A voz dos funcionários no conselho de administração
Autor: Museu da Pessoa
Publicado em 29/10/2021 por Danilo Eiji Lopes
Projeto Memória FURNAS
Entrevista de Felipe Souza Chavez
Entrevista número FURNAS_HV001
Realização: Museu da Pessoa
Entrevistado por Danilo Eiji Lopes e Daniela Monteiro
Data: 13/04/2021
Transcrito por Aponte
00:10
P/1 - Felipe, então antes, também para questão de registro, eu queria que você falasse seu nome completo, o local e a data do seu nascimento?
R - Meu nome é Felipe Souza Chaves, nascido no Rio de Janeiro, em 25/10/1986.
00:32
P/1 - Maravilha. Felipe, você conhece um pouco da história da sua família, seus avós, os avós dos seus avós, conta um pouco para gente aí o que você conhece, conta dos seus avós por exemplo.
R - Os meus avós, tantos os paternos, quantos os maternos, vieram todos de Portugal, uns vieram antes, outros depois, mas os meus avós paternos vieram antes, então o meu pai ele já nasceu no Rio de Janeiro, os meus avós maternos vieram um pouco depois e a minha mãe ainda é portuguesa, e todos eles vêm para cá totalmente sem nada, vem trabalhar. O meu avô paterno ele lavava carro e depois ele vira motorista de táxi, minha avó paterna dona de casa. Do lado da minha mãe, meu avô materno ele trabalha com construção, como pedreiro e depois ele começa a tocar algumas obras e minha avó materna, também dona de casa. Então assim, minha origem é totalmente portuguesa.
01:55
P/1 - Muito bom! Agora fiquei curioso, porque eles vieram pra cá, que ano, você sabe mais ou menos?
R - Olha, eu acho que foi ali entre os anos 1950 e 1960, na verdade assim, estava tendo lá em Portugal, a ditadura de Salazar e um pouco de crise econômica e o Brasil era meio que moda, uma terra próspera, então, e Rio de Janeiro era a capital do Brasil, então vieram todos para cá.
02:23
P/1 - Daí você falou, sua mãe é portuguesa, nasceu aqui os filhos deles, e o seu pai?
R - Meu pai é carioca, minha mãe é portuguesa, ela tem cidadania brasileira, mas ela ainda nasceu em Portugal.
02:39
P/1 - Me conta um pouco deles também, profissão, tudo sempre no Rio de Janeiro? Como que é?
R - É, sempre estivemos aqui, a minha mãe ela é enfermeira, trabalhou durante 30 anos no Miguel Couto, Hospital Municipal aqui do Rio, e o meu pai ele é engenheiro eletricista, aí tem muito a ver comigo, e ele trabalhou 35 anos na Light, só trabalhou na Light, que a distribuidora local aqui do Rio de Janeiro. Acabei seguindo o caminho dele, não por ele na verdade, eu acabei fazendo engenharia elétrica, por causa de um professor de matemática no terceiro ano, que falou para mim que a engenharia que tinha mais matemática, que era a matéria que eu mais gostava, era engenharia elétrica, mas isso era tudo mentira, porque na engenharia elétrica o que tinha mais era física. Mas aí depois a gente descobre, e aí já é tarde demais pra sair de lá, mas faz parte.
03:38
P/1 - Calma aí, não pode passar despercebido que seu pai trabalhou 35 anos no mesmo setor, né? Você lembra de alguma coisa, você foi visitar o trabalho, teve algumas conversas, não sei, alguma coisa teve aí, né?
R - É sim, eu na escola sempre gostei mais da das exatas, especialmente de matemática, e via meu pai trabalhando lá, cheio de número e volta fazendo contas, na época ainda não tinha, não tinha tanto computador, então era na munheca, eu via os cadernos dele, os cálculos e eu achava bacana aquilo... Tinha lá aquelas réguas e tal, calculadora, eu achava legal aquilo, então acho que ele acabou me influenciando. E assim, o setor elétrico, os papos do setor elétrico sempre são muito rebuscados, os equipamentos, então a criança vai crescendo e vai escutando aquilo, vai achando aquilo ali o máximo, meu pai é um mega engenheiro, de um negócio altamente complexo, eu acho que de alguma forma eu fui absorvendo aquilo ao longo da infância.
04:44
P/1 - Você tem irmãos?
R - Eu tenho duas irmãs, uma mais nova e uma mais velha, eu sou filho do meio.
04:50
P/1 - E alguém seguiu, também, engenharia elétrica?
R - Não, minha irmã mais velha é fisioterapeuta e a mais nova fez administração, então foi só eu mesmo. Mas eu consegui aí, eu consegui, nos últimos anos influenciar minha prima, minha prima está fazendo engenharia eletrônica, mas é ali pertinho, e só ela, a minha outra prima ela chegou a fazer engenharia química, então assim, acaba que eu vi na frente né, e os priminhos vão olhando, pô legal esse negócio de engenharia aí, bacana. O meu tio também, que é irmão do meu pai, também é engenheiro eletricista. Na verdade, o meu pai ele é mais velho, ele é cinco anos mais velho que meu tio, e quando se formou engenheiro elétrico e começou a trabalhar já Light, ele ajudou a pagar a faculdade do meu tio, que também fez engenharia elétrica na Gama Filho, acho que é na Gama Filho, mas na verdade, meu tio atualmente trabalha na Petrobras, ele é engenheiro eletricista, mas ele acabou se enveredando aí para o caminho do petróleo.
05:50
P/1 - Mas percebi que tem alguma coisa familiar aí né, será que vem do avô essa influência? Por que engenharia? Bom, engenharia era daquelas profissões né, como médico, não é isso?! Que carregava essa... Hoje que tem uma diversidade de coisas, de fazeres, não sei o quê, mas acho que na idade deles, principalmente, advogado, médico e engenheiro... E a sua mãe era da área de saúde, você falou né?
R - Isso, exatamente isso que você falou Danilo. Meu pai fala que quando ele foi escolher eram essas 3, engenharia, medicina ou direito. E aí assim, o cara tinha um escopo bem menor para escolher, eu acho que ele gostava de fazer conta e foi. Então não dá nem pra dizer, não sei nem se é de família, mas eu acho que o gosto assim, de ser mais metódico, talvez sim, eu acho que é mais do perfil, acabando enveredando pela engenharia, podia ser matemática, podia ser física, mas a gente acaba sendo de repente um pouco mais conservador, por acreditar que engenharia tem um mercado de trabalho melhor, e enfim, acaba indo por esse caminho.
07:32
P/1 - A sua infância sempre no Rio de Janeiro, sempre no mesmo bairro, conta um pouquinho aí, que bairro que era, como que foi esse momento da sua vida, aonde foi?
R - Eu nasci e cresci a vida toda em Botafogo, que é o bairro onde tinha a antiga sede de Furnas. Eu fiquei lá, hoje eu estou com 34 anos, eu fiquei lá uns 31 anos. Os meus pais, a gente mudou de algumas casas lá, mas foi a vida toda ali em Botafogo.
08:10
P/1 - Mudou muito, não?
R - Mudou bastante, cresceu bastante prédio, mas o de Furnas ainda continua lá grande!
08:19
P/1 - E fala um pouco cara, era uma infância de brincadeira na rua, foi uma infância fechada na casa, como que foi? Escola integral? Conta um pouco aí...
R - Eu me considero um rapaz privilegiado, de classe média. Estudei primeiro, até a 8° série no colégio particular, depois fui para o Pedro Segundo. Quis fazer uma prova para mudar os ares mesmo, eu acho que foi uma atitude de personalidade minha, eu estava no colégio particular, que era uma certa bolha, e queria expandir meus horizontes, e estudei, fiz a prova lá e fui parar no Pedro Segundo do Humaitá, que é um bairro ali ao lado de Botafogo, e isso me abriu muito a cabeça, que eu estudei com gente de tudo quanto é tipo, classe social, cor, orientação, enfim, isso foi muito engrandecedor para mim. Mas eu não tive uma infância na rua, não dá para falar que eu tive isso, porque na década de 90, que foi ali quando eu era adolescente, tinha muita violência no Rio de Janeiro, então a minha mãe ficava muito preocupada. Não tinha celular, para ela me vigiar onde é que você tá, e aí também coincidiu com a evolução dos computadores, e aí eu mexia muito com computador, fiz curso, sabia montar, tirava até um dinheirinho montando aí e fazendo limpeza de computador para os outros né, era uma época... aí acabava jogando muito videogame também, basicamente essa foi a minha infância.
09:55
P1 - É que eu fico com essa coisa de paulista fantasiando, quem tem praia na frente, essa parte de pegar onda, nadar, essa parte não tinha?
R- Não. Tinha sim! Eu pegava quando eu estava de férias ou nos finais de semana, eu pegava a bicicleta com os meus amigos tinha até o suporte para colocar ali a prancha do lado, eu na época eu fazia Bodyboard. E ia lá pegar onda em Copacabana, Ipanema, no Arpoador, e isso durou uns 5 anos. A gente tem praia aqui e a gente vai se reunir, vai bater papo na praia, nas férias e nos finais de semana. Mas eu digo assim, aquela infância que meu pai teve, que ele conta, meu pai também nasceu e cresceu em Botafogo, dele jogar bola na rua, na terra batida, isso eu já não tive, meu pai contava que na época dele, policial só usava cassetete, não tinha arma, não tinha nada, o máximo que o policial fazia era correr atrás de você para pegar a bola, porque você quebrou o vidro da janela de alguém. Aí já na década de 90 não, o Rio de Janeiro teve um momento muito, teve aumento da violência, então tinha essa preocupação aí dos pais, como um todo, e aí a gente acaba ficando um pouco mais em casa, às vezes a gente ia para o shopping, na praia junto com os amigos, mas não de ficar na rua largado, assim o dia inteiro.
11:19
P/1 - Vocês ficaram na mesma casa na infância. até sair da casa dos seus pais, é a mesma?
R- Não
11:27
P/1 - Mudou algumas, né?
R- É. A gente morava em uma casa que era uma casa do meu avô, depois a gente se mudou para um apartamento e ficou lá, meus pais estão lá até hoje, então, é na verdade foi 5 anos em uma casa, 25 na outra.
11:46
P/1 - 25 no apartamento?
R - Isso!
11:48
P-1 - Você acha que isso tem a ver com a questão da segurança do Rio de Janeiro também? Foi uma decisão por esses motivos ou só conforto?
R - É uma junção, o que acontece, isso é até curioso. A gente morava numa casa que foi até meu avô que construiu, que era em cima, eu não lembro de nada disso, isso eu estou contando histórias dos meus pais, mas era tipo um “barrancozinho”, uma “comunidadezinha” e o metrô, ele estava se expandindo, ele precisava passar ali. Então a gente teve a casa desapropriada, recebeu uma indenização, lembro até que na época eu apareci no jornal com 2 anos de idade, no colo da minha mãe, reclamando dessa desapropriação, que a indenização era muito baixa, mas aconteceu. Então a gente foi meio que é obrigado a sair de lá, e aí na época os meus pais, foram essa questão do apartamento, já estava crescendo a cidade do Rio, especialmente Botafogo, e aí meus pais foram lá, e deram entrada em um apartamento financiado. Então assim, foi uma junção dessas duas coisas.
12:52
P/1 – Entendi! E me fala, o pessoal era religioso? Vocês tinham algum ritual familiar, o almoço de domingo era sagrado, me conta um pouco aqui? Vocês tinham um ritual de família, missa?
R- Como eu falei, os meus avós todos de Portugal, acaba jogando um pouco sobre os meus pais, depois pra gente. Eu até não me considero praticante, eu sou um católico, mas não sou praticante, meus pais não, meus pais, meus avós eles iam à missa todo domingo, a gente, lógico, tinha todos aqueles almoços comemorativos de aniversário, Dia das Crianças, páscoa, natal, ano novo, sempre bem raiz. Então assim a gente teve aquele crescimento bem padrão, não teve nada diferente nesse sentido.
13:50
P/1 - E pensando ainda nessa sua fase de infância, tem algum marco que você fala putz, essa história aqui eu preciso deixar registrada assim quando era criança, por exemplo?
R- Olha, lembrando agora, tem um bocado de coisa, mas duas coisas que me marcaram na infância, uma delas foi essa decisão que eu tive aí com acho que 13, 14 anos, de virar para os meus pais, “olha eu quero mudar de colégio!” Eu que quis! “Não, mas não sei o que.” “Eu quero fazer concurso para um colégio maior, eu quero conhecer gente nova”, e na época tinha o colégio do CAP, UFRJ, tinha o Pedro II, tinha CEFET, basicamente você fazia a prova e se você passasse você era sorteado. Então quer dizer, no CAP era assim, eu não fui sorteado, eu passei no CAP, mas não fui sorteado, no Pedro II eu fui classificado e foi um tiro que eu dei ali de sorte, e hoje eu recomendo para todo mundo assim, os meus colegas de trabalho que tem filhos. “Olha, não deixe seu filho numa bolha”, porque o aprendizado que eu tive, relacionamento em dois anos assim, é espetacular, mudei da água para o vinho. E outra coisa que é curioso, pouca gente sabe, eu não tenho problema nenhum em falar isso, mas eu nasci com orelhas de abano, eu tinha uma orelha de abano grande e sofria muito bullying, naturalmente. Eu não sei como é que é hoje em dia, mas ali quando eu acho que fiz 12, 13 anos, eu fiz uma cirurgia plástica, de colar as orelhas, simples, mas isso é impressionante, como é que muda a autoestima da criança. Também da água pro vinho, e isso foi muito marcante e assim, é um assunto que eu não sei debater tanto, apesar de ter vivido, mas eu acho que eu se eu tivesse feito essa cirurgia aí, sei lá com 4, 5 anos, talvez eu não tivesse passado por essa experiência. E aí eu não sei te dizer se isso foi bom, se foi ruim, mas foi uma coisa que aconteceu e que me marcou. Então eu posso dizer assim, eu sofria bastante com isso, botava o cabelo por cima, tentava disfarçar e aí naquele período de adolescência, de adolescente tá ali, reunião com os amigos, não sei o que, com as meninas e tal, que você tá precisando dessa autoestima, então eu tive um Up de 300% né, então foi importante para mim, e isso me marca bastante.
