História de:
Juliana T. S. Rengel
Autor:
Juliana T. S. Rengel
Publicado em:
29/11/2014
Sobre a mágica do efêmero... e o efêmero da mágica.
No meu aniversário de 27 anos, o dia estava lindo. Após uma semana de chuvas, o sol voltara a brilhar. No céu límpido e azul não se viam nuvens. Um vento calmo e fresco soprava pelas janelas. Acordei entre beijos e abraços do meu marido, Fernando, com quem havia me casado há poucos dias. A atmosfera mágica fez-me lembrar de uma crença que tinha quando criança e por muito tempo sustentei: “Nada de ruim acontece no dia do meu aniversário”. Meu otimismo era baseado em fatos reais. Em meus aniversários, não chovia. Os dias eram perfeitamente ensolarados, alegremente comemorados e eu sentia que, de fato, era a pessoa mais especial do mundo. E o meu aniversário de 27 anos não foi diferente. Preparei, com muito carinho, um almoço para a minha família, e servi uma sobremesa que já havia feito no dia anterior (receita de uma amiga querida), com uvas, creme de baunilha e cobertura de chocolate meio amargo. À tarde, chorei e ri com o filme “Maluca Paixão”, protagonizado pela atriz Sandra Bullock, enquanto provava os biscoitos natalinos que ganhei de presente do meu pai. Ao entardecer, minha grande amiga Caroline veio me visitar e trouxe um buquê de flores de jardim e um bolo integral que ela mesma fez e estava quentinho, ainda na forma. À noite, assistimos a uma peça de teatro na qual nosso amigo Marco Antônio, namorado da Carol, atuou no papel de Tenente João. Após o teatro, jantamos em uma pizzaria e conversamos mais um tanto. Mais um aniversário ensolarado e alegremente comemorado. Mas enquanto eu almoçava com a minha família, chorava e ria com a Sandra Bullock, cheirava as flores de jardim e provava o bolo da Carol, recebi a notícia de que uma pessoa com a minha idade havia falecido. Eu não o conhecia, apenas meu marido. Ele, sabendo da minha crença inabalável no poder do dia 8 de novembro, esperou a meia-noite chegar para então irmos ao velório deste menino, chamado Fábio, quando a magia do meu aniversário teria acabado. Sua morte foi trágica, em um acidente de automóvel na estrada de Garuva, em Santa Catarina. Encontraram-no vivo, porém com grande parte do corpo queimado, e ele estava internado em estado grave em um hospital de Joinville. Eu olhava para as suas fotos sobre o caixão e nada entendia. Por que a Dona Rosa, sua mãe, enterrava seu filho? Por que a magia do meu aniversário não funcionou? Eu, que não o conheci, ali estava, olhando para suas fotos, desejando que seus dias tivessem sido ensolarados e alegres, suas tardes risonhas e emocionadas, com sabor de uva, creme de baunilha e chocolate, para que agora repousasse entre flores de jardim.
Paulo Queiroz Marques
por Museu da Pessoa
Dulce Sardinha de Vasconcelos
por Museu da Pessoa
Suely Mascarenhas
por Suely Mascarenhas
Maria Aparecida Vicente de Aguiar Alecrim
por camara cidada caparao
Adilson José Santos Carvalhal
por Museu da Pessoa
Jorge Kagnãn Garcia
por Museu da Pessoa
Museu da Pessoa está licenciado com uma Licença
Creative Commons - Atribuição-Não Comercial - Compartilha Igual 4.0 Internacional