E a lei da oferta e da procura, manda muito no valor dela, muitas vezes quando você está lá, com a sua lavoura que está florando, tá começando a sair as vagens, o valor está lá em cima, quando chega na hora de colher, o valor está lá embaixo. E você depende muito do clima também, se tiver uma produção boa, você consegue lucrar alguma coisa, mas se o clima não ajudar, e se tiver uma produção de média, para baixa, muitas vezes, você fica no prejuízo. Então era bem complicado na época. Hoje, muitos agricultores da época, quebrou. Porque o principal plantio da época era o feijão. Então muita gente perdeu até sítio, com financiamento, por causa dessa lavoura da época.
36:00
P/1 - Você se lembra como era essa vida comunitária que vocês tinham perto do sítio? Me conta um pouquinho como é que era essa história de futebol na várzea, de igreja, de festinha. Que era sofrido, mas tinha diversão também, pelo que você estava me contando né?
R – Tinha! Com certeza! É porque tipo assim, na época era sofrido, mas hoje a gente olha pra trás, acha que é muito mais sofrido do que era na época. Na época comprar uma bicicleta, dava um trabalho danado, hoje você vai lá, compra uma bicicleta, parcelada, do jeito que você quiser. Na época do sitio, meu sonho era comprar uma bicicleta, hoje eu ando pelo sítio, e vejo a molecadinha andando de moto, pra cima e pra baixo. Mas como eu disse, na época, sempre tinha uma igreja, na época eram as igrejas católicas, que tinham muitas, todo bairro tinha uma igreja, onde se reunia o pessoal nas missas de domingo, ou tinha as novenas, nas épocas de comemorações religiosas. E sempre próximo da igreja, tinha um campo de futebol, tinha uma vendinha, um barzinho. Então era daquele jeito, era sagrado. Ou no sábado à tarde, reunir um pessoal pra bater um futebolzinho, que era a diversão que tinha. Ai sempre no domingo, era combinado com um time do outro bairro, que viria ali para fazer um rachão, ou iria sair dali, e ia para outro bairro, para fazer um futebolzinho com a galera. Então muitas vezes, fazia um campeonato da região, ou fazia um torneio, que era um dia só, e eram vários times que jogavam tempos curtos, 15, 20 minutos. Então fazia aquele torneiozinho, ou fazia campeonato, que era como se fosse o campeonato nacional. Só que é o campeonato da várzea. Pra você ter ideia, como tinha muita gente, um bairro tinha o primeirão, como chamava na época, que era os titulares, o segundão, que eram os reservas, que faziam um time, para jogar contra o segundão, do outro. E tinha os “canela seca” mesmo, que ficavam mais na reserva, quando um saia, machucava ou cansava, tinha outro ali. Mas tinha bairro, que tinha 3, 4 times completos, que jogavam o primeirão, segundão e terceirão, como a galera falava. Mas era legal, e tinha as festas, quermesses. E cada bairro tinha seu padroeiro, seu santo padroeiro. Então quando chegava a época de comemorar o santo padroeiro daquele bairro, o pessoal se reunia, vinham os bairros vizinhos visitar, o pessoal da igreja cantar, o coral das outras igrejas cantar, então era bem legal, era muito unido o pessoal, era contato físico. Mas de vez em quando, galera tomava uns guaraná a mais e saia uns bate peito também, essa era a parte ruim. Tinha uns bairros, que tinham rivalidade com outros, principalmente por causa do futebol, criava rivalidade um com o outro. Tinha bairro que era famoso, “vai ter o futebol do bairro tal, com o bairro tal”. Muitas vezes a negada tinha que sair do bairro para assistir futebol, porque sabia que ali tinha uma rivalidade grande, e o pessoal bom de bola, que jogava bem, tinha essa questão também. Mas era legal, todo mundo era bem... reunia muito e tinha essa integração no bairro.
40:17
P/1 - Você era craque, Alexandro?
R- Que craque nada rapaz. Eu era perna seca pra caramba, eu no futebol sempre fui ruim pra caramba. Nunca fui bom no esporte, sempre que eu praticava, nunca fui cabeceira, não. Sempre fui bem devagar. Eu não tinha esse dom, fazia uma coisa ou outra, mas não era meu dom.
40:46
P/1 -Você torce para algum time? Você se lembra de assistir um jogo de futebol na tv, ou na rádio?
R – Rapaz torço! Eu torço para o São Paulo, mas não sou aquele fanático. Vou te falar que faz um bom tempo que eu não assisto um jogo de futebol, muito tempo. Eu tenho alguns outros hobbies, que eu faço em casa aqui, nos horários vagos, que eu não troco para assistir futebol, vejo as notícias e tal, mas não sou de ficar torcendo muito não. Na época, meu pai também, jogava bola e tudo, mas também não era fanático para esse negócio de torcer pelo time não. Eu também nunca tive muito esse amor por torcida, eu torço, gosto do meu time e tudo, mas não assisto muito.
41:43
P/1 - Seu pai e sua mãe, eles contavam histórias para vocês antes de dormir? Tinha essas coisas? Você falou que não tinha energia elétrica de noite, como que era isso?
R - Contava. Contava sempre umas histórias do passado deles, como que era. E no sítio sempre tinha muita superstição, tinha muito folclore. E tinha um pessoal, que trabalhava lá com meu pai na época, uns funcionários, o pessoal chamava de camarada na época, já vem das questões do passado, que pessoal que trabalhava nas embarcações, que chamavam de camarada. Então chamava de camarada também o pessoal que trabalhava lá. E tinha um pessoal que era muito bom de histórias, então eu era moleque, eu lembro, que a gente ficava lá sentado, porque a gente tinha a nossa casa, e tinha a outra casa, onde o pessoal ficava e que sempre tinha lá 2, 3, 4 que trabalhava lá. Então eu ficava sempre junto com eles, escutando as histórias deles antes de dormir, final de tarde, e essa galera gostava de ficar fumando, tomando uma pinguinha ali do lado. E eu ficava lá escutando as histórias deles. Mas tinha bastante história. Principalmente histórias de assombração, como diz o pessoal, os folclores da vida. Eu era meio medroso para ficar nos escuro, no meio do mato. No sítio, quando escurece, cada barulhinho que você ouve você acha que é uma assombração que tá aparecendo por ali.
43:25
P/1 - Você se lembra de alguma que você pode contar para mim?
R - Rapaz, eu lembro de uma história. Não sei se é verídica. Que era um tio meu na época, que meu pai, ele foi renal crônico, e teve uma época que ele estava fazendo tratamento em Campinas, e eu era bem molecão nessa época, tinha uns 9, 10 anos. E um tio meu, do lado da minha mãe, estava ajudando a gente nas funções do sítio. E de madrugada, ele estava subindo para trabalhar, no trator, na parte alta do terreno, e disse que daqui a pouco veio uma luz muito forte para o do lado dele, e ele ficou apavorado. Aquela luz veio para o lado dele assim, foi chegando, foi chegando e quase cegava ele, aquela luz, e para parar de fazer barulho, ele desligou o trator, apagou os faróis, desligou, a luz veio até próximo dele e saiu, depois saiu de novo, ele deu um tempo. Ele falou que estava com medo pra caramba, e detalhe, cara. Olha para você ver como é que é, essa história, é uma história que ainda envolve a subestação de Furnas. Daí ele pegou, deu partida no trator ali de novo, começou a subir, e desse sítio nosso, ele é próximo até da subestação também. Em linha reta, deve dá um 4, 5 km em linha reta. A linha passa mais do lado, e ele está assim mais a frente. E daí cara, ele deu partida no trator de novo, ligou e começou a subir de novo, no morro lá, quando chegou a uma certa altura, aquele trem veio pro lado dele de novo, foi chegando, foi chegando. Ele viu que tinha funcionário, estava ali morto de medo, desligou de novo o trator, aquela luz, parou, ficou um pouco em cima, mas não muito próximo dele, dava pra clarear mais onde ele estava, e saiu de novo. Ele subiu de novo, quando chegou no topo do morro, estava começando a querer clarear já o dia, a luz veio, na hora que chegou bem próximo, ele desligou e ela foi para o lado da subestação. Como a subestação, como diz ele, lá chamava ele, porque lá tinha muita luz, ele falou que ficou um tempo parado, na altura do céu, aquele negócio aceso lá, e depois vazou, embora. Na época, para mim, meu Deus do céu, se é verdade, eu não sei. Mas na época que eu era moleque, meu Deus do céu, eu saía, para fora de casa, já estava olhando para o céu, vendo se não tinha alguma luz se movimentando, quando via alguma coisa, via um avião lá, passando a noite piscando, já ficava meio cabreiro. Então eu fiquei um tempão meio assustado com esse negocio ai. E outra época, acho que você deve ter ouvido falar, do tal do chupa-cabra né?
O tal do chupa-cabra também, mano do céu, aquela época lá, eu era bem moleque também, só era um pouco mais velho, mas mesmo assim cara, eu dormia lá no sitio com meu irmão a noite. Meu pai ficou um bom tempo fazendo tratamento, isso foi na época tinha que ficar lá no sítio, minha mãe ia para Campinas ajudar a cuidar do meu pai. Eu ficava lá com meu irmão, ele era bem mais novo, nessa época não tinha ninguém, era só nós dois, Rapaz do céu, vou te falar... Eu cobria a cabeça, estava aquele calorzão, suado, embaixo do cobertor, estava ali rezando, para não aparecer o tal do chupa-cabra. Porque na época era um comentário do tal de chupa cabra que vou te falar. Mas eram histórias muito doidas que tinha na época, moleque acreditava em tudo.
47:25
P/1- Quando você era criança ou adolescente, tinha alguma coisa que você queria ser? Seu pai e sua mãe queriam que você estudasse? Como era essa história?
R - Queria sim! Minha mãe, ela era muito incentivadora de estudar. O meu pai já não dava muita bola não. Era tipo assim, se der, deu, se não der, trabalha aqui no sítio. Agora minha mãe, já era bem incentivadora. Até que minha mãe, ela tinha feito até a quarta série só, e quando ela foi procurar, já com 30 e poucos anos, na época, hoje já está com 71. Tinha 30, 31 anos na época. Ela quis voltar a fazer o supletivo, e também indo do sítio para cidade, na parte da noite para fazer o supletivo. E quando ela foi procurar o histórico escolar dela, ela tinha terminado a quarta série, mas não existia no histórico escolar dela. Ela teve que refazer a quarta série, depois fez até a oitava, fez o colegial, depois fez curso técnico de enfermagem. Fez magistério, na época ainda existia magistério, e depois ela fez pedagogia. Minha mãe terminou pedagogia, ela já tinha cinquenta e poucos anos, hoje ela dá aula. Então ela sempre foi muito incentivadora, sempre correu muito atrás, até hoje, não para de estudar, fez pós-graduação, sempre gostou de estudar. Na época era muito cansativo, então a gente não tinha tanta aquela vontade. Eu gostava de estudar, eu sempre fui relativamente um bom aluno, nunca fui de tirar notas vermelhas. Mas também nunca fui cabeceira de sala de aula não. Mas sempre consegui me manter para não ficar de recuperação, esses negócios aí, sempre fui bem. Mas como era muito corrido, muito sofrido. Então praticamente eu fiz até o curso técnico, e dei uma estabilizada. Aí como eu entrei em Furnas, trabalho em linhas, hoje em dia ainda tem muito EAD, na época não tinha nada. Como viajo muito, toda semana, não tinha nem faculdade direito, hoje em dia que expandiu muito essa questão de faculdade, EAD e tudo mais. Principalmente com a pandemia, vai dar um boom maior ainda. Mas na época não tinha. Então ficou complicado para o meu lado isso ai. Mas eu sempre gosto de estar procurando, sempre gosto de estar informado sobre meu trabalho, está estudando sobre Furnas. Mas a minha família, meu pai, minha mãe principalmente, foi muito incentivadora. Até que a família, do lado do meu pai mesmo, nunca foi muito incentivadora, meus tios com os filhos também não foram incentivadores na questão de estudo. A grande maioria mora lá no sítio, trabalham lá, estão bem tranquilos, e poucos foram para a faculdade.
51:09
P/1- Você tem amigos que você carrega dessa época até hoje? Quem eram os seus melhores amigos nesse período?
R - Tenho bastante amigos, que a gente carrega. Mas a vida vai mudando, mudei de cidade muitas vezes, hoje é mais fácil né com WhatsApp e rede social. Quando eu passo e a gente se encontra, a gente conversa e tudo mais. Mas ficar indo atrás um na casa do outro, é muito difícil. De colega mesmo, que agora, nem está vindo em casa, está muito difícil a pandemia, são bem poucos os amigos. Agora com esta questão de pandemia é mais conversa nas redes sociais, e WhatsApp. Porque não dá nem para ficar visitando um ou outro, mas tem alguns amigos sim. Ainda tem o pessoal que mora próximo do sítio nosso. Vou pouco para lá, porque agora não tem casa, não tem nada, só passo por lá. Quando eu vou, a gente troca ideia, rola uma conversa, mas não é aquele relacionamento de melhor amigo. Só tem um que a gente conversa bastante, que sempre ia em casa, fazia um churrasquinho aqui em casa, mas com os outros é pouco. Quase ninguém na verdade.
52:43
P/1 - Você fez o colegial e ensino técnico depois?
