Mulheres que fazem história - Whirlpool (WHLP)
Ao encontro do amor e da família
História de Rosa Helena Seabra Mesquita
Autor:
Publicado em 20/11/2014 por Eliete Pereira
P/1 – Rosa, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Rosa, eu gostaria que pra gente começar, você me dissesse seu nome completo.
R – Rosa helena Seabra Mesquita.
P/1 – E local e a data de nascimento?
R – Vinte e cinco de maio de 69, nasci em Santo Antônio do Sá.
P/1 – Em Manaus?
R – Não.
P/1 – No Amazonas?
R – Amazonas.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais, Rosa?
R – Meu pai se chama Milton Seabra, a minha mãe, Maria Pinto.
P/1 – E o quê que seus pais faziam?
R – Meus pais? Minha mãe, ela trabalhava em roça, no interior e o meu pai, também. mas pouco tempo eles ficaram no interior, vieram também tudo migraram tudo aqui pra Manaus. Então, todos eles, agora, moram aqui em Manaus, mas são separados, não moram mais juntos.
P/1 – Você teve irmãos?
R – Tive.
P/1 – Qual o nome dos seus irmãos?
R – Da minha irmã, a mais velha é Cleonice, tem o Enéas, Elias, Elaine e Elisabete.
P/1 – Você seria a mais nova?
R – Não. eu sou a segunda.
P/1 – Só mulheres, então?
R – Não, tem dois homens.
P/1 – Qual o nome deles?
R – Elias e Enéas.
P/1 – Ah, Elias e Enéas.
R – Hãhã.
P/1 – E assim, como que era… como que foi a infância de vocês, assim?
R – A infância… minha infância com eles eu não posso dizer muito, porque como eu relatei pra você na entrevista anterior, que eu me criei com a minha avó e meu avô, entendeu? Então, ai eu não tive muita infância com eles, quando eu vim morar com a minha mãe em Manaus, que eu me criei lá no interior, em Santo Antônio de Sá, eu vim morar com eles aqui em Manaus, eu já tinha 16 anos, quando eu vim pra cá.
P/1 – Ah, então, você foi morar pequena com os seus avós?
R – Sim, desde bebê, morei com os meus avós.
P/1 – Por que, Rosa?
R – Porque quando a mamãe me teve, o meu pai é tipo assim, a família não quis que o meu pai ficasse com a minha mãe e a minha mãe, não sabendo o que fazer com uma criança, que eu acho que toda mãe, quando não tem experiência, ela preferiu dar pros meus avós criar, eu e a minha irmã mais velha. Ai, nós duas criamos com meus avós.
P/1 – Os seus avós eram os seus avós por parte de mãe ou parte de pai?
R – Parte de mãe.
P/1 – E os seus avós moravam?
R – Em Santo Antônio do Sá.
P/1 – Em Santo Antônio do Sá e depois, eles migraram pra cá?
R – Não, meus avozinhos morreram lá, mesmo, em Santo Antônio do Sá. Só a minha mãe, mesmo que veio pra cá, pra Manaus e o meu pai.
P/1 – Rosa, você comentou antes, que você tem família por parte peruana, é isso?
R – Isso. Meu bisavô. Meu bisavô era peruano e a minha bisavó era indígena.
P/1 – Você sabe o nome do povo indígena?
R – Não, porque eu era criança,não tive assim, aquela curiosidade de saber, como é que era, qual era o nome da tribo, alguma coisa assim, não tive essa curiosidade. Já quem me falou já foi a minha mãe, porque todo mundo perguntava: ‘Por que esses olhos puxados, esses cabelos negros, liso?”, aí eu fiquei curiosa e perguntei pra minha mãe e a minha mãe me falou que o meu avô era peruano e minha avó era indígena. Só isso que ela falou.
P/1 – E como eram seus avós?
R – Meus avós, que eu tenho um pouquinho na lembrança, o meu avô, ele era muito carinhoso, quando ia pra escola, às vezes, que eu não fazia tarefa, às vezes que eu brincava muito, a minha vó brigava, ele nunca deixava ela brigar comigo, assim: “Deixa ela brincar, porque ela é uma criança”, eu sempre ouvi o meu avô falava pra minha avó, me lembro assim deles com muito carinho, eles eram muito carinhosos e atenciosos comigo. Eles davam pra mim o que eles podiam, porque no interior, você… no interior, você não tem muitas condições de dar algo que uma criança precisa, de brinquedo, como você tem hoje, agora, aqui em Manaus, que é cidade urbana, você não tem no interior. Seu brinquedo mesmo é os avós mesmo que faz, não compra, então é coisa mesmo de interior. Qualquer coisa que ele inventava, acho que a criança já ficava satisfeita. Era assim comigo.
