Infância. Migração de Bananal para Lorena. Exército. Trabalho com explosivos. Caixeiro Viajante. Descrição de Lorena. Perspectivas da cidade para o futuro. Mercearia. Comércio de brinquedos. Atividades no Sindicato do Comércio Varejista e na Associação Comercial. Relacionamento com o SESC.
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Nilson Ramos Almada, nasci na cidade de Bananal, estado de São Paulo, ao dia 12 de março de 1948.
FAMÍLIA
Meus pais: Nilton Coelho Almada e, minha mãe, Geralda Ramos Almada. Meu pai era funcionário público dos Correios e Telégrafos. Trabalhava em Bananal. Minha mãe era dona de casa. Meus avós trabalhavam com fazenda, eram fazendeiros na época. Em Bananal, mesmo. O que eu tenho notícia é que eles são brasileiros mesmo, mas de descendência espanhola, algum português - é uma mistura. E minha mãe mais brasileira mesmo, nascida aqui mesmo, alguns traços de índio. Somos quatro irmãos, dois casais. Nascido em Bananal só eu, o mais velho; depois a minha irmã e o terceiro nasceram em Taubaté; e a mais nova nasceu em Lorena. Meu pai pediu a transferência do Correio e veio trabalhar em Taubaté, onde nós ficamos um ano e um pouquinho talvez. Aí meu pai pediu novamente uma transferência para Lorena.
INFÂNCIA
Eu acredito que saí de Bananal com quatro pra cinco anos, e quando nós mudamos daqui eu fui fazer seis anos em Lorena, já. De Bananal eu tenho um pouco de lembrança porque o meu pai tinha um sítio, e nesse sítio eu ia com o empregado buscar leite numa charrete. Então eu tenho uma certa lembrança dessa época. O que me marcou muito em Taubaté é que meu tio tinha uma fábrica de doces, e isso marca muito, aqueles tachos enormes com doce de abóbora, doce de banana. E tinha um cachorrinho que chamava Coimbra, em homenagem àquela música da época. Então são coisas que apesar da pouca idade me marcaram muito.
MIGRAÇÃO
Mudamos pra Lorena. Nós chegamos em Lorena e foi uma coisa diferente pra nós, porque nós não tínhamos casa logo que nós chegamos lá. Então ficamos alguns dias numa casa muito ruim, até meu pai conseguir uma outra casa melhor. Era num bairro retirado. Ficamos algum tempo e depois viemos pro centro. Quando nós viemos para o centro, o meu pai resolveu montar uma bicicletaria. Ele trouxe de Bananal um tio pra trabalhar com a gente, e daí praticamente começou a minha vida no comércio. Eu tinha sete anos. Eu já ajudava. Eu não agüentava virar uma bicicleta pra poder consertar, e alguém virava para mim. Eu já lixava uma câmara de ar, e começou ali. Lorena, a bicicleta lá... Talvez seja uma das cidades que mais tem bicicleta per capita no Brasil, por ter uma topografia plana. No trânsito, lá se respeita a bicicleta, e não o automóvel.
EDUCAÇÃO
Eu comecei no Grupo Gabriel Prestes, que era perto da minha casa, depois passei pro ginásio, pra Escola Irmã Zoraide, a Escola Patrocínio São José, aí passei para o ginásio do estado. A escola era normal, como qualquer outra na época - pelo menos o que eu passei, nunca tive nenhum problema. Não era o primeiro aluno da sala, mas estava ali no meio, mais ou menos.
INFÂNCIA
Nós brincávamos... Eu adoro jogar futebol; acho que jogo futebol desde quando aprendi a andar. Então eu jogava futebol e à noite era brinquedo na rua, de mãe da rua, de polícia-e-ladrão, como toda criança dessa época. Eu estudava de manhã e trabalhava à tarde. Depois ainda tinha aquela admissão que fazia à noite, então era muito corrido, porque meu pai era muito exigente nessa parte de trabalhar. Em casa era tudo normal, dava as fugidas pra jogar futebol, como todo garoto.
JUVENTUDE
Nós íamos nadar - tinha o rio - , nadar, jogar futebol, às vezes pescar - ia muito pescar com o meu pai, com meu tio - , e as brincadeiras normais. Passava o tempo assim. Isso já com uns catorze, quinze anos. Freqüentava bailes... As festinhas, naquela época, eram muito tradicionais as festinhas nas casas, e nós não éramos assim, bom de dinheiro, então o clube que freqüentava, era praticamente as brincadeiras que nós fazíamos. Na época existia um ou dois clubes, mais para adultos, não é como hoje. O clube principal da cidade a gente já tinha dificuldade pra ser sócio, mas era legal.
TRANSPORTE
Às vezes queria comprar alguma coisa diferente, tinha que vir a São Paulo. Ia de ônibus, viação Cometa. Ainda, naquela época, vinha com o meu pai. Às vezes era comprar um presente ou comprar um sapato: meu pai vinha a São Paulo. Ia pela estrada velha, a Dutra antiga ainda, que era uma pista só. São Paulo me marcou muito - porque eu tinha um tio e nós ficávamos na casa dele - , então, eu lembro que era caminho da Penha, avenida Celso Garcia, então ia comprar numa loja muito grande na Celso Garcia, onde meu pai, até na época, comprou um gravador. Meu pai sempre adorou música, sabe, então aquilo me marcou muito. Era um gravador italiano, eu lembro até o nome, Gelozo - na época, aquilo pra nós era uma febre, porque poucos tinham um gravador, ainda mais importado. Então aquilo me marcou muito. E o tempo que às vezes eu passava um pouco das férias lá na casa da minha tia.
JUVENTUDE
A gente ia no rio, não é o Rio Paraíba, não, era um rio mais distante, um riozinho pequeno que toda garotada da época ia. E freqüentava muito o oratório, participava muito do oratório, oratório lá do Salseiro. Todo dia à tarde ia pro oratório, e lá ia rezar, ia brincar, ia fazer tudo. Participava, depois das sete horas eu ia embora pra casa. A maior parte dos nossos amigos era lá do oratório, você convivia praticamente todos os dias. Ali você aprendia religião, e a gente aproveitava pra se divertir. Com dezoito anos servi na Escola Especialista de Aeronáutica de Guaratinguetá. Era uma escola grande, até hoje, uma escola grande onde se formam, praticamente, acho que quase mil alunos por ano. É uma escola muito boa, muito bem organizada, e eu servi... Quatro meses depois, do chamado recrutamento, eu passei a soldado de primeira classe, então já tinha o meu vencimento - era um vencimento maior do que o funcionário comum, eu trabalhava lá dentro, com o material bélico, trabalhava com arma, limpeza, conservação, com armamento, e ali fiquei até dar baixa. Fiquei um ano só, não quis ficar, até recebi proposta do capitão da época - ficou muito amigo - mas eu não quis ficar. Em Lorena, antigamente era o 5º RI, 5º Regimento de Infantaria. Só que a Aeronáutica era considerada mais elite, e dava aquela esperança: “Vou ser sargento da Aeronáutica”. Naquela época, como era pertinho, e tal: “Eu vou servir Aeronáutica”. E o soldado da Aeronáutica era um soldado que tinha mais alguns privilégios do que o soldado do Exército, e aí eu fiquei durante um ano, um ano e pouquinho, só.
TRABALHO
Mexia com armamento. Praticamente foi por ter uma experiência que eu fui admitido nessa fábrica de explosivos, mais tarde. Essa fábrica era em Lorena, a Val Paraíba de Lorena. Era uma divisão da Mantiqueira, que chamava, da fábrica maior. Eles fabricavam esses tipos de foguetes, foguetes pequenos, que colocavam em bazuca, uns foguetes lançados de avião, mas pequenos. Então eu trabalhava com aqueles tubos: tinha que lixar, tinha que colocar numa solução pra tirar ferrugem, tal. Mas era um serviço meio pesado. Eu não cheguei a mexer com explosivo, mas se explodisse alguma coisa era óbvio que afetaria todo mundo dentro da fábrica. A cidade tinha receio da fábrica, tinha. Morreram muitas... Perdi até um amigo, na época, acho que com vinte anos, mais ou menos. Esse já mexia na fábrica de Piquete, que também era perto, mexia com explosivos. Lá sim fazia pólvora, fazia nitro.
VALE DO PARAÍBA
Em Piquete era uma fábrica do Exército e em Lorena era fábrica particular. Usava muito explosivo pra pedreira, pra essas coisas, e tinha esses foguetes também que era nessa divisão da Mantiqueira. Fornecia pro Exército. Convivi com pessoas de todos os lugares do Brasil, tinha gente do Brasil todo. E os soldados, que éramos nós, tinha gente de Lorena, de Aparecida, de Guará, de todo o Vale aqui. Eu não ficava muito em Guará. O tempo que tinha, eu já vinha direto pra Lorena. Às vezes ia, como todo jovem, passear em Guaratinguetá, mas vivia mais em Lorena. Tinha o ciúme do pessoal de Lorena que vinha namorar as meninas de Guará e vice-versa. É, isso tinha. Naquela época, para você ir num bairro à noite, você tinha que ser bem conhecido, senão saía correndo. Mas isso não com o pessoal da Aeronáutica, não, da Aeronáutica era respeitado. Vinha soldado do Brasil inteiro, quer dizer, vinha aluno pra fazer curso aqui do Brasil inteiro. Tanto que Guará, hoje, é uma mistura: tem aqueles que ficavam, faziam o curso, se formavam, se espalhavam pelo Brasil todo, e muitos ficavam em Guaratinguetá. Tinha paquera na praça em Guará, e tinha também em Lorena, lógico. Em Lorena, a praça principal - talvez uma das mais bonitas aqui do Vale do Paraíba - tinha um aspecto interessante: a praça é redonda, então se dava volta na praça, os homens andavam de um lado e as mulheres do outro, se encontravam e arrumava as paqueras. Você só ia ver a paquera na outra volta. Isso ficou muitos e muitos anos. Dividia também a classe social: aqueles com menos poder aquisitivo ficavam mais pra fora, do lado de fora da praça; aqueles classe média, ficavam dentro da praça rodando; e a elite, tinha o pontinho que ficava meio separado, meio retirado do pessoal. Era bem interessante, bem divertido.
CIDADES
Lorena Lorena tinha a tradição da festa de 15 de Agosto, tem até hoje. Naquele tempo, as moças esperavam o ano inteiro pra festa do 15 de Agosto. É a festa da padroeira da cidade, padroeira Nossa Senhora da Piedade. Então é tradição, tinha a corrida de bicicletas - a festa durava uma semana, até hoje ainda dura uma semana. Já chegou até a durar mais do que uma semana, mas agora já soube que vão voltar pra uma semana. É muito difícil, hoje em dia. Então as moças se arrumavam... e muito bem, tinha que ter vestido pra semana inteira. Bailes maravilhosos, isso já pra classe..., já mais elite, a classe do Comercial, que era justamente o Clube Comercial de Lorena, fundado por comerciantes de Lorena - se uniram pra formar o Clube Comercial de Lorena. Essa mudança de comércio em Lorena tem mais ou menos uns seis, sete anos que começou. Quando chegaram em Lorena essas lojas de departamentos, Pernambucanas..., então começou a ter em Lorena tudo o que se procurava fora, se encontrava em Lorena. Então o comércio hoje de Lorena é muito forte. Por ter poucas indústrias, o comércio hoje representa 70% dos empregos na cidade. O comércio de Lorena é um comércio bem forte.
COMÉRCIO
Quando eu saí da fábrica de explosivos, eu começo entrar, praticamente, no comércio, a ser proprietário. Meu pai tinha um ponto comercial, que antes era da bicicletaria. Dividiu o salão no meio e eu coloquei uma quitanda e meu tio uma bicicletaria. Com o tempo, o meu tio mudou, eu fui ampliando a quitanda, fiz uma mercearia, da mercearia... Naquele tempo se usava muito óleo comestível a granel, então você ia com a garrafa e enchia a garrafa de óleo comestível. Tinha do lado uma casa de óleo, de óleo a granel - tambores - e ovos, aí eu comprei a casa dele e passei pra minha mercearia. Depois comprei uma Kombi, passei a ir buscar o óleo, e fiquei um bom tempo com a mercearia. Isso foi mais ou menos em 70, por aí. Em 60, eu dei baixa, logo que eu dei baixa da Aeronáutica... Foi 68. Eu fiquei, mais ou menos em 69... Acho que 74, mais ou menos, 73 a 74.
CIDADES
Lorena Nessa época não tinha supermercados, era só armazém, só tinha armazém nessa época, eram poucos, quer dizer. Relativamente, hoje não existe mais, o supermercado já dominou. No centro da cidade em Lorena, pra você [ver] nós temos um armazém daquele modelo antigo - não tem mais armazém no centro da cidade, nos bairros ainda tem alguma coisa, mercearia e tal, mas armazém, como chamávamos antigamente, não tem. Nos anos 70, então as compras ainda eram feitas... Era feito no balcão, com listinha, que você ia na lista. O primeiro supermercado em Lorena deve ter surgido em 75, 76, e ficou durante um bom tempo. O supermercado - que, até por sinal, um dos filhos dele ainda toca o supermercado em Lorena - era na praça principal, e ali começou o primeiro supermercado. Mas o forte lá era o armazém, mesmo com o supermercado, o forte ainda era o armazém, porque os mercados não tinham tradição. Havia até aquele medo de entrar no supermercado, era tudo aberto se pegava as coisas..., então tinha aquele receio de alguém estar pegando aquela coisa... Esse armazém, que era o mais forte de Lorena, transformou em supermercado justamente na época que eu comecei a trabalhar como vendedor.
COMÉRCIO
Fechei a mercearia. Fechei, passou um tempo, eu fechei a mercearia. E fechei porque enjoei daquilo. Na época não foi por motivo nenhum. Fechei a porta, graças a Deus, não tinha nada pra... Aí fui trabalhar como vendedor, aí entrei na Piraquê. Os produtos da mercearia, comprava, a parte de frutas e verduras, eu vinha comprar a maior parte em Guaratinguetá, que tinha um mercado muito bom, um atacado muito bom na região do Piaguí, aqui em Guaratinguetá. Então se encontrava ali, às terças e sextas. Eu ia de carona e trazia aquela mercadoria pra mercearia. E a parte de lataria comprava por lá mesmo, de vendedor. Geralmente, eles eram da cidade mesmo. Perto do Vale eles tinham representação. Um vendia macarrão, outro a parte de lataria, outro a parte de farinha, essas coisas. Isso já era 73, mais ou menos, 74, e as entregas vinham de caminhão, pela Dutra. Eu vendia também com caderneta. Lorena, na época, tinha grandes fazendeiros. Produzia-se muito arroz em Lorena, por ser topografia plana, muitos alagados. Então Lorena era tradicional em arroz, muito mesmo - plantação boa de arroz em Lorena. Tinha clientes da área rural, fregueses que vinham comprar na mercearia. Não entregava em casa, naquela época, não tinha ainda esse tipo de... Naquele tempo ainda se usava aquela - eu acho até interessante, acho até que merece frisar isso - a pessoa vinha com uma lista, tinha um vendedor pra atendê-lo e essa pessoa ditava um produto de cada vez: “Eu quero duas latas de extrato de tomate”, ele ia lá na prateleira, pegava duas latas de extrato de tomate e trazia. “Agora quero um quilo de sal”, ele ia lá. E se não fizesse aquilo, aquele freguês, aquele cliente ia embora, não gostava mais, ele queria aquilo que estava ali. Tinha que ser devagar. Tinha que ser de produto... Chegava lá: “Oh, vou deixar a listinha lá e depois venho buscar a compra”. Isso passou bem depois, mas antigamente era assim, era produto por produto que era colocado, aí tinha alguns garotos que entregavam, eu mesmo trabalhei entregando compra naqueles carrinhos de madeira. Marcava na caderneta só para o pessoal da vizinhança, era uma mercearia pequena, não tinha jeito de concorrer com os armazéns, então mais era frutas e verduras. Tinha muito armazém então em Lorena, nessa época tinha. A tradição daquela época era ter armazém, naquela época não se falava em supermercado, só veio bem depois. Só ali perto de casa... Praticamente, tudo se direcionava ao centro. Não é como hoje, que você chega no bairro, tem um, dois, três supermercados. Mesmo sendo uma cidade pequena, tem. Antigamente, todo mundo se direcionava para o centro da cidade. O mercado, o antigo Mercadão, que chamava lá em Lorena... E feira que tinha... Chegava sábado, vinha pra cidade: vinha gente da roça, vinha todo mundo. Então naquele tempo era armazém.
VALE DO PARAÍBA
São José é pioneira, aqui no Vale do Paraíba, São José é pioneira em tudo. O shopping começou primeiro em São José. E até o shopping é interessante: o shopping não é mais pra consumir, o shopping é pra passear. Então ainda é batalha nossa no sindicato segurar os nossos consumidores na cidade. E hoje está ajudando muito o custo de sair de Lorena pra se dirigir a São José, as pessoas estão pensando bem. Mas se tornou mais um lazer, ir ao shopping, hoje, principalmente aqui na cidade de Lorena, e acredito que em Guaratinguetá. Taubaté não, já tem o seu shopping.
CIDADES
Lorena O comércio já tinha melhorado bem. Surgiram aquelas casas de retalhos, de panos, já começou móveis - que na época não tinha. Já se comprava muita coisa em Lorena naquela época - material de construção. A cidade estava se expandindo. Era ainda um comércio fraco. Como Lorena sempre teve poucas indústrias... - agora que está deslanchando - , mas Lorena até hoje ainda tem tradição em calçados, pra você comprar calçados e material de construção. Lorena é muito bom pra se comprar calçado porque tem muita butique, e fora outros pólos que estão surgindo em Lorena, mais na parte industrial.
TRABALHO
Fui vender biscoitos de massa da Piraquê. Minha praça era Lorena, Cachoeira e Piquete. Era pouco, mas para o vendedor era suficiente. Você não tinha um campo grande, então o que você fazia? Você, de vez em quando, até juntava: “Você quer duas caixas de biscoito, você quer três?”, então fazia um pedido. E dava pra trabalhar, não posso reclamar do tempo que eu fiquei na Piraquê. Ia a Piquete, por exemplo, às vezes quase duas vezes por semana.
VALE DO PARAÍBA
Piquete vivia em função da fábrica Presidente Vargas. Só tinha uma indústria, e o Exército que tomava conta da fábrica, da segurança da fábrica, porque se tratava de uma fábrica de explosivos, então o Exército ficava ali tomando conta. Piquete era aquela vidinha pacata, dentro daquilo ali, os funcionários trabalhavam, de casa pro trabalho e... Todo mundo trabalhava na fábrica. Tinha a zona militar e dali pra frente era o Exército que determinava o que deveria ser feito, horário. Tudo que fosse naquela parte do Exército ali, ele que administrava tudo. Para trabalhar lá não precisava ser militar. Pelo contrário, militar só tomava conta da segurança e da chefia.