R - Exatamente. Na época fazia o colegial e o técnico juntos, que eram de 4 anos e fui fazer metalurgia. Só que eu não consegui, por causa do translado, andava a pé, parava cedo o serviço, levantava de madrugada para voltar, quando perdia a perua tinha que ir a pé. Então eu não aguentei, fisicamente eu não aguentei. Mas eu fiquei muito triste na época, porque eu já tinha passado pelo pior, que era o trote. Na época curso técnico tinha trote, igual faculdade. Os caras rasparam o cabelo e tudo mais, zoaram a gente pra caramba lá. Eu já estava entrosado com a galera, então eu senti bastante. Depois fiquei trabalhando no sítio lá mais um tempo, ficou meio difícil no sitio, a questão financeira. Eu comecei a trabalhar numa empresa de refrigerante em outra cidade. Eu fiz o concurso de Furnas, não lembro se foi em 97 ou 98, não, foi em 98. Eu fiz o concurso de Furnas, acho que eu morava no sitio ainda. Fiz o concurso de Furnas, foi bastante sofrido também o concurso. Depois a gente fala disso. Daí o que acontece, depois de Furnas, ficava complicado para fazer estudo. Não tinha faculdade próxima, não tinha faculdade aqui em Itapeva, fácil. O pessoal saia, andava lá de Itaberá, para estudar em Avaré, que dava 120 km para um lado, ou então Itapetininga de dava 160 km para o outro lado. Então financeiramente eu não tinha condição para isso, para fazer essas faculdades para fora. O curso técnico não tinha lá na cidade. Tinha que trabalhar, eu trabalhava na indústria de refrigerante, fiquei pouco tempo na indústria, depois comecei a trabalhar na entrega. Então eu viajava bastante, ficava quase a semana toda fora, e quando eu estava na região, eu saia cedo e voltava a noite para casa. Então não tinha condição. Tinha que trabalhar e não dava para estudar, não tinha como, faculdade nem se fala, ficava extremamente caro pagar a faculdade mais a condução, o transporte, pra ir pra faculdade. Lá na cidade estudava quem tinha uma condição financeira muito boa, para poder conseguir bancar isso ai. Então não dava, não para estudar. Daí depois que eu entrei em Furnas, ai eu fiz o curso técnico, eu estava em Furnas ainda. Porque era um curso técnico meio curto, mais curto que faculdade, aí eu consegui fazer alguma coisa. Eu tinha que viajar, tinha vezes que eu tinha que ir com meu carro. Trocava muita ideia aqui com a supervisão, para ficar fazendo serviços aqui na região, para poder ir e voltar. Como eu trabalhava na área, então os professores, eles conseguiam avaliar essa questão também. Eu já conhecia bem isso aí, já tinha feito o CTB em Furnas, que é praticamente um curso técnico, essa questão de elétrica e tudo mais. Eu me dava muito bem com os professores, eu tinha que tirar as notas, só que eu nunca tinha o mínimo, que era de 75% presença, nunca tive, nenhum semestre, nunca tive. Então eu ia sempre para conselho, como eu tinha as notas boas e os professores me conheciam. Eu já era adulto na época, já era casado. Eles sabiam que eu não estava lá para brincar, e tinha muita molecada, que ia lá, não tinha um compromisso. Então eu ia para conselho, e como eu trazia muita informação. Quando eu ia na escola, muitas vezes, por várias semanas era só na sexta-feira, quando eu voltava de viagem. Mas sempre pegando a matéria que tinha sido dada, e quando eu estava viajando, tirava xerox do caderno dos colegas. Na época não tinha esse negócio do WhatsApp, tirava xerox e estudava tudo aquilo lá da semana anterior. E trazia muita informação, experiência nossa de campo, porque dentro da escola, esse trabalho nosso de transmissão de energia, de geração, se ensina bem pouco sobre isso. Então eu trazia muita experiência de campo, das nossas subestações, principalmente da nossa área de atuação, é menos ainda que se ensina. Porque dentro do Brasil, só tem aqui nesse corredor dos 750 kv, a Usina de Itaipu, transmissão de ponte contínua, são subestações muito grandes, equipamentos muito grandes. Até na época a gente conseguiu levar o pessoal na subestação para conhecer, o pessoal ficou muito encantado com a grandiosidade da empresa, a grandiosidade dos nossos empreendimentos. Eu agregava bastante nas aulas, principalmente nas aulas de elétrica em si, foi bastante corrido também para fazer o curso técnico, assim como muitos de Furnas, foi bastante corrido, principalmente quem é de linhas, que viaja muito.
58:34
P/1 - Como é que você soube desse concurso de Furnas? Você já estava dentro do ensino técnico?
R - Não, eu fiz o concurso em 98, quando eu entrei em Furnas a gente não precisava ter técnico, para fazer o concurso. Eu fiz o curso técnico eu já estava dentro de Furnas. Esse concurso na realidade, quem ficou sabendo foi minha mãe, não foi nem eu. Ela viu lá jornal, que ia ter o concurso de Furnas, a gente conhecia a empresa, mas não conhecia assim em geral, a gente conhecia os empreendimentos, conhecia as linhas e tudo mais. E eu sempre fui encantado, sempre gostei daquelas linhas, achava muito bonito as cores, tinha muita curiosidade em saber, como que fazia aquilo lá. Na época que eu era moleque, eu subia nas torres, eu via os caras montando as torres, colocando ela em pé, mas eu não vi lançamentos dos cabos, lançamento de para-raios, a fundação, não vi nada disso! Então eu tinha muita curiosidade de saber, “como que coloca aqueles cabos, como faz isso, como faz aquilo”. E via muito o pessoal falando, da primeira linha que tinha passado, “nossa, pessoal é doido, pessoal anda de carrinho naqueles cabos ali, nossa, eu não tenho coragem disso”. Eu ouvia muitos comentários, até hoje o serviço de linha de transmissão, ele dá um impacto visual bem grande. Se você está trabalhando na beira de uma estrada, na torre, você está fazendo serviços nos cabos ali. Todo mundo que passa de ali de carro, na rodovia, os caras param, buzina. É um serviço assim, que não é normal você ver no dia a dia. Então ele traz um impacto para a sociedade, pra quem vê. Muitas vezes a gente está fazendo um trabalho, lá num bairro lá, o pessoal vem, sai das casas e fica próximo ali olhando, curioso. Quando a gente desce da torre, o pessoal chega, quer saber como que é, como que faz, quer saber sobre a linha, eu era igualzinho. Gostava de ver esse negócio. E minha mãe ficou sabendo pelo jornal, uma propagandinha de jornal, que ia ter o concurso, na época a grana era rala pra caramba, hoje graças a Deus tá muito melhor, infelizmente a pandemia tem judiado muita gente, mas fazer o que, tem que melhorar isso aí. Minha mãe falou: Você quer fazer? “Porra mãe, eu não vou fazer esse trem ai não, você acha que vou passar? Uma empresa que quase o Brasil inteiro vai fazer, se acha que eu vou passar nesse concurso?”… Vai fazer sim, confio em você, tinha que pagar e não era barato pra época, nas condições nossas, não estava barato, daí ela falou: eu pago para você a inscrição. Para você ter uma ideia como que hoje, a internet democratizou muita coisa, ela diminuiu as distâncias. Na época eu tinha que sair de Itaberá e ir para Sorocaba, 180 km para fazer a inscrição para o concurso, lá nos correios de Sorocaba. Porque nenhum correio aqui das cidades vizinhas aceitava as inscrições. Era feita diretamente no correio. Na época eu fui de carona, em uma ambulância da prefeitura, que levava enfermos para Sorocaba no hospital, que lá é hospital regional, tem Hospital das Clínicas, levava lá os enfermos. E como a gente tinha conhecimento ali, tinha um amigo nosso lá, parente de uns parentes meu, que era motorista dessas ambulâncias. Na época ele conseguiu para eu ir junto com ele para Sorocaba. Eu fui sentado no assoalho, porque a pessoa que estava doente na maca, daí tinha mais um banquinho do acompanhante e eu fui sentando no assoalho. Na época não tinha essas coisas de cinto de segurança, as leis de trânsito não eram tão rígidas. Eu fui ali sentado, aí ele deixou o enfermo no hospital, não era muito longe do correio lá de Sorocaba, fui a pé com ele lá, fiz a inscrição e voltei com ele. Depois tive que fazer a prova, em Sorocaba de novo. Tinha um colega meu, que a mãe dele morava em Sorocaba. Troquei uma ideia com ele, a gente foi para Sorocaba num sábado, ficamos lá na casa da mãe dele, a prova era domingo, fiz a prova teórica, voltamos para casa. Depois de um tempo saiu o resultado, veio um telegrama, que eu tinha passado na primeira etapa, fiquei felizão, passei moleque, estou bem. Eu tinha visto já pela prova, que eu tinha ido bem, quando saiu o gabarito, eu achava que não tinha chance, voltei para Sorocaba depois para fazer exame psicológico. Fiquei na casa da mãe desse colega novamente, fiz o exame psicológico e depois desse psicológico foi rolando, nossa, ficou muito tempo parado. Saiu a classificação que eu tinha passado, novamente. Só que ficou muito tempo parado, porque foi uma época que o pessoal queria privatizar a empresa, então seguraram de 98. Nesse período eles começaram a chamar alguns outros polos, porque na época o concurso era polo São Paulo, que era São Paulo e Paraná, polo Rio, polo Minas e Goiás. Então tinha os polos. E eles começaram a chamar algumas pessoas das regionais que estavam precisando de mais gente. Então chamou a galera ali de Mogi das Cruzes, chamou o pessoal de Minas Gerais, um pessoal lá de Goiás, que trabalha hoje com a gente, grandes parceiros meu. Só que eles eram chamados, ia para o curso, para o CTB que era o treinamento básico nosso de linha. Só que eles ficavam registrados numa terceirizada, não era efetivo direto da empresa, e ficou nessa enrolação, enrolação. Eles me chamaram em 2000, para ir pra São Paulo, fazer o exame físico, depois voltei para São Paulo para fazer o exame de altura, daí parou mais um tempo, depois chamaram para fazer exame medico e entrevista. Em agosto de 2000 que fui para Furnas, fazer o CTB, mas nessa caminhada eu fui 3 vezes para Sorocaba e 3, 4 vezes para São Paulo. Com a grana curta, não era fácil não, dava trabalho, por isso que eu falo que hoje tudo é bem mais prático. Nos outros concursos já foi feito exame médico aqui em Itapeva, inscrição você faz pela internet. No último concurso até as provas escritas foram feitas aqui em Itapeva, na verdade foi em Itaberá, onde é a base de Furnas lá. Então é bem mais prático, bem mais fácil hoje em dia, nessa questão de concurso. Logicamente a concorrência é muito maior também hoje, porque melhorou as condições de fazer a inscrição, e tudo mais, até pela procura e conhecimento da empresa. Hoje seria um concurso muito mais concorrido também, não que na época não fosse, mas hoje é muito maior, não tem nem o que dizer. E nesse período também, eu fiz um concurso para agente penitenciário. Fiz um concurso de agente penitenciário, um pouco antes de me chamaram para Furnas. Daí quando eu estava em Furnas... Eu também fiquei um tempinho em Furnas na contratada, por causa dessa questão que queriam privatizar. Quando Furnas saiu do plano de privatização, eles nos efetivaram, para Furnas mesmo, foi 2002, sou do dia 10 de janeiro de 2002 na minha matricula, fui para CTB em 2000. E nesse período aí, me chamaram também para trabalhar como agente penitenciário. Só que como eu já estava na empresa, já estava tranquilo aqui, estava gostando do que eu estava fazendo, então falei: vou não! Vou ficar aqui mesmo. E meu irmão depois fez o concurso e hoje ele é agente penitenciário, mas na época foi bem corrido para fazer o concurso, deu um pouquinho de trabalho.
01:08:27
P/1 - Você se lembra como é que foi o seu primeiro dia em Furnas? Foi no CTB como é que foi isso?
R - Na realidade, têm dois primeiros dias. Um primeiro dia, que é do CTB, na divisão de Furnas, tudo é diferente, principalmente do ramo que eu vim. Muita gente, gente de todo o Brasil, quando eu estava lá no CTB, tinha o pessoal Rio de Janeiro, que estava fazendo o CTB de operação, tinha o pessoal nosso, na nossa equipe estava 12 de linhas e 28 da operação, que estava lá. Então tinha pessoas do Tocantins, tinha pessoas do Paraná, de várias regionais do Paraná, tinha pessoas daqui de São Paulo, do Espírito Santo, tinha pessoas do Brasil todo lá. Então você vai chegando ali, conhecendo o pessoal, trocando ideia, conhecendo novas culturas, então foi bem legal. Só que lá no CTB, você tem aquele temor, porque o CTB nosso, era eliminatório, ainda fazia parte do concurso. Então você tinha que estudar nos três primeiros meses das 7h30 às 16h30, que era a parte teórica, segurança do trabalho, elétrica, conhecer a empresa, tudo mais. Tinha aula de educação física, então você tinha aquele compromisso, que você tinha que ir bem, na média, a nota mínima para você passar era 7, você tinha que saber, tinha que estudar, e era bem puxado o estudo, era bem puxadinho. E lá eles avaliavam muito o comportamento, trabalho em equipe, porque a gente é uma equipe, principalmente quando a gente está em campo, trabalho em linhas que eu atuo, a empresa no geral, em praticamente em todas as áreas da empresa é um trabalho de equipe. E nós que estamos no operacional, na manutenção, o nosso trabalho em equipe traz muito risco um ao outro, muitas vezes a vida de um colega está nas minhas mãos, se eu fizer uma manobra errada eu posso ocasionar um acidente, eu posso machucar um colega, um acidente grave, tanto ele, como eu, como a equipe toda. Então a empresa, principalmente no CTB, quando a gente está lá, eles prezam muito isso. Como a gente dormia dentro da empresa, tinha um alojamento, então praticamente você estava sendo vigiado ali, alguém sempre estava de olho no seu comportamento de equipe, o tempo todo, você tinha uma certa apreensão, mas isso é bom, porque se a pessoa não tem esse habito de trabalho em equipe, ela vai ter que começar a ter, desde do CTB, trabalhando e olhando pelo colega, sempre está um de olho no outro, atendendo pela segurança. Então a gente tinha esse compromisso, essa pressão nos primeiros dias principalmente, são pessoas totalmente diferentes ali juntos. E depois tem o primeiro dia quando você vem para a base, cada localidade é onde a gente vai trabalhar. Eu vim para Itapeva, na época o escritório era aqui, não era na subestação, a nossa base de linhas era aqui na cidade de Itapeva. Então quando eu cheguei, eu já tinha feito a parte prática, já tinha uma noção do trabalho, só que quando você vai no CTB, as torres são mais baixas, são equipamento menores. Quando você vem aqui para nossa área, são equipamentos maiores, você fica um pouco cabreiro, um pouco assustado, mas tem uma galera muito boa, muito experiente. Para você ter um ideia, quando eu cheguei aqui, eu e outro colega que tinha entrado 6 meses antes que eu, fora nós dois que éramos os novatos, o mais novo tinha 15 anos de empresa. Então experiência era o que não faltava, a gente foi bem acolhido, a gente aprendeu muito com essa galera. Todos já se aposentaram, a herança que temos de aprendizado é muito grande, depois a gente foi pegando o jeito. Como eu era acostumado com o trabalho de linhas, você vive em campo, no meio do mato, muito contato com a natureza, lugares de difícil acesso, como eu já tinha vindo do campo, aquilo ali era normal, eu não senti dificuldade nenhuma nisso ai.