16:32
P/1 - E você fez isso quando você já estava na Dom Pedro II?
R. Não! Eu fiz um ano antes.
16:40
P/1 - Você fez 1 ano antes e mudou de escola?
R - Isso, eu fiz assim, na sétima série, aí na oitava série eu mudei.
16:46
P/1 - Cara, eu conheço o Colégio Dom Pedro II. É um colégio super tradicional em relação à história da educação, durante muitos anos foi dali que saiu os currículos nacionais de ensino, isso no passado né, obviamente. Mas imagino que seja uma escola, densa né, pelo menos no meu imaginário, seja uma escola super puxada. Me conta um pouco aí, você lembra como foi o primeiro dia de aula, nessa nova escola?
R. O Pedro Segundo, ele eu acho que já teve várias trajetórias, inclusive eu não sei nem muito bem como tá hoje, mas o Pedro II sempre foi um colégio muito forte, e acabou que quando eu fui ao Pedro Segundo, ele não estava numa fase muito boa, ai outras questões. Mas eu acabei pegando algumas greves lá, enfim, e isso bagunça todo o calendário, aí tem questão de professor, mas assim, o principal do Pedro II é que é um colégio muito grande, e dá de tudo ali, porque as formas de ingresso no Pedro II, tanto se dão, com pessoas por concurso, com sorteio lá atrás, então aquilo ali causa uma mistureba, então tem pobre, rico, preto, branco, índio, homossexual, tem de tudo ali, e são várias turmas de manhã, de tarde e de noite, você tem alimentação ali, então isso pra mim era uma realidade muito diferente. Porque eu estava ali naquele “coléginho”, que eu tinha aula de manhã, “coléginho” particular, minha turma ali com 20, aquela minha bolha das crianças só de Botafogo. E aí eu vou para um universo muito maior, e eu vou para uma turma onde uma parte já se conhecia, não, e aí tem aquela coisa, a gente vai se conhecendo, vai formando grupos, mas aí tem os eventos do Pedro II que são todos muito grandes, campeonatos de futebol, festa junina, aquelas coisas. Aí você vai interagindo, vai conhecendo cada vez mais gente e eu fiquei fascinado. Mas é só depois de sair do Pedro Segundo que eu pude perceber como aquele ambiente me fez ser muito mais compreensivo, mente aberta, conhecedor de novas realidades, tinha gente da favela que estudava comigo, todo mundo se ajuda. Tinha gente, que apesar de só estudar no período da tarde, o cara chegava lá de manhã e só ia embora à noite, para poder ter as refeições. Ali era um lugar, o Pedro II colocava todo mundo na mesma base, então não tem rico e pobre ali, tá todo mundo ali, e criança eu acho que ela ultrapassa essas diferenças. Então foi uma experiência, que por sorte eu tive, eu podia ter caído o outro colégio, num colégio menor e tal, mas que eu por sorte tive que me ajudou muito como ser humano, eu acho que eu teria demorado muito mais depois para ter essa consciência, se eu não tivesse estudado ali no Pedro II. Eu acho que didaticamente, pedagogicamente, não foi minha melhor experiência, porque o Pedro II não estava passando bons anos, eu acho que até melhorou depois, são fases, mas também me fez correr atrás, eu fiz dois anos no Pedro II, e eu sempre fui muito preocupado, sempre fui um ótimo aluno, mas eu sempre fui um ótimo aluno na base da cobrança, se você deixasse assim para mim, eu era um aluno nota 7, mas se você me puxasse eu ia ser um aluno nota 9. E quando chegou ali no 3º ano, eu fiquei preocupado de não passar no vestibular, eu falei assim: poxa, eu acho que o Pedro II tá um pouco atrasado aqui, e eu preciso de alguém me cobrando. E aí eu virei para o meu pai de novo, e falei: pai eu estou preocupado, eu acho que eu preciso fazer o terceiro ano em um colégio mais puxado. E aí eu fui parar no PH, o PH é um colégio, que é um colégio adestrador de vestibular, ele te adestra para o vestibular, só isso! É um colégio muito bom, mas não é um colégio que não me dá aquele ambiente que o Pedro II me dava, e aí eu tomei um segundo impacto, eu tomei uma porrada. Porque quando eu cheguei no PH, eu falei assim: meu Deus, o que eu estou fazendo aqui?! Pessoas assim, grupinhos e tal, um negócio complicado. Mas eu estou aqui para estudar para o vestibular, vai ser só um ano, vamos embora. E aí eu superei isso, estudei bastante e aí tive um... O PH ele te coloca no eixo né, se você fizer o feijão com arroz ali, fizer os exercícios e se você for 50% dedicado, você vai embora, porque ele te dá um negócio mastigado, e eu fazia tudo quanto era exercício, estudava e tal, ia nas aulas finais de semana, fazia os simulados, cumpri tudo. E aí o resultado foi muito bom, porque eu até tive meu nome lá no jornal, eles botavam o nome no jornal, “terceiro lugar não sei onde, quinto lugar não sei onde”, era um negócio, uma questão de competição e tal. Mas eu estava lá era para passar no vestibular, mas eu não tinha certeza do que eu queria para o vestibular. Se eu falar para você que eu sempre sonhei com engenharia elétrica, porque o meu pai era, é mentira! Eu estava lá e falei assim: bom, eu gosto de matemática, o que eu vou fazer? E tinha um curso na UFRJ, chamava matemática aplicada, e aí eu falei: cara esse daqui é muito legal! E falei com o professor que eu gostava muito de matemática, “faz isso não, eu não sei como é que o mercado de trabalho disso”, aí ele falou, “faz engenharia”. Eu fui pegar o catálogo da engenharia tinha, civil, elétrica, mecânica, química, eletrônica, mecatrônica, ambiental, de produção, aí eu falei: tá, aí você não me ajudou, acho que você me complicou. “Qual é a engenharia que pega mais matemática?” Ele disse: engenharia elétrica. Falei: então é essa! Só que eu tinha algumas dúvidas, porque os cursos eram parecidos, eu ali não conseguia saber o que eu ia estudar em engenharia elétrica, sabia que como engenheiro eu podia até não ser engenheiro depois formado, trabalhar em banco que é o que muitos engenheiros hoje em dia fazem. Mas eu não estava preocupado ali com os 5 anos de estudo na engenharia, e aí acabou que eu botei telecomunicações na UCE, elétrica na UFRJ de produção no CEFET, botei economia na UERJ, e botei tecnologia da informação na UNIRIO. Eu tinha que passar só para as públicas, porque meu pai não tem dinheiro para bancar uma faculdade. Acabou que eu passei pra todas, aí eu tive que escolher, e escolhi pela engenharia elétrica na UFRJ. Mas eu cheguei a fazer um período de Economia na UERJ, mas aí eu preferi ficar na UFRJ. Então assim, o Pedro II ele me desencorajou de várias coisas na minha vida, depois eu vou contar uma história, aí quando eu estava na faculdade, mas ele me deu um choque de realidade e me fez mais empoderado nas minhas decisões, então quando eu tive aquela decisão de ir para o Pedro II e vê como é que o negócio era legal, diferente, e aí junta com essa questão da autoestima, de conhecer gente nova na adolescência. Eu também tive esse empoderamento de chegar pro meu pai e falar assim: pai paga para mim, por favor, um terceiro ano, porque eu estou preocupado com o vestibular. Ele foi lá pagou o resultado foi bom. Talvez se eu tivesse ficado naquele mundinho lá da escola particular, eu não sei se eu teria me largado tanto assim no mundo.
24:48
P/1 - Me surpreende essa sua decisão de você querer mudar para um colégio mais... Foi uma decisão sua, tipo, vestibular, vamos focar. Ou era uma cobrança familiar assim de falar poxa, vestibular é importante, tinha isso também, ou foi uma coisa sua? Ou o seu grupo de amigos que tinha isso?
R – A minha irmã mais velha, ela é dois anos mais velha, eu a vi sofrendo uma pressão da família no vestibular. E eu sentia que a minha hora ia chegar. E eu continuava tendo amizade com os meus amigos antigos do colégio particular, e eu trocava uma ideia, vem cá… O que vocês estão estudando na matéria “tal”, eu falei: rapaz, eu estou ficando, o negócio tá complicado. Eu cheguei a fazer um pré-vestibular no segundo ano para ver se eu conseguia conciliar, o Pedro II e o pré-vestibular, mas o pré-vestibular, ele dá aula lá, e você tem que acompanhar, então você tem que ser dono de si ali. Quando eu trocava de colégio, eu sabia que ia ter um cara em cima de mim ali para eu passar, para mim foi muito mais cômodo, apesar de eu ter tido um grande esforço, eu não precisei... Essa questão da cobrança foi mais fácil. Então foi uma decisão que foi complicada, porque eu gostava muito do Pedro II, mas eu continuo com vários amigos até hoje, então foi importante, porque assim, meu objetivo que era o vestibular, e aquilo durou um ano, então valeu a pena o custo, benefício foi bom, meu pai não se arrepende de ter pago lá o PH por um ano, porque ele economizou cinco anos depois na faculdade.
26:29
P/1 - Só pra gente fechar essa parte meio da adolescência, esse começo de vestibular. Conta um causo aí da turma no colégio Dom Pedro? Uma situação que você tenha vivido, e sentiu que precisava registrar na sua história de vida?
R. Eu saí de um de um colégio particular, de uma “bolhazinha”, pra um colégio gigantesco, uma zueira completa, gente de todo tipo, idade, cor, então assim, era uma explosão de coisa acontecendo, e a gente aprontava muito. Eu vou contar uma aqui, eu não sei se deveria, mas vou contar, eu acho que não tem problema. Lógico, a gente aprontava, mas nunca para machucar ninguém, era só brincadeira mesmo de adolescente. Teve uma vez, essa eu conto para todo mundo, que é muito legal. A gente descobriu uma passagem para a caixa d'água, lá do prédio Pedro II, naquela época não tinha câmera, não tinha nada né. Então a gente deu uma estudada como é que a gente ia fazer, a gente subiu lá, e colocou o corante azul na caixa d'água do Pedro II. Então o pessoal puxava a descarga, puxava o bebedouro lá, e saia água azul, isso durou aí uma horinha só, mas isso foi superdivertido, ninguém nunca descobriu, não fez mal para ninguém. Se eu tivesse celular na época eu ia ter registrado, “olha, saindo água azul do bebedouro”.
28:09
P/1 - E me fala uma coisa cara, O Dom Pedro II imagino que tinha os estudos de meio, não tinha, viagem? Conta uma aí?
R. Tinha! Teve uma viagem que eu gostei bastante, foi para Ouro Preto, gosto muito de Ouro Preto, sou suspeito para falar, cidade que eu já voltei lá umas 4, 5 vezes. Aquele perrengue, 7, 8 horas de ônibus, ônibus quebra, volta. Essa viagem foi bacana, porque você é adolescente tudo é festa né, então eu lembro que no caminho, a viagem de ida, o motor do ônibus esquentou, e aí o ônibus para no acostamento da estrada, a gente sai aí, salta né esperando como é que vai ser, na verdade o motor tinha aquecido. Só que quando todo mundo saltou, os rapazes foram fazer o que? Tirar água do joelho, fazer xixi por ali no acostamento, fizeram xixi, beleza. Estamos ali batendo papo, esperando, rapaz quando a gente vê, tá o motorista pegando uma garrafa, pegando água da poça e colocando no ônibus. Aí a gente olhou um para o outro, “rapaz, o cara tá botando xixi no ônibus”, deixa quieto. Eu sei que o seguinte: funcionou, o xixi foi um bom líquido ali para o motor, e a gente seguiu viagem. São coisas engraçadas como essa que a gente olha... rapaz, será que a gente fez besteira?! Mas é melhor deixar quieto, depois eu fui até descobrir que a água do radiador, é isso, é uma água com um eletrólito ali, então o xixi não estava muito longe disso não.
30:05
P/1 - Conta um pouquinho para gente, um pouco da sua experiência, você fazia parte da atlética? Conta um pouco da experiência aí da UFRJ.
