Lembrança do início do seu envolvimento com o samba por influência da família de sambistas. Primeira lembrança do carnaval na infância. Participação no “Cordão da Juventude”, no bairro do Ipiranga, na capital paulista. Trabalho no “Circo-Teatro Irmãos Orlandino”. Trajetória na escola de samba Vai-Vai desde 1968. Significado da Ala das baianas para a escola de samba e na cultura africana.
Projeto Cabine de Depoimento Vai-Vai
Realização Museu da Pessoa
Entrevista de Emilia Feliciano Ferreira
Entrevistada por Diversos
São Paulo, agosto de 2000
Código: VAI_CB005
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Naige Naara dos Reis Gonçalves
ENTREVISTA
P/7 – Qual o seu nome, data e local de nascimento?
R – Meu nome é Emilia Feliciano Ferreira. Local de nascimento, eu nasci no dia 8 de junho de 1929, Rincão, Distrito de Araraquara, São Paulo.
P/7 – Qual a primeira lembrança que você tem do carnaval?
R – A primeira lembrança que eu tenho do carnaval? É quando eu era muito menina, eu saí num cordão chamado “Juventude” e ali fui contra-baliza uma porção de ano. E depois, muito tropeço que teve na vida, minha mãe ficou muito doente... Então, eu precisei parar com esse cordão, foi a minha decepção porque eu queria continuar.
P/3 – Você me diz uma coisa: esse cordão que você participava, você se lembra o ano e se lembra o local, a cidade?
R – Ah, eu me lembro. Foi no Ipiranga. Aí no Ipiranga. Ele chamava-se “O Cordão da Juventude”, era na Brasílio Machado. Nessa época, eu estudava num colégio de padre. Eu fazia ponta num circo, sabe, o “Circo Irmãos Orlandino” (Circo-Teatro Irmãos Orlandino?) , “rapa-rapa”. E...
P/3 – Nessa época quantos anos você tinha?
R – Ah, eu tinha uns 7 anos, 7 anos e meio, por aí. Eu comecei muito cedo no samba porque a minha família é uma família de sambista. Então, eu comecei muito cedo.
P/7 – Em que ano você ingressou na Escola de Samba Vai-Vai, e quais as funções e alas pelas quais passou?
R – Na Vai-Vai? Na Vai-Vai eu fim no meio... quase começo de 1968. Na Vai-Vai, quando eu vim, eu vim como porta-bandeira. Então, eu desfilei uns oito anos, mais ou menos, de porta-bandeira e depois - com coisas familiares, minha mãe faleceu, meu marido faleceu - eu entreguei meu posto. Eu entreguei e continuei saindo de destaque. De destaque eu saía ultimamente. Agora, estou na velha guarda e também faço parte de toda a estrutura da Escola. E sou também instrutora de mestre-sala e porta-bandeira. Tenho...
P/3 – Conta um pouquinho...
R – Sou Imperatriz do Samba. Recebi esse título no ano passado, aqui mesmo, na quadra do Vai-Vai, pela Uesp (União das Escolas de Samba Paulistanas). E vou continuando nesse roteiro...
P/3 – E todo esse tempo de Vai-Vai o que significa pra você ter segurado e ter ostentado o estandarte da Escola? O que é o estandarte da Escola?
R – Ah, pra mim foi a maior glória. Porque nós, os sambistas, devemos ter um ideal. E o meu ideal era ser honesta e sincera com a minha escola. Então é o que eu faço, o que eu sou. Até hoje é assim. Mesmo que eu não esteja desfilando com o pavilhão, eu sou guardiã dele. Então para mim o pavilhão da Vai-Vai é tudo.
P/7 – O que a Escola de Samba Vai-Vai representa na sua vida e o que mais te acrescentou?
R – Ah, pra mim a Vai-Vai é como uma família. Às vezes, eu estou na minha casa triste, contrariada. Então venho pra cá dois, três dias, aqui é meu lazer e aqui é tudo. Representa tudo. Eu espero em Deus que isso continue pra mim, porque seria um caos se por obra do destino eu tivesse que deixar.
P/3 – Me diz uma coisa: se entrasse por essa porta uma pessoa do exterior, um estrangeiro, um gringo que não conhecesse carnaval: como é que você descreveria pra essa pessoa o que significa a Ala das Baianas?
R – Ah, eu contaria a história da baiana. Porque a Ala das Baianas é uma ala, é um coração também da escola. Já vem de tradição de africanos, são as Tias. Elas são as nossas Tias, nossa proteção. Porque eu faço também batizado afro com as baianas e conheço todo o ritual. Então, elas pra nós, pra nós todas, significa o coração, o símbolo da escola. (risos)
P/3 – Obrigada, viu.
P/7 – Obrigada.
FIM DA ENTREVISTA