01:13:23
P/1 - Conta mais um pouquinho, como que era o CTB? Você conheceu muita gente de lugares diferentes, como é que era essa convivência? Estudar, a prática? Como é que foi isso?
R - O CTB, pros “forneiros”, ele é um marco na vida. Todo mundo que faz CTB, fica marcado. Primeiro porque é a iniciação de uma carreira da pessoa, dentro de uma grande empresa, e muitas vezes, que nem eu mesmo, eu vim de uma família muito humilde. E minha vida era totalmente diferente, meu trabalho, o que fazia, era totalmente diferente do que aprendi lá. O relacionamento com várias pessoas, de vários lugares, você ter uma disciplina diferente, do que a gente tinha no dia a dia, então isso ai marca muito. E a gente faz muita amizade no CTB. Você tem aquela convivência de acordar cedo, são alojamentos, tem os quartos, tem uma sala no meio, tem X quartos de um lado, X quartos do outro lado, os quartos são individuais, e lá no fundo tem os banheiros, vários banheiros comunitários, você tem aquela convivência. Eu nunca tinha morado com um punhado de gente junto, sempre morei com a minha família, no máximo dormia na casa de um tio, nunca tinha tido essa convivência de morar com bastante gente, com história diferentes. Então era legal você conhecer várias pessoas, você tem mais afinidade com algumas pessoas. Mesmo eu sendo criado no sítio, sempre fui fácil de fazer amizade, de conversar, sempre gostei de tratar as pessoas bem. Gosto de tratar as pessoas bem e gosto de ser tratado bem. Eu sempre falo, eu gosto de ser um espelho. Se a pessoa me trata mal, eu também não sou florzinha que se cheire, mas também, muitas vezes eu ignoro, não gosto de ficar procurando esses atritos, mas tem hora que também não dá. Mas sempre gostei de tratar as pessoas bem, de ter amizade, de ser proativo. Se a pessoa precisar de mim eu estou ali para ajudar, para conversar, para fazer o que precisar. E lá era muito legal isso, porque durante os estudos a gente formou uma grande família lá mesmo, pessoal que era da operação que é do outro trabalho, que são os operadores de subestação, como nós de linhas. Então, os operadores subestação, na época eles já tinham curso técnico, já teriam que ter curso técnico, nós de linhas, alguns tinham, outros não tinham. Então era legal, porque muita coisa que a gente não sabia de elétrica os caras nos ajudavam, os caras davam aquele apoio. Final de semana a gente fazia festa, logicamente que dentre 40 pessoas, 40 jovens ali, de vez em quando saia um arranca-rabo. Principalmente porque tinham pessoas que eram evangélicas, pessoas que gostavam mais de uma festa, e como tá todo mundo ali envolvido, uma hora o barulho, no final de semana ia até mais tarde, outro já não gostava, mas tudo conversava, conversando tudo se resolvia, nunca saiu assim, algo mais grave, sempre conversava e se resolvia. Então era uma experiência muito legal, amizade era muito, então, tem um pessoal que fez CTB comigo, hoje trabalham em linhas, tem alguns que saíram, mas a gente tem contato até hoje, principalmente porque a gente trabalha muito nas emergências, nos serviços grandes. A gente que é de linhas, eu sempre falo para o pessoal, a gente tem um benefício, uma graça que eu acho, porque o pessoal que equipamento, pessoal da Eletroeletrônico, comunicação, relés, pessoal do equipamento, quando eles fazem CTB, cada um vai para sua área, e eles poucos se encontram, hoje eles conseguem conversar porque tem WhatsApp, tá tudo mais fácil, na época quase nunca se encontravam. Então aquele vínculo de amizade vai se perdendo com o tempo, já nós de linhas, não. Nós de linhas, cada um foi para a área, mas quando eu cheguei na minha área, pra trabalhar. Aqui eu entrei no dia 1º de março de 2001, eu cheguei aqui pra trabalhar. Um mês depois, em abril, eu fui trabalhar lá em Mogi, receber linha lá em Mogi, com o pessoal no circuito três, que estava terminando de construir, fui fazer comissionamento. E esse trabalho reúne gente de várias áreas, então eu já me encontrei com vários colegas, conheci muitos colegas de linha, já tive o privilégio de conhecer a equipe de linhas de outras regiões, de outras áreas, e encontrar colegas que há um mês que eu não via, que estava no CTB. Isso aí há 20 anos que eu estou em Furnas, 21 anos, desde o CTB, vai fazer agora. Eu encontro com esse pessoal direto, a gente tem o nosso grupo de linhas, que a gente tá conversando direto. Eu sempre pergunto para o pessoal da subestação, “pô, vocês tem um grupo aí de tal área, que tem todo o pessoal da sessão de vocês, o pessoal de Furnas inteiro?” “Não, não tem nada!” Rapaz, para você ver, nós de Furnas, eu conheço, eu falo nome por nome de todo pessoal de linhas de Furnas, de todas as regiões. Então, a gente tem esse benefício de não perder esse vínculo de amizade, a gente de linhas tem esse benefício, com a graça de Deus, nas emergências e tudo mais, a gente sempre está junto.
01:20:11
P/1 - Tem alguma história boa que você gosta de lembrar, que você gosta de contar, sobre esse período do CTB, que você pode contar?
R – As histórias do CTB mais engraçadas, são as histórias da prática. A gente chegou no primeiro dia lá, porque a gente fez a parte teórica na usina de Furnas, lá perto de Passos, e a parte prática, a gente fez na usina de Marimbondo, que é lá em Fronteira, no Triângulo Mineiro. E no primeiro dia a gente foi lá para sala de aula, conhecemos os instrutores, trocamos ideia, a gente ficou… Não lembro direito, se ficamos 1, 2 dias na sala de aula primeiro, depois que a gente foi para campo, para o centro de treinamento, lá onde tem as torres. Tem três circuitos montados lá, são seis torres se não me engano, 6 não, são 9 torres, são 3 em cada circuito, 138, 345 e 500 mil volts, circuito montado lá. Então, quando a gente chegou lá... Nossa, só tinha um colega que já conhecia a torre, que era o Vartinha, é que lá de Ivaiporã, hoje não está em linhas mais, esta na operação, uma figuraça, gente boa pra caramba, que conhecia. Porque o pai dele já era eletricista de linha, então ele foi criado ali, igual a gente falava: ele é piolho de linha transmissão. E ele trabalhou na fiscalização de linha de transmissão de Furnas, quando ele completou 18 anos, praticamente ele já entrou para trabalhar em uma empreiteira de Furnas, na construção do circuito. Então ele já conhecia muito, já trabalhava pra caramba nisso ai, e o resto, quase ninguém... A não, tinha o Serjão também, que era lá de Marimbondo, que já era mais velho que a gente, gente boa para caramba. Conhecia, só que ele não trabalhava em cima da torre, porque ele trabalhava em Furnas, na contratada, só que ele era operador de guindaste, ele conhecia a linha, tudo mais, mas não trabalhava em cima das torres, trabalhava com equipamento, que conhecia também. Então o resto do pessoal, ninguém conhecia. Então quando nos chegamos rapaz, para subir na primeira torre, a torrinha que hoje a gente olha, e fala que é torre de doce, kinder ovo, a gente olhava naquilo lá rapaz, um olhava na cara do outro, e o professor perguntava: quem vai primeiro? Rapaz, que nem aquele história, quem for primeiro dá o primeiro passo à frente, e todo mundo da um passo para trás. Era só nego saindo para trás. Eu lembro do Rafael, que é lá de Ivaiporã também, que não está em linhas, também esta em equipamentos, gente boa, cara trabalhador pra caramba, virou um grande profissional. Mas no primeiro dia rapaz, o que esse Rafael tremia para subir na torre, ele ia subindo na torre, ai chegava num ponto em que você via ele tremendo, o sufoco que ele estava, não tinha subido 3 metros na torre ainda. Rapaz, e aquilo lá foi... Depois a gente dava muita risada, mas na hora que você estava ali na torre, era uma tensão. Eu já tinha subido em uma torre quando era pequeno, então eu estava mais sossegado, só que quando a gente sobe, que a gente é pequeno, eu era moleque, parece que você não tem aquela preocupação, já quando você já é adulto, você já vê com outros os olhos, o risco, mesmo você estando de cinto, totalmente seguro, a gente não tem a mesma visão. Eu pensava comigo, eu subi nessa torre quando eu era moleque, e agora eu estou no sufoco de subir nesse trem aqui, ah não, vou ter que subir. Então você fica naquele receio, e a gente dava muita risada do Rafael, porque ele subiu, ele travou ali, ele ficou tremendo, tremendo e tipo assim, com o passar dos dias, virou um grande profissional, parecia que dava pirueta em cima da torre, que parecia que aquilo lá pra ele era como se estivesse andando no chão. Mas no primeiro dia foi um sufoco, a gente dava muita risada, era muito hilário de ver a cara do pessoal na hora que descia da torre, descia até branco alguns.
01:24:31
P/1 - Nessas aulas práticas, vocês tinham que fazer o quê na torre, em Marimbondo?
R - Nas aulas práticas a gente conhecia desde a questão de segurança, nos primeiros dias, de como vestir um cinto segurança, como usar os equipamentos de segurança, os EPIs, equipamentos de segurança individual, como escalar uma torre, fazer um aterramento na linha, como trocar um isolador, como instalar um pré-formado, como trocar um espaçador. Depois a gente passa para a ancoragem, como trocar isolador de ancoragem, como instalar um esticador de parafuso, para colocar os cabos para baixo, trabalhar com talete, Fór, todas essas questões de manobras. De trabalhar com para-raios, com manobras em cima da torre. E sempre a segurança, questão mecânica, como se aplicar os esforços mecânicos na torre, nos cabos, nos equipamentos, todo dessa questão que a gente aprende lá no centro de treinamento.
01:25:53
P/1 - Você se lembra como é que foi, como você sentiu a primeira vez, que você visitou uma usina? Foi Furnas a primeira que você foi?
R - Foi sim, foi Furnas. Foi lá na usina de Furnas ainda. Quando já estava no CTB, depois de umas duas semanas que estava lá, o pessoal programou uma visita nossa pra usina. Porque a gente fica distante, o alojamento é um pouco distante da Usina, e para acessar a casa de máquinas, casa de controle, é uma área controlada, não chega lá e entra de qualquer jeito não. Então como era bastante gente, era uma visita programada e tudo mais. Não lembro se a gente foi em duas turmas, ou uma só, mas daí que a gente foi conhecer a usina, a grandiosidade que é a usina, principalmente a usina mãe, da empresa que lá que foi fincada a pedra fundamental, lá que começou a empresa. Na realidade começou o sistema elétrico brasileiro, com grandes usinas, com grande capacidade de transmissão de energia, as maiores linhas de transmissão da época, saiu daquela usina lá. Interligando o sul, sudeste, as grandes capitais, Rio de Janeiro, BH, São Paulo, saiu de lá. Então foi muito interessante conhecer, para a gente ver, o quanto é grande aquilo lá, o que o homem é capaz de fazer, de construir, a engenharia brasileira é capaz de fazer. Então é muito interessante, é bem legal.
01:28:02
P/2 - Alex, voltando um pouco no CTB, eu sei que tem uma aula que vocês apresentam para família de vocês, o que vocês fazem, o risco, que é um risco bem grande. Como é que foi isso? Como é que foi essa relação para eles, de você estar entrando nesse mundo, enfim, conta um pouquinho pra gente?
R - É Dani, minha mãe no começo, quando ela viu... Porque quando eu fui para Furnas, eu nem sabia direito qual seria o meu trabalho. Eu sabia que tinha trabalho ali, mas eu não sabia direito o que eu faria ali dentro, sabia que ia trabalhar com eletricidade, mas eu não sabia que era para ir para a linha de transmissão, era para ficar na subestação. Então, quando começou aquilo lá, e como eu já conhecia Furnas, conhecia a linha, para mim até que foi normal. Quando eu apresentei para minha família, a minha mãe, ela viu que o negócio é arriscado, traz um grande risco, já houve muito acidente, dá aquele impacto, mas nunca ela foi contra. Porque ela sempre falou, desde que eu passei no concurso, que ficou aquela espera para ser chamado, o sonho dela, era que eu fosse trabalhar em Furnas, era o sonho dela. E tinha muita gente, minha mãe comentava, orgulho de mãe, “meu filho passou, está esperando chamar para trabalhar em Furnas”. Muita gente falava: desde quando, vai trabalhar em Furnas nada, isso é pataquada, deve estar mentindo, inventando. Então quando eu fui trabalhar para lá, quando fui para o CTB, para ela era um grande orgulho. Ver o risco, vê, mas ela sempre falou: a gente sabe que tem toda essa técnica, tem todo um padrão de segurança, é uma empresa grandiosa. O que importava para ela era melhoria de vida para o filho dela, ela sempre colocou acima, a qualidade de vida, a melhoria de vida, minha e deles também, porque a gente morava junto na época. Então era isso aí que ela colocava a frente. Logicamente, sempre dizia, “toma cuidado, fica esperto, atende pela segurança”, sempre tinha os conselhos. Mas ela nunca foi muito bitolada, por ser um serviço de risco. E eu já fiz várias coisas de risco, como andar de moto, esportista, essas coisas, minha mãe nunca foi bitolada, ela sempre confiou no taco do filho nessa questão aí. Minha família também, depois que eu casei tudo mais. Minha esposa, quando a gente casou, quando a gente se conheceu, eu já trabalhava com isso, então ela sempre foi acostumada, meus filhos sempre foram acostumados, nunca tiveram algum problema de preocupação, abitolado com esse tipo de coisa. E eles sabem o quanto eu gosto do meu trabalho, sempre foram incentivadores, minha esposa, meus filhos, mesmo em questões de viagens, porque fica fora. Quando estou viajando e tem algum problema de saúde na família, alguma coisa, sempre a minha esposa fez tudo sozinha, sempre me deu o maior apoio. Perguntava, “nossa quer que eu veja se eu consigo voltar?” “Não, eu dou conta aqui.” Então nunca tive problemas, eles sabem do risco, eu mostro para ele os riscos, você sabe muito bem como que é o nosso trabalho, mas nunca teve empecilho nenhum nessa questão.