R - Fui parar em engenharia elétrica no UFRJ, que é um curso de maluco, fui descobrir isso depois, que depois de astronomia, é o curso que tem mais desistência na UFRJ, eu fui descobrir o porquê. É um curso de maluco, as matérias são muito difíceis, você não toca em nada, energia elétrica você tem que confiar ali, você faz o cálculo, você não vai botar a mão que você vai tomar um choque, então você confia, funciona. Mas é diferente da civil, da mecânica, que você vê acontecendo, você encosta. Então foi uma experiência também bem interessante na minha vida, estudar lá no fundão, então eu pegava o famoso 485, que é um ônibus que saia do Leblon, vinha por Copacabana, eu pegava ele na praia de Botafogo e o ônibus vinha que vinha chutado. Teve até uma vez que esse ônibus virou lá no fundão, motorista foi fazer uma curva, teve gente se machucando. O 485 é famoso aqui no Rio de Janeiro. E assim, faculdade já é diferente né, porque os alunos precisam todos se ajudar, porque era muito difícil, na época não tinha celular, então a gente tomava um sufoco ali estudando, passava o dia na Ilha do Fundão, e aí aquelas aventuras de universitário, chopada, comia naqueles podrões lá, aqueles pratos feitos que te alimentava um dia inteiro, feijão, arroz, macarrão, purê, enfim, essas histórias boas. O problema da engenharia elétrica na UFRJ, é que como era um curso muito difícil, a turma foi minguando, então nós entramos como 45 e cinco anos depois fomos nos formar só sete. Então ia saindo muita gente, ia desistindo, outras pessoas iam mudando de curso, então aquilo era uma prova de resistência também mental. Porque você via seus amigos indo embora, da mesma maneira que no Pedro II a UFRJ foi boa, porque também era gente de tudo quanto era lado, eu de Botafogo estudando com gente de Nova Iguaçu, da Tijuca, da Ilha do Governador, também gente de todas as classes sociais, e a gente se ajudava muito. E aí tem um... Lógico que eu passei por altos e baixos na faculdade, e tem um para mim que é muito emblemático, que eu passei muito bem para engenharia elétrica, eu fui terceiro lugar, e no primeiro período eu tive um professor de física, que era o carrasco da Ilha do Fundão. Então assim, eram 66 alunos na turma, ele reprovou 60. E aí eu falei assim: cara se eu não consigo passar em física 1, eu não vou conseguir passar em eletromagnetismo. Então aquilo foi um baque para mim, eu nem concordo com essa didática dele, porque eu acho que na verdade ele queria descobrir gênio, então ele bota uma matéria mega difícil, para ver se ele descobre gênio, só que enquanto isso, ele desencoraja outros 60, então assim, coisas do professor. Só que aí eu fui obrigado a rebolar, eu preciso recuperar essa disciplina que eu reprovei, e aí depois eu tive que fazer física 2 junto com a 3, comecei a puxar disciplina em outras engenharias, que não é elétrica, pra adequar o meu horário, fiz um sambarylove danado lá, recuperei e consegui me formar bem em 5 anos. Mas aquilo me deixou muito marcado, me deixou um pouco triste, porque eu podia ter desistido, eu conheço gente que desistiu, por causa disso, o cara pensa, “pô, se eu não passei em física 1, ainda tem a 2, a 3, a 4”, tem matéria muito mais difícil”. Mas na verdade era um professor que era um mega carrasco, e isso me transformou, fez até pensar em tentar, “será que engenharia é minha praia? Será que eu devo fazer economia?” É lógico que hoje, quando a gente passa pelo obstáculo a gente acha que o obstáculo foi bom, porque fez você aprender. Mas é complicado dizer isso, porque a gente tá sendo vidente do passado, naquele momento eu não gostei, eu fiquei me perguntando um monte de coisas, eu e os outros 60. Acho que a única coisa que me ajudou, foi que eu vi, “bom eu não estou sozinho nessa, tem outro 59 aqui comigo, e só seis malucos lá passaram, porque estudaram bastante”. Mas depois eu me recuperei e embalei. E aí eu fiz uma coisa que também recomendo para todo mundo. Eu me mandei para Portugal, fui fazer um período na faculdade de lá, então passei por um processo seletivo lá no fundão. Eu queria na verdade ou pros Estados Unidos ou pra Inglaterra, daí eu ia conciliar faculdade com o inglês, tem programa lá que você continua cursando em outra faculdade, mas tem todo um problema de currículo, você tem que adequar as matérias, eu até quando eu voltei eu tive que rebolar de novo para recuperar as matérias que eu tinha perdido. Mas eu consegui me formar em 5 anos, mas foi uma experiência espetacular, porque, enfim, não tinha nem Estados Unidos nem Inglaterra, acabei parando em Portugal, e estudei por sete meses lá, em uma universidade muito boa, universidade do Porto. E aí fui morar sozinho, com 21 anos, conhecendo um monte de gente da Europa, do Brasil, e as aulas eram em inglês, porque tinha pessoas da Europa, tinham pessoas da Alemanha da Suíça, e aí eu viajei muito à Europa, uma época que tinha aquele, que o Euro estava ali entre 2,30 e 2,50, não tá o Euro de hoje de R$7,00, então deu para brincar um pouquinho, viajei bastante sozinho. Minha mãe quase infartando aqui no Rio de Janeiro, porque não tinha um WhatsApp, era tudo era tudo no SMS ou no e-mail, então eu fazia aquelas viagens de low-cost, eu tinha que dormir uma noite no aeroporto para pegar o avião 3 da manhã no dia seguinte. Então foi uma baita experiência. Isso eu recomendo para todo mundo, porque depois que você se forma, você não consegue fazer isso, por dois motivos. Porque você não tem aquele espírito de universitário que qualquer coisa é festa. Hoje em dia eu não durmo mais em saguão de aeroporto, na época eu dormia, e segundo, que hoje eu tenho um mês de férias. A faculdade na Europa, ela é diferente por isso, ela deixa, ela não te cobra presença, mas ela vai te arrochar na hora da prova. E aí eu passava lá nos aeroportos estudando, ficava lá no avião estudando, para quando eu tivesse que voltar e fazer a prova, fazia bem. Então assim, foi um período muito intenso da minha vida, foram sete meses, que eu tenho amigos do Brasil inteiro até hoje, você acaba se juntando com brasileiros lá, conheci muita coisa na Europa e também pude vivenciar uma universidade portuguesa, europeia, que tem uma questão totalmente diferente. Eu a achei bem mais difícil, lá em Portugal eles tem o chamado mestrado integrado. Você aqui no Brasil você faz cinco anos de engenharia, lá são quatro anos e o quinto ano é o que eles chamam de mestrado integrado. Eu acabei por conta de estar no sétimo período da UFRJ de engenharia elétrica, fui fazer as matérias, disciplinas, desse mestrado integrado e eram muito difíceis, então tive que estudar demais, mas foi uma experiência espetacular, que como a do Pedro II, foi assim cara, eu tenho que botar a cara, vamos fazer e não sabia o que que ia ser, mas hoje também me orgulho muito de ter, não de ter ido, mas de ter arriscado. Porque a gente antes de ir, eu não sabia como é que ia ser. Eu não sou prepotente pra falar eu sabia, não, eu não sabia nada. Assim, vou viajar porque é a hora que eu tenho, o que tiver que ser será. Então me orgulho de ter arriscado. Eu na época, um pouco antes eu estava estagiando, então estagiei, juntei meu dinheirinho, minha mãe não queria que eu fosse de jeito nenhum, minha mãe portuguesa raiz, “o que, meu filho 7 meses fora, não você é doido, não vou deixar”. Só que eu falei assim: mãe, eu vou pagar. Aí ela não teve como, “droga, o que eu vou fazer?” Já é maior de idade, paga as contas dele, tá Universidade pública, juntou o dinheiro, só posso aceitar. Mas aí meu pai me encorajou me deu maior força. Eu tinha feito um “intercambiozinho” um ano antes, mas foi de dois meses e meio em Vancouver no Canadá, pra aprender a falar inglês, também foi bem bacana, mas não se compara a essa experiência de morar sozinho, cozinhar, lavar roupa, num país diferente, tem que se preocupar com a saúde, com burocracia, eu cheguei a trabalhar lá em Portugal, eu vendia plano de internet, fui um fracasso total, foi um mês tentando vender lá, Nossa Senhora, eu não tenho tino para o comercial. E aí foi só um mês trabalhando nisso, ganhei uns “eurozinhos” lá que me ajudou a viajar. Quando eu estava no Canadá eu cheguei a trabalhar numa pizzaria, mas é mais fácil, você só tem que atender pegar o pedido e entregar. Ali não, eu tinha que bater de porta em porta das senhorinhas portuguesas, tentar vender um plano de TV a cabo e internet, nossa era difícil. Mas aí também ajuda você ficar desinibido, você vai crescendo também como pessoa, então a experiência engraçada também, é muito legal da minha vida.
40:03
P/1 - Cara incrível. Tudo de bom, uma experiência internacional, outra cultura, outros desafios, incrível. Uma curiosidade, como foi para Portugal, você se chegou ir atrás das raízes da família, você foi atrás de familiar?
R. Fui. Na época inclusive era uma época que foi 2008, 2009, tinha muita gente aqui do Brasil, da minha família, querendo ter a dupla cidadania. Eu já tinha, porque a minha mãe é portuguesa, então foi fácil para mim, mas o meu cunhado, por exemplo, eu tive que ir ao cartório de uma cidadezinha minúscula lá em Portugal, conseguir uma certidão do avô dele, aí eu me embrenhava lá em Portugal. Lá em Portugal tinha uns negócios interessante, que eram os aluguéis de carro low cost, então você alugava um carrinho, o carrinho vinha todo filmado de propaganda, mas você pagava baratinho, você podia rodar Portugal, era barato de carro lá. Então Portugal é um pouco maior que o Estado do Rio de Janeiro, tem umas Autopistas gigantescas lá, um espetáculo, então eu rodei muito interior. Fui na terra dos meus avós, bisavós, minha mãe é de Aveiro, os meus avós paternos são de Viseu, e aí fui lá conhecer. Teve gente que eu encontrei lá, tia avó, então assim, também foi muito legal reencontrar essas raízes que eu não tinha noção, eu só escutava a história dos meus pais.
41:38
P/1 - Cara, muito bom. Daí me fala, você voltou... Só uma curiosidade também que passou, você falou que só seis se formaram no final, tinha alguma mulher?
R - Tinha uma mulher. Não. Duas mulheres. As meninas são mais CDF’S. Quando começou dos 45, devia ter umas quatro cinco mulheres, mas dos 6 ali, tinham duas meninas, então a proporção de mulheres aumentou no final.
42:11
P/1 - Não, a pergunta é por causa do meio mesmo. Meio muito masculino da engenharia elétrica ou se tinha alguma mulher. Então a representatividade é... No final do Funil estava parecido, mas no começo era 60 para 5.
R - Eu acho que isso está mudando, eu acho que as mulheres estão cada vez mais soltas para escolher engenharia. Na época a única engenharia que tinha mais mulheres, era a Engenharia de Produção, a engenharia civil tinha um pouco, a química um pouquinho, a ambiental um pouquinho, mas você pegava elétrica, eletrônica e mecânica, era assim 90% de homens. Eu acredito que hoje isso tenha mudado, eu estou fazendo 11 anos, 11, 12 anos de formado, então eu acredito que tenha mudado. E eu torço para que... Eu acho que as mulheres dão uma vivência diferente onde elas estão, elas têm uma visão, uma pegada diferente, se a gente fica só com homem, é a visão só do homem, então a mulher dá uma visão, e aí cada um aprende com cada um, tanto o homem com a mulher, tanto a mulher com o homem.
43:23
P/1 - Não, com certeza isso deve ter mudado também, mas é que é engraçado ver as proporções, você não é um ancião, a gente tá falando de muito pouco tempo né. Me fala, como é que você vai parar em Furnas? Como que você... É concurso, como você descobre Furnas? Conta um pouquinho para gente aí como foi?
