História de:
Paulo Keiki Matsudo
Autor:
Museu da Pessoa
Publicado em:
08/12/2021
A chegada da família do pai ao Brasil foi marcada por alívio e tristeza: se em parte deu-se por encerrado o trajeto em alto mar, a terra firme marcaria o começo de uma nova trajetória sem a mãe, que faleceu assim que chegou no país. Pela tradição japonesa, o filho mais velho deveria sustentar a família, cabendo ao primogênito Keisez Matsudo se acostumar ao novo clima e a nova língua para dar um futuro aos irmãos. Missão dada e cumprida. Com garra, não só formou os irmãos como também os sustentou. Mais tarde, o casamento com uma brasileira gerou dois filhos: Vitor e Paulo, que mais tarde seriam médicos. Paulo carrega a combinação das culturas no seu dia a dia: da arte ikebana, encontra o equilíbrio necessário na cirurgia plástica. Da cerâmica e poesia da mãe, a sensibilidade suficiente para se inspirar nos quadros humanos que chegam para serem retocados. Numa história de encontros e dedicação, Paulo retrata, em sua narrativa, o máximo que lhe foi ensinado por ninguém mais que Ivo Pitanguy: seja humilde dentro da sua grandeza.
Minha maior habilidade quando criança era fazer papagaio! A gente morava num bairro chamado Vila Paula, em São Caetano do Sul: uma região cheia de campos e com um canavial próximo ao rio. Então pegava o bambu, cortava, deixava ele secando pra ser mais fácil de trabalhar. Fazia as varetas, curvava com um fiozinho e colava o papel de celofane. A corda era comprada, às vezes um pouco mais fina, outras vezes um pouco mais grossa para o papagaio subir e enfeitar os céus!
Foi uma infância com muito movimento. A minha vó materna sempre nos orientando na parte moral e também dando a oportunidade de estar no sítio dela. Nós ajudávamos a plantar, a colher, a ver e observar a natureza. Fazíamos um saquinho plástico para proteger o pêssego dos passarinhos e, ao mesmo tempo, cuidávamos dos passarinhos e das gaiolas. Ver a galinha botar o ovo e de lá sair um pintinho é muito interessante, né? Acho que tudo isso me encaminhou para área médica.
Quando se é criança, você não entende muito bem o porquê do pai ficava mais tempo no jardim. Isso porque a contemplação faz parte da evolução humana. Por exemplo: um ramalhete de flores muitas vezes não significa tanto que nem uma ikebana, uma arte oriental de se ter um arranjo flor de equilíbrio. E a contemplação é o que equilibra o homem. Isso, transpondo para a cirurgia plástica faz muito sentido! Porque ela, na sua essência, quanto mais natural for, ou seja, quanto menos ela chamar a atenção, é a prova daquilo que foi bem executado como a natureza é.
Eu me alimento muito da fé. Não só eu, como minha equipe, onde todos são muito bons e têm um trabalho espiritual de cultivar a fé. Ajuda muito no momento cirúrgico. Nós estamos mexendo com o ser humano! Existe uma troca de energia que muitas pessoas não acreditam, mas é um fato, é impossível alguém ainda não acreditar. E essa energia tem que ser positiva. Quando você tem essa oportunidade de modificar algo que foi criado por um Deus, aquilo ali é uma permissão e você tem que estar envolvido com a proteção.
O maior prazer que eu tive foi receber das mãos o prêmio Ivo Pitanguy no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Você concorre a um prêmio que leva o nome dele, ganha entre vários concorrentes e ainda recebe das mãos dele, não só o certificado como também as palavras de incentivo! Não tem preço. Ivo Pitanguy foi realmente um astro. E sem dúvida ainda é para qualquer cirurgião. O maior aprendizado que tive com ele foi de ser sempre humilde dentro da sua grandeza. O professor era muito humilde. Esse é o maior legado que ele poderia ter deixado para aqueles que captaram isso.
Sabe aquela frase famosa: “O meu grande pode ser teu pequeno, seu pequeno pode ser o meu grande”? Na cirurgia plástica, a melhor coisa é não pecar por nenhum dos dois e sim encontrar o equilíbrio, como na ikebana. Você faz com que aquele corpo esteja em harmonia, aquele seio esteja em harmonia com o resto do corpo ou aquele nariz com a face. Não existe um nariz em série, cada um tem o seu DNA como impressão digital, né? Então é importante você conversar. Se a paciente entender, ficou fácil: é juntar as mãos, olhar um norte em comum e seguir. Você tendo fé que você vai poder ajudar aquela pessoa, você simplesmente vai conseguir não só dar um bom resultado, mas mudar intrinsecamente o que ela procura. Que não é só uma fórmula, ela procura estar bem com a sua alma. Sempre agradeço pela permissão e sempre agradeço por ter conseguido finalizar. Em dois momentos importante: na entrada e na saída.
André Lucas Durigan Sardinha
por Museu da Pessoa
Odilson de Souza Lima (Seu Amazona)
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Alice Ribeiro
por Alice Ribeiro
Maria Gercina Simão de Oliveira
por Museu da Pessoa
Rosaria Braga da Silva
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Zuca (José Joaquim Neto)
por Museu da Pessoa
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