Infância na zona rural. Mudança para São José dos Campos. Atividades rurais dos pais e dos avós. Aprendizagem em funilaria. Descrição dos primeiros tempos da Rodovia Presidente Dutra. Comércio de vidros. Atividades atuais.
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome completo é Antonio Ruiz Vilanova, eu nasci em São João da Boa Vista, em 28 de janeiro de 32.
FAMÍLIA
Meus pais eram Salvador Ruiz Castilho e Águeda Vilanova. Meus avós, Salvador Gimenez e Helena Del Castillo. São de origem espanhola. Vieram todos da Espanha, meus avós e meus pais. Vieram de navio, no começo do século, fugindo da guerra, como a maior parte do povo. Eles vieram direto pra São João da Boa Vista. Desembarcaram em Santos. Em São João da Boa Vista, eles trabalhavam na lavoura. Moravam na roça. Meus pais, em 32 - eu nasci em 32, mas com três meses meu pai me trouxe pra Guararema - compraram uma propriedade em Guararema, meus avós e meus pais. Nós ficamos em Guararema até 43, 44, mais ou menos. Aí depois viemos pra São José dos Campos. Eles trabalhavam na roça, e as terras daqui, pra lavoura, são péssimas. Então, eles foram se cansando, cansando. Acabaram vendendo e se mudaram pra cidade. Na cidade, meu pai tinha banca no mercado. Vendia cereais, verduras. Banquinha pequena. Mercadão. Mercadão Central. Meu pai tinha umas três ou quatro bancas nesse Mercadão.
TRABALHO
Nessa época eu já trabalhava com meu pai. Tem um senhor que tinha banca no mercado, que já faleceu, é avô do Jairo Pinto. Chamava seu Ângelo Pinto. Eu trabalhei pra esse homem no mercado, também. Seu Ângelo Pinto, um italiano, tinha banquinha logo na parte de cima do mercado. Eu era ajudante, como eu tinha doze anos mais ou menos, ficava ajudando em tudo. Ajudante, ajudava na banca, no mercado, ajudava a limpar, ajudava a vender ali, era pequenininho, tinha doze anos. Naquele tempo só podia trabalhar com catorze anos. Eu fui trabalhar com o Salomão Diamante. Casa Salomão.
CIDADES
São José dos Campos Naquela época tinha Salomão Diamante, Casa Diamante e Israel Diamante. Tudo diferente. Salomão Diamante é lá em cima, ainda tem o prédio dele; a Casa Diamante é onde é uma galeria hoje; e Israel Diamante, mais pra baixo, que era pai do doutor Davi Diamante, que também tinha comércio. Três Diamante que tinham na rua Quinze. O Salomão Diamante tinha móveis, e vendia tecidos e calçados. Casa Diamante era a casa mais bacana que tinha em São José, vendia de tudo, muito linda a casa, uma casa muito bacana de relógios, era a coisa mais... E o seu Israel Diamante tinha uma casa de colchões e móveis, também, pegado à Casa Diamante.
TRABALHO
Fui trabalhar com o Salomão vendendo móveis, vendendo sapatos, vendendo tecidos, vendendo tudo. Eu trabalhava, decorava, levava... Eu, por exemplo - existia onde é a Santos Dumont hoje, um sanatório, chamava esse sanatório Esdras, ainda existe essa rua Esdras. E o sanatório, o gerente era amigo do Salomão, então como era sanatório de doentes, sempre que morria doente, eles queimavam tudo. Então comprava aquela quantidade de colchões, de guarda-roupas, tudo, que a gente transportava em caixas. Cada um que morria, eles queimavam: aquele lá não usava mais. Morria um doente, aquele lá, principalmente colchão, já... Antigamente, tinha fábrica de colchões aqui em São José mesmo, colchão de capim. E a gente transportava em carroça, ajudava a vender calçados. Vendia muitos calçados, porque Santana não tinha loja, antigamente. Então o pessoal de Santana subia pra cidade.
CIDADES
São José dos Campos Em Santana morava bastante gente, mas não tinha comércio como aqui em cima. Era um pessoal de poder aquisitivo bom, até bom. Mas é que não tinha, não tinha comércio lá. Hoje tem bastante comércio lá, antigamente não tinha, antigamente era mais aqui em cima. Isso nos anos 45, 46. Nessa época, em São José era maior parte era sanatório, mesmo. Depois foram erradicando. O que era a tuberculose? Era falta de alimento. Depois mandaram pra Campos do Jordão, lá mesmo erradicaram a tuberculose. A tuberculose, pra mim, eu acho que é falta de se alimentar bem. O seu Salomão Diamante fornecia esses móveis pra esse..., pra todo mundo. Mas pro Esdras era mais porque era em quantidade. Nas pensões era a mesma coisa: quando morria uma pessoa, aquele colchão, não queria mais. O colchão era um colchãozinho de capim, bem simples. Não é como hoje, os colchões bacanas. Antigamente era uma fabriquinha de colchão que tinha ali na rua Sebastião Húngaro. Seu Benedito Pinoti que fazia os colchões, colchões de capim. Ele pegava de carroça, trazia pra loja, da loja distribuía. Lá vendia guarda-roupa, os guarda-roupa de canela, geralmente só de solteiro, só de solteiro. Geralmente era uma pessoa em cada quarto, os doentes. Tinha um guarda-roupinha de solteiro, tudo, até uma madeirinha bonita, de canela. A gente levava.
TRABALHO
Trabalhei lá com ele até 47. Aí eu fui trabalhar no Mercadante e Companhia Limitada. O Mercadante tinha um posto de gasolina, tinha oficina mecânica. Tinha oficina mecânica, funilaria, pintura, lavagem de carro: era uma firma muito completa, muito boa. E mais pra frente, vendia automóveis, vendia bicicletas: uma firma muito boa. Ali comecei a aprender, comecei vendendo gasolina, depois já comecei a aprender funilaria, pintura.
CIDADES
São José dos Campos Nessa época era tudo carro importado. Você raspava todo o carro, raspava ele inteirinho, preparava ele, pintava. Era oficina muito boa, porque sempre os carros de Aparecida do Norte era tudo reformado. Mais ou menos, ali..., depois ali, eu fiquei ali até...50. [Em] 50 eu saí, fui trabalhar na rede Murat, uma firma muito boa, os melhores profissionais iam pra lá. Era a mesma coisa: mecânica, funilaria, pintura. Tinha muitos carros, nessa época. Não é como hoje, mas tinha. Tinha, maior parte carro de praça, maioria carro de praça - particular não tinha muito, não. Maioria carro de praça. Porque a gente reformava carro, que não tinha, como hoje em dia, carro novo: era tudo carro importado. Quando ia ficando velho, tinha que fazer aquela reforma nele: raspar inteirinho, dar fundo, aplicar massa, pintar. E sempre fazia isso, os carros de praça. Tinha bastante carro de carro de praça porque aqui tinha bastante sanatório de doente. Tinha viajante que era encarregado de, por exemplo: o sujeito representa um hotel, ele ia na estação - que o pessoal vinha de trem, não tinha ônibus como tem hoje - e lá, ele pegava as malas, levava naquela pensão, e assim. Os carros de praça iam lá na estação buscar essa gente que vinha de fora. E vinha muita gente. Antigamente, vinha bastante, antigamente não tinha, não tinha rodovia Dutra, não tinha ônibus. A condução do povo aqui era o trem. O trem central. Na hora do trem, os carros de praça desciam. Ficava tudo ali no largo da Matriz. Todos ali. Depois, na hora do trem, eles desciam lá, pegar os passageiros pra botar. Aí depois foram ampliando, aí foram ampliando os pontos de carro. Antigamente era só no largo da Matriz; depois foi ali na praça Cônego Lima. Foi tendo mais, mais ponto de táxi.
TRABALHO
Então, na oficina, a maior parte era carro de praça. A maioria era... Tinha particular, mas não era tanto como hoje, não: era bem pouquinha gente. O popular não tinha poder aquisitivo pra comprar carro, hoje em dia o carro é financiado, é facilitado. Antigamente, não. Era mais a vista, mesmo. Eu era funileiro. Você tinha que ser artista, porque não tinha peça pra repor, você tinha que cortar, remendar, ajeitar. Hoje em dia usa muita massa. Eu nunca usava massa, eu usava estanho, eu estanhava os carros. Hoje em dia usa massa plástica. Eu não, nunca usei massa plástica. E a gente aprendeu a mexer com funilaria, eu aprendi a temperar peças, a fazer peça, tudo, eu aprendi ali na Ford. Tinha um senhor que era ferreiro, e eu aprendi a temperar ferramentas, temperar peças. Aquele senhor lá era simplesmente o Ferreirinho, homem humilde, bacana. Antigamente, você tinha que ser artesão, mesmo, você tinha que ter boa vontade. Inclusive, hoje é mais fácil: você quer um negócio, vai e compra. Antigamente você tinha que fazer, mesmo, na raça e na boa vontade. Nos anos 50, fui trabalhar na agência Ford. Eu trabalhei quatro anos, mais ou menos, no Mercadante e Companhia Limitada. Aí, já nos anos 50, eu mudei pra agência Ford, porque eu já sabia trabalhar, já queria crescer. Aí, na Ford, eu fiquei até 54, e fui trabalhar por minha conta. Eu aluguei um pedaço de uma oficina na Vila Maria, pegado à Torrefação Aurora. E ali comecei a trabalhar, trabalhava dia e noite. Aí depois eu fui achando que estava muito pequeninho o espaço que eu trabalhava, que tinha que ter espaço maior, porque tinha bastante clientela. Acabei comprando ali na Nelson D’Ávila, comprei do comandante Oladir Marcondes. Ele tinha escritório de contabilidade. Eu comprei ali do comandante Oladir Marcondes, era [por] volta de 57, comecinho de 57. Aí preparei um rancho bem simples lá, pra começar a trabalhar. Depois, como o passar do tempo, fui melhorando, fui ampliando, ampliando, ampliando. Em 57 eu montei, montei a oficina de funilaria e pintura. Um rancho bem simples, aí com o tempo eu fui melhorando, ampliando aquilo lá. Eu lembro de um caso, de uma pessoa que caiu no rio Buquira. Chamava seu Geraldo Teixeira, um senhor muito bacana. Ele vinha vindo de levar um passageiro lá pro lado de Buquira, e a pessoa que ele foi levar falou: “Dorme aqui em minha casa, seu Geraldo, dorme aqui”. Seu Geraldo: “Não”, não quis. E ele caiu no rio Buquira, na curva. E ele não morreu afogado porque Deus não quis. O carro caiu na água, aí o caminhão do guincho tirou. Foi a gente, eu recuperei o carro do seu Geraldo, na Ford. Não tinha muita batida porque não tinha muito carro como hoje. Hoje tem muito carro.