R - Essa história é boa. Eu volto de Portugal, no oitavo período da faculdade, tendo que correr atrás para recuperar as matérias que eu tinha atrasado, mas eu consigo, faço projeto final, e no meu último período da faculdade, ali no segundo semestre 2009. Furnas abre concurso público e eu particularmente, eu nunca quis trabalhar numa empresa concursada, uma empresa pública. Era mais perfil mesmo, eu tinha aquela visão de que ia ser uma coisa engessada, hoje eu descobri que não é, é bem dinâmica, mas eu tinha aquela visão tanto é que eu fui estudar inglês, fiz intercâmbio que eram coisas que encorpavam o currículo. Mas aí minha mãe virou, assim: poxa Felipe, Furnas é aqui do lado, Botafogo, olha você vai a pé. “Ah mãe, eu não sei. Tá bom, vou fazer essa prova.” E assim, duas coisas me ajudaram muito nessa prova. Primeiro que eu estava fresquinho, estava na faculdade, então eu sabia muito bem, e segundo que não existem muitos Engenheiros Eletricistas no mundo. E você pega Furnas, ela é uma empresa basicamente de engenharia elétrica. Tem outras coisas hoje que estão mudando, a parte financeira, parte econômica, jurídica, mas na época era, sei lá 70% do corpo de Furnas ou era engenheiro eletricista ou era técnico Engenheiro em Eletrotécnica. Então eu fiz a prova, eu fui muito bem, passei em primeiro lugar lá para minha vaga, e aí isso me trouxe uma questão, que ainda estava na faculdade, faltava sei lá, seis meses para eu me formar, eu tinha passado para Furnas. Eu pensei, “rapaz, se Furnas me chama amanhã eu não posso, porque eu ainda estou na faculdade.” E aí tem esse cronograma do concurso público, demora um pouquinho, então eu me formei, Furnas não tinha me chamado, e aí me formei, “o que eu faço agora? Não sei!” Aí eu fui fazer mestrado lá na UFRJ. Apliquei lá, passei mestrado engenharia elétrica, aí aconteceu uma coisa muito curiosa, porque eu estava naquela ansiedade de sair e trabalhar, “nossa, passei no concurso”, e aí fui para o mestrado e eu não sabia o que eu ia fazer no mestrado, o mestrado e ele te dar várias opções para você fazer a sua tese, o seu estudo, “eu não sei nem no que eu vou trabalhar lá em Furnas, eu vou me especializar num negócio aqui que talvez eu não utilize.” Então resolvi trancar o mestrado, e para esperar o telegrama de Furnas, eu fui trabalhar, e aí fiz um negócio também muito doido, mas também agora com uma segurança de que eu ia receber o telegrama, porque tinha passado em primeiro lugar, eu fui trabalhar numa consultoria de gestão empresarial. Que é uma empresa que se chamava na época INDG - Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial. E uma empresa de consultoria, participei do processo seletivo de Trainee, entrevista, dinâmica etc. Prova, passei e fui trabalhar. E aí foi uma época muito legal da minha vida, porque eu estava no seguinte sentido. Olha, eu estou trabalhando aqui, eu gosto daqui, mas quando chegar o telegrama, eu vou trabalhar em Furnas. E essa consultoria me mandava para tudo quanto é lugar, então eu fiz consultoria em Mato Grosso, em Belo Horizonte, aqui no Rio de Janeiro, em empresa de educação, fiz consultoria para Globo e aquilo é muito legal, para o cara que só tinha estudado engenharia elétrica, você ver como é que é um estúdio de gravação, você ver como é uma Secretaria de Educação, isso vai abrindo a mente demais. E só que eu estava gostando demais, e aí quando chegou o telegrama, eu falei: rapaz, o que eu faço agora? Mas aí na época a parte conservadora falou mais alto, o salário era um pouco melhor em Furnas, e eu ia ter uma certa estabilidade, porque era concurso público, mas foi uma decisão difícil, porque eu estava gostando muito. Quando você trabalha solto, com aquilo que você gosta, você impreterivelmente vai bem. Eu era muito bem avaliado, não estava sob pressão, estava gostando, mas eu saí. Sai, fui para Furnas, entrei em Furnas em 17 de janeiro de 2011, mas no dia 16, mentira, no dia 16 não, no dia 10 de janeiro de 2011, aconteceu a coisa mais impactante na minha vida. Eu tinha recebido o telegrama ali em dezembro para me apresentar no mês seguinte, aí eu saí do meu emprego da Consultoria, e estava ali esperando pronto para entrar em Furnas em janeiro. A minha data de admissão era no dia 11, dia 11 de janeiro estava marcado para tomar posse em Furnas e começar a trabalhar. No dia 10 de janeiro de 2011, eu estou jogando futebol com os amigos, aqui nos bombeiros, tem uma quadra aqui de salão no Humaitá, estou jogando bola, rapaz, o goleiro lançou a bola para mim, eu fui ajeitar a bola no peito, quando você vai ajeitar a bola no peito, você abre os braços né, para não encostar com a mão na bola, só que eu fui dar aquela ajeitada já para matar a bola para cá e já ajeitar ela para frente, para arrancar pra chutar. Só que eu estava exatamente em cima de uma poça, uma pocinha de água, deu tudo errado, no que eu fiz isso para ajeitar a bola e dei arrancada para correr, essa arrancada que eu dei, eu dei em cima da poça e eu fui de cara no chão, como eu estava com os braços abertos eu não consegui fazer, então eu fui de cara. E aí foi uma catástrofe, porque bateu aqui, foi aqui, já saíram dois dentes na hora e aí abriu a boca, foi horrível. A minha sorte é que estava no bombeiro, então já sai de ambulância dali e fui para onde? Fui pro Miguel Couto, que era o hospital onde a minha mãe trabalhava. Chegando lá, costura boca, dente pra lá, dente pra cá, muito sangue, volta para casa.
No dia seguinte, que era o que? Era minha posse em Furnas, eu desesperado, eu vou perder a posse, e aí eu entrei em contato desesperado, falando com alguns colegas, e aí Furnas foi super compreensiva... Não a gente sabe, foi um acidente, a gente vai prorrogar a posse dele, tá doido! Beleza, eu fiquei mais tranquilo. E aí eu fui para o Copa D'Or que é o hospital que tem ali na zona sul de Botafogo, no Rio de Janeiro e fui fazer uma tomografia, e aí eu descobri, a tomografia é bem impactante, porque eu bati aqui no chão, mas eu quebrei todos os ossos aqui por dentro, então tive que fazer uma cirurgia urgente. Aí no dia seguinte eu já estava internado. Então uma cirurgia complicada, porque abre a face, bota um monte de pino, resumo da ópera. Eu tenho um monte de pino e placa aqui, eu tenho duas próteses de dente, aí o processo de recuperação é um saco, porque eu acho que eu via mais o dentista do que a minha mãe. Mas foi penoso, mas duas coisas assim impactantes, foi o momento que eu vi aquela tomografia, “você quebrou vários ossos”, e eu fiz, “meu Deus!” E a cirurgia foi bem complicada, mas enfim, deu tudo certo e Furnas foi muito acolhedora nesse sentido, ela postergou a minha data de admissão, postergou uma semana, e aí eu fui lá em Furnas, só assinei e já entrei de licença médica mais 15 dias, então eu fui lá assinei, eu estava no pós-operatório, fui lá assinei e voltei, e aí foi tudo muito tranquilo. Então para mim tem um significado muito especial, porque o médico falou assim para mim, “Felipe você deu azar, porque você ajeitou a bola em cima de uma poça, no futebol de salão, se você estivesse jogando no society, na grama, na areia, não tinha sido nada, mas no cimento. Agora você deu sorte também, porque você bateu aqui né, se você bate de repente aqui, talvez poderia ter dado algum traumatismo craniano, negócio poderia ser bem pior.” Então naquele momento, e aí eu acho que todo mundo passa por isso na vida alguma vez, você fala assim, “rapaz, eu podia ter morrido”, e você começa a pensar, como é que a vida é um sopro, aquele tipo de coisa. Então eu por algum momento ali eu tive uns 6 meses, que eu estava vivendo nessa coisa, “caramba, podia ter morrido, nada disso aqui estaria acontecendo”. Mas aí depois você volta para o eixo, e isso tudo é aprendizado, você começa a dar valor mais para as pessoas, mais para as ocasiões, você não economiza tanto dinheiro, porque você sabe que você pode ir embora amanhã. Isso tudo faz parte do aprendizado. Então essa foi a minha entrada em Furnas. Você vê, eu não queria mais a minha mãe conversou comigo, eu dei sorte que eu estava na faculdade com tudo fresquinho, tem pouco engenheiro eletricista, aí eu vou, antes de entrar eu sofro um acidente, um acidente grave, Furnas me ajuda, então cenário muito doido, mas deu tudo certo no final e hoje eu conto essa história com muita felicidade.
53:15
P/1 - Nossa Mãe de Deus né. Cara, e assim, com momentos de crueldade né. Um dia antes é sacanagem né bicho. Bom, pelo jeito tá tudo bem, a recuperação, quando você passa no aeroporto toca o sininho, é isso?
R - Não toca, porque são plaquinhas de titânio, mas eu já pedi uma vez para o cara passar aqui, aí tocou, ele aumentou a sensibilidade lá e tocou.
53:49
P/1 - Cara, e me fala. Daí você entrou em que área, qual função, conta um pouco aí esse começo, passado o trauma aí, isso foi em 2011, você falou. São 10 anos atrás me conta um pouco aí o que rolou? Primeiro trabalho lá...
R - Eu tinha 24 anos, então entrei na empresa logo depois de me formar e eu tinha feito concurso, pra minha vaga, era inspeção de equipamento, eu gostava muito de ir à fábrica, eu já tinha estagiado com isso e fazer ensaio nos equipamentos. Mas concurso público tem dessas coisas, então me colocaram lá numa área que não tinha muito a ver com isso, fui trabalhar na área de licitações de suprimentos. E naquela época, para mim tudo é lucro né, poxa eu estou entrando aqui numa empresa bacana, espetacular, depois de ter sofrido um acidente, vamos tocar não vou reclamar não. E foi legal que eu aprendi coisa nova, e aprendi licitação, Direito Administrativo, tinha uma certa emoção, fazer pregão eletrônico e tal, concorrência e conheci gente diferente, então foi bem bacana. Conheci ótimas pessoas, amizades que eu tenho até hoje em Furnas, só que em determinado momento eu falei assim, poxa eu queria trabalhar com a minha formação, engenharia elétrica, eu estava trabalhando numa parte mais administrativa. Lá para 2012, 2013, hoje Furnas está muito melhor, tem programa de mobilidade melhores, recrutamento e seleção melhores, mas naquela ocasião era tudo um pouco mais engessado, a gente até brincava que existem várias Furnas dentro de Furnas. E então era complicado tratar essa situação lá, e aí aconteceu um negócio, que me marcou que foi o seguinte, eu falei assim poxa, o meu gerente na época falou para mim, “eu não consigo te liberar agora, porque para você ir para outra área, porque eu estou precisando de gente, mas vamos esperar, não sei o que e tal”. Eu falei assim, “bom, então eu vou estudar para matar essa minha impaciência, essa minha ansiedade eu vou estudar”. E aí eu passei para o mestrado de graça, que era o mestrado de deficiência energética na UFRJ, e eu não pude cursar esse mestrado, e isso me deixou extremamente decepcionado, eu vou contar essa história, são pessoas que já saíram de Furnas, mas pessoas com mentalidade antiga que achavam que se eu fizesse esse mestrado, eu poderia ser alguém muito bom, ou eu poderia ser um mau exemplo para outras pessoas do setor. Então eles não me permitiram que eu fizesse, era um mestrado gratuito, eu passei, fiz a seleção. Eu jamais imaginava que eu fosse ser impedido de fazer esse mestrado. Logicamente ele não tinha diretamente a ver com área de suprimentos, mas tinha a ver com a minha formação e com a área fim da empresa, que era em energia. Mas na época, as pessoas que estavam acima de mim, não me permitiram que eu fizesse, meu gerente e meu superintendente. Essas pessoas já saíram de Furnas, a empresa tá mais oxigenada, as pessoas estão com outro conhecimento, Furnas hoje é só inovação, mas naquela época não era assim e olha como é que as coisas mudaram em 9 e 10 anos. E aquilo eu fiquei muito triste, se eu disser que foi tranquilo, não foi, fiquei decepcionado demais, pensei em sair da empresa. E aí eu tive uma válvula de escape que foi mais uma vez uma decisão, da decisão eu me orgulho. Eu falei assim: já que eu estou aqui trabalhando com licitações, direito Administrativo, então assim, eu sempre fui um cara que gostei muito de saber das notícias, de estar por dentro de tudo, ansioso por o conhecimento, e a faculdade de engenharia elétrica, o espectro dela é muito pequeno, porque você estuda coisas muito específicas, você faz umas contas de integral e derivada, que é legal, mas isso não te mostra o mundo. E aí eu decidi voltar e fazer vestibular para direito, e aí eu passei para direito, ainda estava com um pouquinho do vestibular fresco na cabeça, estudei um pouquinho, passei. Passei pra Direito na UNIRIO. É uma faculdade pública e que as aulas são à noite, em Botafogo. Então eu morava em Botafogo, eu trabalhava em Botafogo e a minha faculdade à noite era em Botafogo. E aí foram 5 anos do direito, e olha, para quem aguentou a engenharia elétrica por cinco anos, o direito para mim era um espetáculo, eram debates legais, eram coisas que eu via na TV, no jornal Nacional, polêmicas, então eu adorei a faculdade. Eu nunca cheguei a exercer Direito, mas aquilo foi muito importante para eu conhecer pessoas que eram mais novas do que eu, então eu estava ali com 26 anos e entrei em uma faculdade com a molecada, a grande maioria de 18, tinha gente mais velha, mas a grande maioria de 18, então eu interagi com outra geração, tenho grandes amigos hoje do direito, fiz uma segunda faculdade, o que é ótimo para o currículo, mas me engrandeceu muito na questão da argumentação, na questão do conhecimento, porque a engenharia elétrica não me dava isso. E eu pude também aplicar, muitos conhecimentos do direito em Furnas, porque apesar de eu ser formado em engenharia elétrica, você sempre tem que fazer um parecer, sempre tem que argumentar, você tem que mandar um e-mail, assim assado, e aquilo vai te encorpando de argumentação, de embasamento, e de postura. Então foi muito importante para mim. Foram 5 anos na época achava que ia demorar, passa voando 5 anos.
59:43
P/1 - Então você ficou na mesma área de suprimentos, essa parte mais administrativa durante cinco anos?
