Cafeteria Ecológica, cafeteria conceito
História de Rodrigo Pastova
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 18/07/2021 por Daiana da Costa Terra
Projeto Memórias do Comércio de Ribeirão Preto 2020/2021
Entrevista História de Vida HV_047
Rodrigo Pastova - Cafeteria Ecológica - Mercado Municipal de Ribeirão Preto
Entrevistado por:Daiana Terra e Luís Paulo Domingues
Transcrita por Selma Paiva
P1- Bom, Rodrigo, primeiro eu queria que você falasse o seu nome completo de novo, pra ficar gravado pela sua voz, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R1: Ok. Boa tarde. Vamos lá. É Rodrigo Pastova. O nascimento é 03 do quatro de 1977. Nascido aqui em Ribeirão Preto mesmo.
P1: Legal. E qual é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1: É, o nome do pai, João Pastova, e a mãe, Irene Reina Pastova.
P1: Legal. Você conheceu… você tem avós ainda? Conheceu seus avós? Podia falar o nome deles? Paterno e materno.
R1: Olha, eu conheci minhas duas vós, né? O vô eu conheci muito pouco, né? Uma das vós, da vó materna, né, era Maria Rodrigues Reina, né? E a minha vó, por parte de pai, era Antônia Pereira Páscoa. Ela não entrou no Pastova, né, junto, né?
P1: Sim. Sim.
R1: Rolo de imigração.
P1: Isso. Mas e de onde que eles são? Eles vieram para Ribeirão de que local? Você sabe?
R1: Olha, é, ao certo, eu não sei muito, não. Mas eram cidades próximas, né? Acho que minha vó materna e meu vô, da região de Votuporanga, né? E o pessoal do meu pai é aqui do nordeste de São Paulo mesmo, né? Aqui próximo da nossa região, aí um misto aí.
P1: Sim. E o Pastova é um nome que, lá no passado, veio da Europa, de algum lugar? Você sabe?
R1: Sim, sim. Ele tem uma... várias transições aí no... com erro de cartório, né, a pessoa não pronunciava o nome certo. Então, foi tendo várias variantes aí, né?
P1: Legal. E, Rodrigo, o que que seus avós vieram fazer em Ribeirão Preto, quando eles vieram para cá?
R1: É.. Eles vieram pela facilidade e poder dar uma vida melhor para os filhos, né? Porque, antigamente, se pensava: “Pô, lá na roça, no campo, né? Não vai ter futuro, né? Não tem televisão, não tem energia elétrica”. Né?
P1: Sim.
R1: Como muitos aí, trocaram grandes terras aí a troco de um pouquinho de televisão, uma casa na cidade e tal, pela facilidade, né?
P1: Sim. E você sabe a profissão deles depois, aqui, tanto dos avós, quanto dos seus pais?
R1: Dos meus avós... a minha avó materna, né, era benzedeira, cara. Então, tipo ((Risos)), eu não sei se é profissão, né, mano, mas era o que eu a via exercer e, pela galera que ia, exercia muito bem.
P1: Sim.
R1: O meu vô paterno, né, marido dessa minha vó que eu falei, eu conheci… só conheci histórias, tal. Mas quando veio para a cidade aí, já veio muito debilitado, né?
P1: Sim.
R1: O meu avô materno é… Ele chegou, aqui, trabalhar um pouquinho com mascate, né? Vendas. Compra aqui, vende lá, tal. Mas também, já, quando conheci, muito de idade, já.
P1: Está certo.
R1: E o meu pai…
P1: E os seus pais? É. Desculpa.
R1: É. Os meus pais… é… o meu pai, ele é… foi… trabalhou aí, desde criança, na farmácia, até os 18 anos. E, para poder casar com aquela moça bonita que ele gostava, entrou na PM, né? Então, virou um policial militar, né, para poder casar com a moça gostosona lá e tal.
P1: ((Risos)) E a sua mãe?
R1: E minha mãe…
P1: Fazia o quê?
R1: A minha mãe era dona de casa, mas com vários afazeres domésticos, né? Costura para fora, tal, coisinhas assim, para implementar, né? E poder cuidar das crianças e das pessoas de idade da casa, né?
P1: Legal. E você, Rodrigo, sabe como eles se conheceram? Como é que seu pai conheceu sua mãe?
R1: Olha, assim, na história afinco, eu não sei qual que foi o conhecimento, tal, mas parece que meu pai foi cevando aí no meio do caminho aí, em trabalhos que minha mãe ia, né? Até por estar numa farmácia, que eram poucas na cidade, né? E lá mesmo que fazia as drogas, né? Então, era uma… um auxiliar de farmacêutico era muito cogitado, né, pra… até praticamente um médico, né?
P1: Sim.
R1: Resolvia muitos problemas.
P1: Sim, verdade. E, Rodrigo, quando você nasceu, onde é que seus pais moravam, né? Como é que… você lembra da sua primeira casa? Como é que era a rua? Devia ser bem diferente de hoje, né? Como que era o ambiente, lá?
R1: Ó, cara, eu posso me chamar de um ribeirão-pretano da gema, né, cara. Eu sou da Vila Tibério.
P1: Sim.
R1: Um bairro tradicionalíssimo aqui em Ribeirão Preto. Conexão com a cidade inteira, né? Foi… todo mundo tinha uma vó, um tio, um primo, que morava na Vila Tibério, né?
P1: Sim.
R1: Era um bairro muito tradicional. E lá…
P1: Legal.
R1: …hoje mudou muito. Assim, o que mudou mais foi a parte externa, de tipo muros altos, né? Porque lá era mureta, onde a molecada ficava sentada e tal, nas muretas, né? Não eram muros, né? A mureta já ia para o jardim da casa, que já chegava no quarto, já, no primeiro quarto, na varanda.
P1: Sim. E você teve… tem irmãos? Tem irmãos?
R1: Tenho. Tenho um irmão só, né? Um pouco mais velho que eu. Sete anos mais velho que eu, né?
P1: Certo. E do que que você gostava de brincar na rua, quando você era criança, lá na Vila Tibério?
R1: Ah, mano, não sei como que vocês chamam aí. Lá, a gente chamava de bets, né?
P1: Ah, é.
R1: Lá tinha quatro bolinha de tênis e dois tacos e vai tacada em todo mundo quando dá briga e isso aí era a maior diversão da molecada.
P1: Sei. E que mais? Que outras brincadeiras que tinham? Que que vocês faziam? Vocês iam no cinema? Vocês iam atrás do circo? O que vocês faziam?
R1: Ó, na parte, assim, cinema, me lembro muito pouco porque, se não me engano, nas férias de julho da escola, tinha lançamento do filme dos Trapalhões, né?
P1: Sim.
R1: Então, aí, era categórico você ir, né? E, no final do ano, ou vice e versa, os fatores aí, que eu não me recordo muito, tinha a Turma da Mônica, né? Que também era no cinema. Era uma coisa muito esperada. Mas também parques de diversão que vinham, circos e tal, animava bem a galera, né?
