História de:
Santa Margarida Oliveira de Souza
Autor:
Iaraci
Publicado em:
11/10/2019
Essa é a história de uma senhorinha conhecida em nossa comunidade escolar como Santinha. Santinha e nossa escola, Nossa Sra. de Fátima, nasceram, praticamente juntas e fazem parte da História desse bairro chamado Bom Jesus, o qual, infelizmente, é muito conhecido por seu contexto de vulnerabilidade social. Por essa razão resolvemos mostrar que existem pessoas boas e importantes nesse lugar, pessoas que fazem a diferença na vida de muitas outras, através do seu exemplo, de suas vivências. Uma delas é dona Santinha, a qual dedicou sua vida a essa escola e as vidas de muitas crianças. Embarque nessa leitura, você é nosso convidado!
As Santas da BONJA* Para contar um pouco da história do local onde fica nossa escola, entrevistamos uma moradora que reside no bairro há 63 anos. Santa Margarida Oliveira de Souza é uma antiga moradora da Bonja, como o bairro Bom Jesus é chamado pelos seus moradores. A história da dona Santa inicia pela história do seu nome, o qual foi dado após um parto difícil para sua mãe, pois ela estava virada dentro do ventre materno. Então a parteira fez uma reza para santa Margarida, pedindo que o bebê ficasse na posição correta para nascer e disse “se o bebê desvirar ela terá que se chamar Santa Margarida!” Enquanto isso, seu irmão de dez anos estava em cima de uma árvore, esperando a cegonha passar e pedir que a levasse, pois ele estava enciumado com o nascimento da criança. O bebê nasceu e ganhou o nome de Santa Margarida, em homenagem à santa. E ao vê-la, o irmão ficou feliz com seu nascimento. Ela nasceu na cidade de Guaíba, porém, veio morar na vila Bom Jesus, em Porto Alegre, com poucos meses de vida e aqui vive até hoje! Sobre sua infância, ela lembra das brincadeiras que mais gostava, entre elas, as preferidas eram jogar peteca, amarelinha e brincar de esconde-esconde. Contou ainda como era a vila na sua infância: […] eu vivo aqui há sessenta e dois anos. Quando eu vim pra cá era tudo mato. A primeira casinha que minha mãe construiu aqui era ali na Pio X, e era de caixa de tomate. Nós não tínhamos nada, ela não tinha nada, conseguiu a caixa e construiu uma pecinha. Minha mãe vendia verdura com uma bacia na cabeça. Já tinha a escola, eu sou sete meses mais velha que a escola. […] Aí a vila foi crescendo. Mas era uma vila em que a gente brincava, podia ficar até tarde na rua, não tinha perigo nenhum. Aqui embaixo na Pio X tinha uma sanga que a gente tomava aquela água de tão limpinha que era. As pessoas não tinham água nem luz a maioria, pegavam água na bica. Tinham uma aqui em cima e aqui embaixo. Contou também que essa escola era de madeira e que estudou aqui, assim como seus filhos e netos. Falou que os passeios eram para o aeroporto e que as crianças deveriam aproveitar os passeios de hoje em dia, que ela queria muito poder ter tido a oportunidade de fazer passeios como fazem agora (teatro, shows, mostras, museus, etc). Quanto sua adolescência falou que os fatos que mais marcaram foram a adoção de um bebê que sua mãe fez e que começou a namorar cedo e se casou com dezenove anos. Teve seu primeiro filho de uma prole de 7, ficando casada por muitos anos. Nessa época abandonou os estudos para assumir o papel de mãe e esposa, porém, sua vontade de voltar a estudar era enorme, então retornou já adulta e fez a EJA, concluindo seus estudos primários. Chegou a fazer o ensino médio e se preparou para o ENEM, mas não ingressou na universidade, dedicando-se ao seu trabalho na escola e ao projeto Escola Aberta, Mais Educação, nos quais foi oficineira. Foi coordenadora do projeto Escola Aberta por doze anos, e relatou com carinho as atividades que eram oferecidas na escola para os moradores: fui doze anos coordenadora da escola Aberta. A escola era aberta a comunidade, onde tinha informática, tinha artesanato, tinha recreação, tinha leitura, tinha dança, o grupo da dança que se apresentava na escola, futebol, vôlei, basquete, tinha bastante oficinas, para o final de semana. E sempre bom, uma pena que acabou o Escola Aberta na comunidade. Sua vida toda, praticamente, está associada à existência dessa escola, assim ela participou e participa das histórias de muita gente, sejam eles estudantes, funcionários, professores ou moradores da região. Seu maior sonho era ter sido professora, e lembrou com carinho e respeito dos professores: “nós tínhamos muito respeito pelos professores que nos ensinavam a ler o mundo através das letras, então nós tínhamos muito respeito, por pior que fosse o aluno ele tinha muito respeito, por mais peralta que ele fosse ele respeitava.” Para o futuro pretende continuar vinculada a escola, mesmo que já esteja por se aposentar, não consegue se imaginar sem estar aqui. Disse que nem gosta de pensar nisso. Santinha, como é conhecida por todas as pessoas, é um dos nomes da história da BONJA, assim como da escola Nossa Senhora de Fátima. Por essa razão a convidamos para essa homenagem mais que merecida. Salve Santa Margarida! Turma B22
Maronil Marcos Martins
por Maronil Marcos Martins
Dulcimarie Lourenço Silva Nascimento
por Museu da Pessoa
Zetti (Armelino Donizete Quagliato)
por Museu da Pessoa
André Lucas Durigan Sardinha
por Museu da Pessoa
Ana Virginia de Moraes Lima
por Museu da Pessoa
Sandra Bose
por Sandra Bose
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