Histórias de Internautas
Bruna Babalu, a sambista da Zona Norte
História de Bruna Babalu (Bruna Moreira Dias)
Autor: Eduardo Lourenço
Publicado em 08/10/2019 por Eduardo Lourenço
Projeto Memórias da Zona Norte
Depoimento de Bruna Moreira Dias
Entrevistado por Viviane Ainchut e José Eduardo Lourenço
São Paulo, 14/08/19
PCSH_HV789
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina Dias
P/1 - Qual é o seu nome, local e data de nascimento?
R - Eu me chamo Bruna, sou de Caratinga, Minas Gerais, estou em São Paulo há 25 anos.
P/1 - Qual o nome dos seus pais?
R - Minha mãe é Maria Helena Martins e meu pai é Onofre Moreira.
P/1 - E o que os seus pais faziam?
R - Mamãe era de casa né, porque eu sou... Na verdade eu sou de Minas, mas eu era da roça, mas bem da roça mesmo, e papai trabalhava na roça, capinando, cuidando da lavoura, plantio de arroz, colheita de feijão.
P/1 - Como você descreveria o seu pai e a sua mãe?
R - Na verdade é assim, o que aconteceu, mamãe ela... Quando eu tinha um ano ela foi embora, ela separou do meu pai, e aí eu acabei ficando com meus avós, tanto que eu chamo de mamãe e papai são meu avô e minha avó materna, entendeu? Então para mim eles são meus pais. E papai era muito... Ele era muito rigoroso, com a gente ele quase não falava porque ele não tinha carinho, porque era aquela pessoa do interior, muito do interior mesmo, e mamãe já é um pouquinho mais carinhosa com a gente, mas também do jeito dela, até porque na minha casa eram mais nove irmãos e eu era como se fosse neta né, mas eu acabei ficando como filha, mas então eu era mais a parte de neta, era desse jeito.
P/2 - A diferença de idade era grande?
R - Era grande. O irmão mais velho Célio, que seria o caso dele, que era o caçula eu tinha... Quando eu tinha um ano e devia já ter 16 para 17 anos. É bem diferente assim. E a casa assim grande, mas é todo mundo, a gente não tinha quarto, então assim, tinha um quarto que dormia uma parte e no outro dormir outra, porque eram aquelas casas grandes, de assoalho, imitando uma fazenda, mas uma fazenda bem simples. Não essas fazendas que a gente vê em televisão, essas fazendas bonitas, não, porque lá na verdade chamava Lajinha, porque é uma é uma roça de Caratinga, Minas Gerais, né? Caratinga é uma cidade de... Hoje em dia tem 80 mil habitantes, mas naquela época devia ter uns 30 mil habitantes, e a roça ela é assim, ela é... Tipo 20 minutos da cidade e a gente não tinha assim, como, a gente não ia muito para cidade, era muito pouco, porque só tinha uma circular, que ela vinha de manhã e voltava à tarde.
P/1 - Entendi. E aí você cresceu brincando então com os irmãos.
R - Na verdade eu brincava... Eu fui criada mais com duas primas, a Lucimar e a Tininha, porque a gente tinha mais afinidades né, então a gente cresceu junta brincando, mas era brincadeira meio assim, muito... Que hoje em dia nem ouve falar mais, que era esconde-esconde, era... Eu chamava de pique-pique esconde, alguma coisa assim que as pessoas nem conhecem hoje em dia. Eu gostava muito de brincar de boneca, mas nós não tínhamos bonecas e a gente também não tinha como comprar boneca, a gente fazia boneca de espiga de milho, então o milho ele quando tem a plantação de milho, quando ele começa ele sai uma boneca que tem um cabelos, assim, tipo um cabelo aí eu gostava do cabelo ruivo, acho que Tininha gostava do loiro e Lucimar também, então as nossas bonecas eram assim, a gente pegava alguns retalhinhos e fazíamos as roupinhas costuradas com agulha, eram umas agulhas assim manuais, com linha entendeu, muito simples. Eu também lembro que de casinha e eu tinha uma tia que ela tinha umas coisas melhores, ela comprava na época uma caixa de sabão, não me lembro o nome, aí deixava a caixa de sabão e quando acabava dava pra a gente, então a gente fazia, recortava e fazia a janelinha, fazia a porta, era assim, os nossos brinquedos eram esses, a gente não tinha outros brinquedos não.
P/1 - E alguém te ensinou a costurar?
R - Não a gente... Engraçado como é isso, né? Mamãe nem costumava, ela não gostava, ela só cuidava da casa mesmo porque era muita gente trabalhando e ela vivia no fogão fazendo comida, porque na roça a gente acorda cinco horas da manhã, aí tinha o radinho a pilha e ela colocava esse radinho a pilha que tinha um programa que era de São Paulo, acho que era Zé Beti, alguma coisa assim, que ele falava "Acorda que eu vou jogar água", ai a gente levantava às cinco da manhã, às cinco e meia ela tava preparando um café, também era um café muito simples, a gente não tinha pão, não conhecíamos pão, era um café com farinha e leite porque o leite nós tínhamos, que tinha vaca e tirava o seu leite de manhã.
P/1 - E aí das coisas que você fazia quando você era criança, qual você mais gostava?
R - Eu acho que da parte de criança que eu lembro bem mesmo é desse convívio com a minhas duas primas, com a Tininha e a Lucimar, e essas brincadeiras da gente porque nós não temos televisão, né? Que nem eu comentei antes, a televisão, lá eu fui ver televisão acho que em 85, que essa minha tia ela conseguiu a televisão, porque tinha uma luz gerador, porque nós não tínhamos luz elétrica, era lamparina, aquela lamparina que botava querosene ai você acendia e não tinha luz. Ai essa minha tia colocou uma luz gerador e ela comprou a televisão pequenininha, só que ela tinha muito chuvisco, então a gente não gostava muito de ver televisão, eu me lembro que no domingo, ela deixava a gente assistir ao Silvio Santos, tanto que assim, até hoje eu sou apaixonada pelo Silvio Santos e há 3 anos até realizei meu sonho, que eu fui no programa dele.
P/1 - Que legal.
R - É. Eu fiquei bem pertinho dele, participei de uma brincadeira, para mim assim, foi a realização de um sonho porque você imaginar que há 30 anos, lá naquele fim de mundo, porque daqui até lá são quase mil quilômetros. E aí depois você vir encontrar com o Silvio assim, fiquei do lado dele, que eu participei de uma brincadeira com ele, então fiquei do ladinho dele, bem próxima do Silvio.
P/1 - Qual foi o programa dele?
R - É esse programa que ele faz, é "Topa Tudo Por Dinheiro", né, que joga... Eu participei de uma brincadeira que tinha lá para adivinhar é... A cara da pessoa, que tinha as transformações. Mas eu não consegui, tanto que na terceira ele falou "ai, você é loira, não sabe nada, leva vinte reais e pode sentar", foi e eu ganhei vinte reais. Mas só de ficar perto dele, porque assim, eu peguei na mão dele, ele pegou, ele me girou, entendeu? Nossa, a emoção foi muito grande.
P/1 - Bruna, a sua tia também morava em Lajinha, era próximo da tua casa?
R - Todo mundo. É assim, porque lá é... Aqui em São Paulo as pessoas conhecem mais como sítio, mas são roças, é tudo da família. O meu bisavô ele tinha muitas terras, ele não era rico, assim, em poder aquisitivo, mas ele tinha muitas terras, entendeu? Então ele dividiu para os dez filhos, então todos tinham um pedacinho assim de terra e todos tinham a sua casa. Aí tinha alguns que tinham a situação um pouquinho melhor né, que essa minha tia, tia Nega e tio Osvaldo. Os dois são vivos, tia Nega tem 84 eu acho e tio Osvaldo uns 88.
P/1 - Em relação à escola, quando você começou a estudar?
R - Você fala o primário?
P/1 - Isso.
R - Então, eu tive que... De novo as minhas primas, olha como é, a gente gostava muito de estudar, de ir pra escola, mas a escola era muito longe, mas a gente foi mesmo assim, então a gente... Tipo assim, eu me lembro que eu devia entrar às sete, a gente saia de casa às cinco e meia da manhã, porque vocês andavam muito, eu não sei precisar os quilômetros hoje em dia porque é muito tempo, mas eu sei que assim, uma distância hoje aqui no... Nós estamos na Zona Norte, era como daqui no centro da cidade, e eram morros entendeu, a gente subia morros, porque... Era bem longe e só tinha aquele grupo escolar, era o Grupo Escolar João Moreira.
P/1 - E tinha bastante gente nessa sala?
R - Não, naquela época eram quatro salas, primeiro ano primário, segundo, terceiro e quarto, entendeu? Eram quatro. E só tinha de manhã também, não tinha outros horários não. Então todo mundo junto ali, e era da época que era mais severo, porque a professora ela tinha uma varinha que ela dava umas varadinhas na gente se a gente fugisse a regra ali, se não fosse levava umas varadinhas, mas nada de absurdo não, coisas assim normais do interior mesmo.
P/1 - Então a sua rotina nessa época era ir para escola, aí você voltava e brincava com as suas primas?
R - Não, aí tinha que fazer alguma coisa em casa.
P/1 - Tinha que ajudar.
R - Tinha que ajudar. E a gente tinha que ir porque era mais difícil, então tinha assim que passar um escovão no chão, tinha que lavar algumas coisas, tinha que ajudar em casa nas tarefas de casa. A gente brincava, a gente conseguia brincar mais na parte da tarde ou final de semana.
P/1 - No finalzinho da tarde.
R - É, até porque também acabava logo porque quando era, tipo, 19 horas, 7 horas, a gente já ia dormir, porque tipo seis horas já tinha jantado do mundo, a janta era às 15 horas. 15 ou 16, 17 e 18 era aquele café à noite, aí vinha o pessoal quando causas, a gente falava causas, que eles contavam histórias, os tios, que matou a onça, não sei o quê, aí sete horas todo mundo ia dormir, até porque não tinha luz né, pra economizar a querosene.
P/3 - Você lembra de algum causo que você ficava mais impressionada?
R - Ai eu lembro, eu tinha medo, porque eles falavam assim, eu tinha um tio, o tio Sonico, que ele contava um caso da onça que ela tinha comido a pessoa que era malcriado, ai depois descobriram que era tudo lenda, mas que essa pessoa depois apareceu, transformou, tinha muito essas coisas assim. E eles tinham muito medo de onça, lá se falava muito de onça, mas na verdade lá nem onça tinha, depois eu fui descobrir isso, que nem onça existia lá.
P/3 - E quando vocês iam, voltavam, vocês iam a pé e voltavam a pé?
R - Voltava a pé. Ai a professora vinha da cidade, eu nunca vou esquecer dela, chamava dona Alzira, gostava muito da dona Alzira, porque eu não sei como é o sistema, mas assim, tipo... É, normalmente a professora do terceiro acompanhava também o quarto ano, não sei como fazia essa divisão, porque eu lembro a primeira e a terceira série era dona Odete, e terceiro e quarto ano dona Alzira, e ela... Só que ela ia de charrete porque o dono da escola que fez, que era o senhor (Alcheto?) Levino, que fez o grupo... Chamava grupo escolar, ele fornecia uma charrete com cavalo, então vinha buscar eles lá na beira da estrada, que ela vinha circular porque ela não podia subir a pé, então os professores iam de charrete. Aí quando assim, tinha a Lucimar, as vezes ela tava muito cansada, que ela é a mais fraquinha, aí as vezes a dona Alzira punha na charrete e levava assim atrás, de vez em quando levar ela pelo menos pra subir, porque tinha muito morro, era assim, eram uns morros que você subia, altos.
P/1 - Bruna, você contou pra gente do caminho que você fazia, tanto para ir quanto para voltar, você lembra de alguma história que te marcou nesse caminho?