P1: Certo. E você pegou ainda a época do trem? Porque o trem passava aí perto da Vila Tibério, né? O trem passava aí embaixo, aí onde é a estação rodoviária. Ainda é da sua época?
R1: Não. Não. Da minha época, não. Eu andei de trem porque, quando eu tinha 13 anos, eu entrei no Senai e fui contratado como estagiário da Fepasa, né? Aí, então, lá, de vez em quando, nós andávamos de um bairro para o outro, de um setor para o outro. Mas, como turismo, infelizmente, nunca andei.
P1: Sei.
R1: Mas aqui a gente tem muita memória ainda da parte de trilhos. Tinha a __ (09:18) tem uma outra lá na Fepasa, tal. O trem foi muito forte aqui para a história, né, da nossa cidade.
P1: Sim. E, Rodrigo, e na escola? Onde é que você estudou e o que você gostava da escola, assim? Que disciplinas, professores? Como que você levou a vida escolar?
R1: Ô, caramba, hein, mano. Eu vou tentar não caprichar aí e resetar os palavrões, porque mexe muito, né? O italianismo bate forte no palavrão. Pô, mano, minha escola EEPG Dona Sinhá Junqueira. Na verdade, ele era um palácio onde morava a Sinhá Junqueira, filha do Junqueira, grandes agricultores, né? Coronéis da cidade aqui, né? Então, era uma mansão. Tinha porão, o caramba a quatro lá, né? Uma coisa assim. Até hoje é emocionante você passar. Quem conhece lá dentro, é uma loucura, né? A sala da diretoria, que eu frequentei muito, assim, é muito envolvida no tempo. Ali, a escola era, tipo, faz parte da história da cidade também.
P1: Sim. Ali virou a biblioteca agora? É lá que é a biblioteca?
R1: Olha, não. Na verdade, a biblioteca, na minha época, ela se chamava Altino Arantes, né? E hoje ela foi para a Fundação Sinhá Junqueira, que tem várias aí, né, da parte deles, tanto com a nossa escola, que era estadual, mas sobrevivia do Instituto Sinhá Junqueira. A gente tem maternidade pública e social, que eles bancam para as pessoas que não podem, de altíssima, assim, excelência, né? Para a população mais carente e tal. E acho que, pela reforma, tudo, mudaram o nome de Altino Arantes para, também, da Fundação Sinhá Junqueira, né?
P1: Entendi.
R1: Mas faz o perfil. Lá, era nosso Google da época.
P1: Legal. E você estudou nessa escola, e depois? Depois, chega a época do colegial, de escolher alguma profissão. Que você pensou sobre isso?
R1: Pô, cara, é muito difícil, assim, porque, eu pensei… fui para o Senai. Adoro mecânica, cara. É minha paixão. Montar, desmontar. Não vejo a hora de alguma coisa dar algum problema, para montar e desmontar.
P1: Sim.
R1: Batalhei, entrei no Senai, assim, para escolher o curso, tudo. Depois fiz outros cursos, né? No caso, fiz mecânica de precisão lá, né, que é a parte de tornearia, usinagem de peça em geral. Achei muito legal, mas não era minha vibe. Tentei mecânica de auto, de moto e depois eu descobri que não era minha profissão. Era meu hobby, era minha paixão eu fazer aquilo: “Eu quero pegar essa hora para fazer isso”. Tal. Aí, segui. Fui me arrumando aí, fazendo uma coisa ou outra, sempre me virando aí. Depois disso aí, vários empregos. Quem me oferecia dez reais a mais, eu ia trabalhar para ele, largava mão e só felicidade. E envolvimento no skate, já.
P1: Ah, você gosta de skate também? Você andou de skate?
R1: Ó, bicho, andei muito tempo, né? Hoje, pela minha posição aqui, eu não posso me machucar, aí eu evito. Mas foi uma paixão aí, dos meus onze até meus vinte e cinco anos, assim, o carrinho sempre embaixo do braço. Qualquer coisa que ia fazer, casamento, tal, estava com ele lá embaixo, que ia ter uma oportunidade de andar, né? Hoje eu não posso me machucar, né? O conserto é um pouquinho mais demorado.
P1: Sim.
R1: Mas vamos ver aí. Trazendo uma pista de excelência com a idade aqui na nossa cidade, quem sabe, né?
P1: Legal. Chegou a disputar campeonato de skate, assim? Disputar torneio?
R1: Olha, cara, assim, muito marretado, na parte de pré-amador. Nem amador, né, porque os caras andavam muito bom. E a minha cidade era muito carente. Eu, quando eu comecei no skate, a gente tinha só o Corsário aqui, que hoje é fechado, virou um salão de barbearia, depois de muitas coisas que virou. E só tinha os vértices, né? Que era o Half, o Mini Ramp e tal. E isso, você não podia andar, porque a polícia tomava o skate ou quebrava seu skate, né? Era uma época meio áspera aí, no sistema skatista era escória. E depois, nunca tivemos pista. Então, até para você treinar para um campeonato e tal, a gente tinha que ir pra Orlândia, Uberlândia, muitas cidades aí da região, que tinham pista, né? E a gente aqui não tinha. A gente fazia os obstáculos nos bairros, guardava na casa dos outros, para poder treinar, né? Então, era meio… era muito injusto a gente tentar pegar a galera aí que tinha pista, tal.
P1: Sim. Sim. E, Rodrigo, e no Senai? No Senai você ficou quantos anos, estudando lá?
R1: No Senai, eu fiquei de 1991 a 1993, né? Era um padrão muito bom, né? Um nível, assim, europeu, de primeira. Tipo: eu, como estou no comércio aqui, matemática, compra, venda, tributos, o caramba a quatro, tudo muito rápido, fiquei mais rápido. Tipo: o cara de Matemática nosso lá, o professor Nicola, cara, tipo, o cara fez uma mágica na minha cabeça, que é loucura.
P1: Sim.
R1: Mas o Senai me ajudou muito até hoje, né?
P1: E você foi trabalhar quando você terminou o Senai? Foi primeiro para onde?
R1: Olha, cara, eu terminei o Senai e era para mim ir para a Fepasa. Só que a Fepasa já estava fechando aqui. Eu ia ser um funcionário público. Eu ia ser manejado para Araraquara, porque não tinha aqui para mim, ia ser fechado... só que minha mãe me conhecia um pouquinho e o salário era muito alto. Ela falou: “Não vou. Vai acabar com o mundo. Esse maluco ganhando esse dinheirão aí, morando sozinho, cara, não vai prestar, mano”. Aí eu acabei trabalhando em várias firmas, mas como um bico, mas… aí, no caso, a entrada do real mostrou para todo mundo que importar era mais barato do que fabricar. Aí, então, teve uma demanda assim, acabou, né, com a parte de metalúrgica em geral, né? Os caras preferiam terceirizar serviços, importar, fazer o mínimo aqui, que saía muito caro, né? Um real, um dólar, né? Eu saí bem nessa época, né? Foi uma época muito bruta. Graças a Deus para a indústria, que senão estava lá ferrado até hoje.