TRANSPORTE
A estrada era de terra, bem pior que as de hoje - hoje em dia as estradas são boas. O carro andava, levantava uma pedra e amassava. Isso eu resolvia. Fácil. Eu me lembro que em 50, Getúlio Vargas veio fazer uma inauguração de uma Variant, e teve uma festa lá no Bela Vista. E tinha um homem chamado João Lopes Simões, que era gerente do banco Mercantil. Ele tinha comprado um Taurus e ele se confundiu: em vez de pisar no breque, pisou no acelerador. Ele bateu na traseira de um carro, do doutor Sebastião Henrique da Cunha Pontes, um Ford canadense, rasgou tudo. Eu recuperei aquilo tudo: soldava, fazia aquilo bonito. Ele ficou até admirado, que não acreditava que ia ser recuperado.
COMÉRCIO
Eu nunca tive problema pra receber, não. Até porque, como eu gosto das coisas corretas, e coisa, isso tudo... Por exemplo: eu não deixava o carro sair sem pagar. Primeira coisa. Já combinava antes, sabe? Olha - se eu não me engano - , nenhum freguês me deu o cano na vida.
TRANSPORTE
Aí a Dutra foi feita em 48, 48, 50. O Eurico Gaspar Dutra era presidente da república, ele começou a Dutra. Eu sei que nós fomos assistir o jogo, em São Paulo: São Paulo e Corinthians. Fomos metade pela Dutra, metade pela estrada velha. Nós saímos oito horas, chegamos duas horas da tarde em São Paulo. Porque estava fazendo a Dutra em partes, assim. Foi em 48 que eles começaram. Eu lembro bem disso aí. Quando veio a Presidente Dutra foi uma beleza. Era uma pista só, depois fizeram a outra pista.
CIDADES
São José dos Campos Aí aumentou a coisa de acidente: à medida da proporção que vai aumentando os carros, vai aumentando acidente. Eu tinha muita clientela, porque como eu estava ali perto do Centro Técnico Aeroespacial, CTA, tinha bastante pessoal do Rio, tudo. Recebia muitos carros do pessoal do Rio de Janeiro. CTA é uma maravilha. Quem que não deve obrigação pro CTA?
TRABALHO
O carro mais difícil de arrumar era o DKV, que judiava da gente. Ah, DKV judiava da gente: as portas abriam ao contrário, o pára-brisa era ruim de encaixar. Como judiava da gente. Isso me lembra: era na agência Ford, veio uma cantora famosa, pra fazer inauguração da venda de carros, Dalva de Oliveira. Veio a Dalva de Oliveira. Veio fazer um show lá. Beleza. Veio pra isso. A primeira televisão de São José dos Campos foi o Henrique Murat que pôs ali na praça, ali na rua Quinze, onde hoje é o estacionamento do Diamante. Depois o Mercadante também tinha [uma televisão] ali, na praça Afonso Pena. Televisão todo mundo assistia. Primeira televisão que chegava aqui. Agora todo mundo tem televisão. Ralei pra mais de metro aqui em São José. Nunca tive tempo pra paquera. Porque o meu pai veio da roça, meu pai perdeu tudo. Meu pai tinha coração grande, emprestou pra outro, perdeu tudo. Nós não tínhamos onde morar, não tínhamos trabalho. Meu pai tinha que ir no mercado, tinha que trabalhar. Eu era praticamente o que mais me mexia em casa. Eu tenho mais cinco irmãos: três irmãs e mais dois irmãos. Ah, coitados, meus irmãos eram mais..., trabalhavam, mas não tanto, o que trabalhava mesmo era eu.
CIDADES
São José dos Campos Naquele tempo você trabalhava. Diversão não, sequer. E na rua Quinze andar de cima embaixo. Lembra? Rua Quinze, tinha um passeio na rua Quinze de Novembro, que vinha até na esquina do banco Bradesco, na esquina do largo da Matriz. Esse era o passeio na cidade, nada mais.
JUVENTUDE
Não ia em baile. Não tinha antigamente isso aqui, muito difícil. Agora sim, agora tem forró aqui, forró ali. Não era assim. E nós, também, não tínhamos tanto poder aquisitivo, também.
COMÉRCIO
O comércio... Você pra compra um jogo de... Tinha que ir na Florêncio de Abreu, em São Paulo. Tudo que você precisava tinha que ir pra São Paulo comprar. Depois, aí, com o tempo foram vindo pra cá. Agora... Eu ia de carona, ia de carona com os amigos caminhoneiros, porque eu consertava muitos caminhões, eu ia com eles, me levavam, comprar tudo em São Paulo, tudo, tudo. Até pouco tempo atrás, eu me lembro que os meus filhos ficavam na lojinha pequena, quando já tinha... Aí eu parei com a funilaria [em] 69 e comecei com parte de venda de guarnições. Aí, eu lembro que meio-dia eu pegava a picape, ia pra São Paulo, virava São Paulo de pernas pro ar. Sete horas da noite eu estava na loja pros meus filhos irem estudar. Isso fiz muitos anos. Agora não, agora faço mais nada, agora fico só de olho. Então, eu ia pra São Paulo só pra comprar ferramentas, comprar mercadoria. Outras coisas já tinha aqui, tinha casas de confiança: Salomão Diamante. Tinha umas casas boas, tinha lojas boas aqui. Ia comprar ferramentas, comprar mercadorias, comprar máquina de furar, máquina de lixar. Isso tinha que ir lá. Isso tinha que ir lá.
CASAMENTO
Eu casei no dia 29 de maio de 1954. Tinha 21 anos. Não tinha nada, eu trabalhava na agência Ford da Henrique Murat ainda, aí saí no dia 1º de maio e casei no dia 29. No dia 1o de maio eu montei uma oficina. Aluguei um pedaço, ali pegado à Torrefação Aurora, e comecei a trabalhar ali. Eu fui comprar meus móveis pra casar, fui comprar em Jacareí, tinha uma loja, como é que chamava? Tem os meninos, ainda estão por aí, o Plínio e o Arno, loja de móveis... Comprei lá, porque era mais fácil comprar lá. Comprei, deixei guardado um ano lá na... Antigamente você comprava assim, e deixava guardado. Não que fosse mais barato lá em Jacareí, talvez tinha mais escolha, mais fácil. E eles, depois, eles montaram a loja aqui. Daí, eles vieram montar a loja aqui, mas antes só tinha lá. Eu comprei os móveis, ficaram um ano lá guardados, até que eu conseguisse a gente ter uma casinha pra casar.
FAMÍLIA
Eu tenho um filho mais velho, que chama Antônio Ceridônio, que é o que toma conta quase de tudo. O Toninho nasceu no dia 3 de maio de 1955. Tenho mais quatro. A Ana Lúcia nasceu no dia 1º de maio. Aí, deve ser, porque é três anos mais nova que o Toninho, deve ser de 58. Depois nasceu o Alexandre, que é outro dos filhos que eu tenho. Nasceu no dia de São José, o Alexandre. Depois tem outra que chama Helena Cristina, que trabalha na prefeitura. Tenho um genro que é engenheiro da Embraer. Depois tem aquele um, médico, que trabalha em São Sebastião, que aprendeu com nós a trabalhar. Hoje também tem uma lojinha de vidro lá em São Sebastião.
TRABALHO
Eu mudei da funilaria porque ia morrer de tanto trabalhar com a funilaria; eu tinha serviço demais, ia ficando louco. O meu amigo, o Sérgio Sobral de Oliveira me trazia tudo os carros da TV Cultura pra eu fazer. E eu tinha bastante clientela aqui. Aí eu falei: “Não, vou acabar ficando louco”. Porque, ele queria que fizesse: “Não você faz, faz, faz”. “Faço.” Ficava acumulando, acumulando trabalho. “Chega, vou parar.”
