Meu nome é Cinthya Gomes da Silva, tenho 20 anos, sou da comunidade de Boa Vista. A Comitiva “Se Deixar Nós Doma” surgiu com um grupo de meninas que gosta muito do estilo sertanejo, o estilo mais simples, mais rústico, uma coisa antepassada que surgiu também aqui na Fercal e que é uma tradição. Nós gostamos muito de folia, Cavalgada, cavalo, essas coisas que achavam estranho pra meninas, mas a gente gosta muito e não queria deixar essa tradição morrer. Então resolvemos fazer esse grupo pra incentivar mais meninas, até mesmo pra tirar um pouco dessa vida que está chegando agora, com progresso, a gente muito presa no celular, essas coisas, e dar valor naquilo em que nossos pais foram criados. Aos poucos a Fercal estava perdendo um pouco sua identidade, a sua origem, essa origem da simplicidade, do rústico. Hoje eu sou apaixonada por essa cultura e eu sempre falo: se depender de mim ela não vai morrer, quero passar pros meus filhos, pros meus netos.
Aos poucos, nós mulheres estamos ganhando espaço, mostrando que também gostamos das mesmas coisas que os homens, que nós não somos limitadas por sermos mulheres. Então a gente veio aqui mostrar que também não é tão assim sexo frágil como as pessoas dizem, que nós também temos nosso lado mais firme. Nosso primeiro evento foi a cavalgada que tivemos dia 23, pra mim foi uma emoção muito grande de vermos ali o nosso esforço, a nossa união, de todas as meninas de alguma forma ali ajudando, o apoio das famílias, toda a comunidade reunida em um motivo só. Foi muito emocionante olhar tudo aquilo e ver que tudo deu certo, que a comunidade pode fazer, que nós moradores da Fercal podemos ter união.
A Fercal está além da administração da Fercal em si. Porque nós, jovens aqui da comunidade, queremos que a cidade de Fercal seja reconhecida. Porque muitas vezes você vai para algum lugar, até mesmo de fora e você fala: “Sou da Fercal”. Muitos não sabem. Às vezes é reconhecida pelas fábricas de cimento, mas não pela comunidade, pela cultura que aqui é criada. A Fercal foi considerada uma RA, uma Região Administrativa, mas não é o suficiente. Queremos mais ainda, queremos que a Fercal seja uma cidade grande, que seja uma cidade que traz muito prazer. Uma coisa que muitos não conhecem é a beleza que tem aqui, os rios, as cachoeiras, porque a Fercal não é reconhecida como cidade com o valor que é devido.
Meu nome é Caio Eduardo Gomes da Silva, tenho 19 anos, e sou morador do Expansão, Alto Bela Vista. Uma história bacana da Fercal que eu pude acompanhar foi a criação do Movimento SOS Fercal, do qual eu faço parte. E uma das minhas conquistas, da galera, que eu gosto de contar foi o nosso evento que rolou dia 23 que eu acho superbacana, porque aqui na Fercal a gente não tinha um evento pro público jovem. A gente tinha o quê? Uma Feira da Lua que toca um forró, bota um funk de vez em quando. Quando a gente queria se divertir a gente fazia o quê? “Ah, vamos lá pro Jequitibá, vamos pro Conic, vamos dar um rolê em outro lugar”. A gente: “Não, vamos trazer o rolê aqui pra quebrada”. Que nem os meninos falam. Fizemos esse evento que trouxe um pouquinho de dor de cabeça, muita correria. Achei bacana, trouxe o slackline, trouxemos rock, MPB, umas músicas bacanas também.