01:32:14
P/1 - Alex fala para gente o que faz um técnico de linha de transmissão? Quais são os riscos, esses que você está falando? E como era o dia a dia nessa área?
R - O dia a dia do técnico de manutenção de linha de transmissão, ele e bem diversificado. A gente tem uma programação de trabalho, mas muitas vezes sai fora dessa programação, por eventos da natureza, por vários eventos que tem no decorrer da semana. Porque a gente faz uma programação para ir trabalhar em campo, muitas vezes faz uma inspeção na linha de transmissão, a gente está lá em campo, daqui a pouco acontece um vendaval lá no Paraná, e acontece um evento lá, dá um sinistro e derrubam algumas torres. A gente tem que sair da onde esta, ter que ir muitas vezes para casa, pegar roupas e se deslocar para esse ponto para dar apoio, para área da onde ocorreu o evento, para dar manutenção, reerguer as torres, inserir novamente a linha no sistema. Muitas vezes a gente está lá num trecho de linha, fazendo algum trabalho, daqui a pouco recebe uma ligação de um proprietário, ele precisa construir alguma coisa próximo da linha, ou ele viu que pegou fogo próximo da linha, que a gente vai dar uma olhada. Você tem que sair de lá e ir dar uma olhada, para atender a demando do proprietário, pra ver o que está acontecendo. Então isso aí são muitas coisas, que o dia a dia nosso, a gente tem uma programação que a gente faz, para dar seguimento melhor possível no trabalho. A gente tem uma programação anual para fazer inspeção, para fazer manutenção, para fazer inspeção área, tem inspeção terrestre e tem inspeção aérea. Então a gente tem uma programação anual, que isso ai para um sistema, tudo certinho. Mas muitas vezes a gente está fazendo com a programação e alguma coisa acontece, e a gente sai fora para atender alguns outros eventos, ou uma área precisa de uma ajuda lá, para fazer um trabalho grande que surgiu lá, a gente tem que ajudar. No dia a dia o nosso trabalho básico começa pela inspeção, tanto inspeção terrestre, com inspeção aérea. Inspeção terrestre o que é, a gente vai fazer equipes, depende o tipo de linha, depende se a linha é paralela, uma com a outra, são equipes no mínimo de duas pessoas, em uma caminhonete 4x4, equipada com guincho, quebra mato, para andar em lugares mais ruins, no meio do mato, na pastagem, essas coisas, e a gente vai fazer inspeção. Com essa inspeção a gente vai procurar os problemas, as ocorrências que podem estar acontecendo naquela linha. A questão de acesso, questão de vazão de faixa de servidão, que seria plantio de reflorestamento, construções, erosão embaixo de torre, erosão em acesso, em cima da torre a gente vai ver a questão de isolador, questão de grampa, que onde segura os cabos, para raio, a própria estrutura, onde segura os 4 cabos para unir eles e amortecer a vibração deles. Então isso aí e um basicão que a gente faz na inspeção terrestre. A inspeção terrestre ela se prolonga aí próximo a metade do ano. A gente termina uma linha, aí faz outra, dependendo a linha, dependendo a região, tem muita particularidade também, dependendo a região que a empresa está, tem um tipo de inspeção. Por exemplo, você pega uma região litorânea, você tem uma incidência muito grande da maresia, então você tem estruturas, ferragens da linha de transmissão que são atacadas pela maresia, então você tem uma incidência maior de corrosão na ferragem, de oxidação na ferragem. Então naquela área fica uma inspeção mais detalhada, uma inspeção talvez com maior periodicidade anual, eles têm uma inspeção diferente, muitas vezes da área nossa, aqui aonde a gente não tem essa incidência de maresia, corrosão mais acentuada nas estruturas. Pega um região que venta muito, lá em Foz do Iguaçu, que é uma região plana e eles têm uma incidência de vento maior, então eles têm uma incidência de ocorrências com para-raios, desgaste de manilhas de para-raios, de grampos de para-raios, de cordoali. Então eles focam bastante nisso, muitas vezes eles tem que escalar mais torres que a gente, olhar em in loco essa questão. E agente também tem a inspeção... Nesse detalhe também tem a idade da linha, um linha mais velha, um linha mais nova. Então tudo isso influencia na inspeção. E a gente tem a inspeção aérea, que a gente faz anualmente também, que é feita com helicóptero, até hoje, está começando a inspeção aérea aqui no nosso departamento, que é o GRQ, nossa gerência. GRQ está começando hoje inspeção aérea na subestação de Ibiúna. Vai de hoje até o dia 28, dia 29 a gente começa a inspeção aérea nossa aqui em Itaberá, são duas semana lá e duas semanas aqui de inspeção aérea. Essa inspeção aérea e uma inspeção mais rápida, enquanto a gente vai metade do ano para fazer a inspeção terrestre em todas as linhas que temos aqui. Aqui na nossa área de Itaberá, a gente tem aproximadamente 1200 km de linhas e aproximadamente 2700 torres, só aqui na nossa base. Então a gente vai aproximadamente metade do ano, ou mais, com o efetivo que a gente esta tendo hoje, um pouco mais da metade do ano para fazer inspeção terrestre em todas as linhas. A inspeção aérea, a gente faz a inspeção em todas as mesmas linhas em duas semanas, em 40 e poucas horas de voo, aproximadamente 45 horas de voo. Só que a gente não consegue ver tudo que a gente consegue ver na inspeção terrestre. A inspeção aérea é uma inspeção que nos dá uma visibilidade geral da linha, uma visão macro da linha, em um curto espaço de tempo. Então as principais ocorrências a gente consegue detectar na inspeção aérea, principais ocorrências, só que muitas ocorrências gente não consegue detectar, por exemplo, algum formigueiro embaixo de torre, muitas vezes está com capim, está sujo, e você não consegue ver, não parece, mas formiga traz risco para a torre, entendeu. Porque ela cava a base da torre e afofa a base da torre, então você tira a compactação da base da torre. Estrada de acesso, se você está passando de Helicóptero, você não consegue ter uma noção, saber como que aquela estrada de acesso tá, se você precisa recuperar, limpar a vegetação, quando encontrar vegetação, fazer um bueiro, fazer uma ponte, fazer um colchete né, você não tem como você ver. Mas a inspeção aérea traz uma visão muito boa das principais ocorrências da linha, em um curto espaço de tempo. Então se a gente detecta alguma ocorrência grave, ali na inspeção aérea, a gente vai fazer uma programação, muitas vezes a gente está, também, fazendo uma inspeção terrestre, a gente vai interromper uma equipe, ou duas equipes que estão fazendo inspeção terrestre né, ou se a gente tiver, por exemplo, em 3, 4 equipe, vai tirar duas equipes, por exemplo, dali, pra gente fazer, montar uma equipe de manutenção, para ir dar manutenção naquela ocorrência crítica que a gente achou na inspeção aérea. A gente deu aquela manutenção, volta todo mundo para inspeção terrestre novamente, entendeu. E a inspeção aérea, também, ela traz um pacto, questão mais socioambiental né, social, vamos supor, por que, a inspeção terrestre praticamente a gente pouco vê os proprietários, assim, a gente indo na torre. Porque muitas vezes a casa do proprietário ta um pouco afastada, a gente não passa próximo da casa dele, então, muitas vezes a gente entra lá dentro da propriedade do cara e nem vê que a gente foi ver, ele acha que a gente nem vai na torre, e a inspeção aérea não tem como a pessoa não ver que a linha está sendo vigiada, entendeu. A gente passa de helicóptero, a gente voa alí próximo de 55 km/h né, então, como agora a gente está tendo uma inspeção que é a inspeção detalhada, tem uma câmera no helicóptero, ele faz a filmagem de todo o percurso, de toda a linha, e a cada “x” torres a gente para e faz uma inspeção com essa câmera né, tem uma câmera de alta definição com um alto Zoom, então a gente filma ali, fica aproximadamente 2, 3 minutos filmando a torre inteira, cada ponto da torre, então, o pessoal vê muito. Quando a gente encontra um proprietário ali, ele não fala, ô, fulano passou aqui no ano passado, ele fala, nossa vocês passaram na inspeção aérea aqui, passou um helicóptero vendo a linha aqui, atendendo a linha. Então a inspeção aérea ela também traz essa essa visibilidade, pra quê, para as pessoas verem que a gente tá ali, fazendo inspeção, tá tendo uma preocupação com a linha, que a gente tá de olho na linha, direta, então evita muitas vezes vandalismo, os proprietários ficam, se precisar, eles sabem a onde correr né, e a gente também coloca as plaquinhas, e sabe que a empresa tá preocupado com a linha.
1:42:30
P/1 - Você se lembra como foi a primeira vez que você fez uma inspeção terrestre e uma aérea? O que que você sentiu? Deu certo? Como é que foi para você?
R - A inspeção é terrestre mais tranquila né, para quem está começando, porque a inspeção terrestre você tem tempo, para você olhar a ocorrência e detectar ela. Então, você tá ali com mais um colega ou dois colegas, dependendo da linha, com experiência para te auxiliar. Então a gente tem tempo ali para pegar, você faz uma inspeção e ele vem novamente e olha o que você olhou né, para ver se não passou nada. Quando ele acha uma ocorrência ele te chama, te mostra aquela ocorrência. Porque tem ocorrências, que a pessoa leiga vai olhar, olhar e não vai achar nada, entendeu, são detalhes, são detalhes que pessoas que já tem um feeling, uma experiência, ele vai conseguir detectar, né, então você na inspeção terrestre é mais tranquilo para a gente conseguir detectar essa ocorrência, por quê você tem tempo, você tá ali no sol, se precisar ficar 2 minutos você fica, 5, 10 minutos o cara te explicando sobre aquela ocorrência, tranquilo. Na inspeção aérea já é complicado, porque não fica parando toda hora ali ,você tem uma velocidade e enquanto você não pega uma certa experiência, parece que tudo passa muito rápido, entendeu. Então, eu tava ali olhando que, na inspeção aérea, quando eu comecei, a gente fazia a inspeção, não tinha essa câmera para auxiliar, e também, não voava com a porta do helicóptero aberta, então, o inspetor mais experiente, ele voava no banco da frente do helicóptero, a pessoa que tinha uma maior visão, e o inspetor menos experiente ele voava atrás, porque ele tem uma visão mais limitada por causa do vidro, na realidade não era um vidro, era um acrílico do helicóptero que era bem pequeno né, então você encostava a cabeça ali e ia olhando as torres dali mesmo, e era o cara responsável por anotar, também, as ocorrências. E hoje, na inspeção que a gentes faz aqui na nossa área, algumas áreas já tem feito, aqui eu comecei com o comandante Robson, uma vez, a voar com a porta aberta. Por um acaso ele tinha um cinto ali dentro do helicóptero, eu falei, comandante, da para a gente voar com a porta aberta? Eu via muitos fotógrafos que faziam isso, e falei, a gente pode voar com a porta aberta? Pode. Eu falei, tem um cinto aí, vamos fazer um teste? Vamos. Daí eu comecei a voar com a porta aberta né. Melhorou muita a inspeção nossa, porque daí inverteu, o principal inspetor ele vai atrás, porque a visão dele com a porta aberta é muito maior. Então você tá amarrado, com cinto, certinho né, você tem uma visão muito maior, você olha para trás, para frente, para baixo, qualquer lado que você quiser, e tomar um arzinho e, também, no corpo, que é gostoso, dá uma emoção legal
ali, entendeu. Então, quando eu comecei a inspeção aérea eu olhava espaçador eu não conseguia ver, apurar do espaçador, não conseguia detectar nada, porque parecia que era muito rápido, entendeu, enquanto eu estava olhando o espaçador passando aqui, daqui a pouco já chegou na torre, estava olhando a torre, na hora que eu olhava na torre aqui já estava chegando quase no segundo espaçador, então, demora muito mais para você pegar esse feeling, para você olhar, bater o olho, por que na inspeção aérea é o seguinte, você bateu o olho você tem que identificar, se você tá com uma dúvida, daí você pede para o helicóptero retornar né, para a gente analisar melhor aquela ocorrência, por exemplo, um espaçador. Mas se você não detecta nada, você não tem o feeling de detectar nada, ali, vai passar, para você tá certo né. Mas, como a gente voa com alguém experiente, voava né, que na época eu estava com alguém experiente, então, a pessoa da frente, ele estava ali, atento né, o inspetor principal, daí quando ele achava alguma coisa a gente voltava para o helicóptero, daí ele mostrava, ó tá vendo ali está assim, assado, entendeu. Então, depois a gente vai pegando né, vai pegando a manha, chega a um ponto que você tá voando na mesma velocidade ali, e parece que você tá mais devagar, porque a hora que você olha você já consegue detectar, no ato, o que que tem de diferente ali, naquela ocorrência, entendeu. E daí, hoje, como a gente voa com a porta aberta que a gente aumentou o ângulo de visão, melhorou bastante, tem a câmera né, que, por exemplo, vejo algo ali que tá de errado lá naquela ocorrência, então peço para o comandante, ele diminui, para, ou ele dá volta, se não der né, não der para ele parar ali no momento, ele dá volta a gente puxa no zoom da câmera né, tem um operador de câmera que fica junto com a gente ali, a gente pede para ele, ô fulano, puxa pra gente ali, dá um zoom lá naquele ponto lá, daí a gente já sana a dúvida por ali mesmo. Mas no começo é tenso, sem falar que você fica cabreiro com o helicóptero.