R - Ah, no caminho, é que assim, no meio do caminho, quando você passava o morro, tinha uma capoeira, então como tinha muitas histórias de onça, de tudo, a gente tinha algum medo de passar lá, né? Então assim, as vezes a gente encontrava com uma pessoa diferente, a gente ficava um pouco apreensiva, mas nunca teve nada assim dificultoso não, porque naquela época, na década de... Aí já foi no final dos anos 78, na década de 70, lá era bem tranquilo, a gente não conhecia esses outros lados, então assim, a gente tinha mais medo mesmo de bicho, de onça na mata, mas nunca aconteceu, qualquer barulho que a gente ouvia estranho a gente já ficava meio apavorada, a gente da uma corridinha. Mas era bem tranquilo, apesar da distância muito longa, você não encontrava com muita gente também, as pessoas naquela época elas não andavam muito ou eles vinham de manhã a cavalo ou na charrete, que eu te falei, aqueles senhores que tinham a situação melhor eles tinham a charrete, e os que tinham um pouquinho melhor... Tinha dois carros na época que a gente conhecia na roça, chamava Rural, de carro assim eu não lembro, mas esse era Rural, e o outro era um Jeep. Então aqueles que tinham um pouquinho da situação ou tinha um Jeep ou uma Rural, mas passava muito pouco, a gente não via quase nada.
P/1 - Você lembra quantas crianças tinham mais ou menos na sua sala?
R - Na minha sala? Aí tinha mais de... Devia ter umas 30 crianças, tinha. Tinha porque a sala era bem cheia.
P/2 - O que fazia você adorar a escola?
R - É porque eu não sei se eu contei, a gente tinha sonhos, então a gente falava assim "ah, se a gente estudar a gente vai aprender as coisas", porque assim, mamãe não sabia escrever, nem papai, nem os irmãos, só a minha tia, que era a Segunda Célia, que papai se dedicou mais a ela, e ela fez o magistério, na época era magistério, tanto que ela nunca se formou, só que ela foi pra um colégio internato que ela conseguiu, que tinha um outra tia que é parte do papai... Quando eu falo papai é meu avô né, que ela morava em Belo Horizonte, a tia Maria, e ela foi para lá, então ela ficou lá e ela conseguiu lá o internato, então ela estudou nessa época, a única de nós que foi, foi ela. E a gente... O papai, assim, ele achava que a gente tinha que estudar, mas ele queria que a gente fosse ajudar na roça. E eu tinha pavor de ir pra roça, tinha pânico de ir pra roça, e quando ia apanhar café então, nossa, eu tinha pavor, mas de vez em quando a gente ia. Quando chegava a colheita do café a gente ia para apanhar o café, mas ai, é horrível, nossa. Ai lá sim, eu tinha muito pavor de cobra e lá tinha cobra no meio dos pés de café, tinha cobra enrolada.
P/3 - Aconteceu alguma vez de você encontrar uma?
R - Não, já sim. A Naia uma vez ficou em pânico. A Naia é uma prima bem mais velha minha, que é irmã da tia Aninha, a Naia ela matou uma cobra, ela pegou um pau e ela matou (risos). Que eu acho que não foi um pau, era uma enxada e a enxada tinha um cabo, era o cabo da enxada, ela foi e pegou a cobra. Eu tinha pavor, eu tinha pânico, cobra então a gente... A onça nós nunca vimos, era só lenda, mas a cobra era bastante. .
P/1 - E você estava junto nesse episódio?
R - Tava, a gente tava apanhando café, porque a gente colocava assim um pano no chão, em baixo do pé de café, e você apanha o café sem soltar as folhas, porque se você soltar as folhas você já viu, a gente era pra tirar só o grão do café, ai depois juntava assim naquele pano, colocava nos balaios, que vinha o rapaz pra recolher com o cavalo.
P/3 - Por que não podia soltar a folha?
R - Ah, porque eles falam que judiava da planta. Assim dizia, eu não sei. A gente tinha que obedecer, era só o grão mesmo. Soltava um pouco de folhas, mas você deveria evitar para não soltar muito, você tinha que tirar de uma forma que você tirasse mais os grãos, e uma folha pouquinha saia no meio, mas não em quantidade. E se você não fizesse direitinho saiam muitas folhas.
P/1 - E você lembra quando foi que você aprendeu ou quando eles te ensinaram?
R - O que?
P/1 - A colher o café.
R - Ah, eu nem aprendia direito (risos), foi difícil, mas a gente ia junto. Aí depois, quando eu tava já um pouco maior, a gente a gente até apanhava o café porque dava um dinheiro para gente na época, nós não tínhamos muita facilidade para ganhar dinheiro, como eu fui fazer o quinto ano, era na cidade, eu consegui uma bolsa, porque lá tínhamos uma bolsa, na minha cidade só tinha uma escola, chamava Polivalente, que você fazia uma provinha aí se você naquela época tirasse 60, que era 100 pontos, tirasse 60 pontos, entrava, ai acho que eu consegui 65 e eu entrei, só que você não tinha... Você tinha que pegar circular, você tinha que pagar circular, você não tinha... Não existia passe, você não poderia de graça, você tinha que pagar então aí nós vamos apanhávamos o café para vender, no sábado a gente recebia para pagar a passagem durante a semana para ir para a escola.
P/2 - Suas primas também passaram?
R - Como?
P/2 - Passaram as primas também?
R - Passaram, a Lucimar ela... O pai dela tinha um pouquinho melhor de dinheiro, ela conseguiu uma escola particular que ela conseguiu meia bolsa, lá falava metade, 50%, tipo assim, a escola particular ela deveria ser 200 cruzeiros, alguma coisa, ela pagava 100, porque eu já tinha as irmãs que trabalhavam no Rio e mandava o dinheiro para pagar, e a Tininha também não, Tininha também conseguiu igual a mim, conseguiu estadual, que as condições dela eram piores que a minha ainda. Mas é que quando ela fez 17 anos ela foi embora, ela foi para Belo Horizonte trabalhar de empregada doméstica. Aí lá, tanto que ela concluiu a faculdade primeiro que todas nós, porque ela ficou de doméstica, ela conseguiu fazer História.
P/1 - E você tinha algum sonho de infância? Ou uma profissão que você queria ter?
R - Não, a gente não almejava profissão porque era tudo... Assim, a gente não tinha ideia né, porque a gente não tinha informação, não tinha televisão, a gente foi... Tanto que eu gosto muito hoje em dia de sertanejo, porque na época era música caipira que a gente ouvia lá, era aquela mais caipira de raiz, só que aí você passa a gostar da moda de viola, mas hoje em dia eu gosto do sertanejo universitário gente, eu gosto de Luan Santana, Maiara e Maraisa, Henrique e Juliano, então o sertanejo eu sempre gostei e hoje em dia eu gosto mais ainda do que antes, e a gente não tinha muito porque a gente não imaginava, quando a televisão chegou que a gente ficava... Que a gente via orelhão na televisão ficava "nossa, tem telefone que fala", então os meus pais, assim, eu vim pra capital, que eu tinha uma tia que morava aqui, pra descobrir como que era a capital, pra ver como que funcionava aquele orelhão, como você conseguia falar com a pessoa porque a gente não tinha ideia de como era aquilo. E nessa época da novela, eu não sei... Eu não lembro qual novela, mas era uma novela da Globo que foi, que tinha um orelhão, que era da Betty Faria, acho que era "Duas vidas", alguma coisa, que a minha tia deixava a gente ver um pedacinho da novela. Aí um dos sonhos era esse, vir para a cidade, para ver como era a cidade, ver como funcionava aquilo, era diferente pra gente.
P/2 - E como foi a sua primeira vez numa cidade grande?
R - Ah, eu achei tudo diferente, eu vim passear primeiro né, eu não vim para morar, vim passear na casa da minha tia, ela morava no Zaki Narchi ali, quando tinha ainda a penitenciária ali, bem de frente lá, e... Ah, é diferente né, porque a gente chega é tudo esquisito, tudo, muita gente, o ônibus, o trânsito, e olha que isso em 95, imagina hoje como tá, era mais simples ainda. Mas a gente estranha bem quando chega, você leva um choque. Aí a rodoviária... Só que a rodoviária eu achei feia quando chegamos, era no Glicerio, não era nessa rodoviária Tietê, a primeira vez que eu vim acho que foi em 92, descia lá no Glicerio, uma rodoviária que tinha, depois descobri que era o Glicerio, que era um lugar bem feio lá, aí você chega, você fica meio assim espantada, né? E não é feio como hoje, que hoje é pior do que antigamente, mas era estranho o local.
P/3 - E o que mais te impressionou quando você começou a andar pela cidade aqui?
R - Ah, primeiro que assim, eu cheguei na casa da minha tia nada podia sair, porque tudo não pode sair, porque na rua é perigoso, tem trânsito, tudo, mas foi assim, eu tinha vontade de ver os prédios, porque a gente não conhecia prédio, ai a primeira vez que andei de elevador fiquei em pânico, por causa do elevador, prédio alto, aí eu queria conhecer o orelhão, aí eu fui no orelhão, mas não tinha pra quem ligar né, mas ai depois tinha uma outra prima que tinha telefone, nós ligamos pra ela, ela foi a primeira pessoa que eu falei, porque tinha umas fichinhas, você comprava com umas moedinhas né? Aí eu adorei falar no orelhão, eu amava orelhão.
P/1 - Você lembra o que você sentiu quando fez a sua primeira ligação?
R - Ah, a gente... Me senti feliz, a gente sente... Como que isso pode acontecer, né? Porque assim, que nem hoje tem o celular, tem tudo, mas naquela época era orelhão, como que você conseguia falar, né? E aí quando eu vim morar em São Paulo, aí nós tínhamos em Caratinga já uma prima que tinha telefone, a gente ia ligar aqui em Santana, era uma central, assim, aí você pagava os minutos e pegava uma chave, aí você ligava, você falava lá, a gente já achava aquilo impressionante porque assim "nossa, eu tô falando lá em Minas".
P/1 - Como é essa Central? Como era?
R - Era em Santana, na Voluntários da Pátria. Você dava o DDD pra moça... Não, falava cidade, acho que ela dava o DDD... Dava o número, ela discava pra você. A telefonista, ela que discava, não era a gente, ela discava ai você ia na cabine,
Na cabine 5, aí lá você ia e ja estava completada a chamada. Você não era dessa época, você nem imagina que é isso, né? Não, a geração de 90 para ca nem conhece, nem sabe que tinha isso, mas acho que até 93, 94 era isso, porque acho que o celular, esse, o maior acho, que ele surgiu no final dos anos 90, não foi?
P/3 - Foi.
R - Foi, deve ser, porque até 92 era sim, era uma cabine mesmo.
P/3 - E telefone em casa?
R - Não. Depois que eu fui ter, bem depois, né, aqui, porque naquela época você tinha que fazer aquele plano, telefone era muito caro, você tinha comprar, ficar numa fila, aí foi aí que a gente foi ter, mas nenhuma das minhas tias tinha telefone em casa, que morava aqui, não.
P/1 - E você decidiu vir para São Paulo você tinha quantos anos?
R - 18. Quando eu tinha acabado o... Lá chamava terceiro ano, fiz o 3º ano fundamental, aí quando acabou falei "eu falei tem que ir, porque aqui não tem mais o que fazer", porque ela é muito difícil as coisas, e não tinha... A faculdade só tínhamos uma, assim, a mais longe, Mariana, Governador Valadares, Governador Valadares que é o mais próximo são duas horas e meia de ônibus e a gente não ia conseguir fazer lá, tanto que quando eu mudei para São Paulo eu também eu não consegui no começo, aí eu consegui um emprego no mcdonald’s.
P/1 - Como foi o seu primeiro?