P1: E depois? Aí você foi fazer o quê? Trabalhar onde, assim?
R1: Nossa, cara, aí fiz muito trampo, assim, fuçado. Meu intuito, depois disso aí, era ganhar dinheiro e tirar onda, né? Eu não queria compromisso. Então, nós pegávamos empreita aí, uma molecadinha. Quando conseguia o dinheiro que a galera precisava, todo mundo abandonava tudo e ia curtir, né? Então, fui pulando de galho em galho. Quem nem eu te falei, quem dava dez reais a mais, nós estávamos lá. Juntou o dinheiro, não voltava nem para receber o que tinha para receber. E ‘bora’ curtir.
P1: E vocês faziam o que para curtir? Vocês iam nos barzinhos? Tinha algum evento legal? Vocês iam viajar? O que vocês faziam nessa curtição aí?
R1: Ó, a galerinha, assim, nossa, gostava muito de rock and roll, né? Até, graças ao Sesc aqui, nós era bombardeado de bandas boas, né? A preços justos, né?
P1: Sim.
R1: Curtimos muito isso aí. Mas, por fora, grandes festivais. Aqui eu lembro, por ter sido escoteiro e aproveitei muito dessa parte da juventude, em torno de cem quilômetros aqui, de um raio de Ribeirão Preto, nós conhecemos mais de duzentas cachoeiras, né? Então, o mato era muito legal. O final de ano, curtir o mês de aniversário de Praia Grande, aqui em Sampa, aqui no litoral lá. Festa de janeiro, do primeiro de janeiro até o último dia de janeiro. Então, era focado nisso, a vida.
P1: Sei. E vocês iam como? De moto, de carro, de ônibus? Como?
R1: Ah, até muito tempo, na verdade, a gente ia... plaquinha: cidade tal. Fazia campeonato quem chegava mais rápido na carona.
P1: Era na carona.
R1: O dinheiro da passagem nós garantia várias semanas lá, né? Porque moleque faz amizade rápido, arruma um lugar no outro, no outro, no outro. Então, ninguém pagava hospedagem, não pagava nada.
P1: E Ribeirão Preto não tinha as bandas de rock que vocês gostavam, que era de Ribeirão também?
R1: Po... ó, já quase saiu palavrão. Tinha, mano. Tem. Tem várias bandas aí muito boas, aí, né, cara. Tanto no circuito de blues, do rock and roll, assim, da parte que a gente acompanhava, né? Até pelo skate, a galera do hip hop, do rap, a gente acompanhava, assim. A gente tinha nomes muito marcantes mesmo, bandas excelentes, né? A parte cultural de Ribeirão Preto aí, informal, assim, era muito boa, né? A gente teve uma época aí que a gente estava fechando o quarteirão do rock, né? Hoje, ali, o Instituto do SEB comprou tudo, mas era um L, um quarteirão quadrado central. Então, a gente tinha uma rua só de sebos de discos, camisas de rock and roll, lojas de skate, tatoo. E ali os caras conseguiam fazer, pôr os obstáculos para skate. As nossas bandas regionais tocando lá para nós, né, cara. Tipo, muitas com som próprio, outras covers, né? Mas uma galera aí que, graças a Deus, marcou muito a nossa história.
P1: Sim. Você chegou a ter também banda, tocar, ou não, só curtir?
R1: Pô, mano, tentei muito, mas… só uma piadinha aqui, só para os locais, né? A gente tinha uma rádio aqui chamada Melody e ela toca muita música antiga, né? Eu zoava e falava: “Pô, mano, só vou decorar a merda dessa música aí, quando ela ir pra Melody, cara”. Então, tipo assim, não era a minha vibe. Cheguei, cheguei a tocar bem guitarra, tal, mas parecia que não era uma coisa que você fazia, assim. Parecia uma coisa mecânica, né? Não era uma coisa evolutiva.
P1: Sim. Sim.
R1: Né? De um prazer e tal. Só para fazer moral, mesmo.
P: E quais que eram… além desse L que você falou, que era metade de um quarteirão inteiro só do pessoal do rock, do skate e do rap, que outros lugares tinham em Ribeirão nessa época, que era legal, do pessoal mais jovem, que gostava dessa cultura mais rock? Tinha algum bar legal? Alguma casa de show legal?
R1: Cara, casa de show, assim… depois de algum tempo, aí já para mim ficou complicado, apareceu. Mas, na verdade, que nem você falou, Ribeirão é boteco. É mesa em rua. O bar pode ser micro, mas ele tem uma calçada grande para usar, lá é o fluxo.
P1: Sim.
R1: A gente teve aqui vários nomes, né? Da minha época, falando, Lugar Nenhum, na Avenida Treze de Maio, tipo era o bar, música ao vivo. A gente tinha… o nosso escritório, a nossa sede que… veio um rapaz, se não me engano, de Fortaleza e o sonho dele era ter um fã clube do Raul Seixas.
P1: Sim.
R1: E nunca conseguiu isso. Em todo lugar que ele rodou, nunca conseguiu. Chegou aqui em Ribeirão, ele montou um bar, os Grã-Kavernista, chamado de Sociedade Alternativa.
P1: Sim.
R1: Então, ali, tipo, quando não tinha show, o cara pegava lá, né? O Júnior, né, bem sósia do Raul e ficava tocando Raul para nós. Quando tinha banda, tinhas as bandas. Quando não tinha banda, você chegava: “Ô Júnior, faz lá _________ (23:01) da banda tal”. Subia no palco e cantava. Aí, ali, era a galerinha ali da elite, o rock and roll e tal, da diretoria. Só a molecada mais chegada, mesmo. Meio que virou um fã clube ali. Ficou muito legal. Esse aí é muito marcante. Adoro passar lá na porta. Já foram várias outras coisas e eu ainda gosto de passar lá na porta, que ainda tenho memória.
P1: E sua vida no comércio, como comerciante, começou como? Como é que começou a sua vida de comerciante?
R1: Cara, isso aí foi uma coisa, assim, totalmente fora dos parâmetros. Meu sogro ele tinha… tem, né, um sítio aqui em Brodowski, próximo a Ribeirão Preto. E era sonho, né? Aposentou. “Preciso achar uma sarna para coçar, preciso ganhar dinheiro, né? Preciso mostrar que eu estou vivo, que eu não sou um aposentado, eu estou inútil”. E tal. E a coisa ficou muito complicada, porque o escoamento ficou caro, ficou difícil. Surgiu uma oportunidade de entrar aqui no Mercadão. Não era meu ramo, né? Eu estava procurando na área, eu estava trabalhando com posto de combustíveis, né, prestando serviço e tal e estava um salário muito bom, tal. Mas acabei vindo dar uma força. Aí, quando fui correr atrás da minha vida, já… a cafeteria fazia parte... eu fazia parte da cafeteria, né? Então, acabei… dali para a frente, me envolvi aqui, acabei pegando ela, tocando. Continua um negócio familiar, tal. Mas isso aí já, ‘bora’ lá para os 16 anos já, né, cara.
