Infância em Taubaté. Descrição da fábrica de calçados. Mudança para loja de calçados. Descrição da atividade do pai e do avô. Educação. Prática de esportes. Competições oficiais. Juventude. Clubes de Taubaté. Descrição de produtos e tipos de clientes. Formas de pagamento e promoções. Atividades atuais.
IDENTIFICAÇÃO
Sou Odil Danelli, nascido em Taubaté no dia 22 de abril de 1930.
FAMÍLIA
Meus pais são Daniel Danelli e Nela Indiani Danelli. Meus avós: Anunciata Indiani, por parte de mãe e Basílio Indiani; Augostinho Danelli e Giovanina, por parte do meu pai. Meus avós quando vieram da Itália, a parte maternal, eles vieram para lavoura, e praticamente viveram quase toda a sua vida na lavoura, mas tiveram fábrica de corda, olaria e outras coisas mais. E por parte paternal, meus avós na Itália já eram sapateiros e sapateiros de banca. Vieram para cá fabricando sapato, botinas, tamanco, naquele tempo, e até passamos ter uma indústria de calçado mais para frente. Por parte do meu pai, eles chegaram em 1893. Eu tenho tudo documentado, escrito. Os maternos vieram um ano depois. Geralmente, os imigrantes eles não saem por gosto: a maioria sai por necessidade. Naquela época, a Itália estava atravessando uma fase muito difícil, então havia necessidade que eles saíssem para procurar uma vida melhor. E eles escolheram o Brasil, estado de São Paulo. Desembarcaram em Santos e vieram para Taubaté. Eu tenho irmãos. Nós éramos sete. Hoje somos cinco.
MORADIA
Nasci e vivi a vida toda aqui. Eu nasci na rua Sílvia Barros, que é uma continuidade da rua Doutor Jorge Winter, e ali fiquei até 1936. Eu nasci em 1930, tinha seis anos. Daí vim para a rua Doutor Winter, onde tem a loja Murad, hoje. Depois eu mudei para a mesma rua, onde é a sapataria Escolástico hoje, número 21. Passei mais para cima, na mesma rua, número 115. Quando casei, fui morar em frente, também na rua... Hoje, estou morando no Jardim Mansur, mas a minha vida todinha foi nessa rua. Naquele tempo não tinha calçamento. Era barro, era terra e poucas lojas. Era mais com residências. Depois foi aumentando, crescendo. Hoje é essencialmente comercial.
INFÂNCIA
As brincadeiras antigamente eram... o futebol, bolinha de vidro, brincar de pega-pega e essas coisas assim. Eu sempre gostei de praticar esporte, de um modo geral. E pratiquei várias modalidades de esportes.
MORADIA
Minha primeira casa era bem pequena. A segunda era uma casa grande, mas era uma casa velha, que foi demolida com o tempo. A terceira é onde hoje é a sapataria. Era uma casa de tamanho médio, ponto muito bom. A quarta onde é Esporte Escolástico, hoje, também é nossa. Era já mais confortável. Daí mudei em frente, onde é o Cheiro Verde hoje. E ali era uma casa bem grande. Quintal grande, frente grande.
FAMÍLIA
Papai teve sete filhos. Antigamente, a preocupação maior era trabalhar. O estudo, inclusive - Taubaté tinha até o estudo secundário. Superior não tinha aqui, tanto que eu parei no secundário. Então a preocupação nossa era trabalhar, mesmo.
COMÉRCIO
A sapataria foi fundada em 1924, seis anos antes de eu nascer.
CIDADES
Taubaté Taubaté era uma cidade pequena naquela época, muito pequena. Eu vi a cidade crescer. Então tinha Taubaté três ou quatro casas de calçados e a nossa era uma das menores, no começo. Depois [foi se] destacando. Hoje, graças a Deus, nós estamos num ponto bom.
FAMÍLIA
Meu avô veio com a profissão de sapateiro e passou para o meu pai. O meu pai chama-se Daniel Danelli. Falecido. Mas ele nasceu no dia de santa Escolástica, e os italianos antigos gostavam de pôr o nome do santo no registro, e ele não foi registrado com esse nome. Mas no batismo colocaram Daniel Escolástico Danelli. E ele era conhecido na família, depois na vizinhança, como Escolástico. E ali ficou até a ponto de pôr o nome dele nas firmas. Quando ele abriu chamava-se Sapataria Lombarda. Em 1936 mudou para Escolástico. Lombarda pela região dos meus avós. É a região que eles moravam na Itália. Papai era um homem muito dinâmico. Foi vereador duas vezes. Ele era esportista. Foi diretor do Esporte por Taubaté. É um homem, não é por ser meu pai, é um homem muito bom. E todo mundo gostava dele. Tinha um círculo de amizade muito grande. Era até bonito ver. Quando o papai morreu - ele morreu em 1970 - eu tinha quarenta anos. Na minha casa não se falava italiano. Meu pai achava que era uma falta de respeito falar outra língua aqui no Brasil. Ele dizia categoricamente: “Nós somos brasileiros. Nós vamos falar o português”. Então sei muito pouca coisa de italiano. O sistema antigo era bem diferente de hoje. Os pais eram enérgicos e faziam questão que você fosse bem no estudo, se preocupavam mais com o trabalho. Hoje a turma se preocupa mais com diversão, e até um pouco ruim isso aí. Mas o papai, ele era um enérgico, não é que ele fosse, assim, bravo: ele pedia e havia respeito. E a gente respeitava.
INFÂNCIA
Comecei a trabalhar com onze anos. Eu saí do grupo com onze anos. Fui estudar à noite na Escola Técnica de Comércio. Já estava ajudando os meus pais. No começo nós tínhamos uma indústria de calçados, e eu era pespontador ou era modelista. Fazia a minha parte na indústria. Depois, mais para frente, nós fechamos a fábrica e continuamos com o comércio, que já tinha também.
COMÉRCIO
Uma das causas que nós fechamos a indústria era por causa de matéria-prima e mão-de-obra, que aqui não era um centro industrial para calçados, como acontece em Franca, no sul no Vale do Sino. Então, o material tinha que ser pego em São Paulo e a mão-de-obra você tinha que contratar e acomodar as pessoas, ser fiador da casa. Era complicado. Mas funcionou bastante tempo assim.
TRANSPORTE
A matéria-prima vinha mais de São Paulo. Naquele tempo usava muito trem como transporte, mas já tinha o Pássaro Marrom, também, naquela época, na estrada - que era estrada de chão. Já tinha estrada Washington Luís, que fazia São Paulo - Rio. Mas usava muito a estrada de ferro Central do Brasil.
COMÉRCIO
Quem fazia a compra dessa matéria-prima era meu pai. Ele ia a São Paulo, ficava o dia todo lá. Trazia com ele as miudezas e despachava as coisas mais pesadas.
EDUCAÇÃO
Fui fazer a Escola de Comércio porque naquele tempo não tinha escolha. Ou ia fazer... Aqui em Taubaté, você saía professor ou técnico em contabilidade. Depois começou aparecer Sesi, SESC, essas coisas, que passou a melhorar muito. Naquele tempo não tinha opção. Na Escola de Comércio, no começo, saía contador. Depois, dois anos antes de eu me formar - formei em 1949 -, daí passou a sair técnico em contabilidade. Saía com conhecimento muito bom de contabilidade e até um pouco de administração, também. E esse conhecimento da Escola de Comércio ajudou no comércio do meu pai, não tenha dúvida. Ajudou bastante. Toda a família fez a Escola de Comércio. Só uma irmã que não fez.
FAMÍLIA
Na firma trabalhou meu pai, minha mãe, uma irmã que morreu meio nova, Odimir - esse que foi meu sócio até 1990, que faleceu - e eu. Hoje tenho um filho meu e um filho do Odimir, um sobrinho meu. Então já está na terceira geração.
LAZER
A diversão era resumida ao fim de semana. Não é como hoje que tem baile quarta, quinta, sexta, sábado... Antigamente, baile era sábado, que a gente trabalhava sábado e não podia ter baile na sexta. Então uma das diversões era o baile. Era o recreio, o footing da praça e cinema. E tinha dois cinemas no centro, ali, e mais três um pouco afastados. Esse sim, esse lotava todo fim de semana. Eu gostava de cinema. Eu gostava muito de filme de vaqueiro. Ao footing da praça a gente ia antes e depois do cinema. Fazia parte. As compras a gente fazia em Taubaté, a não ser alguma coisa bem especial, que então precisava comprar em São Paulo. Mas já tinha o comércio relativamente bom naquele tempo.
CIDADES
Taubaté Tinha a Casa Cabral, uma casa que funcionou muito tempo. E tem casas tradicionais, como a Empório do Norte, a Casa Philadelpho, de cereais. Tinha umas lojas boas naquele tempo. Essa Casa Cabral era mais ou menos filiada à indústria de tecido CTI [Companhia Taubaté Industrial]. Então eles vendiam tecidos e depois passou a vender confecções. Funcionava naquele prédio onde hoje é o Tesourinho do Estado, ali. Era bem grande, na época. Bem grande. Nós gastávamos lá. Todos compravam lá. Naquele tempo não tinha brinquedo, não existia esse plástico que hoje é muito fácil fazer brinquedo e nem tampouco esses brinquedos... Esses carrinhos de metal, assim, a indústria antigamente, era madeira, era coisa mais simples. E os pais não gastavam muito com brinquedo, não. Hoje é um exagero, mas naquele tempo não tinha, não.
CASAMENTO
Antes do cinema - as turmas chegavam uma hora antes para passear na praça, tal. E ali conheci a minha esposa. Por sinal, ela passou a morar pegado à minha casa. Daí ficou mais fácil. Eu tive outras namoradas, mas essa, a Maria Dulce, que conseguiu. Estamos casados há 44 anos. Casamos em 1959. Ela é de família de Paraibuna, mas veio muito novinha morar em Taubaté. Veio morar pegado à minha casa. O pai dela morreu muito cedo. Ela já era órfã de pai quando eu casei. E a mãe dela, uma senhora... Teve dez filhos, ficou viúva com quarenta e poucos anos, criou todos eles - de um valor extraordinário. Morou comigo muitos anos e faleceu a questão de onze anos atrás.
CIDADES
Taubaté Taubaté tinha realmente na década de 40, 50, um comércio muito bom. Porque Taubaté tinha duas indústrias grandes, naquela época. Então girava dinheiro. Era a CTI, que chegou a ter mais de 3 mil empregados e a Companhia Fabril de Juta, que teve quase 3 mil. Então essas duas indústrias praticamente sustentavam o porte comercial de Taubaté. E sempre teve muita gente de fora, de passagem por Taubaté. Sempre teve, porque - ainda mais agora que tem faculdade. Mas aqui tinha quartel da Força Pública, tem o Tesourinho que emprega gente de fora, e vários... Vinha muita gente de Minas, tanto que o Vale do Paraíba, se for ver, acho que quase 20 % é composto por mineiros. Eles vinham para trabalhar. Eles vinham aqui para aventurar e acabavam ficando.
TRABALHO
Até hoje ainda gosto do que eu faço. Eu segui o exemplo e a profissão do meu pai e faço com gosto até hoje. Uma passagem interessante, que me gravou no tempo da indústria, que eu fui comprar couro pela primeira vez. E o couro era comprado em pés - pés dá um par de sapatos - e o couro é chamado de pele, que é o tamanho do gado. Eu fui comprar, por exemplo, duzentos pés, o representante marcou duzentas peles. E cada pele tinha de vinte a 25 [pés]. Então eu comprei vinte e poucas vezes mais do que era o normal. Aí quando chegou aquela quantidade lá, eu olhei para o meu pai, ele só falou isso: “Não tem problema. Nós gastamos isso aí. Pode deixar”. Depois de moço, o meu pai, com uma certa idade, ele foi parando. Parou com sessenta e poucos anos, começou diminuir, e daí nós já estávamos à testa do negócio. Naquele tempo já começou vir, também, com freqüência, representante de depósito e curtumes. Facilitou bem, bastante. O couro, no curtir o couro, ele tem... Por exemplo: o bezerro que faz o cromo, tem a vaquirona, tem a vaqueta, tem a napa, tem a camurça, tem vários tipos, de acordo como ele é curtido e como ele é... Por exemplo: um gado novo, limpo, que tem pele fina, você pode trabalhar um artigo mais fino em cima dele.
COMÉRCIO
Fazíamos sandálias. A feminina. Fazia um pouco de botina, mas a força nossa era sandália. Nós vendíamos para lojas no Vale do Paraíba, sul de Minas e litoral. Já fabricava uma quantia mais ou menos razoável, até para aquela época. Chegamos a ter quase trinta funcionários. Tínhamos representantes. Então eles vinham com os pedidos e a gente manipulava e despachava. Também usava estrada de ferro até para Minas, Rede Mineira de Viação, de fazer esse sul de Minas aí. A embalagem era caixote, naquele tempo. Madeira. Não tinha papelão, que era um caixote bem armado, bem montado, fechado, arqueado com fita de aço, e ali colocava os letreiros com o destino. E despachava na estrada. Tinha caixa de sapato, não tão boas como as de hoje, mas já tinha caixa.
TRANSPORTE
A Dutra começou, mais ou menos, por 1946. Eu me lembro bem porque nessa época comprei uma bicicleta zero, e eu ia ver as máquinas trabalhar na Dutra, aquelas máquinas pesadas. Então, fim de semana a gente ia lá. Foi feito às pressas, correria. Que a estrada de ferro, a retificação da estrada de ferro, foi feita com carroça de burrinho. Naquele tempo não tinha maquinário pesado. Bem antes. Mas em 1946 já tinha máquina pesada, já. A gente ia lá ver o progresso. Foi rápido. Fizeram uma faixa só, mas foi rápida. Ah, aquilo foi uma festa. Foi uma coisa muito útil, porque a outra estrada, a Washington Luís que nós tínhamos, ela, no começo, nem asfalto tinha. Quando chovia você não tinha programação de chegar e, às vezes ficava no meio do caminho. E a Dutra veio para facilitar muito.
COSTUMES
O povo sempre vai confiante. E antigamente parece que tinha um pouquinho mais de tempo para conversar, não tinha televisão, então sobrava tempo para conversar. Reunia nas portas das lojas, à noite nas portas de casa. Naquele tempo você deixava a porta da casa aberta: podia sair que não tinha problema. Era muito mais fácil. Então já tinha bastante comentário sobre a Dutra.
LAZER
Pratiquei bastante esportes. O esporte que eu pratiquei com afinco, com dedicação, e levei bem a sério foi voleibol. Mas eu joguei basquete, fiz atletismo bastante e futebol e natação. Fiz todos. Quando não tinha, assim, uma programação para competir, eu ia para o estádio do CTI, e ali eu fazia o atletismo. E eu treinava, chegava até a competir. Fiz algumas marcas boas para a região aqui. E o voleibol, sim, levei a sério, voleibol eu joguei bem, graças a Deus. Eu fiz 110 com barreiras, fiz triplo, extensão, altura, fiz cem metros, fiz quatrocentos metros. Não fui fundista, nunca fiz fundo, mas velocidade, semivelocidade eu fiz. Competi nos Jogos do Vale, também. Eu tinha naquela época, aos meus 21, 22 anos, quando começou esse... Foi em 1950 e pouco que começou os Jogos Abertos do Vale. Depois tinha os Jogos Abertos do Interior, que é esse aqui, que reúne todas as cidades do estado de São Paulo e mais alguma de fora. Os Jogos do Vale eram cada vez numa cidade, a cada ano. Era sorteada uma cidade. No voleibol eu posso dizer que eu fiz nome porque eu fui convidado a disputar campeonato mineiro por Caxambu, que era campeão mineiro, e Minas era campeão brasileiro. Eu fui convidado e disputei um campeonato fluminense por Barra Mansa. Então eu acho que isso quer dizer que houve o reconhecimento do que eu treinei e pratiquei. Sempre sobrava um tempinho. Treinava mais no fim de semana. E já tinha também, já, umas quadras iluminadas naquele tempo. O SESC, por exemplo: o SESC é na rua das Palmeiras, Conselheiro Moreira de Barros, o diretor saudoso Nelson Campelo, o meu amigão Nelson Campelo, e eu pratiquei esporte também pelo SESC. Pelo TCC, pela associação dos empregados do comércio. Fui da Associação dos Empregados no Comércio. Eu iniciei a minha carreira de voleibol na Associação dos Empregados do Comércio. Quando eu atingi um ponto melhor, passei para o TCC [Taubaté Country Club], mas disputava campeonato pelo SESC. Naquela época havia muita amizade, todo mundo era amigo. Todos eram amigos e o presidente do clube era amigo da gente. Então a gente tinha uma relativa facilidade para contatar, para fazer amizade. Muito bom, isso. O baile mais famoso, justamente, era na Associação dos Empregados do Comércio, na praça ali onde é o estacionamento hoje. E o TCC, que era um clube de elite, um clube muito bom, fechado. A CTI tinha o Grêmio, mas os melhores bailes eram na Associação. Ah, naquele tempo já vinha orquestra de fora. Às vezes tinham umas datas que eles marcavam e fazia um Carnaval muito bom, naquele tempo, Carnaval de clube, muito bom. Grito de Carnaval, baile do Havaí. Era muito bom. Gostava de Carnaval. Me fantasiava. Tinha blocos, como tem até hoje, e o bloco também ficava avulso nas ruas. Entrava numa rua, saía pela outra, vinha outro bloco... E tinha esses voluntários, que juntava cinco ou seis, e fantasiava de qualquer coisa que chamasse atenção e saía para a rua se divertir. Eu sou do bloquinho. Ah, fantasiava, assim, de mascarado, dominó, de... Fazia umas fantasias extravagantes. E passava quatro noites divertidas.
