História de:
Patrícia Cristina Orestes
Autor:
Patrícia Cristina Orestes
Publicado em:
05/11/2020
Diário de Patrícia Cristina Orestes, 22 de agosto de 2020. Jornada, dia 1.
Quintal de terra largo avançando para a rua também de terra, sem portões ou limites, fosse tudo uma coisa só, um mundo que a perspectiva dali, do buraco cheio de água e lama em que eu me encontrava, fazia parecer imenso e cheio de possibilidades. Do outro lado da rua um terreno baldio, mais buracos, terra e algumas plantas pequenas, com espinhos, dessas que não dão flores, frutos ou sombras - existem apenas e seguem arranhando pernas e braços desavisados. Podia-se ver uma ou outra casa naquele lugar esquecido, bicho nenhum e tampouco gente. Olhando daqui e sem floreio de saudade, vê-se claramente, para além da vontade do novo, o limite do bolso do meu pai. Menor que eu um tanto, minha irmã, cabelo curto cacheado, de shorts e sem camiseta, cuidava de tirar terra do meu buraco e levar para um canto onde duas outras crianças, tão pequenas e sujas quanto ela, brincavam. E ela seguia nisso com tanto cuidado, as duas mãos agarradas ao copo azul de plástico, que parecia que a nossa vida toda estava ali naquele copo, misturada com a terra. Minha mãe conversava com uma moça, outra mãe. E eram bonitas e riam enquanto falavam. Preocupação nenhuma aparente. Céu sem sol, apesar do calor. Dia cinza, contrastando com os tons de marrom daquele mundo. O quintal, a lama em nós, o mato seco, minha mãe, a moça, a rua e um cachorro que eu quase enxergo, tudo solidamente marrom.
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