Meu nome é Alexandre Silva Gomes, tenho 18 anos, sou morador da Fercal. No dia 27 de janeiro deste ano de 2015 a gente participou, eu e mais dois amigos meus, de uma reunião dos líderes comunitários pra saber como ia ficar a questão da RA da Fercal, se ela ia ser extinta, se ela ia continuar sendo uma cidade satélite. Nisso a gente viu que a decisão dos líderes comunitários foi não fechar a BR, não se manifestar, esperar a resposta do governo. Só que a gente pensou: “Ah, mas por quê? Só eles que vão decidir alguma coisa? Não. Vamos fazer, vamos movimentar”. No outro dia de madrugada, era três horas da manhã, a gente juntando madeira pra fechar a pista às cinco horas. Quando a gente avistou o primeiro ônibus e a gente fechou a BR, aí paramos os caminhões todos, os caminhoneiros começaram a ficar com raiva da gente, queriam sair na porrada com a gente. Fui correndo pra parada pra chamar o pessoal, discursei. E tipo assim, a emoção de estar ali, entrar naquele ônibus e chamar o pessoal: “Vamos lá porque a gente tem que acordar, a gente tem que se movimentar”. Foi, tipo, do nada, três jovens fechando uma BR, os jovens chamando, gritando, aquela emoção ali foi muito importante na minha vida, foi um dos momentos que eu falei: “Cara, eu posso fazer diferente”. Muitos falam que foi uma atitude radical e tudo o mais, mas assim, foi o pontapé para o nosso grupo SOS Fercal. E a gente já conseguiu várias coisas a partir daí. Você sentar com os jovens e falar: “Véio, vamos pensar aí, vamos resolver algum problema. Vamos fazer o evento?”. “Vamos.” “O que a gente vai precisar?” “Ah, a gente vai precisar de apoio da administração? Vamos atrás.” As pessoas se mobilizaram pra correr atrás de alguma coisa. A gente está aqui pra dar continuidade nisso, pra correr atrás. Isso pra mim é muito importante, é um momento da minha vida que está sendo fantástico, de estar participando, de estar se organizando. É claro que você aprende muita coisa com as pessoas mais antigas porque a gente também depende disso, dos conhecimentos que são passados e tudo mais. Então esse momento foi muito importante na minha vida. De fechar aquela pista, de lá até aqui, eu posso dizer que eu era só um cidadão normal na minha comunidade, mas desses seis meses pra cá mudou muita coisa, eu sou uma pessoa nova.
Meu nome é Letícia Pedrina dos Santos, tenho 15 anos. Eu sou lá do Córrego do Ouro, fui criada lá, cresci lá. Nossa Comitiva “Se Deixar Nós Doma” foi criada agora, tem uns oito, nove meses. Desde que eu nasci, da barriga da minha mãe eu me vi em Folia, em cavalgada, em reza... eu gosto. Nós meninas, essas 32 meninas, estamos querendo fazer isso, trazer para o pessoal a nossa cultura, mostrar como é que é. Quando você vai, você participa, você fala: “Nossa, é muito bom”. A nossa cavalgada foi assim, o povo foi, gostou. O pessoal daqui da Fercal, tão próximo de onde a gente faz folias, rezas e não vão, quando foram na nossa cavalgada falaram: “Nossa, muito bom mesmo, amei! É diferente, a cultura, as músicas, o estilo, divertir, é totalmente diferente”. Amaram. Então a gente está querendo que outras pessoas que não conhecem admirem também o nosso lado, da nossa Folia do Divino, que aqui ocorre em setembro, outubro. A Folia dos Santos Reis, que é de dezembro, janeiro, aqui. As catiras também. Se Deus quiser, mais pra frente, a nossa Comitiva tá querendo formar um grupo de mulher tocando, que aqui na região, na Fercal, não tem mulher que toca viola. Eu mesma, o meu pai me deu uma viola de presente, agora eu vou entrar na aula. Pra nós mulheres aprendermos a tocar a viola, pular a catira e mostrar que não é só homem. Porque é acostumado comitiva de homem, catira de homem, muito pro lado machista, e a gente tá querendo mostrar o nosso lado mulher, que a gente pode ser capaz de ter um grupo de catira, de tocar, de pôr a mão na massa e ralar mesmo. E mostrar que a gente pode levar pro pessoal a nossa cultura e mostrar que mulher também, se deixar nós doma.
A gente vai construir a nossa história com o tempo, e cada vez, cada página, cada começo vai ser uma coisa diferente. Esse é o nosso objetivo: fazer que cresça, mas não perder o meio que começou, que é. A gente quer evoluir, porém manter o jeito que era antigamente, é isso aí.