TRANSPORTE
E outra coisa, eu acredito que a metade, mais ou menos, dos funcionários da fábrica, morava em Lorena, tanto que tinha um trem que fazia o trajeto de Lorena a Piquete. Eu me lembro, porque meu pai fez durante sei lá quantos anos esse trajeto. Ele era condutor de malas - era o nome do cargo dele - , essa mala era chamada mala postal, então todo dia ele levava essa correspondência - que eram várias malas - , levava pra Piquete e ia no trenzinho. E eu fui, sei lá, milhares de vezes, junto com ele levar essas malas em Piquete. Esse trenzinho ia todo dia, uma vez por dia ele ia a Piquete e voltava. Ele saía daqui mais ou menos entre uma, uma e meia, e voltava às seis horas da tarde, seis, seis e pouquinho. Ah, se eu não me engano, demorava parece que era uma hora de Lorena a Piquete. Só fazia esse trajeto. O trem era da Central do Brasil. Na época não tinha nada vinculado ao Exército, apenas ele parava na estação dentro da fábrica. Ele parava primeiro na estação, no começo da cidade, depois parava na estação antes de entrar na zona militar, e depois ele ia até a fábrica buscar funcionário, e depois voltava.
CIDADES
Lorena O que movimentava o comércio de Lorena, na época eram justamente os funcionários da fábrica Presidente Vargas. Entrava aquele dinheiro todo, se comprava tudo em Lorena - até hoje Lorena recebe muita gente de Piquete, que o comércio de Piquete é bem fraquinho. O pessoal ganhava bem, pela época. Você via um Natal daqueles, a gente passear com bicicleta nas costas, com carrinho. Você ganhava bem na época. Esse pessoal trabalhava na fábrica de Piquete, que era chamada fábrica de Pólvora Sem Fumaça. Não sei por quê. Está escrito até hoje num arco que tem lá. A fábrica existe até hoje, só que com um pequeno número de funcionários. Usam tecnologia bem mais avançada, produzem outras coisas. Tem até hoje.
TRABALHO
Eu ia lá vender biscoitos Piraquê. Como a praça era pequena, eu tinha que vender em todo lugar. Em Lorena eu vendia até em farmácia - na época que era difícil alguém vender biscoito em farmácias - , vendia nas mercearias, bares, no armazém, lanchonete, tudo. Na época a gente procurava todo lugar. Praça pequena, você tinha que correr atrás. Cachoeira Paulista também era pequena. Maior que Piquete, mas pequena. Nessa época já tinha carro, quando trabalhava na Piraquê, já tinha carro próprio. Tanto em Piquete como isso, era em 70. Na Piraquê eu entrei em 75 - o meu filho nasceu, mais ou menos, em 75 - eu entrei na Piraquê e saí em 86, 87, por aí. Até entrei, já saí, depois me chamaram, depois de algum tempo fiquei mais uns dois anos pelo Rio de Janeiro, pela matriz do Rio, e foi todo esse tempo. Então eu fazia Cachoeira também, cheguei a fazer algumas vezes pra cobrir algum amigo, tudo, Guaratinguetá. Mas o forte era Lorena, mesmo.
VALE DO PARAÍBA
Tinha o biscoito de Jacareí, na época. Era um nome, Jacareí era um nome, só que Piraquê, na época, já tinha propaganda em televisão, muitos lembram até, acho que do Costinha, fazia uma propaganda da Piraquê na TV, até hoje ainda se fala nisso. Então a televisão... Na época, em Lorena pegava o sinal da TV do Rio de Janeiro, quer dizer, era um sucesso, então levava essa vantagem, esse de Jacareí, por ser também um bom biscoito, mas não tinha a publicidade que tinha o biscoito da Piraquê.
CIDADES
Lorena Tinha, a Notre Dame era muito famosa em Lorena, a Notre Dame, tinha também a... Notre Dame era de tecidos. Tinha a Cobianque, a loja de tecidos que se destacou muito bem em Lorena, de tecidos e roupas; tinha a loja de móveis, tinha a Carioca, Casa Carioca de Móveis - deixa eu ver se eu lembro bem de mais alguma assim, tem a... Essas lojas de tecidos vendiam tudo quanto era tipo de tecido. Só vendia tecido, a roupa feita já estava iniciando quase... Aí depois já vinha a Pernambucanas, essa ficou famosa... A Caltabiano, também vendia bem lá, essa Cobianque - são várias lojas. A loja do Salomão - que geralmente os libaneses mexiam bem com isso daí - , tinha a loja do Badih - a gente tratava mais assim por nome da pessoa, do dono, então você não tratava muito com o nome fantasia, que hoje a mídia faz com que você não vai colocar o nome do dono, você vai colocar o nome fantasia. Então naquela época, não: “Eu vou no armazém do seu Jorge Vieira”, ou: “Vou no armazém do seu Zé Vieira”, que era irmão, ou: “Vou no armazém do Povo”, esse já tinha um nome. E as lojas eram tratadas pelo nome do dono. Lorena, por ser muito pertinho de Minas Gerais, tem muito mineiro. É uma cidade... É um pessoal muito bom, são pessoas muito boas, você lidava. Justamente por ser mineiro, o pessoal, vem muita gente de Minas pra Lorena, então Lorena tem muito mineiro, pessoas calmas, pessoas boas de você lidar. Mas assim, do Norte, Nordeste não houve isso aí. E de fora, alguns libaneses, turcos - que antigamente não se sabe se eram libaneses, se era árabe, se era judeu: era turco, o lado turco, então era assim que era tratado antigamente. Veio pra Lorena, uma época, uma colônia de chineses pra plantar arroz, com nova tecnologia pra plantar arroz, mas ficaram alguns anos só, e depois foram embora. As ruas de comércio tradicionais continuam as mesmas: rua Principal, a Rua Duque de Caxias, que hoje é o calçadão, e era isso, na época, era bem centralizado. Fora os armazéns que eram nos bairros.
TRABALHO
Aí eu fui montar, a convite de um amigo, uma distribuidora de ferro, chapa, ferro pra serralheria. Fiquei com ele - uma pequena sociedade - fiquei com ele algum tempo. Aí, como a minha parte era muito pequena e estava difícil pra mim, acertamos tudo. É meu amigo até hoje, uma pessoa espetacular. Depois montei uma representação. Eu tinha um prédio com três cômodos comerciais e tinha vaga. Montei uma representação, comecei a trabalhar com seguro, com xerox, com copiadora, e fiquei um tempo. Aí surgiu uma vaga no Benjamim São Paulo. O Benjamim era muito famoso em São Paulo, um dos maiores atacadistas do Brasil, na época, e fui trabalhar lá. Lá eu fiquei um ano, trabalhando no Benjamim, com praticamente tudo aquilo que eu já trabalhava e mais alguma coisa: era papelaria, brinquedos, utilidades, plásticos, uma infinidade de produtos. Eu trabalhava de Taubaté até Cruzeiro. Viajava essas cidades todas, todos os dias. Taubaté se destacava mais entre elas, em relação ao comércio. Aí já era anos 90, quase... Pelo parque industrial - sempre teve muitas indústrias em Taubaté, então o poder aquisitivo... Logicamente, que você consuma mais. Taubaté sempre se destacou, e depois a minha melhor praça era Lorena, não pelo comércio, mas pela amizade, aquela amizade antiga. Eu tinha certos privilégios, e tinha um grande supermercado em Lorena - era o segundo da região, só perdia pra um supermercado de São José dos Campos - , justamente foi o primeiro supermercado que Lorena teve, então eu tinha essa facilidade de poder vender bem em Lorena. Porque depois de Taubaté, praticamente seria Guaratinguetá, mas Lorena... Nessa época, Pinda era bem pequena até, Pinda não se destacava como hoje se destaca. Pelo Benjamim, vendia de tudo. Eu tinha perto de 5 mil itens. Eu tinha que atender dois fregueses por dia, quer dizer, eu fazia muito mais, porque o tempo em cada supermercado era de três horas pra tirar um pedido, porque eu tinha o supermercado inteiro. Não tinha só carne, pão, essas coisas, mas tinha... O Benjamim era um atacado espetacular. Eram talões... E o duro é que você ficava em pé, em cima de um carrinho daqueles de compra, a pasta aberta e tudo. Pra você ter uma idéia, a lista de preços de produtos tinha duzentas folhas e tinha que ser trocada todos os dias, porque todo dia, naquela época de inflação alta, tinha remarcação. Saía de casa em torno de seis e meia, por aí, pegava o malote aqui em Taubaté - todos os dias - , e ali sentava no banco, e quando ia começar a trabalhar, já eram dez horas da manhã. Se você ligasse pra lá, às vezes, nesse horário, tinha mesmo alguma alteração. Passava o pedido via malote, no dia seguinte, no mesmo malote que eu recebia a mercadoria, no dia seguinte ele levava a mercadoria. Eu morava em Lorena e esse malote era de Taubaté, então todo dia eu tinha que vir em Taubaté. Fora as reuniões, que tinham quase uma vez por semana em São Paulo. Então era difícil. Atendi de Taubaté até Cruzeiro. Cruzeiro eu tinha poucos clientes porque não dava tempo, não tinha condição.
CIDADES
Lorena Lorena, infelizmente, ela teve, vamos dizer assim, uma parada no tempo. Uma certa fase de Lorena ficou, pelos seus governantes... Lorena não tinha um poder político, começou a desenvolver de cinco, seis anos pra cá, e mais ainda com o novo prefeito. Lorena ficou bem parada no tempo. Eu acredito que dentro de cinco anos Lorena terá um salto muito grande, porque não tem... São José já está saturada, aqui em Taubaté... Então Lorena é bem estratégica, Lorena está praticamente no centro do nosso país, pelo menos o centro industrial, financeiro, porque Lorena está o quê? Acho que cinqüenta quilômetros de Minas, a menos talvez de cinqüenta também da divisa do Rio de Janeiro e perto também aqui de Ubatuba, ao lado do mar. Quer dizer: Lorena é bem estratégica. Então, acredito que Lorena... Tem que vir as coisas pra Lorena; estão vindo e virão bem mais, ainda. A prefeitura está desenvolvendo um trabalho pra incubadora de indústrias, está trazendo muitas indústrias. Chegou aí a Yakult - tem muitas indústrias pra vir, ainda. Está construindo um pólo industrial. Tem áreas que são ocupáveis, uma topografia plana, água das melhores que tem na região - já foi testado, e tudo. Então, Lorena tem tudo pra crescer, falta sorte e política, mas política está tendo. Agora vamos aguardar. A cidade está oferecendo muitos incentivos, a prefeitura... Eu tenho, por ser presidente do sindicato, eu tenho muita participação junto com a prefeitura, com os secretários todos, então eu tenho muito conhecimento de tudo o que se passa na prefeitura. Me dou muito com o secretário de Indústria e Comércio. Tudo o que tem, ele passa pra mim, eu fico sabendo... Se pensa na infra-estrutura: a escola profissionalizante - o prefeito tem lá, acho que hoje, capacidade para mais de 1500 alunos, então está sendo feito um trabalho... O comércio ajuda, se prepara também. O comércio de Lorena é muito bom, você acha praticamente de tudo em Lorena. Lorena está se tornando também um pólo plástico: tem duas ou três fábricas grandes, fora as pequenas indústrias de plástico. Então Lorena se destaca muito pelo plástico.
COMÉRCIO
Sou um dos fundadores do sindicato, a convite de um amigo que já tinha um relacionamento. Propôs: “Vamos fundar um sindicato do comércio em Lorena”. Era a base de Guaratinguetá, nós conseguimos que Guaratinguetá cedesse, e fundamos o sindicato. Ele foi o primeiro presidente e eu era o tesoureiro. Continuamos trabalhando até... Aí ele ficou na administração durante seis anos e depois ele não quis mais: “Não, quero que você assuma”. Fui escolhido e estou perto de cinco anos no sindicato. Compramos uma sede, hoje o sindicato tem a sua sede própria, graças a Deus o sindicato se desenvolveu bem. Nós trouxemos a JUCESP pra Lorena, que é justamente a Junta Comercial [do Estado de São Paulo] que não tinha em Lorena, que tinha que se deslocar a São José ou a São Paulo pra abrir uma firma, quer dizer, isso facilitou muito o comércio de Lorena. A gente está fazendo um trabalho, trazendo também, em parceria com o prefeito, o Procon, pra Lorena. Já está tudo prontinho pra gente instalar o Procon em Lorena. Eu tenho uma parceria muito forte com o prefeito e uma parceria muito forte com o SESC e Senac. Nós fazemos um trabalho diferente lá. Nós temos também a parte de formação do funcionário, com o curso de qualificação, atendimento ao cliente, telemarketing. Fazemos a parte cultural junto com o SESC, eventos - trago muitos eventos pra Lorena também, através do SESC - , alguns cursos através do Senac e cursos feitos lá mesmo. Atendemos muita... Cursos de artesanato, curso de bijuteria, de sandálias, de fuxico, pra atender senhoras, principalmente senhoras de comerciantes, o que nos trouxe muitos resultados. No ano retrasado, colocamos mais de 1400 alunos fazendo curso dentro do sindicato. Esse ano está mais difícil, mas pelo menos mil e pouquinho nós temos dentro do sindicato. Tudo isso visando o comércio de Lorena, trabalhando pro comércio de Lorena. A nossa função é essa, de fortalecer o comércio de Lorena. A sede tem dois andares: o térreo e o primeiro andar. Tem um terreno, mais ou menos, de quatrocentos metros quadrados. Na parte de baixo tem o atendimento, a recepção, uma sala pra gerente, uma outra sala pra JUCESP [Junta Comercial do Estado de São Paulo], a parte toda de informática, a parte de contribuição, uma cozinha, e mais uma área boa, grande, mais uma sala pra curso, pra mais ou menos 45 pessoas, um quintal todo frutífero, bem plantado, cuidado muito bem pela minha gerente. Na parte de cima, tenho mais uma sala pra uns 25 alunos, a sala do presidente, a sala da diretoria. O SPC [Serviço de Proteção ao Crédito] pertence à Associação Comercial. Isso porque, na época, era o que se destacava mais. Em São José dos Campos, o SPC é do sindicato; já Taubaté, não; Pinda, também não; Guará, também não; Cruzeiro, não. Essa é mais ou menos a nossa regional aqui. São poucos os sindicatos que têm o SPC, depende muito da época, do destaque de cada entidade. Às vezes tinha cidade que não tinha sindicato, primeiro veio a Associação Comercial. É quase a mesma área de atuação. A parte da Associação Comercial é mais trabalho no SPC, na proteção ao crédito, e o sindicato é mais pra... vamos dizer assim, ele tem mais poder jurídico, ajuda na conciliação trabalhista, ele dá toda assistência ao patrão, na parte jurídica. Tem os acordos coletivos, os reajustes, os horários do comércio, então aí presta seus serviços, procura ajudar todo possível na parte do comércio, também qualificando os empregados e funcionários do comércio. Não tenha dúvida que a parceria com o SESC é importante. Só pra ter uma idéia: nós estamos numa campanha agora de Natal - o sindicato que está proporcionando essa campanha. Com o SESC consegui dois eventos pra praça principal da cidade: uma apresentação da cantora Cecília Militão - vamos levar na praça, à noite, na hora do comércio e aí vai atrair as pessoas ao centro da cidade... Nós atuamos muito na parte cultural com o SESC, então essa parceria: nós ajudamos o SESC, e o SESC nos ajuda - na organização, na divulgação, muito na parte cultural. Nós fizemos uma programação, o SESC nos trouxe um conjunto da Dinamarca, de ginastas da Dinamarca, e em Lorena tem também um muito bom que é o GRD, também de ginastas. Nós conseguimos colocar nesse clube lá de Lorena mais de 4 mil pessoas e tinha gente lá fora querendo entrar. Até artistas famosos como Chitãozinho e Xororó não conseguiu lotação total do clube. Nós conseguimos... Quer dizer: tudo isso você divulga o sindicato, você divulga o SESC e mostra pro comerciante que você está atuante. Tudo isso ajuda a desenvolver a cidade e vários eventos que nós já... O Dia do Desafio, nós conseguimos - não tinha em Lorena. Então através do SESC eu trouxe o Dia do Desafio, e o que fez? Movimentou a cidade inteirinha. Então tudo isso ajuda o sindicato e ajuda o comércio. Você movimenta a cidade, você traz as pessoas pra rua, pra consumir. E não se cobra nada, é tudo gratuito. Até se você, hoje, chegar no sindicato e quiser uma sala nossa, de curso lá, e quiser fazer curso pra teus funcionários, você vai chegar lá e é gratuito para os associados. Isso é normal. Nós temos lá cursos de calçados, que querem fazer palestras pros seus funcionários... Dar curso mesmo. Vamos supor, essas empresas de perfume e coisas: querem fazer uma divulgação. Isso é normal. O comerciário de Lorena tem oportunidades, porque tem a Associação Comercial que também faz cursos. Os sindicatos também, dos empregados e do comércio fazem, e fora aquelas outras empresas. Quer dizer: todo mundo trabalha na mesma direção. 70%, isso é estatística, 70% dos empregos em Lorena estão no comércio. O relacionamento é ótimo. Eu tenho lá o presidente do sindicato dos Empregados no Comércio: não é um inimigo, pelo contrário, um amigo, por sinal. O sindicato é na calçada da minha casa e do meu estabelecimento. Então nós nos reunimos pra bater papo na porta do meu estabelecimento. Eu acredito que não tem dois que se dão tão bem como nós. Tudo nós resolvemos, nunca tive problemas. O rapaz sério, um presidente sério e dedicado, entende os problemas da cidade. Nos damos muito bem.
TRABALHO
Depois do atacadista, do Benjamim... Foi muito bom, foi muito bom, graças a Deus eu me dei muito bem... Foi uma escola, o comércio é uma escola, o comércio é interessante: ou venda atrás do balcão ou na rua é a mesma coisa, o cliente é o mesmo, às vezes, com o nível diferente, mas o cliente é o mesmo, só que em todo lugar você tem cota a cumprir, então o comércio é sempre assim. É desgastante. Recebia prêmios, essas coisas. Às vezes vinha... Eu fazia o merchandising, eu fazia sim, não tem nem dúvida. Você mostrava, levava o biscoito... Naquela época - é interessante o seguinte - , eu aprendi muito com o supervisor, ele tinha - lógico, se eu fosse seguir eu não seria um vendedor, mas muita coisa eu aprendi com ele - , ele levava um pacotinho de biscoito, ainda chegava pra pessoa naqueles armazenzinhos, que às vezes andava até pedaço de terra, estrada de terra: “Ah, o senhor já experimentou um biscoitinho?”. Tinha até aquela coisa do antigo, que hoje não se faz mais - ainda mais a televisão, que vende tudo. Praticamente o vendedor hoje é tirador de pedido... Isso de oferecer o produto é no pequeno comércio; pra chegar num supermercado e fazer isso, o dono te bota pra fora.