P/1 – E qual lembrança que você tem da infância?
R – Da minha infância? É que o meu avô, ele fazia aquelas bonequinha de madeira, ele fazia as coisinha de madeira, as panelinhas, tudo assim, de madeira, entendeu? Uns remozinhos que ele fazia. Tudo assim, com madeira. A arte em madeira, que era o que ele tinha condições de fazer pra mim brincar, entendeu, mas é isso que eu me lembro do meu avô.
P/1 – Você morava mais perto de rio, ou você morava mais assim dentro… fora… distante do rio?
R – Era distante do rio…
P/1 – Era distante?
R – Era um interiorzinho mais… era uma cidade, tipo, uma comunidade com poucas pessoas, então, já tinha já asfalto, essas coisas, carro, mas era interior.
P/1 – E você brincava com a sua irmã?
R – Não. a minha irmã me abandonou também, eu tinha nove anos, ela me deixou e ela veio pra cá, morar em Manaus com a minha mãe, entendeu? Ai, de nove anos até 16 anos, eu fiquei só com os meus avós, mesmo.
P/1 – E você foi a escola, lá?
R – Ia pra escola.
P/1 – Quais lembranças que você tem da escola lá?
R – Não muito, porque eu era uma criança… me sentia uma criança muito só, que eu não tinha muita… não interagia muito com outras crianças, entendeu? Como eu vivia só na minha casa com meus avós, eu não interagia muito com as crianças da escola. Eu ia pra escola, brincava sozinha, no meu cantinho, na verdade, nem saía pra merenda, ficava na minha carteira, entendeu? Quando batia pra sair, já ia direto pra casa, porque meus avós diziam: “Você vai pra escola, não bagunça na escola e vem pra casa. bateu a campa – que eles falavam – bateu a campa, vem direto pra casa”, então isso que eu fazia, entendeu, já assim, pra minha avó não pegar muito no meu pé, então… era isso que eu fazia.
P/1 – Você gostava de ir pra escola?
R – Eu gostava.
P/1 – Rosa, quando você veio pra Manaus, por que você veio pra Manaus?
R – Porque os meus avós, eles faleceram, entendeu e eu não tinha mais com quem ficar lá. tinha meus tio, mas cada um deles tinha a sua família, então, como a minha mãe morava aqui, eu sentia assim, muita curiosidade de conhecer como que era a vida dela aqui em Manaus, entendeu? E ela tinha os meus outros irmãos aqui em Manaus, também. ai, foi quando eu vim pra cá.
P/1 – Você se correspondia com a sua mãe?
R – Sim, a minha mãe mandava de 15 em 15 dias, ela mandava carta, ela mandava as coisinha pra mim, todo material escolar, ela que mandava daqui de Manaus pra mim, meu sapato, minhas pastas, meus cadernos, tudo ela que mandava. Então assim, de 15 em 15 dias, eu tinha noticia dela. Ela mandava.
P/1 – E você lembra quando você veio a primeira vez pra Manaus?
R – Eu me lembro. Eu cheguei, acho que era três horas da manhã, e a minha mãe não sabia, entendeu, mas toda vez que o barco chegava que vinha de lá, ela tava lá. Então, quando ela chegou lá, foi surpresa dela, e pra minha surpresa também, ha muito tempo que u não via ela, assim, foi uma emoção muito grande, entendeu? E ela não sabia nem o que fazer, não sabia se chorava ou se conversava comigo, perguntava como tinha acontecido pra eu estar ali naquele momento, e porquê. Então, foi assim, uma emoção muito grande, de muita alegria, de eu estar reencontrando a minha mãe, e ela também tava me reencontrando. Então, foi uma emoção muito grande.
P/1 – Você tinha quantos ano?
R – Eu tinha 16 anos.
P/1 – E você lembra assim, além desse encontro com a sua mãe, você se lembra como era a cidade, como era Manaus? Qual a sensação sua, assim, de estar numa cidade maior, por exemplo?
R – É como se eu tivesse saído daqui, digamos e ir para Miami, Manaus já uma cidade bem grande, então, acho que foi assim, um impacto de você vem de uma cidade pequena pra uma cidade grande. Eu acho que seria assim.
P/1 – E você, quando veio pra Manaus, você ficou na casa da sua mãe, então?
R – Isso, eu fiquei com a minha mãe…
P/1 – E você chegou a ir pra escola? Como que você passou para um cotidiano aqui, em Manaus?