CIDADES
São José dos Campos O Sobral. Sobral é uma maravilha, Sobral deu um impulso fabuloso a isso aqui. Sérgio Sobral de Oliveira, o que nós devemos de obrigação pra ele... Não teríamos a Embraer, não teríamos nada, nem o Inpe. Tudo passado pelas mãos do Sérgio Sobral. E teve mais gente, claro, teve gente que eu não estou muito a par, mas teve mais gente. O CTA é uma maravilha. O CTA, eu acho que ele chegou era COCTA. Inclusive ele se chama COCTA. E a entrada da COCTA era ali pela curva que vai pra Caraguá, era ali. COCTA: comissão não sei que lá. Eu tenho um irmão que trabalhou 53 anos lá, um irmão que entrou menino, meu irmão mais velho. E saiu agora, faz um ano e pouco, do CTA. Então era COCTA. E quem que não deve obrigação pro CTA, quem que não deve? E aí, a chegada é que mudou a cidade. Porque a nossa cidade tem uma área topográfica muito linda, praticamente, é muito grande. E o CTA é um centro de estudos avançados. Veio tanta coisa pra cá através do CTA, gente, uma maravilha. Eu acho que nós temos a viação Carlos Santiago, nós temos, mínima coisa por causa do CTA. Veio tanta gente bacana de fora, tantos engenheiros, militares, gente da alta, gente que valorizou isso aqui, que deu impulso a São José dos Campos. Aumentou o comércio, aumentou e foi embora. Cresceu muito e até pras cidades vizinhas foi muito bom isso aqui. Porque foi crescendo, crescendo, crescendo, atraiu. Os empregos aumentaram, os empregos aqui. Depois já veio a General Motors, já veio a Rodhia, já veio uma porção de indústria veio pra cá.
COMÉRCIO
Depois eu só mexia com as guarnições: parte de carroceria, carroceria. Já não mexia mais com funilaria. Não mexi também com mecânica. Mecânica sempre tinha uns amigos ali que trabalhavam com a gente, mas eu não. Guarnição é vidro e carroceria. Vidros, as borrachas, tudo aquilo que faz parte de carroceria. Eu acho que eu fui o primeiro a mexer com isso. Eu, praticamente, graças à freguesia, a freguesia vai te empurrando pra um lugar bom, a freguesia boa vai te empurrando. Quando você trabalha correto, o freguês vem e vai te dando aquela força, você vai acreditando. Eu tinha um amigão aqui, que se chamava seu Taira, que era chefe dos fiscais, falava: “Ruiz, não cresça Ruiz”. “Mas como que não vou crescer, tem que crescer, gente.” Que ele já sabia que, claro, quanto mais se cresce, mais problema você vai ter. Mas tem que ter problema e solucionar. Eu me lembro que eu ia em São Paulo comprar vidro de carona, com uma bolsinha. Ia na rua do Gasômetro. Era pouquinho. Antigamente, era pouquinho serviço, não é como hoje, não, [que] tem que ir de caminhão: antigamente você ia fazer um carro, ia, comprava, terminava, entregava. Fazia outro carro, ia, buscava. Eu nem tinha estoque. Depois fui, à medida que fui - depois de 69 - , aí eu fui obrigado a ir crescendo e fazendo. Hoje em dia tem já quase carro, quase vidro pra tudo quanto é carro. Você tem que ter, agora. Hoje tenho gente só para mexer com isso. Tem pessoa só pra isso. Tem o estoquista, pessoa que controla, pessoa que dá entrada, saída; tem uma pessoa que compra, uma pessoa que compra e vende, lá. Cada pessoa... Quando você cresce tem que ter uma pessoa pra cada seção, tomar conta daquilo lá, ele é responsável por aquilo lá. Senão não tem jeito. Porque quando você é pequenininho, você vai, compra um vidro ou dois, vem, coloca. Agora, a gente, por exemplo, o sujeito quer um vidro desse aqui, telefona: “Tem?”. “Tem.” Carro importado, carro nacional: você tem que ter [as peças], gente. Você tem que ter estoque. É muito difícil aquele vidro que nós não temos. A maioria nós temos. Antigamente, clientes eram homens. Agora é mulher, que tem mais mulher que homem. Não entendem, mas elas vão lá porque têm confiança. Que não são enganadas. E a gente tem que jogar limpo, e jogar limpo sempre. Agora é mais mulher do que homem, porque tem mais mulher do que homem. Antigamente era mais homem, lógico. Quando sai uma novidade, por exemplo, quando nós precisávamos de treinar pra consertar...: nós consertamos espelho, bate, o espelho bate e quebra, meus funcionários iam na fabrica aprender lá, fazer estágio. Agora, depois, mudou, antigamente o pára-brisa era puxado com cordinha, barbante... Então, os primeiros vão na fábrica, aprendem, vêm e servem de professor pros outros que entram. A maioria dos funcionários nossos, a maioria, 99%, aprendem com nós ali. E muitos aprenderam e estão trabalhando por aí. Inclusive muitos funileiros que já trabalharam comigo têm as oficinas deles por aí. Eles treinam lá e ficam bom de serviço. E a primeira coisa que eu exijo é dignidade, isso eu não abro mão: eu não admito que engane o freguês, de jeito nenhum. Porque se enganar o freguês está enganando a mim, está enganando a ele, o freguês em primeiro lugar, não enganar o freguês. E sempre jogar limpo com o freguês, “porque é isso, isso e isso”. Nada de querer forçar a venda. Não, isso não pode. Mas tem muita gente que força a venda por aí, quebra a cara. Porque o freguês descobre que está sendo enganado. Então, primeira coisa: o comerciante tem que ser honesto, correto.
TRANSPORTE
Com a Dutra melhorou. Aí ficou um corredor entre São Paulo e Rio, melhorou bem. E esse corredor foi... Ah, maravilha.
FAMÍLIA
Meus filhos que são maravilha também, que levaram meu nome pra frente, que são bacanas também, graças a Deus. Então, nós abrimos mais uma, temos lojinha na Andrômeda e temos uma lá perto do Uemura, também. Porque agora meus netos também [estão] trabalhando com a gente. Graças a Deus, dei sorte. Meus filhos são bons, agora os netos também estão tocando. Quer dizer, que eu vou encaminhando eles. É a terceira geração. Precisa [trabalhar]. É bom, porque o homem tem que ter uma ocupação na vida. O que falta nesse país ainda são escolas. A minha loja é uma escola. Ensinei muitos funileiros, muitos vidraceiros, meninos que chegaram doentes ali - que eu tenho, que eu curei, que tratei, que ensinei - estão vivendo. O que falta nesse país são escolas. Se tivesse mais escolas, as cadeias não estavam repletas de homens, meninos na Febem, não estava. Que se esses meninos tivessem aprendido o caminho - tem que ensinar o caminho bom. Agora não tem o que fazer: vai soltar papagaio, vai isso, vai aquilo, vai roubar. Faltam escolas aqui ainda, e muita escola. Não é quatro paredes que eu digo não: é uma escola onde ele aprenda tudo, é carpintaria, é... carpintaria, mecânica, pra fazer tudo, tudo, tudo. Que ele possa sair de lá um homem já formado pra enfrentar a vida.
RELAÇÃO COM O COMÉRCIO
Nós, eu e minha esposa, no comecinho, a gente ia comprar roupa ali na José Paulino, isso aí, mas há muitos anos. Agora tem tudo aqui. São José tem tudo, uma maravilha. Ah gosto, ah gosto de fazer compras. Eu não gosto muito de ir em shopping, eu gosto mais de ir em feira. Eu gosto mais, eu me identifico muito com esse pessoal, assim, trabalhador. E shopping eu não sou muito chegado, que tem que andar bastante, e correr, correr, correr. Agora, se eu hoje quero comprar uma camisa, tem que ir no shopping mesmo. Aí tem que ir no shopping. Camisa dessa, assim, eu não preciso comprar, que eu tenho tantas - meus filhos me deram tantas camisas. No centro, no centro praticamente agora não vou, porque tem shopping. A patroa vai no shopping, compra pra mim, ou senão compra pra ela. Agora no centro você não compra quase mais nada. O que você compra, que você pode comprar é televisão, uma coisa ou outra. Mas, praticamente, roupa você vai em shopping, que você tem diversas opções pra procurar e olhar. Mas a feira - vai na feira, para você ver como é gostoso, vai pra você ver como é delicioso. Amanhã mesmo é dia que eu vou fazer feira aqui, perto de vocês. Sábado eu vou fazer lá... É uma delícia Coisa que eu me vejo com esse povo trabalhador, é muito gostoso.
VIDA ATUAL
Eu gosto de plantar pêssego, de colher pêssegos. Tenho uma plantação de pêssegos. Adoro porque é muito gostoso, é uma terapia gostosa. Quando eu não estou lá na minha loja, olhando, eu vou lá trabalhar um pouquinho na minha chácara.
CIDADES
Litoral Quando os filhos eram pequenos, nós fazíamos passeios pro litoral. Íamos de Kombi. Eu tinha Kombi. Todos os filhos iam: iam três filhas e os filhos comigo. Nós íamos pra praia, voltava, tal. Eu tinha aquilo, cheguei a ter casa na praia, cheguei a ter casa na praia, depois. A gente ia para a Prainha, Caraguá. Antigamente, a estrada era horrível, era de terra. Cheia de curvas, só poeira, quando subia na... Quebrava muito o carro. As estradas eram horríveis, desgasta mais.
FAMÍLIA
Tenho dois netos trabalhando comigo, mas eu tenho onze netos. Eu sou muito rico.