NAMORO
Eu comecei namorar antes do Carnaval, uns três anos. Depois nós rompemos. Eu recomecei no Carnaval. Ela como espectadora e eu como folião.
COMÉRCIO
O comércio sempre se organizava nas datas, eles se organizavam para as festas de época. Já naquele tempo, a festa de Natal, festa junina, todas essas festas tinham um brilhantismo muito grande. E a turma se preparava para isso, para faturar. Eu fiz parte da diretoria da Associação dos Empregados do Comércio e sou conselheiro até hoje. Fiz parte da diretoria do Esporte Clube Taubaté e sou conselheiro até hoje. Hoje eu presto serviços ao Lar Escola Irmã Amália, do qual sou tesoureiro. E me dedico, mais ou menos, lá nessa organização. Eu fui do sindicato do Comércio Varejista uns tempos. Isso há quinze, vinte anos atrás. Lembro bem da inauguração do SESC. Até hoje o SESC promove muitas realizações lá. E o SESC eu tenho muito boa lembrança porque eu vivi dentro do SESC, até a ponto de ser homenageado o ano passado por ter sido um praticante de voleibol que fazia parte do SESC. Me prestaram uma homenagem muito bonita.
LAZER
Hoje o que se pratica muito é futebol de salão, que quase todos sabem jogar, porque o vôlei tem que aprender, basquete tem que aprender e o futebol você já nasce sabendo e acaba aprendendo sozinho. E todo ano tem torneios promovidos pelo SESC entre as lojas. E a Escolástico já ganhou esses... Já pegamos primeiro lugar, pegamos segundo lugar. Ali entram as Pernambucanas, entra o Jô Calçados, entra a Escolástico, entram essas lojas assim.
COMÉRCIO
Vendia sempre para a zona rural. Inclusive, falando em parte rural, eu tenho também um desempenho na parte de pecuária. Eu produzi leite até o mês passado, durante vinte anos. Até cheguei ser terceiro, quarto lugar da região em produção de leite, e hoje continuo sendo pecuarista junto com meu outro filho, mas em gado de corte. Aqui na região. Nós estamos produzindo bezerros e vendendo. Então até com um plantel razoavelmente bom, mas continuo na pecuária - só de corte.
LAZER
A gente acha tempo porque o dia tem 24 horas. Se você conseguir descansar oito, ainda sobram dezesseis, está muito. Dá tempo, sim.
COMÉRCIO
Para o pessoal da zona rural, a venda era localizada nas lojas, só. Nunca saímos para vender fora. Nós temos uma quantidade muito grande de amigos de fazendeiros, até hoje. Muito, muito grande. Naquela época da fabricação já tínhamos um comércio anexo, só que nós fomos aumentando o comércio. Hoje nós estamos com sete lojas. O anexo que eu digo era produzir o calçado e vender no mesmo lugar. Que foi proibido por lei, isso aí. Nós fechamos. Antigamente... O IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] de hoje, naquela época chamava-se imposto de consumo, e o Juscelino Kubitschek, para evitar sonegação, proibiu que funcionassem as duas coisas juntas. Então nós tínhamos que mudar uma, e nós éramos dois irmãos, nessa época já, ia sacrificar muito, ia ficar um para lá, outro para cá, negócio de descanso ia acabar. Então nós vamos sacrificar o que é pior no momento: era a fábrica. Daí melhoramos a parte comercial. A loja, no começo, só vendia sapatos produzidos por nós. Depois foi colocando outros artigos e hoje é só de fora. A mulher consome mais do que homem. Isso está provado e comprovado. Então, a gente vende, vamos dizer, mais de 50% de produto nosso vendido é destinado às mulheres. Cabe uma parte aos homens e depois às crianças. Então a mulher consome mais. A gente tem que procurar estar sempre estocado com artigo feminino, porque a mulher, além do sapato da mulher não ser tão duradouro, a mulher gosta da moda, e a moda vira muito. Então a mulher que gosta da moda ela tem que comprar, mesmo que não precise, que dê para usar outro par, ela vai comprar.
TRABALHO
Trabalhei como vendedor na loja. Tem várias passagens. Por exemplo, uma delas, eu estava servindo uma freguesa que queria uma sandália preta, e do modelo que ela queria essa sandália preta não tinha. Então eu virei, eu estava na prateleira, virei para ela e falei: “A senhora não gosta de café?”. Ela respondeu: “Café eu gosto, mas tomei agora há pouco. Obrigada” [Risos.] Então o café seria a cor da sandália. “A senhora não gosta de café?”, “Não, eu gosto, mas eu tomei agora. Obrigada”.
COMÉRCIO
Geralmente a mulher esconde o número. Tanto que os balconistas são já preparados para quando uma freguesa pede um calçado, trazer vários e já trazer o que ela apontou e um número maior, que é para [não] voltar para o estoque, subir escada e voltar. Então se já tiver, já traz um maior. E aí aconselhar: “Não está um pouquinho apertado para a senhora? Vamos ver um maior”. Tem aquela brincadeira: “Tem duas coisas que não pode apertar: o pé e o bolso”. O pé você pode escolher o sapato maior, o bolso não sei. Então tem tudo isso. E depois, às vezes, tem até, depois de usado, quer voltar a trocar. Aí torna-se um problema. Porque ela foi avisada que não dava. Hoje as mulheres estão mais esclarecidas. Mas já teve uma época muito triste para trabalhar assim. O sapato de homem, hoje, o que predomina é unissex, é o tênis, ainda é o tênis. Mulher, sandália baixa para conforto, e com salto, mais toalete, mais fina. E o homem tem o tênis, tem o sapato de serviço e o social. Mas o homem com o sapato social dura muito tempo, porque ele usa pouco, não gasta, conserva. Então nós vamos atrás da mulherada. Vamos vender para mulher. Inicialmente, nós começamos a nossa loja sacrificando um cômodo da casa, que eram duas janelas, e pusemos duas portas de madeira. Depois tiramos as duas portas de madeira, pusemos uma de aço. A residência é nossa. Aí ficou pequena. Era um quarto, pegamos a sala, ampliamos a sala, também fazia parte da loja. Chegou a ponto que precisamos mudar de lá, que já tinha fábrica no fundo. Então nós estávamos prensados no miolo, ali. Eram sete irmãos, pai e mãe: nove pessoas. Daí nós compramos onde hoje funciona Esporte, ali nós passamos a morar nessa casa. Daí desmanchamos todinha e fizemos uma loja, já com bem grande, bonita. A organização do estoque, antigamente, era o mesmo de hoje. Praticamente sim. Hoje com muito mais detalhe, que tem que separar por tipo, de criança, de mulher, de homem, artigo popular, artigo médio, artigo mais caro, para ficar fácil o manejo, para ficar fácil trabalhar. Então quanto mais estiver separado, mais arrumadinho, anda mais depressa. Separação de número, tudo certinho. Você falar que em Franca tem mais de trezentas fábricas de sapato de homem. No Vale do Sino, no Rio Grande do Sul, tem mais de quinhentas fábricas de mulher. Depois tem de criança em Jaú, sandália, e por aí todo tem lá. Um lugar que deixou marca para nós foi Jaú. Até hoje tem a sandália Rosângela, uma sandália que bateu, a turma chama, “bateu caixa”, que vendia mesmo. Depois São Paulo fabricou muito também, São Paulo. E São Paulo era fácil porque a gente ia buscar. No movimento, assim que ia faltar alguma coisa, a gente ia lá, pegava o que estava pronto, trazia. E depois predominou o calçado de homem em Franca, e de mulher, Novo Hamburgo, Hamburgo Velho, aquele lado de lá. Hoje tem figurinos, tem... Hoje tem a televisão, que lança modelo, lança cor. Nesse verão vai predominar cor tal: já está tudo já determinado, certinho. E não falha muito não, vai na certa. Depois de um tempo nós ampliamos a loja. Aí nós passamos a usar pouco espaço das outras lojas que já tinha em Taubaté. Então nós estávamos procurando o nosso espaço e ampliamos, procuramos comprar coisa certa. E deu resultado. Dificuldade existe sempre. Umas maiores, outras menores. Vivemos uma época de inflação de 85%, quase 3% ao dia. Superamos. Agora, mudança de governo também. Às vezes ameaça abalar um pouco, mas dá para superar. Mas tem sim. Sempre tem. Inadimplência é outro fator também que atrapalha bem a gente. A tendência parece agora é diminuir, se Deus quiser. Quando eu comecei a trabalhar, vendia em mil réis. Sapato naquele tempo já custava na faixa de 20 e poucos mil réis, um sapato. Uma sandália custava 12, 15 no tempo de mil réis. O tempo da inflação... Aquilo era triste. Era triste, preocupante, porque até se houvesse sobra de dinheiro, tinha que aplicar até uma hora. E um dia que você perdesse a aplicação, você perdia 3%. E remarcação toda semana. Era natural, era normal isso aí, remarcar. O supermercado: aquela maquininha comia solta. Mas sobrevivemos. Nós temos lá uma promoção direta. Nós temos bancas de liquidação e uma vez por ano a gente faz uma liquidação mais maciça. Porque o calçado dá muito saldo. Saldo de modelo, saldo de número, saldo de cor. São vários tipos de saldo. Nessa época faço propaganda, sim. Até televisão, rádio, televisão. Essa época tem que pegar firme, que é para poder surtir efeito.
FAMÍLIA
O meu irmão mais velho tem imobiliária. Da irmandade, trabalhou no comércio duas irmãs minhas. Não faziam parte da firma. Trabalhavam na firma para o meu pai. E eu e esse meu irmão, que faleceu. Nós ficamos toda vida junto com ele. Outra é professora. A outra era costureira, ela tem seis anos mais do que eu. Ela costurou no tempo de solteira, depois ela casou. Vou até falar, ela casou com o Cid Moreira. Ela foi a primeira esposa do Cid Moreira. O Cid está na quarta mulher. Então ele é de Taubaté e namoraram, casaram, e ela parou de costurar porque ela foi morar em São Paulo, um ano. Depois foi para Globo e até hoje está na Globo - ele. E ela morou até uns tempos lá. Agora está morando em Taubaté também. Quando casou não tinha fama. Ele trabalhava na Rádio Bandeirantes e depois foi para a Globo. Aquele vozeirão dele que chamava atenção, aquelas coisas. Muito dedicado. Eu não posso reclamar dele. Para mim ele foi muito bom cunhado. Eu acho que até hoje ele é bom, muito embora ele tenha feito essa opção de troca, isso aí, vai fazer o quê, né? Mas até hoje ele corresponde com a minha irmã. Em casa sempre houve uma camaradagem muito grande, até hoje. Ali ninguém é dono de nada, todo mundo é dono de tudo. E até hoje [é] assim. Com os meus filhos eu criei assim também. É característica da família. Meu pai, minha mãe, eles eram muito família. E não admitiam briga, não admitiam que falasse mal dos outros. Meu pai foi um exemplo de gente, viu? É coisa impressionante. Quem está vivo ainda e conheceu, pode falar por mim, pode falar por mim. Antigamente tinha uma vantagem muito grande: que não tinha esse vício de droga. Eu falo várias coisas que naquele tempo era vantagem viver. Ninguém andava armado, ninguém andava armado; não tinha quase carro - você ia no baile, bebia um pouco, você esbarrava o ombro na parede, mas chegava inteiro. Hoje a turma pega o carro, não precisa estar drogado, mas está alcoolizado, já é problema. Não tinha AIDS. Então tinha uma série de vantagens, que nós vivemos aquela época. Então, praticamente, nós não demos muito trabalho para o nosso pai. Nosso sistema de viver... Ali, a região - nós moramos sempre no centro - só gente boa, graças a Deus. Ele nos orientava, principalmente em termos de assumir compromissos com valores, porque às vezes um comerciante se perde porque ele exagera na compra ou ele não se controla, os vencimentos. Então ele era muito rigoroso nessa... Era de uma necessidade que não tinha tamanho, viu? Então ele orientava bem a gente.
COMÉRCIO
São seis lojas em Taubaté e uma em Pindamonhangaba. Em Taubaté, dessas sete lojas, tem uma que trabalha com confecções, tem uma que trabalha com material esportivo e as outras cinco só calçados. Calçado e acessórios dos calçados bolsas, meias, cintos. Mas são especializadas em calçado. Cinco. Uma delas está no shopping. É interessante ter várias lojas de calçados, ou na cidade ou em outra cidade, porque aumenta o potencial de compra, o poderio de compra. Você consegue fazer melhores negócios. Então é interessante, que você fecha negócios melhor pela quantidade. É interessante, sim. Acaba vendendo para públicos diferentes, pega várias faixas. Tem, por exemplo, o shopping, é mais é feminino e mais modinha. O nosso lá já é popular. A rua Duque também é bastante feminino, vende de tudo, mas é mais feminino. E Pinda é geral. De Pinda vende de tudo. Essa loja de Pinda deve ter mais ou menos cinco anos.
VALE DO PARAÍBA
Resolvemos ir para Pinda porque é uma cidade promissora. Eu já li uma vez nas Seleções, que Pinda pode ser - e deve ser - a melhor cidade do Vale do Paraíba. Considerando a sua faixa de Dutra, a sua planície muito grande, as ruas já existentes. São largas, só algumas estreitas no centro. Então tem tudo para crescer. Então nós vamos pegar uma carona neles. E o comércio de Pinda é bem organizadinho. Às vezes até mais do que aqui. A Associação Comercial lá ela é mais festiva, ela acompanha mais essas datas. Hoje não, hoje a Associação Comercial está na mão de um presidente muito dinâmico e hoje nós já podemos falar que estamos brigando junto, já. A minha fazenda é em Pinda. O meu filho convive bastante lá em Pinda, o mais novo. Nós temos bastante relacionamento lá em Pindamonhangaba.