R. Mais ou menos. Eu fiquei mais um aninho só, porque aí surgiu um recrutamento interno lá de uma nova área que estava surgindo, que era diretoria de novos negócios, e abriu uma vaga para assessoria de planejamento estratégico, que era uma coisa que eu tinha trabalhado muito quando eu estava naquela consultoria antes de trabalhar em Furnas. E como eu já tinha estagnado um pouco ali na área de licitações, de compras, eu já tinha aprendido de tudo, então eu fui selecionado para esse recrutamento e fui para essa área. E aí tive uma certa decepção nessa área também, porque eu descobri o seguinte, qual é a função do planejamento estratégico? É a gente discutir com todas as áreas da empresa, ver quais são os negócios que a gente pode investir, qual é a estratégia da empresa, onde é que a gente tem que focar, o que a gente tem que fazer, vamos mapear indicadores, é um negócio bem bacana, que dá direcionamento para empresa. Mas a empresa ela é um pouco engessada, por conta de ser uma controlada da Eletrobrás, a Eletrobrás é o acionista majoritário, então acaba que a gente tem que seguir majoritariamente os interesses da Eletrobrás, então o planejamento estratégico ficava um pouco engessado. Hoje ele conseguiu se desgarrar mais, tem outras ações internas que a gente consegue fazer, mas me decepcionei um pouco nessa época, faz parte, eu como jovem né, era muito ansioso para mudar o mundo e quando você vê a oportunidade de melhoria, você fala assim, eu quero é aparecer aqui, porque dá para fazer muita coisa, mas não dava, você tem que ter muita calma. E aí nessa área, eu estava trabalhando com planejamento estratégico, fazendo a faculdade de direito, e a faculdade de direito eu levava bem, porque eu não tinha aquela pretensão de ser um jurista, eu gostava, eu acho que eu gostava de estudar direito, mas eu tinha na minha cabeça que eu não ia sair de Furnas. Eu já tinha passado por bons e maus bocados ali na questão de trocar de setor, não pode fazer o curso e tal, então eu já, agora eu vou continuar, agora não vou embora, aqui eu vou tentar mudar essa empresa. E aí quando eu estava nessa assessoria de planejamento estratégico, depois eu acho que eu fiquei uns 3 anos lá. Aí eu fui para operação da empresa, que é uma outra empresa, porque Furnas ela tem vários empreendimentos, linhas transmissão, subestações, usinas e aquilo ali tem que correr nos eixos todo dia, 24 horas por dia, sem parar, e tem uma galera grande, é mais ou menos 60% da empresa, que tá tocando isso de uma forma muito responsável. Então fui trabalhar agora como engenheiro eletricista, tive que aprender algumas coisas que eu tinha esquecido, porque são 5, 6 anos, você fica em outras áreas, administrativo, planejamento estratégico, você perde um pouco, mais aí voltei, aí fui parar onde eu estou hoje que é na gerência de operação do sistema, que é a operação em si. É o pulmão da empresa, ali que tá rodando, se você for hoje lá, na nossa sala de controle 3 da manhã, o pessoal tá lá, os operadores vendo o sistema, o que está acontecendo, vendo os alarmes, sai equipamento tal, remaneja a carga para cá, abre disjuntor ali, é um negócio que tá rolando 24 horas por dia, 365 dias por semana. Então é uma área muito bacana.
1:03:12
P/1 - Aproveitar cara, porque é assim, quando eu fico pensando engenharia elétrica na área de operação, eu já fico pensando na ciência do negócio, funcionando as linhas de transmissão, como funciona, como que trás de Furnas até os grandes centros, sei lá, uma parte mesmo técnica de ciência, assim sabe, desde o material que se projeta para colocar ali, até esse funcionamento do dia a dia, então conta pouco assim, como que é essa estrutura assim, conta um pouco desse seu dia a dia de trabalho, conta para mim?
R. Pois é, lá em Furnas você pode trabalhar como Engenheiro, fazendo projetos, são muito importantes, que é a construção de novos empreendimentos, linhas, subestações, são coisas que vão engrandecer o parque de geração e transmissão do Brasil. Você pode trabalhar com retrofit, você pode trabalhar com planejamento e você pode trabalhar na operação no dia a dia, e aí no dia a dia você tem uma sensação, que eu só fui ter quando eu passei a trabalhar na operação. Você se sente muito responsável pelo fornecimento de energia do país, Furnas está em 16 estados, têm linha de transmissão de Furnas cruzando sudeste, sul, centro-oeste, linhas que se funcionarem mal, se desligarem podem apagar um estado. Então você tem uma adrenalina ali por trás, e você tem toda uma operação muito cautelosa, tanto de manutenção preventiva, manutenção corretiva, de operação, ela é um organismo vivo ali, ela é como se fosse uma emergência de um hospital, não pode parar é direto, tendo sempre que corrigir, é um negócio que eu não tinha noção, fui ter e aí tomei muito gosto. Porque aí eu conheci a real grandeza de Furnas, Furnas ela é muito importante nesse sentido, e a gente fica um pouco sentido, porque às vezes a gente não sente esse reconhecimento na sociedade, porque é um tema muito, é muito complexo. As pessoas veem a eletricidade chegando na tomada, e elas não sabem de quem é que produz, como é que chega ali, enfim, e só vão sentir falta, só vão reclamar na hora que não que não tem, na hora que acaba, então assim, a gente tá fornecendo energia, para o trânsito, para os hospitais, para as indústrias, então é muito importante e não pode parar. E aí junto com outras grandes empresas do setor, a gente precisa coordenar isso tudo porque, os equipamentos têm suas redundâncias, mas elas podem falhar, e se elas falharem, outros equipamentos têm que tomar a frente, para impedir que haja um desabastecimento. O Brasil ele é conhecido por ser um dos sistemas de transmissão mais avançados do mundo, o Brasil é do tamanho da Europa, e a gente tem linhas transmissão de 1.000, 2.000 km, coisas impressionantes, e isso tudo, são desafios da engenharia, e nós somos pioneiros, Furnas, por exemplo, construiu a primeira linha de transmissão de corrente contínua, que a linha que traz energia de Foz do Iguaçu, lá de Itaipu pro Sudeste, para São Paulo, uma linha de centenas de quilômetros e você operar uma linha de centenas de quilômetros, quando dá um problema, você não sabe em qual torre tá dando, se é no interior do Paraná, se é no interior de São Paulo, é muito difícil você operar, ter essa operação debaixo de você, tem uma responsabilidade muito grande. Porque qualquer problema que de, é o presidente da república ligando para o seu diretor, então se por um lado é uma responsabilidade muito grande, por outro dá para gente um senso, uma sensação de participação do dia a dia do país muito grande. Eu gosto de exemplificar, a minha mulher é médica, então às vezes ela chega aqui com uma caixa de bombom, e fala: poxa, minha paciente me deu! Aí eu falo assim para ela: poxa, que bacana! Olha, você tem feedback de alguém que você ajudou a curar. E eu trabalhando numa empresa de engenharia, não tenho, ninguém chega na rua para mim e fala assim: pô Felipe, obrigado! Eu estou com luz em casa. Então eu preciso criar dentro de mim esse senso de feedback da sociedade, e eu acho que trabalhando na operação de Furnas, você tem um pouco disso, principalmente nas áreas regionais de Furnas, que você lidar com pessoas da região, que viram aquelas usinas, subestações crescerem, gerar emprego em volta, e como elas veem aquilo no dia a dia, elas têm mais noção de que, olha daqui sai energia para alimentar o Sudeste, então eles têm mais um pouco... A gente vive numa cidade grande que é tudo muito corrido e a gente esquece das coisas básicas, por exemplo, que são engenharia elétrica, saúde, a gente só vai reclamar na hora que tem algum problema, então é trabalhar na operação é um orgulho muito grande para mim, e a operação me deu outras oportunidades em Furnas, que eu já conto na sequência, não sei se você tem alguma pergunta.
1:08:37
P/1 - Eu vou te cortar na verdade, porque assim, obviamente uma responsabilidade enorme né, primeiro se tem ou se há uma área que trabalha com metas, se tem essa coisa de meta, não sei o que, porque me parece um pouco diferente a lógica, justamente por isso que você falou. E eu queria que você contasse um causo, descrevesse uma situação que você viveu lá dentro, por exemplo, de um desafio, uma pane, não sei, um causo que tenha sido fora do comum ali?
R - A gente é escrutinado diariamente lá na operação, porque dois grandes indicadores da operação, é a disponibilidade de transmissão, e a disponibilidade de geração. O que é isso basicamente, é quantos por cento os nossos equipamentos estão disponíveis para o sistema elétrico, e Furnas tem indicadores muito bons de 99,8%, isso é calculado ao longo do ano, então se o equipamento lá, você pega as horas do ano, ele ficou fora X horas, daí você tira, e faz o “calculuzinho” de cabeça. Tem os indicadores de parcela variável, parcela variável é o seguinte: na transmissão por exemplo, Furnas ela é remunerada numa linha de transmissão, por dar essa linha de transmissão como disponível para o sistema elétrico, se por algum acaso tem algum problema nessa linha de transmissão e essa linha fica fora, é descontado da nossa receita, isso que a gente chama de parcela variável, a gente tá perdendo receita, isso é ruim pro resultado financeiro da empresa, obviamente. Então a gente tem essa responsabilidade, não só de operação, mas financeira também, e isso vai dar no final do ano, o resultado dos indicadores para, por exemplo, para a participação de lucros dos empregados, o pagamento de dividendos da Eletrobrás e a união. Então quando a gente vê lá, “olha, a Eletrobrás pagou tantos Bilhões de dividendos à União”, a gente se sente parte disso... Olha foi por causa do nosso trabalho árduo ali, de manter o sistema em pé sempre, que a gente conseguiu dar o resultado operacional, que se converteu no resultado financeiro, e que agora se converte num dividendo que vai para União, e a união pode usar esse dividendo como ela quiser, em saúde, educação e segurança. Então é aquela história que eu estava te contando, a gente precisa tirar esse senso de feedback da sociedade, para ver como é que é a importância do nosso trabalho. Em relação a causos assim na operação, volta e meia a gente tem algumas, não digo catástrofe, mas alguns acontecimentos relevantes, então a gente já teve... Eu não gosto de falar de nenhum específico, mas uma marca grande de Furnas, a gente tem um programa de emergência, de quando cai linhas de transmissão, a gente tem uma recuperação muito rápida. Então por exemplo, existem corredores de transmissão que são muito importantes no país, que a energia saindo do Norte, vindo pro centro-oeste, pro sudeste, do sul pro sudeste e um conjunto de linhas desse, ele é muito importante, se ele tem confiabilidade, então por exemplo, as linhas, geralmente elas estão sempre em circuito duplo, se um circuito sair, “olha, caiu um raio circuito, deu algum defeito no circuito”. Você tem outro como o backup, isso é super comum, é raro você ter um circuito simples, e nesses casos tem. Só que existem situações, como por exemplo, catástrofes climáticas, e a gente tem tido isso nos últimos anos, coisas fora do comum, que conseguem tirar fora todos os dois circuitos, e aí você impede esse corredor de transmissão. E aí, uma coisa é a linha sair porque caiu um raio, você vai lá e tenta restabelecer ela minutos depois, outra coisa é ela sair, porque sete torres tombaram, sete torres tombaram, você não constrói uma torre e um dia. Mas Furnas constrói uma torre um dia, a gente manda uma equipe para lá, e aí é equipe assim, é uma megaoperação. Tem operador, tem médico, tem enfermeiro, tem profissional de segurança e saúde, de educação física, tem psicólogo. Vai todo mundo para o interior do centro-oeste, para botar... E aí logística de alimentação, de tenda, é um troço assim, impressionante, e aí quando acontece isso, a Aneel, geralmente ela te dá um determinado número de dias para você recompor aquelas linhas. Então por exemplo, caíram 7 torres, você tem 15 dias para recompor essas 7 torres, geralmente Furnas bate recorde, e sempre recompõe ali com 5 dias antes. Então a gente apesar de pagar mais hora extra, de gastar mais dinheiro com essa logística, a gente tem esse senso de importância, de entregar para o sistema elétrico de volta uma boa operação, porque tem enquanto isso, o ONS que é o Operador Nacional Sistema, está remanejando carga daqui para ali, para não deixar nenhuma cidade, nenhum estado em complicação, sem energia. Então quando acontece uma coisa dessas, queda de torre, é muito ruim, mas logo depois, assim duas semanas, é muito bom, porque dá um baita orgulho da gente ver, que gente sempre se supera, e sempre com tanta dificuldade, a gente faz cada trabalho, provavelmente no Museu da Pessoa vai ter reportagem sobre isso, matéria sobre isso e é espetacular, é de arrepiar, porque os caras estão a 30m de altura, botando rebite numa linha de transmissão, filmando e colocando em pé uma torre, para o bem da transmissão de Energia Elétrica do Brasil. Então é emocionante, e eu tenho certeza de que todos os empregados de Furnas são muito orgulhosos disso, que começa na operação, mas tem a participação da empresa como um todo.
1:14:44
P/1 - No caso é você que organiza essa gestão, de vai uma tropa inteira pro campo, como é que funciona, tem uma estrutura? É que é óbvio você já tem um histórico, já tem uma memória do que tem que ser acionado tal, mas no caso ali, caiu sete torres, ligaram para você na madrugada, isso? Levanta, fala: putz! Calma! já liga para fulano, como que é isso aí?
R - Na verdade não sou eu não. Eu participo porque eu estou ali no na operação, mas a gente já tem um procedimento bem estruturado, dessa logística toda, porque é uma logística muito complexa. Não adianta eu mandar, os operadores estarem lá, eu preciso de caminhão, guindaste, preciso de muita coisa. Os caras vão passar 10 dias ali, no meio do nada, a gente precisa da estrutura. Então existe um procedimento muito bem ajeitado em Furnas, para quando isso acontece. Mas só para te dar noção como é que funciona, estamos lá três da manhã na sala de controle, vendo o sistema, aí soa um alarme, a linha tal saiu, tá! Vamos tentar religar, não consegue, aí existem alguns dispositivos de proteção que conseguem dar noção do que foi esse defeito, a gente vê também como é que estão as condições climáticas. Olha, tem raio, tem vento no local, não sei o que, a gente consegue fazer uma inspeção lá in loco, de helicóptero a pé, e a gente vê. Olha, na verdade foram tantas torres destruídas, então assim, no dia seguinte a gente já sabe o que aconteceu, e aí para outras manutenções que a gente estava fazendo, a gente remaneja equipe de tudo quanto é canto do Brasil, porque Furnas tem equipe em São Paulo, em Minas, no Mato Grosso, no Sul. Então são pessoas especializadas de cada canto de Furnas, que se unem para restabelecer essas torres, não sou eu que comando isso, mas eu participo, e eu chego a tramitar as intervenções com o operador nacional do sistema, e aí você sente aquela adrenalina e aquela importância de retornar com o sistema mais rápido possível, então é difícil dizer que não é legal, mas é legal, quando acontece isso, e algum amigo seu te pergunta, “e ai Felipe, o que houve lá?” E você representante da empresa “falar não caiu…”
1:17:12
P/1 – Mas você já foi pra campo, já foi para esses perrengues, já foi pra esses salvamentos, você já fez isso também?