Memórias de Fercal - Todo lugar tem uma história para contar (VOF)
A gente vai construir a nossa história
Autor:
Publicado em 15/10/2015 por Tereza Ruiz
Votorantim Fercal DF
Depoimento de Cintia Gomes da Silva, Letícia Pedrina dos Santos, Alexandre Silva Gomes, Caio Eduardo Gomes da Silva e Tereza Ferreira
Entrevistada por Marcia Trezza
Fercal, 12 de junho de 2015
Realização Museu da Pessoa
VOF_HV020 (Círculo de histórias): Cintia Gomes da Silva, Letícia Pedrina dos Santos, Alexandre Silva Gomes, Caio Eduardo Gomes da Silva e Tereza Ferreira
Transcrito por Karina Medici Barrella
MW Transcrições
Cintia Gomes da Silva – Meu nome é Cintia Gomes da Silva, tenho 20 anos, sou da comunidade de Boa Vista. Bom, vou falar um pouco sobre o que é Comitiva. A Comitiva surgiu sobre um grupo de meninas que gosta muito do mesmo estilo, o estilo sertanejo, o estilo mais simples, mais rústico, uma coisa antepassada que surgiu também aqui na Fercal e que é uma tradição. A nossa fundadora, a Graziele Fernandes, que teve essa ideia de ter esse grupo. E a partir dela começamos a nos reunir, a juntar pelos mesmos gostos, e convidamos mais meninas que ali vimos que era o mesmo gosto e preservar essa cultura que na Fercal aos poucos aqui estava morrendo. Porque é uma cultura que eu tenho bisavós, coisas que gosto dessa cultura, que eu fui criada, então eu quero passar para os que estão vindo agora, porque estão morrendo e muitos vão perder essa cultura de não conhecer esse lado simples. Nós gostamos muito de Folia, Cavalgada, cavalo, essas coisas que achavam estranho pra meninas, mas a gente gosta muito e não queria deixar essa tradição morrer. Então a gente resolveu fazer esse grupo pra incentivar mais meninas, até mesmo pra tirar um pouco dessa vida que estão chegando agora, com progresso, a gente está muito prendido no celular, essas coisas. Então, querendo trazer essas meninas mais para o lado mais da roça, um lado mais simples, dar valor naquilo que nossos pais foram criados, brincadeiras às vezes que hoje crianças não estão conhecendo, mas a gente está em busca de resgatar aquelas coisas que a gente traz aqui pra agora porque muitas crianças não conhecem, muitas brincadeiras de roda, cantiga, então a gente está tentando buscar.
Cintia Gomes da Silva – Cintia Gomes da Silva, tenho 20 anos, sou da comunidade de Boa Vista. Vou falar um pouco sobre Comitiva. Comitiva é um grupo reunido pelas meninas que gostam do mesmo estilo. E nós somos um grupo de meninas, 32 meninas, que gostamos de um estilo mais simples, mais rústico, que aqui foram passados de geração em geração e estamos tentando resgatar esse estilo, que vemos que aos poucos, os que estão chegando aqui agora não estão conhecendo. E a gente está em busca disso porque somos da comunidade da Boa Vista, tem outras comunidades, Córrego do Ouro, Ribeirão. Fercal. Inclusive a Fercal... Assim, que são acostumado a ter essas ocasiões, Folias, Cavalgadas, essas coisas simples que muitos estão deixando por causa do progresso que está vindo e estão desvalorizando essa cultura que tem passado de geração em geração e estão deixando pra trás. A gente veio com o intuito de resgatar isso, de procurar mais meninas para estar junto em busca resgatar essa cultura que aos poucos vai morrendo, aprender, incentivar outras crianças que aos poucos estão perdendo isso por causa da tecnologia, do avanço que está vindo. E aos poucos a Fercal estava perdendo um pouco sua identidade, a sua origem do começo que foi essa origem da simplicidade, do rústico, a sua origem. Nosso primeiro evento foi a Cavalgada que tivemos dia 23. A Cavalgada pra mim foi uma emoção muito grande, de vermos ali o nosso esforço, a nossa união, de todas as meninas de alguma forma ali ajudando, o apoio das famílias, toda a comunidade reunida em um motivo só. Foi muito emocionante olhar tudo aquilo e ver que tudo deu certo. Então foi muito emocionante, só de contar já sinto porque foi uma coisa que vi uma união de cada uma ali, vi uma união que a comunidade pode fazer, que nós moradores da Fercal podemos, sim, ter união. E ali vimos que a união faz a força, foi um pequeno evento, mas vimos a união grande que temos, que a nossa comunidade Fercal tem, sim, chance de crescer com essa união que tivemos por essa experiência, pouca, mas tivemos, podemos sim, queremos sim, passar de geração em geração, queremos sim que cresça, seja o primeiro evento de muitos aqui na Fercal. Quero ver progresso, sim, na Fercal, quero ver a Fercal também sendo elogiada por muitas coisas, não ver só ponto negativo da Fercal porque a Fercal tem muita coisa ainda a se resgatar que ainda estão perdidas.