COMÉRCIO
Nós temos fiado mesmo porque naquele tempo não tinha crediário. Era sistema de caderneta, de ficha: dava uma quantia, nunca pagava, assim, a quantia certa. Dava o que podia e era muito facilitado antigamente, e era muito, assim, amizade. Quando começou a vir indústria grande, a Willys, a Ford, Mecânica Pesada, daí começou vir gente de fora e a gente perdeu um pouquinho o controle de conhecimento. Mas naquele tempo conhecia todo mundo. Marcava compra, quando dava puxava o saldo, assinava na frente, tal. Sistema rudimentar. Depois nós passamos para o crediário. Crediário com carnê. Trabalha-se bem também com cheque pré-datado. Hoje tem muitos cartões de crédito, que está quase passando o cheque já. Sempre tivemos crediário próprio. Sempre próprio. Experimentamos uma vez um crediário contratado numa firma e não ficamos seis meses com ele, porque eles tiraram a cobrança da minha loja e o freguês que compra a prazo para pagar em três vezes, volta três vezes na loja. Então eu falei: “Vou cortar porque eu quero freguês aqui dentro, ter contato”. Então acho que não chegou seis meses de experiência, nós rescindimos. E toda vida crediário nosso é próprio. O carnê é muito bom, muito bom. Há baixa automática, até o atraso no computador sai, já. Você programa quantos dias você pode tolerar de atraso, você tira na hora. Hoje a informática também é um caso. Essa tecnologia nova, eu acompanho de lado. Com a idade que eu tenho, eu não vou querer enfiar muita coisa mais na cabeça. Então, eu no computador, eu tenho a minha entrada no computador para caixa, para fechamento de caixa, para algumas informações. Mas não procurei detalhes, não. Meus filhos, meus sobrinhos, eles sabem bem. Informatizei todas as lojas. É exigência, o tempo pede. O tempo pede tudo. Dentro da informática tem coisas que vai ter que ir melhorando, modernizando. Um computador mais lerdo tem que passar para o mais rápido, um com mais capacidade. Então nós temos que estar sempre acompanhando e evoluindo. Nós temos, mais ou menos, em média de 120 a 130 funcionários. É a média mais ou menos assim. Agora em dezembro a gente costuma ampliar o quadro, porque vêm alguns contratados. Nós contamos, às vezes, com ex-funcionário que está desempregado, que quer ganhar alguma coisa em dezembro. Então a gente monta um reforço para dezembro. E os funcionários são treinados na própria loja, nós temos reunião semanal, e de vez em quando nós participamos da ACIT [Associação Comercial e Industrial de Taubaté]. Eu tenho um gerente que trabalha comigo há 38 anos. Já está aposentado, continua trabalhando. A minha contadora tem mais de trinta anos. Ela entrou menina, já é casada, já fez bodas-de-prata e tem mais de trinta anos trabalhando com a gente lá. Tem mais uma meia dúzia de chefes de seção também, que têm doze, dez anos de... Tem bastante. Nós temos seção de caixa, crediário, pacote, escritório - que o coração é lá, porque todas as firmas são administradas e dirigidas pelo nosso escritório central. Então só no escritório nós temos lá uns oito funcionários. Então tem a chefia do escritório, tem a chefia do crediário e assim por diante. Pode progredir, lá. Os gerentes nossos são todos criados e formados lá. Só teve um que veio de fora, que das cinco lojas... Das sete lojas, cinco de calçado e mais duas, o gerente e o sub-gerente foram feitos lá dentro. Só tem um contratado. Nós não somos pioneiros, mas nós entramos logo depois que inaugurou o shopping. O shopping é uma necessidade, que o comércio pede que a gente cerque de todos os lados, e o shopping tem duas coisas que eu considero importantes: muito embora o funcionamento do shopping seja mais caro, lá tem o terceiro período, que é o noturno, que não tem na cidade, e trabalha domingo, é assim; e montar uma marca e uma vitrine para estar sempre em evidência. Então é isso aí: a aparência da marca lá e atender à noite e aos domingos e feriados - que lá, praticamente, não fecha -, então essa é a vantagem do shopping. No começo, muita gente sofreu. Acho que uns dois ou três anos. Sofreu porque a freguesia não tinha costume de freqüentar shopping. Depois que passou a ver que lá tem estacionamento amplo, ar-condicionado, tem a parte de alimentação muito grande, o shopping está, além de ser um setor de compras, você tem um local de recreio para você passear. Então, agora pegou o shopping. Já está... Houve uma pequena ampliação no shopping e já pede até mais. Pode ampliar mais ainda, que pegou mesmo. Horário da cidade é das oito às dezoito. Só que nunca se fecha às dezoito, porque enquanto tiver freguês você tem que estar atendendo. A gente sai de lá dezenove e quinze, dezenove e trinta. Então... E sábado fecha à uma hora. A do shopping obedece ao horário do shopping.
RELAÇÃO COM O COMÉRCIO
Um momento de compra que me marcou muito: a primeira vez que eu fui..., que eu queria uma bola de futebol e um par de chuteiras, porque nós não fazíamos chuteiras. Então foi... Isso marcou quando eu comprei o primeiro par de chuteiras e ganhei uma bola de futebol. Foi em São Paulo. Aproveitei um dia de compra, que o meu pai foi para lá, e nessa casa que ele comprava couro, tinha para vender. Nós compramos lá. Esse marcou bem.
VIDA ATUAL
Hoje eu sou um estepe calibrado. Porque eu tenho o meu setor lá. Eu faço, por exemplo: todos os fechamentos vêm na minha mão de manhã cedo, toda correspondência passa pela minha mão, todas as duplicatas eu organizo para pagamento, e daí eu saio. Eu ajudo nas compras quando está muito carregado, ajudo a pagar empregado, a dar vale - porque às vezes acontece de cair um dia que o meu filho, o meu sobrinho não pode, eu sou o estepe. Além de ter a minha parte que eu executo, eu sirvo aos outros também. O meu filho Daniel e o seu sobrinho Hamilton hoje é que tocam os negócios.
FAMÍLIA
Tenho dois filhos: um que cuida da fazenda, o Adilson, e o Daniel, das lojas. Nunca convidei nenhum filho para trabalhar, porque eu acho que isso é uma opção, é uma escolha muito delicada. Você fazer... Porque o meu pai nunca me forçou, eu entrei porque eu já estava debaixo da barra da saia da minha mãe, eu já estava lá dentro, sem... Meu filho foi estudar um pouquinho, né? E quando esse Daniel resolveu entrar lá com dezesseis anos, eu acolhi, dei bastante autonomia para ele, já naquela época. E o outro não queria: prestou vestibular para medicina. Não passou a primeira vez. Falou: “Pai, não vou ficar perdendo tempo. Eu vou querer trabalhar. E eu gosto de mexer com fazenda”. Daí eu comprei uma pequena propriedade para fazer experiência com ele e deu certo. Nós ampliamos também lá. E então está assim. E tem o filho do Daniel, que está entrando na loja. Agora eu vou sentir as forças dele, a vontade, sem forçar. Sem forçar, até determinar o serviço para ele, para ver se ele se desincumbe direitinho. A gente tem que passar. Ele entra participando, assim por exemplo de estoque. Vai no pacote entregar uma mercadoria, vai assistir uma venda, começar. Vai para o escritório, dá umas bicadas também no escritório, e quando vê... Porque nós dividimos, porque o Hamilton faz a parte de compra, que é muito complicada, e o Daniel faz a parte, a parte pessoal e a parte de pagamentos, essas coisas. A parte mais... Então cada um é responsável por essa parte, muito embora a gente ajude. E esse garoto meu, pela lógica, o Daniel pegou a minha parte e o Hamilton pegou a parte do pai. Tenho quatro netos. Lucas está com dezoito anos, já tem carta; Natália com dezesseis anos, do Daniel. Do Adilson tem a Larissa, com onze anos e o Guilherme com nove anos. A família costuma se reunir sempre. Final de semana na fazenda: todo fim de semana a gente vai para fazenda e come lá, passa o dia. Com a entrada do Lucas, é a quinta geração na loja. Aí são 110 anos. 1893. Nós comemoramos cem anos da vinda dos meus avós paternos já faz dez anos. São 110 anos.
COMÉRCIO
No começo não tinha nem papel timbrado. Era papel simples. Depois começou, por exemplo, aparecer papel com timbre da firma, aquelas coisas. Agora, muito facilitou a sacolinha, sacolinha é uma beleza, uma tranqüilidade, limpeza. O tênis, há muito tempo tem que o tênis era aquele tênis colegial. Um dos primeiros tênis que eles fabricaram no Brasil chamava-se Germade. Depois veio o Conga. O Conga era da Alpargata. Depois o Conga ficou, assim, muito popularzinho, eles lançaram o Bamba. Daí começou vir os tênis de uso diário, que era o Rainha, o Topper, os primeiros. Daí começou importar o Nike e esses outros importados que nós temos hoje. Mas hoje tem milhares de fábricas de tênis. Marcas, Olympikus, por exemplo, é a fabricação da Azaléia, que é especialista em sandália. Olympikus hoje é um tênis de primeira qualidade, muito embora não seja caro. E tem outros, nossa, quantidade enorme. O tênis pegou para os jovens. Não via uma senhora ou um senhor de tênis, de jeito nenhum. Daí quando começou esse problema de caminhada - que hoje os médicos todos recomendam caminhada - aí o tênis entrou também na fase adulta. E hoje é comum todas as senhoras e senhores terem o seu tênis. Apropriado para caminhada: é o mais leve, com amortecedor mais forte, mais... Então para caminhar tem que ser leve e ter amortecedor, que pega pessoa de idade, com começo de esporão, com começo de varizes, começo disso, começo daquilo. Então o tênis, ele tem que ser bem levezinho, macio, com amortecedor. No calçado, eu acho que o que mais mudou foi o tênis. Existe uma quantidade enorme de modelos. Já estão fazendo o tênis de amarrar no meio, de amarrar de lado, tênis sem amarrar. Já tem tênis sem calcanhar, de alça atrás. Então o tênis, ele foi uma coisa de louco. Hoje é o tênis. Que a sandália de homem, também hoje já está bem variada até, sandália de homem: já tem acolchoada, tem com napa, bem macio, não sei o quê. O sapato de homem sempre teve o tradicional - que é o clássico -, o social e o sapato de serviço. O de mulher, sandalinha, dá conforto. E sapato de salto e sandália de salto, que é mais social. Eu acho que no comércio hoje, o que mudou muito foi o sistema de venda. Hoje o comércio exige, além de estoque, um atendimento muito bom, preço e facilidade. Então, para se completar no comércio, para que se tenha venda garantida, você tem que atacar e atingir todos esses pontos porque hoje se vende muito a prazo. E o freguês sempre quer levar uma vantagenzinha. Se você der trinta dias, ele pede quarenta, se der quarenta: “Não dá para jogar para cinqüenta?”. Então a gente tem que ser bem maleável e fazer esses acordos. “Os três pagamentos é pouco. Não dá para fazer quatro?”, “Meu carnê é de quatro, só. Mas quer que faça cinco?”, “Usa dois carnês, faz de cinco”. Então você tem que adaptar também, sempre que possível, ao gosto do freguês. Hoje o freguês é mais exigente porque hoje tem muitas opções de compra. Então tem freguês que já vem já... Tem os fregueses de marca, de grife, e tem os fregueses de modelo. As pessoas de idade, por exemplo, que quer essa forma redonda, sapato macio, já sabem até a marca que fabrica aquilo ou aquele. Isso tem mesmo. O homem tradicional que queria o sapato Vulcabrás, Toroflex, ainda tem muito disso, ainda.
RELAÇÃO COM O COMÉRCIO
Eu sou um péssimo consumidor. A única coisa que eu compro é na minha loja de confecções, calça, camisa, meia e cueca. Só. O resto a minha mulher compra tudo. Até para ir no supermercado, para ir na padaria, é ela que vai. Eu sou um cara que não sei se eu valorizo muito o tempo, se eu estou certo ou errado, eu não sei. Eu vivo muito para o serviço. Então eu sou o primeiro a entrar na abertura da loja e saio no fechamento. Eu vou na fazenda no meio, ou antes ou depois do almoço, todos os dias. Todos os dias. Então eu aproveito mais que eu posso. A gente tem um certo conforto em casa com piscina. Às vezes fica dez, quinze dias sem tempo de dar um pulo. Mas está bom. Compra precisa de tempo. Tem pessoa que, especular. Eu, por exemplo, não tenho, assim, luxo com nada de... Essas peças, então, televisão, essas coisas, a minha mulher compra tudo. Ela que troca... Forninho e não sei o quê, ela que compra.
CASAMENTO
Meu casamento foi em Taubaté mesmo. Tinha seiscentos convites, o meu casamento: a família grande dos dois lados, bastante amizade. Fizemos uma festa. Casamento foi na Santa Terezinha e a noiva muito... Ela muito bem vestida, vestida de casamento. Nós dois jovens. E foi um casamento bonito. Antigamente usava fazer o enxoval, não comprava: bordavam. Desenhava, bordava, fazia o enxoval. Comprava alguma coisa, mas o mais era o capricho da mulher, mostrar que ela fez o enxoval. Hoje não tem tempo, hoje não tem tempo: a televisão consome o restinho do tempo. E usava também um enxoval para o noivo. Eu mesmo fiz. Eu já tinha 29 anos quando eu casei. Eu já estava já madurinho, a minha patroa, quatro anos e meio mais nova do que eu, tinha os seus 24 e meio, e casamos com cabeça feita, graças a Deus.
FAMÍLIA
Minha esposa tem muita atividade assistencial. Ela trabalha para várias organizações e ela tem uma facilidade de angariar fundos. Hoje ela está trabalhando na cesta básica, que ela vai fazer seiscentas, fechar seiscentas, ela e o grupo dela. Então tem que comprar duas latas para cada cesta básica. Comprar não: ganha lata de óleo. Ela está na campanha do óleo essa semana. Depois campanha de outra coisa, outra coisa. Santo Antônio, nós fazemos uma festa de Santo Antônio lá no convento Santa Clara. Nós distribuímos 20 mil pães, ela que organiza. Ela e a organização dela. Mas ela sempre pega bem na frente, ela tem uma atividade tremenda. Nossa Senhora Faz bazar da pechincha, faz de tudo. Me ajudou bastante. Sempre ajudou bastante.
SONHO
Olha, eu quero que eles sejam felizes, meu filho e meu neto, porque o comércio não é coisa fácil para tocar, não. É uma exigência muito grande de horário. Eu posso citar, por exemplo, que às vezes eu estou chegando bem antes da turma lá porque vai chegar uma mercadoria. Às vezes tem um representante que atrasa, um freguês que atrasa. Dezembro você não tem... Dezembro, você não vive em dezembro: você vive o comércio. Mas para a família sobra só o dia 25 e a passagem de ano, que você trabalha com o horário. Eu já cheguei sair lá mais da meia-noite, nessas noites de dezembro. Então exige muito na parte comercial, na parte financeira, na parte de horário. Quer dizer, se ele gostar, ele vai enfrentar tudo isso com simplicidade, com facilidade, tanto que não pode forçar por causa disso, porque ele tem que escolher. Então a gente... Quantas vezes a gente acorda de madrugada, no frio, porque um alarme disparou. Então você tem que comunicar ou voltar, chamar a polícia para fazer vistoria. Isso já ocorreu várias vezes. Eu moro perto do meu filho e nós não vamos sozinhos numa hora dessas. Então ele me chama ou eu o chamo. Quer dizer que o comércio, você não desliga. Que um empregado, por mais categorizado que ele seja, ele bateu cartão, se pegar fogo na fábrica é uma pena, mas ele não perde. E o comerciante ele tem que pensar em tudo: se não largaram o cigarro aceso, vistoria de fechamento de porta de fundo, de frente, alarmes, não sei o quê. É preocupante, mas acostuma.
AVALIAÇÃO
Comércio Eu acho que no comércio a gente, uma das grandes lições, é conviver com o público e saber que, graças a Deus, a maioria é gente boa, é honesta. Existem alguns problemas, mas em grande minoria. E fazer grandes amizades que eu fiz no comércio, porque eu pratiquei esporte, então a turma me encontra lá. O time que eu torço, quando perde, a turma vai me gozar lá. Quando o time deles perde, não aparecem.
AVALIAÇÃO
Trajetória de vida Arranjo tempo. Quando eu estou meio cansado - sou moleque até hoje - eu brinco com a criançada, chateio, falo... Ainda agora teve um aniversário, antes de ontem, da minha neta, foi lá na chácara. Eu tenho uma chácara no Areião também, que nós temos um campo iluminado e nós temos jogo quarta-feira e sábado. E ali a gente faz encontros da família, marca festa. E o aniversário dessa minha neta foi lá. Então reuniu lá umas quarenta, cinqüenta crianças, eu estou no meio lá, brincando. Antigamente não sobrava muito tempo e nem dinheiro. Que eu sou do tempo que o comércio abria domingo de manhã e não tinha semana inglesa, que fechava... Depois de casado é que passou a fechar às treze horas, no sábado. Então não sobrava. Às vezes a gente fazia excursão de caminhão para Ubatuba. De caminhão. Montava lá uma lona e ia todo mundo pendurado. Estrada antiga, velha... Precisava calçar o caminhão nas curvas, para manobrar. Demorava, para Ubatuba, sete, oito horas. Hoje o ônibus que demora muito faz em duas horas e meia.
AVALIAÇÃO
Entrevista Eu acho importante o SESC estar patrocinando um projeto que fale sobre a memória do comércio do Vale do Paraíba, porque isso, vem à tona muita coisa que os outros não conhecem, não sabem. Cada um conta uma parte da história, e isso é muito importante, muito interessante.
Memórias do Comércio - Vale do Paraíba (MCVP)
Calçando Taubaté
História de Odil Danelli
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 11/03/2004 por Museu da Pessoa
P/1 – Boa noite seu Odil.
R – Boa noite.
P/1 – Eu gostaria que o senhor começasse a entrevista, falando para nós o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Odil Denelli. Nascido em Taubaté, no dia 22/04/1930.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – Daniel Danelli e Nela Indianin Danelli.
P/1 – Ah, da família Indianin?
R - _________.
P/1 – E o nome dos seus avós?
R – Anunciata Indianin por parte de (mãe) e Basílio Indianin. Augustinho Danelli e Giovanina por parte do meu pai.
P/1 – Basílio Indiani é irmão...
R – É pai da minha esposa.
P/1 – Pai da sua esposa.
R – Pai da minha mãe.
P/1 – Pai da sua mãe. Isso. E é tio, então, do seu José Indiani, que adquiriu hoje... Que foi nosso entrevistado também.
R – É?
P/1 – Que falou a história de Quiririn.
R – Deve ser primo segundo.
P/1 – Primo em segundo, é verdade. E seu Odil, o que faziam os seus avós?