P1: Ah, é? Que ano que foi que vocês começaram aí no Mercadão?
R1: Aqui foi final de fevereiro de 2005.
P1: 2005. E aí?
R1: Já faz…
P1: Como é que foi? Assim, vocês pegavam café do sítio e traziam para aí? Como que foi?
R1: Isso. Isso. É, café do sítio, outros produtos, né? Porque o café, ele demanda… ele agradece muito se ele tem banana lá no meio, se ele tem mamão. E esses subprodutos, também, no início, ajudou a gente a fazer nome, fama com a galera, né? Porque, quando nós abrimos aqui em 2005, no Brasil, geral, não se ouvia falar em orgânico, né? Então, tipo, é meio: “Ah, é uns retardados aí, que está tentando fazer alguma coisa dar certo, coisa de fresco, tal”. Então, foi um campo, assim, meio demorado para a gente malhar, né? Mas, graças a Deus, viramos aí uma referência aqui na cidade também, com nome.
P1: Legal. E já começou com esse nome, Cafeteria Ecológica? Vocês já tinham esse nome?
R1: Sim. Sim. Já começou com esse nome. Já começou com esse nome. Tinha um outro nome de razão social, né, que não tem nada a ver com o nome fantasia. Mas aí, até por facilidade, trocamos e colocamos o Cafeteria Ecológica Limitada ME, né, que aí já ficou tudo zerado.
P1: E aí, para vocês aprenderem a fazer o cultivo orgânico, como que foi? Você já sabia? Você foi atrás de estudar isso? Ou a família já sabia? Como é?
R1: Ó, é... eu, no meu lado de roça aí, eu brinco com jardim, alguma coisa. Talvez, futuramente, eu tenha que me envolver mais, mas é que nem eu falei: adoro terra, tal, mas é igual a historinha da mecânica lá: é um hobby, uma coisa legal. “Ó, vamos fazer isso agora. A lua está legal. O sol está legal”. Né? Mas, se precisar, né? Nunca falamos. Mas isso aí foi um sonho do meu sogro, né, o senhor Eduardo aí. Ele queria produzir até uma alimentação natural para ele, por isso e tal e acabou engatilhando aí e a gente foi trabalhando junto, né?
P1: Está legal. E aí, vocês abriram a cafeteria e já foi sucesso na hora ou vocês tiveram que fazer alguma campanha para chamar o público? Ou não precisou, por que já era o Mercadão? Como é que foi?
R1: Puta, vamos pôr até o final do palavrão, cara ((Risos)). Não, não, cara. Isso aí, eu lembro que a gente, tipo... quando eu já estava aqui, meio tocando sozinho, sem funcionário, quando eu atingi um número de falar: “Ó, está livre um salário mínimo”, nós já estávamos aqui há mais de seis meses, mano. O bagulho foi dolorido.
P1: É.
R1: Foi muito demorado, foi muito… a melhor propaganda que existe, né, a pessoa, um passando para o outro: “Vai lá. Conhece”. Mas aí, depois disso, chamou atenção da mídia, muito. Aí é jornal, tal. À época, não era uma publicidade digital boa, vinculada, direcionada, que nem a gente tem hoje, né? Que as nossas mídias sociais aí, que deixam a televisão como pé de chinelo hoje, né? Antigamente, era uma coisa mais vinculado. “Ó, rádio é tal público. Televisão é tal público”. Né? Então, isso aí foi muito difícil, né, nessa parte de publicidade. Foi mais na raça, mesmo.
P1: Ô, Rodrigo, essa aqui é a Daiana, chegou aí, ó, nossa companheira de trabalho.
P2: Oi, Oi. Tudo bem? Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde, pessoal.
R1: Oi, Daiana, tudo bom?
P2: Tudo bem?
R1: Prazer.
P2: Prazer. Boa tarde.
P1: Pode fazer umas perguntinhas também, se ela quiser.
P2: Vou, sim. Não, mas pode prosseguir, Luiz. Depois eu pergunto.
P1: Está bom, então. Ô, Rodrigo, vocês chegaram a fazer propaganda fora daí, do Mercadão, na rádio, jornal, televisão? Ou eles é que vinham entrevistar vocês?
R1: Depois de um ano, mais ou menos, né, o orgânico, ele começou a chamar atenção, né? “Ó, um ato necessário, ó tanto para a saúde, quanto meio ambiente”. E tal. Aí acabou tendo uma procura, né? E o Mercadão não tem como, né? Você fala a galera da mídia aqui da região, né, os nossos nobres jornalistas, radialistas, apresentadores, estão diariamente aí com a gente, né? Então, isso aí facilitou muito, porque o cara: "Ou, preciso de tal coisa. Ó, não, vamos lá no Mercadão, que tem o fulano, tem o tal". Então: "Ó, o café aumentou lá na roça, vamos lá na roça”. Cicrano: "Como que está o café aqui na xícara?” “Abaixou lá” “Ó, a qualidade vai ser boa” “Vai ser ruim". Determinados produtos que a gente também, na verdade, é uma cafeteria e mercearia, né? Então, a gente tem alguns produtos. Principalmente, o que a gente usa para elaborar os nossos produtos finais, né, de balcão, a gente vende tudo aqui, né? Para a pessoa poder ter um pedacinho da gente em casa, né? Ou o lugar que ela quer fazer uma graça, tal. A gente disponibiliza isso para os clientes, né?
P1: Legal. E quais outros produtos que vocês têm aí? Que vocês produzem.
R1: Ó, na loja aqui, a gente tem uma parte... a gente tem vinho, um projeto lá do sul, uma vinícola que envolve 186 famílias, isso há dez anos atrás, hoje eles estão um pouquinho maior, essa cooperativa, né? Eles estão aí desde o começo da gente. A gente tem a Usina São Francisco, mais conhecida aí por vocês como Native, né? Que entra a __ (31:43) do açúcar. Quando a gente abriu a porta, eles já estavam aí. Na verdade, na época, eles só tinham isso, né? Era o açúcar e acabou. Hoje, não. Hoje, os caras têm uma linha de orgânicos muito grande. A gente tem esses produtos aqui também. Vinagre da maçã, azeite. Tudo que é meio relacionado à saúde, assim, a gente vai trabalhando, né? O pãozinho de queijo, que não pode faltar, né? O bolinho da vovó, tal. Mas, de produção lá do sítio, a gente teve uns problemas aí. Por ser uma área muito de decomposição, é muito volátil a fogo, a gente teve dois incêndios nessa década que fechou, né? Até pela proximidade de cana, tudo, complica muito. Então, agora está no processo de regularização lá, até para ter, poder ter mais produtos, né, para a pessoa poder pegar, sentir aquela energia toda que foi passada com o produto, né? O verdadeiro. Não desembale, descasque, né? Saber um produto que vem direto da terra, né? Não passou por outro processo e tal, né?