COMÉRCIO
Fiquei um ano e pouco, não quis ficar mais, até queriam que eu ficasse, graças a Deus queriam me promover, eu falei: “Não, é muita loucura, essa estrada não dá”. Aí a casa... Eu tinha três pequenos pontos de comércio que eu alugava. Um deles que tinha uma sapataria - era justamente o da esquina - , tinha a sapataria e além de consertar sapato, ele vendia umas sandálias, umas bolsas. Aí falou que queria vender, até estranhei, falei: “Você quer vender seu comércio, não faça isso, pensa aí”. “Não, quero vender, quero vender pra você”. Eu falei: “Não, pensa, te dou mais uma semana pra pensar, não faça isso”. Porque ele vivia daquilo. “Não, porque eu vou arrumar um ponto menor, não sei o quê, tá, tá, tá”. Mas não foi problema de aluguel nem nada. Dei mais uma semana pra ele: “Você tem certeza?”. “Tenho.” Eu poderia até pedir o ponto, porque era meu: “Eu te dou um prazo de um ano pra você ficar, mas depois você me entrega”, mas eu resolvi: “Não, quanto você quer?”, “Tanto, X, tal”, “Não posso pagar de uma vez, posso te dar tanto, tal”. Até vendi um carro que tinha na época pra inteirar o dinheiro e comprei aquela sapataria dele, só que não ia consertar sapato - que eu não entendo de consertar sapato. Aí resolvi mudar, aí eu fui pra São Paulo, fui buscar uma mercadoria, resolvi pôr bolsas, chinelos, bijuteria e fui mudando. Fui, com o tempo, aumentando a loja. Aí, eu já entendia bem de brinquedo - porque no Benjamim eu vendia muito brinquedo, quase todas as marcas de brinquedo do mercado - resolvi colocar brinquedo devagarzinho. Fui colocando brinquedo, vi que Lorena era carente nessa parte, principalmente de brinquedos populares... Existiam algumas lojas de brinquedo, mas era brinquedo mais sofisticado pra época, estava entrando na época alguma coisa de importado, já naquela época, e resolvi investir nisso aí. E graças a Deus deu certo: fiquei bem uns dez anos com o nome de Carinhosa Presentes, porque era direcionado à ala feminina, às mulheres - que era bolsa etc. Mas vi que: “Puxa vida, estou com brinquedo e estou com Carinhosa Presentes...”, aí resolvi mudar de nome, passou a ser Juju Brinquedos, e graças a Deus a gente toca. Trabalhamos eu, minha esposa e mais uma funcionária, é uma loja pequena. Brinquedo, a criança pede e os pais que decidem. Tem aquele que vem determinado: “Eu quero tal brinquedo”, às vezes, que quer aquele brinquedo. Chega - por ver uma variedade muito grande - ele se perde, ele fica... Aí a mãe: “Não é esse aqui que você quer?”, “Não”, ele já está olhando aquele outro, ele está olhando, ele já deu volta na loja. Entra o pai e a mãe, ele escolhe um: “Ah não, esse aí não, esse é grande demais pra você, isso aí vai quebrar fácil, isso aí vai fazer não sei o quê”. Aí a decisão passa para os pais. E isso é interessante: tem gente que fica na loja, já ficou na loja quase uma hora, desse jeito, brigando quase com o filho, impondo o desejo dela. É interessante... Vender brinquedo é uma coisa mais complicada, mesmo. É sempre complicada, a não ser quando a criança vem muito determinada. E o adulto, mesmo ele escolhendo pra uma criança, ele escolhe aquilo que ele gosta, não aquilo que a criança gosta. É interessante. Quando eu tenho intimidade com a pessoa, que é amigo e tal, eu falo assim: “Escuta, é pra você o brinquedo ou pra criança?”. O que você está dando pra criança, ela não está vendo, se você levar aquele ou levar esse, ela não está vendo. Às vezes, quer dar com... Atendendo ao perfil da criança, então fica uma hora escolhendo. Vendo até a faixa, mais ou menos, de 15 anos. A não ser que não seja brinquedo, mas é boné, e também os jogos, alguns jogos mais adultos. Tem também pra adulto. E também se vende pra senhoras, até de sessenta anos, a boneca. Tem senhoras que: “Vim comprar essa boneca pra mim”. É interessante, tem sim. Ela, às vezes, não quer aquela boneca que está na mídia, ela olha aquele rostinho bonitinho, um pouco ainda mais..., aquelas bonecas antigas, que trazem um semblante ainda daquele... Então ela vê muito por isso, e tem senhoras de sessenta anos: “Ah, quero aquela boneca pra mim”, vai e compra pra ela. Eu trabalho hoje, praticamente, todas as marcas; o que está na mídia, todas as marcas. A Estrela é a Estrela. Hoje se destaca a Estrela, na linha de bonecas, a Cotiplás, na linha de personagens e essas coisas, a Matel, que vem com a Barbie, Hulk, Max Steel - ela se destaca muito nisso - , outras destacam em jogos, a Gemini, em jogos eletrônicos, outras se destacam na linha de plástico, caminhãozinho. Então tem vários segmentos. Optei, na época sim, uma linha mais popular de brinquedos. Esse popular fez sucesso durante um bom tempo, até que surgiu o um e 99. Aí eu tive que mudar de estratégia, aí eu tive que deixar de trabalhar com produtos de preço baixo, para passar pra uma linha maior, justamente por isso. Hoje eu trabalho com todas as fábricas, só não trabalho com brinquedo grande, muito grande - porque eu não tenho espaço - que são parquinhos, essas coisas. Mas eu tenho praticamente tudo que está na mídia. No geral, a boneca ainda se vende mais, depois você passa por super-heróis. Hoje, a febre na cidade, em São Paulo, é o pião, que tem em todo lugar. Então isso vai indo, sei até... Porque o Max Steel, um super-herói... Primeiro vem a boneca, porque parece que se gosta de dar mais brinquedo pras meninas, isso é indiscutível... Menino: alguns jogos, uma flecha, um qualquer coisa, um arco-e-flecha, qualquer coisa que você dê pra um menino, uma trave, uma coisa de basquete, boné, essas coisas, eles adoram. Estou no ramo de brinquedos há doze anos. Desde 91. Em relação à segurança do brinquedo, nesse tempo, mudou muito. Nossa, muito. O Inmetro hoje se destaca e nos ensinou também muita coisa. Hoje, se uma pessoa vem comprar um brinquedo pra uma criança menor que três anos, a gente já tem que fazer um trabalho: “Olha, não leva esse, esse tem ponta, esse é tóxico, solta tinta, esse quebra fácil, pode engolir, peça pequena”. Então tem um trabalho muito sério, a gente faz. Tem muita gente que não está consciente, você tem que estar explicando, quer levar um brinquedo: “Olha, vou explicar, a senhora quer levar...”. Eu, principalmente, trato assim, eu quero tirar minha responsabilidade, que amanhã ou depois pode chegar: “Ah, o senhor vendeu um brinquedo, o brinquedo quebrou, a criança pôs uma peça na boca”. Eu explico direitinho, antes: “Olha a faixa etária disso aí”. E você passa outra situação também, porque, às vezes, tem o pai que quer dar um controle remoto pra uma criança de um ano, aí você fala: “O senhor quer levar, pode levar, só que eu não posso te dar garantia nenhuma. Primeiro que não vai saber nem mexer, e segundo, ele vai quebrar em dez minutos”, aí depois: “Oh, o brinquedo não está funcionando”. A linha de brinquedos, é difícil trabalhar, não é fácil, não: você tem que ter um certo tato, porque você não pode só vender, não, pegar na prateleira e estar vendendo. O nome da minha loja vem do nome da minha filha, da Juliana. A mãe compra mais brinquedos para os filhos. O pai é pouco. Porque a mãe é quem decide, ela que vem com o filho, ela que mais escolhe do que o filho, a não ser quando já vem muito mesmo: “Quero tal jogo”. Ah, tem muita discussão: muitas vezes o pai saiu brigando com a mãe porque queria... O filho nem se fala: sai chorando, batendo o pé, e não tem jeito. E tem pai que... A mãe quer dar um patinete pro filho, o filho tem três, quatro anos, quer andar de patinete, o pai não quer, é perigoso, e não sei o quê. Então sempre tem algumas discussões, mas a gente entra no meio, consegue controlar a coisa. Abro em torno de oito e meia, a funcionária chega às nove, e fecho em torno de seis e vinte, seis e meia da tarde. Às dezoito e vinte, dezoito e trinta, de segunda à sexta. Sábado eu fico até uma e meia, duas horas, depende. O comércio de Lorena não abre aos domingos. Só os supermercados só, só os supermercados abrem de domingo. E os bairros abrem também, muitas lojinhas no bairro - hoje os bairros são muito fortes em comércio. Todo brinquedo meu é exposto. O cliente tem acesso a todos. Eu mudei: antigamente eu tinha balcões, ficava atrás do balcão, a prateleira atrás do balcão. Hoje não, hoje eu tenho... Praticamente é um supermercado, que a pessoa chega, olha, escolhe, vem, embrulha, faz o pacote. Tudo tem acesso, pega, examina, lê, não tem problema. Brinquedo é muito de forma... Ele é difícil, tem aquela caixa, uma caixa é um tamanho, é impossível. A não ser determinado produto, por exemplo: você quer um boné, que é difícil embrulhar. Você pode fazer um pacote e deixar lá, chega e coloca naquele boné uma cartela - que se vende muita cartela de super-heróis - , então você pode fazer mais ou menos de um tamanho. Quase todas [as embalagens] os tamanhos são iguais. Mas o resto, embrulhar é essencial, o embrulho é essencial. Só tenho papel de presente. Sempre no papel de presente, a não ser quando: “Ah, isso eu não quero que embrulhe, põe na sacolinha”. Ou às vezes você embrulha, vai pôr na...: “Não, eu estou com o carro aqui”. Quer dizer, é de acordo com o gosto do freguês. Eu trabalho, o normal, sempre em dois pagamentos. Tenho dois preços: preço a vista e dois pagamentos. Quando é uma compra em maior valor, eu parcelo até em três vezes, tudo com cheque. Cartão de crédito eu comecei há pouco tempo porque eu tenho já uma freguesia selecionada. Do jeito que trabalho em minha loja, o cartão de crédito me dá prejuízo, o custo do cartão de crédito eu poderia estar dando pro cliente. 90% das minhas compras são a vista, pra ganhar um desconto e dar pro freguês esse desconto. Então é uma forma de eu atrair meus clientes, pelo preço, porque a qualidade do brinquedo é toda igual. Por não ser na rua principal, ser numa travessa, alguns quarteirões do centro mesmo, comercial, você tem que ter algum atrativo, e também o meu custo é menor, por ser em prédio próprio. Trabalho eu, a esposa e um funcionário, então a gente tem condição de ter uma margem, e o cartão de crédito rouba bem essa margem da gente. O valor dos juros hoje é muito alto, você vê: hoje o cartão de crédito, ele está na faixa, mais ou menos, de 4% ao mês, mais o custo da máquina, quer dizer, se você der aí 4%, vamos supor, com o custo do aparelho, ele vai pra 5%. Está bom: você dá 5% de desconto, é um descontão hoje, numa inflação pequena que nós temos... Você comprar uma mercadoria por cem reais, você paga 95, você anda um bom pedaço a pé pra ganhar cinco reais, porque cinco reais é dinheiro. Eu não tenho débito automático, não. Agora eles vieram com uma proposta, até essa semana eu estou aguardando... Eles passaram pra minha esposa, estou aguardando já, com um custo bem menor da máquina, com o cartão de crédito e débito automático, acoplados. Estão diminuindo o custo - mas o custo deles. É em torno de 5%, que é de desconto, e você só recebe com trinta dias. Se você analisar hoje, esse dinheiro, o custo desse dinheiro no mercado, você esperar com trinta dias pra receber fica mais alto do que os 5%. Eu faço promoções da mercadoria. Divulgação, em mídia muito pouco. Promoção na loja, sempre eu tenho. A promoção do sindicato é um pouco diferente. Sempre existia uma parceria entre a Associação Comercial e o sindicato nessas datas festivas: Dia das Crianças, Dia dos Pais, Dia das Mães e Natal. Então, nós tínhamos uma parceria. Aí eu cheguei à conclusão de que não é essa a finalidade do sindicato. Eles faziam a promoção de sortear carro, motos e vários prêmios, aí eu falei: “Não é essa a função, a função do sindicato é atender ao comércio no geral, o comércio varejista e o comerciante”. Então eu falei: “Olha, eu acho melhor vocês ficarem com essa parte, e eu vou trabalhar diferente, vou trabalhar em cursos, vou trabalhar...”. Porque o dinheiro que eu vou gastar nessa promoção, eu vou direcionar, que é o lado certo que o sindicato tem que prestar serviço. E assim foi. Isso já faz uns dois anos. Agora este ano, a Associação não vai fazer campanha nenhuma de Natal, porque ela mudou pro prédio novo... A despesa... Então eu bolei uma campanha diferente, trabalhando para o comércio de Lorena: estou fazendo uma campanha de divulgação do comércio de Lorena, somente do comércio de Lorena, sem distribuir prêmio nenhum, mas colocando na televisão, rádio, jornal, carro de som, panfleto, faixas, eventos... Que é justamente isso que eu falei do SESC: estamos fazendo uma campanha diferente e toda bancada pelo sindicato, todo custo bancado pelo sindicato. Quer dizer, até uma coisa inovadora, pelo menos pra nossa cidade. Tem um apoio da prefeitura, com apoio da prefeitura municipal, mas somente na parte de colocar as faixas, de ceder o espaço da praça principal, que é o anfiteatro. Então é só isso, e o sindicato está fazendo esse tipo. E foi muito bem aceito, pelo menos por toda minha diretoria, e já conversei com alguns comerciantes. Vamos começar a partir de segunda feira... A televisão deve começar a partir do dia 13 ou dia 15, e vai estar na TV Vanguarda, em horário bom, a gente vai estar divulgando bem. Vai ter carro de som pela cidade, panfleto, vai ser bem... Todos os jornais já foram contratados pra divulgar. Quer dizer, nós esperamos que tenha um bom resultado, pelo menos acho que reclamar ninguém vai, porque não teve custo pra ninguém, só pro sindicato. É importante o poder público ter essa percepção da importância do comércio, e ajudar nesse sentido. Praticamente toda prefeitura ajuda o sindicato, a Associação Comercial nesse ponto. Nos outros anos, quando a Associação Comercial fez lá, nós fizemos também, junto, a prefeitura ajudou muito nisso aí: pagava a energia elétrica, dava um certo dinheiro pras despesas de combustível, pro carrinho, o trator que andava pela cidade. Então a parceria é necessária com a prefeitura e, geralmente, todo prefeito ajuda, porque a finalidade do sindicato, da Associação é só incentivar o comércio de Lorena, pra vir mais o quê? Mais impostos. Tenho também tem um cargo na Associação Comercial. Eu sou segundo Tesoureiro, na Associação Comercial. Não há conflito, de jeito nenhum. O ex-presidente do sindicato também foi vice-presidente na Associação Comercial, quer dizer, nós nos damos muito bem. Geralmente, tem aí um ciúme, um ciúme, que uma parte quer fazer mais do que a outra. Então, por isso até... Quando eu defini isso, pra justamente não haver esse encontro... Se a Associação fosse fazer uma campanha eu não iria nem pensar - apesar de que a minha é completamente diferente da deles, mas eu não ia fazer campanha, eu achei. Só que é uma coisa diferente, tanto que o slogan, o texto, é direcionado ao comércio de Lorena, você consumir no comércio de Lorena. A primeira parte é assim: “Neste natal é bom ter você aqui”. Quer dizer, ele está te atraindo: “O comércio de Lorena realizando os teus desejos”. Esse “É bom ter você aqui” é justamente pra chamar - pra dizer - a atenção do comerciante. Quando ele entra na loja, o consumidor entra na loja ele já: “É bom ter você aqui”, quer dizer: vamos conscientizar. Então os comerciantes e empresários de Lorena têm que participar também, porque o comerciante, é difícil você lidar com ele, porque ele já trabalha o dia todo, tem os funcionários, a preocupação, chega à noite, quando ele fecha o estabelecimento, ele está louco pra ir embora pra casa, ele vai participar de reunião, de confraternização? Ele é difícil participar, então o comerciante é difícil pra essas coisas, ele quer ir embora pra casa, ficar com a família, deitar, ver televisão, é bem difícil você encontrar pessoas que se dediquem nessa parte, falam no sindicato. A dificuldade é grande. Às vezes, na hora em que você precisa, um diretor não pode porque tem isso, tem aquilo, e tem o compromisso dele, mas vai tocando. Graças a Deus, o sindicato de Lorena..., o sindicato é bem forte. Enfeitam muito pouco as vitrines. Nós já demos até cursos... Eles colocam coisas simples, esses cordões de lâmpadas, mas muito pouco, mas sempre colocam alguma coisa. Mas dizer... “Dia da Independência, vamos enfeitar aqui com coisas do país”, então é muito pouco. Eu acho que pro comércio tudo é importante, eu acho que o que você passa para divulgar, mostrar, eu acho até... Tudo que você fizer diferente... Eu tinha um amigo, antes de ter comércio, ele era despachante da... E justamente ele estava nessa - onde é a minha loja hoje - , ele chegou pra mim e falou assim: “Poxa, eu estou querendo pintar a frente da minha loja”. Eu falei: “Acho uma boa”. “O que você acha, que cor você acha?” Eu falei: “Eu acho que você deve pintar uma faixa preta, uma vermelha e uma branca”. “O que é isso?” Eu falei: “Não, eu acho que você deve pintar, porque se alguém lá no centro perguntar onde é o despachante Pacaré... “Olha, desce aqui, na hora que você encontrar uma casa pintada de preto, uma de faixa preto, uma de branco e de vermelho, é ali””. Você sabe que ele pintou e chama atenção. Se você pegar tal rua: “Está vendo aquele comércio lá, está pintado de amarelo, naquela esquina você vira”. Então tudo que você faz, você chama atenção. O meu comércio, por ser um comércio pequeno, eu já exponho toda a minha mercadoria, mas na minha porta você vai ver esse verde, um verde abacate diferente, pintada a parede, ele tem vários brinquedos pintados na parede. Tem tipo de um quadro, vamos dizer assim, uma menininha brincando com uma bola, puxando um triciclo. É uma loja diferente... Se você bater o olho, ele é diferente, ele tem um verde diferente, e os brinquedos todos, as marcas dos brinquedos, então eu acho que tudo tem que ser diferente.