AVALIAÇÃO
Comércio Eu acho que você nunca pode abrir mão de ser correto: isso em primeiro lugar, você não pode abrir mão. Aí você já, você encontra muita dificuldade, mas você vai ter a recompensa na frente, não tenha dúvida. Agora, aquele que não é honesto, coitado, ele vai quebrar a cara. Diria pra todo mundo, pra todo mundo. Pros meus funcionários, eu chego: “Filho, você, o que é do freguês é do freguês, o que é nosso é o nosso”. Sempre assim: primeira coisa é ser honesto com todo mundo, mas com todo mundo, não é só com o freguês. Com os empregados, com o governo, com o fisco, com o fornecedor. Eu nunca me lembro de ter dado um cheque sem fundo pra alguém, e nunca me lembro de ter pagado título no cartório, eu brigo pra pagar conta que extravia o documento. Isso é muito bom, porque você não vai ter problema mais tarde, você tem problema agora, que é apertado, aquilo, mas você não tem problema depois, não. Que nem a pessoa que mente: pessoa que mente... Se você não mentir nunca, você não precisa lembrar o que você falou. Agora, se você mentiu, você vai ter que inventar uma porção de mentira depois, pra poder...
Memórias do Comércio - Vale do Paraíba (MCVP)
Da zona rural à cidade
História de Antonio Ruiz Vilanova
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 11/03/2004 por Museu da Pessoa
P/1-Bom, Toninho, pai né? Queria que você começasse essa entrevista dizendo pra gente teu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R- Meu nome completo é Antonio Ruiz Vilanova, eu nasci em São João da Boa Vista em 28 de 1 de 32
P/1- E o nome de seus pais?
R- Salvador Ruiz Castilho e Águeda Vilanova.
P/1- E seus avós, você lembra o nome deles?
R- Salvador Gimenez e Helena Del Castillo
P/1- Origem espanhola?
R- Espanhola.
P/1- E seus avós já nasceram aqui ou eles vieram?
R- Não. Vieram tudo da Espanha, vieram meus pais, meus avós e meus pais.
P/1- Os seus pais também?
R- Vieram da Espanha.
P/1- Você lembra como é que eles vieram? Você lembra dessa história?
R- Não, eles vieram de navio. Eles vieram no começo do século. 2002... Começo do século eles vieram pra cá.
P/1- Certo. Você sabe por quê que eles saíram da Espanha?
R- Sei. Fugindo da guerra.
P/1- Fugindo da guerra.
R- (riso) Como a maior parte do povo.
P/1- Eles vieram direto aqui pra São José?
R- São João da Boa Vista
P/1- Ah é, São João, onde o senhor nasceu. Eles desembarcaram onde, em Santos ou no Rio?
R- Ah, desembarcaram em Santos.
P/1- Em Santos e foram pra São João. E lá, o que que eles faziam?
R- Trabalhavam na lavoura. Moravam na roça.
P/1- Certo. E aí, como é que se deu essa mudança pra São José? Foi só você que veio?
R- Não, não, não. Aí, meus pais em 32, eu nasci em 32, mas com três meses meu pai me trouxe pra Guararema. Eles compraram uma propriedade em Guararema, meus avós e meus pais. Nós ficamos em Guararema até 43, 44, mais ou menos. Aí depois viemos pra São José dos Campos.
P/1- E aí, por quê que vocês saíram de Guararema? Porque Guararema é aqui no Vale também, né?
R- É por que... Eles trabalhavam na roça, né? E as terras daqui, pra lavoura, são péssimas. Então, eles foram se cansando, cansando. Acabaram vendendo e se mudaram pra cidade
P/1- E aí na cidade, o que eles faziam? Que atividade...
R- Meu pai tinha banca no mercado.
P/1- Banca no mercado. O que que ele vendia lá?
R- Ué, cereais, verduras. Banquinha pequena, né?
P/1- Nesse mercado, mesmo, Toninho?
R- Mercadão. Mercadão (Central?). Meu pai tinha umas três ou quatro bancas nesse mercadão, aí.
P/1- E aí você, em 43, você já trabalhava com eles ou não?
R- Ah já, já. Meu pai já... Eu inclusive, tem um senhor que tinha banca no mercado, que já faleceu, é avô do Jairo Pinto. Chamava Seu Ângelo Pinto. Eu trabalhei pra esse homem no mercado, também. Seu Ângelo Pinto, um italiano, tinha banquinha logo na parte de cima do mercado
P/1- E o que você fazia pra ele?
R- Eu era ajudante, como eu tinha 12 anos, mais ou menos, né? (Ficava ajudando tudo, né?)
P/1- Ajudante fazia o quê? Vendia, carregava ________
R- Ah, ajudante, ajudava banca no mercado, praticamente, ajudava a limpar, ajudava a vender, ali, era pequenininho, tinha 12 anos, né?
P/1- E você tinha já carteira de trabalho, não é isso?
R- Não, não.
P/1- Ainda não.
R- Naquele tempo não. Só podia trabalhar com 14 anos. Aí depois que, aí eu fui trabalhar com o Salomão Diamante. Casa Salomão.
P/1- Não é a Casa (Diamante)?
R- Não. Salomão Diamante.
P/1- Por que não era a mesma?
R- Não. Tinha Salomão Diamante, Casa Diamante e Israel Diamante. Tudo diferente.
P/1- Tudo é diferente?
R- Salomão Diamante é lá em cima, ainda tem o prédio dele. A Casa Diamante é onde é uma galeria hoje. E Israel Diamante, mais pra baixo, que era pai do Dr. Davi Diamante, que também tinha comércio. Três Diamante que tinha na Rua Quinze
P/1- Mas cada um vendia uma coisa ou não?
R- O Salomão Diamante era, era, era, ele tinha móveis e vendia tecidos e calçados. Casa Diamante, era a casa mais bacana que tinha em São José, vendia de tudo. Muito linda a casa. Uma casa muito bacana de relógios, era a coisa mais... E o Seu Israel Diamante tinha uma casa de colchões e móveis, também, pegado Casa Diamante.
P/1- E você foi trabalhar com o Salomão?
R- Salomão Diamante.
P/1- Vendendo móveis?
R- Vendendo móveis, vendendo sapatos, vendendo tecidos, vendendo tudo.
P/1- Você era vendedor, não? Você era...
R- Eu trabalhava, decorava, levava... eu, por exemplo, existia onde é a Santos Dumont hoje, um sanatório, chamava esse sanatório (Esra?). Ainda existe essa Rua (Esra?), ali no (Sandivo?). E o Sanatório (Esra?), o gerente era amigo do Salomão, então como era sanatório de doentes, sempre que morria doente, eles queimavam tudo, né? Então comprava aquela quantidade de colchões, de guarda-roupas, tudo, que a gente transportava em caixas.
P/1- Ah, quer dizer, que cada um que morria eles queimavam.
R- Ah, sim. Aquele lá não usava mais. Morria um doente, aquele lá, principalmente colchão, já... Antigamente tinha fábrica de colchões aqui em São José, mesmo, colchão de capim, né? E a gente transportava em carroça, ajudava a vender calçados. Vendia muito calçados, porque Santana não tinha loja, antigamente. Então o pessoal de Santana subia pra cidade.
P/1- E quem é que morava em Santana, Toninho?
R- Bom, morava bastante gente, mas não tinha comércio como aqui em cima, né?
P/1- Mas era um pessoal de poder aquisitivo menor?
R- Ah, não. Era um pessoal de poder aquisitivo bom, até bom. Mas é que não tinha, não tinha comércio lá. Hoje tem bastante comércio lá, antigamente não tinha, antigamente era mais aqui em cima, né?
P/1- E, quer dizer, nós estamos falando dos anos 40...
R- 45, 46.
P/1- Quer dizer que ainda tinha esse coisa de sanatório bem forte.
R- Ah, tinha. São José era, maior parte era sanatório, mesmo.
P/1- E como é que isso acabou, Toninho?
R- Ah, depois foram erradicando, né? O que que era a tuberculose, era falta de alimento, né? Que eu acho, assim. Depois mandaram pra Campos do Jordão, lá mesmo erradicaram a tuberculose, né? A tuberculose, pra mim, eu acho que é falta de se alimentar bem.
P/1- Certo. Então a casa do Seu Salomão Diamante é que fornecia esses móveis pra esse...
R- É.
P/1- Só pro Esdras ou ele fornecia pra...
R- Pra todo mundo.
P/1- Pra todos os sanatórios?
R- É, mas pro Esdras era mais porque era em quantidade, né?
P/1- Sei. E o pessoal das pensões também fazia isso, também queimava os móveis ou não?
R- Ah, sim. Eu acho que sim, quando morria uma pessoa, aquele colchão não queria mais.
P/1- Ah, sim. O colchão.
R- Era um colchãozinho de capim, bem simples. Não é como hoje, os colchão bacana. Antigamente, era uma fabriquinha de colchão, que tinha ali na Rua Sebastião Húngaro, Seu Benedito Pinoti que fazia os colchões, né? Colchões de capim. Ele pegava de carroça, trazia pra loja, da loja distribuía.
P/1- Ah, tá. Então só colchão que queimava?
R- Ah, sim.
P/1- Tá. Os outros móveis...
R- Os outros não. Queimava os colchões __________. Colchão era feito de capim, coisinha simples, né?
P/1- E que tipo de móvel que vendia lá?
R- Ah, sim. Guarda-roupa, os guarda-roupa de canela, geralmente só de solteiro. Só de solteiro. Geralmente, era uma pessoa em cada quarto, né, os doentes. Tinha um guarda-roupinha de solteiro, tudo, até uma madeirinha bonita, de canela, a gente levava.
P/1- Então não era móveis, assim, pra uma casa, por exemplo?
R- Não, não. Pra cada quarto, cada quarto...
P/1- Só pra atender, então a...