R – Já pra mim aqui… aqui em Manaus, já foi mais difícil, porque a minha mãe trabalhava, só ficava os meus irmão e minhas irmã em casa, então, acho que é uma pessoa estranha, num lugar estranho. Eu acostumada, cresci sozinha com os meus avós e cheguei aqui, eu não tinha o meu canto, eu não tinha uma cama, então ai, tinha que passar a dividir a cama com a minha irmã, então aquele momento assim, foi um pouco difícil pra mim, porque elas não; digamos assim, eu me sentia assim como não fui bem-vinda. Assim, o sentimento que eu senti delas, entendeu? Porque era uma pessoa estranha que cresceu longe, então, foi um pouco difícil pra mim, mas a partir dos 17 anos, já comecei a trabalhar, como também falei pra você logo no inicio, em casa de família, como babá e fui trabalhar como babá até 23 anos, como babá e de lá, eu tive um filho que faleceu, de uma pessoa também que não quis, mas ai depois, eu fui pra escola, mas geralmente, eu não conseguia… não conseguia, mais, assim, estudar, porque você já tinha que trabalhar, passar o dia trabalhando, cuidando de um outro bebê também, então assim, na verdade, eu não achava um tempo pra mim estudar. Eu não parava na casa da mamãe, ficava na casa da pessoa, eu morava na casa dessa pessoa, que eu trabalhava como babá.
P/1 – Você voltou a estudar à noite, então?
R – É, eu estudava à noite.
P/1 – Que serie que você tava?
R – Quando eu vim do interior, eu tava na quinta série e não fui muito, fiquei até a sétima, não consegui terminar o ensino fundamental.
P/1 – E Rosa, você chegou adolescente em Manaus, jovem, você… como era a forma assim, você ia pra festas, como era a forma de se divertir em Manaus? Você ficava mais em casa?
R – Eu ficava mais em casa, porque eu não conhecia, entendeu, eu não conhecia ninguém, assim, eu tinha medo, porque as pessoas falavam que Manaus, cidade grande, se você saísse ali na esquina, tinha ladrão, que ia te assaltar, ia te matar, mais ou menos assim. Então, eu não saía de casa, ficava mais em casa. Passava a semana toda trabalhando como babá e sábado à noite e domingo, eu vinha pra casa com a mamãe.
P/1 – E o primeiro namorado foi aqui em Manaus?
R – Foi aqui em Manaus.
P/1 – E como foi o seu primeiro namoro?
R – Foi… eu não sei, eu não sei se adolescente, jovem, primeiro amor, você nunca esquece, mas… foi, a gente ficou namorando uns cinco anos, mas não deu certo, como eu falei, eu vim de uma família bem, apesar de que era interior, mas o meu avô sempre me falou que você tinha que namorar pra casar, entendeu? Então, essa eu tinha a minha concepção, na minha cabeça. Então, mas como não deu certo, separou, separou, cindo anos de namoro, separou. Ai, foi quando eu conheci o pai do meu primeiro filho que faleceu, como eu já falei pra você, também não deu certo. Ai, eu fiquei bastante tempo sozinha, já e quando eu fui encontrar o meu atual esposo já com 31 anos.
P/1 – Mas como ue você conheceu seu namorado, o primeiro e depois, o segundo?
R – No trabalho, que eu trabalhava, meu primeiro, eu conheci no trabalho, quando eu vinha pra casa, ai sempre passava no carro: “Quer uma carona?”, às vezes, eu dizia: “Não”, sempre dizia não. agora, até hoje, o meu esposo diz assim: “Mil cantadas de um homem só, com mil cantadas, vai chegar um dia que você acaba cedendo”, então, foi assim que aconteceu o primeiro namorado, entendeu? Ai, o segundo foi no trabalho, me envolvi com um colega de trabalho, mas também não deu certo, mas ai foi… foi ai que eu conheci meu terceiro namorado que foi meu esposo, agora.
P/1 – E o que você conheceu no trabalho, era assim, da casa, da família que você trabalhava?
R – Não, porque isso ai já foi com 24 anos, quando eu não trabalhava já, tinha saído de trabalhar como babá, trabalhei como babá até 23 anos. Ai, 24 anos, no ano seguinte, fui trabalhar numa empresa, foi no ano da empresa que eu trabalhei, que eu conheci ele.
P/1 – Ah, essa empresa você trabalhou com carteira assinada?
R – Foi, trabalhei com carteira assinada.
P/1 – E como que foi essa mudança de você estar saindo ali, depois que você cuidava de criança, numa casa de família e depois, você entrar num trabalho em que você já tinha uma carteira assinada?