R - Foi no mcdonald’s, fui trabalhar no mcdonald’s, primeiro emprego. Eu tinha uma vizinha, ela levou um dia um... Assim, uma lâmina de bandeja, chamava lâmina de bandeja, ela falou "ai, preenche que você vai conseguir trabalhar ali", falei "Tem certeza?", ela falou "pode preencher porque a gente não tem experiência" aí eu preenchi e fui chamada, aqui no Center Norte, aí eu comecei a trabalhar no Center Norte, fiquei quatro anos. No começo é difícil porque assim, como é que eu vou dizer, quando você chega você faz de tudo, você frita, eu ficava com a mão toda cheia de calo, de óleo, porque você frita batata, você tem que pôr hambúrguer, é um rodízio em todos os setores, você não fica num local específico né, mas aí depois eu me dei bem porque tinha lá uma parte que é chama-se canarinho, canarinho as pessoas que ficavam na frente e quando o cliente chegava você tinha uma comanda e já adiantava pedido da pessoa, então você tinha que fazer uma sugestão de aumentar os pedidos, aí eu me saí bem ali, aí eu fiquei nessa parte 2 anos ali e nós fazíamos festa de aniversário, a gente em cima ali no Center Norte salão Ronald mcdonald, aí em cima nós tínhamos o salão, então a gente fazia festa de aniversário com as crianças, aí eu me dei bem, aí eu fiquei bem ali, aí conseguiu ficar quatro anos.
P/1 - Tem algum episódio que você lembra do seu primeiro emprego?
R - Algum episódio? Mas episódio de que que você fala?
P/1 - Algum dia que você achou engraçado, que você gostou ou não gostou?
R - Ah, eu não achei engraçado não, eu achei um sofrimento, no terceiro dia eu já tava chorando por causa da batata, porque eu fiquei cinco... Era pra eu ficar três dias, eu fiquei uns seis, sete dias fritando batata, as mãos em calo, eu tava sofrendo, só que eu tinha um pouquinho de simpatia e fui trabalhar no caixa, e tinha um supervisor que gostou, só que o gerente da loja, era o Denete, não esqueço esse nome porque judiou de mim, me deixou ali, ai no décimo dia o supervisor chegou e falou "pode trocar, eu já falei que é pra trocar de lugar, e não fica mais ai", ai eu troquei de lugar, que foi onde eu me dei melhor, mas eu sofri fritando batata mais de dez dias, não é fácil não, viu? Você queima a mão e... Porque assim, hoje em dia tem muito mcdonald’s, naquela época que eu fui só tinham 17, tanto que o Center Norte era o 13, a Paulista é o primeiro, e o 17º era Henrique Schaumann, entendeu? Só tinha 17 lojas, não existiam franquias, então o Center Norte ele tinha muita gente, eu entrava às 15h e saia as 23h, mas eu entrava às 15h e eu saia às 1h, às 2h da manhã, você não saia antes porque você atendia os clientes até onze e meia, e depois se tivesse o caixa tinha que fechar o caixa, acompanhar, você cuidava de fechamento da loja entendeu, então assim, você tinha vários setores, eram oito horas, mas como era cartão de ponto, depois você batia o cartão na hora que saía, normal, tinha hora para entrar, mas para sair não. Tinha um gerente que falava assim pra gente "aqui você tem que ter ketchup nas veias, não é sangue, é ketchup nas veias", então assim, a qualidade de serviço do mcdonald’s era muito interessante, não sei hoje em dia como é né, com as franquias, mas quando não tinha as franquias eles tinham um trabalho bem rigoroso, de qualidade com cliente, essa história com hambúrguer não é carne bovina é tudo lenda, é tudo coisa de primeira linha, olha, era bem rigoroso.
P/3 - Mas você trabalhava mais do que oito horas, não é?
R - Mais, mas você recebia também as horas, nisso eles são muito bacanas, porque você batia um cartão, então assim, eu entrava às 15h, aí quando passava das oito eles pagavam todas as horas extras, sempre pagavam tudo direitinho, porque eles... Outas lojas não, mas a Center Norte aqui era diferenciada porque vendia-se muito, ela era a loja que mais vendia na América Latina, eu me lembro que um Natal, que teve a promoção do Big Mac assim, de bater o recorde de vendas, nós batemos recorde que vendemos 10.001 Big Mac no sábado, porque tinha que dar 10 mil, quando chegou no 10.001 aí a loja fechou, nós batemos o recorde mundial de toda América Latina, 10.001 Big Macs. Porque essa loja vendia que nem água, desde que ela abria, de manhã à noite, era lotado, as filas eram enormes, tínhamos uma media de oito ou nove caixas, eram filas intermináveis.
P/3 - Quando você... A primeira vez que você foi no Center Norte, você lembra dessa primeira vez que você entrou no Shopping Center Norte?
R - Ah, eu lembro, porque assim, eu nuca tinha visto shopping. Ai eu fui... Quando você faz a inscrição, ai você ia no escritório na Paulista, ai que ele falou "você vai pro Center Norte", eu já vim pra trabalhar, tanto que eu me perdi dentro do shopping porque era muito... Eu achei muito grande o Center Norte, porque assim, são muitas portas de entrada, de saída, porque eu desci no metrô, no Tietê, e fui, caminhei, a pé, porque era pertinho, mas... Ah, eu achei tudo diferente, era bonito, muitas vitrines, a gente fica encantada quando chega.
P/1 - E você lembra o que você fez com o seu primeiro salário?
R - Gente, meu primeiro salário era pouquinho, porque assim... Depois que eu comecei a aumentar as horas, quando você fica, porque tem uma experiência de três meses, nesses três meses são só oito horas, não é muito, mas eu me lembro que a primeira coisa que eu queria era juntar dinheiro pra mudar, porque eu vim morar eu morava na casa de uma tia, e tia é tia, tinha a família dela, tinha mais gente, então assim, o meu salário eu me lembro que eu guardei, eu guardei o primeiro e o segundo, porque eu consegui mudar para uma casa, quarto e cozinha, aí eu já mudei, eu tinha 20 anos e mudei ja. Aí eu mudei para Rua Olavo Egídio, 742, também não esqueça esse endereço, foi primeiro lugar que eu morei, morei oito anos lá.
P/1 - E você morava sozinha?
P/1 - Aí essa minha... Aí, já é outra prima, olha como família de interior é grande, viu, gente, a gente já falou tanta prima (risos). Aí tinha a Giovana, que era filha dessa minha tia, mas que também ela queria ter mais liberdade, aí ela foi comigo, ela ficou uns cinco anos comigo, até ela se casar, ai quando ela casou ela foi embora pra Minas. Ai morava eu e ela, era um quarto e cozinha muito simples, mas... Era uma senhora, dona Alaide, ela era muito bacana, ela tava sempre ali com a gente, conversando, ai fiquei lá no Olavo Egídio, que nem eu falei, uns sete, oito anos. Isso Zona Norte, você pode reparar que sempre foi Zona Norte, trabalhei no mcdonald’s Zona Norte, o que mais vendia, sempre morei na Zona Norte.
P/1 - E como você lembra do bairro naquela época, da rua que você morou?
R - Então, o bairro era mais simples, que nem na Olavo Egídio passava elétrico, aí eu também achava lindo o elétrico, eu quis andar de elétrico a primeira vez porque eu falei "como é que esse ônibus anda?", porque ele tinha um negócio assim né, que andava, aí às vezes quando você ia longe aquilo caía, aí demorava, tinha que descer o motorista, colocar lá em cima de novo, então tinha o ônibus elétrico eu que tinha vontade de andar, andei, e a Olavo Egídio era mais simples, a gente não ouvia falar essa história de ladrão de hoje em dia, até porque nós não tínhamos programas de televisão assim, esses programas sensacionalistas, não tinha na época muito, falava muito de crimes, eu vi aquilo, mas pouco, a gente sabia que tinha a criminalidade, o lado de lá, mas muito pouco, principalmente aqui na Zona Norte, era uma rua bem calma, você acabava conhecendo as pessoas, nós tínhamos... Temos até hoje ainda, um mercado Goya que fica lá que você ia fazer a compra, ele trazia a compra em casa pra você, o menino, acho que até hoje eles ainda fazem isso, que é uma moda antiga, hoje em dia não tem mais isso. Então a gente conheceu açougue, a rua de cima, a feira de sábado a gente conhecia as pessoas da feira, você começa a conhecer as pessoas porque é um bairro mais simples, aí eu comecei frequentar a igreja Maria Cândida, eu sempre fui católica, desde quando eu vim de Minas, aí comecei a frequentar ali na Maria Cândida. Ai você também começa a conhecer a comunidade, ai foi assim... Bem tranquilo. Não é, assim... Naquela era bem mais tranquilo do que é hoje. Ah! Tinha o Clube, né? Que a gente queria ir para o clube, aí tinha dividido em dois clubes aqui era o Esperia e o Tietê, então a parte assim, um pouco mais elitizada, era do Esperia, e aquelas que eram um pouquinho menor eram do Tietê, e mesmo assim eu não consegui, porque não tinha sobrenome tradição, você não ia. Eu consegui sabe onde? Eu consegui ir no Corinthians, tanto que o primeiro clube que eu fui sócia foi o Corinthians, era um pouquinho longe porque a gente não tinha carro, mas pegava o... Acho que pegava o metrô e pegava o ônibus ali, e ai você ia até o Corinthians, que é lá no São João, é lá no campo. Lá eu consegui ficar sócia porque eu gostava de tomar sol, porque na roça sempre tinha muita cachoeira, então a gente gostava de tomar sol, tomar banho, assim, não tinha mar, né? Aí fui lá para o Corinthians, porque aqui, esses clubes se você não tivesse sobrenome você não entrava, você tinha que pagar uma taxa alta e tinha que ter assinatura de família Rezende, a família Alves, tinha que ter uma assinatura de alguém para entrar. Tradicional, né?
P/2 - E o que você mais sentiu falta? O que você mais sentiu falta quando veio para São Paulo?
R - Da casa grande. Só isso, assim, da casa grande e mais o contato com a família né, porque aqui, por mais que a gente conheça alguém, que você conheça as pessoas, você fica um pouco mais isolada né, e lá não, assim, a gente realmente conhece todo mundo no interior, você conhece todo mundo que tá ali próxima de você e na própria cidade. E a casa é muito grande assim, que nem eu te falei, depois a casa melhorou, então não tinha móveis não, mas assim, eram aqueles cômodos grandes, grande de coisa, tipo assim, era uma sala grande, um quarto grande, não tinha móveis, mas era tudo muito grande, e aqui é tudo muito pequenininho, depois veio morar... Imagina, tivemos que morar eu e a Giovanna em um quarto e cozinha? Ai é difícil, mas... A gente acostuma.
P/2 - Você veio para São Paulo com algum sonho?
R - Ah, acho que era o sonho de... Por assim, na verdade é o sonho de sair um pouco daquela pobreza porque a gente era bem pobre, então a gente queria melhorar um pouquinho de vida porque que nem eu te falei, imagina você ter sua infância que você não tem chuveiro para tomar banho, não tem luz elétrica, você entendeu? Você não conhecia sabonete, a gente não conhecia pasta de dente, a gente escovava os dentes com carvão. A gente tomava banho com sabão de barro, um sabão assim que eles faziam lá, eu não sei nem como, então a gente quer mudar um pouquinho a vida né? Porque ai quando você vê a televisão você vê que as coisas estão um pouco melhores. Aí quando você começa a estudar, começa a conhecer a história, ver que tem alguma coisa a mais, que você quer mudar um pouco. Porque... É bom lá nesse ponto, mas era muito pobre naquela época.
P/3 - Bruna, você estudou direto né, até terminar, depois era só entrar na faculdade.
R - Só na faculdade, isso. Mas eu não consegui.
P/3 - Lá mesmo?
