Diário de Maíra Magalhães Bosi, 30 de agosto de 2020. Jornada, dia 6.
Essa é fácil, porque tenho muitos medos para o futuro e tenho pensado muito nisso
ultimamente. Essa pandemia parece um marco divisor de águas para o futuro da
humanidade. Estamos usando mais a tecnologia como interface para relações de
trabalho, relações pessoais, etc. Tenho angústia de pensar que no futuro, talvez, a gente
esteja muito mais dependente da tecnologia, da inteligência artificial. Que espaço terá
restado para a experiência analógica, orgânica, com os sentidos? Tenho medo dessa ser
uma pergunta idiota para daqui a 10, 20 anos... Tenho medo que o modo de vida tenha
mudado tanto a ponto dessa inquietação nem sequer fazer sentido. Há 20 anos, a internet
ainda estava no começo e eu não fazia ideia que chegaríamos ao ponto atual tão rápido.
Lembro que não sabíamos direito o que fazer com a internet. Hoje, já não sabemos o
que fazer sem ela.
Outra angústia para o futuro que eu tenho é quanto ao sistema econômico e político. O
capitalismo predatório não dá sinais de declínio (embora a crise seja geral) e,
politicamente, estamos nas garras do retrocesso, do extremismo. Tenho medo de como
estaremos daqui a 1 ou 2 décadas, que humanidade seremos? O que restará da natureza?
Hoje, há quem acredite que a Terra é plana. Há quem seja contra vacina. Há muitas
pessoas declaradamente racistas, homofóbicas. Durante a pandemia, muitos se
mostraram mais preocupados com a queda da economia devido ao fechamento do
comércio do que com a importância da quarentena para salvar vidas. Isso tudo me
assusta quanto ao futuro que estamos desenhando. Queria que o futuro fosse melhor que
hoje, mas não tenho tantas esperanças. Apesar de que as gerações mais jovens já se
mostram mais éticas, mais abertas a novos pensamentos. Quem sabe elas não
conseguem promover alguma mudança importante?
Se bem que daqui a 10 ou 20 anos essas gerações mais novas de hoje, já não serão as
mais novas. Das gerações realmente futuras, dos que nascem hoje, não consigo imaginar
o que esperar! É muito longe!