Letícia Pedrina dos Santos – Meu nome é Letícia Pedrina dos Santos, tenho 15 anos e eu vou falar um pouco sobre a minha história nesse meio caipira, que aqui é sertanejo, que está bem distante dessa região. Eu sou lá do Córrego do Ouro, fui criada lá, cresci lá, agora que eu vim mais pra cá e estou vendo que aqui está bem desgastado. Nossa Comitiva “Se Deixar Nóis Doma” que foi criada agora, tem uns oito, nove meses. E assim, a gente já fez uma Cavalgada para mostrar pro pessoal daqui, da Fercal, um pouco da nossa cultura lá de baixo, da roça, que é desde antigamente mesmo, que eles não conhecem. E aqui também pra trazer mais lazer pro pessoal que não tem, trazer atividades pra ele. Porque assim, quando as pessoas entram pras drogas, pros caminhos perdidos. Então, como desde que eu nasci, da barriga da minha mãe eu me vi em Folia, em Cavalgada, em reza, assim, eu gosto, é tudo. E assim, a gente, nós meninas, essas 32 meninas, estamos querendo fazer isso, trazer para o pessoal a nossa cultura, mostrar como é que é. Porque ultimamente agora eles gostam de funk, rap, pop, rock, assim, a gente também quer mostrar o nosso lado, que é o sertanejo, a moda de viola mesmo, que é o caipirão, e que eles pouco falam: “Nossa, que estranho esse povo de bota, de botina, todo sujo”. Que roça suja bastante. Então a gente está querendo mostrar isso pro pessoal aqui e é o nosso intuito, sempre trazer projetos. E é a nossa história que a gente tá começando agora, tá querendo trazer isso tudo pra mostrar pro pessoal o quanto aqui, como em outros lugares estão... Como é que se diz? Por fora como é o nosso sistema, como é ser caipira, bruto, rústico, né? E é isso que a gente está tentando levar pro pessoal e essa é a minha história, que eu sempre, nunca vou querer deixar mão, de lado, porque é uma coisa que quem conhece, gente, hoje você fala assim, não, hoje você critica, você fala: “Ai, é isso,é aquilo”. Mas não, quando você vai, você participa, aí você já muda a sua história, vira o disco, você fala: “Nossa, é totalmente diferente, é muito bom”. A nossa Cavalgada foi assim, a gente pra mostrar pro pessoal, o povo foi, gostou, falou: “Nossa, nunca tinha visto uma coisa assim”. O pessoal daqui, da Fercal, tão próximo de onde é que a gente faz Folias, Rezas e não vão e quando foram na nossa Cavalgada falaram: “Nossa, muito bom mesmo, amei! É diferente, a cultura as músicas, o estilo, divertir, é totalmente diferente”. Amaram. Então a gente está querendo que outras pessoas que não conhecem admirem igual essas pessoas que a gente começou a mostrar, admirem também o nosso lado da nossa Folia, que é a nossa Folia do Divino, que aqui ocorre em setembro, em outubro. A Folia dos Santos Reis também, que é de dezembro, janeiro aqui também. As catiras que o pessoal também, a gente, se Deus quiser, mais pra frente a nossa Comitiva também tá querendo formar um grupo de mulher mesmo, tocando, que aqui na região mulher quase não... Quase não, não tem mulher aqui na Fercal, na região, não tem mulher que toca viola. Eu mesma, o meu pai me deu uma viola de presente, agora eu vou entrar na aula. Pra nós mulheres, aprender a tocar a viola, pular a catira, e mostrar que não é só homem. Porque assim, é acostumado, homem, comitiva de homem, catira de homem, muito pro lado machista, e a gente tá querendo mostrar o nosso lado mulher, que a gente pode ser capaz de ter um grupo de catira, de tocar, de por a mão na massa e ralar mesmo. E mostrar que a gente pode levar pro pessoal a nossa cultura e mostrar pra eles que mulher também, “se deixar nóis doma”. É isso.