R – Foi bom assim, porque você… eu já tive um salario melhor, já pude comprar as coisas que eu precisava e ao mesmo tempo também, tentando estudar, mas infelizmente, não conseguia, porque passava assim, chegava na escola cansada, então…
P/1 – E esse trabalho que você começou a trabalhar com carteira assinada, o quê que você fazia?
R – Eu comecei esse trabalho como auxiliar de serviços gerais. Depois, eu fui promovida para auxiliar administrativo.
P/1 – Qual o nome da empresa?
R – Não, acho que não é legal falar.
P/1 – Ah é?
R – É, porque é uma empresa, então acho que não…
P/1 – Tudo bem. E você ficou quanto tempo, lá?
R – Fiquei uns três anos.
P/1 – E depois, nesse tempo que você tava trabalhando, você conheceu seu atual marido, então?
R – Isso, mas eu fiquei uns três anos lá, e depois, deram a minha conta, devido acho que eu ter ficado grávida, e aquela coisa toda de talvez, também, se envolvido com um colega de trabalho, também, você sabe que uma empresa, você não pode se envolver com colega de trabalho, então acho que foi mais isso, deram as minhas contas, eu fiquei mais uns cinco anos sem trabalhar, ai eu fiquei com a minha mãe.
P/1 – E como que você fazia pra poder sobreviver?
R – Ai, eu voltei a trabalhar em casa de família, novamente, pra poder sustentar o meu filho também, entendeu, que eu tinha que dar tudo pra ele, porque eu era pai e mãe dele.
P/1 – Qual o nome do seu filho?
R – Era Bruno.
P/1 – Bruno?
R – Hãhã. E quando eu conheci o meu esposo em 1999, dois… acho que dois anos depois, bastante tempo já, em 1999, 2001, eu já tinha conhecido o meu esposo, já. Ai, em 2001, ele faleceu.
P/1 – O quê que aconteceu com ele?
R – Até hoje, eu não sei explicar o quê que aconteceu, a gente morava na Betânia, um bairro aqui de Manaus e teve um certo dia, numa quinta-feira, eu lembro que foi dia 30 de maio, ele chegou em casa com febre, 11 horas da manhã, disse que tava com febre, tinha passado a manhã toda com febre na escola, e a professora liberou ele. Ai, eu falei pra ele: “Tá filho, amanhã você não vai pra aula, amanhã eu vou levar você no medico”, quando foi na sexta, eu levei ele ao médico, a doutora falou que ele não tinha nada, mas era uma febre muito alta que ele tinha e eu controlava com um remédio que ela passou pra… antitérmico, e não passava…
P/1 – Quantos anos ele tinha?
R – Ele tinha oito anos. Ele ia fazer nove. Então, foi cinco dias só. Eu tava… quando eu fui no pronto-socorro, a doutora passou um remédio pra ele antiinflamatório, que ela disse que podia ser alguma infecção, que não tava conseguindo… ela não tava conseguindo ver. Então, quando foi… foi sexta e sábado, quando foi no domingo, ele continuava com febre, eu dava o remédio, quando o remédio tava com efeito, passava a febre, mas depois voltava, entendeu? E quando foi na segunda-feira, três horas pra quatro horas da tarde, ele faleceu.
P/1 – E você nunca soube o quê que foi…
R – A gente… eu levei ele no pronto-socorro da… lá também do bairro, na Codajas, transferiram lá pro Tropical, quando a gente chegou no Tropical, o rapaz lá foi bater um raio-x, ele tava com pneumonia, só que já tava cinco dias, praticamente, cansado. A pneumonia, disse que foi uma bactéria assim, que foi muito rápido que tomou o pulmão dele, então, ele morreu com insuficiência respiratória.
P/1 – E Rosa, você chegou a se casar, então, com o seu atual marido?
R – Isso.
P/1 – E como que você conheceu?
R – Foi nesse período de… antes, eu já tinha conhecido ele, porque o período que eu estava numa situação difícil, sem trabalho, a coisa mais difícil é ficar sem trabalho e depois, assim, acho que fechou-se as portas, não tinha trabalho, onde eu ia, levava meus currículos, me apresentava, mas ninguém queria me contratar. Então, eu fiquei muito tempo sem trabalhar e a minha mãe… tinha um padrasto que ele não gostava de mim. Ai, ele implicava muito comigo, ai ele pediu pra minha mãe escolher ou eu ou ele. Então, como eu sempre digo assim, se você gosta da sua mãe, eu disse pra minha mãe que eu preferia sair de casa, ai eu fui morar na casa junto com uma amiga, na Betânia, chegando lá, foi quando eu conheci o meu esposo.