P1: Entendi. E, Rodrigo, e como é que vocês fazem esse processo de produzir e vender aí? Você participa de tudo? Você fica no sítio olhando o pé do café? Você fica cuidando lá da roça também ou você só é o comerciante aí?
R1: Cara, na verdade, eu só sou o comerciante, só, né? Eu acompanho, assim, por notícia, né? Reuniãozinha que a gente faz aí, eu e o ‘seu’ Eduardo, tal, então a gente sabe o que está pegando lá. O sítio, com o problema desses incêndios, ele acabou pegando de alguns produtores da... ali, regionais dali, que viram o nicho de mercado, de tipo: "Ó, os caras querem um produto diferente, mas eles pagam um preço bom. É compra garantida”. Né? Então, já moveu isso também, já... de vez em quando chega alguns produtos de uns parceiros nossos também que produzem e tal. Quer ver, ter o prazer de sentir todo aquele trabalho dele chegando no consumidor final, numa mesa final, né?
P1: Sim.
R1: Mas, assim, atualmente, eu só na parte aqui do comércio, que o povo está procurando, o que que a gente precisa fazer, tal. Por enquanto, ainda é meio saturado aqui, nessa parte, né? Mas acredito que, futuramente, a gente vai lá pôr o pé na terra também, se Deus quiser.
P1: Certo. E é longe o lugar onde vocês produzem? Para chegar até aí é muito longe de Ribeirão ou é pertinho?
R1: Mano, é muito perto, cara. Dependendo, assim, se você tiver na saída norte da cidade e precisar ir para o sítio, você vai chegar muito mais rápido no sítio do que na zona sul de Ribeirão Preto, cara. Dá, eu acho que... daqui da parte central, que a gente está no Mercadão, até lá na porteira, em torno de uns 35, 36 kms, né, cara?
P1: Bem pertinho. Pertinho.
R1: Numa estrada muito boa, tal. É bem pertinho.
P1: Viu, Rodrigo, e o método de preparo, muda alguma coisa? Do seu café. Eu lembro do cheiro, quando eu fui aí, que lá de fora você sentia o cheiro do seu café. Muda alguma coisa?
R1: Carai... piiiiiii. Pô, mano, demais, mano. É absurdo. Assim, a gente trabalha com grãos das arábicas, né? Na família dos arábicas. Então, assim, já é um café muito perfumado. E a tendência disso... a nossa região aqui, se você engloba aí região de Araraquara, região de Ribeirão Preto, região de Franca, que Franca ainda pega um pedaço de Minas ali, somos denominados Alta Mogiana, né, cara? Aí, pô, é um café que não tem altura para ser um café bom, só que as terras ‘é do caramba’, né, meu? Então, dá um café de qualidade, tem a altura necessária. E aqui, como a nossa região foi um centro de migração dos italianos, então, assim, a gente aprendeu a tomar um café não amargo, mas de sabor encorpado e nisso ganha esse cheiro aí que daquela vez você sentiu aqui, né? O aroma, assim. Então, a gente, assim, um café muito encorpado, muito forte e, tipo, o nosso padrão aqui de bebida é Ribeirão Preto e Itália. Qualquer outro lugar vai ter uma diferença. Quando chega, assim, quando a gente está na porta da rodoviária, ser um local histórico e cultural, quando a pessoa toma, assim, ela delira, né? Porque muda muito o que apresentaram, né? O mundo apresentou outro tipo café: "Ó, café é isso". E nós aqui fechamos no mundinho dos brasilianos, né? Dos italianos, que ensinaram a gente produzir e preparar o café, né? Então, tem uma pegada muito especial aí nessa nossa região, né?
P1: Muito bom. E, Rodrigo, a sua máquina é... eu não lembro, eu acho que a sua máquina também era diferente. Não é diferente, sua máquina?
R1: Eu tenho… Eu tenho, assim, eu tenho a máquina do café espresso, é uma máquina simples, né? Não chega a ser uma... tipo essas bibelô de padaria, aquelas coisas gigantescas, só que aí a gente dá um up grade nela. E, para o café que a gente tem, dá pau em máquina que é mais cara que um carro, né? A gente consegue atingir isso, tanto pelo up grade que a gente dá numa máquina pequena, quanto o café utilizado. Mas aqui, cara, na verdade, talvez a máquina que você está falando, é um esterilizador, onde eu ponho as xícaras que ficaram na mesma temperatura e ali vai o café coado, que, ele é moído na hora de fazer, pesado, a água medida, a temperatura batendo ali e passa-se esse café e que aqui a gente chama de café tradicional, que seria o café coado, né? Esse é o xodó da casa, né? É o que mais dá giro aqui, é o café tradicional nosso, né? Mas também tem os outros.
P1: Ah, entendi. E, Rodrigo, e quem que é seu cliente, assim... qual que é o tipo do seu cliente? Eu sei que você está no Mercadão, aí tem todo tipo de gente, né? Mas quem que gosta de ir aí sempre?
R1: É… Aqui, meu, a gente tem um... assim, um público, que nem você falou, a gente está em um Mercadão, na Baixada aqui, num centro histórico de Ribeirão Preto, né? O início lá da região aí e tal, então, a gente tem um público de A à Z, assim. Mas, assim, o público que é o firmeza, assim, cara, são meus amores, os velhinhos aí, tal, assim, é em peso. A molecadinha, criança, assim, que adoram o pão de queijo, aí chega com uma... já chega zoando a gente e tal e é fissurado. E hoje, diferente da minha época, que nem eu falei, eu fui nascido e criado na Tibério, então, o padrão de vida totalmente diferente do que acontecia no mundo, né? E lá, assim, tinha cultura: "Ó, chegou? Vamos tomar um café. Ó, vai embora? Pera aí que eu vou passar um café”. Né? A galera da minha idade de Ribeirão Preto, é mínimo o que toma café, né? Mas hoje isso é muito o quê? A galerinha aí, vamos falar, dos seus 15 a vinte e poucos, que está na pressão dos estudos e tal e que descobriu que isso é uma chave para você manter a atenção, o foco, não só o sono, né? Então, assim, também é uma galera super dez de trabalhar. O que dá desânimo é quando você vê a porcaria dessas infelizes crianças e de repente eles já estão formado na faculdade, né, cara? Aí você fala: "Pô, mano, estou velho para caramba". Mas o nosso público é esse, né? Pega essa galera mais antiga aí, que são nossos professores, né, cara, de vida. E a galera, vamos falar, o cool, né? O legal, tal, né? Essa galera de, tipo: “Puts, não sei quem eu sou, eu sei quem eu vou ser”. Né? Tipo, aqueles projetos... que é uma galera que te ajuda a te empurrar também e faz você sonhar como eles, né? Com tudo diferente que você vai proporcionar ao mundo. Então...
P1: Sim.
R1: ... o público é o melhor.
P1: E você gosta de trabalhar aí no Mercadão? Do ambiente, do pessoal. Como é que é trabalhar no Mercado Municipal, que é uma coisa que, hoje em dia, é raro, poucas cidades têm um mercadão municipal histórico que nem esse, né?