R - Não, aqui mesmo a faculdade, mas lembra que eu comentei que quando eu cheguei eu não consegui porque era muito caro na época uma faculdade aqui, nós não tínhamos essa oferta hoje em dia de Sumaré, de Uninove, não, aqui na região tinha a Unisantana, que ela ficava aqui em cima, e a São Francisco. E era muito caro, além de tudo você tinha que fazer o vestibular. Porque hoje em dia você faz o vestibular, mas ele é mais ameno, naquela época não, você fazia o vestibular mais rigoroso, se você não atingisse a nota, era bem seletivo, tanto que quando eu já tinha uns dois anos que eu trabalhava, que eu tive um poder... Um pouquinho de dinheiro, ai eu fiz pra História e você tinha uma segunda opção Pedagogia. História eu não passei, eu passei na segunda chamada de pedagogia, aí eu comecei a estudar na Carlos Pasquale, que fica ali no Brás, mas aí não deu para concluir naquela época por causa do valor, porque naquela época eu ainda pagava aluguel, então eu tinha que pagar aluguel e a faculdade, ai quando eu tava no segundo ano, já pro terceiro, eu tive que parar a faculdade porque não conseguia pagar os dois, e pagar o ônibus para ir.
P/2 - Eu digo assim, lá em Minas você estudou todo, até terminar.
R - Todo o primário, todo o segundo grau, e lá também chamava terceiro grau, que foi o fundamental que eu fiz lá, você escolhia. Lá era assim, ou você fazia Magistério ou Contabilidade, como a gente sempre tinha aquele "ai, todo mundo é Magistério", ai eu... Ai, tinha um tal de científico, que eu nem sei o que seria isso, ai eu e a Tininha fizemos contabilidade e a Lucimar fez esse científico que eu nem sei o que tinha, era assim, ou fazia Magistério, Contabilidade ou Científico. Ai eu fiz contabilidade e ela fez Científico.
P/1 - Quando foi que você decidiu que você queria estudar História? Ou por quê?
R - Então, a gente gostava... Eu e minha prima, a gente sempre gostou de história quando começou assim. A gente é muito... Eu nunca fui bem em matemática né, exatas não era a minha praia, e eu gostava de história, geografia aí quando você começa a conhecer o mundo através dos livros, porque quando chega o primeiro livro para a gente lá então você começa a ver que tem outras coisas, assim, a gente não imaginava que tinha tão longe porque a gente não sabia, a gente vê logo o Japão né, ah, existe o Japão porque é o outro lado do mundo, você vai entrar num banco aqui e vai sair lá entendeu, você só escutava isso. Então aí você acha interessante, com os primeiros livros você começa a conhecer a história do passado, aí você começa a estudar tudo, a história contemporânea, aí você vai vendo aquelas culturas do Egito, passando pelas civilizações antiga, aí fica interessante.
P/1 - Sua primeira opção então era história.
R - História. Tanto que agora eu fiz pedagogia, acabei, acabei de me formar, agora sou pedagoga formada, estou fazendo a segunda licenciatura de História.
P/1 - E aí o interesse pela pedagogia, como que ele surgiu?
R - Eu gosto também de pedagogia, sempre... Eu gostei, eu gostava já de trabalhar com criança e, que nem eu comentei, eu faço um trabalho em orfanato, entendeu, de visitar, de conversar com as crianças, então eu acho interessante, eu acho que você tem que gostar, eu estou na altura da minha vida que eu quero fazer o que eu gosto. Então assim, eu acabei pedagogia porque eu gosto de pedagogia, eu quero fazer História porque eu gosto de História.
P/1 - E como foi esse trabalho com o orfanato, como que começou?
R - Você sabe que antes eu achava... Na verdade eu comecei um trabalho com a Polícia Militar de São Paulo, o meu trabalho com orfanato começou aqui no quinto batalhão, aqui onde eu estou é área do quinto batalhão, e o quinto batalhão tem o Proeti e a ronda escolar, e eu conheci um cabo na época que ele fazia esse trabalho no Orfanato Nefesh, lá no Parque Novo Mundo, Zona Norte também, e conheci o capitão Novaes, que é uma pessoa muito bacana também que comandava a área, a ele convidou um dia para conhecer, para fazer parte, para ir, aí eu gostei. Aí desde que eu gostei, isso vai fazer uns oito anos, acho que por aí já, porque inclusive o capitão Novaes hoje em dia é Coronel, Coronel Novaes, que tá até comandando o 50. E vai fazer uns oito anos, então assim, a gente vai visitar e fora essas visitar que nós fazemos, a gente faz festas específica no ano, então a gente vai no Natal, a gente prepara o Dia das Crianças, a Páscoa, e a gente vai com os policiais militares e as crianças adoram Polícia Militar. Ai tem o capitão Alexandre, que agora é o comandante dessa área, agora em dezembro ele foi de Papai Noel, ele e o irmão, aí eles foram de Papai Noel, chegaram assim num Jeep bem legal na porta, aí as crianças vieram a porta esperar, aí foi a viatura na frente, então assim, as crianças amam e eu achava que o orfanato fosse até mais triste, mas não é, porque as crianças são muito bem cuidada, elas fica lá esperando a época de adoção, então esse assim que eu faço trabalho, tanto Frei Damião como no Nefesh, o Cláudio aqui e a Regina lá, as crianças são uma família, porque o Frei Damião deve ter hoje umas 22 crianças, e no Nefesh deve ter umas 15, é uma média de 15 então assim, são muito bem tratadas as crianças, com muito carinho, e a gente fica feliz porque assim... Fomos agora na Páscoa, que nem, eu fui visitar faz um mês tinha gente, mas pode correr o risco de chegar agora no Dia das Crianças, uma ou duas crianças serem adotadas. A gente fica tão feliz quando sabe, nossa, foi adotada a criança, é uma felicidade muito grande porque a criança ganhou mais um lar, né? E a adoção demora, ela é muito demorada aqui, a adoção, é um processo muito lento e essas crianças aqui do Nefesh elas são retiradas dos pais, que sofreram maus tratos. Então assim, se aparecer um parente próximo, uma vizinha... Uma vizinha não, uma prima, ou a tia, ou alguém que queira, aí ele vem, a criança ela volta para a reintegração da família. Mas se não, após um ano e meio ela vai para adoção.
P/3 - E você disse que começou a fazer essa ação no orfanato junto com a polícia militar.
R - Junto com a Polícia Militar de São Paulo.
P/3 - E como você se aproximou deles, como foi?
R - Essa aproximação, né? Então eu conheci numa festa o... Foi o primeiro? Foi o Novaes mesmo, que é aqui do quinto, aí a gente começou a conversar, começamos a conversar aí ele falou do projeto, conheci a esposa dele que é uma médica, ai ela falou do projeto, aí eu sempre tive muito carinho pela polícia quando eu cheguei em São Paulo porque a gente não conhecia também polícia em Minas porque lá não tem. Depois você vai descobrir hoje em dia que tem, mas na época não tinha, tinha um delegado e a polícia militar muito pouquinho, devia ter o contingente de dez policiais na cidade, acho que nem isso, eu não me lembro bem, nem isso, e aqui você vem conhecer que tinha muitos policiais e você via muito falar da rota, que assim, que tinha alguns bandidos e que a polícia tava para defender a gente. Aí você passa a ter uma admiração pela polícia, aí quando você começa a fazer parte, frequentar, que nem eu recebi o título de Cidadão aqui do quinto batalhão, então você começa a frequentar, a ter um convívio, você vê que eles trabalham muito e que nós não seriamos nada sem a polícia porque é a polícia que defende e que ajuda a gente, entendeu? Então assim, qualquer coisa você liga para polícia que ela tá presente, então eu confio muito da Polícia Militar de São Paulo e eu tenho muito carinho e muito amor pela polícia.
(pausa)
P/2 - Mas ai você conheceu esse coronel como?
R - Era Capitão na época, porque tem as graduações. Foi numa festa, aí conversando, e a esposa dele, que é uma médica, eu acho que foi numa festa... Acho que foi numa quermesse, acho que foi na igreja Salete, não tenho muita certeza, acho que sim. Aí que a gente conversou que ele falou do trabalho social, eu já tinha algumas amizades policiais também na época né, aí as amizades foram acabando ajudando tudo. Aí depois passei a fazer parte do... Com o Major Olímpio, quando ele ainda era deputado em São Paulo, aí você vai conhecendo todo mundo né, aí você começa a frequentar, então assim, eu tenho as portas abertas no quinto, no nono e no 43, que são... Na Zona Norte na verdade são cinco batalhões, tem o CPM.... O CPM 13 comanda toda a Zona Norte e nós temos cinco batalhões, nós temos o quinto aqui embaixo, o 43 ali, o nono aqui bem na avenida, temos 47 no Horto e o 18 na Brasilândia, são cinco batalhões que cuidam da Zona Norte, então são eles que cuidam da gente, que tenta proteger o cidadão contra essa bandidagem que tá ai, eles fazem o que podem.
P/3 - E você disse que tem acesso, frequenta, a curiosidade é essa, como você tem essa relação?
R - Então, porque eu também fiz parte do Conseg há uns dois anos... Não, há uns três anos. O Conseg é onde a população vai... Na verdade a primeira vez que eu fui também fui pra reclamar, eu fui pra citar que na rua de trás estava tendo alguns furtos de veículos, aí lá no Conseg que eu criei mais amizade. Aí depois eu fui conselheira, também fiquei de conselheira lá, quando as pessoas... Em cada bairro tem um Conseg, que as pessoas, os cidadãos, vão reclamar se tem um baile funk, um problema assim com um vizinho, com algum barulho, aí também é tudo, lá reclama da rua, do trânsito, então lá são as autoridades do trânsito, da segurança e tem mais... E da Saúde.
P/3 - É um conselho.
R - É, chama-se Conseg. Então em cada em cada região aqui da Zona Norte nós temos cinco, cada batalhão tem um Conseg, cada companhia de um batalhão, que nem, o Conseg daqui fica na (Dois Irmãos Vilares?), que é do senhor Fernandes e da dona Cândida. Aí ali também eu passei a dar palpites, a pedir soluções, porque assim, tem muita gente que vai no Conseg só reclamar, então você tem que ir, fazer reclamação, mas às vezes você pode levar uma sugestão do que tá acontecendo e fazer um elogio também. Aí eu comecei a fazer elogio para os policiais militares, entendeu? Cuidava da área, a ronda escolar, aí eu fiz amizade com senhor Valter da ONU, e eu comecei fazer indicações para medalha. Então hoje também eu indico os policiais que tiveram alguma... Assim, um trabalho que deu uma visibilidade, que... Um pouquinho a mais a gente faz a indicação dele junto os comerciantes daqui "você indica aquele policial tal", sempre em dois né, que trabalham junto, que fizeram alguma ação aqui no bairro você indica, aí eles vão na Assembleia e recebem uma medalha.
P/2 - E foi um trabalho remunerado ou não?
R - Não, são todos sem remuneração esses trabalhos, são tudo de voluntário.
P/2 - Mas você trabalha até hoje?
R - Trabalho até hoje. Estou sempre em contato com a polícia militar daqui, até hoje eu faço parte, sou bem recebida, e assim, que nem, nós temos... Eu trabalho também na igreja agora, na Joana D’arc, que é aqui no Jardim França, então nós fazermos a nossa que quermesse anual, então assim eu vou no batalhão, peço um policiamento, o comandante me atende, nós temos o telefone funcional do Capitão, do Comandante também do batalhão, falar isso nós temos aqui na região da Zona Norte, esse programa foi implantado aqui, "vizinhança solidária", agora já se expandiu por São Paulo, mas a implantação foi na Zona Norte, foi o capitão Reco, ex major Reco, que tem um... Os moradores tem um whatsapp, que a gente se comunica, qualquer coisa suspeita no bairro, na rua, uma comunicação rápida com ação da polícia. Acho que já deve ter na Zona Sul, outros bairros, mas ele foi implantado aqui há uns oito anos pelo Major Reco.
P/2 - E você ganhou medalha pelo que?