P/1 – Esse bairro chama Betânia?
R – É, foi lá que eu conheci o meu esposo. Ele disse que a primeira vez que ele me viu, ele disse que foi o primeiro amor, mas em nenhum momento eu tinha visto ele, ele que me viu, mas… só que como no decorrer dos anos, você fica tão decepcionada, de tanto errar, que você não quer mais. Eu, pelo menos, queria viver só pro meu filho, cuidar dele, só que ai, foi quando ele, com jeitinho dele, que ele tem, muito meigo, ele conseguiu me conquistar (risos).
P/1 – Qual o nome dele?
R – É Josimar.
P/1 – Ai, vocês chegaram… você… quando você tava morando lá na Betânia, você tava morando com a sua amiga?
R – Isso.
P/1 – Ai, você… quanto tempo você decidiu já ir morar com o Josimar? Vocês chegaram a se casar ou…?
R – A gente… quando ele me pediu pra namorar, ele me pediu, primeiro, pra namorar, uma semana, em três dias depois, ele me pediu pra casar. Só que ai, como eu tava numa situação como eu acabei de falar pra você, sem trabalhar, eu tava morando com a minha amiga, eu não… ele disse: “Você sai lá da casa que você mora com a sua amiga, que eu pago um quarto pra você”, então, ai ele dizia… sempre ele falava… nunca ele dizia que queria ficar, sempre casar, mas eu dizia pra ele assim, que eu já tinha um filho, que ele era um jovem muito… bem jovem, que ele tinha 22 anos, eu já tinha 31, então, eu acho que com 31 anos, eu já tava com uma idade já bem um pouquinho avançada, já e ele com 22 anos, eu acho que… eu achava que era brincadeira dele, que ele queria casar comigo. Só que ai, a gente foi, alugou um quarto, fui morar, a partir daquele momento ali, ele passou a cuidar de mim e do meu filho, entendeu? Só que a gente ficou namorando assim. Em seis meses… que nem, eu tinha um filho, que sempre eu falo: “Gente jovem, quando você vê que um rapaz quer mesmo coisa seria, jamais ele avança o sinal, sempre ele espera”, então, esse meu esposo ele foi sempre cada dia, ele foi me conquistando e a gente namorou, realmente, namoro mesmo, entendeu, só era beijinho na mão e nada mais, entendeu? Eu perguntava dele: “Por quê?”, ele dizia: “O momento certo, no dia do nosso casamento”, então, quer dizer, a gente ficou seis meses namorando, depois que o irmão dele voltou de Santarém, o irmão dele disse: “Menino, tu já sustenta ela, cuida dela, paga o quarto pra ele, por quê que você não vai morar com ela?”, só que ele não ia por causa que a mãe dele não deixava. Só que quando o irmão dele veio, deu uma força, ele resolveu ir morar comigo a partir de seis meses em diante, a agente passou a morar junto um ano, sem casar, ai depois, a gente se casou.
P/1 – Rosa, você falou que você é evangélica. Você já era evangélica nesse período?
R – Não, não era evangélica.
P/1 – Como que você se tornou evangélica? A sua família é evangélica?
R – Agora, minha família é evangélica, porque antes, não tinha ninguém que era evangélico da minha família. Eu conheci através, como eu acabei de falar pra você, através das minhas dificuldades, quando eu fui lá pra Betânia, essas vizinhas de lá apresentaram Jesus pra mim, elas disse que se eu fosse pra igreja, talvez a minha vida mudaria, então e eu fui assim, com muita fé, realmente crendo que ia mudar, eu acho que realmente você tem fé e crê que a sua vida vai mudar, o que eu pedia muito era uma família, porque eu me sentia muito só, entendeu? Então, eu só tinha o meu filho, mas ainda não tava completa, eu acho que toda mulher sonha um dia se casar, ter uma família, ter uma casa pra cuidar. Então, era esse o meu sonho também.
P/1 – Rosa, vocês tiveram filhos?
R – Sim. nós temos três.
P/1 – Qual é o nome dos seus filhos?
R – O mais velho, depois do Bruno, que faleceu, tem o Lucas…
P/1 – Quantos anos?
R – O Lucas tem 13. Tem o Isac, que tem 11 e tem o Gabriel, que tem sete anos.
P/1 – E como foi ter uma família?
R – Ter uma família foi… me senti assim, segura, protegida, amada.
P/1 – E Rosa, como que veio assim, essa… o teu conhecimento sobre o Consulado da Mulher. Como que você conheceu o Consulado?