R – Meus avós quando vieram da Itália, a parte maternal, eles vieram para lavoura e praticamente viveu quase toda a sua vida na lavoura, mas tiveram fábrica de corda, olaria e outras coisas mais. E por parte paternal, meus avós na Itália já eram sapateiros e sapateiros de banca. Vieram para cá fabricando sapato, botinas, tamanco naquele tempo e até passamos ter uma indústria de calçado mais para frente.
P/1 – O senhor lembra quando eles chegaram? O senhor sabe a data que eles chegaram no Brasil?
R – Por parte do meus pais, eles chegaram em 1893. Eu tenho tudo documentado, escrito. Depois eu vou mostrar para vocês.
P/1 – O senhor conhece, então, as histórias da chegada deles?
R – Bom, esse meus avós.
P/1 – Seus avós paternos, né?
R – Materno, um ano depois.
P/1 – Um ano depois. Então 1894. E o senhor sabe por que eles saíram da Itália, seu Odil?
R – Geralmente, os imigrantes eles não saem por gosto, nem porque... A maioria sai por necessidade. Naquela época, a Itália estava atravessando uma fase muito difícil, então havia necessidade que eles saíssem para procurar uma vida melhor e eles escolheram o Brasil, estado de São Paulo.
P/1 – Quer dizer, acabaram vindo direto para o Vale do Paraíba?
R – Exato. Desembarcaram em Santos e vieram para Taubaté.
P/1 – Para Taubaté. E o senhor tem irmãos, seu Odil?
R – Eu tenho irmãos... Hoje tenho... Nós éramos em sete. Hoje somos em cinco. Tenho o mais velho que é da imobiliária, o Otto Danelli. Tenho o (Odiméia?) Danelli, tem Odilma Danelli, Odiléia Danelli.
P/1 – E o senhor, então, cresceu em Taubaté?
R – Nasci e vivi a vida toda aqui.
P/1 – Que beleza. E o senhor pode descrever para gente a sua casa de infância aqui em Taubaté?
R – Eu nasci na rua Sílvia Barros, que é uma continuidade da rua Doutor Jorge Winter e ali fiquei até 1936. Eu nasci em 1930, tinha seis anos. Daí vim para a rua Doutor (Vítor na Esquina?), aonde tem a loja (Muradi?) hoje. Depois eu mudei para a rua... Mas a mesma rua, número... Onde é a Sapataria Scolástico hoje, número 21. Passei mais para cima na mesma rua, número 115. Quando casei, fui morar em frente também na rua... Praticamente, hoje, estou morando no Jardim Mansur, mas a minha vida todinha foi nessa rua.
P/1 – E como era essa rua quando o senhor era criança?
R – Naquele tempo não tinha calçamento. Era barro, era terra e poucas lojas. Era mais era residência. Depois foi aumentando, crescendo. Hoje é essencialmente comercial.
P/1 – E o senhor lembra do que vocês brincavam ali na rua?
R – As brincadeiras antigamente eram... Já tinha o futebol, né? A bola, bolinha de vidro, brincar de pega-pega e essas coisas assim.
P/1 – O que o senhor gostava mais de brincar?
R – Eu sempre gostei de praticar esporte, de um modo geral. E pratiquei várias modalidades de esportes.
P/1 – E a sua casa era uma casa grande?
R – A primeira era bem pequena. A segunda era uma casa grande, mas era uma casa velha que foi demolida com o tempo. A terceira é onde hoje é a sapataria. Era uma casa de tamanho médio, ponto muito bom. A quarta aonde é Esporte Scolástico hoje também é nossa. Era já mais confortável. Daí mudei em frente, aonde é o Cheiro Verde hoje, sem fazer propaganda.
P/1 – Não, não há problema. (risos)
R – E ali era uma casa bem grande. Quintal grande, frente grande.
P/1 – E como é que era o cotidiano porque sete filhos, é isso?
R – Papai teve sete filhos.
P/1 – Como é que era o cotidiano, a sua mãe, seu pai? Como é que era o andamento da sua casa?
R – Antigamente, a preocupação maior era trabalhar. O estudo, inclusive, Taubaté tinha até o estudo Secundário. Superior não tinha aqui, tanto que eu parei no Secundário. Então a preocupação nossa era trabalhar mesmo.
P/1 – Seu pai já tinha sapataria quando o senhor era criança?
R – Já tinha.
P/1 – Quando ele fundou a sapataria, seu Odil?
R – A sapataria foi fundada em 1924, seis anos antes deu eu nascer.
P/1 – E se desenvolveu bem porque em 1924 quem comprava sapato aqui em Taubaté?
R – Taubaté era uma cidade pequena naquela época. Muito pequena, que eu vi a cidade crescer. Então tinha Taubaté três ou quatro casas de calçados e a nossa era uma das menores no começo. Depois destacando. Hoje, graças a deus, nós estamos um ponto bom.
P/1 – Por que era a profissão, então, do seu avô na Itália, que ele transmitiu ao seu pai?
R – É, ele veio com a profissão, passou para o meu pai.
P/1 – E tem uma história do porque que chama Scolástico, não é, seu Odil? Conta para nós essa história.
R – Bom, o meu pai, o nome dele realmente é Daniel Danelli. Falecido. Mas ele nasceu no dia de Santa Scolástica e os italianos antigos gostavam de pôr o nome do santo no registro e ele não foi registrado com esse nome. Mas no batismo colocaram Daniel Scolástico Danelli. E ele era conhecido na família, depois na vizinhança como Scolástico. E ali ficou até a ponto de pôr o nome dele para as firmas.
P/1 – Já começou com esse nome quando ele abriu?
R – Já... Ah, não. Quando ele abriu chamava-se Sapataria Lombarda.
P/1 – Ah, tá.
R – Lombarda. Em 1936, mudou para Scolástico.
P/1 – Lombarda pela região dos seus avós?
R – Isso. É a região que eles moravam na Itália.
P/1 – Certo. Em 1936 mudou para Scolástico?
R – Em 1936 passou para Scolástico até hoje.
P/1 – Mas dizem também que ele era um homem muito estudioso?
R – Papai era um homem...
P/1 – Que ele lia muito.
R – Muito dinâmico. Foi vereador duas vezes. Ele era esportista. Foi diretor do Esporte por Taubaté. É um homem, não é por ser meu pai, é um homem muito bom. (risos) E todo mundo gostava dele. Tinha um círculo de amizade muito grande. Era até bonito ver.
P/1 - O pessoal diz que até ele lia muito e que ele sempre tinha uma certa resposta à todas as perguntas?
R – Ah, ele era brincalhão, ele era...
P/1 – O senhor lembra disso muito claramente?
R – Lembro. Quando o papai morreu, ele morreu em 1970. Eu tinha 40 anos.
P/1 – E na sua casa se falava italiano?
R – Não. Meu pai achava que era uma falta de respeito falar outra língua aqui no Brasil. Ele dizia categoricamente: “Nós somos brasileiros. Nós vamos falar o português.” Então sei muito pouca coisa de italiano.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós, não?
R – Não.
P/1 – Não. Então, a gente estava falando desse cotidiano, quer dizer, era estudar mas a sua mãe cuidava... Como é... Os seus pais eram rigorosos? Como era? Eles tinham horários para vocês?
R – O sistema antigo era bem diferente de hoje. Os pais era enérgicos e faziam questão que fosse bem no estudo. Se preocupava mais com o trabalho. Hoje a turma se preocupa mais com diversão e até um pouco ruim isso aí. Mas o papai, ele... Era um enérgico que não é que ele fosse, assim, bravo. Ele pedia e havia respeito. E a gente respeitava ______.
P/1 – E o senhor começou a trabalhar com que idade, seu Odil?
R – Com 11 anos.
P/1 – 11 anos.
R – Eu saí do Grupo com 11 anos. Fui estudar à noite na Escola Técnica de Comércio. Já estava ajudando os meus pais.
P/1 – E o senhor fazia o quê na loja com 11 anos?
R no começo, nós tínhamos uma indústria de calçados e eu era (prespontador?) ou era modelista. Fazia a minha parte na indústria. Depois mais para frente nós fechamos a fábrica e continuamos com o comércio que já tinha também.
P/1 – Está certo. Só um minutinho, seu Odil. (pequena interrupção) Do cotidiano da sua casa, a questão do respeito e quando o senhor começou a trabalhar com 11 anos.
R – Isso.
P/1 – Então o senhor tinha a indústria. Ok? Então agora eu vou iniciar uma pergunta, tá? Posso iniciar? Então a indústria na época que o senhor começou, então 1940 e pouquinho, quando o senhor começou a trabalhar com 11 anos, tinha indústria.
R – Isso.
P/1 – Da onde vinha a matéria-prima para essa indústria, seu Danelli?
R – Uma das causas que nós fechamos a indústria era por causa de matéria-prima e mão de obra, que aqui não era um centro industrial para calçados, como acontece em Franca, no Sul no Vale do Sino. Então o material tinha que ser pego em São Paulo e a mão de obra você tinha que contratar e acomodar as pessoas, ser fiador da casa. Era complicado.
P/1 – Sei.
R – Mas funcionou bastante tempo assim.
P/1 – Então, nesse tempo que funcionou essa matéria-prima vinha da onde?
R – Mais de São Paulo.
P/1 – De São Paulo.
R – De São Paulo.
P/1 – E vinha por que meio de transporte? Pelo trem?
R – Naquele tempo usava muito trem, mas já tinha o Pássaro Marrom também já naquela época. Na estrada que era estrada de chão. Já tinha estrada Washington Luís, que fazia São Paulo. Mas usava muito a estrada de ferro Central do Brasil.
P/1 – E quem fazia a compra dessa matéria-prima era seu pai?
R – Meu pai.
P/1 – E ele ia à São Paulo?
R – Ele ia, ficava o dia todo lá. Trazia com ele as miudezas e despachava as coisas mais pesadas.
P/1 – Então o senhor foi crescendo dentro dessa formação da loja. Foi fazer Escola de Comércio.
R – Isso.
P/1 – Por opção sua, do seu pai porque...
R – Não, porque naquele tempo não tinha escolha. Ou ia fazer... Aqui em Taubaté, você saía professor ou técnico em contabilidade. Depois começou aparecer Cesi, Sesc, essas coisas, que passou a melhorar muito. Naquele tempo não tinha opção.
P/1 – E o que ensinava na Escola de Comércio, seu Danelli?
R – Na Escola de Comércio, ela dava um... No começo saía até contador. Depois, dois anos antes de eu me formar, formei em 1949, daí passou a sair técnico em Contabilidade. Saía com conhecimento muito bom de contabilidade e até um pouco de administração também.
P/1 – E esse conhecimento da Escola de Comércio ajudou no comércio do seu pai, o que o senhor acha?
R – Ah, não tenha dúvida.
P/1 – É.
R – Ajudou bastante.
P/1 – Só o senhor fez? Seus irmãos também fizeram?
R – Toda a família fez.
P/1 – Todos?
R – Só uma irmã que não fez.
P/1 – Ah, até as moças foram fazer?
R – Todas fizeram Escola de Comércio.
P/1 – E todo mundo trabalhava na...
R – Realmente na...
P/1 – Na sapataria.
R – Na firma, trabalhou meu pai, minha mãe, uma irmã que morreu meio nova. Odimir, esse que foi meu sócio até 1990, que faleceu e eu. Hoje tenho um filho meu e um filho do Odimir, um sobrinho meu.
P/1 – Então já terceira geração?
R – Terceira geração.
P/1 – Que coisa bacana. E quando o senhor era jovem, seu Danelli, qual era a diversão da juventude de Taubaté?
R – A diversão era resumido em fim de semana. Não é como hoje que te baile quarta, quinta, sexta, sábado... Antigamente baile era ao sábado, que a gente trabalhava sábado e não podia ter baile na sexta, né? Então uma das diversões era o baile. Era o recreio, o footing da praça e cinema.
P/1 – E onde era essa praça do footing?
R – A Praça __________, a Central. E tinha dois cinemas no Centro ali e mais três um pouco afastado. Esse sim, esse lotava todo fim de semana.
P/1 – E o senhor gostava de cinema?
R – Gostava de cinema.
P/1 – Teve algum filme que o senhor viu, que o senhor gostou muito quando o senhor era jovem?
R – Eu gostava muito de filme de vaqueiro, né?
P/1 – É mesmo?
R – É.
P/1 – E o footing da praça, o senhor também ia?
R – Ah, não tenha dúvida. Antes e depois do cinema fazia parte.
P/1 – E as compras dessa época eram feitas em Taubaté? Por exemplo, uma roupa, um terno?
R – Sim, a não ser alguma coisa bem especial, precisava comprar em São Paulo. Mas já tinha o comércio relativamente bom naquele tempo.
P/1 – Tem alguma loja que o senhor tenha lembrança dessa época?
R – Tinha. A Casa Cabral, uma casa que funcionou muito tempo. E têm casas tradicionais, como a Empório do Norte, a nossa, a Casa Filadelfo de cereais. Tinha umas lojas boas naquele tempo.
P/1 – Essa Casa Cabral, seu Danelli, o que ela vendia?
R – Essa Casa Cabral, ela era, mais ou menos, filiada a indústria de tecido CTI. Então eles vendiam tecidos e depois passou a vender confecções. Funcionava naquele prédio onde hoje é o Tesourinho, do Estado ali.
P/1 – Sei. Que até o pessoal chama de Casa Taubaté?
R – Isso.
P/1 – Então ela tinha esses dois nomes, Casa Cabral e Casa Taubaté.
R – É.
P/1 – Diz que era uma loja bem grande, né, seu Danelli?
R – Bem grande na época. Be grande.
P/1 – Nós estivemos lá fazendo...
R – Ah, fizeram?
P/1 - A imagem era uma casa bem grande para a época, né?
R – Bem grande.
P/1 – E a sua mãe comprava lá, seu pai?
R – Nós gastávamos lá.
P/1 – Todos compravam lá.
R – Todos.
P/1 – Brinquedo, sua mãe comprava? Vocês tinham brinquedo quando criança?
R – Naquele tempo não tinha brinquedo, que não existia esse plástico que hoje é muito fácil de fazer brinquedo e nem tão pouco esses brinquedos... Esses carrinho de metal, assim, a indústria antigamente era madeira, era coisa mais simples. E os pais não gastavam muito com brinquedo não, viu? Hoje é um exagero, mas naquele tempo não tinha não.
P/1 – E o senhor, nesse footing da praça, o senhor teve alguma namorada?
R – A, isso realmente né?
P/1 – É? É a sua esposa?
R – Essa que começou ali.
P/1 – Começou ali no footing da praça? Como é que foi, seu Danelli? Conta para nós.
R – Antes do cinema, as turmas chegavam uma hora antes para passear na praça, tal. E ali nós conhecemos. Por sinal, que ela passou morar apegado a minha casa. Daí ficou mais fácil.
P/1 – E quando o senhor viu, o senhor já gostou dela?
R – É, já tive outras mas essa foi essa a que conseguiu.
P/1 – Como é que ela chama, seu Danelli?
R – Maria Dulce.
P/1 – Maria Dulce. O senhor está casado há quantos anos?
R – 44 anos.
P/1 – Casou em?
R – 1959.
P/1 – Nossa, que beleza! Então conheceram na praça, aí se casaram... O casamento foi em Taubaté?
R – Em Taubaté mesmo.
P/1 – Ela é também de Taubaté?
R – Ela é de família de Paraibuna, mas veio muito novinha morar em Taubaté. Veio morar apegado a minha casa.
P/1 – E aí começou o namoro, casaram...
R – É comecei conhecendo ali. Depois fechamos o namoro na praça.
P/1 – Ah, que bom! E não teve problema com os pais dela?
R – Não. O pai dela morreu muito cedo. Ela já era órfã de pai quando eu casei. E a mãe dela, uma senhora... Teve dez filhos, ficou viúva com 40 e poucos anos, criou todos eles, de um valor extraordinário. Morou comigo muitos anos e faleceu a questão de 11 anos atrás.
P/1 – E o senhor estava falando que já tinha algumas lojas. Quer dizer, já era um comércio desenvolvido porque a gente tem impressão que Taubaté tinha realmente na década de 40, 50, um comércio muito bom.
R – É porque Taubaté tinha duas indústrias grandes naquela época. Então girava dinheiro. Era CTI, que chegou a ter mais de 3 mil empregados e a Companhia Fabril de Juta, que teve quase 3 mil. Então essas duas indústrias praticamente sustentavam o porte comercial de Taubaté.
P/1 – E sempre teve muita gente de fora em Taubaté, de passagem ou não?
R – Sempre teve.
P/1 – Sempre teve.
R – Sempre teve, porque ainda mais agora que tem faculdade. Mas aqui tinha quartel da Força Pública, hoje tem quartel da (Bavex?), tem o Tesourinho que emprega gente de fora e vários.
P/1 – Mas naquela época também tinha esse pessoal de fora?
R – Já tinha pessoal de fora sim.