R - Eu ganhei uma, eu ganhei uma de... Eu ganhei a da ONU, a da paz, eu ganhei ano passado, ganhei da mão do Coronel Telhada, lá na Assembleia Legislativa. E ai por esse trabalho, é dedicação, é do convívio com a polícia, integração da polícia com a comunidade, as indicações, o trabalho voluntário da igreja, que na igreja também nós somos voluntários, todo mundo voluntário. "Ah, você arruma tempo?", a gente arruma tempo de ir pra igreja trabalhar. Estudar, trabalhar e ter uma remuneração.
P/2 - Você falou que recebeu outra medalha também, que foram duas, foi isso?
R - Não, a medalha eu recebi só uma. Eu já ouvi dizer que eu fui indicada pela medalha que tem aqui da comunidade, mas essa indicação ainda não chegou, mas demora um tempinho porque você passa no processo, sabe, não é tão simples assim, que nem, eu recebi a da ONU, que é a medalha Cinquentenária da Paz, que é da guerra do batalhão de Suez, que é uma guerra que o pessoal daqui foi, o senhor Valter, que é a guerra em Israel, o batalhão, então tenho essa medalha, que é azul e branca, que é pacificadora da ONU. Essa eu recebi da Assembleia ano passado.
P/3 - Essas medalhas então a ONU encaminha e quem decide quem vai...
R - Na verdade o senhor Valter é o presidente da ABIFIP, Associação Brasileira das Forças Internacionais da Paz, o presidente de São Paulo é o senhor Valter, ele foi combatente dessa guerra de 1952 em Suez, ele foi combatente. Ele é o presidente daqui. Na verdade., é ele que outorga, a personalidade que teve alguma dedicação, por exemplo, policial que... Que nem assim, teve agora a cabo Angelita que ela salvou a criança do engasgamento, então assim, é legal porque ela salvou a criança né, nós tivemos o outro que teve lá, do bombeiro, então a gente indica, aí passa lá no conselho, eles são aprovados e recebem a medalha.
(pausa)
P/3 - Essa pessoa que você comentou, que já participou da guerra e tal.
R - É, o senhor Valter, ele é um velhinho, um amor de pessoa.
P/3 - Ele é daqui, não?
R - É, daqui de São Paulo.
P/3 - Mas não da região norte.
R - O senhor Valter é da região norte. O senhor Valter é, ele mora próximo aqui ao quinto batalhão, não sei bem o endereço, mas é aqui próximo, que ele é daqui. O senhor Valter lutou em Suez, um dos mais antigos que estão ai é ele, lutou la na guerra de Suez, ele foi.
P/3 - Uma figura assim (risos).
P/1 - E aí desde que você chegou em São Paulo você nunca saiu da Zona Norte?
R - Nunca sai da Zona norte e não tenho vontade de sair. Que nem eu morava na Olavo Egídio, que é próximo do metrô, ai eu tive que mudar porque a dona Alaide ela faleceu, já era uma senhora idosa, ai quando ela faleceu ela passou para os herdeiros, então ela tinha uma três casinhas de aluguel, tiveram que desocupar porque foi vendido pra empreendimento imobiliário, ai eu tinha que mudar, eu tinha pânico de sair daqui, ai eu consegui na Nova Cantareira, eu falei "meu Deus, mas que lugar é esse?", que era um pouco mais longe aqui em cima, eu não subia pra ca, eu me limitava a sair de Santana pra ali, eu ficava naquele meio ali, Santana, toda a parte ali, ai depois que eu vim descobrir aqui em cima foi a melhor coisa da minha vida. Agora eu não quero mais mudar daqui. Ai eu consegui juntar dinheiro e comprei um apartamento na avenida, e então eu já tenho meu apartamento, só mudo se for um pouco melhor, mas aqui mesmo, é pertinho, até porque a área aqui é muito boa, que é verde, nós não temos enchente, não temos problemas aqui com ladrão, com bandido, nós não temos, é muito pouco, é um caso ou outro. Aqui é um local muito bom, o ar aqui em cima é melhor, aqui nós temos condução para todos os locais, temos bons mercados, nós temos bons médicos entendeu? Aqui praticamente é uma área militar né, a gente é muito bem policiado aqui, eu gosto muito daqui.
P/3 - E depois do mcdonald's você foi trabalhar onde?
R - Depois do mcdonald's eu tinha um gerente, o Márcio Delgado, que ele foi para o Bob's, aí me convenceu a ser gerente geral na época do Bob's da Paulista, um que abriu. Eu aceitei, mas olha... Não me arrependo, que foi uma experiencia né, senão não teria feito, mas ai eu fui, ai inauguramos na Paulista, ali, la no começo, perto do metrô, o shopping que tinha. Nossa, assim, só que era muito diferente, eu passei por treinamento, eu fui para o Rio de Janeiro, a fábrica Jacarepaguá, conhecer como é que funcionava o Bob's, lá a carne que eles fazem, tudo. É legal, mas é muito diferente da filosofia do mcdonald's, porque o mcdonald's já estava um pouquinho mais avançado, é legal o Bob's, mas é um pouquinho diferente. Aí me acostumei, fiquei lá, a loja deu resultado, o Márcio era o supervisor já, porque no mcdonald's ele era gerente, ai ele foi como supervisor né, porque ele conhecia bastante, e eu fiquei de gerente de loja eu e o... Quem que era... A Graça. A Graça que era. Ai nós ficamos, a nossa loja batia as metas, fiquei uns oito meses lá aí, tinha a Faria Lima, que era uma loja que tava com dificuldade de vender, da rede do Bob's, eles falaram "ah, vocês vão pra lá e vocês vão ter que salvar aquela loja", aí nós somos, ficamos na Faria Lima, deixamos a loja no verde, porque ela tinha um (estete?) na época que era zerado... Zerado não, que estava com os índices muito baixos, aí nós zeramos o (estete?) Né, que era o financeiro da loja e a loja manteve no nível. Aí inaugurou Polishop em Guarulhos, aí fomos para a Polishop, aí ficamos em Guarulhos, mas aí Guarulhos a filosofia era muito diferente, os funcionários eram um pouco rebeldes, não queriam se enquadrar na diretriz da empresa, mas ainda fiquei mais um ano e pouco, mas aí o meu supervisor, que é o Márcio, acabou sendo desligado porque não conseguiu bons resultados lá na Polishop, aí logo em seguida também quando assumiu a nova gestão eu também fui dispensada. Aí assim que funcionou, McDonald’s eu saí por opção, mas tudo bem, passou, é uma fase também que foi, foi boa, mas não quero mais trabalhar no Mc.
P/1 - E depois da Polishop você foi pra onde?
R - Ai da Polishop, ai eu... Não, eu tava estudando. Ai eu acabei, quando eu tava na Polishop eu tava estudando Pedagogia, ai que eu tive que parar né, interromper o curso, ai fui trabalhar, ai fui trabalhar em salão. Porque aí... Eu já fazia porque quando eu cheguei do interior já fazia alguma coisa assim do pessoal do Mc, das meninas, já fazia uns... A gente fala "bravo" né, que seriam os bicos, para ganhar um pouquinho assim, por fora já cuidava de cabelo, aí fui trabalhar, fui trabalhar na Alessandra, era um salão muito bom que tinha na Leôncio, era assim, era ela e o Akita, os dois eram famosos, mas a gente trabalhava de ajudante, a gente era ajudante dela. A gente tinha um salário e trabalhava de ajudante e fiquei assim.
P/3 - E você gostava dessa parte da estética?
R - Gostava, assim, dos cabelos, eu achava bonito porque a gente não conhecia, ali na Alessandra ela recebia muito o pessoal, assim, aquelas senhoras mais finas, gostavam de cabelinho mais... A gente achava aquilo bonito porque era diferente né, fazia uns cabelos bonitos, umas maquiagens bonitas, a gente sempre gostou de maquiagem, e as maquiagens eram lindíssimas e (ela amou o salão?), ai eu fiquei lá uns quatro anos.
P/3 - Aprendeu bastante.
R - Aprendi, você aprende lá.
P/2 - E ai você montou... E aí o que você fez depois que você saiu de lá?
R - Ai depois de lá pra onde que eu fui? Ah, então, ai depois essa minha amiga montou um salão ai eu montei com ela, ai nós fomos trabalhar juntas. Ai tem até um episódio porque depois a menina que ficou de manicure com a gente que acabou virando amiga, que é a Ivanete, ela é de Minas, foram 20 anos de convivência, agora em julho fez um ano que ela faleceu. Ela estava ótima, 60 anos, trabalhava, tudo, com a gente, ela que cuidava de tudo, tanto que eu optei também passar pra Cristina agora porque ela era a alma do negócio, ela fazia tudo, ela, do nada, ela passou mal, teve um aneurisma em maio, internou e quando foi em julho ela faleceu. Ai né, fazer o que né?
P/3 - E teve nesse salão que você trabalhou alguma história marcante?
R - Ah, história mais marcante acho que foi da Alessandra porque ela era muito brava né, e ela tinha um pentinho, , que ela batia na mão da gente, entendeu, com o pente (risos). E eu fui lavar o cabelo de uma senhora chamada Raquel alguma coisa, um sobrenome bem importante, porque tinha uma boate aqui, que chamava boate na época, que foi inaugurar na... Na Zuquim, chamava Zoom. Era boate top da Zona Norte, olha, Zona Norte a primeira boate que tinha aqui, então assim toda aquela elite, todo mundo recebeu o convite para essa noite né, e a gente... E o salão da Alessandra lotou de gente, todo mundo queria fazer o cabelo porque era assim, era a festa daquele... Do ano era a inauguração da Zoom. E eu fui lavar o cabelo da dona Raquel, não tinha muita experiência, com um pouco de medo, deixei cair um pouquinho de água e molhou, ai, essa cliente ela levantou, ela chamou a gente de... "ai, essas assistentes que você não conhece, que você contrata, eu to toda molhada", com um molhadinho. Aí, olha, naquele dia eu fiquei até doente, achei que ia ser mandada embora porque não tinha nem um mês, mas ela não me mandou embora não, depois passou, ela dava umas palmadinhas assim com o cabinho do pente (risos) e ficou, e eu fiquei lá uns cinco anos. Mas era assim, a Zoom, não sei se você conhece, se alguém já ouviu falar, a Zoom, depois pesquisa, ela era uma das primeiras boates da época da Zona Norte, que inaugurou, era assim, era a top de linha, naquela época era disco music, acho que é em 95, 91... Acho que é alguma coisa assim, não sei precisar bem a data não, mas foi nessa época.
P/3 - E você se divertia como aqui, jovem?
R - Pouco, porque assim, que nem a gente, eu não tinha carro, eu tenho carro agora já tem uns oito anos, então você não saia muito a noite porque não tínhamos Uber e aqui a gente na Zona Norte sempre teve, assim, uns barzinhos bons, aqui na Nova, na Vila Nova, embaixo, e tinha também aqui perto da HPM, então gente ia nuns barzinhos de samba, a gente não podia gastar muito que tinha faculdade, então a gente ia, tinha um grupo de samba, e aí descobrimos a escola de samba, aí eu comecei a frequentar a passo de ouro, foi a primeira escola de samba que eu frequentei, que ficava na Luiz Dumont Villares, que hoje em dia essa escola infelizmente acabou, e depois eu vim para Tucuruvi aí eu fiquei na... Não... Isso, vim para Tucuruvi, fiquei cinco anos, aí nasceu uma escola muito boa, a X9 Paulistana, que é uma escola que cresceu do nada através do presidente, o Lauro. Quando eu fui para a X9, tem até uma história porque eu tenho um apelido, quando coloca... Tenho um apelido, tanta que até quando eu fui candidata a vereadora coloquei Bruna Babalu, por que. Quando chegamos na X9 tinha uma novela que passava na época, "4 por 4", depois a gente era muito brincalhão né, aí eu falei "eu preciso de um casal para o departamento social", porque a escola tem umas notificações que você toma conta né, o social toma conta de festas, de eventos da escola de samba. Aí ele gostou de mim, que eu já tinha feito um trabalho lá com... De fantasias anteriores e ele gostou, e tinha lá o Carlão e o Carlão se achava o Raí, porque ele adorava ficar de camisa, com a camisa aberta, se achava o galã de lá, ai falaram "ai, vamos botar um casal", "ah não, mas nesse nome não, você vai ser a Babalu e ele o Raí", aí ele lançou a gente como Babalu e Raí, isso em 98 que foi, foi no... Não, foi em 96, no Carnaval da Amazônia, e esse apelido pegou. Hoje em dia assim, às vezes eu quero deixar o apelido, mas assim, as pessoas que me conhecem de oito anos para cá não, mas de oito anos para trás, vem aqui na Zona Norte, falou Babalu todo mundo me conhece. As vezes eu to num local "olha a Babalu", as vezes eu vou, que nem, sábado eu fui no Clube dos Oficiais, teve um baile aqui na UPM, ai gente "nossa, eu lembro de você na X9", "ai você é a Babalu", "ai, faz uma selfie comigo". Falei assim, ai, gente, sou, não tem jeito. E pegou o apelido que ficou e tá aí, não tem jeito, parece que gruda em você e não sai mais. Tanto que tem muitas pessoas que chamam e não fico mais chateada, até me chatear um pouco, ai deixa pra lá, acostuma.