1:47:45
P/1 - O que que o técnico tem que olhar, Alex? O que que o técnico bate e olha toda vez que tá numa ocorrência, assim, como é que é isso?
R - Na inspeção aérea?
1:47:57
P/1 - Nas duas formas, digamos.
R - Na inspeção aérea, como é mais rápido né, então, por exemplo, você tá fazendo inspeção na linha que tem os espaçadores ali, por que tem linha de um cabo só que não tem, então você tem que bater o olho ali e você tem que ver se ele tá com algum tipo de desgaste, entendeu, porque ele tem umas articulações né, e ele tem uma borracha que faz um amortecimento, ele tem uma garra, assim, na frente onde o cabo encaixa, e aqui nesse ponto aqui dele, como se fosse a munheca da gente, ele tem um sistema de amortecimento de borracha, ele faz esse movimento assim, então ele dá desgaste aqui, muitas vezes você tem que ver esse desgaste, se ele tem, só que quando dá o desgaste, como fica o alumínio batendo no alumínio, ele sai uma borra meia preta e escorre por aquela carcaça dele, do espaçador. O espaçador é um quadrado, assim, de alumínio, então quando ele fica pegando que começa a dar esse desgaste, começa a encostar um no outro, uma parte de alumínio na outra, ele começa a sair uma fuligem escura, então você bateu o olho ali, por mínimo que esteja uma fuligem escura, você já pode olhar melhor que ali pode ter um início de uma ocorrência. Ou o Cabo abre essa mandíbula né, que ele tem aqui que o cabo fica dentro, ele abre o parafuso aqui e o cabo sai de dentro né, começa a bater o cabo no corpo do espaçador. Essa é uma ocorrência grave, por quê? Porque ele começa a desgastar o cabo, ele começou a desgastar o cabo, o cabo como ele é, dentro, torcido né, vai começar abrir com o tempo. Essa ocorrência do que faz aqui na mandíbula ela não é uma ocorrência muito grave, entendeu, então dá para ir acompanhando, tudo mais, quando você puder ir trocar você vai lá e troca, faz uma programação para trocar. Quando o cabo sai de dentro, ou quando ele abre só e o cabo fica aqui balançando dentro, já ocorrência grave, porque daí ele traz um desgaste para o cabo né, e isso aí vai se agravando conforme vai passando os dias vai se agravando, se você pegar época de vento se agrava mais ainda né, que o cabo começa a balançar e bater, então você tem uma ocorrência bem crítica. Daí quando você vai ver, também, uma das ocorrências, também, mais críticas que a gente tem, é onde no Brasil faz um grande índice de desligamento de linha, é a vegetação, você tem que ficar esperto com a vegetação, porque ela não pode se aproximar dos cabos. A gente pega uma linha nossa aqui, de 750.000, a árvore se ela chegar ali, próximo ali de 3m, 3m e pouco da linha, ela já vai desligar a linha, entendeu, porque a isolação do ar que tem ali, da árvore pro cabo, essa isolação não resiste né, ela rompe essa isolação, se você tiver, varia isso aí, se você tiver no clima quente, ou um clima mais úmido né, se tiver úmido essa isolação diminui mais ainda. Tem outro detalhe ainda, conforme o clima quente o cabo dilata e baixa mais ainda, quando ele esfria né, de noite ele esfria, ele sobe, quando ele dilata com o calor, como é alumínio né, com? Aço por dentro, ele abaixa, então ele vai aproximar mais ainda da vegetação. Então, dentro do manual técnico de campo tem as medidas mínimas, essas de 3 metros, não é a medida mínima, esse aí é o que já tá muito crítico. A medida mínima ali é de 7, 8m que a vegetação pode chegar próxima, tá no manual técnico de campo, que a vegetação pode chegar próximo da fase. Isso aí também varia de linha pra linha, uma linha de 138.000 é uma distância, 230 é outra distância, e assim por diante, quanto maior a tensão maior essa distância, entendeu. Então, a gente tem que ter cuidado porque a vegetação, dependendo do local, se passa na inspeção de um ano, você tem que ter esse feeling também, de saber daquela vegetação ali, se é preciso cortar logo ou não, e você também tem que preservar o meio ambiente. Então, você não vai lá cortar de qualquer jeito né, locais que você vê que a vegetação ela não vai aproximar do carro né, você nunca vai fazer uma supressão naquele local, você vai preservar. Você vai fazer a supressão de uma vegetação no ponto onde precisa ter, onde há a necessidade de ter essa supressão, na área de torre, nos pontos de cabos mais baixo, você vai ter. Então, essa é uma ocorrência bem crítica, é uma ocorrência que Furnas tem um investimento bem grande para essa manutenção. A grande maioria que a gente faz a gente só fiscaliza né, são empresas terceirizadas que fazem esse trabalho, não é a gente. A gente vai lá, a gente detecta a ocorrência, passa o trabalho e faz a fiscalização, medição né, dentro desse tipo de trabalho. A gente vê, também, desgaste do para-raios, esfera de sinalização né, que são aquelas bolas laranjas, que tem no capa raio, aquele fiozinho mais fino que tem lá cima, ele é cabo para raio, ele é uma proteção também, aquilo ali é extremamente importante para o funcionamento de qualquer linha de transmissão, ele é o que recebe a descarga atmosférica, e protege a linha para essas descargas não acertar a fase, e não romper a isolação da cadeia do isolador e desliga ali. Então, e daí existe aquelas esferas, que é aquelas bolas laranjas né, que parecem pequena mas ela é bem grande, para sinalizar que ali tem um cabo fino, tem um cabo passando né, que é o ponto mais alto da estrutura, pra aviação, é uma proteção, sinalização para os aviões não baterem naquilo ali. Não só aviões, mas o pessoal que faz parapente, esse esportes radicais também, tomarem cuidado com aquele cabo lá, porque já aconteceu vários acidente nesses cabos em locais que não existiam esse tráfego, ou de avião ou parapente, depois começa a ter e ninguém ainda detectou e sinalizou a linha ainda. Então, tem isso aí, isoladores né, tem aquele disco que segura a cadeia de isolador, que em muitos lugares o pessoal gosta de brincar de tiro ao alvo para quê lá, vamos conscientizar pessoal, não vamos brincar de tiro ao alvo, em transmissão não é tiro ao alvo, pra se brincar de tiro ao alvo, qualquer parte da linha de transmissão é de fundamental importância para o funcionamento do nosso sistema elétrico brasileiro, principalmente hoje, com essa pandemia, que os hospitais estão sendo muito exigidos, extremamente exigidos, então a energia salva-vidas, sempre salvou, mas hoje tá salvando muito mais vidas. Então a gente tem que ter consciência, as pessoas têm que ter consciência que respeitar a faixa de servidão, faixa de servidão é delimitação que tem para ambos os lados da linha onde não pode fazer construção, não pode plantar reflorestamento, tudo que vai fazer, cada linha tem a sua distância, também, então tudo o que vai fazer próximo a faixa de servidão, entra em contato com a empresa concessionária da região né, aqui nos somos Furnas, tem a Elektro também, tem a Setep que é aqui na nossa região, outras regiões são outras empresas né, para poder construir ou plantar alguma coisa dentro das normas daquelas linhas de transmissão. Então são N ocorrências, são ocorrência de solo, o pessoal que plantam próximo dali, das torres, e muitas vezes eles batem o equipamento agrícola da torre, trator, plantadeira na torre, bate nos estáibos, que são os cabos que seguram a torre. Então, são ocorrências críticas também, que pode vir a derrubar uma torre. Já aconteceu de vir a ter acidente fatal com isso, entendeu, derrubar torre cair, em cima do equipamento, bater na torre, a gente teve uma ocorrência em março do ano passado, aqui na nossa regional, de bater na torre, a torre ficou quase caindo lá e a gente nem estava fazendo inspeção, a gente passou para ir fazer uma medição, fiscalização de supressão de vegetação, corte de mato, e a gente localizou essa torre, mas o proprietário não ligou, não falou nada. Se passasse um vento um pouquinho mais forte derrubava a torre. Então, são várias ocorrências que aparecem durante uma inspeção, que muitas vezes, a gente nem imagina que vai ter e aparecem.
1:56:41
P/1 - Alex, você falou que você viajou bastante ao longo desse período né, qual foi a viagem que mais te marcou, a mais inusitada, a mais complexa, digamos assim, ou se tem algumas que pode contar pra a gente? Quais foram?
R - Na realidade, os serviços nossos, quando você tem que viajar para alguma emergência, que não seja um serviço programado né, que seja uma emergência, sempre tem complexidade porque, quando a gente está indo, a gente já vai pensando, que será que a gente vai encontrar lá? Porque é muito, tem muita diversidade, é diferente quando a gente tem uma emergência dentro de uma subestação, dentro de uma subestação você tá numa área controlada né, você tá numa área cercada, controlada, você tá próximo a uma cidade, você tem acesso bom que chegar lá, você tem uma equipe que trabalha diariamente naquele ponto, naquele local, você tem outros equipamentos, que a grande maioria das vezes você consegue jampear o equipamento avariado, ali no interior do sinistro e continuar a transmitir energia por ele né, você jampeia o equipamento, do espaço lá dentro, continua a transmitir. Aquele equipamento, muitas vezes, ele tem uma importância para transmissão ali, mas a transmissão continua sem ele, entendeu. E a linha de transmissão não tem nada disso, a linha de transmissão quando ela cai, você já sai da sua casa sem saber o que você vai encontrar, você não sabe como que é o acesso, você não sabe, praticamente, a distância que você vai percorrer para chegar lá, muitas vezes você leva meio-dia, 1 dia, 2 dia, 3 dia, a última emergência que a gente teve foi a de Tocantins, para você ter uma ideia, daqui de onde eu moro até o Tocantins deu 2000 e poucos quilômetros, a gente fez em dois dias para ir, porque, porque a gente rodou bastante, a gente rodava das 6 da manhã até as 9 da noite, porque, pra poder chegar num espaço de tempo mais curto lá, foi uma emergência de 5 torres que caíram lá. Teve emergência, da gente, em meio-dia, estar na torre. Se tem uma emergência lá no Paraná, a gente vai um dia pra chegar lá, vai um dia também, 800 e poucos quilômetros. Então, cada ocorrência que a gente tem de emergência, são histórias diferentes que a gente tem, são histórias bem diferente, são tipos de torres diferentes. Essa de Tocantins, ela marcou bastante também, além, até a última né, então sempre que marca é a última, porque, que marca mais é serviço nosso, porque o que acontece, você teve uma antes dela, daí você tem aquela uma e ela foi a mais recente, como que tem uma complexidade um pouco maior né, então ela fica marcada. Essa do Tocantins marcou bastante porque primeiro, pela distância, uma região que ninguém pensava que ia cair torre, entendeu, porque nunca tinha tido eventos dessa magnitude lá né, de derrubar 5 torres em uma emergência eram, as torres eram torres que não estava no nosso dia a dia de trabalho quase, que a gente estava acostumado a montar, entendeu, então eram torres diferentes, entendeu, torres tipo raquete que chama, é um circuito de extrema importância, que faz interligação norte-sul-Sudeste né, que vem lá da Usina de Tucuruí, que transmite energia gerada lá, uma das maiores usinas do mundo. Então teve toda essa complexidade, você faz uma viagem dessa, você já chega na emergência com um certo cansaço porque viajar aí, rodar 12, 13, 14 horas por dia, gera um certo cansaço para gente, então a gente já chega lá com um certo cansaço, aí você chega lá é um clima totalmente diferente do clima nosso, a gente sai daqui 30 graus chega lá com 40 e poucos graus, muito quente, muito quente mesmo, entendeu, então a gente já tem, também, esse desgaste físico, lá, entendeu. E a complexidade da emergência, estava próximo do Brejo, com a torre na beirada de um brejo grande lá, deu muito trabalho pra montar essa torre, entendeu. Então, foi uma emergência que marcou bastante, depois você termina emergência, você tá bastante cansado né, você pensa, graças a Deus terminamos, deu tudo certo né, teve um incidente lá, incidente pequeno lá, e foi quando a gente estava viajando né, um colega lá machucou o braço, mas é tipo assim, você já tem uma apreensão, porque não é uma torre que a gente está acostumado, aí acontece um evento, então você já chega com um pouco mais de tensão, mas graças a Deus ocorreu tudo bem, energizamos dentro do horário. Tem a pressão, porque a gente tem x horas para restabelecer o sistema, como montar as torres, entendeu. Daí a logística lá é muito mais complicada porque, para chegar guindaste os guindastes tiveram que andar muito, não conseguiu guindaste do porte que a gente necessitava lá para poder erguer as estruturas. Então foi uma emergência bem complicada, mas graças a deus energizamos dentro do horário, infelizmente teve esse incidente lá, mas do resto correu muito bem, entendeu, tivemos alguns percalços durante o trabalho, mas a gente conseguiu contornar tecnicamente lá, deu tudo certo, mas é uma emergência que marcou bastante. Tanto marcou que foi uma emergência muito reconhecida pela direção da empresa né, que, um pouco depois a gente teve até uma homenagem né, o pessoal que trabalhou na emergência teve uma homenagem aí, que o presidente da empresa, na época, fez para os funcionários uma confraternização, teve até uma uma brinde lá uma peça, deixa eu pegar uma aqui. Essa daqui foi uma Torrinha que a gente ganhou lá né, de reconhecimento desse restabelecimento de sistema. Então foi legal, e marca né, pelo reconhecimento também.
2:03:41
P/1 - Que ano foi Alex, que aconteceu isso?
R – 2019. Foi em outubro de 2019. Teve um vídeo muito bacana que a empresa editou, ficou bem bacana a empresa, infelizmente nós não tínhamos mais a Dani que nos acompanhava, a Dani que é uma grande parceira e que acompanhou muito de nossa luta, nossas lutas né, nas emergências ai, então ela registrou muitos momentos aí, muito interessante na emergência, infelizmente nessa uma ela não pode estar né. E daí a empresa fez um compilado de fotos, vídeos dos colaboradores que estavam lá na época, e fez um vídeo, ficou muito legal também, o vídeo bem bacana, bem emocionante.