R1: Pô, mano, é uma pegada, assim, muito forte, cara. Porque, você imagina, eu tenho várias horas vagas, né? Agora, por exemplo, aqui, eu estou contigo, a galerinha aqui, a minha família profissional aqui, trabalhando, né? A molecada que trabalha aqui comigo e eu estou aqui parado, né? Mas o meu expediente se inicia às seis da manhã e vai até às 18 e pouco, né? E… eu tenho esse sorriso... Talvez agora, porque eu tirei a máscara, tal, né, aqui, para fazer a conferência, mas agora você não vê o sorriso, mas vê o semblante. Cara, é muito gratificante. A gente começa, assim, pelo Mercadão. Fixo, diariamente, a gente tem um quadro de funcionários de quase quatrocentas pessoas, envolvendo funcionários do Mercadão, né, da administração, que é manutenção, segurança em geral e aí, entre funcionários e família que trabalha, né, nos boxes, tal e até funcionário que traz a família, tipo, a família inteira dele trabalha, cada um num lado, tal. Então, só de você pensar aí, eu tenho quatrocentas pessoas para me alegrar meu dia, né, cara? E, pô, o cliente, cara, que vem aqui, chega chapado e a gente começa a tirar onda e, de repente, o cara muda. Na primeira vez que ele entrou chapado, na segunda, ele já chega te zoando, já. Então, pô, mano, tipo: não parece trabalho, né, cara? Cansa as pernas, pô, mas a cabeça, no finalzinho da tarde, você ainda fala: "Pô, mano, pena que acabou, né? Tipo, estava da hora".
P1: Interessante. Ô, Rodrigo, e você disse, então, que todo esse negócio começou porque seu sogro tinha um sítio. E você… Como que você conheceu sua esposa? Sua mulher.
R1: Vixi, bem trash, cara. A gente era do mesmo bairro, tipo quase vizinhos, assim, quarteirões de distância, né? Eu conheço todos os amigos dela, os melhores amigos dela foram muito amigos meus. Os meus melhores amigos foram muito amigos dela. Nunca a conheci ela lá, dos meus zero aos 18, que morei lá. Com a mudança da vida, pula para cá, pula para lá, conheci ela no meio de uma outra galera, de um bairro que eu cheguei lá e tal e, daí para frente, uma garrafa de whisky e a ressaca está aí até hoje.
P1: Sei. Mas vocês chegaram a se casar? Vocês são casados, mesmo? Ou moram junto?
R1: Isso aí é até triste, cara. Que a gente tem um cartório próximo da escola que eu te falei que estudei, no bairro aqui em cima. Por problemas burocráticos, porque aí a empresa estava no meu nome, no nome dela já, era muito complicado, na onde que ia, tinha que ir os dois, tal, não sei o que tem, mas aí corremos lá no cartório, ela subiu para uma salgaderia lá com os pais dela e eu vim comemorar sozinho, numa pastelaria aqui no Mercadão e vida que segue, mano. Foi, tipo: lá no cartório não teve cerimônia, não teve nada. A comemoração aí é dia a dia, né?
P1: Entendi. E vocês tiveram filhos? Eu pergunto isso para tudo mundo, viu?
R1: Pô, cara, a gente tem dois filhos, né? Hoje eu tenho um filho, o Eduardo, né, que mora em Rio Claro, unespiano, né? Se formou na Unesp lá. Um ecólogo, graças a Deus. Mas se atentou lá. Hoje ele tem 25 anos e mora em Rio Claro lá mesmo, né? O polo dele está lá, tal. E eu tenho em casa ainda, que eu estou quase para fechar a mala e despachar também, um de 18 anos, né?
P1: Certo. Entendi. Ô, Rodrigo, e o que que você gosta de fazer, quando você não está trabalhando? Qual que é sua diversão, hoje em dia?
R1: Ó, cara, a paixão, assim, motociclismo, né, cara? Tipo motos. Pode ser uma coisinha porcariinha ou uma topzona. Montei ali, já está moleque, tal. Mas por acontecimentos, né? Nada aqui abre, nada funciona, eu tenho contato aqui enfim… falei aqui só do Mercadão, você imagina, quatrocentas pessoas, então, numa era dessas que nós estamos passando aí, num contágio muito rápido aí, graças ao Covid aí, então, eu tenho... eu gasto meu anjo da guarda aqui, né? Então, meio que aí a gente está há um ano aí focando: "Ó, a gente vai trabalhar, vamos gastar o anjo da guarda trabalhando, mantendo o foco". Então, hoje o hobby ali é cuidar lá, dar uma desmontada no carro, dar uma manutenção em casa, que eu gosto muito, né? Eu sou marido da minha mulher e sou marido de aluguel dela também, né? Tudo que vira torra lá no mega center de construção lá e já vamos fazer e boa. Infelizmente, eu curto muito produzir, né, cara? Produzir, assim, dá barato, né? Então... é uma... hoje ainda está saindo uma solução, né?
P1: Sim, legal. Ô Dai, Daiana, você quer fazer alguma pergunta?
P2: Quero, sim. Eu ia perguntar se vocês já falaram da infância.
P1: Sim, sim. Falamos da Vila Tibério, que ele é de lá também, da Vila Tibério.
P2: Ah, que legal. Eu, então, ia perguntar, ô Rodrigo, para você, como que foi e como está sendo, né, como vocês se adaptaram na pandemia? Por exemplo: vocês se adaptaram para uma... você falou muito da galera frequentar, né? O bolinho, o pão de queijo, desse público diversificado. É muito interessante, porque a gente tinha, né, essa ideia que o café era algo só dos mais velhos, aí você falou dos jovens, das crianças e tal. Ou seja, isso já quebrou há muito tempo, né? Gostaria de saber como que vocês estão levando, assim, a pandemia. Como que está sendo? Como que vocês se adaptaram com esse momento...
R1: Olha...
P2: ... maluco, né?
R1: É, então, falou tudo, né? Maluco, né? Que nem eu estava falando: quando eu empolgo muito, aí pode soltar os ‘pi’, que eu solto palavrão para caramba, né? Agora, essa hora é segurar as lágrimas, né?
P1: Sim.