R – Através do centro social do bairro, Grande Vitória, que nesse centro social, ele é uma escola, uma escola lá, funciona a escolinha das crianças, mas tem um espaço, duas ou três salas, que a Simone, ela deixava… porque o centro social, então, ela procurava levar os curso pra lá, entendeu? E nesse período, ela conseguiu os curso, acho que ela teve contato com o Consulado, que ela já tinha os contato, e ela levou o curso pra lá de doces e salgados e vários cursos, como… depois que eu me casei, eu não trabalhei mais, por causa dos meus filhos, que eram pequenos, não podia trabalhar, só o meu esposo que trabalhava. Então, ai, como eu falei pra você também, eu vi, eu achava muito bonito pessoal que fazia doce, salgado e eu também era curiosa pra aprender também a fazer esses doces e salgados. Foi quando eu fui fazer o curso lá, teve esse curso, ela falou: “Rosa, você vem fazer o curso que as menina do Consulado da Mulher vai fazer o curso, uma semana”, eu peguei e fui fazer o curso.
P/1 – Você já fazia bolos, doces…?
R – Não, não sabia fazer ainda doce, nada, não sabia fazer salgado, não sabia fazer bolo, não sabia fazer nada. Então, lá no curso que eu aprendi a fazer.
P/1 – Você falou que já no bairro que você mora atualmente, é o Grande Vitória?
R – Isso, é o Grande Vitoria.
P/1 – Então, você saiu da Betânia e foi morar…
R – Da Betânia e fui morar no Grande Vitoria.
P/1 – Isso faz bastante tempo, que você mudou?
R – Já faz uns já dez anos.
P/1 – Uns dez anos? Foi logo depois quando você se casou, então?
R – É, depois que o meu filho faleceu, porque eu não conseguia mais ficar na casa onde a gente morava, depois que ele faleceu, ai o meu esposo vendeu de lá e comprou nesse bairro, Grande Vitória.
P/1 – E você frequentava, então, esse centro social?
R – É, aqui no Grande Vitoria.
P/1 – No Grande Vitoria?
R – É.
P/1 – E quando você descobriu, fez o curso, você começou a já pensar em fazer, por exemplo, vender esses bolos, aquilo que você tinha aprendido?
R – Sim, eu já fazia, fazia os salgados e bolos e colocava na frente de casa, só que como a rua é bem assim, pouco movimento, então não dava muito, dava pra vender pouco, mas dava pra vender, entendeu? E quando tava no final do termino do curso, a moça que levou o curso pra lá, a Daila e a Eli, a Eli dava o curso de pintura na lata e a Daila tava com o curso de doces e salgados. No final, como eu expliquei pra você, ela falou: “Olha, mulheres, se vocês estão aprendendo aqui, é pra um dia vocês ganharem dinheiro. Vocês querem ganhar dinheiro, vocês aprendendo a fazer bolos, salgados, vocês vão ganhar dinheiro, do jeito que vocês estão aprendendo aqui, vocês coloquem em pratica, mas tem que fazer tudo bem direitinho, que vocês vão vender bastante, vocês vão ganhar dinheiro, ela falou. Mas o dia que você precisar, você pode me procurar, que eu estou lá no Consulado da Mulher, na rua Tapajós, dentro de uma empresa, na Brastemp, então, você pode me procurar lá”, então, foi como eu falei pra você, meu esposo ficou sem trabalho, desempregado e eu disse assim: “Agora, no momento, eu quero trabalhar, você fica em casa um pouco com os meninos, eu vou trabalhar”, foi quando eu vim no Consulado da Mulher e disse: “Daila, você falou que se um dia eu precisasse, eu vinha te procurar. Então, hoje eu estou aqui te procurando e eu preciso trabalhar”, foi quando ela me apresentou, o projeto da empresa que tem a lanchonete aqui, como hoje vocês viram a lanchonete, que estava abrindo uma seleção. E foi quando ela me encaixou.
P/1 – E Rosa, seu marido trabalhava com o que, antes?
R – Ele trabalhava de segurança.
P/1 – Então, no caso, ele ficou desempregado e você começou a pensar já ali no curso que você tinha feito?
R – Isso.
P/1 – No centro social?
R – Hãhã.
P/1 – E você participou, então, de uma seleção pelo Consulado?
R – Sim, porque tinham muitas mulheres que vieram fazer a seleção.
P/1 – Você comentou lá na roda que também veio com uma amiga sua?