R - Eu já fui a campo, para algum salvamento desses especificamente, nunca fui, mas indo à campo, você vê que os caras são muito guerreiros, porque é muito fácil a gente falar, a gente tá aqui no nosso home office, com toda nossa infraestrutura aqui, e o cara quando em uma emergência, ele tem que dar um beijo na mulher, um beijo nos filhos e falar: volto daqui a 15 dias. Ele larga tudo pela empresa, tudo pelo país, isso é muito emblemático, não é qualquer um que tem esse altruísmo. É um trabalho assim, emocionante, os caras fazem vídeos lá de cima, falo assim: rapaz o cara tá a 30 metros de altura, não tem vertigem não?! É um trabalho muito complexo, esses caras tem um acompanhamento psicológico constante, porque é muito específico, e é muito importante para empresa, a gente precisa tá com os operadores assim ó, eles fazem um acompanhamento físico também, os caras são corredores, a gente tinha um programa de corridas, parou um pouco agora na pandemia, mas os nossos bons corredores de Furnas, são todos operadores aí de manutenção, porque o cara ele precisa ter um condicionamento físico bom, mas também esse condicionamento físico bom dá um psicológico bom para ele nessas horas difíceis.
1:18:44
P/1 - Me fala uma coisa, em relação à inovação tecnológica na sua área assim, como é essa conversa, desde o desenvolvimento técnico, é mais pra área de gestão que te pega, como que… Vocês acabaram de mudar inclusive né. E aí, me conta um pouco aí a questão tecnológica da área de operação, me conta o que vai melhorar, por exemplo, vai ter 5g, vai mudar alguma coisa para vocês? Conta um pouquinho aí…
R - Acho que no mundo da engenharia a gente tá sempre tendo que se reinventar. Eu posso falar especificamente de alguns equipamentos do setor elétrico, transformador, linha, isso não mudou muita coisa ao longo do tempo, isso está relativamente consolidado, mas os sistemas de proteção, de telecomunicação, evoluíram bastante, então hoje a gente tem algumas subestações que são telecomandadas, a gente tem câmeras ali viradas para a subestação, por exemplo, a gente vai fazer uma manobra, vai fazer uma abertura de uma chave seccionadora, então a câmera consegue identificar se está fazendo. Antigamente tinha que ter uma pessoa lá para ver, então a evolução vai vindo, na questão de proteção também, evoluiu bastante. Mas Furnas, ela sempre foi muito pioneira na evolução tecnológica, a Eletronuclear que é a empresa de energia nuclear do grupo Eletrobrás, ela era Furnas, ela era uma diretoria de Furnas, então foi Furnas que construiu as primeiras usinas nucleares do Brasil. Furnas também construiu essa grande linha de corrente contínua que traz energia, eu considero a linha mais importante do país, traz energia de Foz pra São Paulo. É um corredor de transmissão muito importante, pro maior Pib do país que é o Sudeste. Então Furnas sempre foi muito pioneira, a gente tem em Jacarepaguá, um negócio muito legal, que o modelo reduzido. O que é o modelo reduzido? A gente faz uma certa maquete, maquete é até um nome feio de falar, porque é um troço muito mais complexo, grande, mas é um modelo reduzido de uma usina, por exemplo. E aí a gente consegue ver toda dinâmica da barragem em miniatura, consegue mensurar pressão em todos os pontos da barragem, e a gente é contratado por outras empresas do setor elétrico, para fazer esses estudos. A gente tem, por exemplo, lá em Goiás, o túnel do vento agora, que a gente simula a dinâmica do vento para energia eólica, então a gente está sempre evoluindo na pesquisa e desenvolvimento. Na operação a gente acaba participando também, então eu te dou exemplo... Eu agora estou como coordenador técnico de três projetos bacanas, relacionados à operação e à covid, então só para você ter uma ideia de como é legal. Um dos projetos é: os operadores vão usar uma pulseira inteligente, uma smartband, que ela mede basicamente a tua movimentação e o teu batimento cardíaco, só. Só que isso, existe um sistema inteligente por trás, que consegue identificar, “pô Danilo, você não dormiu bem hoje, teu batimento está acelerado”. Então, existe um algoritmo que fala assim: eu acho que você pode estar no estado pré infeccioso. Então não vai trabalhar, fica em casa. E a gente já teve casos de pessoas que estão experimentando, que tiveram esse alerta da pulseira e era covid, então evitou de o cara ir para o campo, e de repente contaminar mais alguém, então esse projeto é muito legal. O outro é um armário que a gente está construindo, que a gente coloca os EPIs ali dentro, capacete, bota, luva, fecha esse armário e luzes ultravioleta vão esterilizar esses EPIs. E aí esterilização de fungos e bactérias, e inclusive o vírus da covid. E o outro é um esterilizador, esse particularmente é o que eu mais gosto, é um esterilizador portátil do meio ambiente, é uma maletinha, uma maleta que você deixa no canto da sala, essa maleta suga o ar por um lado, o ar passa dentro de uma câmara com luz ultravioleta, e sai do outro lado esterilizada. Então assim, são projetos bacanas, que melhoram a segurança e a saúde na operação, e que vão servir aí a longo prazo, não só para o vírus da covid, mas para outros. E a operação está participando, um negócio que eu nem imaginava participar, relacionada à saúde, mas a gente vê como é que é importante, as nossas salas de controle, elas são tripuladas 24 horas por dia, sete dias por semana. Então se a gente tem vários operadores ali com covid, a gente fica sem operador, e a gente não pode. Então a operação tem que ser muito cuidadosa também nesse sentido da saúde.
1:23:55
P/1 - Cara, incrível! Foi de ficção científica. Me fala uma coisa, na sua trajetória aí, tem algum funcionário, parceiros aí que você gostaria de deixar registrado, que você se lembra, enfim, inclusive indicações aqui para o próprio projeto, pessoas que você fala, cara entrevista fulano, por causa disso disso, disso, disso, você tem alguém?
R – Tenho! Mas antes pra eu contextualizar eu tenho que terminar o fim da história ali, na minha trajetória da operação, que não acabou. Eu estou mais ou menos há seis anos na operação, e aí eu pude fazer o meu mestrado que eu tanto quis, fiz um mestrado em tecnologia no CEFET, que foi tranquilo, foi bem bacana. Terminei a minha faculdade de direito e também fiz uma outra coisa, que é uma história de vida assim, é uma experiência espetacular, que eu acho que vale mais do que o mestrado. Em 2010 o governo editou uma lei, que ele permitia que empregados pudessem participar do conselho de administração da companhia. Conselho de Administração, é o colegiado que está acima da diretoria, então diretoria toma as ações administrativas, e o conselho, ele dá o direcionamento estratégico, ele respalda algumas ações, ele aprova isso, aprova aquilo, e eu pude participar do Conselho de administração através das eleições, então existe um processo eleitoral que eu me candidato, eu tenho que cumprir uma série de requisitos, de formação, de tempo de casa, de notório conhecimento. Como eu tinha um mestrado, como era engenheiro eletricista, eu tinha todos esses requisitos, mas aí a partir do momento que eu faço, participo desse processo eleitoral, eu começo a interagir com os três mil empregados de Furnas. Antes eu estava ali no meu mundo dos 1.000 empregados do escritório central em Botafogo, e agora eu vou conhecer os 3.000 empregados de Furnas em cada canto do país. E aí isso vai de paralelo também com a evolução dos smartphones, do WhatsApp, do Facebook, então hoje eu conheço muita gente, do Brasil inteiro, então isso é muito legal. Hoje Furnas é onde eu quero trabalhar mais 30, 40 anos, porque eu conheço todo mundo e eu tenho uma relação muito bacana, e é muito legal você trocar ideia com um cara do interior de Minas, do interior de Goiás, do interior de São Paulo, de São Paulo, porque você vê que a realidade é diferente, as diferenças são diferentes, a empresa diferente, e isso me deu muito esse alcance. E participando do Conselho de administração, eu pude participar por três anos e meio, olha passa de tudo lá, passa de engenharia elétrica, contabilidade, matéria jurídica, governança e você tem que se virar nos 30, tem que estudar. Então eu virei muito a noite estudando matérias, para me posicionar e foi um grande aprendizado, e eu passo a cada vez mais conhecer a empresa. Então hoje eu tenho 10 anos de Furnas, mas se eu não tivesse participado do conselho de administração, se eu não tivesse saído da diretoria de gestão, de suprimentos, ido para diretora de novos negócios e planejamento estratégico, ido principalmente para operação, eu não teria conhecido tanto a empresa como eu conheço hoje, eu acho que ainda falta tá. Mas eu já conheço bastante e tenho curiosidade agora é de conhecer mais detalhezinhos, Furnas ela é muito grande, ela age em vários setores, e está em tudo quanto é canto do país, mais a experiência no conselho administração, foi muito importante e o feedback que eu tive dos empregados, aí já na linha daquilo que a gente comentou, foi muito importante, porque eu fazia reuniões periódicas, explicava o que se passava, logicamente guardava as questões estratégicas e sigilosas, mas as pessoas até hoje conversam comigo no WhatsApp, “vem cá Felipe, como é que tá isso, como é que tá aquilo, me ajuda nisso”. E eu ajudo todo mundo, na verdade na maioria das vezes fazendo pontes, alguém tem algum problema, alguma dúvida, só que eu conheço outra pessoa que pode ajudar, eu coloco as duas para conversar, e isso me deixa... Isso é gratificante para mim, porque ao mesmo tempo em que essas pessoas depositam a confiança em mim, eu sei que eu estou ajudando a empresa. Então eu vou sair agora do conselho, do meu terceiro mandato, sai agora no dia 30 de abril, pra um colega meu, vai assumir o meu lugar, e é uma experiência Espetacular.
1:28:48
P/1 - Eu preciso entender melhor, o que é o conselho administrativo, às ações e até queria que você falasse um pouco das diferenças regionais, que você identifica, se puder?!
R. O Conselho de administração é um colegiado de seis pessoas, então é o presidente de Furnas, o presidente da Eletrobrás, um indicado do ministério de Minas e energia, um indicado do ministério da economia, o representante dos empregados e um representante do Ministério do planejamento, que também é economia. É um colegiado, é uma arena, que pelo estatuto vai decidir determinadas coisas, então, por exemplo, se eu comprar um lápis lá, isso não vai para o conselho de administração, mas se for um megaempreendimento, isso vai bater no conselho de administração, eu acabo também que... A participação do empregado no conselho de administração, ela é muito proveitosa para empresa, porque o empregado ele traz essa vivência de baixo, dos executivos que estão muitas vezes ali, preocupados com outras questões burocráticas e tal, e aí vem empregado, e conta alguma coisa de cultura da empresa, então assim, eu nos últimos anos eu ajudei muito, eu tive também ajuda do colegiado, de mudar algumas coisas na empresa, por exemplo, o recrutamento. Agora a gente faz recrutamento interno, para gerente, tem todo assessment, tem um processo seletivo, isso não existia, isso era indicação top down, e foi com muita conversa com o os diretores, com conselho para mostrar. Olha, é importante que a gente de perspectiva, que a gente de direcionamento para os empregados, porque senão o cara não vai se sentir fomentado a se especializar, estudar e isso tá mudando, então a cultura da empresa tá mudando, a gente tem uma dificuldade muito grande. Porque nós somos uma empresa pública e nós somos uma empresa principalmente de engenharia, uma empresa com muita inserção no interior, então naturalmente a gente tem uma visão conservadora e a gente precisa quebrar isso dia a dia, e a gente tá quebrando muito. A gente tá tendo vários projetos de inovação agora, tá tirando as pessoas da área de conforto, então Furnas como ela precisa fazer concurso público, se ela precisa alguém para uma vaga, ela tem delay muito grande, então se ela precisa hoje de um cara que saiba de machine learning, por exemplo, ela vai ter que formar esse cara dentro de Furnas. Ela não pode se dar ao luxo de demorar um ano, dois anos, para fazer o concurso, então os nossos desafios são grandes. Mas agora falando da questão das regionais…
1:31:38
P/1 - Felipe, sobre os conselhos ainda, você leva demandas, por exemplo, pressão salarial, você coloca isso no conselho, por exemplo? Sei lá, questões de segurança do trabalho, coisas que são bem do universo do Trabalhador assim, você coloca isso na pauta, é isso? Como se fosse uma ação de sindicato?
R - Na verdade existe um conflito de interesses entre o empregado e o conselheiro representante dos empregados. Então por exemplo, existem matérias, de reajuste salarial, de participação nos lucros, matérias relacionadas, por exemplo, ao plano de saúde, plano de previdência, que o conselheiro, representante dos empregados, ele não pode votar, porque ele tá em conflito, ele está participando das duas pontes. Mas nada impede, aliás, é muito importante isso que você falou, do conselheiro levar a visão dos empregados ao conselho, por exemplo, “olha, isso aqui precisa melhorar na questão da segurança e saúde”, e segurança e saúde é muito importante. A gente pode ter um acidente no campo e uma fatalidade levar a vida de um empregado de Furnas, então sim, várias pessoas conversam comigo, “Felipe, leva isso para o conselho”. Aí eu levo para o presidente da companhia, às vezes eu não preciso levar ao conselho, preciso levar pra algum diretor de específico, é um problema mais pontual, mas por estar no conselho eu tenho essa abertura, então todos os diretores também me escutam muito bem. Mas às vezes a gente precisa ser, mais enfático e efetivamente levar ao conselho, registrar em ata, para cobrar mesmo, porque eu compreendo o dia a dia dos diretores, dos conselheiros, que estão preocupados com bilhão, com o resultado, mas são essas pequenas coisas que vem de baixo, que ajudam a melhorar o clima da empresa, ajudam a mudar a cultura da empresa, e que no final vão resultar nesses bons resultados que Furnas apresenta.