R- Aquele quarto, uma pessoa do quarto. E aquele era _______
P/1- Sei. E você trabalhou lá com ele até...
R- Até 47.
P/1- Até 47.
R- 47, aí eu fui trabalhar no Mercadante e Companhia Limitada.
P/1- O que que o Mercadante fazia?
R- O Mercadante era, ele tinha um posto de gasolina, tinha oficina mecânica. Tinha oficina mecânica, funilaria, pintura, lavagem de carro, era uma firma muito completa, muito boa. E mais pra frente vendia automóveis, vendia bicicletas, uma firma muito boa, né? Ali comecei a aprender, comecei vendendo gasolina, depois já passei pra __________, depois já comecei a aprender funilaria, pintura, né?
P/1- Em 47? Quer dizer, os carros todos importados.
R- É. Aí você raspava todo o carro, raspava ele inteirinho, preparava ele, pintava. Era oficina muito boa, porque sempre os carros de Aparecida do Norte era tudo reformado, mais ou menos, ali, né?. Depois ali, eu fiquei ali até...50. 50 eu saí. Fui trabalhar na (Rede Mudá?). (Rede Mudá?), aí passou (Rede Mudá?) a ser uma firma muito boa, os melhores profissionais ia pra lá.
P/1- Que também, era nessa área de mecânica?
R- É, a mesma coisa. Mecânica, funilaria, pintura.
P/1- Tá.
R- Essa coisa tudo. Só que aí, esse aqui já praticamente, foi acabando, né?
P/1- Sei. Mas tinha muitas carros, Toninho, nessa época?
R- Tinha
P/1- Aqui em São José?
R- Ah, tinha. Não é como hoje, mas tinha. Tinha, maior parte carro de praça, né? Maioria carro de praça, particular não tinha muito, não. Maioria carro de praça, né? Porque a gente reformava carro, né, que não tinha como hoje em dia carro novo, era tudo carro importado. Quando ia ficando velho, tinha que fazer aquela reforma nele, raspar inteirinho, dar fundo, aplicar massa, pintar. E sempre fazia isso, os carros de praça
P/1- E por quê que tinha tanto carro de praça? Pro pessoal se locomover aqui pelo Vale ou não?
R- Não, mas tinha, né?. Porque aqui tinha bastante sanatório de doente.
P/1- Sei.
R- Tinha viajante que era encarregado de, por exemplo, o sujeito representa um hotel. Ele ia na estação, que o pessoal vinha de trem.
P/1- Sei
R- Não tinha ônibus como tem hoje. E lá, ele pegava as malas, levava naquela pensão, e assim. Como se (levasse?) a pessoa, assim.
P/1- Então, os carros de praça que faziam esse transporte?
R- Iam lá na estação buscar.
P/1- Tá. Mas de gente que vinha de fora?
R- Que vinha de fora.
P/1- E vinha bastante gente aqui do vale, vinha tudo aqui pra São José?
R- Ah, vinha. Antigamente vinha bastante, né? Antigamente não tinha, não tinha Rodovia Dutra, não tinha ônibus. A condução do povo aqui era o trem.
P/1- O trem?
R- O trem central.
P/1- Então os carros de praça ficavam todos ali na estação?
R- Ah, não. Não. Na hora do trem eles desciam. Ficava tudo ali na Largo da Matriz.
P/1- Ah, tá.
R- Todos ali. Depois na hora do trem eles desciam lá, pegar os passageiros pra botar. Aí depois foram ampliando, aí foram ampliando os pontos de carro. Antigamente era só no Largo da Matriz.Depois foi ali na Praça Cônego Lima. Foi, tendo mais, mais ponto de táxi, né?
P/1- Então tinha bastante, era pra essas pessoas que vocês trabalhavam, então, as oficinas?
R- Ah, a maior parte era pra carro de praça. A maioria era... Tinha particular, mas não era tanto como hoje, não. Era bem pouquinha gente. (Popular?) não tinha poder aquisitivo pra comprar carro, hoje em dia o carro é financiado, é facilitado. Antigamente, não. Era mais à vista, mesmo.
P/1- E vocês lidavam mais com funilaria.
R- Eu, sim. Eu era funileiro.
P/1- Você era funileiro.
R- Era funileiro.
P/1- Como é que era, Toninho? Porque eram carros, outro material, né?
R- Não, era tudo carro importado, né? Você tinha que...
P/1- A chapa era mais grossa, é isso?
R- Não, era quase igual. Mas você tinha que ser artista, porque não tinha pra repor, você tinha que cortara, remendar, ajeitar. Hoje em dia usa muita massa, eu nunca usava massa, eu usava estanho. Eu estanhava os carros, entendeu? Hoje em dia usa massa plástica. Eu não, nunca usei massa plástica. E a gente, a gente aprendeu, a gente aprendeu a mexer com funilaria, eu aprendi a temperar peças, a fazer peça, tudo, eu aprendi ali na Ford. Tinha um senhor que era ferreiro, e eu aprendi a temperar ferramentas, temperar peças. Aquele senhor lá, era simplesmente o ferreirinho, homem humilde, bacana. Antigamente você tinha que ser artesão, mesmo. Você tinha que ter boa vontade. Inclusive, hoje é mais fácil, você quer um negócio, vai e compra, você quer outra. Antigamente você tinha que fazer, mesmo, na raça e na boa vontade.
P/1- Então, nos anos 50, você já está trabalhando nessa outra empresa?
R- Agência Ford _____________
P/1- Ah, é uma agência Ford.
R- É. _________________. Que é hoje estacionamento do Banco Bradesco na Avenida São José, ali.
P/1- Sei.
R- Era ali.
P/1- E também tinha bastante... Você mudou por quê? Lá era melhor, o outro estava caindo...
R- Não, porque, eu já, veja bem, eu trabalhei 4 anos, mais ou menos, no Mercadante Companhia Limitada. Aí já, nos anos 50, assim, eu já mudei pra Agência Ford já, porque eu já sabia trabalhar, já queria...
P/1- Crescer.
R- Já queria... Aí na Ford eu fiquei até 54.
P/1- Sei. 4 anos.
R- 4 anos. Aí fui trabalhar por minha conta.
P/1- Então, que que você fez? Você montou um negócio ou...
R- Não, eu aluguei um pedaço, um pedaço de uma oficina na Vila Maria, pegado à Torrefação Aurora.
P/1- Sei.
R- E ali comecei a trabalhar. Trabalhava dia e noite. Aí, depois eu fui achando que estava muito pequeninho o espaço que eu trabalhava, que tinha que ter espaço maior, porque tinha bastante clientela. Acabei comprando ali na Nelson Dávila, comprei do Comandante Oladir Marcondes, o pai dele chamava-se (Menzinho?) Marcondes. Ele tinha escritório de contabilidade. Eu comprei ali do Comandante Oladir Marcondes, era volta de 57, comecinho de 57. Aí preparei um rancho bem simples lá, pra mim começar a trabalhar lá. Depois, como o passar do tempo, fui melhorando, fui ampliando, ampliando, ampliando.
P/1- Aí, você montou a sua oficina?
R- É, em 57 eu montei, montei a oficina de funilaria e pintura, né?
P/1- Certo, aí você já...
R- Um rancho bem simples, aí com o tempo eu fui melhorando, ampliando aquilo lá.
P/1- Toninho, e tinha, você estava falando que os carros iam estragando, e tal. Mas tinha muito acidente ou não? Eles batiam, caiam em buraco, não sei.
R-Olha, eu lembro de um caso, de uma pessoa que caiu no Rio Buquira. Chamava Seu Geraldo Teixeira, um senhor muito bacana. Ele vinha vindo de levar um passageiro lá pro lado de Buquira. E a pessoa que ele foi levar falou: “dorme aqui, em minha casa, Seu Geraldo, dorme aqui.” Seu Geraldo não, não quis. E ele caiu no Rio Buquira, na curva ali, a curva era (fria?). E ele não morreu afogado porque Deus não quis, o carro caiu na água
P/1- E aí vocês tiraram o carro?
R- Aí, não. Aí o caminhão do guincho tirou. Foi, a gente, eu recuperei o carro do Seu Geraldo na Ford. Não tinha muita batida porque não tinha muito carro como hoje. Hoje tem muito carro.
P/1- É, mas e buraco? Porque a estrada era de terra, não era?
R- Ah, era. Bem pior que as de hoje. Hoje em dia as estradas são boas.
P/1- De repente, quando o carro andava, não levantava uma pedra e amassava
R- Também.
P/1- Também?
R- Também.
P/1- Isso você resolvia?
R- Ah, claro!
P/1- Fácil.
R- Claro. Eu me lembro que em 50, Getúlio Vargas veio fazer uma inauguração de uma Variant e teve um a festa lá no Bela Vista. E tinha um homem chamado, João Lopes Simões, que era gerente do Banco Mercantil, ele tinha comprado um Taurus e ele se confundiu, em vez de pisar no breque, pisou no acelerador. Ele bateu na traseira de um carro, do Dr. Sebastião Henrique da Cunha Pontes. Um Ford canadense, rasgou pá, lá, a madeira, tudo. Eu recuperei aquilo tudo, soldava, fazia aquilo bonito. Ele ficou até admirado, que não acreditava que ia ser recuperado.
P/1- E como é que o pessoal pagava você, nessa época?
R- Não, eu trabalhava pra agência Ford.
P/1- Ah, tá.
R- Até aí. Agora aqui pra mim...
P/1- Pra você.
