Sem grana, Dona Leda se mudou para uma favela, descobriu o funk, deixou de ser professora e virou artista.
Se alguém me dissesse, em julho de 2013, que em três meses aquela barulheira que eu detestava e não me deixava dormir se tornaria a grande felicidade da minha vida, eu chamaria a criatura de louca. Mas o funk me conquistou. Me deixei levar pela batida, ouvi as letras de coração aberto e – que alegria! – favelei!
No ano 2000, a grana ficou curta e fui obrigada a viver numa favela pela primeira vez (Cosmos, no Rio de Janeiro) e suportar o batidão que rolava na vizinhança. Até que uma noite, no ano passado, eu estava sentada no quintalzinho aqui de casa e, como sempre, o funk rolava solto na comunidade. Mas, sei lá por que, naquele dia, em vez de me irritar, o som me fez pensar na vida. E aí foi me dando uma vontade louca de escrever uma letra de música. Tenho esse costume desde os 7 anos. Peguei a mania do meu pai: juntos, criávamos altos boleros... Me inspirava na cantora Ângela Maria, musa do gênero na época.
Mas naquela noite foi a batida da Valeska Popozuda que me inspirou a compor a letra de Concubina . Decidi registrá-la em meu nome. Ouvi falar que era só ir a Biblioteca Nacional, aqui no Rio (veja quadro à esquerda). Fui até lá e fiz tudo certinho. Comentei com minha filha sobre minha vontade de virar MC (Mestre de Cerimônias, a pessoa que canta o funk), e ela me deu a maior força (hoje é até minha empresária!). Aí, saí gritando pela comunidade: “Quem aí me ajuda a gravar uma música a preço de banana?”. Afinal, com o salário baixo que eu recebia como professora do maternal, nem pensar em gastar dinheiro pra gravar um funk.
Consegui um produtor que me deu uma força e gravamos a música e o videoclipe. Como sempre gostei muito de cantar e nasci com esse dom, foi só soltar a voz no microfone e pronto. Graças ao preço camarada (menos de R$ 1.000), eu mesma consegui bancar o investimento. Em dois meses, a Concubina já estava pronta.
Era hora de divulgar. Postamos o som no YouTube e saí cantando minha música nos trens e nas praias, distribuindo uns papeizinhos onde imprimi o link do vídeo. Resultado: em menos de um mês, Concubina teve 18 mil visualizações! Logo comecei a ser convidada para dar shows em alguns bailes da comunidade! Tudo isso me inspirou a criar, no começo deste ano, minha segunda música, Eu Favelei . O sucesso se repetiu e agora vivo do funk, fazendo shows! Parei de dar aula e, quando ando pela comunidade, dou até autógrafo! Tenho mais 15 letras prontas e vou escrever muitas outras, pois tenho certeza que divulgar a alegria do batidão é a minha missão nesta vida!
Kaká Werá Jecupé
por Museu da Pessoa
Telines Basílio do Nascimento Junior
por Museu da Pessoa
Odilson de Souza Lima (Seu Amazona)
por Museu da Pessoa
Fábio Marcondes
por Fábio Marcondes
Maria Aparecida Vicente de Aguiar Alecrim
por camara cidada caparao
Antonio Calcagniti
por Museu da Pessoa
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