R1: Foi muito complicado, né, porque a minha categoria aqui todo mundo fala, né? “Ó, é café, é cafeteria”. Tal. A gente é julgado por café em pé. Tem mesa, tem balcão, tem cadeira, tem tudo, mas é café em pé. Então, assim, tu chega aqui e, do nada, pede um café para mim, começa a conversar comigo, de repente você está conversando com outra pessoa que estava lá do outro lado e tal. Então, isso é a magia do meu sistema financeiro, né? Isso aí vai, ó. Então, de repente, você já tromba essa pessoa outro dia aqui, vai girando. Então, assim, a gente trabalha, na verdade, o nosso verdadeiro produto é o cliente, né? Ele está aqui e tal. E isso aí cortou, né? É legal aqui, a gente tenta o... sente o carinho do pessoal passando aqui, falando: "Ô, queria está aqui e tal". Né? Mas é muito duro. Tivemos que... graças a Deus, se Deus quiser, vai ser um investimento esse tanto de dinheiro perdido, esse tanto de lágrimas, tal, de pessoas, de tudo. A gente conseguiu, assim, formar um público fiel aqui na região pequena e daqui, eu mesmo, a molecada aqui que trabalha comigo, sai correndo e vai entregar lá a pé, tal. E pegamos um público que não sabia nem que a gente existia e estava, assim, em algum canto da gente, né? Então, tivemos que, na verdade, reinventar tudo e começar. É muito complicado. Hoje a gente faz parte aqui da administração do Mercadão, então é muito duro. Você tem que estar junto com os outros amigos do trabalho também: "Ó, vamos ajudar a se reinventar, não vamos jogar para baixo, né? A gente perdeu uma batalha, mas a guerra está aí ainda. Vão ser várias batalhas que a gente vai voltar chorando, mas o final da guerra está aí”. Né? E, com isso, estou vendo muito aprendizado, estou vendo muitas possiblidades, né? Então, é uma coisa assim, né? Pô, o ariano, né, cara? Tipo, a gente tem plano para tudo, cara. Então, isso aí ajudou um pouco também, aí, a gente se manter na linha. Mas mudou muito. Todo dia que você acorda, você está num mundo diferente. "Ó, tem que fazer isso. Isso não pode mais, tal". Então, de um lado, ainda está sendo interessante, né? Pelo lado bom do ariano.
P1: Ô, Rodrigo, mas hoje não pode entrar ninguém aí? Assim, o público não pode ir aí, hoje?
R1: Ó, hoje, ele ele pode chegar aqui no meu balcão, ele pode ser servido, mas ele não pode consumir. Hoje, agora, né? Porque vai mudando as fases. Hoje, agora, ele não pode adentrar aqui, ele tem que ficar isolado, da parte de fora, a gente fica preso aqui dentro e a gente entrega o produto para ele. E, como não tem Covid lá do lado de fora, eles vão lá na rua, consomem o produto deles lá, longe do Covid, né? Porque aqui está lotado, né? E vai. Então... ou a gente entregando aqui no... a gente tem um grande centro comercial aqui ao entorno, né? Então, aí entregamos na loja. Mas aquele negócio de você vir, encostar no balcão e consumir seu produto, no dia de hoje, não existe. Vários dias, né? A gente tem a retomada: "Ó, agora vamos retomar, tal, fase, pode atender determinado porcentagem de pessoa". Mas no dia de hoje, aqui, 30 do três de 2021 não, não pode adentrar aqui dentro. Graças a... se Deus quiser, um dia à frente aí, a gente pode abraçar nossos clientes de novo. Eles pagam bem para a gente fazer bullying neles, né, cara? Então, é praticamente um... ((riso)) um stand-up, né? Já vamos indo, já.
P1: Estou ligado. Ô Rodrigo, e o que entrega mais? Vocês tiveram que se adaptar para fazer essas entregas, né? Fazer alguma embalagem, assim, diferente ou não? E entrega o que mais, assim, o que se pede mais para você entregar numa loja aí perto?
R1: Ó, é muito a parte de café. O café, a gente brigou muito com adaptação de embalagem. Foram meses testando. Eu comprava um kit de amostra de tal fornecedor e tentamos, tentamos, mas o meu produto principal, que é o café, a gente tem poucos minutos para estar na mão do cliente, né? Aí, assim, qualquer outro produto: pão de queijo, os aperitivos que a gente faz aqui e tal, a gente consegue entregar mais longe, manda o motoqueiro, ou nos nossos próprios veículos, tal, consegue. Agora, o café é no pé a dois ali e acelera por... aí a gente já tem um traçado aqui, que a gente consegue. Ou a gente consegue entregar o café em qualidade bebível, ou a gente não cobra a entrega, né? Então, foi rodando isso e isso cada dia mais deu um up grade aí no nosso giro diário, né? Mas do geral mesmo, assim, pra falar: "Ó, vamos entrar em aplicativo, tal". O meu produto principal, os meus produtos principais, não enquadram nessa linha.
P1: É verdade. E, Rodrigo, e para quando acabar a pandemia, quais são os planos de vocês? Porque tem gente que tem plano de expandir. Você poderia abrir uma outra loja, em outro lado da cidade, em outra cidade, fazer uma franquia. Quais são os seus planos para o futuro?
R1: Olha, até um pouquinho antes do início dessa pandemia aí, eu tinha algumas pessoas interessadas, né? Até algumas negociando aí, até numa parte de franquia com parceria, tal, para a gente estar dentro, pra sempre estar acompanhando, tal. Tinha algumas propostas já bem claras também. Eu tenho propostas, né? Eu brinco, assim, hoje eu tenho duas pessoas aqui comigo muito queridas, já estão aí... o mais novo já está há mais de meia década aqui comigo, né? Eu falo que um dia eu quero pegar e fazer que nem eu fiz: vender a alma deles e eles virarem um microempresário, aí virar sócio nosso e correr. Isso aí ia ser uma coisa legal, porque eles estão no espírito, eles estão no conhecimento, me livrariam um pouco de estar muito lá, como se você quisesse abrir aí na sua cidade, no seu bairro, tal, né? Ia dar um pouco mais de trabalhado para manter o foco, tal, visita, né? Então... mas, assim, a gente tem alguns planos, sim. Vamos esperar estabilizar. Eu tinha até um pessoal aí querendo entrar com investimento. Pedi um pouco de paciência: "Vamos dar uma freada, porque agora seria um momento bom para focar, fazer nome, manter uma qualidade de atendimento, até porque o movimento é menor, o público está menor nas ruas, o dinheiro está um pouquinho mais escasso, não está girando". Mas eu entendo, assim, que uma pessoa pegar e entrar numa hora dessa, é muito deprimente. Pô, a pessoa tem que ser muito focada. Que nem eu falei: você imagina, tipo... hoje, não, né, porque a gente já tem um nome, querendo ou não, aqui no Brasil, tem divulgado por estar bem do lado da rodoviária e a gente tem contato com pessoal do Brasil inteiro, muitos comentários, tudo. Então, isso já facilitaria muito, mas não é uma época, assim, de ego, para você falar: "Olha, eu estou feliz, eu vou sorrir lá, eu vou começar do zero, tal". Ainda acho... hoje seria mais barato, mas não seria um recompensador, né? Era melhor ter um custo mais alto numa hora que a coisa está mais plana, né? Porque, que nem eu te disse: a partir da hora que deu as seis horas da manhã, o sorriso tem que estar pleno, tipo, você tem que passar isso para o teu sorriso, essa transparência, o seu humor, tem que ser mais contagiante que a merda do Covid, entende, cara? E, hoje em dia, é um pouquinho difícil, né? Então, acredito que, após isso aí, vai ter muito espaço, vai ter muito campo e parece ser muito promissor, né?