P/1 – Era pessoal do Vale ou era pessoal de São Paulo, do Rio?
R – Vinha muita gente de Minas.
P/1 – De Minas?
R – É, de Minas, tanto que o Vale do Paraíba, se for ver, acho que quase 20 % é composto por mineiro.
P/1 – Eles vinham para cá trabalhar, é isso, Danelli?
R – Vinham para trabalhar.
P/1 – Nas indústrias que...
R – É, porque lá não tinha quase indústria naquela época, né? Então eles vinham aqui para aventurar e acaba ficando.
P/1 – Acabava ficando aqui. Quer dizer, o senhor, de certa forma, foi trabalhar desde menino, mas o senhor acabou tendo essa vocação para o comércio, né, seu Danelli?
R – É, até hoje ainda gosto o que eu faço. Eu segui o exemplo e a profissão do meu pai e faço com gosto até hoje.
P/1 – O senhor lembra de alguma história do seu pai, assim? Talvez algum pedido, alguma venda que tenha sido um pouco mais complicada? Tem alguma história do seu pai?
R – Uma passagem interessante que me gravou no tempo da indústria, que eu fui comprar couro pela primeira vez e o couro era comprado em pés. Pés dá um par de sapato. E o couro é chamado de pele, que é o tamanho do gado. Eu fui comprar, por exemplo, 200 pés, o representante marcou 200 peles e cada pele tinha de 20 a 25. Então eu comprei 20 e poucas vezes mais do que era o normal.
P/1 – Nossa!
R – Aí quando chegou aquela quantidade lá, eu olhei para o meu pai, ele só falou isso: “Não tem problema. Nós gastamos isso aí. Pode deixar.” (risos)
P/1 – Então o senhor passou também a fazer compra depois, mais velho, é isso?
R – Depois de moço. O meu pai, com uma certa idade, ele foi parando. Parou com 60 e poucos anos, começou diminuir e daí nós já estávamos na (testa?) do negócio e passamos...
P/1 – Aí quem fazia esse trajeto para São Paulo era o senhor?
R – É. Naquele tempo já começou vim também com frequência representante de depósito e curtumes. Já passou até... Facilitou bem, bastante.
P/1 – Vocês tinham vários fornecedores ou só um fornecedor?
R – Ah, tinha vários, vários curtumes, _____ de prego, _____ de linha. Tinha vários.
P/1 – Qual é a diferença do couro, seu Danelli?
R – O couro, no curtir o couro, ele tem... Por exemplo, o bezerro que faz o cromo, tem a vaquirona, tem a vaqueta, tem a napa, tem a camurça, tem vários tipos, de acordo como ele é curtido e como ele é... Por exemplo, um gado novo, limpo, que tem pele fina, você pode trabalhar um artigo mais fino em cima dele.
P/1 – E a indústria do seu pai sempre... Que depois também o senhor trabalhou, sempre fez vários tipos de...
R – Mais sandália.
P/1 – Sandália.
R – A feminina. Fazia um pouco de botina, mas a força nossa era sandália.
P/1 – E vendia para que tipo de cliente, seu Danelli?
R - Nós vendíamos para lojas no Vale do Paraíba, sul de Minas e litoral. Já fabricava uma quantia, mais ou menos, razoável até para aquela época. Chegamos a ter quase 30 funcionários. Já estava com...
P/1 – E como vendia? O senhor tinha vendedores?
R – Tinha representante. Então eles vinham com os pedidos e a gente manipulava e despachava. Também usava estrada de ferro até para Minas, Rede Mineira de Viação, de fazer esse sul de Minas aí.
P/1 – Como é que era o procedimento? Punha numa caixa?
R – Era caixote naquele tempo. Madeira. Não tinha papelão. Que era um caixote bem armado, bem montado, fechado, arqueado com fita de aço e ali colocava os letreiros com o destino, né? E despachava na estrada.
P/1 – Já tinha caixa de sapato para pôr o sapato?
R – Já tinha. Tinha caixa não tão boas como as de hoje, mas já tinha caixa.
P/1 – E não estragava o produto? Chegava direitinho?
R – Chegava.
P/1 – Tudo por trem então. E quando começou a Dutra, seu Danelli, o senhor lembra quando ela...
R – A Dutra começou no período do Dutra.
P/1 – É.
R – Foi, mais ou menos, por ali, por 1946. Eu me lembro bem porque nessa época comprei uma bicicleta zero e eu ia ver as máquinas trabalhar na Dutra. Aqueles (Tanapoca?), que a turma chamava, aquelas máquinas pesadas. Então fim de semana, a gente ia lá. Foi feito às pressas, correria, né? Que a estrada de ferro, a retificação da estrada de ferro foi feita com carroça de burrinho. Naquele tempo não tinha maquinário pesado. Bem antes. Mas em 1946 já tinha máquina pesada já.
P/1 – E aí vocês iam lá olhar?
R – Ia lá ver o progresso.
P/1 – E foi bem rápido, então, a construção?
R – Foi rápido. Fizeram uma faixa só, mas foi rápida.
P/1 – Essa questão da faixa só, quer dizer, vinha...
R – Duas mãos.
P/1 – Duas mãos, né? E tinha muito acidentes, o senhor sabe?
R – Não tinha porque naquele tempo tinha menos movimento, né? Essa duplificação veio bem mais tarde.
P/1 – E o senhor lembra, assim, quando inauguram o trecho aqui de Taubaté, como é que foi recebido pela população?
R – Ah, aquilo foi uma festa. Foi uma coisa muito útil, né? Porque a outra estrada Washington Luís que nós tínhamos, ela no começo, nem asfalto ela tinha Quando chovia, você não tinha programação de chegar e, as vezes, ficava no meio do caminho. E a Dutra veio para facilitar muito.
P/1 – E o senhor lembra se o pessoal do comércio, porque aí o senhor já estava um tempo no comércio, o senhor lembra se o pessoal do comércio tinha essa expectativa da Dutra melhorar alguma coisa nessa cidade?
R – Ah, tinha. O povo sempre vai confiante, né? E, antigamente, parece que tinha um pouquinho mais de tempo para conversar. Não tinha televisão. Então sobrava tempo para conversar. Reunia nas portas das lojas. A noite nas portas de casa. Aonde... Naquele tempo você deixava a porta da casa aberta. Podia sair que não tinha problema. Era muito mais fácil. Então já tinha bastante comentário.
P/1 – Quer dizer que os comerciantes fechavam as lojas e continuavam conversando.
R – Continua conversando.
P/1 – E o senhor lembra de alguns comerciantes que conversavam com o senhor?
R – Lembro, por exemplo, da família Ambroge. Tinha o Humberto Ambroge, o João Fundelo e Demóctono Valente, Jaime Barrosa Lima e vários que não me vem no momento.
P/1 – E o senhor estava me dizendo que o senhor gostava de praticar esportes.
R – Pratiquei bastante esportes.
P/1 – O que é que o senhor fazia, seu Danelli?
R – O esporte que eu pratiquei com afinco, com dedicação e levei bem a sério foi voleibol. Mas eu joguei basquete. Fiz atletismo bastante e futebol e natação. Fiz todos. Quando não tinha, assim, uma programação para competir, eu ia para o estádio do CTI e ali eu fazia o atletismo. E eu treinava. Chegava até a competir. Fiz algumas marcas boas para a região aqui. E o voleibol, sim, levei a sério. Voleibol eu joguei bem, graças a deus.
P/1 – Que modalidade era a sua de atletismo?
R – Atletismo?
P/1 – É.
R – Eu fiz 110 com barreiras, fiz Triplo, Extensão, Altura. Fiz 100 metros, fiz 400 metros. Não fui fundista, nunca fiz fundo, mas velocidade, semi-velocidade eu fiz.
P/1 – E o senhor competiu, então, por Taubaté?
R – É, regional porque tinha os Jogos do Vale também, que a gente competia.
P/1 – Que época tinha os Jogos do Vale?
R – Eu tinha naquela época, aos meus 21, 22 anos, quando começou esse... Foi em 1950 e pouco que começou os Jogos Aberto do Vale. Depois tinha os Jogos Abertos do Interior, que é esse aqui, que reúne todas as cidades do estado de São Paulo e mais alguma de fora.
P/1 – E era... Os Jogos do Vale, eles eram cada vez numa cidade?
R – É, cada ano...
P/1 – Cada ano.
R – Era sorteado uma cidade.
P/1 – E que marca que o senhor fez que foi boa? Conta para nós.
R – Não, marca de atletismo... No voleibol eu posso dizer que eu fiz nome porque eu fui convidado a disputar campeonato mineiro por Caxambu, que era campeão mineiro e Minas era campeão brasileiro. Eu fui convidado e disputei um campeonato fluminense por Barra Mansa. Então eu acho que isso quer dizer que...
P/1 – O vôlei foi o destaque.
R – É, houve o reconhecimento do que eu treinei e pratiquei.
P/1 - E o senhor continuou trabalhando e treinava também. Como é que o senhor fazia, seu Danelli?
R – Mas dava. Sempre sobrava um tempinho, né? Mais fim de semana. E já tinha também já umas quadras iluminadas naquele tempo. O Sesc, por exemplo. O Sesc é na rua das Palmeiras Conselheiro Moreira de Barros, o diretor saudoso Nelson Campelo, o meu amigão Nelson Campelo, e eu pratiquei esporte também pelo Sesc.
P/1 – Pelo Sesc.
R – Pelo TCC, pela associação dos empregados do comércio.
P/1 – Então, pela associação, o senhor foi da Associação dos Empregados do Comércio?
R – Fui. Eu iniciei a minha carreira de voleibol na Associação dos Empregados do Comércio. Quando eu atingi um ponto melhor, passei para o (TCC?), mas disputava campeonato pelo Sesc.
P/1 – E nessa época que o senhor foi da Associação dos Empregados do Comércio, como era o relacionamento com os patrões no comércio de Taubaté?
R – Naquela época havia muita amizade, viu? Todo mundo era amigo. Todos eram amigos e o presidente do clube era amigo da gente. Então a gente tinha uma relativa facilidade para contactar, para fazer amizade. Muito bom isso.
P/1 - E tinha bailes em algum lugar?
R – O baile mais famoso justamente era na Associação dos Empregados do Comércio, na praça ali, onde é o estacionamento hoje. E o (TCC?), que era um clube de elite, um clube muito bom, fechado. Tinha o (CTI?), tinha o Grêmio, mas os melhores bailes tinha na associação.
P/1 – É. E como eram esses bailes? Vinha orquestra de fora?
R – Ah, naquele tempo já vinha orquestra de fora. As vezes tinham umas data que eles marcavam e fazia um carnaval muito bom naquele tempo, carnaval de clube. Muito bom, Grito de Carnaval. Baile do Havaí. Era muito bom.
P/1 – E o senhor gostava de carnaval, seu Danelli?
R – Gostava.
P/1 – Se fantasiava no carnaval?
R – Fantasiava.
P/1 – Como é que fazia? Fazia bloco?
R – Tinha blocos como tem até hoje e o bloco também ele ficava avulso nas ruas. Entrava numa rua, saía pela outra, vinha outro bloco... E tinha esses voluntários, que juntava cinco ou seis, e fantasiava de qualquer coisa eu chamasse atenção e saía para a rua se divertir.
P/1 – O senhor era da turma do bloco ou da turma do voluntário?
R – Eu sou do bloquinho. (risos)
P/1 – Do bloquinho. E o que fantasiava, seu Danelli?
R – Ah, fantasiava, assim, de mascarado, dominó, de... Fazia umas fantasias extravagante, viu? E passava quatro noites divertidas.
P/1 – E o senhor já namorava nessa época do carnaval, não?
R – Eu comecei namorar antes do carnaval uns três anos. Depois nós rompemos. Eu recomecei no carnaval.
P/1 – Ah, com ela também?
R – É.
P/1 – E ela também fantasiada?
R – Não, não. Ela como espectadora e eu como folião.
P/1 – É mesmo? Ah, tá, e ficaram três anos separados, mas sempre teve aquela coisa...
R – Um contato mais rompido, né?
P/1 – Sei.
R – Mas depois nós voltamos para acertar mesmo.
P/1 – Mas continuaram amigos?
R – Ah, sim.
P/1 – Ai, que bom.
R – Sem compromisso. (risos)
P/1 – Então seu Danelli, e o comércio, ele modificava? Por exemplo, numa época de carnaval, o comércio vendia já coisas de carnaval?
R – Vendia. Eles se organizavam para as festas de época. Já naquele tempo, a festa de natal, festa junina, todas essas festas, tinha um brilhantismo muito grande, viu? E a turma se preparava para isso, para faturar.
P/1 – O senhor fez parte de alguma entidade do comércio aqui de Taubaté?
R – Eu fiz parte da diretoria da Associação dos Empregados do Comércio e sou conselheiro até hoje. Fiz parte da diretoria do Esporte Clube Taubaté e sou conselheiro até hoje. Hoje eu presto serviços ao Lar Escola, Irmã Amália, do qual sou tesoureiro. E me dedico, mais ou menos, lá nessa organização.
P/1 – E na Associação Comercial, o senhor chegou a participar, não?
R – Não, nunca.
P/1 – Pois é, engraçado. O senhor é mais ligado a Associação dos Empregados do Comércio?
R – É o convívio que eu tinha com... Desde a prática do esporte, que eu não saía lá de dentro.
P/1 – Pois é.
R – E com os diretores que até hoje são amigos meu. O meu sobrinho já está na Associação Comercial.
P/1 – É, porque o senhor acaba sendo o patrão.
R – Sim.
P/1 – E o senhor não é ligado às entidades de patrão.
R – Não, patronal não.
P/1 – Nunca foi?
R – Eu fui da onde o Sindicato do Comércio Varejista uns tempos.
P/1 – Que época o senhor foi? O senhor lembra, seu Danelli?
R – Ah, isso há 15, 20 anos atrás.
P/1 – O senhor conheceu o seu Juca então?
R – Toda vida. Foi ele que me levou para lá. Juca ________.
P/1 – E como é que ele era como pessoa?
R – O Juca era um sujeito, assim, formidável, brincalhão, muito alegre. Faleceu a pouco tempo. Uma pena, perdemos o Juca, mas ele era um companheirão. Muito bom.
P/1 – E ele realmente desenvolveu o comércio de Taubaté?
R – É, ele quando era mais moço, ele levou o negócio muito assim. Ultimamente, já estava meio cansado, depois meio doente. Então ele já estava um pouquinho fora da circulação, mas ele morreu como presidente.
P/1 – O senhor estava falando do Sesc. O senhor lembra da inauguração do Sesc em Taubaté, seu Danelli?
R – Lembro, mas não me lembro o ano. Mas lembro.
P/1 – Não, mas lembra da inauguração?
R – Fui na inauguração.
P/1 - Foi bom para a cidade?
R – Muito bom. Até hoje, até hoje o Sesc promove muitas realizações lá. E o Sesc eu tenho muito boa lembrança porque eu vivi dentro do Sesc, até a ponto de ser homenageado o ano passado por ter sido um praticante de voleibol que fazia parte do Sesc. Me prestaram uma homenagem muito bonita.
P/1 – O senhor continua frequentando o Sesc até hoje?
R – Agora, muito pouco. As vezes tem, assim, uma competição de lojas e daí eu compareço para assistir algumas partidas.
P/1 – É mesmo? Como que é isso, seu Danelli? As lojas entram...
R – Hoje o que pratica muito é futebol de salão, que quase todos sabem jogar porque o vôlei tem que aprender, basquete tem que aprender e o futebol você já nasce sabendo e acaba aprendendo sozinho.
P/1 – E aí tem esses torneios de quanto em quanto tempo, seu Danelli?
R – Todo ano tem.
P/1 – Todo ano?
R – Todo ano.
P/1 – Entre as lojas?
R – Entre as lojas.
P/1 – E a Scolástico já ganhou esses...
R – Nós já ganhamos. Já pegamos primeiro lugar, pegamos segundo lugar.
P/1 – Quem participa, seu Danelli? A Scolástico...
R – Ah, as lojas?
P1 – É.
R – Ali entra Pernambucanas, entra o Jô Calçados, entra a Scolástico, entra essas lojas assim.
P/1 – Seu Danelli, eu queria voltar um pouquinho porque aqui em Taubaté tem uma zona rural muito grande. Tem Quiriri bem pertinho, o senhor vendia para esse pessoal também das fazendas?
R – Vendia sempre. Inclusive, falando em parte rural, eu tenho também um desempenho na parte de pecuária. Eu produzi leite até o mês passado, durante 20 anos. Até cheguei ser terceiro, quarto lugar da região em produção de leite e hoje continuo sendo pecuarista junto com meu outro filho, mas em gado de corte.
P/1 – Aqui na região?
R – Na região. Nós estamos produzindo bezerros e vendendo. Então até com um plantel razoavelmente bom, mas continuo na pecuária, só de corte.