CASAMENTO
Conheci minha esposa em Lorena, num baile de Carnaval. Eu já a conhecia, mas como esses... Ah, sim, sempre foi, era muito bom o Carnaval de Lorena, era num clube. Nós nos conhecemos, quer dizer, começamos a namorar... Eu a conhecia de vista, mas não tinha amizade... Nós namoramos dois anos, aí nos casamos... Casamos em Lorena, mesmo. Ela era professora, na época, ficou algum tempo como professora, depois eu abri o comércio, ela foi me ajudar no comércio. O casamento foi bonito. Um casamento simples, porque eu estava sem dinheiro na época... Até o álbum é preto e branco, uma coisa bem simples. Nós casamos em 72. Nós tínhamos... O tio dela tinha uma chácara a caminho de Canas, de Cachoeira, e nos cedeu a chácara, nós passamos a lua-de-mel ali.
FAMÍLIA
Tenho um filho, ele vai fazer 29 anos agora, é o mais velho, chama Nilson também, ele está na Alemanha, ele trabalha pra Aston, antiga Aston aqui de Taubaté, hoje a Siemmens comprou, e ele está só, na Alemanha, um ano, torcendo pra que venha dia 13, agora - que ele vem dia 13 de dezembro. E a Juliana tem 22 anos, tem síndrome de Down, mas é uma coisinha. Nossa Senhora, ela ajuda na loja, trabalha na loja. Então hoje, como eu fui pra São Paulo, ela fica o dia inteiro com a mãe na loja, tem responsabilidade. Apesar de ter o problema dela, ela ajuda muito, inteligente, estuda até na escolinha. É o xodó da família, companheira.
COSTUMES
O meu sotaque é por causa do meu pai, porque Bananal... A população de Bananal é quase toda do Rio de Janeiro, então isso vem de criança. Meu pai era muito exigente, falava - não tinha falar “porrta”, essas coisas, então a gente pra poder assimilar... Em casa, praticamente, misturamos um pouco de carioca com... O sotaque de Lorena não é tanto como o de Taubaté. Um sotaque mais carregado. Lorena não é tanto assim, tanto “porrta” ou esse tipo de coisa. Lorena não é tanto. Aí vem subindo, Guará mais um pouquinho, Taubaté ainda... Quando vai se aproximando mais do estado do Rio, vai se mudando o sotaque.
CIDADES
Lorena Acho que em cinco anos... Porque começou bem, o desenvolvimento de Lorena, e todo mundo está se empenhado, o sindicato participa, Associação Comercial, todo mundo empenhado em ajudar pra que isso aconteça.
AVALIAÇÃO
Comércio O comércio foi a minha vida. O comércio, praticamente, foi a minha vida, e aprendi muita coisa com o comércio, o comércio me deu muitos amigos, muitos mesmo. O comércio me deu tudo, me deu muitos amigos, e com esses amigos a gente vai se engrandecendo cada vez mais. Então o comércio é tudo pra mim, eu gosto, eu gosto de estar no comércio, eu gosto de comprar, gosto de vender. Para ser um bom comerciante, não, tem que ter o dom. Eu acho que quem nasceu comerciante, é comerciante. A não ser se você tiver muito dinheiro e colocar alguém pra fazer lá, e a máquina pra fazer. O verdadeiro comerciante tem que estar com o umbigo no balcão. Lição do comércio é a honestidade de vender aquilo que é pra se vender, com preço justo e não enganar, porque eu acho que comerciante que engana nunca vai pra frente. Ele não perde às vezes um cliente, um freguês só: ele perde vários, porque aí um passa pro outro, então você tem que manter uma linha, um respeito, uma honestidade, pra você conseguir alguma coisa. É como você ser um bom pagador e mal pagador: pra ser bom pagador, pra andar direito leva, um tempão, mas pra perder tudo isso, pouco tempo você perdeu a credibilidade. O comércio é assim, você perdeu a credibilidade...
Memórias do Comércio - Vale do Paraíba (MCVP)
Comércio de brincadeiras
História de Nilson Ramos Almada
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 11/03/2004 por Museu da Pessoa
P1 – Senhor Nilson, boa noite, eu queria que o senhor começasse a entrevista dizendo pra gente o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Nilson Ramos Almada, nasci na cidade de Bananal, estado de São Paulo, ao dia 12/ 03/ 1948.
P1 – E o nome dos seus pais?
R – Meus pais, Nilton Coelho Almada e minha mãe, Geralda Ramos Almada.
P1 – E o quê o seu pai fazia seu Nilson?
R – Meu pai era funcionário público dos correios e telégrafos.
P1 – Trabalhava em Bananal?
R – Em Bananal.
P1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era dona de casa.
P1 – E seus avós, o senhor lembra o nome deles?
R – Meu avós eles trabalhavam com fazenda, né, eram fazendeiros na época.
P1 – Lá em Bananal?
R – Em Bananal mesmo.
P1 – E eles são de lá mesmo, ou alguém veio de fora?
R – Todos de lá, bom, o que eu tenho notícia é que eles são brasileiros mesmo, né, mas de descendência espanhola, algum português, é uma mistura, né, e minha mãe mais brasileira mesmo, nascida aqui mesmo, alguns traços de índio, né?
P1 – E o senhor tem irmão seu Nilson?
R – Tenho, nós somos quatro irmãos, dois casais.
P1 – Todos nasceram em Bananal?
R – Não, tem, nascido em Bananal só eu, o mais velho, depois a minha irmã, já o terceiro que nasceu em Taubaté e a mais nova que nasceu em Lorena.
P1 – E vocês mudaram pra Lorena por transferência do seu pai, foi isso?
R – É, meu pai pediu a transferência do correio, né, e veio trabalhar em Taubaté, justamente aqui em Taubaté, aqui nós ficamos 1 ano, um pouquinho talvez, aí meu pai pediu novamente uma transferência para Lorena.
P1 – E o senhor, que idade o senhor tinha quando ele mudou pra Taubaté?
R – É, aqui em Taubaté, eu acredito que, saí de Bananal com 4, pra 5 anos e quando nós mudamos daqui eu fui fazer 6 anos em Lorena, já.
P1 – E o senhor tem alguma lembrança de Bananal, dessa fase aí?
R – De Bananal eu tenho um pouco de lembrança porque o meu pai tinha um sítio, então nesse sítio eu ia com o empregado, né, a gente ia buscar leite numa charrete, então eu tenho uma certa lembrança desta época.
P1 – E aqui em Taubaté, vocês ficaram pouco tempo?
R – Ficamos pouco tempo.
P1 – Mas o senhor lembra se sentiu alguma mudança, porque o senhor era muito criança, né, mas as vezes tem alguma lembrança dessa mudança de Bananal pra Taubaté...
R – Tenho, o que me marcou muito em Taubaté, é que meu tio tinha uma fábrica de doces aqui em Taubaté, e isso marca muito, né, aqueles tachos enormes com doce de abóbora, doce de banana, né, e tinha um cachorrinho também que chamava Coimbra em homenagem aquela música da época, né, então são coisas que apesar da pouca idade marcou muito.
P1 – E aí vocês mudaram pra Lorena?!
R – Mudamos pra Lorena.
P1 – O seu pai assumiu o cargo lá em Lorena...
R – Isso, o meu pai passou a trabalhar lá em Lorena, no correio de Lorena.
P1 – E como era Lorena na sua infância, seu Nilson?
R – Olha, Lorena, nós chegamos em Lorena, até foi uma coisa diferente pra nós, porque nós não tínhamos, assim, casa, logo que nós chegamos em Lorena, então ficamos alguns dias numa casa muito ruim, né, aí até meu pai conseguir uma outra casa melhor, e tal, e era Lorena, vamos supor, assim, num bairro retirado, né, também nós ficamos algum tempo, aí nós viemos pro centro, quando nós viemos para o centro, o meu pai resolveu montar uma bicicletaria e ele trouxe de Bananal, um tio pra trabalhar com a gente e daí, praticamente, começou a minha vida no comércio, né?
P1 – O senhor tinha 7 anos?
R – 7 anos.
P1 – E já ajudava o seu pai?
R – Eu já ajudava, eu não agüentava, assim, virar uma bicicleta pra poder concertar e alguém virava e eu já lixava uma câmara de ar e aí começou ali.
P1 – E bicicletaria, porque tinha bastante bicicleta...
R – É, Lorena, a bicicleta lá, talvez seja uma da cidade que mais tem bicicleta per capita, no Brasil, né, então, Lorena, por ter uma topografia plana, Lorena tem, vocês vão conhecer Lorena, não que bicicleta é bicicleta, o trânsito lá se respeita a bicicleta e não o automóvel.
P1 – E o senhor freqüentou a escola em Lorena?
R – Em Lorena...
P1 – E como é que, que escola que foi?
R – Eu comecei no grupo Gabriel Preste, que era perto da minha casa, depois passei pro ginásio, pra escola Irmã Zoraide, né, a escola Patrocínio São José, aí passei para o ginásio do Estado.
P1 – E como é que era a escola, era rigoroso o regime?
R – Não, nenhuma, não tinha nada, a escola era normal como outra na época, pelo menos o que eu passei, nunca tive nenhum problema, não era o primeiro aluno da sala, mas tava entre, ali no meio, mais ou menos.
P1 – E quais as brincadeiras suas de infância?
R – Olha, nós brincávamos, eu adoro jogar futebol, então eu jogo futebol desde que acho que aprendi andar eu jogo futebol, né, então mais na vida eu jogava futebol, e a noite era brinquedo na rua, de mãe da rua que se tratava, de polícia e ladrão, como toda criança dessa época, né?
P1 – E o cotidiano da sua casa como era, o senhor estudava de manhã, de tarde, o quê o senhor fazia?
R – É, na época era meio difícil que eu estudava de manhã e trabalhava a tarde e depois, na época, ainda tinha aquela admissão que fazia a noite, né, então era muito corrido, que meu pai era muito exigente nessa parte de trabalhar, né, então em casa era tudo normal, dava as fugidas pra jogar futebol e como sempre, como todo.
P1 – E os seus amigos, assim, já de juventude, aonde vocês iam quando já eram um pouco mais velhos?
R – Você diz com quantos anos, mais ou menos?
P1 – Ah, uns 14, 15, 16?
R – Nós íamos nadar, né, tinha o rio, nadar, jogar futebol, as vezes pescar, ia muito pescar com o meu pai, com meu tio, né, e as brincadeiras normal, né, e passava o tempo assim, né?
P1 – E freqüentavam bailes, tinha clube em Lorena?
R – Freqüentava bailes, as festinhas, né, naquela época, era muito tradicional as festinhas nas casas, né, e nós não éramos, assim, bom de dinheiro, né, então o clube que freqüentava era praticamente as brincadeiras que nós fazíamos, né, na época existia um ou dois clubes, né, mais para adultos, né, não é como hoje, né, o clube principal da cidade a gente já tinha dificuldade pra ser sócio, e tal, mas era legal.
P1 – E o comércio, já tinha tudo em Lorena, sua mãe comprava tudo lá, camisa sapato?
R – Não, aí até uns tempos a gente vínhamos a São Paulo, eu, meu pai, né, na época, as vezes queria comprar alguma coisa diferente, tinha que vir a São Paulo.
P1 – E como é que vocês vinham pra São Paulo?
R – De ônibus, a gente vinha de ônibus, Viação Cometa, ainda naquela época, né, vinha com o meu pai, as vezes era comprar um presente ou comprar um sapato, meu pai vinha a São Paulo.
P1 – E pegava a estrada velha?
R – A velha, a Dutra antiga ainda, né, que era uma pista só.
P1 – E o senhor lembra da viagem, teve alguma característica que marcou, durante essas viagens, Lorena, São Paulo?
R – Não a viagem, mas São Paulo me marcou muito, né, que eu tinha um tio lá em São Paulo e nós ficávamos na casa dele, então eu alguma coisa, eu lembro que era caminho da Penha, Avenida Celso Garcia, então ia comprar numa loja muito grande na Celso Garcia, onde meu pai, até na época, comprou um gravador, meu pai sempre adorou música, sabe, então aquilo me marcou muito, que era um gravador italiano, eu lembro até o nome, Gelozo, na época, então aquilo pra nós era uma febre, porque poucos tinham na época um gravador, né, ainda mais importado, então aquilo me marcou muito São Paulo e o tempo, que as vezes eu passava um pouco das férias lá na casa da minha tia.
P1 – E Lorena tinha algum lugar especial que vocês freqüentavam ali, o senhor disse o rio, mas não é o Rio Paraíba, né?
R – Não, não é o Rio Paraíba não, era um rio mais distante, um riozinho pequeno que toda garotada da época ia.
P1 – Mas tinha algum outro local que vocês freqüentavam?
R – Sim, freqüentava muito o Oratório, então participava muito do Oratório, Oratório lá do Salseiro, né, então aquilo dali, todo dia a tarde ia pro Oratório, né, e lá ia rezar, ia brincar, ia fazer tudo, participava, depois das 7 horas eu ia embora pra casa.
P1 – Era, reunia bastante gente, seus amigos freqüentavam lá?
R – Sim, a maior parte dos nossos amigos era lá do Oratório, né, você convivia praticamente todos os dias, né, e ali você aprendia religião também, e os padres a gente se aproveitava pra se divertir, né?
P1 – Aí o senhor foi servir exército, é isso, não, aeronáutica, aliás?
R – Aeronáutica, isso já com 18 anos, né?
P1 – E o senhor serviu aonde, seu Nilson?
R – Eu servi na escola Especialista de Aeronáutica de Guaratinguetá.
P1 – E como era essa escola, era grande?
R – Era grande, até hoje, né, uma escola grande onde se forma, praticamente, acho que quase mil alunos por ano ou menos, é uma escola muito boa, muito bem organizada e eu servi, logo com 4 meses depois, do chamado recrutamento, né, eu passei a soldado de primeira classe, então já tinha o meu vencimento, era um vencimento maior do que o funcionário comum, eu trabalhava lá dentro, com o material bélico, trabalhava com arma, né, limpeza, conservação, né, com armamento e ali fiquei até dar baixa, fiquei 1 ano só, não quis ficar, até recebi proposta do capitão da época, ficou muito amigo, então, mas eu não quis ficar.
P1 – E por quê o senhor optou pra Aeronáutica o serviço, o senhor lembra?
R – Porque, veja bem, lá em Lorena tem, antigamente era o quinto RI, né, quinto regimento de infantaria e lá tinha, só que a aeronáutica era considerada mais elite, né, e dava aquela esperança e aquela coisa: “Vou ser sargento da aeronáutica.”, naquela época, né, então como era pertinho, e tal: “Eu vou servir aeronáutica, né?”, e o soldado da aeronáutica era um soldado, né, tinha mais alguns privilégios do que o soldado do exército, né, e aí eu fiquei no exército, durante 1 ano, 1 ano e pouquinho só.
P1 – E o senhor mexia com armamento?
R – Mexia com armamento.
P1 – Por isso que o senhor depois trabalhou em fábrica de explosivos?
R – É, praticamente foi por ter uma experiência que eu fui admitido nessa fábrica, né?
P1 – Essa fábrica?
R – Em Lorena.
P1 – Como que era o nome senhor Nilson?
R – Era a Val Paraíba de Lorena, era uma divisão da Mantiqueira, que chamava, da fábrica maior.
P1 – E o quê fabricava, seu Nilson?
R – Eles fabricavam esses tipos de foguetes, foguetes pequenos, que colocavam em bazuca, sabe, uns foguetes lançado de avião, mas pequeno, né, então eu trabalhava com aqueles tubos, né, tinha que lixar, tinha que colocar numa solução pra tirar ferrugem, tal, mas era um serviço meio pesado, né?
P1 – Perigoso, né, seu Nilson?
R – Não, tinha, assim, certo, tinha o teste dele, mas explosivo mesmo tinha, vamos supor, perto, né, tinha perto, mas eu não cheguei a mexer com explosivo, mas se explodisse alguma coisa, era óbvio que afetaria todo mundo dentro da fábrica, né?
P1 – E tinha, assim, a cidade tinha receio de ter a fábrica?
R – Tinha, morreram muitas, perdi até um amigo na época acho que com 20 anos mais ou menos, né, esse já mexia na fábrica de piquetes, que também era perto, mexia com explosivos, lá sim fazia pólvora, né, fazia pólvora, fazia nitro.
P1 – E esse material é que vinha pra essa fábrica de Lorena, de piquete?
R – Não, não tinha uma coisa a ver com outra, a Piquete era uma fábrica do exército, né, e Lorena a fábrica particular, então usava muito explosivo pra pedreira, pra essas coisas e tinha esses foguetes também que era nessa divisão da Mantiqueira, né?
P1 – Que fornecia pro exército?
R – Que fornecia pro exército.
P1 – Então, assim, a cidade tinha um certo receio, mas eu queria voltar um pouquinho na questão da aeronáutica, lá em Guaratinguetá o senhor conviveu com pessoas do Vale do Paraíba, de todos os lugares, como é que foi?
R – De todos os lugares do Brasil, né, porque a gente convivia menos, mas tinha o corpo de alunos, então tinha gente do Brasil todo, né, e os soldados que éramos nós, né, aí sim, tinha gente de Lorena, de Aparecida, de Guará, de todo o Vale aqui, né?
P1 – O senhor lembra de Guará, nessa época o senhor não ficava lá, o senhor sempre vinha pra cá...
R – Não, eu lembro de Guará sim, mas eu não ficava muito não, já quanto o tempo tinha, eu já vinha direto pra Lorena, as vezes ia, como todo jovem, passear em Guaratinguetá, tal, mas, né, vivia mais em Lorena.
P1 – E era bom passear em Guará, tinha atrativos na época?
R – Era, apesar que naquele tempo já havia sempre, como tem hoje, só que muito mais saudável do que essas rixas que tem hoje, né, de bairros, droga, aquela época não tinha, graças a deus, né, era só o ciúme do pessoal de Lorena que vinha namorar as meninas de Guará e vice-versa, né?
P1 – É mesmo?
R – É, isso tinha bem, naquela época, era você ir num bairro a noite, você tinha que ser bem conhecido, senão saía correndo.
P1 – Mas isso porque vocês eram de Lorena e não da aeronáutica?
R – Não, da aeronáutica era respeitado, aí não tinha, né?
P1 – E as meninas de Guará gostavam mais do pessoal de fora, que vinha de Lorena, ou não?