R- Quando foi pra mim. Não aí, eu nunca tive problema pra receber, não. Até porque, como eu gosto das coisas corretas, e coisa, isso tudo... Por exemplo, eu não deixava o carro sair sem pagar.Primeira coisa.
P/1- Ah, tá.
R- Já combinava antes, sabe? Olha, se eu não me engano, nenhum freguês me deu o cano na vida. Nunca peguei ____________.
P/1- Porque quando você amplia, aí já tem a Dutra?
R- Ah, sim. Aí a Dutra foi feita em 48, 48, 50. O Eurico Gaspar Dutra era presidente da república, ele começou a Dutra, né?
P/1- Como é que foi, você lembra, Toninho, os trechos que foram sendo feitos, não?
R- Ah, eu sei que nós fomos assistir o jogo, em São Paulo, São Paulo e Corinthians. Fomos metade pela Dutra, metade pela estrada velha. Nós saímos 8 horas, chegamos 2 horas da tarde em São Paulo. Porque estava fazendo a Dutra em partes, assim. Foi em 48 que eles começaram, hem.
P/1- Começaram.
R- 48. Eu lembro bem disso aí. Quando veio a Presidente Dutra foi uma beleza, né? Era uma pista só, depois fizeram a outra pista.
P/1- Aí aumentou a coisa de acidente aí, ou ainda não?
R- Aí vai aumentando, à medida da proporção que vai aumentando os carros, vai aumentando acidente.
P/1- E também vinha pra você resolver os problemas.
R- Ah, sim. Ah, sim. Eu tinha muita clientela, porque como eu estava ali perto do Centro Técnico Aeroespacial, CTA.
P/1- Sei.
R- Sabe, tinha bastante pessoal do Rio, tudo. Recebia muitos carros do pessoal do Rio de Janeiro. CTA é uma maravilha.
P/1- Pessoal do CTA.
R- CTA é uma maravilha
P/1- É? Foi o CTA que deu impulso pra cidade.
R- É. CTA é uma maravilha. CTA, maravilha. Quem que não deve obrigação pro CTA?
P/1- E, também, qual era o carro mais difícil de arrumar? Tinha um que era mais difícil?
R- Ah, tinha o DKV que judiava da gente. (riso) Ah, DKV judiava da gente.
P/1- Por quê?
R- DKV judiava da gente. As portas abria ao contrário, o pára-brisa era ruim de encaixar. Como judiava da gente.
P/1- Era o pior, então?
R-Era.
P/1- Você falou de Taurus, que você estava falando, Ford.
R- É, _______________ carro importado, ainda. Depois começaram a fazer já o nacional, DKV era nosso.
P/1- Já era nosso.
R- Carro nosso. Aqueles carros... Isso me lembra, era na agência Ford, (Henrique Murá?). Veio uma cantora famosa, pra fazer inauguração da venda de carros, Dalva de Oliveira. Veio a Dalva de Oliveira. Veio fazer um show lá. Beleza.
P/1- Veio pra isso?
R- É. Veio pra isso. A primeira televisão de São José do Campos foi (Henrique Murá?) que pôs ali na praça, ali na Rua Quinze. Onde hoje é o estacionamento do Diamante. Primeira televisão foi o (Henrique Murá?) que trouxe ali. Depois o (Aladir?) Mercadante também tinha ali, na Praça Afonso Pena. Televisão todo mundo assistia, né?
P/1- Sei.
R- Primeira televisão que chegava aqui. (Agora?) todo mundo tem televisão, né?
P/1- Vamos voltar um pouquinho nessa sua juventude, porque a sua infância você passou em São João da Boa Vista.
R- Não, não. Isso eu era menino. Meu pai ___________com três meses, moça. São João eu conheço ____________
P/1- Exagerei. Mas a sua juventude foi aqui em São José.
R- Ralei pra mais de metro aqui em São José.
P/1- É mesmo? Conta pra gente como é que era.
R- É, pois é, vou te contar
P/1- Como é que eram as paqueras aqui, hem, Toninho?
R- Nunca tive tempo pra isso. Porque o meu pai veio da roça, meu pai perdeu tudo. Meu pai tinha coração grande, emprestou pra outro, perdeu tudo. Nós não tínhamos onde morar, não tínhamos trabalho. Meu pai tinha que ir no mercado, _____________muito pouco, tinha que trabalhar. Eu era praticamente o que mais me mexia em casa.
P/1- Você tinha irmão, também?
R- Eu tenho mais 5 irmãos, 3 irmãs e mais 2 irmãos.
P/1- Nessa época só você trabalhava?
R- Ah, coitados, meus irmãos eram mais...
P/1- Eram menores?
R- Não, tinha um mais, mais, ________________ trabalhava, mas não tanto, o que trabalhava mesmo era eu.
P/1- Você não tinha tempo pra se divertir.
R- Não, não. Aquele tempo você trabalhava. Diversão não se quer. E na Rua Quinze andar de cima em baixo. Lembra? Rua Quinze, tinha um passeio na Rua Quinze de Novembro, que vinha até na esquina do Banco Bradesco, _________ na esquina do Largo da Matriz. Esse era o passei na cidade, nada mais.
P/1- Final de semana, baile você não ia?
R- Não. Não tinha antigamente isso aqui, muito difícil. Agora, sim, agora tem forró aqui, forró ali. Não era assim. E nós, também, não tínhamos tanto poder aquisitivo, também.
P/1- E o comércio, assim, como que ele era o comércio de São José, quando você era rapaz, tinha tudo o que você precisava comprar, tinha aqui?
R- Não, você pra compra um jogo de, (uma boxia?) tinha que ir na Florêncio de Abreu, em São Paulo Tudo que você precisava tinha que ir pra São Paulo comprar. Depois, aí, com o tempo, foram vindo pra cá. Agora...
P/1- E você ia lá, em São Paulo, comprar?
R- Ia, ia de carona, ia de carona, ia de carona com os amigos caminhoneiros, que eu consertava muitos caminhões, eu ia com eles, me levavam. Comprar tudo em São Paulo, tu, tudo, tudo. Até pouco tempo atrás, eu me lembro, que os meus filhos ficavam na lojinha pequena, quando já tinha... Aí eu parei com a funilaria 69 e comecei com parte de venda de guarnições, né? Aí, eu lembro que meio-dia eu pegava a pick up, ia pra São Paulo, virava São Paulo de pernas pro ar, sete horas da noite eu estava na loja pros meus filhos estudar. Isso fiz muitos anos. Agora não, agora faço mais nada (riso), agora fico só de olho
P/1- Então, mas aí você ia pra São Paulo não só pra comprar ferramentas, mas e assim ___________?
R- Comprar mercadoria. Não São Paulo já tinha aqui já, tinha casas de confiança, Salomão Diamante. Tinha umas casas boas, tinha lojas boas aqui.
P/1- Então você ia a São Paulo comprar ferramentas.
R- Comprar ferramentas, comprar mercadorias, comprar máquina de furar, máquina de lixar. Isso tinha que ir lá. Isso tinha que ir lá.
P/1- Então o restante tinha aqui, coisa e tal. Você casou quando Toninho?
R- Eu casei no dia 29 de maio de 1954.
P/1- 54. Você estava já...
R- Tinha 21 anos.
P/1- É, você não tinha ainda sua, não já tinha sua funilaria?
R- Não, tinha nada, eu trabalhava na agência Ford da (Henrique Murá?), ainda, aí saí no dia 1o de maio e casei no dia 29. No dia 1o de maio eu montei uma oficina, aluguei um pedaço, ali pegado à Torrefação Aurora e comecei a trabalhar ali.
P/1- E como é que você montou sua casa, os móveis você comprou logo que casou?
R- Ah, sim, eu fui comprar meus móveis pra casar, fui comprar em Jacareí, tinha uma loja, como é que chamava? Tem os meninos, ainda estão por aí, o Plínio e o Arno, loja de móveis...
P/1- Mas foi em Jacareí?
R- Comprei lá, porque era mais fácil comprar lá. Comprei, deixei guardado 1 ano lá na...Antigamente você comprava assim e deixava guardado.
P/1- Era mais barato lá em Jacareí que aqui, não?
R- Não, talvez tinha mais escolha, mais fácil, né? E eles depois, eles montaram a loja aqui. Daí, eles vieram montar a loja aqui, mas antes só tinha lá. Eu comprei os móveis, ficaram 1 ano lá guardado, até que eu conseguisse, a gente ter uma casinha pra casar.
P/1- E seus filhos nasceram logo ou não?
R- Eu tenho um filho mais velho, que chama Antônio Cerridônio, que é o que toma conta quase de tudo, o Toninho nasceu no dia 3 de maio de 1955.
P/1- E aí você tem mais quantos filhos?
R- Tenho mais 4. A Ana Lúcia nasceu no dia 1o de maio. Aí, deve ser, porque é 3 anos mais nova que o Toninho, deve ser 58. Depois nasceu o Alexandre, que é outro dos filhos que eu tenho. Nasceu no dia de São José, o Alexandre. Depois tem outra que chama Helena Cristina, que trabalha na Prefeitura, que o meu genro é engenheiro da Embraer. E depois tem aquele um médico, que trabalha em São Sebastião, que aprendeu com nós a trabalhar, hoje também tem uma lojinha de vidro lá em São Sebastião, tudo meu genro, aprendeu com nós lá.
P/1- Então tá. Por quê você mudou de funilaria pra...