R1: Ah, legal. É, eu... minha pergunta foi mais, assim, no sentido depois da pandemia, né? Hoje em dia...
R1: Isso.
P1: ... está difícil de começar algo novo.
R1: Ah, não, depois da pandemia já... quem nem eu disse para colega lá, né? Nós é arianos, né? Então, nós dorme com plano, né, cara? Vai... acorda para fazer plano, tal. Então, muita coisa nossa dá certo porque houve milhões de erros, né? Então, a gente acerta algumas coisas, porque a gente erra muito, né? Dá a cara a tapa. Mas acredito que depois da pandemia, vai ser um bom momento, até porque, quem trabalha nesses segmentos e tal, que não precisava desse dinheiro para viver, viu como, caramba, dinheiro não vale nada, cara. O cara está bem aqui, morre ali, né? Isso sempre foi verdade, né, amigo? Precisa de pandemia nenhuma para isso acontecer, né? Mas frisou bem. Então, acredito que muita gente forte vai se retirar e vai falar: "Eu vou viver a merda da minha vida do melhor jeito possível". E isso vai abrir um campo para nós, guerreiros, que gosta do que fazer, né? Então, vai ficar muito bom. Acredito que vamos ter um boom muito grande, né?
P1: Sim.
R1: Até… Até por causa disso, né? Na hora que a galera sair, meu, tipo, ninguém vai querer voltar para casa mais. É uma balada infinita.
P1: É verdade. Rodrigo, vocês usam bastante rede social ou não precisa? Vocês usam rede social para chamar gente para aí ou fazer ofertas?
R1: Sim, a gente usa. Oferta, cara, eu brinco o seguinte: a gente trabalha com preço justo, então, assim, a gente quer fidelização de cliente, não quer cem clientes no dia e amanhã eles não estarem aqui. Então, assim, a gente trabalha com preço justo.
P1: Sim.
R1: Tanto para a casa, quanto para o cliente, né? Então, a gente usa um parâmetro muito disso. E isso é muito consolidado e muito respeitado por todos os clientes que chegam aí. Então, mas, sim, a rede social, a gente usa tanto hoje, principalmente para a venda, né? Até um tempo atrás usava, que nem eu digo, para marretar o nome. Chegava um colega nosso publicitário, aí, ou que trabalha em rádio, televisão. "Ô, Rodrigão, vamos soltar aí, não sei o que, tal" "Não, legal” “Eu tenho uma promoçãozinha boa" "O que você faz? O que nós vamos falar de você?". Eu falo: "Cara, marreta meu nome, mano. Faz o que você quiser". E na rede social a gente fazia isso, marretava o nome. Ah, uma coisinha aqui, tal, vamos marretar nome. Hoje, não. Hoje tem que vender por ela, tem que atender por ela, tem que dar o suporte por ela. Meu ramo, ele ainda não interage tanto com a entrega, de você comprar de madrugada e eu pôr no Correio e tal. Eu tenho isso aí também, de alguns produtos. O principal, do café, né? Café a gente manda para tudo que é lugar, Correio, transportadora, tal. Mas no caso do café, não, a gente precisa do cara aqui. E como que a gente vai... pô, um ano é muito fácil para cair no esquecimento, cara. Em um ano você esquece muita coisa.
P1: Sim.
R1: Então, na verdade, a gente está usando como um entretenimento, chegar junto. A gente recebe pedido da galera aqui da região por todas as redes, por telefonema, tal, a gente vai entregando aí pela galera, mas o foco ainda, para nós, hoje, não é marretar o nome, é continuar mantendo aquele vínculo de família, do cara pegar, cada um de nós que trabalha aqui e olha assim: "Nossa, a menina da novela tem o mesmo jeitinho de você". O cara: "É, fulano de tal tem a mesma pegadinha de você". Quando você vê que uma pessoa fala isso, mano, é que você entrou na família dela, você está na mente dela, cara. Você faz parte da vida dela. Ela fala: "Não, eu não quero tomar um café, mas eu vou lá, para estar junto e tal". Aí é o que faz a minha pegada, do meu trabalho, aí, de 13 horas, ser divertido, né, cara? Então, assim, o meu campo, no caso da rede social, a gente está para ter esse abraço, né? Com nosso cliente aí, que a gente fala: "Ó, entrou aqui, é #cafeteriaecologicarp, cara, estamos em Ribeirão Preto aí. Então, aqui, entrou a segunda vez, é família Cafeteria Ecológica. Estamos junto aí, estamos com seus problemas, estamos com essas comemorações, estamos com as suas dicas, estamos dando dica, tal”. Então, a rede social está mantendo a gente ter esse vínculo, né? Deixando a gente ter, nem tanto para vender, mas para manter nossa força.
P1: Legal, Rodrigo. Ô, Daiana, você gostaria de fazer mais alguma pergunta? Que a gente está meio já chegando ao final.
P2: É.
P1: Fala, Dai.
P2: Não, eu queria agradecer a energia, assim. Eu estou ouvindo as histórias, estou adorando. E é muito legal essa relação de manter essa amizade com o cliente, para além do produto que você vende, né? Que é legal que você não vende o produto, você vende histórias, né? Você vende... trata-se de relações de vida, né? Então, vai muito além dessa relação que pára ali como cliente e dono de comércio, né? Enfim, bem legal.
P1: E, Rodrigo...
R1: É, a gente orientando isso aí, na verdade... oi, oi.
P1: Não, não, pode falar. Complementa o que ela disse aí, que é verdade.
R1: É… complementando isso que ela falou lá, a interação do cliente, nosso principal produto é o cliente, que a gente vende amizade, a gente vende vínculo, coisa que... sei lá na onde vocês moram, mas a cidade, conforme ela vai crescendo, ela vai expandindo, você evita até de perguntar uma hora para uma pessoa, uma direção que você vai, você evita o contato, né, direto. E aqui a gente produz esse contato. A galera, ó, até marcando hora para vir aqui, não se conhece, um não sabe o nome do outro. "Ô, deixa, eu pago para o fulano, que hoje é o dia de vir pagar" "Que fulano?" "Ah, aquele assim e tal, de cabelo pá e tal". Não sabe nem o nome do porcaria infeliz e tal e está lá, né? Então, é um... a gente vende amizade, né? Estamos... é o segmento. O cafezinho é a desculpa.
P1: Legal. Rodrigo, queria agradecer muito a sua entrevista. Eu percebi isso que a Daiana acabou de falar, no dia que eu fui aí. Eu fui umas duas vezes aí, mas uma vez eu fiquei trocando ideia com você, foi antes da pandemia, quando a gente estava fazendo a pesquisa. E eu já percebi isso, né? Que é um lugar de encontro, de você ir aí pra curtir o lugar, tomar um café, conversar contigo, conversar com as pessoas, né? Eu percebi isso, e te dou os parabéns por ter um negócio desse. E queria agradecer em nome do Sesc, em nome do Museu da Pessoa.