2:04:36
P/1 - Quem estava com você, Alex, nesta ocorrência? Quantas pessoas estavam? Tinha amigos? Como é que foi as conversas, tudo isso?
R - Então, daqui de Itaberá foi eu e o Gilberto, que é um colega que trabalha comigo aqui hoje, e depois tinha o Carlos Augusto né que era o engenheiro nosso aqui, que ele ficou, foi depois, que ele tinha um trabalho para fazer aqui, ele foi depois, mas lá a gente encontrou as pessoas de Furnas do sistema todo, uma galera lá do Foz do Iguaçu, nossos parceiros lá de Foz do Iguaçu, Iporã, Ibiúna, Mogi das Cruzes, Cachoeira Paulista, lá do quilômetro zero, Jacarepaguá, Campos, Vitória, Itutinga, Poços de Caldas, da usina de Furnas, de Marimbondo no Triângulo Mineiro, pessoal de Itumbiara, pessoal de Brasília, pessoal lá do Gurupi mesmo, entendeu. Toda essa galera, tudo os parceiro, estava tudo lá, a galera que sempre a gente se encontra aí nas emergências, estavam todos lá, não só o pessoal de linhas né, isso, nesses eventos aí de trabalho não é só os pessoal de linhas que luta ali não, a gente tem os guerreiros aí da do CS né, que o pessoal do administrativo, que dá todo apoio para nós, locação de equipamentos, com alimentação, tudo que diz lá na questão de burocrático ali. Eles nos atendem, nos atende muito bem, dá uma dinâmica muito boa para nossos trabalhos, tem o pessoal da segurança, sempre tá lá zelando pela segurança de todo mundo, cobrando e trazendo, também, solicitações de equipamentos de EPI, estudando o que pode ser melhorado numa emergência, porque cada dia, cada emergência que se passa algo melhora. A empresa, graças a Deus, a empresa é muito aberta para isso, para melhorias, e cada emergência que se tem isso vai cada vez mais melhorando, o pessoal da segurança, de GSS, eles atende muito bem isso aí, sempre eles estão correndo atrás para melhorar nossa qualidade de vida, nossa segurança. E tem “n” empresas, as pessoas terceirizadas, as empresas terceirizadas que nos apoiam também, que nos dá apoio pra gente lá. Que sem eles, também, a gente não conseguiria ir para frente, não conseguiria restabelecer o sistema. Tinha, antes, o pessoal aí da Dani, o pessoal da comunicação social que ia lá também, trazia visibilidade, que mostrava para as pessoas o nosso trabalho, e também mostrava né, que essas fotos que as pessoas tiravam, os vídeos, eu gosto muito disso aí. Então eu acho muito legal, acho muito interessante, acho que Furnas tem que continuar com isso, porque é uma memória, é um momento eternizado, eu sempre falo pro pessoal, foto, vídeo é um momento eternizado que a gente vê depois, a gente lembra daqueles momentos legais, como eu estava falando dos perrengue que a gente teve, trouxe aprendizado, então acho muito legal, mas tem que continuar com isso mesmo. Então, é muita gente que, é muita gente envolvida nisso aí, muita gente que a gente não conhece também, mas que tá trabalhando lado a lado com a gente ali, e dando 100% dele para poder reconstituir o sistema. E muitas pessoas que nem são de Furnas né, muitas pessoas que muitas vezes são contratadas ali, no momento ali, para dar um apoio ali, em algum serviço ali que a gente precisa, e a galera veste a camisa mesmo, e a gente vê que muita gente que não faz parte do quadro da companhia, nem é terceirizado da companhia, estou falando daquele pessoal que é contratado pra que é contratado para aquele serviço ali mesmo, e a gente vê que o pessoal dá muito o sangue, o pessoal se compromete muito, e isso é muito legal. A gente até vê a satisfação dessas pessoas no final ali, e a hora que energiza ali é satisfação total, todo mundo é só alegria. Então esses são nossos guerreiros que estão sempre aí
2:09:26
P/1 - quando energiza vocês comemoram, como é que é, o que acontece?
R - Com certeza.
2:09:39
P/1 - A de Tocantins demorou quanto tempo, por exemplo?
R - Tocantins foi, acho que foi 11 dias de serviço, 11 dias de muito serviço.
2:10:12
P/1 - Você se emociona quando se lembra de energizar, do trabalho, quando terminar, se quiser falar?
R - Eu me emociono com muitos vídeos que eu vejo do pessoal né, eu gosto do que eu faço meu serviço em emociona muito.
2:10:56
P/1 - Eu imagino que seja muito perigoso esse trabalho, mas quando acontece alguma emergência você gosta da ideia de que você vai rever um pessoal que faz tempo que não via, como é que é isso?
R - Gosto muito, tipo assim, é um serviço que a gente não quer que aconteça, porque a gente sabe que quando acontece, isso aí onera a empresa, a gente trabalha para o sistema estar sempre forte, sempre confiável. Como eu digo sempre para o pessoal, forte, robusto e confiável. Então, a gente não quer que aconteçam esses eventos, até porque, quando acontece eventos assim, climáticos, a empresa ela sofre, sofre. Mas quem sofre mais é população na região, e muitas vezes nem é só a questão da falta de energia, porque essas linhas, muitas vezes, não alimentam essa região por onde ela passa, mas as linhas de distribuição da concessionária local ali é afetada, e nisso aí, quantas emergência a gente viu, a gente vê as pessoas ter perdido praticamente tudo, uma vida toda ali, com vendaval. É como se vê na televisão. A gente chega lá, é casa destelhada, equipamento avariado, barracão avariado, agricultura que o cara perdeu ali meses de vida ali cuidando, e uma chuva de granizo, uma chuva de vento estragou, entendeu. Então, as pessoas mais vulneráveis, que menos têm condições financeiras, são as que são mais afetadas, entendeu. Então, a empresa, ela é grande, ela tem seguro pra esse tipo de evento e tudo mais. Tem a correria, tem responsabilidade da empresa, mas a gente vai, vai construir, vai levantar de novo, e a gente sai dali, depois de alguns dias, aquilo ali vai estar como se não tivesse ocorrido nada. Tocantins foi 11 dias, se eu não me engano. Lá, 11 dias lá. Então vai e vem, daí uns 15 dias, mais ou menos. A gente saiu de lá, o pessoal que ficou lá, no ponto final faz a faxina geral ali, ele tira tudo que tem, não deixa um papel de bala lá no local, faz toda a faxina que tem que fazer e vai embora. Logicamente, muitas vezes também tem a questão socioambiental, ela faz as reparações ambientais que tem que fazer. Ela faz a parte social dela ali com o pessoal da região e tudo mais. Mas a parte operacional, estrutural da linha, vai tá como se não tivesse ocorrido mais. Você vai ver que aconteceu algum evento ali porque as torres são novas, e as outras torres são mais velhas, vai tá umas torres brilhando ali, só, e as fotos e os vídeos vão ficar na história. Mas para as pessoas que estão ali, que muitas vezes sofrem com esses vendavais, é muito tempo para recuperar, entendeu, muitas pessoas não recuperam, nunca vão recuperar o que perdeu, entendeu. Então, esse é o problema, agora a gente falar que não gosta de ir, eu gosto de ir, que nem você falou, para rever meus colegas, entendeu, aprender mais. Porque como eu disse, cada evento desses, cada emergência é um aprendizado diferente do outro, entendeu. Então, a gente vai para aprender, vai para rever os amigos, a gente sabe que é arriscado, mas a gente sabe que tem que tomar todos os cuidados, entendeu. Então, é gostoso ir, a gente não queria que tivesse o evento, entendeu, eu não queria que tivesse o evento, mas se tem eu quero ir. Minha esposa que sempre fala né, nesses dias mesmo, teve um desligamento de um trabalho aqui e eu estava de férias, teve um trabalho e daí, pera vai ter um desligamento justo nas minhas férias você deve estar se remoendo por dentro de não tá ali, pior que eu estou, mas eu estou de férias, falou que eu tenho que tirar as férias, vou curtir as férias também. Mas eu gosto de estar junto do pessoal, tá fazendo esse trabalho assim, eu gosto muito. Mesmo que aqui era um trabalho que só envolvia a nossa equipe, mas é legal. Como tem um pessoal novo, eu gosto de estar junto com eles, para tá passando informações, tá ensinando. Porque isso aí agrega pra nossa equipe mesmo, quanto mais informação, quanto mais experiência a equipe tiver, melhor.
2:15:50
P/1 - Tem algum funcionário, algum companheiro teu que te marcou mais, o que você goste de lembrar, ou sente falta, enfim?
R - Não, companheiro assim, para mim, eu tenho todos eles, lógico que tem alguns que a gente conversa mais e tal, são pessoas que, muitas vezes também, que trabalha mais próximo da gente, que sempre a gente tá vendo mais vezes, mas assim, algo específico, de marcar, assim, não tem não, para mim todos muito companheiros, muitos são amigo assim, por iguais. Lógico que muita vez tem uma relação mais com outro, que até na própria emergência tem pessoas que a gente trabalha mais com ele, porque quando a gente vai para um serviço grande, uma emergência vamos supor, a gente tem as equipes, uma equipe fica na topografia, outra que vai para manutenção de cabo, reparar Cabo, e daí tem o pessoal que fica ali na montagem, eu fico mais na montagem. Então, nas emergências, muitas vezes a gente tem mais contato com aquele pessoal daquela equipe que eu trabalho mais, entendeu. Mas a galera sempre são todos, não tem assim, maior que um, maior que outro. Tem alguns que saiu da empresa, que a gente tinha uma amizade, que eu falei para você que entrou quase junto comigo, 6 meses na minha frente, aqui na empresa. Ele saiu da empresa. Então, era um cara muito bacana, que a gente tinha uma amizade muito grande, era da mesma idade e tal né. Porque na época, o cara mais novo na empresa, fora nós dois, tinha 15 anos de empresa, era 15 anos de empresa mais velho que nós. Então a gente tinha bastante contato, moramos dentro de uma república junto, tal, que ele saiu. Mas daí ele pegou e foi embora daqui e tal, fez família, não tem mais contato, mas era um cara bacana, esse um tem uma marcação nessa questão, que foi embora e a gente era bem amigo.
2:17:52
P/1 - Você já tem então 21 anos de empresa, Alex? Essa questão o “Tocantins” foi o seu maior desafio, você acha na empresa, ou não?