R – Foi, eu trouxe a Auxiliadora, como ela explicou também, que ela trabalhava em casa de família, e a partir daquele momento, ela levava a bebê, ela acordava muito cedo, ela tem uma meninazinha de quatro anos, ela acordava muito cedo pra ir pra casa de família, disse pra ela que não era pra estar levando a bebê, que ela poderia arranjar um trabalho também que ela poderia ganhar melhor, pra sustentar a bebê. Foi quando eu trouxe ela. Ela topou também a proposta, ai ela veio comigo, a gente…
P/1 – E o quê que você aprendeu nesse período que você começou a trabalhar aqui no Espaço Solidário?
R – No Espaço Solidário, eu aprendi a manusear chapa, que eu não sabia, logo no inicio, eu me queimava muito, entendeu, era cheia de marca, apesar de que tinha luva, mas se você trabalhasse com luvas, a luva poderia queimar, que ela é plástica, e grudar na pele, então, a gente passou a manusear chapas sem a luva, entendeu? E eu não sabia fazer sanduiche, nada na chapa eu não sabia fazer, que você é acostumado sempre em casa, na frigideira, alguma coisa que você vai fritar ovo, fazer uma tapioca, usa uma frigideira, no caso. eu, pelo menos, sei fazer na frigideira e aqui, você teria que fazer tudo na chapa, por exemplo, tapioquinha, fazer o ovo frito, fazer o cheese salada, fazer o cheese americano, os sanduiches que nós fazemos, o misto, então, no caso, tudo era na chapa e como eu sou baixinha, como eu digo, eu sou média estatura, a chapa, no caso, ela ficou um local bem alto, então, ficava um pouco dificultoso pra mim, mas mesmo assim, a gente superou… me superei, tô hoje aqui, já sei agora, manusear a chapa sem me queimar.
P/1 – E Rosa, qual é a sua rotina de trabalho, assim, você chega a que horas e o quê que você faz durante o dia, normal, e a que horas você volta pra casa?
R – A gente chega aqui entre volta de seis e quinze, seis e vinte, mais ou menos, e quando a gente chega no trabalho, eu vou arrumar os salgados na vitrine, colocar os bolo na boleira, colocar o suco, fazer o café, a gente já arruma tudinho e quando é seis e meia, tem que estar aberto o Espaço Solidário, seis e meia abre a partir de seis e meia e vai até vinte pras cinco.
P/1 – Vocês são quantas pessoas trabalhando aqui no Espaço?
R – No momento, estamos em quatro.
P/1 – E cada uma tem uma função, cada uma faz uma coisa diferente, assim, um pouco de tudo?
R – Cada uma faz um pouco de tudo, porque se eu sei manusear chapa, minha colega também sabe, então, se uma não tá, ai a outra vai lá e faz. Mas agora, a gente tá tendo tipo um rodizio, de duas fica na frente e três… na verdade, estamos em cinco, porque entrou mais uma, estamos em cinco, agora. Duas fica na frente e três, atrás, na produção.
P/1 – E vocês preparam refeições, também?
R – NBao, só lanche, só fazemos lanche.
P/1 – Quais são os lanches que vocês têm, assim, são salgados, sanduiches, por exemplo?
R – É, sanduiches, como eu falei, cheese salada, cheese americano, misto, tapioca, vários sabores e os sanduiches natural, nós fazemos gelado, que é o natural, pão integral, os recheio é variados.
P/1 – E tem um boa saída aqui?
R – Tem, tem.
P/1 – E Rosa, você viu uma diferença de ganho de renda com a sua experiência aqui, no Espaço Solidário?
R – Vi.
P/1 – Você consegue, então, ajudar a complementar então…
R – É, complementar o orçamento de casa.
P/1 – E os seus filhos, ficam com quem, Rosa?
R – Eles fica com o meu filho mais velho e a vizinha do lado que cuida deles.
P/1 – Eles estão frequentando a escola?
R – Estão.
P/1 – Escola…?
R – O menorzinho estuda… não, escola publica. O menorzinho estuda de manhã, que é o de sete anos, vai pra escola de manhã, às sete horas, sai 11 horas. Ai, quando ele volta, ai eles almoçam, ai os dois maiores vão pra escola. Ai, ele fica em casa com a vizinha.
P/1 – Ele fica…?
R – O meu de sete anos.
P/1 – Ele fica em casa?
R – Com a vizinha.
P/2 – Em relação ainda ao Espaço Solidário, como é que vocês decidem as coisas lá?
R – No Espaço Solidário? Como assim, o quê que a senhora quer saber?
P/2 – Tem que resolver alguma coisa lá no empreendimento, como é que vocês fazem?