1:33:43
P/1 - Nesses três anos que você foi Conselheiro, tem alguma situação marcante assim, que, alguma definição, reunião, alguma coisa que tenha sido marcante?
R - Olha, já aconteceu bastante coisa no conselho, então assim a gente passa por situações complicadas, então, por exemplo, eu já tive que receber Ministro de Estado como Conselheiro e às vezes eu gosto do cara, às vezes eu não gosto, mas eu tenho que estar lá recebendo, porque ali eu estou como representante de Furnas, ali não é o Felipe cidadão comum com opinião própria, ali eu sou representante de Furnas. Uma ocasião que me causou bastante felicidade, foi quando Furnas premiada pelo Ministério do Planejamento, tirando nota 10 aí no indicador que se chama igcest, indicador de governança das CEST, que é um órgão do Ministério do planejamento, agora Ministério da economia, então Furnas alcançou essa nota máxima em governança. E aí eu pude ir lá em Brasília, receber o prêmio com outros representantes da empresa, mas foi muito bacana assim, dá um orgulho de você ver que é um indicador, mas por trás desse indicador, teve uma série de pequenas melhorias ali, que elas só vão ser refletidas daqui a sei lá, 5, 10 anos, com a melhoria da governança, com a melhoria da seleção das pessoas, com a melhoria do clima do trabalho. A gente ainda precisa evoluir bastante, a gente tá em evolução contínua. A posição dos representantes dos empregados no conselho, ela é primordial para levar todas essas demandas, toda essa percepção de quem tá trabalhando embaixo, para o conselho e várias vezes isso se tornou alguma outra demanda, eu gosto de dar um exemplo, que quando a diretoria de Furnas, a mais ou menos um ano e meio atrás, decidiu mudar de sede, isso foi muito impactante para todos os empregados, porque a gente tem um apego muito grande à sede do Botafogo, eu particularmente estava trabalhando lá 10 anos, morava em Botafogo e tinha um apego muito grande. E a gente organizou um abraço ao escritório central de Botafogo, foi espetacular, a gente... Aquilo ali, eu não sei se é uma despedida, se não é, mas o fato é que aquilo foi importante para a gente levar para o conselho administração, e eu defender no conselho, que a gente precisava, já que a gente ia mudar de sede, que não ia ter jeito, era uma decisão da diretoria, que a gente fosse para uma sede única, porque antes, a opção é que a gente fosse ocupar cerca de cinco andares num prédio comercial, e eu falei: “a gente precisa de uma sede única, para chamar de só nossa, essa é nossa identidade”. E agora a gente está indo para uma sede no centro da cidade, é uma sede única de Furnas, então através de conversa, de conscientização com o conselho, a gente conseguiu fazer isso, e hoje a gente vai ter nossa sede, a gente tá se reinventando, com home office, com o escritório aberto, sem baia. Eu tento enxergar sempre o lado bom da mudança, se um dia a gente tiver que voltar para uma sede de Botafogo que vai ter sofrido uma retrofit, vai ter sido recauchutada, ótimo, a gente fica lá também, ótimo. Importante é a gente manter sempre a identidade forte de Furnas, a gente precisava dessa sede única, porque eu vou passar por Furnas, como outros que eu conheci e já se aposentaram, e tem muito orgulho, ainda tem contato com muitos aposentados, eu também vou passar, e quando eu passar, eu quero olhar e ver Furnas, olha, ela continua no lugar, ela continua produzindo energia, transmitindo. Eu acho que essa é a missão dos empregados de Furnas, é vestir a camisa da empresa e fortalecer sempre ela, e o pouquinho que a gente pode fazer né, o abraço que a gente deu no escritório central, tem fotos maravilhosas, que também deve fazer parte do museu, faz parte da nossa história, mas faz parte principalmente da nossa identidade. A gente não pode perder, a gente vai mudando, muda, todo mundo muda, o setor muda, a empresa muda, mas a gente não pode perder nossa identidade.
1:38:15
P/1 - Essa mudança não foi só você que falou viu, várias pessoas comentaram sobre, desde a mudança do logo, a mudança de espaço físico, isso tem a ver com o processo de privatização assim, não tem? As mudanças na empresa? Você percebe isso assim, como os funcionários foram lidando com isso? E quando você fala de identidade assim, quando você pensa na identidade de Furnas, dos funcionários de Furnas enfim, o que vem a sua cabeça assim? O que é essa identidade de Furnas?
R - Identidade de Furnas é uma coisa que eu fui descobrindo ao longo dos anos na empresa. Por quê? E aí eu digo a importância das regionais. Quando você vai em uma regional de Furnas, que é uma cidade pequena, e que a empresa transformou aquela cidade, ela quando construiu uma usina, ela teve que fazer contrapartida de asfaltar estrada, construir escola, hospital, e aí você vê como é que Furnas foi e é importante para o desenvolvimento nacional, não só na parte da energia, de transmissão e geração. E Furnas, ela nasce pequena, começa a construir um monte de usina hidrelétrica, para fornecer energia para o desenvolvimento do país, ali na década de 60, 70, 80. Ela é uma empresa gigantesca, reconhecida, e ela tem ali em Botafogo seu grande QG, que é escritório central, que é um grande quarteirão, feito com concreto de barragem, uma estrutura imponente, e que dá muito orgulho para as pessoas. A decisão da diretoria de sair daquele prédio, por questões de custo, a empresa evoluiu, ela tá mais nas regionais, ela tá menor, ela precisa de um espaço mais prático, mais novo, um espaço do centro da cidade, enfim, são decisões de gestão da diretoria, porém, a gente consegue conversar e fazer um certo ativismo, para que beleza. Vamos mudar pra uma sede nossa, eu quero aquele prédio e chamar de meu, então eu quero olhar e ver lá o meu logo no prédio, e é isso que vai acontecer com a nova sede que é o edifício Barão de Mauá. Então dentro do escritório central de Furnas em Botafogo, a gente tinha obra de artes importante, de arquitetos importantes, a gente tem coisas históricas ali, e no centro para onde a gente vai, a gente vai ter também, o edifício Barão de Mauá é construído, é desenvolvido por arquitetos, está numa região nobre da cidade, então a gente consegue manter essa identidade, esse orgulho. Porque parece coisa pequena, mas pro o cara ali que serve o cafezinho, para ele é muito importante tá trabalhando em Furnas desse jeito, ele consegue fazer o link de como a empresa é importante do jeito dele, e a identidade de Furnas tem que ser do lado da operação, transmitindo e gerando energia com confiabilidade para o país, e do lado da engenharia, da expansão, agregando cada vez mais a parte geradora, parte de transmissão, para subsidiar o desenvolvimento do Brasil, a gente sabe que só vai ter novas indústrias, a gente só vai construir ponte, estrada se a energia chegar ali, se tiver energia no hospital. Então a identidade de Furnas é essa, tá sempre ajudando o desenvolvimento do país. No que você falou em relação à privatização, sim e não. Acontece que tem muita coisa que a gente acaba fazendo um link para privatização, ela tá rolando aí, não tem jeito, é um projeto de lei que está rolando no congresso, e a gente acaba pensando, “poxa só está mudando de sede por causa da privatização”, pode ser, mas também pode não ser. Foi uma decisão de gestão ali, da diretoria. Agora o que a gente precisa fazer como empregado de Furnas é forçar, porque se nós somos passageiros, eu vou ficar sei lá 30, 40 anos em Furnas, diretor também é, o diretor vai ficar vai ficar 3,4 anos. Então a gente tem que subsidiar e impor a nossa visão também, para a diretoria que tá ali, eles precisam nos perceber e perceber o que nós achamos, qual é a nossa percepção da identidade da empresa. Já teve, enfim, essa questão da privatização, ela vem aí de 3 anos, eu estou na empresa a 10. Teve muita mudança também nos últimos 10 anos. Então não era só quando tinha privatização, e se mudar o governo, pode acabar a privatização, ou se efetivamente privatizar, não interessa, a gente vai continuar batalhando pela empresa da mesma maneira que ela é. Eu tenho minha opinião particular em relação a privatização, mas eu acho que não vem ao caso, a gente tem que fortalecer Furnas, e a identidade dela, isso em primeiro lugar. Lógico que se a gente tiver que lutar pelo que a gente acredita, como Furnas é melhor ou pior, a gente vai lutar, isso aí não tenha dúvida.
1:43:34
P-1 - Felipe, se eu coloco assim, o funcionário de Furnas é... Como você colocaria, terminaria essa frase?
R. O funcionário de Furnas é um cara completo né, ele não é só o empregado assim de uma empresa. Ele é um cara politizado, ele é um cara aguerrido, ele é um cara que tem que fazer esse link, entre o feedback da sociedade, ele tem que fazer na cabeça dele, porque ele não vai estar andando na rua e alguém vai parar, “olha, obrigado aí, porque botado de volta lá as torres”, então ele tem que acreditar nisso, ele tem que ter imaginação para ele acreditar que passa vários elétrons ali naqueles fios, e então ele tem que estudar bastante, tem que ser uma pessoa que se supere a cada momento, porque é pancada de todo lado, é questão de privatização, é mudança de sede, é inovação tecnológica, e é isso. Tem que se virar nos 30, mas sempre querendo o melhor para empresa, sempre como um time e uma das grandes dificuldades que Furnas tem, mas que por outro lado é uma das grandes virtudes, é o fato dela tá espalhada no Brasil, então é muito legal eu conversar com o cara de Gurupi, sotaque do cara é diferente, a realidade do cara completamente diferente, para mim é difícil, porque eu tenho que interagir com ele, eu não posso ir na sala do lado e trocar uma ideia com ele, mas por outro lado isso é legal, isso é Furnas. Nossa empresa é isso mesmo, Furnas é isso! São pessoas do Brasil inteiro, e o Brasil é do tamanho de um continente, participando aí dessa missão de operar e fazer crescer o sistema elétrico.
1:45:17
P/1 - Você tinha falado das diferenças regionais e citou agora de novo. Você tem algum causo assim, já teve alguma citação? Me fala um pouco dessas diferenças regionais pela sua experiência.
R - Assim, eu tenho uma viagem que fica muito querida no meu coração, que foi quando eu fui passar uma semana na usina de Furnas, que é lá no interior de Minas, no sul de Minas, é ali em São José da Barra, Passos, Capitólio, e eu fui acolhido de uma maneira assim, que até me emociona um pouco, porque eram pessoas que eu estava acostumado a lidar via telefone, via e-mail, e assim, os caras me botaram para comer pão de queijo, queijo da Serra da Canastra, me levaram para fazer turismo ali no Lago de Furnas, me levaram para conhecer a barragem de Furnas em locais ali interessantes, conheci usinas, conheci subestações. Então assim, eles têm uma intenção, uma coisa tão bonita, uma coisa tão bacana, de querer mostrar para gente que é da cidade grande, como é que é a nossa empresa, que você, depois de um tempo que você para pensar, como é que é bacana isso. Hoje graças a Deus, com a informatização, eu estou em grupo com essa turma toda aí, do WhatsApp, eu faço chamada de vídeo, mas naquela época não tinha, 6, 7 anos atrás, ainda estava incipiente. É muito legal você ver a experiência de vida dessas pessoas, aí você vai para cidade, você fica hospedado em Passos, aí você vê como é que Furnas é importante para Passos, tem muita gente da Usina de Furnas que mora em Passos, aí você passa a pesquisar da história do Sul de Minas, e você vê como é que foi a Usina de Furnas que gerou o lago de Furnas, que hoje é responsável por um uma grande parte ali do turismo da região. Então, isso tudo vai te dando muito orgulho, e não só Furnas, Usina de Furnas, mas você tem outras partes do Brasil, Foz do Iguaçu é espetacular, Ibiúna, você vai ali para a Goiânia, Brasília, enfim, no próprio Rio de Janeiro tem uma série de instalações interessantíssimas de Furnas. Furnas está no Brasil inteiro, e eu entendo que essas pessoas que estão lá no interior de Furnas, às vezes, trabalhando, batalhando, esse reconhecimento elas querem, porque elas estão lá apertando o parafuso do disjuntor, para ele não desligar, para não apagar. Então elas precisam ser lembradas sempre, a gente fica no nosso mundo aqui do escritório central, com número, preocupado com burocracia, mas a gente não pode esquecer do cara que tá lá no sistema 24 horas por dia, no interior, de repente abdicando de tempo com a família, passando lá, virando noite numa sala de controle de usina. Então é os empregados de Furnas, que são né, quem a empresa é, ou que formam, os que já saíram, os aposentados, foram eles que transformaram a empresa e dão muito orgulho. Depois de alguns anos de empresa eu fui perceber isso, tive sorte de aprender rápido, porque passei por diretorias diferentes, conheci muita gente, conselho e operação, mas eu tenho certeza de que quem tá na empresa, há alguns anos já senti isso, e aí também é isso, se a gente é orgulhoso, se a gente tem essa gana, esse senso de responsabilidade, aí a gente também é chato, porque a gente reclama, a gente corre atrás a gente não aceita as coisas como são. Então se vai mudar de sede, a gente vai dar um abraço no quarteirão num dia de chuva, e não só Botafogo, as regionais também fizeram o abraço, foi um evento espetacular, um dia assim, que eu vou contar para os meus filhos e para os meus netos, eu vou mostrar as fotos e os vídeos, “olha, a gente fechou o quarteirão aqui de Furnas, todo mundo abraçado, em um dia que chovia demais, as regionais fizeram também”. Isso foi emblemático para nossa história, todos os empregados de Furnas têm esse dia na memória e não levando a questão de sede em si. Se for para pensar, o prédio é um objeto, mas aquilo significou muito mais, significou uma união das pessoas, que remotamente estão se conectando com todos os outros empregados que estão no Brasil inteiro. Então isso é muito bacana.