R – É, eles já estavam acostumados por causa do corpo de alunos, né, o corpo de aluno vinha, o soldado do Brasil inteiro, quer dizer, vinha aluno pra fazer curso aqui do Brasil inteiro, né, então, até que Guará hoje é uma mistura, tem gente que, tem aqueles que ficavam, né, faziam o curso, se formavam, espalhavam pelo Brasil todo, né, e muitos ficavam em Guaratinguetá, né?
P1 – E tinha paquera na praça, em Guará?
R – Tinha.
P1 – Qual era a praça, o senhor lembra que?
R – Olha, é a praça principal de Guaratinguetá, né, mas o que mais impressionava a gente era Lorena, né, quando eu falei pra vocês que a praça de Lorena é Talvez uma das mais bonitas aqui do Vale do Paraíba, e era verdade, e tinha um aspecto interessante de Lorena, vamos dizer assim, Lorena, a praça é redonda, né, então se dava volta na praça, os homens andavam de um lado e as mulheres do outro, então se encontravam, então arrumava as paqueras, você só ia ver a paquera na outra volta, isso ficou muitos e muitos anos, né, dividia assim também, vamos supor, a classe social, sabe, tinham aqueles que menos poder aquisitivo ficavam mais pra fora, do lado de fora da praça, aqueles, vamos dizer assim, classe média, ficava dentro da praça rodando e a elite, vamos dizer assim, né, tinha o pontinho que ficava meio separado, meio retirado do pessoal, então era bem interessante viu, era bem divertido, sabe?
P1 – E se arrumava pra ir _______?
R – Ah, sim, Lorena tinha a tradição da Festa de 15 de agosto até hoje, né, mas aquele tempo que as moças esperavam o ano inteiro pra festa do 15 de agosto, né, hoje já nem tanto, hoje já se veste...
P1 – O que é 15 de agosto?
R – 15 de agosto é a festa da padroeira da cidade, né?
P1 – Como chama a padroeira?
R – Padroeira Nossa Senhora da Piedade, né, então é tradição, tinha a corrida de bicicletas, tá, a festa durava 1 semana, né, até hoje ainda dura 1 semana, né, já chegou até durar mais que 1 semana, mas agora já soube que vão voltar pra 1 semana, né, é muito difícil, né, hoje em dia, né?
P1 – Então as moças se arrumavam...
R – E muito bem, tinha que ter vestido pra semana inteira, bailes, né, maravilhosos, né, isso já pra classe, né, já mais elite, a classe que a gente chamava lá, do comercial, né, que era justamente o Clube Comercial de Lorena, que era, foi fundado por comerciantes de Lorena, se uniram pra formar o Clube Comercial de Lorena.
P1 – Então era a mais a elite que freqüentava?
R – Sim.
P1 – Então é sinal que o comércio era extremamente forte?
R – Sim, e até hoje o comércio é muito forte em Lorena.
P1 – Era melhor o comércio de Lorena do que o de Guará?
R – Não, essa mudança de comércio, assim, em Lorena, tem o que mais ou menos, essa mudança tem uns 6, 7 anos que começou essa mudança, quando chegou em Lorena essas lojas de departamentos, Pernambucanas, né, então começou a ter em Lorena, tudo que se procurava fora, se encontrava em Lorena, então o comércio hoje de Lorena é muito forte, por ter poucas indústrias, o comércio hoje representa 70% dos empregos na cidade, sabe, o comércio de Lorena hoje é um comércio bem forte.
P1 – Então o senhor sai da fábrica de explosivos, aí o senhor tem várias outras atividades, né?
R – Aí eu começo entrar, praticamente no comércio, a ser proprietário, tá, eu saí, meu pai tinha um ponto comercial, que antes era da bicicletaria, né, meu pai dividiu o salão no meio e eu coloquei uma quitanda e meu tio uma bicicletaria, aí com o tempo o meu tio mudou, eu fui ampliando a quitanda, passei, fiz uma mercearia, né, da mercearia foi algum tempo, naquele tempo se usava muito óleo comestível a granel, então você ia com a garrafa e enchia a garrafa de óleo comestível, né, então tinha do lado uma casa de óleo, né, de óleo a granel, tambores, né, e ovos, né, aí eu comprei a casa dele e passei pra minha mercearia, né, e parei com, quer dizer, tinha ovos, mas não com a quantidade que ele vendia, né, tinha normal e ali eu comecei com os tambores de óleo, depois comprei uma kombi, passei a ir buscar o óleo, né, e fiquei um bom tempo com a mercearia.
P1 – Que ano foi isso, seu Nilson, o senhor lembra?
R – Isso foi, mais ou menos em 70, por aí, 60 eu dei baixa, logo que eu dei baixa da aeronáutica foi 68, eu fiquei, mais ou menos em 69, acho que à 74, mais ou menos, 73 à 74.
P1 – Então nessa época não tinha uma concorrência, assim, de supermercados?
R – Não. Nessa época não tinha supermercados, era só armazém, só tinha armazém nessa época, eram poucos, quer dizer, relativamente hoje não existe mais, o supermercado já dominou, no centro da cidade em Lorena, pra você nós temos um armazém daquele modelo antigo, não tem mais armazém no centro da cidade, nos bairros ainda tem alguma coisa, mercearia, e tal, mas armazém como chamávamos antigamente não tem.
P1 – Nos anos 70 então as compras ainda eram feitas...
R – Tinha, era feito no balcão com listinha, que você ia na lista, e tal, o primeiro supermercado em Lorena deve ter surgido em 75, 76 e ficou durante um bom tempo, tá, era até na época era um tipo de coca, sabe, ele vendia a participação, né, e montou o supermercado que até por sinal, um dos filhos dele ainda toca o supermercado em Lorena, né, o supermercado dele, o supermercado da praça principal e ali começou o primeiro supermercado, mas o forte lá era o armazém, mesmo com o supermercado o forte ainda era o armazém, porque os mercados não tinham tradição, né, havia até aquele medo de entrar no supermercado era tudo aberto se pegava, né, as coisas, né, então tinha aquele receio de alguém tá pegando aquela coisa, então armazém é aquela, aí esse armazém que era o mais forte de Lorena, transformou em supermercado, justamente na época que eu comecei a trabalhar como vendedor, então é justamente.
P1 – O senhor fechou a mercearia?
R – Fechei, passou um tempo eu fechei a mercearia e fechei porque enjoei daquilo, na época não foi por motivo nenhum e coisa, fechei a porta, graças a deus, não tinha nada pra, aí fui trabalhar como vendedor, aí entrei na Piraquê.
P1 – E esses, os produtos da sua mercearia o senhor comprava onde?
R – Comprava a parte de frutas e verduras, eu vinha comprar a maior parte em Guaratinguetá, que tinha um mercado muito bom, um atacado muito bom na região do Piaguí, aqui em Guaratinguetá, então se encontrava ali, às terças e sextas, eu ia de carona com o senhor lá e trazia aquela mercadoria pra mercearia, né, a quitanda, e a parte de lataria, de coisa, comprava por lá mesmo, de vendedor, né?
P1 – Os viajantes então que iam, eles eram da onde, o senhor lembra, de São Paulo do Rio?
R – Geralmente era da cidade mesmo, né, que ia perto do Vale, tal, que tinha representação, né, e depois vinha, um vendia macarrão, outro a parte de lataria, né, outro a parte de farinha, essas coisas.
P1 – E aí entregavam as mercadorias, já iam de caminhão, já nos 70, já ia pela Dutra, né?
R – Ah sim, isso já era 73, mais ou menos, 74.
P1 – E o senhor vendia com cadernetinha ou?
R – Também com caderneta.
P1 – Tem zona rural em Lorena, ou tinha nessa época?
R – Tem sim, Lorena na época tinha grandes fazendeiros lá, produzia-se muito arroz em Lorena, sabe, por ser topografia plana, muitos alagados, então Lorena era tradicional em arroz, muito mesmo, plantação boa de arroz em Lorena.
P1 – E o pessoal da zona rural vinha também comprar na sua mercearia, ou não?
R – Sim, tinha clientes que vinha, fregueses que vinha comprar na mercearia.
P1 – O senhor entregava em casa, seu Nilson?
R – Não, naquela época não tinha ainda esse tipo de, aquele tempo ainda se usava aquela, eu acho até interessante, acho até que merece frisar isso aí, a pessoa vinha com uma lista, tinha um vendedor pra atendê-lo e essa pessoa ditava um produto de cada vez: “Eu quero duas latas de extrato de tomate.”, ele ia lá na prateleira, pegava duas latas de extrato de tomate e trazia: “Agora quero 1 quilo de sal.”, ele ia lá, e se não fizesse aquilo, aquele freguês, aquele cliente, ele ia embora, não gostava mais, ele queria aquilo que tava ali.
P1 – Tinha que ser devagar.
R – Tinha que ser de produto, chegava lá: “Oh, vou deixar a listinha lá e depois venho buscar a compra.”, isso passou bem depois, mas antigamente era assim, era produto por produto que era colocado, aí tinha alguns garotos que entregavam, eu mesmo trabalhei entregando compra naqueles carrinhos de madeira, né, aquelas coisas, isso naquela época tinha muito.
P1 – E aí, também, o pessoal marcava, mas o senhor fazia isso pra todos os fregueses ou não, de marcar na caderneta?
R – Não, só o pessoal da vizinhança, né, era uma mercearia pequena, não tinha jeito de concorrer com os armazéns, né, então mais era frutas e verduras, né?
P1 – Tinha muito armazém então em Lorena?
R – Tinha, em Lorena tinha, nessa época tinha.
P1 – Pra quê tanto armazém?
R – Pra que era, a tradição daquela época era ter armazém, naquela época não se falava em supermercado, só veio bem depois, né, então naquela época era armazém, só ali perto de casa, né, praticamente naquela época tudo se direcionava ao centro, não é hoje que você chega no bairro, tem um, dois, três supermercados, mesmo sendo uma cidade pequena, né, tem, mas antigamente todo mundo se direcionava para o centro da cidade, o mercado, o antigo Mercadão, que chamava lá em Lorena, então todo mundo, e a feira que tinha, chegava sábado, vinha pra cidade, né, vinha gente da roça, vinha todo mundo, então naquele tempo era armazém, não tinha.
P1 – Mas o senhor acha que, comparativamente, com outras cidades do Vale, os supermercados foram aparecendo primeiro aonde, assim, apareceu primeiro aonde nas cidades do Vale?
R – Qual cidades?
P1 – Não, entre as cidades do Vale, qual é a lembrança que o senhor tem, quer dizer, aonde começou aparecer os supermercados, foi em São José, foi?
R – Ah, sim, não tem dúvida, São José é pioneira, aqui no Vale do Paraíba, São José é pioneiro em tudo, né, não tem, o shopping, tudo começou primeiro aqui em São José e até o shopping é interessante, o shopping não é mais pra consumir, o shopping é pra passear, né, então ainda é, e a batalha nossa no sindicato é isso, é segurar os nossos consumidores na cidade, né, e hoje tá ajudando muito que o custo de sair de Lorena pra se dirigir a São José, as pessoas tão pensando bem, né, mas se tornou mais um lazer ir aos shopping hoje, principalmente aqui na cidade de Lorena e acredito que em Guaratinguetá, né, Taubaté não, já tem o seu shopping, né?
P1 – E o comércio, fora essa questão dos armazéns, ele era bom em Lorena, ou já tinha melhorado?
R – Tinha.
P1 – Dos anos 60 pros 70 já tinha?
R – Já tinha melhorado bem, aí já surgiu aquelas casas de retalhos, de panos, né, já começou móveis, que na época não tinha, já se comprava muita coisa em Lorena naquela época, material de construção.
P1 – A cidade tava se expandindo?
R – Tava se expandindo, né?
P1 – Que comércio se destacava, assim, tecido, o que o senhor acha que?
R – Olha, naquela época, era ainda um comércio fraco, né, como Lorena sempre teve poucas indústrias, né, agora que tá se deslanchando, mas Lorena até hoje ainda tem tradição em calçados, né, pra você comprar calçados e material de construção, tá, Lorena é muito bom pra se comprar calçado, porque tem muita botique, né, e fora outros pólos que tão surgindo em Lorena, mais na parte industrial.
P1 – Hum, e o senhor depois, então, aí o senhor fechou a mercearia, foi vender biscoito da Piraquê, mas isso também é bom, isso...
R – Biscoitos de massa da Piraquê.
P1 – E o senhor vendia aqui no Vale, senhor Nilson?
R – Eu não, bom, vendia aqui no Vale, mas a minha praça é até gozado falar, mas a minha praça era Lorena, Cachoeira e Piquete, só.
P1 – Só essas três?
R – Só essas três praças.
P1 – Isso era pouco, né, porque cidades pequenas, ou não?
R – Era pouco, mas para o vendedor era suficiente, é, porque você fazia todo mundo, você não tinha um campo grande, né, então o que você fazia? Você de vez em quando até juntava: “Você quer duas caixas de biscoito, você quer três?”, então fazia um pedido, né, e dava pra trabalhar, não posso até reclamar do tempo que eu fiquei na Piraquê, não.
P1 – E o senhor ficou então, ia muito a Piquete?
R – Ah, quase, praticamente, as vezes quase duas vezes por semana, né?
P1 – E como era Piquete, senhor Nilson?
R – Piquete vivia em função da Fábrica Presidente Vargas, tá, só tinha uma indústria, vou dizer assim, mas que era a Fábrica Presidente Vargas e o exército que tomava conta da fábrica, né, da segurança da fábrica, né, porque se tratava de uma fábrica de explosivos, né, então o exército ficava ali tomando conte, então Piquete era aquela vidazinha pacata, era dentro daquilo ali, os funcionários trabalhavam, de casa pro trabalho e...
P1 – Todo mundo trabalhava na fábrica então, todo mundo em Lorena?
R – Todo mundo trabalhava na fábrica.
P1 – E o exército que administrava todo o município, assim, ou tinha casas fora?
R – Sim, tinha a zona militar, né, então dali pra frente era o exército que determinava o que deveria ser feito, horário, tudo que fosse daquela parte do exército ali, ele que administrava tudo.
P1 – Mas isso que eu não entendo um pouco, quer dizer, todo mundo trabalhava, pra trabalhar não tinha que ser militar?
R – Não.
P1 – Ah não?
R – Não precisava, pelo contrário, militar só tomava conta da segurança e da chefia, né?
P1 – Então os demais eram os operários, os funcionários normais...
R – Todo mundo da Fábrica Presidente Vargas.
P1 – Então aí também era pouca gente e não desenvolvia comércio lá?
R – Sim, não, e outra coisa, eu acredito que a metade, mais ou menos, dos funcionários da fábrica, morava em Lorena, tanto que tinha um trem que fazia o trajeto de Lorena a Piquete.
P1 – E qual é o, o senhor lembra o horário desse trem, eu me lembro, porque meu pai fez durante, sei lá, quantos anos esse trajeto, ele era condutor de malas, era o nome do cargo dele, né, essa mala era chamada mala postal, então todo dia ele levava essa correspondência, que eram várias malas, né, levavam pra Piquete e ia no trenzinho e eu fui, sei lá, milhares de vezes junto com ele, né, levar essas malas em Piquete, né, então esse trenzinho ia todo dia, uma vez por dia ele ia a Piquete e voltava, ele saía daqui, mais ou menos entre 1, 1 e meia e voltava 6 horas da tarde, 6, 6 e pouquinho.
P1 – Quanto tempo demorava, o senhor lembra, seu Nilson, esse trajetinho?
R – Ah, se eu não me engano, parece que era 1 hora.
P1 – Ele só fazia esse trajeto?
R – Só fazia esse trajeto.
P1 – Mas podia levar as pessoas...
R – Sim, o trem era da Central do Brasil na época, não tinha nada vinculado ao exército, apenas ele parava na estação dentro da fábrica, ele parava primeiro na estação no começo da cidade, depois parava na estação antes de entrar na zona militar e depois ele ia até a fábrica buscar funcionário e depois voltava.
P1 –Aí o pessoal então o senhor acha que morava em Lorena?
R – Sim, porque o que movimentava o comércio da época era, justamente os funcionários da Fábrica Presidente Vargas, então entrava aquele dinheiro todo, se comprava tudo em Lorena, até hoje Lorena recebe muita gente de Piquete, que o comércio de Piquete é bem fraquinho.
P1 – E o pessoal ganhava bem?
R – Na, pela época sim, você via um natal daquele a gente passear com bicicleta nas costas, com carrinho, você ganhava bem na época.
P1 – Esse pessoal que trabalhava na fábrica?
R – Que trabalhava na fábrica de Piquete, que era chamada Fábrica de Pólvora Sem Fumaça.
P1 – Por quê, sem fumaça?
R – Sei lá, é escrito até hoje numa arco que tem lá.
P1 – Quando é que terminou, o senhor lembra, seu Nilson, a fábrica?
R – Não, a fábrica existe até hoje, né, só que um pequeno número de funcionários só, hoje com tecnologia bem mais avançada, eles produzem outras coisas, tá, então tem até hoje.
P1 – Mas mesmo assim o senhor ia lá vender o biscoito Piraquê, duas vezes por semana?
R – Sim, tinha uma ou duas vezes por semana eu ia lá.
P1 – E vendia aonde esses, nas mercearias?
R – Vendia, eu, como na praça era pequena, então eu tinha que vender em todo lugar, em Lorena eu vendia até em farmácia, na época que era difícil alguém vender biscoito em farmácias, então eu vendia nas mercearias, bares, no armazém, lanchonete, tudo na época, a gente procurava todo lugar, praça pequena você tinha que correr atrás, né?
P1 – A outra cidade que o senhor disse é?
R – Cachoeira Paulista.
P1 – Cachoeira Paulista, também pequena a cidade, né?
R – Sim, mas maior do que...
P1 – Maior que Piquete?
R – Maior que Piquete.
P1 – E o senhor ia pra lá como, tinha ter também, pra lá?
R – Não, isso, nessa época já tinha carro, quando trabalhava na Piraquê, já tinha carro próprio, tanto em Piquete como isso, era em 70, na Piraquê eu entrei, em 75 o meu filho nasceu, mais ou menos, em 75 eu entrei na Piraquê e saí da Piraquê em 86, 87, por aí, até entrei, já saí, depois me chamaram, depois de algum tempo fiquei mais uns 2 anos pelo Rio de Janeiro, né, pela matriz do Rio, né, e foi todo esse tempo, então eu fazia Cachoeira também, cheguei a fazer algumas vezes pra cobrir algum amigo, tudo, Guaratinguetá, mas o forte era Lorena mesmo, né?
P1 – Então vendia bem, o biscoito...
R – Vendia bem...
P2 – Tinha o biscoito de Jacareí, ou não, concorria...