Alexandre Silva Gomes – Meu nome é Alexandre Silva Gomes, sou morador da Fercal. Vou falar um pouquinho sobre a minha história e da história do nosso grupo, um grupo jovem que a gente criou, o SOS Fercal. Então, teve certo dia, dia 27 de janeiro deste ano de 2015, a gente participou, eu e mais dois amigos meus, de uma reunião que estava tendo dos líderes comunitários pra saber como ia ficar a questão da RA da Fercal, se ela ia ser extinta, se ela ia continuar sendo uma cidade satélite. Nisso a gente viu que a decisão dos líderes comunitários foi não fechar a BR, não se manifestar, esperar a resposta do governo. Só que a gente pensou: “Ah, mas por quê? Só eles que vão decidir alguma coisa? Não, vamos fazer, vamos movimentar”. No outro dia de madrugada a gente ficou juntando madeira, entendeu, era três horas da manhã a gente juntando madeira pra fechar a pista às cinco horas. Quando a gente fechou, quando a gente avistou o primeiro ônibus que a gente fechou a BR, aí paramos os caminhões todos, os caminhoneiros começaram a ficar com raiva da gente, queriam ir na porrada com a gente, entendeu? Fui correndo pra parada pra chamar o pessoal, discursei. E tipo assim, a emoção de estar ali, entrar naquele ônibus e chamar o pessoal: “Vamos lá porque a gente tem que acordar, a gente tem que se movimentar”. Foi, tipo, do nada, três jovens fechando uma BR, os jovens chamando, gritando, aquela emoção ali foi muito importante na minha vida, foi um dos momentos que eu falei: “Cara, eu posso fazer diferente”. Eu sei que foi uma atitude, muitos falam que foi uma atitude radical e tudo o mais, mas assim, foi o pontapé para o nosso grupo SOS Fercal. E a gente já conseguiu várias coisas a partir daí, nós montamos mesmo o grupo, fizemos nosso logo, já estamos atrás de registrar em cartório, abrir firma, tudo certinho. Mas independente de estar registrado ainda, a gente já organizou eventos, fizemos o primeiro evento promovido pelos jovens da Fercal, porque a gente trouxe atração até internacional, a primeira atração internacional a pisar aqui na Fercal. E por coincidência no mesmo dia da Comitiva das meninas (risos), a gente não estava sabendo. Mas foi bem bacana, você sentar com os jovens e falar: “Véio, vamos pensar aí, vamos resolver algum problema. Vamos fazer o evento?” “Vamos.” “O que a gente vai precisar?” “Ah, a gente vai precisar de apoio da administração? Vamos atrás”. Isso é diferente aqui na Fercal, porque muitas pessoas não acreditam em mais nada aqui, acham que o que aconteceu já aconteceu, as pessoas que se mobilizaram pra correr atrás de alguma coisa, isso já aconteceu e não tem mais nada. A gente está aqui pra dar continuidade nisso, entendeu? A gente está pra correr atrás. Isso pra mim é muito importante, é um momento na minha vida que está sendo fantástico, entende? De participar, de se organizar. E nisso a gente já fez parte, entramos no Conselho Comunitário, já fizemos parceria com esse projeto. Então são coisas que a gente vai caminhando, você vai percebendo que tem muito mais coisa pela frente, às vezes você encontra dificuldades, você vê pessoas que não contribuem em nada, só falam mal, mas isso é coisa que você tem que superar e passar por cima. E é isso, acho que a juventude na Fercal está se mobilizando e uma coisa que eu vejo é que agora os jovens são protagonistas, entendeu? Mas é claro que você aprende muita coisa com o pessoal, com as pessoas mais antigas porque a gente também depende disso, dos conhecimentos que são passados e tudo o mais. Então esse momento foi muito importante na minha vida, você fechar aquela pista de lá até aqui eu posso dizer que seis meses atrás eu era só um cidadão normal na minha comunidade, mas esses seis meses pra cá mudou muita coisa, eu sou uma pessoa nova. E é isso.