P/2 - Chateada por quê?
R - Não sei, porque as vezes assim... Eu to que nem aquela onda da feiticeira, Tiazinha, que parece que pega esse apelido e você fica incorporado com aquilo, e as vezes... Sei lá, é uma bobagem que você tem assim, entendeu? Mas depois falei ah, bobeira, deixa isso pra lá. Que nem, a gente quer ser chamada pelo nome só, mas depois que corre... Hoje em dia não importo mais. Tanto que os amigos anteriores, inclusive aqui, esse meu amigo daqui o Paulo, ele é Babalu. Babalu pra ca, Babalu pra lá, aí eu deixei de lado. Tanto que quando eu fui candidata a conselheira tutelar também, eu coloquei como Bruna Babalu, porque lá todo mundo te conhece né? Quando me aventurei também na política, Bruna Babalu, ai tem que ser. Porque as pessoas conhecem, na Zona Norte é Babalu.
P/3 - E você fez parte do conselho tutelar?
R - Eu ia fazer né, aí depois, como eu fazia trabalho em orfanato, eu fiz o acompanhamento antes, eu fiz a inscrição para fazer tudo aqui na subprefeitura na época com o guarda Luizinho, o guarda Luizinho eu fico com ele até hoje, um amor de pessoa, que era aquele do Map. Aí quando eu fui visitar com ele como era o trabalho aí eu não quis. Porque uma coisa é você ir no orfanato, porque você chega no orfanato as crianças (pobres?), por exemplo, elas querem que você senta, conta historinha, que você abra o livro, elas te abraçam, elas querem conforto, elas querem aconchego, entendeu? E o trabalho do senhor telar ele é um pouco difícil, porque eu me lembro assim que eu fui acompanhar ele antes da eleição e ele foi retirar umas crianças que estavam lá porque o pai e a mãe tinham brigado, então tinha que tirar aquelas crianças, trazer pro DP, para ficar ali... Ai, olha, é muito triste. Olha é muito triste, eu acho que assim, aí eu falei "ai não, eu não quero não, não quero tirar a criança", até porque há uma responsabilidade muito grande, porque o Conselho Tutelar tem que analisar bem para tirar aquela criança e trazer pro DP pra ver como é que está aquilo. Então assim, você tem uma responsabilidade muito grande, entendeu? E é muito triste, tirar a criança da mãe e do pai é muito triste.
P/2 - E você tá trabalhando há muito tempo no orfanato?
R - Ah, to, há mais de oito anos que a gente faz o trabalho nesses dois orfanatos e faço creche também, porque a dona Cândida, que é a presidente do Conseg ela montou uma creche faz três anos, aqui na Júlio Buono, e na creche dela lá assim, lá tem 150 crianças, são crianças, assim, que a mãe tem um poder aquisitivo um pouco mais baixo, os pais ganham um salário mínimo, então quando fazem aquela inscrição na prefeitura conseguem a vaga lá na creche. Então a gente faz eventos, a gente faz festinha com as crianças, também faz várias festinhas lá, é bem legal. É um pouco melhor né porque a gente sabe que aquela criança por mais simples que seja tem uma mãe quando voltar para casa né? Elas ficam o dia todo, mas quando é cinco horas o pai ou alguém vem buscar. E o orfanato não, a gente sabe que a criança não, ela vai ficar ali até alguém achar um lar.
P/2 - E você tem alguma coisa especial por alguma criança?
R - Ah, a gente tem... A gente acaba tendo apego, né? Que nem, lá tem a pequenininha, que até a gente fala que ela quer ser princesa, então a gente leva o arranjinho de cabeça pra ela, mas agora o Cláudio falou para mim que ela deve... Ela tá pra ser adotada. Ta, e é uma felicidade muito grande. Então assim, ele falou: "vem visitá-la porque" é a Isabela "vem visitá-la porque talvez ela vai ser adotada antes da festa das crianças", que vai ser em outubro. Então devo ir lá, semana que vem devo ir lá no orfanato fazer uma visitinha porque ele falou que o casal que tá lá já fez os processos tudo, tá tudo bem já na parte final de levar ela pra um lar.
P2 - E tem crianças que não conseguem um lar?
R - Tem. Tem. Quando elas vão ficando mais adultas, que nem lá tem os... Tem o Maicon e mais uns lá, uns dois, que estão mais adultos e acabam não conseguindo. Como eu falei pra vocês que eu faço um trabalho com a polícia, o Capitão Alexandre que tá aqui, quando ele foi para o 18, o 18 é lá na Freguesia do Ó, ele ficou lá seis meses, ele falou assim: "olha, vamos pegar um orfanato para a gente conhecer?", e nós fomos conhecer o orfanato lá e fazer um trabalho lá, lá o trabalho naquela parte, as crianças são um pouco mais difíceis, nós percebemos que lá tem muitas crianças já maiores, que tão bem, assim, na fase adulta, que é mais que dificil para ser adotada, lá tinha muitos adolescentes, aí a gente percebe que o adolescente é mais difícil.
P/1 - Bruna, e você contou para gente um pouquinho sobre as quermesses como que acontece aqui na Zona Norte?
R - Ai, a quermesse é tradição aqui, é, nós temos várias, por exemplo, eu sou da Joana D’arc, Jardim França, a nossa quermesse ela começa antes de todas da região, nós começamos no dia 18 de maio, porque dia 30 de maio é a festa da padroeira, da Joana d'Arc né, nós começamos então 15 dias antes, nós fazemos no sábado, domingo e no dia dela, nós fazermos um mês de quermesse, aí nós temos a tradicional, que é da Salete, que também é fora de época, que vai acontecer agora em setembro, do dia 3 até o dia 30 de setembro, porque é o mês da Salete, nós temos a de Santana, então assim são quermesses mais tradicionais do ano. A Nossa Senhora das Neves e uma bem tradicional também, que é a do Santo Expedito, porque o Santo Expedito, que inclusive aqui no dia 19, sempre todo dia 19 tem uma comemoração, mas no dia dele mesmo é maior ainda, porque vem muitos políticos, vem até artista, vem cantor, que já veio, que eles vem porque conseguiu graça de Santo Expedito, e a Igreja Santo Expedito tá aqui na Zona norte, tá aqui na... Maria Laet, então também é uma quermesse bem... Bem assim, é bem famosa. Temos também a quermesse aí do Clube dos Oficiais, que é bem bacana, que é cheia, que já é uma mais mista, assim, para todos os públicos.
P/3 - O ano inteiro então praticamente tem quermesse?
R - Então, você vê que tem, porque olha, nós temos maio, junho, julho e setembro. E nós temos a as festas de Santo Expedito, todo 19 a igreja Santo Expedito faz uma festa, todo dia 19 tem festa na igreja.
P/2 - Ai toda a região norte sempre se reúne nas quermesses?
R - A maior parte se reúne. Tanto que assim, eu sou voluntaria aqui na igreja, tanto que um amigo da gente tá coordenando em Santana, que é o Luiz, foi muito tempo daqui agora, porque ele acho que casou com alguém de lá e ai convidou falou: "olha, quero que você, a mamãe" , que é a mamãe dele que ele fala, dona Vilma, "Quero que vão trabalhar na barraca do vinho aqui", tanto que em setembro já estou convocada para trabalhar, sábado e domingo na barraca do vinha da Salete. Ai tem que arrumar um tempo, o dia que não da pra ir você põe alguém no lugar, mas eu vou, quase todos os dias eu estarei lá.
P/3 - E na quermesse são barracas?
R - São barracas. Ai a gente põe um palco, a gente leva atrações, inclusive eu tenho contato com as escolas de samba, eu convido as escolas de samba, tanto que na igreja, a princípio, ali na Joana D’arc, nós tínhamos uma senhora muito antiga, ai quando falamos "ai, vamos trazer a mancha", mancha verde né, ai a moça: "ai, mas escola de samba na igreja?". Ai o padre teve que conversa com ela "não, a igreja tá fechada agora, já teve a missa, é no pátio da igreja a escola de samba", aí a única coisa que a gente fez, nós tomamos um cuidado de que assim, as mulatas não vão de biquini, então a gente pede, elas vão com a sainha e com blusinha, balançando, então assim a gente evita então para ficar uma coisa, né? Elas vão de sainha, mesmo sendo (fora?) elas vão, ou de vestidinho, sem biquíni.
P/2 - E você vai nessas quermesses conhecendo todo mundo, imagino.
R - Ai, conheço todo mundo já, né? Porque já é muito tempo, você passa a ser conhecida. Você não tava... Quando você falta dia "ai, não te vi, é porque você não tava trabalhando", falei "ai gente, não deu para ir hoje, eu tava... Né? Não deu, eu tinha que estudar".
P/3 - Por isso que você foi candidata, pelo jeito.
R - É... Não, mas quando eu fui candidata eu nem sabia, viu? Não tinha muitas pretensões políticas, foi através de um amigo que ficou aqui conversando com a gente, né, uma amiga minha, queria que ela fosse, eles vieram até do lado do Ivan Valente "não, é bom", não sei o que, não tinha conhecimento da política, porque nós estamos na eleição agora, faz dois anos, foi há oito anos, foi antepenúltima eleição, hoje eu tenho conhecimento, eu faço parte da política, aí depois fui trabalhar no... Fiquei um pouco no Olímpio, trabalhando com ele, ele rodando a cidade, quando ele foi candidato, aí você passa a conhecer como é. Naquela época não tinha nada, tanto que assim, não tínhamos... Não tínhamos um projeto político e mesmo assim, aqui na região eu consegui dois mil e poucos votos e sem nada, assim, sem fazer nada, não tinha comício, não tinha divulgação nenhuma, porque nós não tínhamos dinheiro, o partido quando chegou o mês antes, ele deu os santinhos lá, que vinha com o (Genasio?), Ivan Valente e tinha você junto, entendeu? Ai foi, que era mais conhecimento, "olha", tanto que eu tive gente que nem sabia que eu era candidata, "ah, se eu soubesse", e eu "mas não deu tempo", né, porque foi assim, não tinha experiência, não... Foi assim, saiu do nada.
P/3 - Foi só boca a boca.
R - É, foi... Mais nesse pedacinho aqui entendeu, o boca daqui falando com outro... E falar assim "ah, mas dois mil votos", mas dois mil votos são dois mil votos, na época o próprio Major Olímpio ele apoiou a cunhada dele e fez a campanha maciça, tinha carreata, tinha tudo, ela ficou com 1.400 votos (risos). Hoje eu sou amiga dela e ela fala assim "ah, eu não tive", eu falo: "pois é, se eu tivesse igual você, com esse jeito, eu tinha estourado a boca do balão", mas mesmo assim o partido é muito grato porque... Nós éramos quase 50 candidatas, a Zona Norte nós éramos aqui, essa parte, acho que uns 25 candidatos pelo partido e nós elegemos vereador com oito mil votos pelo coeficiente eleitoral, o partido teve... A legenda teve 150 mil votos e juntou todos os nossos votos deu mais quase 60 mil, uma coisa assim, elegemos (Antonil Vespa?), que é da Zona Leste ele foi eleito vereador o último, assim, com menos voto, mas foi eleito a vereador.