R - Olha, o meu maior desafio na empresa, não, não foi. Vou fazer 21 anos desde de que eu fiz o CTB né. Eu fui em 2000 para o CTB, e em 2001, 1° de Março de 2001 eu retornei aqui para base, que eu ingressei aqui né na base e em 2002, eu entrei, fui efetivado em Furnas. Janeiro 2002, 10 de janeiro de 2002, o meu maior desafio na empresa, foi quando eu sofri um acidente aqui dentro da empresa. Eu sofri um acidente no trabalho, e nesse acidente eu fiquei 36 dias internado em Curitiba, na ala de queimados, lá do hospital evangélico. E nesse período que eu fiquei lá, o meu menino do meio, ele estava quase andando, e ele começou a andar eu estava internado, então eu não vi ele andar. Quando eu cheguei em casa ele já estava andando. E nesse acidente eu perdi dois dedos da mão, perdi o dedo polegar, e o indicador, o primeiro e o segundo dedo da mão direita. A minha recuperação até que não foi traumática, quando eu fiquei sabendo... Porque quando eu fui para o hospital, eu não tinha perdido o dedo ainda, o dedinho estava lá, estava até meio amarelado. A médica falou para mim, que eu não fiquei tão exposto a descarga elétrica, então ele não chegou a queimar, porque a energia queima de dentro para fora, então ele cauterizou. O dedo estava normal, dessa mão aqui, mão direita, então ele ficou amarelado, ficou meio amarelado. Quando eu cheguei a médica falou: vai ter que ficar aí. E para mim era só uma queimadinha aqui na mão, estava de boa. Daí ela: você vai ter que pousar aqui e tal, seu dedo teve uma queimadura, pelo jeito queimou até o osso. Ainda falei para o colega: vou pousar aqui e amanhã eu saio e a gente vai para o trabalho. Nisso aí mano, fiquei 36 dias internado lá em Curitiba. Daí depois de uns dias que foi amputado. Porque como cauterizou até os vasos sanguíneos, então ele começou a morrer, o dedo. Ai foi amputado aqui embaixo para poder não continuar, passar alguma toxina para o corpo. Mas até nessa época, quando minha esposa foi lá, estava lá comigo, os médicos chamaram ela, “vai ter que amputar, assim, assado”. Ela veio falar para mim e tal. Eu pensei melhor estar vivo, eu vou fazer o quê, não posso fazer nada. Não dá para recuperar. E o médico ainda esperou um tempo, porque antes ele já tinha falado. Ele falou que tinha que esperar para ver como ia proceder, porque se continuasse teria que amputar. Aí quando chegou a vez de amputar, ele falou que ia mesmo. Eu já estava assim com o psicológico bem preparado, só que eu ficava ali pensando, como eu vou volata a trabalhar? Como que vai ser agora, daqui para lá. Eu fiquei três dias com essa mão enfaixada, eu ia lá, na segunda, quarta e sexta, eu ia para a sala, a ala no quinto andar, que era ala de queimados, para fazer debridamento. Então eles faziam uma limpeza para tirar aquela... Eu tomava anestesia geral, eles faziam uma limpeza, para tirar a pele que ia morrendo, dessa parte aqui e enfaixava tudo de novo. Então eu fiquei nisso aí até poder fazer o enxerto. E nesse tempo que a minha mãe estava lá encoberta, eu já fiquei treinando, lá dentro do hospital, treinando, treinando, escrever com a mão esquerda. Tem que escrever, eu vou ficar sem escrever. Então eu já estava escrevendo bem, já estava assinando com a mão esquerda. Mas o que dá força para gente nesse momento, a gente vê quem tá pior que a gente. O que aconteceu, como eu ia para a ala de queimados, eu chegava lá na ala de queimados, eu só descia para o quinto andar, na hora de fazer o debritamento, fazer o procedimento lá. Então eu ficava deitado na maca e ficava olhando. Então eu via... Nossa cara, tanta gente, tanta coisa, pessoas queimadas corto inteiro, tinha um molequinho lá, que ele era da idade do meu moleque na época. Cara, enfaixado inteirinho, só o olho de fora, entendeu. Então, por que eu vou reclamar, porque eu vou reclamar? Estou num quarto bom, vou perder meu dedo, vou fazer o que, estou vivo, mas meu problema está aqui só. Eu sei que daqui uns dias eu vou embora, infelizmente, olha essas pessoas. Daí eu descia muitas vezes, lá tinha um salão aberto, tinha uma capela, conversar com as pessoas. Tinha uma mãe lá, falando que o filho dela, estava três meses lá internado, queimou o corpo inteiro. A grande maioria das crianças são acidente domésticos, é álcool, era querosene, era frigideira, gordura quente, água quente, entendeu, esse tipo de coisa. A grande maioria, o que era criança, 90% acidente domestico, entendeu. Então, eu falei, porque eu vou reclamar, eu tenho só que agradecer que eu estou aqui. E daí foi nessa questão, eu fiquei lá, fiz um enxerto, e voltei para casa. Voltei para casa, daí já tiraram a faixa, daí fui ver minha mão como é que estava. Dá aquele impacto no começo, porque você vê, porque o enxerto até hoje não é muito bacana de você vê, é um queimado né. Era para eu ter feito cirurgia plástica, “vou fazer nada, fica assim mesmo”, pra mim tá bom de mais assim. Quando eu fiz um enxerto, tirei pele da perna, para por aqui. Rapaz, onde tirou da perna doía muito mais do que a minha mão. Falei: ah não, vou fazer plástica não, tá bom assim. Daí fiquei um tempo em casa, no total fiquei quatro meses, desde o acidente, fiquei 4 meses afastado. Daí tive que passar no INSS de novo, para os caras avaliarem. Eu ficava ali no pessoal do RH da empresa, “não, quero voltar a trabalhar, quero voltar a trabalhar”. E o INSS, não me aprovou da primeira vez que eu fui, o médico queria que eu ficasse mais um pouco. “Mas eu quero ficar nem que seja no escritório, eu quero voltar a trabalhar, não quero ficar em casa mais não”. Daí, “você tem condições?” “Tenho!”. “Então pede para marcar uma outra pericia.” Marcou uma perícia uma semana depois, daí eu voltei lá né, ele tinha analisado melhor o caso, tinha conversar com o pessoal da empresa. Daí me liberou. Aí eu fiquei um tempo no escritório. Só que nisso aí, ei tive uma avaliação depois, médica, da empresa, que me proibiu subir em torre. Me proibiu subir em torre, porque eu perdi na realidade, assim... Quando você perde esses dois dedos aqui, que é a pinça, você perde 50% da mão. Então o médico avalia que eu não tinha condições, que era isso, que era aquilo. Daí eu tive um baque, daí eu fiquei muito triste, fiquei chateado pra caramba. Porque eu queria voltar a fazer o que eu fazia. E eu conseguia fazer, como eu consigo até hoje fazer o que eu fazia, entendeu. Só que eu pedi para o médico fazer avaliação, “vamos lá fazer um avaliação em prática”. Ele não quis fazer, de jeito nenhum. Então daí depois rolou, mudou o médico, daí fez uma avaliação e viu que eu era capaz de fazer. Mas nessa daí foi uma briga de 7 anos, para mim poder voltar a fazer o que eu fazia na empresa normalmente. Então nessa época aí, principalmente no começo eu fiquei bem chateado, foi a época que... Não me abalou psicologicamente, mas eu ficava muito chateado demais, nossa! Muito mesmo, porque eu gostava do que eu fazia, gosto do que eu faço. Então isso aí, eu vê que eu estava sendo proibido de fazer alguma coisa, que eu via que eu tinha extrema capacidade para fazer, entendeu. Eu sabia que eu tinha capacidade de fazer, e não poder fazer. Mas graças a Deus foi tudo superado, estamos ai hoje, faço meu trabalho da melhor forma que eu possa fazer, mesmo faltando os meus dois dedinhos aí.
2:27:34
P/1 – E você hoje está em outro cargo, não é mais técnico de linha?
R – Não, eu ainda trabalho na transmissão. Sou técnico de linha de transmissão ainda. Faço uma parte de serviço de escritório, mas também vou para campo, pulo para os dois lados. Tem um pessoal novo, que entrou para trabalhar aqui com a gente, e eles ficam comigo. Agora no momento só está eu, porque o outro colega e ele está trabalhando home office, por causa do corona vírus, por causa da pandemia, ele é do grupo de risco. Aí eu estou fazendo campo e a parte burocrática de escritório.
2:28:29
P/1 - Como é que é ensinar gente mais nova?
R – Rapaz, quando você ensina pessoas que estão dispostas a aprender, é uma satisfação. É uma satisfação muito grande, que hoje eu vejo o que muitos professores passam. Que na realidade, que eu sempre falo, tem até um post que eu fiz no dia dos professores ano passado. Na vida, temos os professores que são professores por profissão, procuraram aquela carreira de professor, de ensinar. E todo mundo é professor, na vida ninguém deixa de ser professor, sempre você vai estar ensinando alguma coisa, ou vai estar aprendendo, tanto professores como aluno. Todo momento da sua vida, você está ensinando algo, ou está aprendendo. Por exemplo, nesse momento, eu não sou professor de formação, mas eu estou ensinando, passando a minha experiência, passando a experiência que a empresa tem para 7 funcionários aqui. Funcionário distinto, do mesmo jeito que a gente veio de outras áreas, eles também, alguns conhecem algo de elétrica, só que não é ronda linha de transmissão. Não tinha esse dia a dia que a gente tem. De contato com o proprietário, no campo, tudo mais. Mas eu gosto muito de ensinar ele, porque são pessoas que estão interessadas, entendeu. Pessoas que estão interessadas, pessoas que trazem ideias, pessoas que estão afim de trabalhar. Então isso é muito satisfatório, me traz muita satisfação e principalmente ver que eles estão aí, entraram dia 16 de junho de 2020. Não tem um ano, e quanto eles evoluíram. Eu falo para eles, eu não sou uma pessoa bonzinho não, eu não sou um professor bonzinho, sou muito respeitoso, mas eu gosto das coisas bem feitas. E principalmente eu falo para eles, o nosso dilema aqui, é segurança, primeiramente, qualidade no serviço e depois a produção. Não adianta a primeira coisa no nosso trabalho, é a segurança e a qualidade no serviço. E eles já pegaram esse jeito, trabalham muito bem, são esforçados. Então é o que eu falei para você, quando você ensina a pessoa estando com vontade, isso é satisfatório, da muita satisfação. É como eu falei, no lugar de professores, acadêmicos, profissão, que está ensinando e muitas vezes estão falando com a parede, então deve ser chato de mais da conta, deve ser muito ruim. Mas é gostoso, eu gosto, gosto de passar experiência, não gosto de esconder nada não, tudo, tudo que eu puder eu passo. E falo para eles, não tenha duvida, na duvida não faça, pergunte.
2:32:15
P/1 - Você gosta do seu trabalho né? Você quem gosta de trabalhar em Furnas, como é que você sente?
R – Gosto! Gosto muito do meu trabalho. Gosto tanto, que eu já poderia ter saído do meu trabalho, da minha sessão, pedido transferência para outros setores dentro da empresa. Outros setores que eu não ia me esforçar tanto fisicamente, não ia ficar fora de casa. Tem as responsabilidades daqui do trabalho, mas assim... Eu poderia ficar mais em casa, me esforçar menos, ficar menos exposto ao sol, tudo mais. Já tive oportunidade, principalmente em questão do pessoal, muita gente fala, “porque você perdeu essa oportunidade?”. A não, eu gosto do que eu faço, o meu trabalho traz uma emoção, traz satisfação, eu gosto disso ai, isso ai me move. Essa emoção do meu trabalho me move muito.
2:33:25
P/1 - Você é casado, você tem quantos filhos?
R – Sou casado, tenho três meninos.
2:33:33
P/1 - Qual que é o nome da sua esposa? Como é que você conheceu ela Alex?
R - Minha esposo chama Josiane. Eu conheci ela lá em Itaberaba mesmo, a gente tinha uma amiga em comum. Na realidade, eu conheci ela antes de ir para o CTB, conheci assim, na rua lá, colega minha perguntou a ela, e tudo bem. Daí depois eu fui para o CTB, e tal, fiquei um tempo fora. Quando eu voltei, daí que eu comecei a conversar com essa amiga mais, voltar ter a relação ali, está junto direto, e sempre ela estava junto também. Daí sempre trocando uma ideia, e eu comecei a puxar asinha para cima dela, mas ela não dava muita moral pra mim não, e ficava naquela, ficou um tempo, e uma hora dava moral, outra hora não dava, trem doido essa mulher. Daí na hora que eu já estava desistindo do negocio, a gente foi num aniversário lá, de um colega, e ela estava lá. Daí ela mando um recado por um colega meu, falou que queria conversar comigo. “Ah, não vou conversar com essa mulher não, toda vez que eu vou conversar com ela só fica de lenga, lenga, não me dá moral, nunca vi, só me escovando, não vou não.” Depois de um tempo eu sai, passei perto dela, ela puxou eu, “vem aqui para a gente conversar, não sei o que”. Bicho doido né! Ai comecei a trocar uma ideia com ela, conversar, e vai de lá, vai de cá. E dali rolou, começamos a ficar, namorara. O negócio nosso foi rápido, foi pouco tempo à gente já estava casado, não foi muito namorido não, o negócio foi meio rapidão. Estamos juntos aí, desde 2001.
2:35:42
P/1 - Qual que é o nome dos seus três filhos e como é que essa escadinha?
R – A escadinha é o seguinte: tem o Leo, que é o mais velho, tem 25 anos, na realidade o Léo, quando eu casei com ela, ela já tinha ele já, ela era separada. Tinha ele, ele estava com 5 anos na época. O Léo mora em São Paulo, trabalha la em São Paulo, formado em engenharia de produção, ele está trabalhando no setor financeiro lá. Daí tem o Abner, que é o do meio, vai fazer 19 agora em junho, está fazendo faculdade também, tá tudo online, e trabalha na área de informática, aplicativos para computador, trabalha numa empresa aqui, que trabalha nesse ramo aí. E o caçula, pelo jeito vai para o mesmo ramo dele, que o negócio dele é computação, e está direto trocando ideia com o do meio, ela está com 14 anos, está terminando o ensino fundamental 2. E pelo jeito vai nessa área também da informática, programação, trabalha numa empresa que faz programas de computador, aplicativo para celular, para as empresas, trabalha como programador lá. E o caçula pelo jeito vai para o mesmo ramo dele. Quando sai da aula, é dia inteiro nesses negócios de programação, e os dois moram aqui em casa.
2:37:41
P/1 - E como é que é ser pai Alex?
R – Rapaz, ser pai e bom de mais da conta. Lógico que nem tudo são flores. Não adianta a gente querer que o filho seja igual a gente, que não vai ser, acho que a gente tem que mostrar os caminhos, mostrar os caminhos e bater naquela tecla, qual é o caminho certo. Ele tem que escolher o caminho, dentro dos caminhos certos ele tem que escolher o caminho, não adianta você querer, você vai fazer aquilo, aquilo outro, não tem o que fazer. Mas graças a Deus, os meus meninos sempre foram tranquilos. Na escola, o Léo teve uma transição aqui da 8ª série, na época era 8ª serie ainda, até o primeiro colegial, deu pouco de trabalho na escola. Mas ele sempre foi bem aplicado, mas ele deu um pouquinho de trabalho. Eu ia nas reuniões de escola, levava ele junto, la na reunião ele falava uma coisa, chegava aqui em casa, ele falava que não era. Tinha até um professor lá, que dava aula de matemática para ele, gente boa pra caramba, quando eu chegava lá, falava: só veio renovar o alvará. Precisar mandar para fora manda, precisar chamar atenção manda, precisar mandar para a diretoria manda, tem meu aval, quem manda na sala de aula é você, só me avisa, porque daí eu tenho que conversar lá em casa também. Não adianta deixar no ar para fazer isso aí novamente. O que você precisar fazer cara, faz e me avisa, o resto a gente conversa em casa. Mas foi uma transição só, depois, no 2º colegial em diante, ele garrou firme nos estudos. Passou na UNEP, engenheiro de produção, fez engenharia de produção na UNEP, aqui na cidade, bastante concorrido, ele conseguiu passar, graças a Deus, se formou lá. O Adler também, o Adler do meio, ele tem uma história bem interessante. Que o Léo estudava no objetivo, desde o prezinho ele foi para o objeto, até o 3º colegial. O Adler também, desde o prézinho, ele foi até a 8ª sério, só que parece que... Ele é um carinha mais sossegado, mais tranquilo assim, e parece que ele não se dava tão bem lá no objetivo. Porque ele gosta mais de silêncio, gosta mais de tranquilidade, e ele estava em uma sala, que era meio barulhenta, era um pouco barulhenta e ele se incomodava bastante, muitas vezes ele chegava com dor de cabeça, reclamando de dor de cabeça, tudo mais. Ai quando chegou na 8ª, ele não estava indo tão bem na escola, entendeu. Estava ficando de recuperação, uma notas meio baixas, a gente cobrando, cobrando. E quando ele foi para 8ª série, nono ano, a mãe dele falou: vou fazer uma inscrição sua, você vai fazer o vestibulinho do Minas, tipo assim, ela queria castigar ele, entendeu. Porque lá estudava o dia inteiro estudava de manhã e à tarde, porque era o curso, ensino médio, mais o técnico de informática para internet. E ele veio naquela lábia, com preguiça de ir, só que ele foi. Daí ele passou, aí começou a estudar. E nisso aí que ele começou a estudar, começou a pegar gosto pelo negócio, graças a Deus deu muito certo. Que os colegas dele lá, era muito empenhado também, tinha até um colega dele que vinha no sítio, a história dele era bem parecida com a minha. Moleque levantava 5:30 da manhã também, para ir para escola, para escola técnica, quando tinha trabalhando em equipe ele tinha que ficar aqui na cidade, na casa de alguém, para poder fazer os trabalhos, tudo mais. Então ele formou um grupinho deles de trabalho lá, tudo mais, com pessoas muito dedicadas. Nisso aí ele pegou gosto pela programação, e foi. Foi muito bem, o grupo dele era o melhor da sala, se formaram muito bem de nota. E daí ele saiu de lá, e já tinha essa vaga, que um professor dele, trabalha nessa empresa, e o cara convidou ele para fazer estágio lá nessa empresa, e ele entrou como estagiário, fez estágio, tudo mais, efetivou. Depois de um tempinho ele trabalhando lá, ele quis sair da empresa, porque tem um irmão de um colega dele lá, que ele tem uma coisa de programação, só que é independente, ele faz programação ai para várias empresas, vários trabalhos aí, e é de Curitiba, queria levar ele para trabalhar lá. Daí ele foi na empresa, “apareceu uma proposta, quero sair e tal.” Daí a empresa, não vai sair não. Montou uma equipe, a equipe que ele estava, deu a administração dessa equipe para ele, melhorou as condições dele lá, e ele continuou lá na empresa. Então ele teve uma promoção lá, tá liderando na empresa. Que dizer, mostra que ele tem capacidade, está indo bem no que ele está fazendo. Então foi um castigo da mãe dele assim, que pelo jeito vai ser o castigo da vida inteira. É uma história bem legal, bem diferente.