Caio Eduardo Gomes da Silva – Bom, meu nome é Caio Eduardo Gomes da Silva, eu sou morador do Expansão, Alto Bela Vista. Bom, quando eu começo a falar assim pra contar uma história para vocês, eu acho que uma história bacana da Fercal que eu pude acompanhar foi a criação do Movimento SOS Fercal, do qual eu faço parte. E uma das minhas conquistas, da galera, que eu gosto de contar a história foi o nosso evento que rolou dia 23 que eu acho superbacana porque aqui na Fercal a gente não tinha um evento pro público jovem, entendeu? A gente tinha o quê? Uma Feira da Lua que toca um forró, bota um funk de vez em quando. A gente não tinha. Quando a gente queria se divertir a gente fazia o quê? “Ah, vamos lá pro Jequitibá, vamos pro Conic, vamos dar um rolê em outro lugar”. A gente: “Não, vamos trazer o rolê aqui pra quebrada. Que nem os meninos falam. Fizemos esse evento que trouxe um pouquinho de dor de cabeça, muita correria. Achei bacana, trouxe o slackline, trouxemos rock, MPB, umas músicas bacanas também. Faltou um sertanejo que não encontramos cantor também, mas foi bacana.
Cíntia Gomes da Silva – Esse movimento, as histórias que viemos ouvindo, a Fercal está mais além do que a administração da Fercal em si. Porque nós, nós jovens aqui da comunidade, queremos que a comunidade, a cidade de Fercal seja reconhecida. Porque muitas vezes você vai para algum lugar, até mesmo de fora e você fala: “Da onde você é?” “Sou da Fercal”. Muitos não sabem. Às vezes é reconhecida pelas fábricas de cimento, mas não pela comunidade, pela cultura que aqui é criada. Então a gente busca mais disso, que nós estamos em busca, não é tanto da administração. Porque a Fercal começou a ser conhecida mesmo como uma cidade, como uma comunidade a partir da administração que foi considerada uma RA, uma Região Administrativa, que conseguimos um pouco do valor, mas não é o suficiente. Queremos mais ainda, queremos que a Fercal seja uma cidade grande, que seja uma cidade que traz muito prazer. Porque aqui na Fercal nós temos muitas coisas, lazer, que às vezes não somos conhecidos, que até teve uma história, teve uma entrevista do DFTV mostrando os pontos turísticos de Brasília e a Fercal foi presenteada nisso com o Morro da Pedreira. Então, uma coisa que muitos não conhecem a beleza que tem aqui, os rios, as cachoeiras, porque a Fercal não é reconhecida como cidade, com o valor que é devido.
Cintia Gomes da Silva, sou da comunidade de Boa Vista. Assim, porque nós mulheres, muito antigamente, uma cultura que nós mulheres somos muito limitadas a questão de muitas coisas. Só que, aos poucos, nós mulheres estamos ganhando espaço, aos poucos, mostrando que também gostamos das mesmas coisas que os homens, às vezes somos limitadas por nós sermos mulheres, considerado sexo frágil. Então a gente veio aqui mostrar que a gente também não é tão assim sexo frágil como as pessoas dizem, que nós também temos nosso lado mais firme. Então a Cavalgada é um grupo de pessoas que gosta de andar a cavalo, gosta de um lazer diferente, que mulheres também gostam, que foi um surgimento da Cavalgada que é um grupo nosso “Se Deixar Nóis Doma”. Inclusive o símbolo tem um cavalo aqui, quem quiser enxergar tem um cavalo, porque somos apaixonadas pelos cavalos, pelas coisas mais rústicas, que é um espaço muito que olham assim, é para homem, que mulheres assim, mas foi uma coisa que de geração em geração foi passada. Eu mesma, o meu pai não tem filho homem, ele ama muito cavalo e eu vendo, nascendo e criando vendo ele fazendo isso, cuidando de cavalo, vendo essas coisas, então a gente sempre tem o exemplo dos pais, do nosso avô. Aquilo foi me aproximando a cultura dele, foi me apresentando a cultura dele, eu fui gostando. Hoje eu sou apaixonada por cavalo, sou apaixonada por essa cultura e eu sempre falo, se depender de mim ela não vai morrer, quero passar pros meus filhos, pros meus netos. Porque é uma coisa assim, é uma cultura diferente, poucos são conhecidos, muitos não conhecem, que são aos poucos... Porque essa cultura de cavalo é conhecida em regiões mais tipo Minas Gerais, Goiás. Mas assim, em São Paulo, essas coisas, não são um jeito, uma geração típica deles, são mais diferentes. Então o que a gente quer mesmo é que esse jeito, sim, seja uma cultura que também seja reconhecida também como cultura, como estilo, como o funk, como o rap, como MPB, que aos poucos as pessoas estão deixando de lado e mostrar as diferenças, que muita gente acha esquisito, mas é uma paixão que aos poucos quem conhece mesmo o valor sabe que é muito conquistado. A gente sempre fala, atrás sempre de uma grande geração sempre vêm outras melhores ainda que estão ali, impulsionando, que são feitos de gerações. Aliás, qualquer estilo tem uma história e essa história que a gente foi criada, foi essa história.