P/1 – Mas não dá muito trabalho, seu Danelli, cuidar da loja, cuidar da pecuária?
R – A gente acha tempo porque o dia tem 24 horas. Se você conseguir descansar oito, ainda sobra 16, está muito. (risos) Dá tempo sim. Então, mas aí o senhor vendia para esse pessoal das fazendas ou o seu pai vendia para eles?
R – Vendia, mas não... A venda localizada nas lojas só. Nunca saímos para vender fora.
P/1 – Certo. Mas eles vinham comprar na sua loja?
R – Ah, sim. Nós temos uma quantidade muito grande de amigos de fazendeiros até hoje. Muito, muito grande.
P/1 – Porque durante um tempo produziu e vendeu sapato da própria...
R – Fabricação.
P/1 – Fabricação sua.
R – É, mas naquela época da fabricação, já tinha um comércio anexo. Só que nós fomos aumentando o comércio. Hoje nós estamos com sete lojas.
P/1 – Então, esse comércio que o senhor chama de anexo é quando o senhor vendia de outros fabricantes?
R – O anexo que eu digo era produzir o calçado e vender no mesmo lugar.
P/1 – No mesmo lugar.
R – Que foi proibido por lei isso aí. Nós fechamos.
P/1 – Mas proibiram aqui?
R – É. Antigamente... O IPI de hoje, naquela época, chamava-se Imposto de Consumo e o Juscelino Kubstchek, para evitar sonegação, ele proibiu que funcionasse as duas juntas. Então nós tínhamos que mudar uma e nós era em dois irmãos nessa época já, ia sacrificar muito. Ia ficar um para lá, outro para cá, negócio de descanso ia acabar. Então nós vamos sacrificar o que é pior no momento. Era a fábrica. Daí melhoramos a parte comercial.
P/1 – E a sua loja, vamos dizer, ela só vendia sapatos produzidos por vocês?
R – No começo.
P/1 – No começo.
R – É.
P/1 – Depois o senhor foi introduzindo?
R – Foi colocando outros artigos e hoje é só de fora.
P/1 – E o senhor disse que o senhor vendia quando produzia mais sandália.
R – É.
P/1 – Depois quando o senhor começou comprar de outros produtores continuou sendo esse comércio maior de sandálias?
R – É, porque a mulher consome mais do que homem. Isso está provado e comprovado. Então, a gente vende, vamos dizer, mais de 50% de produto nosso vendido é destinado as mulheres. Cabe uma parte aos homens e depois as crianças. Então a mulher consome mais. A gente tem que procurar está sempre estocado com artigo feminino.
P/1 – E sempre foi assim? A mulher sempre consumia mais?
R – Sempre.
P/1 – Mesmo na época que a mulher não tinha toda essa emancipação?
R – Porque a mulher, além do sapato da mulher não ser tão duradouro, a mulher gosta da moda e a moda vira muito. Então a mulher que gosta da moda ela tem que comprar, mesmo que não precise, que dê para usar outro par, ela vai comprar.
P/1 – O senhor chegou a trabalhar também como vendedor na loja?
R – Trabalhei.
P/1 – Essa coisa de vai pegar um sapato?
R – Servir freguês.
P/1 – É, isso. E tem alguma história desse tempo, alguma passagem que marcou?
R – Tem várias passagens. Por exemplo, uma delas, eu estava servindo uma freguesa que ema queria uma sandália preta e do modelo que ela queria essa sandália preta, não tinha. Então eu virei, eu estava na prateleira, virei para ela e falei: “A senhora não gosta de café?” Ela respondeu: “Café eu gosto, mas tomei agora há pouco. Obrigada.” (risos) Então o café seria a cor da sandália. “A senhora não gosta de café?” “Mão, eu gosto mas eu tomei agora. Obrigada.”
P/1 – Seu Danelli, tem muita gente que, por exemplo, chega na loja e fala assim: “Me dá um número 36”, por exemplo, falando em termos das mulheres e na verdade ela não é um sapato 36?
R – Geralmente a mulher esconde o número.
P/1 – É mesmo?
R – É. Tanto que os balconistas são já preparado para quando uma freguesa pede um calçado, trazer vários e já trazer o que ela apontou e um número maior que é para voltar para o estoque, subir escada e voltar. Então se já tiver, já traz um maior. E aí aconselhar: “Não está um pouquinho apertado para a senhora? Amos ver um maior.” Tem aquela brincadeira: “Tem duas coisas que não pode apertar; o pé e o bolso.” O pé você pode escolher o sapato maior, o bolso não sei. Então tem tudo isso.
P/1 – E mesmo... Já ocorreu do vendedor sugerir e a mulher querer manter o número menor?
R – Já. E depois, as vezes, tem até, depois de usado, quer voltar a trocar. Aí torna-se um problema, né? Que ela foi avisada que não dava.
P/1 – Isso tem muitos, seu Danelli?
R – Muito não.
P/1 – Até hoje?
R – Muito não porque hoje as mulheres estão mais esclarecidas também, né? Mas já teve uma época muito triste para trabalhar assim.
P/1 – E sapato feminino e mesmo masculino existem vários modelos?
R – Muitos modelos.
P/1 – Tem um modelo que é, assim, o campeão de venda?
R – O de homem, hoje, o que predomina é unissex é o tênis Ainda é o tênis. Mulher sandália baixa para conforto e com salto, mais toalete, mais fina. E o homem tem o tênis, tem o sapato de serviço e o social. Mas o homem como sapato social dura muito tempo porque ele usa pouco. Não gasta, conserva. Então nós vamos atrás da mulherada. Vamos vender para mulher
P/1 – Está certo. (risos) E seu Danelli, como era a loja no tempo do seu pai, o senhor lembra, assim, para descrever para gente a fachada da loja, o interior?
R – Inicialmente, nós começamos a nossa loja sacrificando um cômodo da casa, que eram duas janelas e pusemos duas portas de madeira. Depois tiramos as duas portas de madeira, pusemos uma de aço. A residência é nossa.
P/1 – Certo.
R - Aí ficou pequena. Era um quarto, pegamos a sala. Ampliamos a sala, também fazia parte da loja. Chegou a ponto que precisamos mudar de lá, que já tinha fábrica no fundo. Então nós estávamos prensados no miolo ali. Eram sete irmãos, pai e mãe, nove pessoas. Daí nós compramos aonde hoje funciona Esporte, ali nós passamos a morar nessa casa. Daí, desmanchamos todinha e fizemos uma loja já com bem grande, bonita.
P/1 – E a organização do estoque antigamente era o mesmo de hoje?
R – Praticamente sim. Hoje com muito mais detalhe, que tem que separar por tipo de criança, de mulher, de homem, artigo popular, artigo médio, artigo mais caro, para ficar fácil o manejo, para ficar fácil trabalhar. Então quanto mais tiver separado, mais arrumadinho, anda mais depressa. Separação de número, tudo certinho.
P/1 – Quantos produtos tem hoje uma loja de sapatos?
R – Incalculável.
P/1 – Incalculável, né, seu Danelli.
R – Você falar que em Franca tem mais de 300 fábricas de sapato de homem. No Vale do Sino, no Rio Grande do Sul, tem mais de 500 fábricas de mulher. Depois tem de criança em Jaú, sandália e por aí todo tem lá.
P/1 – Quando vocês começaram a comprar de outros fabricantes havia uma certa preferência por um lugar ou por outro? Por exemplo, por Franca?
R – Um lugar que deixou marca para nós foi Jaú. Até hoje tem a sandália Rosângela, uma sandália que bateu, a turma chama, “bateu caixa”, que vendia mesmo. Depois São Paulo fabricou muito também, São Paulo. E São Paulo era fácil porque a gente ia buscar. No movimento, assim que ia faltar alguma coisa, a gente ia lá, pegava o que estava pronto, trazia. E depois predominou o calçado de homem em Franca e de mulher Novo Hamburgo, Hamburgo Velho, aquele lado de lá.
P/1 – O senhor sempre foi comprando, adaptando ao gosto. Quer dizer, foi comprando de várias fábricas.
R – Ah, sim. Hoje tem figurinos, tem... Hoje tem a televisão, que lança modelo, lança cor. Nesse verão vai predominar cor tal. Já está tudo já determinado, certinho. E não falha muito não. Vai na certa.
P/1 – Então, quando o senhor fechou, então, a parte da produção, aí o senhor começou a comprar de outras fábricas. O pessoal não estranhou isso, seus clientes?
R – Não, porque daí nós ampliamos a loja. Aí nós passamos a usar pouco espaço das outras lojas que já tinha em Taubaté. Então nós estávamos procurando o nosso espaço e ampliamos, procuramos comprar coisa certa e deu resultado.
P/1 – Que bom. E o senhor lembra, assim, de uma grande dificuldade que a Scolástico tenha vivido?
R – Dificuldade existe sempre. Umas maiores, outras menores. Vivemos uma época de inflação de 85%, quase 3% ao dia. Superamos. Agora, mudança de governo também. As vezes ameaça abalar um pouco, mas dá para superar. Mas tem sim. Sempre tem.
P/1 – O senhor falou uma coisa importante...
R – Inadimplência. Inadimplência é outro fator também que atrapalha bem a gente. A tendência parece agora é diminuir, se deus quiser.
P/1 – O senhor fala importante à respeito da inflação, o senhor pegou, inclusive, moedas diferentes, né?
R – Várias.
P/1 – O senhor lembra de quando o senhor era mais jovem, quando começou trabalhar, ainda vendia em...
R – Mil réis.
P/1 – Mil réis.
R – Mil réis.
P/1 – Quanto custava um sapato, o senhor lembra um sapato masculino, por exemplo?
R – Sapato naquele tempo já custava na faixa de 20 e poucos mil réis, um sapato. Uma sandália custava 12, 15 no tempo de mil réis.
P/1 – Quer dizer, depois o senhor foi pegando essas mudanças.
R – Ah, foi cruzeiro, cruzado, real, tudo isso.
P/1 – E difícil se adaptar a essas mudanças de moeda, seu Danelli?
R – Não é, não é.
P/1 – O comércio se adapta facilmente?
R – Fácil, fácil. A freguesia que... A gente tem umas coisas de brincadeira, que eu tenho um senhor que faz serviço de banco para nós. E uma época era cruzeiro e cruzado. Viveu na mesma época e ele foi num banco para pagar em cruzado e o banco falou para ele: “Esse aqui não dá para receber porque esse aqui tem que pagar em cruzeiro.” Ele: Muito obrigado. Mas não dá tempo de eu ir até Cruzeiro. Eu tenho que pagar aqui mesmo.” (risos) “Vou pagar aqui mesmo.” Essas brincadeiras de cruzeiro, cruzado.
P/1 – E naquela época de inflação, seu Danelli, como era?
R – Aquilo era triste, viu? Era triste, preocupante, porque até se houvesse sobra de dinheiro, tinha que aplicar até uma hora. E um dia que você perdesse a aplicação, você perdia 3%. E remarcação toda semana. Era natural, era normal isso aí remarcar. O supermercado, aquela maquininha comia solta. Mas sobrevivemos.
P/1 – E os clientes reclamavam muito porque...
R – Alguns fregueses sempre tem mania de reclamar, mas a maioria entende, viu? A maioria entende.
P/1 – O que poderia ter acontecido dele ver o produto no dia...
R – Ah, sim. Inclusive, acontece em época de liquidação. Pessoa compra um sapato hoje, daqui alguns dias vai para a liquidação, vai pela metade do preço. É necessário que se faça uma liquidação para eliminar uma parte do estoque, para poder abrir espaço e renovar lugar para vim coisa nova. Então nessa época a gente sacrifica, o freguês perde um par, nós perdemos tudo que temos lá. Mas o que perde um par reclama.
P/1 – O senhor faz bastante promoção na loja, eu Danelli?
R – Nós temos lá uma promoção direta. Nós temos bancas de liquidação e, as vezes, uma vez por ano, a gente faz uma liquidação mais maciça, né? Que o calçado dá muito saldo. Saldo de modelo, saldo de número, saldo de cor. São vários tipos de saldo, que a gente tem que livrar porque senão você não tem ________ trabalhando. Tem um espaço que ele ocupa, né?
P/1 – O senhor costuma fazer anúncios em jornais, em rádio?
R – Nessa época sim. Até televisão, rádio, televisão. Essa época tem que pegar firme, que é para poder surtir efeito.
P/1 – Quando o senhor faz essas liquidações e...
R – Essas liquidações mais...
P/1 – E alguém mais da família foi para o comércio? Ou de tios ou de...
P/1 – O meu irmão mais velho tem imobiliária. Da irmandade, trabalhou no comércio duas irmãs minhas. Não fazia parte da firma. Trabalhava na firma para o meu pai. E eu e esse meu irmão, que faleceu. Nós ficamos toda vida junto com ele.
P/1 – Mais algum tio, alguma coisa?
R – Outra professora. A outra professora. A outra era costureira. E assim estava.
P/1 – Costureira aqui em Taubaté?
R – Aqui em Taubaté.
P/1 – Em que época, o senhor lembra?
R – Ela tem seis anos mais do que eu. Ela costurou no tempo de solteira. Depois ela casou. Vou até falar, ela casou com o Cid Moreira.
P/1 – Ah, o senhor é cunhado do Cid Moreira?
R – Ex, porque ela foi a primeira esposa do Cid Moreira. O Cid está na quarta mulher.
P/1 – Ah, é verdade.
R – Já está na quarta mulher. Então ele é de Taubaté e namoraram, casaram e ela parou de costurar porque ela foi morar em São Paulo um ano. Depois foi para Globo e até hoje está na Globo. Ele. E ela morou até uns tempos lá. Agora está morando em Taubaté também.
P/1 – Mas ele não era famoso a época que ela casou com ele?
R – Não. Quando casou não tinha fama. Ele trabalhava na Rádio Bandeirantes e depois foi para a Globo. Aquele vozeirão dele que chamava atenção, aquelas coisas, né? Muito dedicado.
P/1 – Era boa gente?
R – Eu não posso reclamar dele.
P/1 – Bom cunhado?
R – Eu não posso reclamar dele. Para mim ele foi muito bom cunhado. Eu acho que até hoje ele é bom, muito embora ele tenha feito essa opção de troca, isso aí vai fazer o quê, né? Mas até hoje ele corresponde com a minha irmã.
P/1 – Que bom.
R – Corresponde.
P/1 - Eu lhe pergunto a questão de costureira porque me parece que uma costureira em Taubaté, anos 40, 50, tinha muito trabalho?
R – Tinha porque não havia... Não se comprava roupa pronta. Era tudo confeccionado em casa ou costureira. Casamento, tanto a noiva como os padrinhos e convidados, tudo com roupa nova. Ela tinha bastante serviço.
P/1 – E ela costurava para vocês irmãos ou não?
R – Fazia também.
P/1 – Fazia?
R – Fazia.
P/1 – Fazia na faixa ou vocês pagavam?
R – A confecção dele era feminina. Ela fazia para as irmãs.
P/1 – Para as irmãs.
R – É.
P/1 – E as irmãs pagavam o serviço ou ela fazia por ser...
R – Em casa sempre houve uma camaradagem muito grande, até hoje. Ali ninguém é dono de nada, todo mundo é dono de tudo e até hoje assim. Com os meus filhos eu criei assim também.
P/1 – Isso é um pouco característico, então, da família?
R – Da família. Meu pai, minha mãe, eles eram muito família. E não admitia briga, não admitia que falasse mal dos outros. Meu pai foi um exemplo de gente, viu? É coisa impressionante. Quem está vivo ainda e conheceu, pode falar por mim, pode falar por mim.
P/1 – Ele orientava bem vocês, assim? Dizia: “Olha, não faça assim.”
R – E como.
P/1 - É. O que o senhor lembra que ele orientava?
R – Antigamente tinha uma vantagem muito grande, que não tinha esse vício de droga. Eu falo várias coisas que naquele tempo era vantagem viver. Ninguém andava armado, ninguém andava armado. Não tinha quase carro. Você ia no baile, bebia um pouco, você esbarrava o ombro na parede, mas chegava inteiro. Hoje a turma pega o carro, não precisa estar drogado, mas está alcoolizado, já é problema. Não tinha AIDS. Então tinha uma série de vantagem, que nós vivemos aquela época. Então, praticamente, nos não demos muito trabalho para o nosso pai. Nosso sistema de viver... Ali, a região, nós moramos sempre no Centro. Só gente boa, graças a deus.
P/1 – Mas ele dava conselhos, por exemplo, no comércio ele...
R – Ah, orientava.
P/1 – Orientava então. O que ele orientava vocês?
R – Orientava principalmente na... Esses termos de assumir compromissos com valores porque as vezes um comerciante se perde porque ele exagera na compra ou ele não se controla os vencimentos. Então ele era muito rigoroso nessa... Era de uma necessidade que não tinha tamanho, viu? Então ele orientava bem a gente.