R- Porque ia morrer de tanto trabalhar com a funilaria, moça, eu tinha serviço demais, ia ficando louco. O meu amigo, o Sérgio Sobral de Oliveira me trazia tudo os carros de canal 2, pra mim fazer. E eu tinha bastante clientela aqui, né. Aí eu falei: “não, vou acabar ficando louco.” Porque, ele queria que fizesse. “Não você faz, faz, faz.” “Faço.” Ficava acumulando, acumulando trabalho. Chega, vou parar.
P/1- O que que é carros do canal 2.
R- Canal 2, TV Cultura
P/1- Ah, já tinha os carros...
R- Não, ué. TV Cultura, o Seu Sergio Sobral de Oliveira foi ser chefe lá, eu consertava os carros do canal 2, trazia tudo...
P/1- Ele foi prefeito depois?
R- É, ele foi prefeito. Mas era uma belezinha, uma gostosura.
P/1- Quais eram os carros da TV Cultura, você lembra? Era fusca...
R- Olha, tinha diversos carros, mas não lembro. Trabalhava ele, trabalhava Major (Garné?), Major (Garné?) e vivo ainda, está por aí.
P/1-Mas, aí já eram carros nacionais, né, Toninho?
R- Tudo nacional, tudo carro nacional já, lógico. O carro do Sérgio Sobral de Oliveira era um (Delfine?), o primeiro carro que ele vinha consertar comigo, depois foi melhorando, melhorando, melhorando. Sergio Sobral de Oliveira é uma maravilha que São José teve aqui.
P/1- E aí a cidade foi crescendo e aí...
R- Ah, claro. Sobral, Sobral é uma maravilha, Sobral deu um impulso fabuloso a isso aqui. Sergio Sobral de Oliveira, o que nós devemos de obrigação pra ele. Não teríamos a Embraer, não teríamos nada, nem o Inpe, que era aqui na ________, antigamente Tudo passado pelas mãos do Sergio Sobral. E teve mais gente, claro, teve gente que eu não estou muito a par, mas teve mais gente. O CTA é uma maravilha.
P/1- Então, me conta do CTA, me conta como foi a chegada do CTA
R- O CTA, eu acho que ele chegou, era COCTA. Inclusive ele chama-se COCTA. E a entrada da COCTA era ali pela curva que vai pra Caraguá, era ali, COCTA. Comissão não sei quê lá. Eu tenho um irmão que trabalhou 53 anos lá, um irmão que entrou menino, meu irmão mais velho. E saiu agora, faz 1 ano e pouco, do CTA. Então era COCTA e quem que não deve obrigação pro CTA, quem que não deve?
P/1- E aí, a chegada é que mudou a cidade, começou a desenvolver?
R- Lógico, claro.
P/1- Por quê, Toninho, que você acha?
R- Porque a nossa ______________ tem uma área topográfica muito linda, praticamente, é muito grande. E o CTA é um centro de estudos avançados. Veio tanta coisa pra cá através do CTA, gente, uma maravilha. Eu acho, que nós temos a Viação Carlos Santiago, nós temos, mínima coisa por causa do CTA. CTA primeiro________ Vieram tanta gente bacana de fora, tantos engenheiros, militares, gente da alta, gente que valorizou isso aqui, que deu impulso a São José dos Campos
P/1- E a chegada desse pessoal fez com que o comércio mudasse?
R- Aumentou, aumentou, aumentou e foi embora. Cresceu muito e até pras cidades vizinhas foi muito bom isso aqui.
P/1- Por quê? Eles começaram a comprar...
R- Não, porque foi crescendo, crescendo, crescendo, atraiu. Os empregos aumentaram, os empregos aqui. Conta pra ela. Depois já veio a general Motors, já veio a (Rodosai?), já veio uma porção de industria vieram pra cá.
P/1- Foi crescendo. Você então, você estava me contando, você parou com a funilaria que você estava trabalhando (Pausa – falha técnica) Do que que a gente estava falando, do comércio que aumentou, aumentou bem o comércio. Você falou que aí que começaram a vir as indústrias.
R- Ah, sim, aí foi aumentando as indústrias aqui.
P/1-Então, tá. Lembrei, você estava falando que ficou só com vidros e guarnições.
R- É. Parte de carroceria, carroceria, já não mexia mais com funilaria, aí.
P/1- Mecânica, você mexeu alguma coisa?
R-Não, não, não. Mecânica sempre tinha uns amigos ali que trabalhava com a gente, mas eu não.
P/1- O que que é vidro e carroceria, Toninho?
R- Vidro e carroceria.
P/1- Vidro que quebra.
R- Vidros, as borrachas (interrupção de som), tudo aquilo que faz parte de carroceria.
P/1- E você foi o primeiro a mexer com isso?
R- Ah, sim. Eu acho que eu fui o primeiro.
P/1- Porque até então era o pessoal...
R- Não, não mexia. Eu praticamente, graças à freguesia, a freguesia vai te empurrando pra um lugar bom. A freguesia boa vai te empurrando. Quando você trabalha correto, o freguês vem e vai te dando aquela força, você vai acreditando. Eu tinha um amigão aqui, que chamava-se Seu Taira, que era chefe dos fiscais, falava: “Ruiz, não cresça Ruiz.” “Mas como que não vou crescer, tem que crescer, gente.” Que ele já sabia que, claro, quanto mais se cresce, mais problema você vai ter. Mas tem que ter problema e solucionar, né?
P/1- E tinha, então, muito vidro que quebrava?
R- Tinha que ter, ué. Tinha que ter. Graças a Deus, tinha que ter.
P/1- Por causa das pedras da estrada?
R- Não, porque o povo, a estrada (Tupã?), a bandidagem quebra pra roubar tocar toca-fita, né?
P/1- Ah, certo. Isso já é mais atual.
R- É. Antigamente não tinha muito isso aí, antigamente era mais... Eu me lembro que eu ia em São Paulo, comprar vidro de carona, com uma bolsinha. Ia na caso (Mano CVB?) na Rua do Gasômetro.
P/1- E como é, você trazia ou entregavam?
R-Não, era pouquinho. Antigamente era pouquinho serviço, não é como hoje, não. Tem que ir de caminhão, antigamente você ia fazer um carro, ia comprava, terminava, entregava. Fazia outro carro, ia, buscava. Ai, acabou, ____________
P/1- Você não tinha estoque, por exemplo, de vidro.
R- Não, não, não. Depois fui, à medida que fui, depois de 69, aí eu fui obrigado, a ir crescendo e fazendo. Hoje em dia tem já quase carro, quase vidro pra tudo quanto é carro. Você tem que ter agora.
P/1- Como é que você armazena isso, Toninho, tem que ter o maior cuidado, né?
R- Ah tem. Tem que ter gente só pra isso.
P/1- Só pra mexer com o estoque.
R- Tem pessoa só pra isso. Tem o estoquista, pessoa que controla, pessoa que dá entrada, saída. Tem uma pessoa que compra, uma pessoa que compra e vende, lá. Cada pessoa... Quando você cresce tem que ter uma pessoa pra cada seção, tomar conta daquilo lá. Ele é responsável por aquilo lá. Senão não tem jeito. Porque quando você é pequenininho, você vai, compra um vidro ou dois, vem, coloca. ______ quando cresceu. Agora, a gente, por exemplo, o sujeito quer um vidro desse aqui, telefona: “tem?” “Tem.”Carro importado, carro nacional, você tem que ter, gente. Você tem que ter estoque. É muito difícil aquele vidro que nós não temos, a maioria nós temos.
P/1- Tá. E teus clientes são, antigamente eram homens, claro, na maioria, né? Quase, mulher não tinha carro. E agora?
R- Agora é mulher, que tem mais mulher que homem, né?
P/1-É e as mulheres vão lá discutem preço...
R- Vão, vão. As mulher é uma beleza também, né? Uma beleza.
P/1- Elas entendem dos vidros, por exemplo?
R- Não. Não entendem, mas elas vão lá porque têm confiança, né? Que não são enganadas, né? E a gente tem que jogar limpo e jogar limpo sempre, né? Agora é mais mulher do que homem, porque tem mais mulher do que homem, né? Antigamente era mais homem, lógico.
P/1- Tinha mulheres que dirigiam aqui em São José dos Campos?
R- Ah, tinha.
P/1- Antigamente, assim uma coisa que chamava atenção?
R- Tinha pouca, mas tinha.
P/1- Tinha? E chamava atenção, quando uma mulher estava no volante?
R- Agora é normal uma mulher ser administradora de empresas, antigamente não.
P/1- E os teus funcionários, Toninho, eles têm treinamento? Você treina?
R- Quando sai uma novidade, por exemplo, quando nós precisávamos de treinar pra consertar... Nós consertamos espelho, bate, o espelho bate e quebra. Eles iam na fabrica, aprender lá, fazer estágio. Agora depois mudou, antigamente o pára-brisa era puxado com cordinha, sabe barbante, colocava _____________. Então, os primeiros vão na fábrica, aprendem, vêm e servem de professor pros outros que entram. A maioria dos funcionários nossos, a maioria, 99% aprendem com nós ali. E muitos aprenderam e estão trabalhando por aí. Inclusive muitos funileiros que já trabalharam comigo têm as oficinas deles por aí. Eles treinam lá e ficam bom de serviço. E a primeira coisa que eu exijo é dignidade, isso eu não abro mão. Eu não admito que engane o freguês de jeito nenhum. Porque se enganar o freguês está enganando a mim, está enganando a ele. Entendeu? O freguês em primeiro lugar, não enganar o freguês. E sempre jogar limpo com o freguês, porque é isso, isso e isso. Nada de querer forçar a venda. Não, isso não pode. Mas tem muita gente que força a venda por aí, quebra a cara. Porque o freguês descobre que está sendo enganado. Então, primeira coisa, o comerciante tem que ser honesto, correto.