Letícia Pedrina dos Santos – A nossa Comitiva “Se Deixar Nóis Doma” ela é voltada pro religioso. Que a nossa cavalgada, o nosso intuito é já da cultura católica, muito católica. A Cavalgada vem da Folia do Divino, que começa com oração. A gente vai, monta a cavalo, sai de um local aqui, por exemplo, desse local, se dispõe pra cidade da Boa Vista. Aí antes de sair daqui a gente faz uma oração e quando chega no percurso final também tem a oração. Isso a gente é voltada pro catolicismo, que nós somos católicos e é isso que é a Cavalgada. Tem o termo, devoção, que é por devoção. A gente tem a catira mesmo, a dança, mas sempre tem a oração, os agradecimentos, tudo voltado pra esse termo, que é Cavalgada. Cavalgada também é o termo Folia, devoção ao Divino Espírito Santo, que é a Cavalgada, assim, é diferente porque a nossa Cavalgada foi no intuito da gente mostrar a cultura. A Folia também, mas a Folia é voltada pro religioso, que não tem forró, não tem dança, apenas a catira que já é tradição, isto é, só muda isso, o sentido da coisa, mas é a mesma coisa. Tem oração nos dois? Sim, claro, Deus em primeiro lugar nos nossos motivos aqui, nos nossos eventos. E é nisso que a gente está tocando, que vai, faz, com oração. A Folia é uma cavalgada, mas com o intuito de promessas que o pessoal cumpre. A pessoa fez promessa: “Não, esse ano vai ter um pouso na minha casa”. O pessoal chega umas cinco horas no pouso, vai até meio-dia do dia seguinte, passa a noite com oração, com rezas, catira. Isso é uma Cavalgada que a gente põe o nome de Folia, que é a Folia do Divino. É isso aí, esse é o termo.
P/1 – Quando vocês chegaram no lugar o que aconteceu?
Letícia Pedrina dos Santos – Quando a gente chegou no lugar a gente agradeceu pelo nosso percurso da nossa cavalgada. Antes da gente sair, na hora que a gente juntou o pessoal: “A gente vai sair agora”. A gente fez uma oração. Aí depois a gente seguiu o percurso, chegou no local onde é que ia ser a festa, a gente agradeceu e foi. A festa continuou com danças de forró, a gente não conseguiu grupo de catira no momento pra tocar pra gente lá. E aí é isso que se resume a nossa Cavalgada.
P/1 – Teve a festa com forró.
Letícia Pedrina dos Santos – Foi.
P/1 – (inaudível).
Letícia Pedrina dos Santos – Comida típica que é, bem dizer, a carne assada, só que lá não teve. Mas assim, a gente sempre quer elevar sempre mais. Um dia a gente chega lá e fala assim: “Foi top de linha”. Isso se constrói com o tempo. A gente vai construir a nossa história com o tempo e cada vez, cada página, cada começo vai ser uma coisa diferente, uma coisa mais assim, até chegar um ponto, cara, perfeito. Quer dizer, apesar que a perfeição não existe, mas você falar: “Não, foi top de linha, é isso, elas conseguiram fazer o objetivo delas, trazer”. Porque o nosso intuito é trazer a cultura mas também não deixar a fé do povo acabar, que ultimamente se tem muitas pessoa que falam: “É só farra”. Não, não é. A gente também quer fazer com que a Fercal, a região, Boa Vista, Córrego do Ouro, Catingueiro cresça, mas que não perca a cultura católica, evangélica ou a outra religião que tenha. Esse é o nosso objetivo: fazer que cresça, mas não perder o meio que começou, que é. A gente quer evoluir, porém manter o jeito que era antigamente, é isso aí.