P/2 - E você gostaria de entrar nisso de novo?
R - Eu acho que eu vou agora. Eles estão querendo me convencer, na última eleição eu apoiei o Coronel Veloso, fizemos um apoio para ele para vereador, infelizmente ele não conseguiu os votos necessários, e não conseguimos fazê-lo vereador mas... E o Nelo Rodolfo que a gente apoiava também não deu. Mas, acho que agora eu vou.
P/1 - E agora você vai como vereadora de novo.
R - Vereadora de novo, mas agora eu tenho estrutura... Um pouquinho a gente sabe como que é, a gente ajuda a região, a gente sabe o posto de saúde que atende melhor, é que assim, não adianta eu ter promessas, falar ah, vamos ser vereadora, que nem o pessoal vai arrumar o slogan, ah, eu vou melhorar o transporte, não, tem que arrumar aqui o que tá no bairro, porque assim, eu sempre percebo isso, eu falava isso muito pro Major Olímpio e até com o Nelo, quando o Nelo foi vereador, agora ele não é, ele olhava pra gente. A Zona Norte é muito rica, mas ao mesmo tempo, depois quando tem a parte da política, essa parte aqui ela é um pouco esquecida dos políticos, a gente fica meio aqui assim, quando vem o subprefeito, que a gente tem um contato, melhor, a gente fica no pé do subprefeito, olha, região tal, tem praças, nós temos o Horto, que a gente... Olha o exemplo, nós temos o Horto Florestal, que a gente pode correr, fazer ginastica ao ar livre, agora nós temos a Nova, que a gente corre também, que a gente tem a pista de corrida, temos a Engenheiro, e eles esquecem um pouco da gente quando eles ganham, infelizmente.
P/3 - Você tava falando de uma pessoa aqui importante da zona Norte, pode falar.
R - Era sim, dona Celeste Brito. Ela nasceu em Portugal mesmo, ela veio pro Brasil, que ela conta pra gente, com quatro anos, hoje ela mora no Jardim França ela acho que ficou quase 20 anos na Portuguesa, na festa junina tradicional, fazendo o melhor bolinho de bacalhau da Zona Norte, o bolinho de bacalhau ela mesmo faz, em casa, é bacalhau mesmo, e ela fazia o bacalhau também na brasa, tanto que é um sucesso na Portuguesa o bolinho dela. Devido à idade, agora que ela já está com 88 anos, esse ano já ficou difícil para ela e o marido também, então eles já não montaram a barraca esse ano, foi o primeiro ano que ela ficou sem montar a barraca, tanto que o pessoal sentiu muito porque era tradicional o bolinho dela.
P/1 - E aí o seu envolvimento com a escola de samba, como que se deu?
R - Como nós não tínhamos muitas opções por aqui, eu conheci a Passo de Ouro, como eu comentei né, aí comecei a frequentar a Passo de Ouro, aí como a gente via as fantasias, aí eu fui desfilar, na época eu desfilei de fantasia, aí desfilei na Passo de Ouro, ai o conheci o Lauro, que foi o presidente da X9, a X9 ela tinha acabado de subir para o especial, o especial é o grupo da elite né, ela ficava aqui debaixo do metrô Parada Inglesa. Aí o presidente, que era o Lauro, hoje ele já é falecido também, porque após o campeonato de 2001 ele teve uma parada cardíaca aí ele faleceu, muito jovem, e na época ele queria... Ele tava reestruturando a escola né, aí ele me convidou para trabalhar no departamento social, falou que queria um casal, aí ele convidou eu e o Carlão, e ele apelidou a gente, Raí e Babalu, e nós tomamos conta do departamento social durante uns oito anos, com grandes festas, grandes eventos. Ai eu fazia só essa parte, só após a morte dele que eu vim para o Tucuruvi, ai eu comecei a cuidar da parte de design de fantasia, aí eu vim como diretora de Carnaval da Acadêmicos do Tucuruvi, aí nós fizemos dez Carnavai, na Tucuruvi nós somos vice-campeãs do Carnaval fazendo homenagem para o Nordeste.
P/3 - Quando você fazia os evento sociais, conta algum que foi bem marcante.
R - Então, os eventos sociais que a gente faz nas escolas de samba são assim, são eventos para reunir a comunidade, então a gente fazia feijoada com pagode, a gente trazia personalidade, até me lembrei de uma agora, como eu falei no começou, que eu tinha um sonho do Silvio Santos né, aí quando eu vi esse diretor de Carnaval da escola, falei "aí, a gente que é uma madrinha de bateria a altura né", aí eu falei "o meu sonho é a Valéria Valenssa", aí nós tivemos um rapaz aqui que ele era da serra, e tudo da Zona Norte, o Arnaldo, ai ele falou "não, eu vou fazer o contato, eu vou patrocinar, ele patrocinou, a Valéria Valenssa veio na escola, ela foi nossa madrinha de bateria e assim, era um sonho a Valéria porque ela tinha uma prática perfeita, carismática e sambava muito bem, e nesse evento por sinal tive muita sorte, depois eu trabalhei com a Sheila Mello durante três anos, Sheila Mello foi a nossa madrinha também, muito simpática, muito agradável com a gente, então assim, são as duas madrinhas que mais... Não, não posso esquecer da Luisa Mell, apesar dela não gosta de plumas, que era uma dificuldade arrumar a Luisa Mell, a dificuldade da roupa dela, porque assim, não podia ter uma pedra, não podia ter uma pena, porque ela realmente é totalmente animal, ambientalista, ela não quer nada, tanto que nós fizemos a roupa pra ela, a primeira roupa dela, toda realmente no tecido e ela fez alguma coisa no gelo, que a gente tinha... Ela saia com alguma coisa do gelo, que vem nas costas, não lembro como é que foi na época, mas bem nessa linha, não poderia ter nada ligado a animal, ela não admitia realmente plumas, ela não... Ela realmente defende muito a parte dos animais, então assim, foram as três madrinhas que eu fiz muitos eventos com elas e que mais deu certo. Foi a Valéria, que foi um ano, mas acho que foram uns quatro anos, e a Luisa Mell foi uns três anos, são pessoas que marcaram muito aqui na escola comigo quando eu fiz o trabalho na escola com as três.
P/3 - Na Tucurivi.
R - Na Tucuruvi. Ambas na Tucuruvi. Porque quando eu fui para Vila Maria, eu fiquei lá três anos, mas eu acordei somente do departamento de fantasias, fazíamos o enredo de Ilhabela né, que foi muito bem, a escola foi a quarta colocada, voltou a desfilar, mas a madrinha é mais a comunidade, nós não tínhamos assim uma... Minto, tinha a Dani Bolina... Dani Bolina não, a... É Dani Bolina mesmo, acho que era ela, Dani, que era Panicat lá, a gente já não tinha aquele trabalho todo de afinidade porque ela já estava lá, entendeu? Não tinha mais aquela afinidade que eu tive... Que até hoje eu falo com a Sheila, mando mensagem, ela fez uma peça há dois anos e a gente foi, ganhamos vip da peça dela, o irmão dela que é um amor de pessoa, até hoje a gente é assim, não temos a mesma, mas a gente se comunica, tem o zap, a gente manda, ela fala como tá, é um amor de pessoa a Sheila Mello, inclusive na Independente, que eu estou agora, ano passado eu a trouxe e ela desfilou com a gente também, de madrinha da bateria.
P/3 - É Independente? Fala o nome todo.
R - Independente tricolor.
P/3 - Como que a comunidade participa da escola? Como é essa relação, escolhe uma delas que você acha que...
R - Eu vou falar da comunidade participando da escola do projeto que eu... Eu trabalhei muito na Vila Maria e achei muito interessante o que a Vila Maria faz, ela integra toda comunidade da escola porque a Vila Maria, o bairro da Vila Maria, ele ia até a parte um pouco melhor, mas tem uma parte muito de comunidades em volta, que são pessoas que não tem direito a escola, que tem dificuldade maior, então lá o presidente Adilson ele faz assim, ele faz um bom café da manhã, ele tem um projeto de, junto com o Corinthians, de descobrir valores de crianças assim na escola de... Como é que é? Futebol. Então assim, lá tem o campo, então aquelas crianças que tem aula de tarde, de manhã e à tarde, eles tem café da manhã e almoço, os da tarde tem café da tarde e uma janta antes de ir embora entendeu, tudo isso, esse trabalho social, ele faz com a comunidade, com o dinheiro que ele arrecada de doações, com dinheiro que as pessoas pagam o ingresso para entrar na escola, então assim, esse trabalho social da Vila Maria é muito bom, ele tem dentista, então assim a comunidade marca o dentista, tem fisioterapeuta, tem aquelas pessoas que vão no posto, mas que o posto é muito cheio, que vão lá de cadeira de roda que tenha a fisioterapeuta. É dentista, fisioterapeuta, e tem cursos, ele promove cursos de cabeleireiro, curso de esteticista, ele faz parceria com as faculdades, então ele... Curso de costureira também ele teve, está sempre assim, então a Vila Maria, o projeto social da Vila Maria, não que as demais não tenham, mas o envolvimento da Vila Maria com a comunidade ele é bem melhor, o projeto é bem interessante, ele traz a comunidade para a escola, e a escola é muito grande, ele abre a escola todos os dias, de segunda a domingo, todos os dias.
P/3 - A quadra?
R - A quadra, todos os dias, a quadra está sempre com a gente. Ela funciona direto, ela fecha natal e Ano Novo, e em ocasiões especiais, mas a escola é interessante porque sempre tem gente, sempre tem algum curso lá, sempre tem alguma coisa para a comunidade, a comunidade está sempre sendo beneficiada com a Vila Maria. Então ele faz esse trabalho que eu acho muito interessante, principalmente com as crianças né, que é a escolinha de futebol é bem bacana a Vila Maria, que tá bem à frente dos projetos sociais.
P/3 - E você como... Trabalhando com as fantasias, o que você faz nessa parte, qual é o seu trabalho?
R - A parte de fantasia é assim, nós temos um quesito na avenida que é julgado, nota 10 na fantasia, então quando o carnavalesco idealiza uma fantasia, você tem que pegar aquela fantasia e de uma você tem que fazer no mínimo 100, porque 100 que são 100 componentes daquela ala, então você vai esses 100. Então essas 100 elas tem que estar reproduzidas iguais, então ela não pode ter diferença de cor, de um galão diferente, uma plumagem, porque tudo isso o jurado vai tirar ponto, então eu tenho que cuidar de toda essa parte, a Vila Maria ela saiu... Ela foi a escola que eu trabalhei com mais integrantes, ela saiu com uma média de 3.400 fantasias. Então eu tinha que vistorias todas 3.400 fantasias, tinham que estar todas impecáveis, e graças a Deus os três anos que eu estive lá eu tirei a nota 10. Porque é um pouco complicado tirar a nota, é tá difícil, mas foi bem... É um trabalho bem assim, quem tá de fora não imagina como é complexo esse trabalho, porque as roupas tem que estar fiéis umas as outras, e fiel também ao enredo, porque quando o carnavalesco idealiza, eu faço mudanças de acordo com a escola pede, eu promovo essas mudanças, eu não posso fugir muito da mudança da fantasia, tirar aquela concepção que ele fez, essa fantasia representa o Egito, ela tem que estar representando o Egito. Então eu tenho... Eu posso tirar alguns elementos, mas não elementos que desfiguram a roupa.
P/3 - E você que cuida da compra, tudo isso?