R – Tinha o biscoito de Jacareí, na época era um nome, Jacareí era um nome, só que Piraquê, na época, já tinha propaganda em televisão, muitos lembram até, acho que do Costinha, fazia uma propaganda da Piraquê na TV, até hoje ainda se fala nisso, né, então a televisão na época, né, em Lorena pegava o sinal da TV do Rio de Janeiro, quer dizer, então era um sucesso, né, então levava essa vantagem, então como esse de Jacareí, por ser também um bom biscoito, mas não tinha a publicidade, né, que tinha o biscoito da Piraquê.
P1 – E o senhor lembra alguma loja que chamava atenção no comércio dessa época, anos 70, em Lorena?
R – Em 70 mesmo, deixa ver.
P1 – Uma loja, ou pelo tamanho, ou pela quantidade de...
R – Pela idade que eu tinha, em Lorena, nos anos 70, já tinha esse armazém que depois se transformou em supermercado...
P1 – Mas eu digo uma loja do comércio?
R – Uma loja do comércio?
P1 – Parece que lá tem uma loja muito famosa de tecidos, que ocupava uma esquina...
R – Tinha, a Notre Dame, era muito famosa em Lorena, a Notre Dame, tinha também a, deixa eu ver, são tantas, né, que a gente até esquece...
P1 – Mas, assim, uma que se destacava então no meio dessas tantas?
R – A Notre Dame, essa se destacava bem...
P1 – Ela era de tecidos?
R – A Cobianque, a loja de tecidos que se destacou muito bem em Lorena, de tecidos e roupas, né, tinha a loja de móveis, tinha a Carioca, Casa Carioca de Móveis, deixa eu ver se eu lembro bem de mais alguma assim, tem a...
P1 – Essa de tecidos vendia, tudo quanto era tipo de tecido?
R – Tudo quanto era tipo de tecido, é, geralmente, antigamente, praticamente, só vendia tecido, né, a roupa feita já tava iniciando quase, né, o tempo de garoto mais, mas aí depois já vinha a Pernambucanas, né, essa ficou famosa, né, tinha, tem tantas lá que eu até, deixa eu ver alguma, o Caltabiano, né, também vendia bem lá, essa Cobianque, são várias lojas.
P1 – O senhor disse que o forte é calçado, qual, o senhor citou alguma loja de calçado?
R – Não, o calçado é bem mais recente, né, então como se tratava naquela época, desse que você tá falando, a loja do Salomão, que geralmente, né, os libaneses que mexiam bem com isso daí, tinha a loja do Badi, a gente tratava mais assim por nome da pessoa, do dono, né, então você não tratava muito com o nome fantasia, que hoje a mídia faz com que você não vai colocar o nome do dono, você vai colocar o nome fantasia, né, então naquela época, não: “Eu vou no armazém do seu Jorge Vieira, ou vou no armazém do seu Zé Vieira, que era irmão, ou vou no armazém do Povo.”, esse já tinha um nome, né, e as lojas eram tratadas pelo nome do dono.
P1 – Tinha muitos imigrantes em Lorena, seu Nilson?
R – Não, só tinha os nossos aqui, né, Lorena por ser muito, assim, pertinho de Minas Gerais, então tem muito mineiro, sabe, é uma cidade, é um pessoal muito bom, são pessoas muito boas, você lidava justamente por ser mineiro, o pessoal, vem muita gente de Minas, né, pra Lorena, então Lorena tem muito Mineiro, sabe, são pessoas calmas, pessoas boas de você lidar, né, mas, assim, do norte, nordeste não houve isso aí, e de fora, alguns libaneses, né, turcos, que antigamente falava na época, né, não sabe se era libaneses, se era árabe, se era judeu, era turco, né, o lado turco, né, então era assim que era tratado antigamente.
P1 – Tinha alguma colônia que se destacava, de imigrantes?
R – Não, Lorena, assim, não teve, a não ser, que veio pra Lorena uma época uma colônia de chineses pra plantar arroz, com nova tecnologia pra plantar arroz, mas ficava alguns anos só e depois ia embora.
P1 – E as principais ruas do comércio nessa época, seu Nilson, quais eram?
R – Continuam as mesmas, sabe, nós chamamos de Rua Principal, né, a Praça (Anolfo?) Azevedo, né, a Rua Duque de Caxias que hoje é o calçadão e era isso na época, era bem centralizado, fora os armazéns que era nos bairros.
P1 – Aí depois o senhor deixou de vender biscoito e foi pro comércio de novo?
R – Aí eu fui montar, a convite de um amigo, montar uma distribuidora de ferro, chapa, ferro pra serralheria, tá, fiquei com ele, um pequena sociedade, né, fiquei com ele algum tempo, aí como a minha parte era muito pequena e tava difícil, né, pra mim, aí acertamos tudo, é meu amigo até hoje, uma pessoa espetacular, aí fiquei algum tempo com ele e depois montei uma representação, eu tinha um prédio e tinha três cômodos comerciais, né, e tinham vaga e eu montei uma representação, comecei a trabalhar com seguro, com xerox, né, com copiadora, e fiquei um tempo aí surgiu uma vaga no Benjamim São Paulo, Benjamim era muito famoso em São Paulo, um dos maiores atacadistas do Brasil, na época, e aí eu fui trabalhar lá, lá eu fiquei 1 ano trabalhando no Benjamim, com praticamente tudo aquilo que eu já trabalhava e mais alguma coisa, era papelaria, brinquedos, utilidades, plásticos, ume infinidade de produtos no Benjamim e fazia, aí sim, eu trabalhava de Taubaté até Cruzeiro.
P1 – Viajava essas cidades todas?
R – Todos os dias.
P1 – Quem se destacava mais, entre elas, em relação ao comércio?
R – Taubaté.
P1 – Mas aí já é anos 80?
R – Sim, aí já era 90, quase...
P1 – 90?
R – É, 90 quase, 89, 90.
P1 – E Taubaté se destacou?
R – Ah, sim Taubaté...
P1 – Por quê, seu Nilson?
R – Pelo parque industrial, sempre teve muitas indústrias aqui em Taubaté, né, então o poder aquisitivo, logicamente que você consuma mais, então Taubaté sempre se destacou e depois a minha melhor praça, a minha melhor praça depois, por sinal era Lorena, não pelo comércio que Lorena tinha, era um grande comércio, mas pela amizade, né, aquela amizade antiga, então eu tinha uns certos privilégios, né, e tinha um grande supermercado em Lorena, era o segundo da região, só perdia pra um supermercado de São José dos Campos, então eu tinha, justamente foi o primeiro supermercado que Lorena teve, então eu tinha essa facilidade de poder vender bem em Lorena, né, porque depois de Taubaté, praticamente seria Guaratinguetá, mas Lorena, nessa época Pinda era bem pequeno até, Pinda não se destacava como hoje se destaca, né?
P1 – O senhor vendia de tudo, então?
R – Pelo Benjamim, de tudo, eu tinha perto de 5 mil itens, eu tinha que atender dois fregueses por dia, quer dizer, eu fazia muito mais, porque o tempo em cada supermercado era de três horas pra tirar um pedido, porque eu tinha o supermercado inteiro, né, então eu só não tinha carne, pão, essas coisas, mas tinha, Benjamim era um atacado espetacular.
P1 – E como é que o senhor fazia o pedido, como que era?
R – Eram talões, né, e o duro é que você ficava em pé, em cima de um carrinho daquele de compra, a pasta aberta e tudo, né, só pra você ter uma idéia, a lista de preços, de produtos, tinha 200 folhas, e tinha que ser trocado todos os dias, porque todo dia, naquela época de inflação alta, né, então todo dia tinha remarcação, então podia sentar e, antes de começar a trabalhar, saía de casa em torno de 6 e meia, por aí, pegava o malote aqui em Taubaté, todos os dias e ali sentava no banco e quando ia começar a trabalhar, já era 10 horas da manhã.
P1 – Já tinha mudado o preço, se bobeasse.
R – Se você ligasse pra lá, as vezes tinha mesmo alguma alteração.
P1 – E aí como que o senhor passava pra eles?
R – Via malote, no dia seguinte, no mesmo malote que eu recebi a mercadoria, no dia seguinte ele levava a mercadoria.
P1 – E isso era direto em Lorena esse, o senhor morava em Lorena?
R – Eu morava em Lorena e esse malote era de Taubaté, então todo dia eu tinha que vir em Taubaté, fora as reuniões que tinha quase uma vez por semana em São Paulo, então era difícil.
P1 – Nossa, então o senhor atendeu de Taubaté até?
R – Cruzeiro.
P1 – Nossa, são quantas cidades?
R – Cruzeiro eu tinha poucos clientes porque não dava tempo, não tinha condição.
P1 – Também Cruzeiro é muito pequeno, né?
R – Não, hoje, Cruzeiro, eu acho que é maior que Lorena.
P1 – Maior que Lorena, hoje?
R – Eu acredito que sim, Lorena, infelizmente ela esteve, vamos dizer assim, parada no tempo, uma certa fase de Lorena, sabe, ficou pelos seus governantes, né, Lorena não tinha, assim, um poder político, sabe, então Lorena começou desenvolver de 5, 6 anos pra cá e mais ainda com o novo prefeito, sabe, então Lorena ficou bem parada no tempo, sabe, Lorena, hoje em dia é, eu acredito que dentro de 5 anos, Lorena terá um salto muito grande, porque não tem, São José já tá saturada, aqui em Taubaté, então, Lorena é bem estratégica, Lorena tá praticamente, o centro do nosso país, pelo menos o centro industrial, financeiro, porque Lorena está o que, acho que 50 quilômetros de Minas, a menos talvez de 50, também, da divisa do Rio de Janeiro e perto também, aqui de Ubatuba, ao lado do mar, né, quer dizer, então Lorena é bem estratégico, né, então acredito que Lorena, tem que vim as coisas pra Lorena, está vindo e virão bem mais ainda.
P1 – A prefeitura tá desenvolvendo algum plano pra...
R – Tá desenvolvendo um trabalho, pra incubadora de indústrias, tá trazendo muitas indústrias, chegou aí a Yakult, tem muitas indústrias pra vim ainda, pólo, tá construindo um pólo industrial, quer dizer, então Lorena.
P1 – Tem áreas, assim em Lorena que podem ser ocupáveis?
R – Tranqüilo, uma topografia plana, como eu falei, água, uma das melhores que tem na região, já foi testado e tudo, então Lorena tem tudo pra crescer, falta sorte e política, né, mas política tá tendo, agora vamos aguardar, né?
P1 – A cidade tá oferecendo incentivos?
R – Tá, oferece muitos incentivos, a prefeitura...
P1 – E tem tido muita visita de?
R – Tem, eu tenho, por ser presidente do sindicato, eu tenho muita participação junto com a prefeitura, com os secretários todos, então eu tenho muito conhecimento de tudo que se passa na prefeitura, né, me dou muito com o secretário de indústria e comércio, quer dizer, então a gente tem um certo relacionamento, então tudo que tem, ele passa pra mim, eu fico sabendo...
P1 – Porque tem a outra ponta, né, senhor Nilson, a cidade também se ela quer isso, ela tem que se preparar pra isso, então já se pensa na infra-estrutura?
R – Já, escola profissionalizante, o prefeito tem lá, acho que hoje capacidade mais de mil e 500 alunos, então está sendo feito um trabalho.
P1 – E o comércio, o que pensa disso, se prepara também ou não?
R – O comércio ajuda, se prepara também, o comércio, como eu disse pra você, o comércio de Lorena é muito bom, você acha praticamente de tudo em Lorena, tá, hoje Lorena tá se tornando também um pólo plástico, né, tem duas ou três fábricas grandes fora, as pequenas indústrias de plástico, então Lorena se destaca muito pelo plástico.
P1 – E a sua atuação no sindicato, começou quando, como?
R – Bom, eu sou um dos fundadores do sindicato, né, a convite de um amigo que já tinha um relacionamento, que propôs: “Vamos fundar um sindicato do comércio em Lorena.”, era a base de Guaratinguetá, nós conseguimos que Guaratinguetá cedesse, né, e fundamos o sindicato, ele foi o primeiro presidente e eu era o tesoureiro e continuamos trabalhando até, aí ele ficou na administração 6 anos e depois ele não quis mais: “Não, quero que você assuma.”, fui escolhido, tal, e estou perto de 5 anos no sindicato, né, aí compramos uma sede, hoje o sindicato tem a sua sede própria, graças a deus o sindicato se desenvolveu bem, nós trouxemos a JUCESP pra Lorena, que é justamente a junta comercial que não tinha em Lorena, que tinha que se deslocar a São José ou a São Paulo pra abrir uma firma, quer dizer, isso facilitou muito o comércio de Lorena, né, aí a gente tá fazendo um trabalho, né, trazendo também, né, com parceria com o prefeito, o PROCOM, pra Lorena também, já tá tudo prontinho, né, pra gente instalar o PROCOM em Lorena, então eu tenho uma parceria muito forte com o prefeito e uma parceria muito forte com o SESC e SENAC.
P1 – No treinamento, na formação dos?
R – É, nós fazemos um trabalho diferente lá, né, é, vamos supor, nós temos também a parte de formação do funcionário, também, com o curso de qualificação, atendimento ao cliente, telemarketing, então nós temos eles com o sindicato, né, e fazemos também a parte cultural junto com o SESC, eventos, tá, trago muitos eventos pra Lorena também, né, através do SESC, alguns cursos através do SENAC e cursos feitos lá mesmo e atendemos também muita, cursos de artesanato, né, curso de bijuteria, de sandálias, que eles falam, de fuxico, pra atender senhoras, principalmente senhoras de comerciantes, sabe, o que nos trouxe muitos resultados, sabe, esses cursos, só, pra você ter uma idéia o ano retrasado nós colocamos mais de mil e 400 alunos, fazendo curso dentro do sindicato, esse ano tá mais difícil, não sei o que, mas pelo menos 1 mil e pouquinho nós tamos dentro do sindicato, né, quer dizer, tudo isso visando o comércio de Lorena, trabalhando pro comércio de Lorena, a nossa função é essa, né, de fortalecer o comércio de Lorena.
P1 – E a sede do sindicato é uma sede grande, como que é essa sede, descreve pra nós, seu Nilson?
R – A sede, hoje, do sindicato são dois andares, né, o térreo e o primeiro andar, tem um terreno, mais ou menos de 400 metros quadrados, né, a parte de baixo tem o atendimento, né, a recepção, uma sala pra gerente, uma outra sala pra JUCESP, né, a parte toda de informática, a parte de contribuição, isso na parte de baixo uma cozinha, em baixo eu tenho mais uma área boa grande, mais uma sala pra curso, pra mais ou menos 45 pessoas, um quintal todo frutífero, né, bem plantado, cuidado muito bem pela minha gerente e ainda tenho na parte de cima, no sindicato eu tenho mais uma sala pra uns 25 alunos, né, a sala do presidente, a sala da diretoria, essa é na parte de cima.
P1 – E o SPC, não tá lá ou ele é?
R – Não, o SPC, ele pertence à associação comercial, tá, aonde também eu sou diretor da associação comercial.
P1 – Por quê alguns lugares o SPC é do sindicato e outros é da associação comercial, o senhor sabe, seu Nilson?
R – Isso, porque na época é o que se destacava mais, entendeu, em São José dos Campos, o SPC é do sindicato, né, já Taubaté aqui não, Pinda também não, Guará também não, Cruzeiro não, que essa é mais ou menos a nossa regional aqui, né, são poucos os sindicatos que têm o SPC, aí dependeu muito na época do destaque de cada entidade, né, as vezes tinha cidade que não tinha sindicato, primeiro veio a associação comercial.
P1 – Mas acaba sendo, a área de atuação é quase a mesma, não é?
R – É, quase a mesma, a parte da associação comercial é mais trabalho no SPC, né, na proteção ao crédito, né, e o sindicato é mais pra, vamos dizer assim, ele tem mais poder jurídico, né, ele quer (lisar?) a conciliação trabalhista, né, ajuda na conciliação trabalhista, né, ele dá toda assistência ao patrão, né, na parte jurídica, né, ele, vamos dizer assim, ele tem os acordos coletivos, né, os reajustes, né, os horários do comércio, né, então aí presta seus serviços, né, procura ajudar tudo possível na parte do comércio, né, também qualificando os empregados e funcionários do comércio.
P1 – Essa, o senhor falou muito dessa parceria com o SESC, né, isso é fundamental pra fortalecer o comércio da região, ou é só uma coisa mais, mesmo, pros funcionários do comércio?
R – O SESC?
P1 – O senhor acha que essa parceria acaba ajudando a fortalecer também o comércio, porque ele é mais voltado pro comerciante, né?
R – Não tem dúvida, só pra você ter uma idéia, nós tamos numa campanha agora de natal, tá, somente do sindicato, o sindicato que está proporcionando essa campanha, tá, e o que você acha que eu já consegui com o SESC, são dois eventos pra praça principal da cidade, tá, um conjunto musical, trem, me perdoe, eu esqueci o nome, tá, essa cantora famosa, Cecília Militão, quer dizer, isso nós vamos levar na praça, a noite, na hora do comércio, aí vai atrair as pessoas pra vim ao centro da cidade, sabe, e nós atuamos muito na parte cultural com o SESC, então essa parceria, nós ajudamos o SESC, e o SESC nos ajuda, na organização, na divulgação, sabe, muito na parte cultural, você vai ver que num daqueles jornal que eu trouxe pra você, nós fizemos uma programação, o SESC nos trouxe um conjunto da Dinamarca, de ginastas da Dinamarca e em Lorena tem também um muito bom que é o GRD, também de ginasta, né, nós conseguimos colocar nesse clube lá de Lorena, mais de 4 mil pessoas e gente lá fora querendo entrar, até artistas famoso, como Chitãozinho e Xororó, não conseguiu, lotação total do clube, nós conseguimos, quer dizer, tudo isso você divulga o sindicato, você divulga o SESC e mostra pro comerciante que você tá atuante, né, tudo isso ajuda, né, a desenvolver a cidade, sabe, e vários e vários eventos que nós já, o dia do desafio, foi que nós conseguimos, não tinha em Lorena, então através do SESC eu trouxe o dia do desafio, e o que fez? Movimentou a cidade inteirinha, você deve conhecer bem o dia do desafio, né, então tudo isso ajuda o sindicato e ajuda o comércio, né, você movimenta a cidade, você traz as pessoas pra rua pra consumir.
P1 – E é normal ter atividades do SESC pro pessoal de Lorena. E aí a turma é filiada ao SESC, os comerciários...
R – Não, não tem nada, ele é associado do sindicato, tá...
P1 – Porque não tem a sede, né, do SESC, então fica...
R – É, justamente isso, são apresentações, né?