Alexandre Silva Gomes cantando – “Olha aí, mano/ Vamos aqui rimar/ Você tá ligado que o SOS também quer participar/ Ele quer integrar todas as nossas ideias/ Você tá ligado que a Fercal/ Tem muita coisa melhor/ Você tá ligado que a gente/ Tem que se ligar/ Eu tô aqui até nervoso/ Pra começar a improvisar/ Mas eu vou lá/ Vou mandar aí procê/ Que eu tô ligado que você vai mostrar o seu _0:25:13_”.
Caio Eduardo Gomes da Silva cantando – “Pode crer, mano/ Agora eu vou falar/ O dia foi muito louco/ Não dá nem pra comentar/ Olha a Cíntia ali”. Vixi, agora não foi (risos).
Alexandre Silva Gomes cantando – “Não foi o quê, mano?/ Eu vou aqui resgatar/ Eu to ligado aquela ali/ Você até quer charlatar/ Se liga só mano/ Respeitar a mina aí/ Se deixar ela doma/ Vai ter domar, meu filho/ Vixi, ficou sem palavras/ Mas você tá ligado/ Isso aqui não é uma batalha/ Vamos aí rimar/ Vamos todo mundo junto/ Você tá ligado que aqui/ Aqui é o nosso triunfo”.
Caio Eduardo Gomes da Silva cantando – “Pode crer, mano/ Agora eu vou falar/ Eu tava era alegre/ Não dá nem pra comentar/ Olha a Tereza ali/ Sorrir não é pra mim/ Eu sei que ela vai mandar também, sim/ Vai lá, Tereza/ Manda aí/ Manda a rima/ Pra gente prosseguir”.
Tereza cantando – “Ó lá mano/ É muito bom estar aqui/ junto com vocês/ Jovem, jovem, muito jovem, nos ensinando/ Nós, que já estamos cansados/ Mas com vocês vai ser muito bom/ Estar nessa luta/ Pela Fercal, mano”.
Caio Eduardo Gomes da Silva cantando – “Pode crer, então”.
Alexandre Silva Gomes cantando – “Então, pela Fercal, irmão/ Vamos na Fercal/ Batalhar todo mundo junto/ Você tá ligado/ Como eu falei é nosso triunfo/ Então vamos lutar, vamos conquistar/ Porque ainda tem muita coisa/ Não dá nem para ficar aqui pra falar/ Tem que fazer uma escola, pode crer/ A gente também precisa de curso pras crianças/ Vamo aí/ Vamos trazer/ Cadê a infância/ Cadê o lazer?/ Como é que pode, irmão/ Vamos aí/ Cadê um hospital?/ Então, tem gente passando fome/ Tem gente lá no barraco/ Você tá ligado que esse mundo/ Tem que ser mudado/ Vamos trabalhar a nossa juventude/ Você tá ligado, SOS é atitude”.
Caio Eduardo Gomes da Silva cantando – “É atitude/ Olha as meninas ali/ Mó animadona/ a Comitiva Se Deixar Nóis Doma/ É isso aí então/ Ela vai falar/ Agora pra Cíntia/ De novo eu vou passar”.
Alexandre Silva Gomes cantando – “Vá lá, Cíntia, comece aí/ Você tá ligado/ Vamos curtir”
P/1 – Pode fechar.
Alexandre Silva Gomes cantando – “Pode fechar?/ Então, vamos terminar/ Você tá ligado que agora/ Vamos finalizar/ Vamos aqui então/ Relaxa aí, irmão/ E a gente ainda tem coisa pra rimar de montão/ Elas estão mó apressadona/ Você tá ligado, Comitiva/ Se Deixar Nóis Doma/ Aqui, nóis doma no improvisado/ Você tá ligado que aqui/ É inspirado/ Vamos inspirar, inspirar pra todo mundo/ Você tá ligado que aqui/ Não tem caô/ Você tá ligado, irmão/ Até meu avô/ Ele se arrisca às vezes/ Em mandar umas ideias/ Você tá ligado que aqui é a nossa plateia”. (aplausos)
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
Que eu tô ligado que você vai mostrar o seu _0:25:13_. – Página 5.