1:49:51
P/1 - Cara, que legal. Eu já vi essas imagens inclusive, quem que organizou essa mobilização? Quem tocou isso, “meu, vamos fazer tal dia, o abraço aqui na central, ali nas subestações”, como foi isso, essa articulação?
R - A gente tem uma associação de empregados em Furnas que é a AEF, ela não é um sindicato, ela tem bom relacionamento com a empresa e com os sindicatos, ela faz meio-campo, ela escuta bastante o sindicato. Então foi Associação de Empregados e Associação de Aposentados, que o nome da associação de aposentados é, Após Furnas, essas duas associações, começaram a organizar. Mas aí tomou uma proporção depois, porque isso envolvia o Brasil inteiro, então um negócio que aí depois envolve sindicato, todos os empregados da empresa ali, estavam abraçando o quarteirão, sob chuva, e as pessoas que estavam nas regionais estavam abraçando lá alguma coisa, alguma bandeira, uma miniatura, não tinha prédio para abraçar, e fazendo vídeo. Foi muito legal, foi um dia espetacular.
1:51:08
P/1 - Desculpa, que dia que foi isso mesmo? Você tem assim com exatidão o dia, só pra motivos e pesquisa aqui?
R. Não. Depois eu te pego, eu não tenho dia certo não.
1:51:24
P/1 - Eu consigo isso também, o ano foi?
R - 2019
1:51:34
P/1 - Muito legal! Felipe a gente está indo para um caminho já para finalizar, nossa conversa aqui, isso aqui é as últimas para gente ir fechando. Primeiro, se na sua trajetória aí, se você tem algum funcionário que tenha te marcado por alguma situação de aprendizado, você comentou dos problemas com mestrado, e tal, enfim, mas também te marcou né, negativamente, mas positivamente, algum gerente, diretor, sei lá, companheiro, companheira de trabalho, enfim, algum personagem que tenha sido marcante para você?
R - Olha Danilo, eu tive muita gente que me ajudou em Furnas, não só de trabalho, trabalho em si, de orientação profissional, mas também emocional, psicológica. Eu tenho grandes amigos, amigos até antes de entrar em Furnas, que o pessoal passava no concurso e se reunia nos fóruns na internet e já se conhecia antes, então assim, eu tenho... Seria injusto se eu falasse de um, de outro, mas tem um cara que eu tenho um grande apreço, que é o Otávio Brás, ele é um operador lá da usina de Furnas. E o Otávio, foi quando eu passei para o setor de operação, gerência de operação, o Otávio era o cara que eu mais conversava no telefone, tramitando intervenção, problema e é um cara extremamente divertido, engraçado, fala para caramba, virou um grande amigo, e a gente troca muita mensagem, hoje eu já não trabalho mais com ele, porque antes trabalhava na área Minas, agora eu trabalho com área São Paulo, mas o Otávio é um cara assim, que é nota mil, porque além de trabalhar, de ser um ótimo profissional para Furnas, ele é um grande amigo, ele é um cara que me levou para comer peixe lá na usina de Furnas, ele é um cara que me levou para conhecer, ele é um cara sensacional, ele é um cara mais velho, ele é um cara que tem mais tempo de Furnas do que eu, então ele me conta muitas histórias e ele tá sempre otimista, isso é importante. Então eu vou falar com ele, olha, eu dou toda a indicação para vocês fazerem essa entrevista com ele, porque ele com certeza vai ter cada história espetacular de Furnas e da usina de Furnas, que que vai ser muito interessante. Antigamente, os operadores de Furnas eles entravam e faziam um curso lá na usina de Furnas, passavam seis meses na usina de Furnas fazendo um curso lá, e esses caras têm altas histórias de situações desse curso, é divertidíssimo, você senta para escutar, você senta no barco com esses caras, você fica...
1:54:30
P/1 - Você não teve isso né? Eu já peguei história dessas turmas aí, que vão lá, ficam seis meses de formação, parece trote de faculdade. Na sua área não teve essas imersões?
R - Não, porque eu entrei como engenheiro, isso era mais para o pessoal que era técnico, a gente chega fazer algumas imersões depois pra conhecer as áreas operacionais da empresa e tal, faz uma série de cursos, mas esse específico, que é o curso de formação em si, inclusive Furnas abria esse curso para profissionais que não iam atuar em Furnas, que iam atuar no setor elétrico. Então eram turmas grandes e duradouras. O pessoal saía pra morar no interior de Minas, então você imagina as histórias que não tinham.
1:55:22
P/1 - Agora me fala uma coisa, você tem um projeto de corrida? Como é essa história aí? Faz parte da área de responsabilidade social, o que é? Que eu lembro das suas fotos, inclusive na campanha. Conta um pouquinho aí para mim, o que é esse projeto, qual seu envolvimento com isso?
R - A gente tem um programa chamado corrida de rua, que é organizado pela gerência de segurança e saúde. Ele tá pausado agora por conta da pandemia, tá tendo diariamente aulas de alongamento, de flexibilidade de manhã e todo dia, é bem bacana e eu faço, pra dar uma desenferrujada aí na coluna, é bem importante. Mas esse programa, ele era extremamente importante, antes da pandemia, e eu acredito que quando a pandemia acabar a gente vai retornar com ele, porque ele cria, além da questão da saúde, e você coloca aí uma vez por mês, uma corrida, aí Furnas vai lá, monta sua tenda, a Eletrobrás também monta, e as pessoas interagem ali né, na corrida, no café da manhã. E isso fomenta com que as pessoas façam treinamento direcionado, Furnas tem professores para ajudar nesse condicionamento físico, então a gente já tem estudos aí que já reduziu bastante o absenteísmo, por conta das pessoas que passaram a fazer atividade física. E nas regionais, tem o caso que eu contei dos operadores de linha, por exemplo, com o cara que está trocando uma cadeia de isolador a 30, 40 metros de altura, o cara precisa ter um emocional bom, e a atividade física ajuda. Então Furnas, ela faz periodicamente também, prova de triatlo na usina de Furnas, então é bem bacana vê que a empresa investe nessa parte da saúde. Eu já consegui algumas vezes, arrastar presidente de Furnas para participar dessas corridas, porque o cara fica muito envolvido no mundo dele ali. Disse: presidente, vem ver como é o dia a dia, vem participar. E aí a galera que não espera, ih rapaz, o presidente tá aqui! E se sente prestigiado, são pequenos fatores, são pequenas coisas que transformam o dia a dia. Então eu espero que quando a pandemia acabe, a gente volte a ter o nosso programa corrida de rua, e eu não sou um baita corredor, eu corro bem, mas agora o pós corrida de ficar batendo papo com as pessoas, a gente também organiza uma corrida de fim de ano, de Natal que é muito legal, já foi na lagoa, foi no bosque da Barra uma vez, a gente faz uma confraternização depois, isso é muito importante, isso tem também nas outras regionais, tem na área Minas, na área São Paulo e é muito bacana.
1:58:13
P/1 - Você disse que faz parte da gerência de saúde e que faz parte de uma... Eu tô pensando assim, eu sou de fora né, não conheço assim então, os projetos que você tem envolvimento, na área de responsabilidade social, ou da área de cultura, porque Furnas muito grande, fomentava isso. Você tem envolvimento com alguma dessas também? Pelo que eu entendi é de outra área até né?
R - É Danilo, na verdade a gerência de segurança e saúde, ela organiza esse programa, e aí a gente participa como empregado. Mas aí você também tocou na parte de responsabilidade social, e eu não posso esquecer de falar disso. Os empregados, muitos empregados de Furnas que prestam serviço social, voluntário, eles se sentem embaixadores da empresa, porque Furnas ajuda muito. Eu já participei de alguns movimentos, de algumas situações, de entregar doações, de participar de reformas, de dar aula, enfim, uma série de atividades interessantes, e aí dá um baita orgulho quando você vai lá participar, com a camisa lá com o símbolo de Furnas. As pessoas gostam disso, aí você explica o que é Furnas, e por outro lado, a empresa apoia muito isso. Então é bom, e ele tem de tudo, a gente ajuda coral, a gente ajuda creche comunitária, a gente ajuda pré-vestibular comunitário, tem de tudo assim, e tem de tudo no Brasil inteiro. O Rio de Janeiro é muito grande, mas tem regionais, tem cidades muito pequenas, que o projeto social de Furnas ele é muito conhecido, ele faz muita diferença. Até o prefeito conhece, porque como a cidade é pequena e o projeto relevante, é bastante impactante e faz bastante diferença, e aí agora, não só de responsabilidade social, mas na parte ambiental também, Furnas participa de uma série de ações ambientais ao redor do Brasil.
2:00:24
P/1 - Você consegue me descrever alguma dessas situações que você participou?
R - Olha, tem uma que eu gosto muito, eu morava em botafogo, trabalhava no escritório central em botafogo, e tem uma comunidade ali em botafogo, que é uma favela chamada Santa Marta. E eu fui participar de um projeto social lá de Furnas, que era fazer uma doação de alimentos para uma creche, então a gente organizou em Furnas, os empregados doaram os alimentos e a gente foi lá e entregou para creche. Depois a gente fez de fralda para creche, depois a gente fez de livro pra uma biblioteca, então a gente estava sempre fazendo, periodicamente, alguma ajuda na comunidade. E aí eu conheci gente Iá, que participava de uma escolinha comunitária de percussão. Aí eu fui fazer, fui aprender a batucar lá, então eu já estou a uns 5, 6 anos que eu toco bateria lá, então eu toco tamborim, toco surdo, toco repique e foi tudo aprendendo lá, e com moleque de 15 anos da comunidade me ensinando. É assim, é hora que você sobe, você tá ali, você não é mais ninguém. Você é um aluno dentro de uma favela, e você tá aprendendo, depois no carnaval você batuca em algum bloco ou outro, você participa. Eu criei um laço muito grande com aquela comunidade e com as pessoas, então a gente ainda continua fazendo alguns projetos sociais aí, não só por Furnas, mas fora de Furnas também, a gente está sempre ajudando a comunidade. Foi graças a Furnas que eu comecei a fazer um projeto voluntário ali, que eu encontrei uma turma, e é uma hora assim, que quando você ajuda, quem está sendo beneficiado é você, você que sai de lá bem, bem de cabeça, tranquilo, essa que é a verdade. Mas ali eu ainda tive a oportunidade de aprender um batuque, que eu levo até hoje, o tamborim tá aqui ó, eu estava fazendo aula online, mas online não fica muito bom não, então tomara que a pandemia acabe logo. Agora as aulas estão sendo lá no centro, então vai ser pertinho também, vou siar de Furnas lá 7 da noite para fazer minha aula de percussão, sempre aprendendo um instrumento diferente, com essa rapaziada da comunidade, ajudando eles e eles me ajudando.
2:02:59
P/1 – Cara muito bom. Felipe tem alguma história que a gente passou, que você gostaria de deixar registrado, que a gente vai conversando né, vai indo temas, tem alguma situação que você tenha vivenciado, alguma história marcante que gostaria de contar?
R - Olha Danilo, que eu lembrei não. Acho que a gente conversou bastante, que lembro aqui agora não. Se eu lembrar eu vou pedir socorro aí, eu vou pedir para a gente fazer uma nova roda.
2:03:30
P-1 A gente vai ter outras campanhas ainda, aguarde! Como você imagina Furnas daqui 20 anos?
R - Essa pergunta é bem legal! Porque assim, em 20 anos eu me imagino também lá então ainda estarei lá. Eu imagino Furnas, é uma empresa que vai continuar crescendo, que vai continuar com a sua responsabilidade de operar, mante o setor elétrico. Mas eu acho que Furnas vai se reinventar, ela vai começar a entrar em usinas (...) eólicas, pesquisa, inovação e vai entrar com força nisso, e na comercialização de energia. Nós já somos pioneiros em algumas ações, mas eu não consigo nem prever qual vai ser o futuro daqui a 2 anos, mas o que eu tenho certeza é que nós como empregados de Furnas, vamos correr atrás para estar na frente disso.
2:04:31
P/1 - Muito bom cara. O que você achou de dar sua entrevista a Felipe?
R – Ah, essa entrevista é espetacular, porque é uma oportunidade que eu tenho de te olhar para um filme aí, que eu tenho 10 anos de Furnas, aí você olha e fala, passa rápido, mas aconteceu muita coisa e agora você me pergunta o que eu acho de Furnas para daqui a 20 anos... Olha se acontecer a quantidade de coisa, de mudança que aconteceu nos últimos 10, vai mudar bastante, vai acontecer bastante e eu quero fazer parte dessa mudança, e quero estar sempre engajado assim, eu quero ver gente nova, quero ver gente mudando. Eu quero participar da interação dos empregados como um todo, e sempre da evolução de Furnas, direta e indiretamente a evolução do país.
2:05:20
P/1 - Maravilha meu caro, fechamos!