P/1 – Seu Danelli, vocês têm várias lojas. São sete lojas hoje. Elas estão localizadas aonde?
R – Seis em Taubaté e uma em Pindamonhangaba. Em Taubaté, dessas sete lojas, tem uma que trabalha com confecções, tem uma que trabalha com material esportivo e as outras cinco só calçados. Calçado e acessórios dos calçados, né? Bolsas, meias, cintos, mas são especializadas em calçado. Cinco.
P/1 – Uma delas está no shopping?
R – Uma no shopping, uma _________, uma na rua Duque de Caxias, que é a Danelli Calçados. Uma em frente ao mercado, que é uma pequenininha e a outra em Pinda.
P/1 – É importante ter várias lojas de sapato numa cidade, seu Danelli?
R – É interessante ter várias lojas de calçados, ou na cidade ou em outra cidade, porque aumenta o potencial de compra, o poderio de compra. Você consegue fazer melhores negócios. Então é interessante que você fecha negócios melhor pela quantidade. É interessante sim.
P/1 – Acaba vendendo para públicos diferentes, não?
R – Pega várias faixas. Tem, por exemplo, o shopping, por exemplo, é mais é feminino e mais modinha. O nosso lá já é popular. A rua Duque também é bastante feminino. Vende de tudo, mas é mais feminino. E Pinda é geral. De Pinda vende de tudo.
P/1 – E quando que o senhor abriu essa loja de Pinda?
R – Essa loja de Pinda deve ter, mais ou menos, cinco anos.
P/1 – Recente então.
R – Recente.
P/1 – Por que o senhor resolveu ir para Pinda?
R – Que Pinda é uma cidade promissora. Eu já li uma vez nas Seleções, que Pinda pode ser e deve ser a melhor cidade do Vale do Paraíba. Considerando a sua faixa de Dutra, a sua planície muito grande, as ruas já existentes. São largas, só algumas estreitas no Centro. Então tem tudo para crescer. Então nós vamos pegar uma carona neles.
P/1 – E o comércio de Pinda nos parece bem organizado, né?
R – É bem organizadinho. As vezes, até mais do que aqui. A Associação Comercial lá ela é mais festiva, ela acompanha mais essas datas. Hoje não. Hoje a Associação Comercial está na mão de um presidente muito dinâmico e hoje nós já podemos falar que estamos brigando junto já.
P/1 – Aqui a de Taubaté, né?
R – É, de Taubaté, mas a de Pinda, ela sempre foi, assim, dinâmica.
P/1 – E o senhor tem bom relacionamento lá com os comerciantes de Pinda?
R – A minha fazenda é em Pinda, minha fazenda é em Pinda. O meu filho convive bastante lá em Pinda, o mais novo. Nós temos bastante relacionamento lá em Pindamonhangaba.
P/1 – É uma cidade bastante agradável mesmo.
R – Bem agradável.
P/1 – Seu Danelli, seu pai vendia no sistema de... No sistema fiado de caderneta?
R – Nós temos fiado mesmo porque naquele tempo não tinha crediário. Era sistema de caderneta, de ficha. Dava uma quantia, nunca pagava, assim, a quantia certa. Dava o que podia e era muito facilitado antigamente e era muito, assim, amizade. Quando começou vim indústria grande, a Willys, a Ford, mecânica pesada, daí começou vim gente de fora. Daí a gente perdeu um pouquinho o controle de conhecimento, mas naquele tempo conhecia todo mundo.
P/1 – Esse sistema de ficha marcava, é isso?
R – Marcava compra, quando dava, puxava o saldo, assinava na frente, tal. Sistema rudimentar.
P/1 – Vocês tiveram depois... Foi modernizando esse sistema?
R – Depois nós passamos para o crediário. Crediário com carnê. Trabalha-se bem também com cheque pré-datado. Hoje tem muito cartões de crédito, que está quase passando o cheque já. Nós trabalhamos _____.
P/1 – Vocês chegaram a ter crediário próprio?
R – Sempre.
P/1 – Sempre crediário próprio.
R – Sempre próprio. Experimentamos uma vez um crediário contratado numa firma e não ficamos seis meses com ele porque eles tiraram a cobrança da minha loja e o freguês que compra a prazo para pagar em três vezes, volta três vezes na loja. Então eu falei: “Vou cortar porque eu quero freguês aqui dentro.” Ter contato. Então acho que não chegou seis meses de experiência. Nós rescindimos e toda vida crediário nosso é próprio.
P/1 – Isso é uma coisa boa mesmo do carnê, né, seu Danelli?
R – Muito bom, muito bom. Há baixa automática, até o atraso no computador sai já. Você programa quantos dias você pode tolerar de atraso, você tira na hora. Hoje a informática também é um caso.
P/1 – Então, e qual é a sua experiência pessoal com essa tecnologia, seu Danelli?
R – Essa tecnologia eu acompanho de lado.
P/1 – De lado.
R – Com a idade que eu tenho, eu não vou querer enfiar muita coisa mais na cabeça. Então, eu no computador, eu tenho a minha entrada no computador para caixa, para fechamento de caixa, para algumas informações. Mas não procurei detalhes não. Meus filhos, meus sobrinhos, eles sabem bem.
P/1 – Mas o senhor informatizou suas lojas?
R – Todas, todas.
P/1 – Quer dizer, partiu do senhor essa...
R – Não, é exigência. O tempo pede, né? O tempo pede tudo. Pede... Dentro da informática tem coisas que vai ter que melhorando, modernizando. Um computador mais lerdo tem que passar para o mais rápido, um com mais capacidade. Então nós temos que esta sempre acompanhando e evoluindo, né?
P/1 – Quer dizer, então, a Scolástico, eu posso dizer que ela evoluiu em todos os sentidos?
R – Graças a deus.
P/1 – Porque ela está há tantos anos. Quer dizer, o senhor evoluiu a parte de estoque, de venda.
R – De tudo.
P/1 – Porque o senhor também vende com cartão de crédito. Está dizendo que há uma grande venda.
R – Vendemos. Está vendendo bem cartão de crédito.
P/1 – O senhor lembra da chegada do cartão de crédito, como é que foi a reação do comércio?
R – Demorou um pouco para pegar, viu?
P/1 – É?
R – Demorou um pouco.
P/1 Todo mundo desconfiava, seu Danelli, do cartão ou não?
R – Esse acontece, esse negócio de conta e banco... Hoje a turma já confia muito no banco porque o serviço de banco é perfeito. Mas sempre o começo a gente fica com um pé na frente, um pé atrás e daí vamos ver os exemplos de outros aí. Mas hoje já pegou. E é muito bom.
P/1 – É bom, né?
R – Muito bom.
P/1 – O débito automático também o senhor trabalha?
R – Também faço com débito automático. Trabalho com cartão a prazo, 30 dias. Três pagamentos. A gente faz de tudo.
P/1 – Quer dizer que é muito fácil comprar na Scolástico?
R – Fácil é.
P/1 – Muito fácil.
R – É só chegar lá.
P/1 – Nessas sete lojas, quantos funcionários o senhor tem, seu Danelli?
R – Nós temos, mais ou menos, em média de 120 a 130 funcionários. É a média mais ou menos assim. Agora em dezembro, a gente costuma ampliar o quadro porque vem alguns contratados. Nós contamos, as vezes, com ex-funcionário que está desempregado, que quer ganhar alguma coisa em dezembro. Então a gente monta um reforço para dezembro.
P/1 – E os seus funcionários são treinados?
R – São.
P/1 – São treinados por quem? Na própria loja?
R – Na própria loja, nós temos reunião semanal e de vez em quando nós participamos da (Cite Programa?) e a gente participa.
P/1 – Uma pessoa que queira trabalhar no Danelli, na Scolástico, o que ele tem que fazer, seu Danelli?
R –Para entrar é fácil. Aí a gente vai ver, que hoje a informática, a televisão ensina. Você dentro de casa aprende tudo. Então, que precisa hoje para trabalhar é ter vontade de trabalhar, vontade de ganhar dinheiro, disposição, é lógico. Quer aprender, aprende fácil. Aprende com um companheiro, aprende com o gerente. Aprende fácil.
P/1 – O senhor tem funcionários antigos, seu Danelli?
R – Bastante.
P/1 – É mesmo? Conta para gente sobre eles.
R – Eu aposentei lá vários. Eu tenho um gerente que trabalha comigo há 38 anos. Já está aposentado, continua trabalhando. A minha contadora tem mais de 30 anos. Ela entrou menina, já é casada, já fez bodas de prata e tem mais de 30 anos trabalhando com a gente lá. Tem mais uma meia dúzia de chefe de seção também que tem 12, 10 anos de... Tem bastante.
P/1 – Quer dizer, o senhor falou chefe de seção. Quer dizer, há uma estrutura hierárquica na Scolástico?
R – Tem.
P/1 – Quer dizer, tem o vendedor, depois que tem...
R – Nós temos seção de caixa, crediário, pacote, escritório, que o coração é lá porque todas as firmas são administradas e dirigidas pelo nosso escritório central. Então só no escritório nós temos lá uns oito funcionários. Então tem a chefa do escritório, tem a chefa do crediário e assim por diante.
P/1 – E um funcionário pode progredir em termos dessa estrutura, seu Danelli?
R – Pode, porque os gerentes nossos são todos criados e formados lá. Todos os nossos gerentes nossos são ______. Só teve um que veio de fora, que das cinco lojas... Das sete lojas, cinco de calçado e mais duas, o gerente e o sub-gerente foram feitos lá dentro. Só tem um contratado.
P/1 – Eu soube que o senhor, por exemplo, nós vimos a sua loja no Shopping Taubaté, eu soube que o senhor foi um dos primeiros a ir para lá?
R – Nós não somos pioneiros, mas nós entramos logo depois que inaugurou o shopping.
P/1 – Então, e como foi essa experiência de ir para o shopping?
R – O shopping é uma necessidade, que o comércio pede que a gente seque de todos os lados e o shopping tem duas coisas que eu considero importante, muito embora o funcionamento do shopping seja mais caro, lá tem o terceiro período, que é o noturno, que não tem na cidade e trabalha Domingo, é assim. E montar uma marca e uma vitrine para estar sempre em evidência. Então é isso aí. A aparência da marca lá e atender a noite e aos domingos e feriados, que lá, praticamente, não fecha. Então essa é a vantagem do shopping.
P/1 – E essa experiência do shopping em Taubaté ela foi boa para o comércio?
R – No começo, muita gente sofreu. Acho que uns dois ou três anos.
P/1 – Por que seu Danelli?
R – Sofreu porque a freguesia não tinha costume de frequentar shopping. Depois que passou a ver que lá tem estacionamento amplo, ar condicionado, tem a parte de alimentação muito grande, o shopping está além de ser um setor de compras, você tem um local de recreio para você passear. Então, agora, pegou o shopping. Já está... Houve uma pequena ampliação no shopping e já pede até mais. Pode ampliar mais ainda, que pegou mesmo.
P/1 – Qual das suas lojas vende mais?
R – Bom, automaticamente, a principal, né? Da rua Doutor ______. A segunda da rua Visconde.
P/1 – Mas a do shopping vende bem também?
R – A do shopping ela é equiparada com Pindamonhangaba. Da rua Duque está em segundo lugar e a Doutor (Vinte?), primeiro lugar.
P/1 – Qual é o tipo de... Tem um tipo de público, de passagem por exemplo, que compra nessas suas lojas, que os seus vendedores identificam?
R – Tem. Quando vem algum evento, vai montar uma construtora nova, uma abertura de estrada, que traz gente de fora, a gente diferencia. A gente vê que tem gente estranha dentro de casa.
P/1 – E os seus vendedores estão preparados para atender esse tipo de cliente?
R – Estamos.
P/1 – Como é que funcionam as suas lojas? Assim, que horas que abre, que horas que fecha?
R – Horário da cidade é das 8:00 às 18:00. Só que nunca se fecha às 18:00, porque enquanto tiver freguês, você tem que estar atendendo. A gente sai de lá 19:15, 19:30. Então... E sábado fecha a 13:00.
P/1 – Então da segunda a sexta das 8:00 às 18:00 e sábado das 8:00 a 13:00. Exceção a do shopping, aí a do shopping...
R – A do shopping obedece o horário do shopping.
P/1 – Horário do shopping e também funciona aos domingos, né, seu Danelli. Da sua infância, assim, do comércio de Taubaté, o senhor já me falou da Casa Cabral, alguma imagem que tenha marcado? Por exemplo, saiu com a sua mãe ou com o seu pai para fazer uma compra que tenha marcado o senhor, que o senhor lembre assim?
R – Bom, que eu me lembre, a primeira vez que eu fui... Que eu queria uma bola de futebol e um par de chuteira que nós não fazíamos chuteira, né? Então foi... Isso marcou quando eu comprei o primeiro par de chuteira e ganhei uma bola de futebol.
P/1 – E aonde vocês foram comprar, o senhor lembra?
R – Foi, até por sinal, não foi em Taubaté.
P/1 - Não foi?
R – Foi em São Paulo. Aproveitei um dia de compra, que o meu pai foi para lá, e nessa casa que ele comprava couro, tinha para vender. Nós compramos lá. Esse marcou bem
P/1 – Coisa boa, né?
R - É.]
P/1 – Não tinha chuteira aqui em Taubaté então?
R – Tinha, mas não tinha variedade. Não tinha, assim... Em São Paulo tinha fábricas de nome: Zanetti. Gaieta, aquelas marcas já que não vendia no interior. Vendia só lá em São Paulo.
P/1 – D comércio de Taubaté, o senhor não lembra de nada assim? Alguma coisa especial? Ou jovem, ou quando estava para casar?
R – Marcante? Marcante, marcante, no comércio...
P/1 - Deve ter. É que não lembra.
R – Deve ter muita coisa, mas, assim, de imediato, a gente não...
P/1 – Na hora a gente não lembra.
R – Não tem para dizer.
P/1 – Quer dizer, o senhor passou por várias atividades, dentro da loja o senhor faz de tudo?
R – Hoje eu sou um estepe calibrado. (risos) Porque eu tenho o meu setor lá. Eu faço, por exemplo, todos os fechamentos vem na minha mão de manhã cedo. Toda correspondência passa pela minha mão. Todas as duplicatas eu organizo para pagamento e daí eu saio. Eu ajudo nas compras quando está muito carregado. Ajudo a pagar empregado, a dar vale porque as vezes acontece de cair um dia que o meu filho, o meu sobrinho não pode, eu sou o estepe. Além de ter a minha parte que eu executo, eu sirvo aos outros também.
P/1 – Quer dizer que o seu filho e o seu sobrinho hoje é que tocam os negócios, que é o Daniel...
R – E o Hamilton.
P/1 – Quantos filhos o senhor tem?
R – Dois.
P/1 – Dois.
R – Um que cuida da fazenda, o Adilson e o Daniel das lojas.
P/1 – Eles que resolveram entre eles quem ficava no comércio, quem ia para a fazenda?
R – Nunca convidei nenhum filho para trabalhar, que eu acho que isso é uma opção, é uma escolha muito delicada. Você fazer... Que o meu pai nunca me forçou. Eu entrei porque eu já estava debaixo da barra da saia da minha mãe. Eu já estava lá dentro, sem... Meu filho foi estudar um pouquinho né? E quando esse Daniel resolveu entrar lá com 16 anos, eu acolhi, dei bastante autonomia para ele, já naquela época. E o outro não queria. Prestou vestibular para Medicina. Não passou a primeira vez. Falou: “Pai, não vou ficar perdendo tempo. Eu vou querer trabalhar. E eu gosto de mexer com fazenda.” Daí eu comprei uma pequena propriedade para fazer experiência com ele e deu certo. Nós ampliamos também lá e então está assim.
P/1 – Que beleza. Como é que o Daniel, um dia também chegou e falou para o senhor “quero trabalhar na loja”, como é que foi?
R – Não, ele chegou lá e entrou.
P/1 – Entrou, assim?
R – Entrou. Tem o filho dele que está entrando.
P/1 – O seu neto já.
R – É. Agora eu vou sentir as forças dele, a vontade, sem forçar. Sem forçar, até determinar o serviço para ele, para ver se ele se (desencombe?) direitinho. A gente tem que passar.
P/1 – E entra fazendo já de tudo, ou não? Ou entra lá como vendedor?
R – Não, ele entra participando, assim, por exemplo, de estoque. Vai no pacote entregar uma mercadoria, vai assistir uma venda, começar. Vai para o escritório, dá umas bicadas também no escritório e quando vê... Porque nós dividimos porque o Hamilton faz a parte de compra, que é muito complicada. E o Daniel faz a parte, a parte pessoal e a parte de pagamentos, essas coisas. A parte mais... Então cada um é responsável por essa parte, muito embora a gente ajude. E esse garoto meu, pela lógica, o Daniel pegou a minha parte e o Hamilton pegou a parte do pai.