R - Da compra. Desde a compra de um botão até o final, até o acabamento, faço todas as compras, todo material de 25, do Brás, do Bom Retiro, até a parte do Arame, porque é feito uma estrutura de arame antes para montar em cima né, então se eu tivesse arame, que é na fábrica, a estrutura do... Daquelas imagens que você também faz o... Tudo eu faço desde o começo, entendeu? A gente começa do zero.
P/2 - Como você entrou nesse mundo do Carnaval?
R - Foi aí mesmo, quando eu comecei na... Que nem eu falei, as diversões eram poucas, a gente não podia ir em muitos locais. Ah, mas eu lembrei de uma coisa, posso falar? Que eu falei "a diversão é pouca", mas quando eu morava na Olavo Egídio nós tínhamos uma diversão também, sabe o que a gente fazia? Fazíamos programa de auditório, porque juntava eu e uma amiga minha, que eu fiz na escola, porque a gente não podia sair que não tinha (luz?) Tinha aqui no... Tinha... Era TVS, acho que era TVS, SBT mesmo, não sei se já tinha mudado o nome, mas tinha um auditório aqui pertinho da gente, na Zona Norte, na Ataliba Leonel ficava, era ali que gravava, então a gente ia cedinho, a gente ganhava um refrigerante e um pão com mortadela pra assistir os programas, eu ia dia de sábado, porque sábado a gente assistia o programa que chamava... Almoço com as estrelas, alguma coisa assim, que era com a Lolita, eu adorava a Lolita, achava ela linda, Lolita Rodrigues. Da Lolita, ai depois já emendava, assistia o
O Raul Gil, era tudo gravado no sábado, só que demorava, porque acho que naquela época não tinha essa estrutura, então desmontava o cenário, a gente chegava no sábado, ficávamos lá na fila cinco e meia da manhã para entrar, é, porque tinha as caravanas então cinco e meia, a gente fica lá até seis horas da tarde, a gente recebia acho que de manhã o pão com mortadela e o refrigerante, e a tarde... Só isso também, e programa do Almoço a Estrela serviam assim uma maionese nas mesas, gente, era o sonho da gente comer aquela maionese, mas a gente só olhava, era assim, pros convidados porque tinham as mesmas seletas né, que os artistas sentavam, era uma depressão que a gente tinha também, e durante a semana tinha J Silvestre, tinha mais um, acho que Moacir Franco também, que eu fui, e o programa de um monte, fui na Praça do Riso, que também podia assistir, gravava na semana. J Silvestre, esse e acho que a Hebe... Não, a Hebe não tava aqui não, a Hebe eu fui nessa época, mas era da Bandeirantes, era lá na Brigadeiro Luís Antônio, fui pouco porque era longe. Era o que a gente fazia, porque não tinha como sair né, e eram bacanas os programas.
P/1 - Além desse do Silvio Santos que você foi a pouco tempo teve algum que te marcou muito?
R - Ah não, o que mais... Realmente foi o Sílvio. Porque o Silvio, gente... Eu sei que cada pessoa gosta de alguém né, pra mim o Silvio é um ídolo, eu amo o Silvio.
P/3 - Você tava contando na avenida como consegue, uma coisa é no galpão, outra coisa é na avenida, ai você ia contar uma história.
R - Ah, avenida é uma outra história, é um outro processo, porque assim, na avenida acontecem alguns problemas, as adversidades que pode acontecer durante o desfile né, que nem a roupa da Sheila Mello, depois que ela saiu do recuo da bateria, soltou, então assim nós tivemos que improvisar com alfinete, algumas partes segurando, então te dá um pânico, a gente via que ela suava, tava caindo água, porque aquele biquini não pode cair, porque o biquíni se cai ou se cai a parte de cima, é considerado nu, e o nu a escola é punida, ela perde dois pontos. Porque a parte de cima ela pode estar quase nua, mas ela tem que estar pintada ou não, mas em embaixo não, a não ser que ela seja aquela pintura feita, que é tipo um biquíni mesmo, então não poderia cair, então você tem aquela parte de ansiedade, mas o irmão dela também segurou com o alfinete, a gente tentou consertar.
P/3 - E ela desfilando.
R - Desfilando, e fomos embora, e assim, uma dificuldade muito grande, e a emoção maior foi na X9, no ano que a gente foi campeã em... Não, mentira, nós fomos vice vice-campeã, ai em 2000 que a gente foi campeã, que a gente sabia que ia ser campeã, nós temos um cronômetro né, e o cronômetro tava pra fechar, 65 minutos, tava em 65 já, gravado, você tem que sair ele não pode virar para o 66, porque se ele virar você já começa perdendo um ponto e vai seguindo, então assim, aquela emoção, a gente tinha que manter ali, cantando para o jurado, e aquela ansiedade, aquela loucura, aí correndo com a escola, eu vi o presidente em pânico, o diretor _____ (01:16:44)Alexandre, o Alexandre passando mal, todo mundo na avenida o Alexandre passou mal, ele desmaiou, saiu na ambulância, porque foi uma tensão muito grande, porque a gente saiu quando o portão fecha que... Quando o portão estava fechando, que ele acabou de fechar, o cronômetro pulou pro 66, mas aí já fechou o portão.
P/3 - Nossa, muita adrenalina.
R - É, muita adrenalina.
P/3 - E você falou que tem toda uma estrutura ali, das pessoas pra arrumarem as roupas.
R - Tem, a gente... Assim, como eu falei que a gente cuida de tudo, mas cada ala que tem 100 componente tem três ou quatro responsáveis, aí já são orientados, levam tesoura, levam linha, levam cola, levam alguma coisa para amarrar, presilha, então assim eles todos ajudam, é uma equipe, é um trabalho muito grande da gente lá na avenida.
P/3 - E você que coordena tudo isso.
R - Coordeno tudo e é sempre bom que as pessoas sentem confiança né, e como eu falei, eu trabalho com uma equipe de Parintins de oito pessoas, esses oito são meus olhos, eles resolvem tudo, eles vão em tudo, eles resolvem tudo para mim.
P/3 - Os Parintins vem pra cá.
R - De Parintins vem pra cá. Eles chegam agora em agosto e ficam até o Carnaval, ai eles praticamente moram aqui né, todo esse trabalho artistico de fantasia, o que é também um pouco melhor, é bem feito, é o pessoal Parintins que faz com a gente, que ajudou o Carnaval a crescer mais. Eles são muito bons.
P/3 - Começa agora então o trabalho?
R - Já começou, né. Alguns já chegaram. Tem escola que já chegou, as demais começam a chegar agora final de agosto, porque eles ficam seis, sete meses aqui, longe da família, longe da mãe, dos filhos, entendeu? Então eles vêm, ficam aqui, sempre a escola arruma um local para ele ficarem, tratam bem, tudo direitinho, mas sente falta, né? Quando vai chegando lá Janeiro, já está todo mundo querendo ir embora pra cidade deles.
P/3 - Você é renumerada por esse trabalho?
R - Sou remunerada. Nesse trabalho sim. Pelo menos em um sou remunerada (risos).
P/2 - É sobre a Zona Norte, eu acho.
R - Então faz que a gente encerra.
P/2 - Tipo em questão de mudanças, o que você viu de mudanças?
R - As mudanças da Zona Norte, quando eu cheguei aqui, elas foram significativas, por exemplo, nós não tínhamos o metrô Tucuruvi, nem o metrô Parada Inglesa, eu trabalhei também... Ah, trabalhei também no Shopping Morumb, viu? Porque quando eu trabalhava no Mc eu fui trabalhar lá, então assim, você pegava um ônibus até o metrô de Santana já morava aqui em cima, agora não, aí chegou o metrô que não tinha, essa parte aqui, essa região melhorou, essa parte mais embaixo da Maria de Laet, indo pro Jaçanã, ela tinha um pouco mais assim de mato, porque avenida ela era um pouco mais estreita, então essa parte baixa era bastante mato e de cima pequenas casas que era final do metrô. Então o metrô ele deu uma boa arrumada aqui, que nem assim o shopping, não tinha o Shopping Tucuruvi, então deu essa melhorada mais essa parte. Ah, mais empreendimentos imobiliários, a Zona Norte ela nessa parte aqui de Santana, ela cresceu bastante, a subprefeitura existia antigamente, depois que lançou a subprefeitura ficou mais fácil para você ter um contato com o seu perfeito, para falar da região, entendeu, os Consegs, que atendem as pessoas, eu me lembro mais dessa parte. Melhorou muito mesmo também a saúde, o Hospital São Camilo reformou.
P/2 - O que mais te prende na Zona Norte seriam as pessoas?
R - As pessoas. Mesmo que eu fale assim "ai, se um dia eu ganhasse na loteria", a pessoa: "você quer mudar do Morumbi?", eu falei "ai não, eu só quero passear. Eu quero morar aqui mesmo". Por assim, é bom você sair na rua, por mais que seja uma Capital, você conhecer, você sai e... Dificilmente eu vou tomar um café na padaria, por exemplo, a Paris, eu não vou encontrar com alguém que eu conheço, entendeu? Sempre vai ter alguém que você vai tomar um café e bater um papo, e pessoa que você conhece, que mora na área. Você vai correr na Nova dia de domingo, você vai encontrar com alguém correndo, andando de bike, que você conhece, você sai na rua, passa uma viatura, você conhece aquele policial, aí você vai no hospital você conhece aquele médico. A Zona Norte ela tem esse lado familiar dela, principalmente essa parte, a Zona Norte ela é muito grande, quando a gente fala Zona Norte, né. Então essa parte que atinge aqui Santana, Jaçanã, Jardim Brasil, é...o Horto Floresta, Jardim Tremembé, até a Vila Maria, Vila Guilherme, essa parte aqui parece que ela é bem integrada, a gente, todo mundo se conhece um pouco mais, até na Freguesia mesmo também, tenho bastante amizade na Freguesia, na Brasilândia, a Zona Norte é uma casa para gente.
P/1 - Bruna, tem alguma coisa que a gente esqueceu de te perguntar que você quer contar para a gente?
R - Aí eu acho que não, se eu for lembrando vai ter mais né, mas eu acho que foram os fundamentais (risos). Se a gente começar a lembrar aqui... Você viu, eu nem lembrava que eu trabalhei no Morumbi você viu, trabalhei no Morumbi, trabalhei no Shopping Morumbi. Trabalhei lá no... No Bob's. Lá no shopping. Longe.
P/1 - Então você foi do Bob's da Paulista para o Bob's do Morumbi?
R - Não, pro Faria Lima.
P/1 - Faria Lima.
R - Faria Lima. Da Paulista eu fui para o McDonald’s. Pro McDonald’s que ficava embaixo lá, agora que eu lembrei. No primeiro piso que você já vê o McDonald’s. Mas eu não achava de ser muito das corridas, viu? A gente a Night Room, aqui no Anhembi, nós temos o Anhembi ali, entendeu, nós temos muitos eventos na Zona Norte. Eu também corro. Não tô correndo mais como antes, mas eu corro também. A gente tem a corrida da Pedra do Horto, que você sobe lá pra pedra, que são 15 km. Então a Zona Norte é bem rica de eventos, de tudo, é um local bom, ninguém mora aqui da família de vocês?
P/1 - Não.
P/2 - Não.
R - Nossa.
P/1 - Eu trabalho aqui, mas eu não moro.
R - Pronto, gente?
P/3 - E o que você achou de contar a sua história aqui.
R - Ai gente, eu amei. Eu achei que foi mais um bate-papo, eu tava pouco apreensiva né, achei vocês todos muito bacanas, entendeu? A gente mais bateu um papo, assim, eu até lembrei um pouco daquele bate-papo, é que agora é um pouco informal, mas ele ficou formal, que era da roça, aquele bate-papo do interior, que a gente tá assim conversando, você entrando, falando, contando alguma coisa, achei bem interessante, bem legal.
P/3 - Que bom. Então muito obrigada, parabéns pela sua história.
R - Ah, obrigada vocês (palmas).