P/1- Toninho, e com a Dutra, você falou muito do CTA, mas a Dutra também não chegou a modificar o comércio?
R- Ah, claro, a Dutra melhorou. Aí ficou um corredor entre São Paulo e Rio, melhorou bem. Claro.
P/1- E esse corredor foi...
R- Ah, maravilha.
P/1- E em relação às indústrias, por exemplo. As indústrias, até hoje, elas recebem bastante pessoas de outros lugares.
R- Ah, sim, sem dúvida.
P/1- Essas pessoas, elas, também vêm de carro ou vêm...
R- Ah, sim. Hoje em dia todo mundo tem carro.
P/1-Todo mundo vem de carro.
R- E não tem outra condução, porque se a distância for muito longe, tem que ter carro. E carro você tem que consertar porque sem carro você não faz nada
P/1- Você abriu uma segunda loja, né?
R- É sim, meus filhos, meus filhos que são maravilha, também que levaram meu nome pra frente. Que são bacanas também, graças a Deus. Então, nós abrimos mais uma, temos lojinha na Andrômeda e temos uma lá perto do Uemura, também. Porque agora meus netos, também, trabalhando com a gente, né? Graças a Deus, dei sorte, né? Meus filhos são bons, agora os netos também estão tocando. Quer dizer, que eu vou encaminhando eles, né?
P/1- Terceira geração no comércio, então?
R- A terceira precisa é bom, porque o homem tem que ter uma ocupação na vida, gente. Olha, moça, o que falta nesse país, ainda, são escola. A minha loja é uma escola. Ensinei muitos funileiros, muitos vidraceiros, meninos que chegaram doentes ali, que eu tenho, que eu curei, que tratei, que ensinei, estão vivendo. O que falta nesse país são escolas. Se tivesse mais escolas, as cadeias não estavam repletas de homens, meninos na Febem, não estava. Que se esses meninos tivessem aprendido, o caminho, tem que ensinar o caminho bom. Agora não tem o que fazer, vai soltar papagaio, vai isso, vai aquilo, vai roubar. Faltam escolas aqui ainda, e muita escola. Não é quatro paredes que eu digo não. É uma escola onde ele aprenda tudo, é carpintaria, é... carpintaria, mecânica, pra fazer tudo, tudo, tudo. Que ele possa sair de lá um homem já formado pra enfrentar a vida, né?
P/1- Toninho, e onde a sua esposa comprava as coisas pra casa, aqui em São José ou em São Paulo?
R- Ah, não. Aqui tem de tudo, graças a Deus
P/1- Sempre comprou tudo aqui?
R- Nos comecinho a gente ia comprar roupa ali na José Paulino, isso aí, mas há muitos anos. Agora tem tudo aqui. São José tem tudo, uma maravilha, né?
P/1- Brinquedos pras crianças
R- Aqui é tudo, né?
P/1- Tudo aqui?
R- Ah sim.
P/1- E você gosta de fazer compras?
R- Ah gosto, ah gosto.
P/1- De entrar em uma loja e comprar...
R- Eu não gosto muito de ir em shopping, eu gosto mais de ir em feira.
P/1- É mesmo? Por quê você não gosta de ir em shopping?
R- Eu gosto mais. Eu me identifico muito com esse pessoal, assim,... trabalhador. E shopping eu não sou muito chegado, que tem que andar bastante, e correr, correr, correr.
P/1- Onde você compra hoje? Por exemplo, se você quiser comprar uma camisa, onde você vai?
R- Ah, tem que ir no shopping mesmo.
P/1- Aí tem que ir no shopping.
R- Aí tem que ir no shopping. Camisa dessa assim eu não preciso comprar, que eu tenho tantas, meus filhos me deram tantas camisas. (riso)
P/1- Mas, sei lá, ali no Centro, o que que você vai comprar se você tiver vontade?
R- Ah, no Centro, no Centro praticamente agora não, que tem shopping. A patroa vai no shopping, compra pra mim, ou senão compra pra ela. Agora no centro você não compra, quase, mais nada. O que você compra, que você pode comprar é televisão, uma coisa ou outra. Mas, praticamente, roupa você vai em shopping. Que você tem diversas opções pra procurar e olhar.
P/1- Então, você não se importa de fazer compras, você gosta de andar...
R- Ah gosto, ah gosto.
P/1- Aí, você falou que gosta da feira, feira o que? De verdura, de fruta?
R- Então, vai na feira, para você ver como é gostoso. Vai pro você ver como é delicioso.
P/1- Lá você faz essas compras, pra sua casa?
R- Amanhã mesmo é dia que eu vou fazer feira aqui, perto de vocês. Sábado eu vou fazer lá... É uma delícia!
P/1- Comprar frutas...
R- Coisa que eu me vejo com esse povo trabalhador, é muito gostoso, né?
P/1- Que que você faz hoje, assim, nas suas horas de lazer?
R- Ah, eu gosto de plantar pêssego, de colher pêssegos.
P/1- Você tem plantação de pêssegos?
R- Tenho, tenho. Eu adoro fazer isso aí.
P/1- Ai que bacana.
R- Adoro porque é muito gostoso. É uma terapia gostosa, né? Quando eu não estou lá na minha loja, olhando, eu vou lá, trabalhar um pouquinho na minha chácara.
P/1- Quando você estava ainda começando a sua vida, que seus filhos eram pequenos, vocês faziam passeios pro litoral, por exemplo?
R- Fazia.
P/1- Como é que vocês iam pra lá?
R- De Kombi.
P/1- De Kombi?
R- Eu tinha Kombi.
P/1- Você tinha uma Kombi?
R- Tinha, tinha. Todos os filhos iam, iam os 3 filhas e os filhos comigo. Nós íamos pra praia, voltava tal. Eu tinha aquilo, cheguei a ter casa na praia, né? Cheguei a ter casa na praia, depois.
P/1- E você ia por que es... que praia que é que você ia mais?
R- Antigamente, ia na prainha, né, na prainha, né?
P/1- Prainha é em Caraguá, não?
R- É Caraguatatuba. Antigamente era Caraguá, só.
P/1- Tá. E você ia aqui, pela...
R- É.
P/1- E como é que era a estrada naquela época?
R- Antigamente era horrível, era de terra, né? Cheia de curvas, só poeira,quando subia na...
P/1- Você descia de Kombi, subia de Kombi?
R- Ah é. Kombi, Fusca, né? Mais de Kombi.
P/1- Aí tinha poeira...
R- Ah, sim.
P/1- Quebrava muito o carro, não?
R- Ah, sim. As estradas eram horrível, desgasta mais.
P/1- Então, está bom. Bom você falou seus netos então estão trabalhando com você.
R- Ah já.
P/1- Quantos netos você tem que estão trabalhando com você?
R- Eu tenho dois trabalhando comigo, mas eu tenho 11 netos.
P/1- 11 netos?
R- Tenho 11 netos.
P/1- Nossa. É bastante.
R- Eu sou muito rico.
P/1- É mesmo. Com certeza. Eles estão todos aqui, em São José, seus filhos, seus netos?
R- Não, tem um que mora em São Sebastião.
P/1- Ah tá.
R- Que o pai dele trabalha, no mesmo ramo que eu trabalho, né? Aprendeu com nós ali na loja. Trabalha lá.
P/1- Eles vêm sempre pra cá?
R- Ah, vêm.
P/1- Hoje eles vêm de carro?
R- Eles têm a condução deles. A minha filha é biomédica e ele, os dois trabalham na loja, trabalham de dia na loja e dão aula de noite, os dois. Então, não é mole, não.
P/1- E, Toninho, nesse seu tempo de comércio, que lição você pode dizer que você tirou?
R- Eu acho que você nunca pode abrir mão de ser correto. Isso em primeiro lugar, você não pode abrir mão. Aí você, já, você encontra muita dificuldade, mas você vai ter a recompensa na frente. Não tenha dúvida. Agora, aquele que não é honesto, coitado, ele vai quebrar a cara.
P/1- Então essa é a maior lição? Você diria pros seus netos...
R- Pra todo mundo, pra todo mundo. Pros meus funcionários, eu chego: “filho, você, o que é do freguês é do freguês, o que é nosso é o nosso.” Sempre assim, primeira coisa é ser honesto com todo mundo. Mas com todo mundo, não é só com o freguês. Com os empregados, com o governo, com o Fisco,com o fornecedor. Eu nunca me lembro de ter dado um cheque sem fundo pra alguém. E nunca me lembro de ter pagado título no cartório, eu brigo pra pagar conta que extravia o documento. Isso é muito bom, porque você não vai ter problema mais tarde, você tem problema agora, que é apertado, aquilo, mas você não tem problema depois, não. Que nem a pessoa que mente, né? Pessoa que mente... Se você não mentir nunca, você não precisa lembrar o que você falou. Agora se você mentiu, você vai ter que inventar uma porção de mentira depois, pra poder...
P/1- Toninho, o que você achou de dra entrevista pra gente nesse projeto?
R- Barato, gostei.
P/1- Foi bacana?
R- Bacana, gostei.
P/1- Então, está bom. A gente queria agradecer a tua participação.
R- Sem problemas.
P/1- De ter disponível esse tempo pra gente.
R- Precisando, foi bom.
P/1- Então, está bom, Toninho, muito obrigada
R- De nada.