P/1 – Olha que interessante.
R – Então é capaz que ele vai seguir de perto o pai, né? Capaz de pegar essa parte.
P/1 – Que interessante. E o seu neto, como é que ele chama, seu Danelli?
R – Lucas.
P/1 – Lucas. Só tem ele de neto, não?
R – Tem quatro netos.
P/1 – Quatro netos? Como eles chamam?
R – Lucas está com 18 anos. Já tem carta. Natália com 16 anos, do Daniel. Do Adilson tem a Larissa com 11 anos e o Guilherme com nove anos.
P/1 – A família costuma se reunir?
R – Sempre.
P/1 – Sempre.
R – Final de semana na fazenda. Todo fim de semana, a gente vai para fazenda e come lá, passa o dia.
P/1 – Então o Lucas também já está... Então seria...
R – Já está com um pé lá dentro.
P/1 – A quarta geração.
R – É, seria a quarta contando com o meu avô. Meu avô, meu pai, eu... Vai para a quinta.
P/1 – Quinta, quinta, é.
R – Meu avô já é.
P/1 – Ah, sim, seu avô, é verdade. Quinta geração.
R – Aí são 110 anos.
P/1 – 110 anos.
R – 1893, nós comemoramos 100 anos da vinda dos meus avós paternos já faz 10 anos. São 110 anos.
P/1 – Que beleza, em seu Danelli? O senhor, em termos de embalagem, também pegou várias fases de embalagem, né?
R – Sim.
P/1 – Essas mudanças todas acompanhou?
R – Acompanhei.
P/1 – Porque no começo como ia lá, eu comprava... Na década de 40, eu ia, comprava um sapato, como é que fazia? Tinha caixinha e depois?
R – Embrulhava.
P/1 – Embrulhava.
R – E só tinha papel, papel dessas bobinas, né?
P/1 – Sei.
R – Até no começo não tinha nem papel timbrado. Era papel simples. Depois começou, por exemplo, aparecer papel com timbre da firma, aquelas coisas. Agora muito facilitou a sacolinha, né? Sacolinha é uma beleza. Uma tranquilidade, limpeza.
P/1 – Sapato embrulha para presente? Me ocorreu agora.
R – Embrulha, embrulha.
P/1 – É. As pessoas pedem?
R – No Dia dos Namorados, no Dia das Mães, no Dia dos Pais e sapato de criança no natal. Aí você tem que ter uma bobina só de papel de presente. Embrulha e vai na sacolinha.
P/1 - Está certo. E o tênis, seu Danelli? Quando chegou o tênis. O senhor lembra quando chegou?
R – O tênis há muito tempo tem, que o tênis era aquele tênis colegial. Um dos primeiros tênis que eles fabricaram no Brasil chamava-se Germade. Depois veio o Conga. O Conga era da Alpargata. Depois o Conga ficou, assim, muito popularzinho, eles lançaram o Bamba. Daí começou vim os tênis de uso diário, que era o Rainha, o Topper, os primeiros. Daí começou importar o Nike e esses outros importados que nós temos hoje. Mas hoje tem milhares de fábricas de tênis. Marcas, Olympikus, por exemplo, é a fabricação da Azaléia, que é especialista em sandália. Olympikus hoje é um tênis de primeira qualidade, muito embora não seja caro. E tem outros, nossa, quantidade enorme.
P/1 – Tem tênis que custa...
R – Tem tênis que custa mais de 300.
P/1 – Mais de 300 reais.
R – Mais de 300.
P/1 – Mas eu digo assim, quando chegou o tênis houve uma resistência do cliente ou não? O cliente gostou do tênis?
R – O tênis pegou para os jovens. Não via uma senhora ou um senhor de tênis de jeito nenhum. Daí quando começou esse problema de caminhada, que hoje os médicos todos recomendam caminhada, aí o tênis entrou também na fase adulta. E hoje é comum todas as senhoras e senhores ter o seu tênis.
P/1 – E os fabricantes perceberam isso? Quer dizer, existem tênis hoje mais voltados...
R – Apropriado para caminhada. É o mais leve, com amortecedor mais forte, mais... Então para caminhar, tem que ser leve e ter amortecedor, que pega pessoa de idade com começo de esporão, com começo de varizes, começo disso, começo daquilo. Então o tênis ele tem que ser bem levezinho, macio, com amortecedor.
P/1 – Certo. E o que o senhor acha que mais mudou? O senhor acompanhou um monte de mudanças? O que mais mudou?
R – No calçado, eu acho que o que mais mudou foi o tênis.
P/1 – O tênis.
R – Existe uma quantidade enorme de modelos. Já estão fazendo o tênis de amarrar no meio, de amarrar de lado, tênis sem amarrar. Já tem tênis sem calcanhar, de alça atrás. Então o tênis, ele foi uma coisa de louco. Hoje é o tênis. Que a sandália de homem também hoje já está bem variada até, sandália de homem. Já tem acolchoada, tem com napa bem macio, não sei o que. O sapato de homem sempre teve o tradicional, que é o clássico, o social e o sapato de serviço. O de mulher, sandalinha, dá conforto. E sapato de salto e sandália de salto, que é mais social.
P/1 – E no comércio, o que mais mudou? O cliente, a forma de pagar, o que mais mudou no comércio, nas relações do comércio?
R – Eu acho que no comércio hoje o que mudou muito foi o sistema de venda. Hoje o comércio exige, além de estoque, um atendimento muito bom, preço e facilidade. Então, para se completar no comércio para que se tenha venda garantida, você tem que atacar e atingir todos esses pontos porque hoje vende-se muito a prazo. E o freguês sempre quer levar uma vantagenzinha. Se você der 30 dias, ele pede 40. Se der 40, “não dá para jogar para 50?” Então a gente tem que ser bem maleável e fazer esses acordos. “Os três pagamentos é pouco. Não dá para fazer quatro?” “Meu carnê é de quatro só. Mas quer que faça cinco?” “Usa dois carnês. Faz de cinco.” (risos) Então você tem que adaptar também, sempre que possível, o gosto do freguês.
P/1 – E o freguês ficou mais exigente com o tempo?
R – Hoje é mais exigente porque hoje tem muitas opções de compra. Então tem freguês que já vem já... Têm os fregueses de marca, de grife e têm os fregueses de modelo. As pessoas de idade, por exemplo, que quer essa forma redonda, sapato macio. Já sabe até a marca que fabrica aquilo ou aquele. Isso tem mesmo. O homem tradicional que queria o sapato Vulcabrás, Toroflex, ainda tem muito disso ainda.
P/1 – Tem ainda?
R – Tem. É sapato vulcanizado para durar bastante. Tem.
P/1 – E o senhor gosta de fazer compras para o senhor, por exemplo?
R – Não.
P/1 – Não?
R – Não. Eu sou um péssimo consumidor.
P/1 – É mesmo?
R – Sou.
P/1 – Compra nada?
R – A única coisa que eu compro é na minha loja de confecções, calça, camisa, meia e cueca. Só. O resto a minha mulher compra tudo. Até para ir no supermercado, para ir na padaria, é ela que vai. Eu sou um cara que não sei se eu valorizo muito o tempo, se eu estou certo ou errado, eu não sei. Eu vivo muito para o serviço. Então eu sou o primeiro a entrar na abertura da loja e saio no fechamento. Eu vou na fazenda no meio, ou antes ou depois do almoço, todos os dias.
P/1 – Todos os dias?
R – Todos os dias. Então eu aproveito mais que eu posso. A gente tem um certo conforto em casa com piscina. As vezes fica 10, 15 dias sem tempo de dar um pulo. Mas está bom.
P/1 – E compra precisa de tempo, né, seu Danelli?
R – Compra precisa. Tem pessoa que especula, tem que.. Eu, por exemplo, não tenho, assim, luxo com nada de... Essas peças, então, televisão, essas coisas, a minha mulher compra tudo. Ela que troca... Forninho e não sei o quê, ela que compra.
P/1 – Vamos falar um pouquinho do seu casamento. Aquela hora a gente começou, foi aqui em Taubaté?
R – Aqui em Taubaté.
P/1 – Foi bonito o casamento?
R – Eu acho que foi. Eu posso dizer que foi bonito.
P/1 – É. Convidou bastante gente?
R – Bastante gente. Tinha 600 convites o meu casamento. A família grande dos dois lados, bastante amizade. Fizemos uma festa. Casamento foi na Santa Terezinha e a noiva muito... Eu tenho fotografia, pedir para trazer fotografia de casamento.
P/1 – Ah, nós vamos querer.
R – Ela muito bem vestida, vestida de casamento. Nós dois jovens e foi um casamento bonito.
P/1 – E o senhor lembra se ela fez o enxoval comprando aqui em Taubaté ou ela precisou sair para comprar?
R – Antigamente usava fazer o enxoval, não comprava. Bordavam, você entendeu? Desenhava, bordava, fazia o enxoval. Comprava alguma coisa, mas o mais era o capricho da mulher, mostrar que ela fez o enxoval. Hoje não tem tempo. Hoje não tem tempo. A televisão consome o restinho do tempo.
P/1 – Mas usava também um enxoval para o noivo, ou não?
R – Ah, sim. Levava o essencial.
P/1 – Sua mãe dez o enxoval para o senhor?
R – Eu mesmo fiz.
P/1 – O senhor mesmo?
R – Eu já tinha 29 anos quando eu casei. Eu já estava já madurinho. A minha patroa quatro anos e meio mais nova do que eu. Tinha os seus 24 e meio e casamos com cabeça feita, graças a deus.
P/1 – Ela tem alguma atividade hoje, sei Danelli?
R – Ela trabalhou no comércio até aposentar.
P/1 – Lá com o senhor?
R – Ela tem muita atividade assistencial. Ela trabalha para várias organizações e ela tem uma facilidade de angariar fundos. Hoje ela está trabalhando na cesta básica que ela vai fazer 600, fechar 600 _____ ela e o grupo dela. Então tem que comprar duas latas para cada cesta básica. Comprar não, ganha lata de óleo. Ela está na campanha do óleo essa semana. Depois campanha de outra coisa, outra coisa. Santo Antônio, nós fazemos uma festa de Santo Antônio lá no convênio Santa Clara. Nós distribuímos 20 mil pães, ela que organiza. Ela e a organização dela. Mas ela sempre pega bem na frente.
P/1 – Então ela é bastante ativa?
R – Ela tem uma atividade tremenda, viu? Nossa senhora! Faz ______, faz pechincha, faz de tudo. Me ajudou bastante. Sempre ajudou bastante.
P/1 – O senhor fica satisfeito de ver o seu filho, o seu neto estarem no comércio?
R – Olha, aí não é bem satisfeito. Eu quero que eles sejam feliz porque o comércio não é coisa fácil para tocar não. É uma exigência muito grande de horário. Eu posso citar, por exemplo, que as vezes eu estou chegando bem antes da turma lá porque vai chegar uma mercadoria. As vezes tem um representante que atrasa, um freguês que atrasa. Dezembro você não tem... Dezembro, você não vive em dezembro. Você vive o comércio. Mas para a família sobra só o dia 25 e a passagem de ano, que você trabalha com o horário. Eu já cheguei sair lá mais da meia noite, nessas noites de dezembro. Então exige muito na parte comercial, na parte financeira, na parte de horário. Quer dizer, se ele gostar, ele vai enfrentar tudo isso com simplicidade, com facilidade, tanto que não pode forçar por causa disso, porque ele tem que escolher. Então a gente... Quantas vezes a gente acorda de madrugada no frio porque um alarme disparou. Então você tem que comunicar ou voltar, chamar a polícia para fazer vistoria. Isso já ocorreu várias vezes. Eu moro perto do meu filho e nós não vamos sozinhos numa hora dessas. Então, ele me chama ou eu o chamo. Quer dizer que o comércio, você não desliga, que um empregado por mais categorizado que ele seja, ele bateu cartão, se pegar fogo na fábrica é uma pena, mas ele não perde. E o comerciante ele tem que pensar em tudo. Se não largaram o cigarro aceso, vistoria de fechamento de porta de fundo, de frente, alarmes, não sei o quê. É preocupante, mas acostuma.
P/1 – E o que nós poderíamos dizer sobre as lições que o senhor tirou do comércio nesse anos todos?
R – Eu acho que no comércio a gente, uma das grandes lições, é conviver com o público e saber que, graças a deus, a maioria é gente boa, é honesta. Existe alguns problemas, mas em grande minoria. E fazer grandes amizades que eu fiz no comércio porque eu pratiquei esporte, então a turma me encontra lá. O time que eu torço, quando perde a turma vai me gozar lá. Quando o time deles perde, não aparecem. (risos)
P/1 – Pode dizer para gente qual é time que o senhor torce?
R – Eu sou corintiano.
P/1 – E o pessoal mexe muito com o senhor lá.
R – Mexe. A minha família quase todinha é corintiana.
P/1 – É mesmo?
R – Meu pai era palmeirense. Papai era de sangue italiano. Então a turma pergunta: “Por que você Danelli, seu pai palmeirense, ______.” Eu falei: “Porque deram tempo de escolher” Eu escolhi o Corinthians. (risos)
P/1 – O senhor contou ótimas histórias. Não tem mais nenhuma boa contar para nós?
R – História tem bastante. Eu precisava encaixar na hora certa.
P/1 – Encaixar na hora certa. Para gente aqui... Do café foi maravilhosa. Não tem outra, assim, de cliente que tenha sido gozada?
R – O que eu podia falar mais? Têm várias coisas boas aí. Que o comércio, a gente para levar o comércio tem que levar meio assim na brincadeira. Se levar muito a sério, você fica com ruga antes da hora, envelhece antes da hora. Não quer dizer que eu estou jovem, mas...
P/1 – Lógico que está.
R – Mas perde aquela... O sentido da vida, ________ viver muito seco. Você não brinca com o neto, você não brinca com uma criança e eu, graças a deus, ainda gosto dessas coisas assim.
P/1 – O senhor consegue arranjar tempo para tudo?
R – Arranjo tempo. Quando eu estou meio cansado, sou moleque até hoje. Eu brinco com a criançada, chateio, falo... Ainda agora teve um aniversário antes de ontem da minha neta, foi lá na chácara. Eu tenho uma chácara no Areião também, que nós temos um campo iluminado e nós temos jogo quarta-feira e sábado. E ali a gente faz encontros da família, marca festa e o aniversário dessa minha neta foi lá. Então reuniu lá umas 40, 50 crianças, eu estou no meio lá. (risos) Brincando...
P/1 – Seu Danelli, vocês faziam passeios para fora de Taubaté? Por exemplo, litoral quando vocês eram crianças?
R – Muito difícil, que antigamente não sobrava muito tempo e nem dinheiro. Que eu sou do tempo que o comércio abria Domingo de manhã e não tinha semana inglesa, que fechava... Depois de casado é que passou a fechar a 13:00 ao sábado. Então não sobrava. As vezes a gente fazia excursão de caminhão para Ubatuba.
P/1- Caminhão?
R – De caminhão. Montava lá uma lona e ia todo mundo pendurado.
P/1 – E aqui pela estrada....
R – Estrada antiga, velha... Precisava calçar o caminhão nas curvas para manobrar.
P/1 – Demorava também, né?
R – Demorava. Para Ubatuba, sete, oito horas.
P/1 – Nossa!
R – Hoje o ônibus que demora muito faz em duas horas e meia.
P/1 – E era bom ir para praia então?
R – Ah, não tenha dúvida.
P/1 – Essa farra toda aí, né? Então, tá, seu Danelli, o que o senhor acha do Sesc está patrocinando um projeto que fale sobre a memória do comércio do Vale do Paraíba?
R – Eu acho importante porque isso vem à tona, muita coisa que os outros não conhecem, não sabem, né? Que aqui você deve ter entrevistado mais pessoas de outros setores, de outros ramos, e cada um conta uma parte da história, né? Então isso aí eu acho muito importante, muito interessante.
P/1 – E o que o senhor achou de ter dado a entrevista para gente?
R – Gostei, muito embora antes da entrevista, a gente se preocupa um pouco, né? A gente não sabe como é que vai ser a malhação. Então a gente vem meio receoso, mas a gente fica a vontade, graças a deus.
P/1 – Tivemos uma conversa, não é isso?
R – Uma conversa.
P/1 – Não lembrou de nenhuma história?
R – Agora não.
P/1 – Agora não. Mas uma hora vai lembrar e vai contar.
R – Qualquer hora eu lembro.
P/1 – Então está bom. Seu Danelli, muito obrigada por ter vindo, por ter participado do projeto.
R – Eu que agradeço pela escolha do meu nome, da minha firma e espero, futuramente, se puder prestar mais algum favor, algum esclarecimento, pode contar comigo.
P/1 – Então está bom. Obrigada.
R – Pois não.