R – Faz uma reunião com o grupo e o grupo decide.
P/2 – Tem alguém que coordena?
R – Lá no Espaço, não, só aqui mesmo, no Consulado. O que nós podemos resolver lá no Espaço Solidário, nós resolvemos entre o grupo, agora, o que nós não conseguimos, nós trazemos aqui pro Consulado.
P/1 – E Rosa, a decisão, por exemplo, do cardápio, vocês que montaram? Vocês decidiram: “Vamos fazer bolo de chocolate…”?
R – Não…
P/1 – “Vamos fazer empada”…
R – Não, o grupo. O grupo e o Consulado nos ajudou.
P/1 – E vocês estando aqui próximo, estando aqui dentro da própria Whirlpool, vocês têm cursos aqui, vocês continuam com essa formação, ou vocês estão mais ali pensando no espaço ali, da produção, da venda?
R – Não, a gente continua fazendo curso. Aprendizado no Consulado, a gente tá tendo curso essa semana, semana passada, de atendimento ao cliente, fizemos de manipulação de alimentos e essa semana, também tá tendo outro curso, só que eu não tio participando essa semana, como eu falei pra você, eu tô de férias.
P/1 – E Rosa, o que mudou na sua vida, depois que você conheceu o Consulado, depois que você veio trabalhar aqui no Espaço Solidário?
R – Mudou muita coisa. É assim, como eu falei pra você também, que eu tava construindo a minha casa, e só o salario do meu esposo não tava dando como conciliar, porque tem a alimentação da criança, tem o material da escola, que eles precisam, e a casa ia ficando, então quando eu voltei a trabalhar, entramos em acordo, ele continuava a construção da casa e eu, com alimento, alguma coisa pros meninos, e outras… alguma coisa que precisasse, dependendo ldo meu salario, também. Então, é assim que nós estamos fazendo, sempre a gente senta e conversa e entra em acordo.
P/1 – Rosa, você consegue imaginar se você não fosse, hoje, uma empreendedora, se você não tivesse aqui no Espaço Solidário, também no Consulado da Mulher, o que você estaria fazendo hoje? Você consegue imaginar?
R – Eu estaria em casa, só cuidando dos menino, mesmo. Levando pra escola de manhã, ia pegar 11 horas, porque era isso que eu fazia antes, eu levava eles pra escola, que eles era menorzinho, levava eles pra escola de manhã, sete horas e pegava 11 horas. Voltava pra casa correndo, fazer almoço, e depois, como eles era muito criança, colocava eles pra dormir à tarde e depois que acordava, ia fazer tarefa. E agora, isso, eles já quando chega a noite, que vou lá ver a tarefa, fazer tarefa pra outro dia, levar o trabalho pra escola.
P/1 – Rosa, a gente já tá encerrando a nossa conversa e o que é importante hoje, pra você?
R – O que é importante hoje? A minha família.
P/1 – Você tem algum sonho, hoje? Qual o seu sonho?
R – Assim, importante no momento é a minha família, e o sonho é de eu sempre ter essa família que eu consegui conquistar, que como eu falei pra vocês, eu era uma criança que eu me criei sozinha e eu me sentia muito só, então, quando eu cheguei na fase da juventude, eu falava pra mim no espelho, assim, eu dizia assim: “Deus, eu preciso ter um esposo, eu quero ter seis filhos, pra nunca mais eu me sentir só”, entendeu? Porque eu me sentia só, entendeu? Então, hoje assim, eu consegui conquistar a minha família. E também, como nós somos evangélicos, nós vamos pra igreja com Cristo, nós somos mais que vencedor, eu vejo isso, tem que estar… meu esposo sempre fala: “Em três”, eu, o esposo e Jesus na nossa vida, então, isso é importante também nas nossa vidas, pra quê? Porque agora, você vê muito jovem se envolvendo nas drogas, se você não tiver uma estabilidade na família, o jovem, ele cresce, muitas vezes, revoltado com os pais e não tem assim, uma ideia do que se fazer na vida, então, acho que o que leva o jovem a ser viciado é isso ai, não ter uma estrutura na família. Então, isso é importante pra mim, minha família.
P/1 – Rosa, e o quê que você sentiu contando a sua historia?
R – Eu me senti assim, eu tô me sentindo, agora, feliz, porque é o que eu sempre sonhei ter a minha família e estar tendo um trabalho… tendo uma oportunidade, de você superar a dificuldade, entendeu? É isso.
P/1 – Tá certo, Rosa, em nome do Museu da Pessoa, nós agradecemos a sua participação.
R – Obrigada.
P/1 – Obrigada.