2:43:47
P/1 - Você me contou no começo dessa entrevista que você tem um hobby, que hobby é esse?
R - Eu tenho um hobby que eu estou praticando, mas eu sou cheio dos meus hobbys, gosto de estar sempre fazendo alguma coisa. No momento eu gosto, eu faço faca, sou cuteleiro também, faço faca. Mas tem outras coisas que eu gosto também, gosto de drone, gosto de andar de moto, mas agora eu estou sem moto. Gosto de ajudar minha esposa ali nas costuras, fazer umas artes, que ela faz ali na costura, dou um apoio para ela. Mas eu gosto de fazer facas, faço faca para churrasco, para cozinha, é um hobby que quando eu tenho tempo eu faço aqui em casa.
2:44:44
P/1 – Como é que você imagina Furnas daqui uns 20 anos?
R – Eu imagino a empresa cada vez maior, a empresa cada vez mais evoluindo tecnicamente, como empresa, RH com as pessoas, sócio ambientalmente, espero que esteja evoluindo muito. A gente tem passado por uns momentos meio conturbados, no mundo, no Brasil. Mas eu quero acreditar que a empresa vai estar muito maior, vai estar cada vez mais focada em gerar e transmitir uma energia limpa, renovável, energia barata e confiável para a população. Principalmente por ser uma empresa de capital misto, uma empresa estatal, capital misto. Então que ela esteja praticando a questão ambiental, socioambiental, como sempre praticou, com sempre esteve na vanguarda do setor elétrico aí. Furnas sempre foi um espelho, para as outras empresas, muitas, muitas, tecnologia hoje, de grandes empresas aí do setor energético, saiu de dentro de Furnas. Furnas sempre esteve lá, como uma vitrine. Espero que continue assim, não só Furnas, como todas as suas irmãs, do grupo Eletrobrás. O grupo Eletrobrás em si, continue fazendo o seu papel social e ambiental pro Brasil, cada vez mais. Um dos papéis principais que teve, foi, como eu disse para você, na época lá, que eu morava no sítio, não existia energia elétrica, para você instalar era caríssimo demais. Eram poucas pessoas que tinham condições. E o grupo Eletrobrás, Furnas, foram as empresas, vanguarda nesse setor, administraram, que injetaram um dinheiro nisso ai, um orçamento muito grande nisso aí. Democratizou a energia elétrica. Hoje eu vejo aqui na nossa região, em lugar nenhum falta energia elétrica, em qualquer lugar que você vá, qualquer casa que você vá, hoje tem energia elétrica. Mas isso aí foi com a democratização, com esse trabalho social que teve aí, uma força muito grande, não só dela, mas teve uma força muito grande do grupo Eletrobrás, administrando, estando junto ai da atuação de cada empresa do grupo. Chesf lá no Nordeste, Eletronorte lá no Norte, Eletrosul no Sul, Furnas aqui no sudeste, centro-oeste, uma parte do Sul. Então eu vejo uma grande empresa, que vai estar transmitindo, gerando, energia barata e limpara para a população.
2:48:05
P/1 - Alex como é que foi contar um pouquinho da sua história hoje para a gente?
R – Bacana, a gente relembrar, a gente contar história assim para as pessoas, que a gente não conhece, saber que muita gente vai ver, vai conhecer a história da gente, da onde a gente veio. Pessoas humildes, continuamos sedo humildes ainda, mas graças a Deus a gente conseguiu vencer uma grande etapa na vida. Mostrar um pouco da história da nossa empresa, das pessoas, como é o nosso trabalho. Então é bacana, como eu disse, são vídeos, são fotos, que ficam eternizadas. Com certeza eu vou ter muito orgulho futuramente, de pegar um vídeo desses, de uma entrevista dessa e mostra para os meus netos, meus filhos, quando ficarem mais velhos. Sentar um dia na sala ali, família toda reunida e poder ver, poder assistir, ver como que era a vida. Mostrar como era o trabalho, que a gente fez parte, grande sistema elétrico, grandioso aí, uma grande empresa. Mostrar para eles os valores da empresa, da família, do coleguismo. Mas é muito bacana, espero que seja incentivador para muitas pessoas. Hoje eu posto alguns vídeos na internet, vídeo sem compromisso financeiro, sem nada, no youtube, algumas cosias. E eu vejo muita gente, muita gente que se espelha, mesmo sendo canalzinho pequeno lá né. Mas muita gente que gosta, muita gente que não conhece, quando olha aquilo ali, que nem eu falei para você, tem um impacto isso, a pessoa, “não sabia que era assim, nossa, mas cara você que fazem isso?” Então é muita gente, para caramba, ligado na energia que chega na sua casa, “poxa, é assim que chega, é assim que você faz manutenção?” Então é gratificante isso ai, é muito legal a gente ver esse tipo de coisa. Muitas e muitas pessoas, “como que eu faço para trabalhar?” É muita gente mesmo. “Como que eu faço para trabalhar nesse serviço seu? Onde tem uma empresa que da um curso para eu trabalhar nesse ramo?” Você sabe qual empresa que está contratando para isso?” Então é muita gente que gosta, que acha legal, que dá esse impacto nas pessoas. Isso é interessante, é legal você ver que as pessoas admiram seu trabalho. Então cada vez a gente quer fazer o trabalho melhor ainda, pra ser mais admirado. Não a gente, mas o trabalho, que eu falo, não é admirar eu, admirar nossa equipe, a nossa empresa, os eletricitários desse Brasil. Então é um geral, gente levar para as pessoas, porque eles não conhecem, a grande população, uma porcentagem imensa da população, só lembra do eletricitário, quando acaba a luz na casa dele. Só que ele não lembra pro bem, ele lembrar para falar mal da nossa mãe, para xingar, ele não lembra, está chovendo, está caindo raio, de madrugada, acabou a luz. Vai ter alguém, aquele cara lá, ele vai lá, fico grato por ele ir lá, bater uma chave, correr atrás de uma torre que caiu, e tudo mais, pra voltar minha energia. Não, ele não lembra disso não, ele lembra sempre pro lado pejorativo. E por quê? Porque o pessoal muitas vezes não conhece, o pessoal não conhece o trabalho da luz. Eu acho importante nos mostrarmos o nosso trabalho para as pessoas. Eles verem que por trás da energia que chega na sua casa, o celular que está carregando, esse computador que a gente está agora conversando. Tem muito profissionais, não só profissionais da manutenção, da construção, tem profissionais também, que ficam dentro do escritório, mas são responsáveis também pela aquela manutenção, por aquele trabalho que está lá, subsidio para as pessoas que estão no campo, então esse também faz parte daquilo ali. Então eu acho muito importante a gente mostrar, porque como a gente fala, são heróis anônimos, porque ninguém conhece, eu falo pra você, muitas vezes proprietário que mora próximo da linha, mas ele não conhece a gente, porque muito lá de vez em quando, ou nunca a gente encontra eles por ali. Ele sabe que tem alguém da manutenção, mais é anônimo para ele. Mesmo jeito, você hoje está dentro de um projeto tudo, mas antes você nunca tinha conversado com um eletricista de linha, ou de manutenção, né. Não conhecia assim como que funciona o trabalho. Então é muito satisfatório e eu faço tudo para levar mesmo nossa categoria até a população, para elas verem nosso trabalho.
2:53:27
P/ 1 – Alex, muito obrigado pela entrevista, pela paciência, por ter contado a sua história para gente, com certeza a gente vai levar ela para a população, para as pessoas que querem saber mais como é que funciona isso. Então obrigada pelo tempo né, que você podia estar fazendo outra coisa, você veio aqui contar a sua história para gente, que foi maravilhoso. Muito obrigado mesmo. Não sei se a Dani tem alguma coisa para perguntar, para falar, fica à vontade também tá Dani. Mas eu só quero agradecer você bastante, viu Alex.
2:54:04
P/2 – Oi Alex! Nossa, eu fiquei emocionada aqui, várias vezes junto com você, lembrando das coisas. Muito bom, e aí o que me vem, é essa coisa de companheirismo, a gente estava lá, ferrado trabalhando, mas era muito divertido. Você tem alguma história engraçada que você pode contar para a gente? Porque me passaram algumas, mas que aconteceram com você e você possa contar.
R – Uma história engraçada, deixa eu ver seu eu lembro aqui. Só meio ruim de história. No momento agora não vem nada na cabeça, mas tem várias histórias que a gente passa. Conta uma para nós ai Dani?
2:55:09
P/1 – Eu, eu lembro que eu fiquei atolada lá em Foz. Lembra, numa emergência enorme, que a minha bota. Você não estava, você estava em cima da torre, não sei. Mas eu atolei no meio de um monte de barro, e ai quando eu puxei, a minha bota ficou, a bota paquita ficou lá dentro e eu com a meia, “pelo amor de Deus, me triar daqui”.
R – Pior que é Dani, nos pegamos muito barro, meu Deus! Muito barro mesmo. Aquela emergência ali do Goiás não tinha tanto, mas as emergências do Paraná, que era difícil emergência que não tivesse muito barro, nossa Senhora. É vário eventos que acontece, tem uma história parecida com essa sua. Aquela vez que caiu 5 torres da linha 3, caiu em cima da linha da Copel, lembra? Naquela lá teve um caso, que eu fiquei naquela torre, que caiu 4 torres juntas e uma separada. E eu fiquei lá naquela torre separada. E quando a gente tinha pré-montado, toda a torre ali no chão, tudo organizadinho, e era só chuva, chuva, nada. Daí quando deu um sol, subiu dois no guindaste, para estacionar do lado da torre, para poder guinçar a torre. Isso ai já era umas 3 horas da tarde mais ou menos, nos ia por a torre em pé, e ia dar tempo de grampear as fases ainda. O guindasteiro vai lá, na hora que ele está subindo, ele faz um curva meio fechada, e aquele guindaste atola de um lado, quase tomba. E nós ficamos naquilo lá, tentando desatolar aquele guindaste. Rapaz, 2 escavadeiras, mais dois tratores com guincho, para pode puxar. E eu cavando por baixo daquele guindaste, eu sai de lá de baixo, que parecia um tatu, tanto barro que eu tinha, só aparecia o olho meu. Cavando embaixo para poder amarrar cabo, para puxar o guindaste. Saímos de lá umas 9 horas da noite, não conseguimos tirar o guindaste lá de baixo. Mas a negada olhava em mim, rachava o bico de dar risada, porque eu parecia um tatu, naquele barro, de macacão azul, lembra? Eu usava azul, lembra Dani os araras?
2:57:33
P/2 – Explica o que é os araras?
R – Os araras azul Lucas, para você saber, é que sempre tem o pessoal nosso aqui, sempre eu o Marcão, o Cascão, que a gente trabalhar nas emergências só de macacão azul, a gente usa só o macacão, e o pessoal é mais camisa caqui, desse tipo e calça. Então a equipe nossa e a maioria das vezes a gente tá junto, a equipe nossa ficou dos araras azul, sempre era os arara azul que estava junto. Várias emoções já.
2:58:08
P/2 – Nossa, foi muito divertido, a gente ria muito.
R – Ria, mas nos primeiros dias a gente levantava estava com o corpo tudo doido, até o corpo acostumar.
2:58:22
P/2 – Pois é, fase boa!
R – Boa de mais!
alguma coisa E aí quando eu puxei daí três escavadeiras então a equipe Nossa imagina a vegetação junto né então porque que nós ficamos arara-azul né sempre na casa das araras tava juntas é mas é Nossa foi muito legal a gente iria muito a gente levantar o corpo todo doído né a cidade que você nasceu e me chamou André Carlos Prates natural do Rio de Janeiro desculpa qual é a terceira informação Qual a data eu nasci em 3 do 4 de 1958 e o André você sabe a história de como é que foi o dia que você nasceu os seus pais te contaram como é que foi isso olha Curiosa você me perguntar isso porque na verdade eu só sei que eu nasci de madrugada sabe fez amanhã e que era uma maternidade em Botafogo e realmente talvez seu ano de 58 né que o Brasil ganhou a Copa do Mundo Eu já me Contei te conheci fácil para fazer assim e não 3º ano do meu nascimento mas nada de especial que eu me recorde eu estou surpreendido que eu não porque essa sua pergunta eu constato que eu eu pessoalmente eu acho que nunca tive essa curiosidade aconteceu alguma coisa foi mas olha é aquela aquela velha máxima né se diz não quero ir mesmo mas falou News good News né quer dizer o fato de não ter nenhum fato assim para mim índice de que foi tudo tranquilo né mas eu tomo por aí e qual que é o nome do seu