P1 – Mas eles ganham descontos?
R – Não, não se cobra nada, é tudo gratuito, o sindicato, até você hoje chegar no sindicato e quiser uma sala nossa de curso lá, né, e quiser fazer curso pra teus funcionários, coisa, você vai chegar lá, é gratuito.
P1 – Dos filiados?
R – Dos associados.
P1 – E isso é comum, o pessoal fazer curso?
R – Não, não é comum, como você diz comum?
P1 – Alguma loja querer fazer curso...
R – Sim, isso é normal, nós temos lá de calçados, que querem fazer palestras pros seus funcionários, né, lojas, né, dar curso mesmo, né, vamos supor, essas empresas de perfume e coisas, quer fazer uma divulgação, isso é normal.
P1 – Então, o comerciário de Lorena é melhor treinado, podemos dizer assim, já que tem espaço e tem sempre?
R – Tem, bom, eu não posso dizer, assim, que são melhor treinado, mas ele tem oportunidades, porque tem a associação comercial que também faz, os sindicatos também dos empregados e do comércio também faz e fora aquelas outras empresas, também, né, quer dizer, então todo mundo trabalha na mesma direção, né?
P1 – É, o senhor tinha dito que 70%...
R – 70%, isso é estatística, 70% dos empregos em Lorena, quem dá é o comércio.
P1 – Isso significa quantos empregos, seu Nilson, o senhor tem idéia?
R – Ah, não tenho, sinceramente eu sei mais dos empregados...
P1 – Quantos associados tem o sindicato?
R – Bom, aí, veja bem, o comércio que eu digo, é o comércio em geral, né, o sindicato é o sindicato do comércio varejista, então tem outros segmentos do comércio, né, não é só do comércio varejista, existe o comércio de bares e restaurantes, né, que é outra categoria, né, então é difícil você ter, assim, uma idéia sobre isso, né?
P1 – De qualquer forma, o sindicato dos empregados, também deve ser uma entidade forte?
R – Lá você tem, assim, vamos dizer também, locadora é outro segmento, né, outra categoria, né, então tem várias, o comércio num todo, né, é responsável por 70% do emprego em Lorena.
P1 – E o relacionamento entre patrões e empregados em Lorena?
R – Lorena, ótimo, eu tenho lá o presidente do sindicato do comércio, lá, não é um inimigo, pelo contrário, um amigo, por sinal, o sindicato é na calçada da minha casa e do meu estabelecimento, então nós nos reunimos pra bater papo na porta do meu estabelecimento, né, quer dizer, existem muitos, né, mas acredito, acho, que não tem dois que se dão tão bem como nós, tudo nós resolvemos, nunca tive problemas, o rapaz sério, um presidente sério e dedicado, entende, né, os problemas da cidade, quer dizer, então se dá muito bem.
P2 – Precisava fechar a trajetória...
P1 – É, exatamente, eu queria voltar lá, quer dizer, depois do atacadista, do Benjamim, depois daquela maluquice toda, de todo dia tinha um monte de pedidos, é, eu fico imaginando, devia de ser uma coisa...
R – Foi muito bom, foi muito bem, graças a deus, eu me dei muito bem...
P1 – Mas também aprende, né, senhor Nilson, não é uma escola isso?
R – Ah sim, foi uma escola, o comércio é uma escola, né, o comércio é interessante, ou venda atrás do balcão ou na rua é a mesma coisa, né, o cliente é o mesmo, né, as vezes com o nível diferente, mas o cliente é o mesmo, né, só que em todo lugar você tem cota a cumprir, então o comércio é sempre assim, é desgastante, né?
P1 – Tinha alguma coisa, por exemplo, o senhor como um vendedor: “Vamos reforçar a venda de tal produto.”, isso existia?
R – Sim, e pra isso você recebe prêmios, né, recebia prêmios, essas coisas, as vezes vinha...
P1 – O senhor não só tirava pedido, o senhor também fazia a venda, né?
R – Sim, eu fazia o merchandising, eu fazia sim, não tem nem dúvida, você mostrava, né, levava, o biscoito, as vezes, naquela época, é interessante o seguinte, eu aprendi muito com o supervisor, né, ele tinha, lógico, se eu fosse seguir eu não seria um vendedor, mas muita coisa eu aprendi com ele, né, ele levava um pacotinho de biscoito, ainda chegava pra pessoa naqueles armazenzinhos, que as vezes andava até pedaço de terra, né, estrada de terra, né: “Ah, o senhor já experimentou um biscoitinho?”, quer dizer, então tinha até aquela coisa do antigo, né, que hoje não se faz mais, né, ainda mais a televisão que vende tudo, né, praticamente o vendedor hoje é tirador de pedido...
P1 – Acho que ainda, não vale ainda essa coisa?
R – Ah, a cidade grande, bom, a não ser bem pequeno comércio, né, pra chegar num supermercado e for fazer isso, o dono te bota pra fora, né?
P1 – Então, aí o senhor ficou 1 ano no Benjamim?
R – É, fiquei 1 ano e pouco, não quis ficar mais, até queriam que eu ficasse, tal, graças a deus, queriam me promover, eu falei: “Não, é muita loucura, essa estrada não dá.”, né, aí a casa eu tinha três pequenos pontos de comércio, que eu alugava, né, aí um deles que tinha uma sapataria, que era justamente o da esquina, tinha a sapataria e além de consertar sapato, ele vendia umas sandálias, umas bolsas, aí falou que queria vender, até estranhei, né, falei: “Você quer vender seu comércio, não faça isso, pensa aí.”, “Não, quero vender, quero vender pra você.”, eu falei: “Não, pensa, te dou mais uma semana pra pensar, não faça isso.”, tal, porque ele vivia daquilo, né: “Não, porque eu vou arrumar um ponto menor, não sei o que, tá, tá, tá, mas não foi problema de aluguel nem nada, aí dei mais uma semana pra ele: “Você tem certeza?”, “Tenho.”, eu poderia até pedir o ponto, porque era meu: “Eu te dou um prazo de um ano pra você ficar, mas depois você me entrega.”, mas eu resolvi: “Não, quanto você quer?”, “Tanto, X, tal.”, “Não posso pagar de uma vez, posso te dar tanto, tal.”, até vendi um carro, que tinha na época, pra inteirar o dinheiro e comprei aquela sapataria dele, só que não ia consertar sapato, que eu não entendo de consertar sapato, né, aí resolvi mudar, aí eu fui pra São Paulo, fui buscar uma mercadoria, aí resolvi por bolsas e chinelo, sabe, e bijuteria e fui mudando e fui com o tempo, aumentando a loja, aí eu já entendia bem de brinquedo, porque no Benjamim eu vendia muito brinquedo, quase todas as marcas de brinquedo do mercado, aí resolvi colocar brinquedo devagarzinho, né, aí fui colocando brinquedo, aí vi que Lorena era carente, né, nessa parte, principalmente de brinquedos populares, existiam algumas lojas de brinquedo, mas era brinquedo mais sofisticado pra época, tava entrando na época alguma coisa de importado, já naquela época e resolvi investir nisso aí e, graças a deus deu certo, aí fiquei bem, uns 10 anos com o nome de Carinhos Presentes, porque era direcionado à ala feminina, né, às mulheres, né, que era bolsa, tal, mas vi que, puxa vida, estou com brinquedo e estou com Carinhosa Presentes, aí resolvi mudar de nome, passou a ser Juju Brinquedos e, graças a deus a gente toca, trabalha eu, minha esposa e mais uma funcionária, é uma loja pequena mas.
P1 – E vender brinquedo deve ser, porque as crianças querem experimentar o brinquedo, não é, senhor Nilson, como que é isso, o cliente é a criança, ou é o pai da criança?
R – Olha, a criança pede e os pais que decidem.
P1 – A criança não decide, nem hoje?
R – Olha, não digo, que, né, vem aquele que vem determinado: “Eu quero tal brinquedo.”, às vezes que quer aquele brinquedo chega, por ver uma variedade muito grande, ele se perde, ele fica, aí a mãe: “Não é esse aqui que você quer?”, não, aí ele já tá olhando aquele outro, ele tá olhando, ele já deu volta na loja, aí entra o pai e a mãe, aí ele escolhe um: “Ah não, esse aí não, esse é grande demais pra você, isso aí vai quebrar fácil, isso aí vai fazer, não sei o que.”, aí passa a decisão a ficar para os pais, e isso é interessante, sabe, já tem gente que fica na loja, já ficou na loja quase 1 hora na loja nesse jeito, brigando, quase com o filho, impondo o desejo dela, é interessante, sabe...
P1 – Mas é isso que eu tava pensando, não é rápido vender brinquedo, né, uma coisa mais complicada mesmo.
R – É sempre complicada, a não ser quando a criança vem muito determinada, né?
P1 – A não ser que não leve a criança, aí é rápido, aí chega que não vai ver pega, mas quando vai com a criança...
R – Ah sim, e mesmo ele escolhendo, pra uma criança, ele escolhe aquilo que ele gosta, não aquilo que a criança gosta, é interessante, sabe, quando eu tenho intimidade com a pessoa que é amigo e tal, eu falo assim: “Escuta, é pra você o brinquedo ou pra criança, o que você tá dando pra criança, ela não tá vendo, se você levar aquele ou levar esse, ela não tá vendo.”, aí, as vezes, ela quer dar com, atendendo ao perfil da criança, né, então as vezes fica 1 hora escolhendo, né, e bem interessante, né?
P1 – Você vende pra todas as idades, brinquedos?
R – É, até a faixa, mais ou menos, de 15 anos, a não ser que você que não seja brinquedo, mas é boné, né, e também os jogos, né, alguns jogos mais adulto, tem também pra adulto, né, e também se vende pra senhoras até de 60 anos, é boneca.
P2 – Tem mesmo?
R – Sim, tem senhoras que: “Vim comprar essa boneca pra mim.”, é interessante, tem sim.
P1 – E que tipo de boneca, assim, tem um tipo especial ou é uma boneca, ou são várias bonecas?
R – Não, ela as vezes não quer aquela boneca que tá na mídia, ela olha aquele rostinho bonitinho, um pouco ainda mais, aquelas bonecas antigas, né, que traz um semblante ainda daquele, né, então ela vê muito por isso, né, e tem senhoras de 60 anos: “Ah, quero aquela boneca pra mim.”, e vai e compra pra ela.
P1 – Legal isso, né, e o senhor vende de todas as marcas, brinquedos de todas as marcas?
R – Sim, eu trabalho hoje, praticamente todas as marcas, o que está na mídia, todas as marcas.
P1 – Todas as marcas, ainda tem ainda alguma fábrica que se destaca, como a Estrela, assim, que se destacou no passado...
R – Sim, a Estrela...
P1 – Ainda a Estrela?
R – Sim, a Estrela é a Estrela, né, hoje se destaca a Estrela, na linha de bonecas, a Cotiplas, na linha de personagens e essas coisas, a Matel, né, que vem com a Barbie, esses, Hulk, Max Steel, né, ela se destaca muito nisso, né, outras destacam em jogos, a (Gemini?), em jogos eletrônicos, né, outras se destacam na linha de plástico, caminhãozinho, né, então tem vários segmentos, né?
P1 – E o senhor tava dizendo que o senhor optou por uma linha mais popular...
R – Na época sim, uma linha mais popular.
P1 – E aí fez logo, sucesso a sua loja...
R – É, sim, esse popular fez sucesso durante um bom tempo, até que surgiu o 1, 99, aí eu tive que mudar de estratégia, aí eu tive que deixar de trabalhar com produto de preço baixo, para passar pra uma linha maior, justamente por isso, hoje eu trabalho com todas as fábricas, né, só não trabalho com brinquedo grande, muito grande, porque eu não tenho espaço, né, que são parquinhos, essas coisas, mas eu tenho praticamente tudo que tá na mídia.
P1 – O quê mais vende, senhor Nilson, que brinquedo mais vende?
R – No geral, a boneca ainda se vende mais, depois você passa por super heróis, né, hoje a febre, na cidade, em São Paulo, tá o pião, né, o (Blai-Blaide?), esse é hoje, né, a febre que tem, isso em todo lugar. Então isso vai indo, sei até, porque o Max Steel, um super herói, primeiro vem a boneca, porque parece que se gosta de dar mais brinquedo pras meninas, né, isso é indiscutível...
P1 – Menino dá uma bola e pronto, né?
R – Alguns jogos, uma flecha, um qualquer coisa, um arco e flecha, qualquer coisa que você dê pra um menino, né, uma trave, uma coisa de basquete, né, boné, essas coisas, eles adoram, né?
P1 – Quer dizer que o senhor tá nesse ramo de brinquedo há 12 anos, é isso?
R – É, desde 91.
P1 – É, 12 anos, mudou em relação à segurança pras crianças, dos brinquedos, da época que o senhor começou?...
R – Do brinquedo, sim, nossa, muito, o Inmetro hoje se destaca e nos ensinou também, muita coisa, hoje se uma pessoa vem comprar um brinquedo pra uma criança menor que 3 anos, a gente já tem que fazer um trabalho: “Olha, não leva esse, esse tem ponta, esse é tóxico, solta tinta, esse quebra fácil, pode engolir, peça pequena.”, então tem um trabalho muito sério, né, a gente faz.
P1 – O consumidor ainda não tá consciente disso?
R – É, tem muita gente que não tá consciente, você tem que tá explicando: “Quer levar um brinquedo, olha, vou explicar, a senhora quer levar.”, eu, principalmente trato assim, eu quero tirar minha responsabilidade, que amanhã ou depois pode chegar: “Ah, o senhor vendeu um brinquedo, o brinquedo quebrou, a criança pôs uma peça na boca.”, então eu explico direitinho antes: “Olha a faixa etária disso aí.”.
P1 – Porque esse Max Steel, por exemplo, deve ter um monte de pecinha, né, senhor Nilson, mas os pequenos também querem, né, as crianças menores...
R – E você passa outra situação também, que as vezes tem o pai que quer dar um controle remoto pra uma criança de 1 ano, aí você fala: “O senhor quer levar, pode levar, só que eu não posso te dar garantia nenhum, primeiro que não vai saber nem mexer, né, e segundo, ele vai quebrar em 10 minuto.”, aí depois: “Oh, o brinquedo não tá funcionando.” A linha de brinquedos, é difícil trabalhar, não é fácil, não, você tem que ter um certo tato, sabe, que você não pode só vender não, pega na prateleira e tá vendendo.
P2 – E dá onde que vem o nome da sua loja?
R – Da minha filha, da Juliana.
P1 – Juliana, e quem compra mais, a mãe ou o pai?
R – A mãe, pai é pouco, que a mãe é que decide, ela que vem com o filho, ela que mais escolhe do que o filho, a não ser quando já vem muito mesmo: “Quero tal jogo.”.
P1 – Tem algum caso pitoresco que tenha acontecido, assim, em relação a isso, alguma discussão entre?
R – Ah tem viu, eu só não me lembro, assim, sabe, mas muitas vezes o pai saiu brigando com a mãe, porque queria, o filho nem se fala, né, sai chorando, batendo o pé, e não tem jeito, né, e tem pai que, a mãe quer dar um patinete pro filho, o filho tem 3, 4 anos, quer andar de patinete, o pai não quer, é perigoso, e não sei que, então sempre tem, sabe, algumas discussões, tal, mas a gente entra no meio, consegue controlar a coisa, né?
P1 – E a sua loja funciona de que horário, a que horário, senhor Nilson?
R – Bom, eu mesmo chego, abro em torno de 8 e meia, né, a funcionária chega às 9, né, e fecho em torno de 6 e 20, 6 e meia da tarde, as 18 e 20, 18 e 30.
P1 – De segunda à sexta?
R – De segunda à sexta.
P1 – E aos sábados?
R – Sábado eu fico até 1 e meia, 2 horas, depende.
P1 – Comércio de Lorena abre de domingo, seu Nilson?
R – Não, só os supermercados só, só os supermercados abrem de domingo, e os bairros abrem também, muitas lojinhas no bairro, né, hoje os bairros são muito fortes em comércio.
P1 – O senhor falou que a sua loja é pequena mas pra brinquedo tem que haver uma certa disposição dos produtos, não é senhor Nilson, como que o senhor faz isso?
R – Sim, todo brinquedo meu é exposto...
P1 – Todo?
R – Todo, o cliente tem acesso a todos, eu mudei, antigamente eu tinha balcões, ficava atrás do balcão, a prateleira atrás do balcão, tal, hoje não, hoje eu tenho, praticamente é um supermercado, que a pessoa chega, olha, tal, escolhe, vem, embrulha, né, faz o pacote, então, hoje, tudo tem acesso, pega, examina, lê, não tem problema.
P1 – E, então, o senhor tem embalagem pra presente?
R – Não, não tem, não tenho porque o brinquedo é muito de forma, né, ele é difícil, tem aquela caixa, uma caixa é um tamanho, é impossível, né, a não ser determinado produto, por exemplo, você quer um boné, que é difícil embrulhar, você pode fazer um pacote e deixar lá, chega e coloca, né, naquele boné, uma cartela, que se vende muita cartela de super heróis, né, então você pode fazer mais ou menos de um tamanho, quase todas o tamanho são iguais, mas o resto embrulhar, é essencial, o embrulho é essencial.
P1 – Mas tem o papel de presente, então?
R – É só papel de presente.
P1 – Ou as sacolinhas as vezes que não é presente, ou não, sempre embrulha no papel de presente?
R – Sempre no papel de presente, a não ser quando: “Ah, isso eu não quero que embrulhe, põe na sacolinha.”, ou as vezes, você embrulha, vai por na: “Não, eu to com o carro aqui.”, então, quer dizer, é de acordo com o gosto do freguês.
P1 – E qual é a forma de pagamento, na sua loja?
R – Eu trabalho, o normal, sempre em dois pagamentos, tá, tenho dois preços, preço a vista e dois pagamentos, quando é uma compra em maior valor, eu parcelo até em três vezes, tudo com cheque.
P1 – Com cheque, cartão de crédito o senhor não trabalha?
R – Sim, agora cartão de crédito eu comecei há pouco tempo agora, porque eu tenho já, uma freguesia selecionada, até, infelizmente eu vou dizer assim, eu entrei no cartão de crédito, sabe, porque pro tipo de, como eu trabalho na minha loja, o cartão de crédito me dá prejuízo, o custo do cartão de crédito eu poderia tá dando pro cliente, né, então eu, assim, na minha loja, praticamente, eu digo que quase 90% das minhas compras eu compro a vista, pra ganhar um desconto e dar pro freguês esse desconto, então é uma forma de eu atrair meus clientes pelo preço, né, porque a qualidade do brinquedo é todo igual, né, então você, por não ser na rua principal, né, ser numa travessa, alguns quarteirões do centro mesmo comercial, você tem que ter algum atrativo, né, e também o meu custo também é menor, por ser no prédio próprio, trabalho eu, a esposa e um funcionário, então a gente tem condição de ter uma margem e o cartão de crédito rouba bem essa margem da gente, viu?
P1 – Pois é, seu Nilson, todo mundo reclama disso e há alguma conversa com as administradoras de cartão?
R – Há, mas o valor dos juros hoje é muito alto, né, você vê hoje o cartão de crédito, ele tá na faixa, mais ou menos, de 4% ao mês, mais o custo da máquina, né, quer dizer, se você der aí 4, vamos supor, com o custo do aparelho, ele vai pra 5%, tá bom, você dá 5% de desconto, é um descontão hoje, numa inflação pequena que nós temos, só se você comprar uma mercadoria por 100 reais, você paga 95, você anda um bom pedaço a pé pra ganhar 5 reais, porque 5 reais é dinheiro, né?
P1 – E essas, também tem a, também é outra coisa que os comerciantes, em geral, reclamam, o custo, não só da máquina do cartão, como também, desse débito automático, também são máquinas muito caras...
R – Eu não tenho débito automático, não, sabe, agora eles vieram com uma proposta até essa semana eu to aguardando, eu não estava lá, eles passaram pra minha esposa, estou aguardando já, com um custo bem menor da máquina, né, com o cartão de crédito e débito automático, acoplado no cartão de crédito, né, como.
P1 – Então, se eles tão diminuindo o custo é sinal que eles tão sentindo então essa resistência, né?
R – Estão diminuindo o custo, mas o custo dele, é isso que eu digo pra você, em torno de 5%, né, que é de desconto, e você só recebe com 30 dias, se você analisar hoje esse dinheiro, o custo desse dinheiro no mercado, você esperar com 30 dias pra receber, fica mais alto do que os 5%, né?
P1 – E o senhor faz promoções na sua loja?
R – Sim, eu faço promoções da mercadoria, só, né, em si, não faço esse tipo de, no caso seria divulgação, em mídia muito pouco.
P1 – Mas promoção na loja sempre foi assim...
R – Promoção na loja, sempre eu tenho.
P1 – Papai Noel, no natal?
R – Não, não faço.
P1 – Mas tem o Papai Noel, o sindicato vai trazer, ou não?
R – Não, veja bem, a promoção do sindicato é um pouco diferente, sempre existia uma parceria entre a associação comercial e o sindicato nessas data festivas, né, dia das crianças, dia dos pais, dia das mães e natal, então nós tínhamos uma parceria, aí eu cheguei a conclusão que não é essa a finalidade do sindicato, eles faziam a promoção de sortear carro, motos e vários prêmios, né, aí eu falei: “Não é essa a função, a função do sindicato é atender ao comércio, no geral e o comércio varejista, né, e o comerciante.”, hoje empresário, né, então eu falei: “Olha, eu acho melhor vocês ficarem com essa parte e eu vou trabalhar diferente, vou trabalhar em cursos, vou trabalhar.”, que o dinheiro que eu vou gastar nessa promoção, eu vou direcionar, que é o lado certo que o sindicato tem que prestar serviço e assim foi, isso já faz uns 2 anos, né, agora este ano a associação não vai fazer campanha nenhuma de natal, porque ela mudou pro prédio novo, tal, a despesa, tal, então eu bolei uma campanha diferente, trabalhando para o comércio de Lorena, então eu to fazendo uma campanha de divulgação do comércio de Lorena, somente do comércio de Lorena, sem distribuir prêmio nenhum, mas colocando na televisão, rádio, jornal, carro de som, panfleto, faixas, eventos, que é justamente isso que eu falei do SESC pra você, então nós tamos fazendo uma campanha diferente e toda bancada pelo sindicato, todo custo bancado pelo sindicato, quer dizer, até uma coisa inovadora, pelo menos pra nossa cidade, sabe, um apoio da prefeitura, com apoio da prefeitura municipal, mas somente na parte de colocar as faixas, de não ceder o espaço da praça principal, né, que é o anfiteatro vamos ver lá, assim, na praça, né, então é só isso e o sindicato tá fazendo esse tipo, que foi muito bem aceito, pelo menos por toda minha diretoria, né, e já conversei com alguns comerciantes, vamos começar a partir de segunda feira, a televisão deve começar a partir do dia 13 ou dia 15, e aí vai estar na TV Vanguarda, tá, em horário bom, quer dizer, então a gente vai tá divulgando bem, sabe, vai ter carro de som pela cidade, panfleto, vai ser bem, todos os jornais já foram contratado pra divulgar, quer dizer, a coisa vai, então nós esperamos que tenha um bom resultado, pelo menos acho que reclamar ninguém vai, porque não teve custo pra ninguém, né, só pro sindicato, né, então.
P1 – É importante o poder público ter essa percepção da importância do comércio, e ajudar nesse sentido?
R – Ah, sim, praticamente toda prefeitura ajuda o sindicato, a associação comercial, nesse ponto, sabe, os outros anos, quando a associação comercial fez lá, nós fizemos também, junto, a prefeitura ajudou muito nisso aí, pagava a energia elétrica, tá, dava um certo dinheiro pras despesas de combustível, pro carrinho, o trator que andava pela cidade, então a parceria é necessária com a prefeitura e geralmente todo prefeito ajuda, né, porque a finalidade do sindicato, da associação é só incentivar o comércio de Lorena, pra vim mais o que? Mais impostos, né?
P1 – E o senhor também tem um cargo na associação comercial?
R – Tenho.
P1 – O quê o senhor?
R – Eu sou segundo tesoureiro, né, na associação comercial.
P1 – Não há conflito, entre essas duas?
R – Não, pelo contrário, não há conflito, de jeito nenhum, nós, o ex-presidente do sindicato o (Manfram?) também foi presidente lá na época que ele também, vice-presidente lá, né, na associação comercial, quer dizer, então não há, nós se damos muito bem, só que eu defini a função do sindicato, né?
P1 – Mas é interessante, não é todo lugar que é assim não, né, senhor Nilson, que a gente vê mais é o sindicato ainda...
R – Conflito, você diz isso? É, geralmente tem aí um ciúme, né, um ciúme, que uma parte quer fazer mais que a outra, então, por isso até, quando eu defini isso aí, pra justamente não haver esse encontro, né, se a associação fosse fazer uma campanha eu não iria nem pensar, apesar que a minha é completamente diferente da deles, né, mas eu não ia fazer campanha, eu achei só que é uma coisa diferente é uma coisa, tanto é, que o slogan, o texto, tudo, é direcionado ao comércio de Lorena, você consumir no comércio de Lorena.
P1 – O senhor lembra o slogan?
R – É, a primeira parte é assim: “Neste natal é bom ter você aqui.”, quer dizer, ele tá te atraindo, né: “O comércio de Lorena realizando os teus desejos.”, aí tem mais alguma coisa, um texto, que hoje eu não sei mais dessa parte, né, o começo, né, esse: “É bom ter você aqui.”, é justamente pra chamar, né, pra dizer, a atenção do comerciante, quando ele entra na loja, né, o consumidor entra na loja ele já: “É bom ter você aqui.”, né, quer dizer, vamos conscientizar, então, os comerciantes e empresários de Lorena a, né, ter, participar também, né, porque o comerciante, ele é difícil você lidar com ele, porque ele já trabalha o dia todo, né, tem os funcionários, a preocupação, chega a noite, quando ele fecha o estabelecimento, ele tá loco pra ir embora pra casa, ele vai participar de reunião, de confraternização, até ele é difícil participar, né, então o comerciante é difícil pra essas coisas, ele quer ir embora pra casa, ficar com a família, deitar, ver televisão, então é bem difícil você encontrar pessoas que se dediquem nessa parte, né, falam no sindicato mais a dificuldade é grande, as vezes, a hora que você precisa, um diretor não pode, porque tem isso, tem aquilo, e tem o compromisso dele, mas vai tocando, graças a deus, o sindicato de Lorena, o sindicato é bem forte.
P2 – E enfeitam as vitrines, os comerciantes, não só pro natal, mas pra outras ocasiões?
R – Muito pouco, nós já demos até cursos, bom, eles colocam coisas simples, né, esses cordões de lâmpadas, né, mas muito pouco, mas sempre colocam alguma coisa, mas dizer, assim, vamos supor, dia da independência, vamos enfeitar aqui com coisas do país, né, então é muito pouco.
P1 – O senhor acha que é importante isso?
R – Sim, eu acho que pro comércio tudo é importante, eu acho que o que você passa de vulgar, a mostrar, eu acho até, tudo que você fizer diferente, eu até tenho uma coisa, eu tinha uma amigo, antes de ter comércio, ele era despachante da, e justamente ele estava nessa, onde é a minha loja hoje, aí ele chegou pra mim e falou assim: “Poxa, eu to querendo pintar a frente da minha loja.”, eu falei: “Acho uma boa.”, “O que você acha, que cor você acha?”, eu falei: “Eu acho que você deve pintar uma faixa preta, uma vermelha e uma branca.”, “O que é isso?”, eu falei: “Não, eu acho que você deve pintar, porque se alguém lá no centro perguntar onde é o despachante Pacaré, olha, desce aqui, na hora que você encontrar uma casa pintada de preto, uma de faixa preto, uma de branco e de vermelho, é ali.”, você sabe que ele pintou, é, ele pintou uma de preto, uma de vermelho e uma de branco e chama atenção, se você pegar tal rua: “Tá vendo aquele comércio lá, tá pintado de amarelo, naquela esquina você vira.”, então tudo que você faz, você chama atenção.
P1 – O senhor adota isso no seu comércio?
R – Por ser um comércio pequeno, eu já exponho toda a minha mercadoria, mas na minha porta você vai ver esse verde, um verde abacate diferente, pintada a parede, ele tem vários brinquedos pintado na parede, ele tem tipo de um quadro, vamos dizer assim, né, uma menininha brincando com uma bola, puxando um triciclo, ele é diferente, se você for bater o olho, ele é diferente, ele tem um verde diferente, e os brinquedos todos, as marcas dos brinquedos, entendeu, então eu acho que tudo tem que ser diferente.
P1 – E onde o senhor conheceu a sua esposa, seu Nilson?
R – Em Lorena, num baile de carnaval.
P1 – Opa, carnaval de Lorena era bom?
R – Não, eu já a conhecia mas como esses, ah, sim, sempre foi, era muito bom o carnaval de Lorena, era num clube, né, nós nos conhecemos, quer dizer, começamos a namorar...
P1 – O senhor já a conhecia?...
R – Conhecia de vista, mas não tinha amizade...
P1 – Da onde o senhor conhecia, da paquera na praça ou não?
R – Da paquera da praça não, a paquera era mais pra 15, 16 anos, já tinha 20 e tantos anos, mais ou menos.
P1 – E o senhor a conheceu então, quer dizer, começou a namorar num baile de carnaval?
R – Num baile de carnaval.
P1 – Ela usava fantasia, o senhor também ou não?
R – Ela usava aquele tipo sarungue, né, uma coisa assim, né, aquilo amarrado, tal, barriguinha de fora naquela época, tá, eu lembro disso só.
P1 – O senhor não tava fantasiado?
R – Não, eu já não tinha, nessa época eu não usava, a idade já não.
P1 – Aí começaram a namorar, namoraram quanto tempo?
R – Nós namoramos 2 anos, aí nos casamos...
P1 – Casaram em Lorena mesmo?
R – Lorena mesmo, ela era professora, na época, ficou algum tempo como professora, depois eu abri o comércio, ela foi me ajudar no comércio.
P1 – E o casamento, foi bonito?
R – Foi bonito, um casamento simples, né, porque eu sem dinheiro na época, tal, até o álbum é preto e branco, quer dizer, então é uma coisa bem simples.
P1 – Que ano que vocês casaram?
R – Nós casamos em 72.
P1 – 72, saíram pra viajar, em lua de mel?
R – Não, nós tínhamos, o tio dela tinha uma chácara a caminho de Canos ali, de Cachoeira e nos cedeu a chácara, nós passamos a lua de mel ali.
P1 – Logo voltaram e já...
R – Trabalhar.
P1 – Trabalhar. E o senhor gosta de fazer compra, seu Nilson, compras pessoais?
R – Não sou muito, assim, sei que lá, vou comprar tal coisa, não sou muito chegado nessa parte...
P1 – Quem compra é a Eliane, né, sua esposa?
R – É, as minhas roupas, a maioria eu que compro e ela me dá alguns presentes quando ela vê, sabe que eu to querendo alguma coisa, assim, ela que compra.
P1 – E o senhor tem filhos, tem a Juliana?
R – A Juliana, eu tenho um filho, ele vai fazer 29 anos agora, é o mais velho, chama Nilson também, ele está na Alemanha, ele trabalha pra Auston, antiga Auston aqui de Taubaté, hoje a Siemens comprou e ele está só, na Alemanha, 1 ano, torcendo pra que venha dia 13 agora, que ele vem dia 13 de dezembro.
P1 – E a Juliana tem que idade?
R – A Juliana ela tem 22 anos, ela tem síndrome de down, mas é uma coisinha.
P1 – Deve adorar passear no _____, né?
R – Nossa senhora, ela ajuda na loja, trabalha na loja, então hoje, como eu fui pra São Paulo, ela fica o dia inteiro com a mãe na loja, tem responsabilidade, apesar de ter o problema dela, ela ajuda muito, inteligente, estuda até na escolinha, até hoje ainda, ela é o xodó da família, companheira, acho que até ali deve ter foto dela.
P1 – Legal, e faltou a gente perguntar alguma coisa, senhor Nilson, que seria?
P2 – O sotaque, seu Nilson, o que é esse seu sotaque, a forma como o senhor fala, porque o senhor viajou pelo Vale inteiro, cada um fala de um jeito, quando vai chegando mais pro Rio, vai falando mais (carioquês?), como que é isso, essa coisa de...
R – Por causa do meu pai, porque Bananal, a população de Bananal é quase toda do Rio de Janeiro, então isso vem de criança, meu pai, aquilo, meu pai era muito exigente, até que falava não tinha falar (porrta?), essas coisas, né, então a gente pra poder assimilar o que ele queria dizer e falar, né, o que ele queria, né, a gente então, em casa, praticamente, misturamos um pouco de carioca com...
P1 – Então esse é o de Bananal?
R – De Bananal.
P1 – E o de Lorena, como é, seu Nilson?
R – O de Lorena não é tanto como o de Taubaté, não, sabe, assim, um sotaque mais carregado, Lorena tem uma média, não é tanto assim, tanto (porrta?), ou esse tipo de coisa, tá, Lorena não é tanto, aí vem subindo, Guará mais um pouquinho, Taubaté ainda e ocê, né, então quando vai se aproximando mais do Estado do Rio, vai se mudando o sotaque.
P1 – Então, faltou alguma coisa que o senhor achasse importante colocar nessa entrevista, essa coisa do fortalecimento de Lorena, do comércio. O senhor acha então que dentro de 5 anos, 10 anos, Lorena realmente...
R – Não, não chega nem 10 anos, acho que 5 anos, porque começou bem, o desenvolvimento de Lorena, sabe, e todo mundo tá se empenhado, o sindicato participa, associação comercial, todo mundo empenhado em ajudar pra que isso aconteça, né, eu sei que você gostaria de saber mais alguma coisa, né...
P1 – Não, apenas se houvesse alguma assunto que nós não...
R – Você quer que eu fale mais do sindicato, do que faz, do que não faz, da minha vida, alguma coisa, o que vocês querem...
P1 – Eu acho que tá bem explicado, né, então eu queria saber que lições o senhor tirou do comércio?
R – Bom, o comércio foi a minha vida, né, o comércio praticamente foi a minha vida, né, e aprendi muita coisa com o comércio, né, o comércio me deu muitos amigos, né, muitos mesmo, o que eu posso dizer mais, bom, o comércio me deu tudo, né, me deu muitos amigos e com esses amigos a gente vai se engrandecendo cada vez mais, né, então o comércio é tudo, né, pra mim eu gosto, eu gosto de tá no comércio, eu gosto de comprar, gosto de vender.
P1 – O senhor acha que, pra ser comerciante tem que ter um dom, ou aprende a ser comerciante?
R – Não, tem que ter o dom, eu acho que quem nasceu comerciante, é comerciante, tá, a não ser se você tiver muito dinheiro e colocar alguém pra fazer lá e a máquina pra fazer, mas o verdadeiro comerciante tem que tá com o umbigo no balcão.
P1 – Esse dom é a conversa, é o convencimento...
R – É, o convencimento, né, é a honestidade de vender aquilo que é pra se vender, com preço justo e não enganar, porque eu acho que comerciante que engana, nunca vai pra frente, ele não perde as vezes um cliente, um freguês só, ele perde vários, porque aí um passa pro outro, então você tem que manter uma linha, um respeito, uma honestidade, pra você conseguir alguma coisa, é igual você ser um bom pagador e mau pagador, pra ser bom pagador, pra andar direito leva um tempão, mas pra perder tudo isso, pouco tempo, você perdeu a credibilidade, o comércio é assim, você perdeu a credibilidade.
P1 – É verdade, e o que o senhor acha do SESC tá fazendo esse projeto, Memórias do Comércio do Vale do Paraíba, seu Nilson?
R – O que eu posso dizer, é que é muito bom, não estou até aqui pra tá participando, né, eu acho que, pelo menos eu não tenho notícias que isso foi feito alguma vez, então eu acho muito bom mesmo.
P1 – O senhor acha que vai dar pra tirar alguma coisa boa, pra enaltecer mais o comércio de um projeto de, com essa característica?
R – Eu acredito sim, porque pelo que eu vejo, você tá ouvindo todo setor, né, então eu acho que tem futuro, e acho que é por aí mesmo, e continuar assim.
P1 – E o quê o senhor achou de dar a entrevista dentro do projeto?
R – Dar entrevista, é a primeira vez que eu faço na vida, eu não sei se eu me saí como vocês pensavam, né, não sei se falei de mais ou se falei de menos, mas eu espero, gostei muito, achei que, até peço pra tirar isso da filmagem, que eu sou muito nervoso e...
P1 – Ah, não parece...
R – Lá em Lorena, eu pago pra não dar entrevista, de jeito, não sei nem como que foi aqui, sabe que eu to vindo de uma reunião, acordei às 5 e pouco da manhã, eu falei: “Meu deus do céu, como é que vai ser.”, tá, você corta isso...
P1 – Então tá bom, só vamos agradecer aqui então, Obrigada, seu Nilson!
R – Eu é que agradeço o convite, estarei sempre às ordens, e quando precisar, estaremos em contato.
P1 – Tá bom, obrigada!
R – Obrigado!